A metáfora proposta pela Alegoria da Caverna pode ser interpretada da seguinte maneira:
Os prisioneiros: os prisioneiros da caverna são os homens comuns, ou seja, somos nós mesmos, que vivemos em nosso mundo limitado, presos em nossas crenças costumeiras.
A caverna: a caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.
As sombras na parede e os ecos na caverna: sombras e ecos nunca são projetados exatamente do modo como os objetos que os ocasionam são. As sombras são distorções das imagens e os ecos são distorções sonoras. Por isso, esses elementos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum que julgamos ser verdadeiro.
A saídadacaverna: sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro.
A luzsolar: a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.
Parece incrível. Mas o Brasil é hoje o país no mundo onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, segundo pesquisa da Anti-Defamation League (ADL). Michel Gherman, membro do Observatório da Extrema Direita (formado por acadêmicos de mais de dez universidades brasileiras e de outros países) afirma que a eleição de Bolsonaro criou no Brasil uma Disneylândia do neonazismo, pois os que o defendem “passaram a se sentir mais à vontade”. É verdade. Há muito, termos notado: a extrema direita, que depois do fim à brasileira da ditadura, se envergonhava ou permanecia em silêncio, agora está com os demônios soltos, peitando a democracia, matando democratas, porque se acha protegida pelo indivíduo na presidência e comandos policiais.
Para esse estado a que chegamos, bem vale a pena a leitura do livro “Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente”, dos professores Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schuster Sousa Leão. Editado pela Cepe, a segunda maior e melhor editora pública do Brasil, nele podemos conhecer a história do fascismo na Itália, Alemanha e Japão, que não ficou no passado, pois os fascismos (assim mesmo no plural) trabalham até hoje sobre as grandes massas com a irracionalidade, a mentira, o implausível e o medo, segundo os autores. Durante a pesquisa no livro chegamos ao Brasil deste 2022:
“O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, corrobora a autorização do uso indiscriminado de violência, construindo e utilizando dispositivos sociais como uma ferramenta política. Quando utiliza as mídias sociais para afirmar que ‘repórter tem que apanhar mesmo’, sendo replicado por seus apoiadores, segundos depois, com as afirmações ‘jornalista folgado tem mais é que apanhar’ e ‘jornalista vagabundo merece tomar porrada sim’, ele instrumentaliza a política por meio de um mandonismo pessoal, autoritário e carismático que estetiza a sociabilidade com a normalização do uso da força”
De fato, além das páginas do livro podemos ver. Logo na campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018, ele declarou: Vamos fuzilar a petralhada”. E depois vieram os assassinatos, o cumprimento infame das ameaças. Recolho sem qualquer esforço de pesquisa alguns dos muitos homicídios:
Mestre Moa do Katendê, Antônio Carlos Rodrigues, Marcelo Arruda e Benedito dos Santos, apoiadores da esquerda assassinados por bolsonaristas | Fotos: Reprodução
Em um domingo, no dia 18 de outubro de 2018 em Salvador, o mestre de capoeira Moa do Katendê foi morto com 12 facadas pelas costas por defender o voto no PT e se declarar contrário a Bolsonaro.
Em 2019, Antônio Carlos Rodrigues Furtado, de 61 anos, em Balneário Camboriú, Santa Catarina foi morto por ser de esquerda, com socos e pontapés por Fábio Leandro Schwindlein, bolsonarista.
Em julho de 2022, Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, foi morto a tiros na própria festa de aniversário pelo policial penal federal Jorge Guaranho. Bolsonarista, o assassino invadiu a festa privada de Marcelo – que tinha como tema o PT e imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, gritando “aqui é Bolsonaro”. E assassinou o petista com três tiros.
A poucos dias desta eleição, de acordo com a Polícia Civil do Mato Grosso, um homem identificado como Benedito dos Santos, 42 anos, eleitor de Lula, foi morto a golpes de faca e machado por Rafael de Oliveira, 24, apoiador de Bolsonaro. O ódio foi tamanho, que o assassino desejou cortar a cabeça do “inimigo” com um machado.
Antes dessa onda de crimes políticos cometidos por bolsonaristas sob inspiração do ídolo lá deles, o fascismo brasileiro apresentava uma ordem para a agressão contra a democracia. Como bem lembra o livro “Passageiros da tempestade: fascistas e negacionistas no tempo presente” em outra página:
“Em 2020, foi apontado que 35% dos oficiais e 41% dos praças das polícias de todo o Brasil interagem em redes sociais apoiando o presidente Jair Bolsonaro. Seus posicionamentos a favor do presidente, que há pelo menos dois anos discursa abertamente contra vários governadores, tendo o Nordeste com foco, tornam a questão ainda mais politizada e instrumentalizada”.
Assim tem sido no Brasil. A história geral do fascismo no mundo não se repete, como já observou Marx em outro contexto, que se tornou universal: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. Mas se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Para os brasileiros, depois da trágica ditadura de 1964, vivemos a segunda fase apontada na frase de Marx, de duas maneiras: na primeira, hoje, ela é tanto trágica pela destruição de vidas pela covid, para as quais o presidente dizia não ser coveiro, quanto pela destruição da Amazônia de todas as maneiras.
Neste 2022, fala-se que o garimpo “perdeu a vergonha”. Sob a barbárie Bolsonaro, abertamente favorável aos interesses dessa atividade ilegal nos domínios, ou ex-domínios da floresta, os defensores do garimpo estão circulando nos corredores do poder nas capitais da Amazônia e em Brasília, e pretendem voar ainda mais alto: ocupar cargos eletivos nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, além dos palácios dos governadores.
É trágico, ainda, o esvaziamento da educação, a perseguição aos artistas, às artes e imprensa, além das mortes matadas por opinião política. Mas é uma farsa, ao mesmo tempo, o ridículo do “imbrochável”, os gritos e falas do presidente. Que até imita a fala. Chegamos ao ponto em que no Brasil os animais falam. Isso é trágico e farsa em união, de um cômico mais baixo e grosseiro.
Numa das suas últimas falas ou farsas, ele tentou uma de historiador, acreditem:
“Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 35, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal”.
O que é isso? A que primeiro 22 ele se refere? Não deve ser à Semana de Arte Moderna, porque ele nem sabe o que é isso. Mas como o bem sempre venceu o mal?! Com assassinatos, torturas e execuções frias na ditadura, ou com as guerras e holocaustos, o bem sempre venceu o mal? Ou com a bomba sobre Hiroshima e Nagasaqui? Ou com os recentes assassinatos de Bruno e Dom na Amazônia? Ou será que o bem vence o mal quando a floresta é devastada? Ah, bom, entendemos a nova língua, uma absoluta inversão de valores: o bem é o mal, e o mal deve ser a esperança e luta da resistência.
Por enquanto, sabemos que a farsa bárbara pode virar em superação, um terceiro momento desta vez. Nós, unidos, temos o bonde, o navio, a nave da futura democracia, cujo nome é Lula vencedor no primeiro turno. Se não for Lula, afundaremos nas trevas do fascismo à brasileira.
As eleições brasileiras tornaram-se um assunto mundial após a derrota de Donald Trump em 2021 nos Estados Unidos. O que está em jogo não é pouco. O Brasil é o maior país da América Latina, tem uma fonte de riquezas ainda inexplorada, abriga a Amazônia e possui um mercado interno potencial de fazer inveja ao resto do planeta.
A direita mundial está em pânico. A mensagem de Trump rasgando elogios aBolsonarodepois do 7 de setembro diz tudo. Apesar de derrotado em casa, Trump, magnata americano, ainda reúne milhões de seguidores e almeja voltar ao poder.
Depois dos resultados eleitorais que deram vitória a Joe Biden, Trump ainda tentou um golpe inédito em 6 de janeiro ao comandar a invasão do Capitólio. Fracassou num primeiro momento. Não se deu por rogado. Expulso da Casa Branca pelo voto, Trump surrupiou documentos secretos para uso particular e agora tenta escapar de uma penca de processos. A democracia americana fraqueja diante de tanta desfaçatez.
Agora, é Bolsonaro, seu aliado preferencial de outrora na América Latina, que carrega a tarefa de manter vivo o domínio de supremacistas brancos, do grande capital e da exploração desenfreada do povo pobre mundo afora. Engana-se quem pensa que os cartuchos já foram esgotados no Brasil. Pesquisas são pesquisas. Não são elas que decidem o jogo.
Bolsonaro e sua horda de alucinados partiram para o tudo ou nada. Além do combate às urnas eletrônicas, as mortes começam a se acumular. Nesta quinta-feira (08/09), um bolsonarista matou um petista a facadas em Mato Grosso do Sul. Tinha um machado para completar o “serviço”.
Lembrem-se da morte do dirigente do PT fuzilado no Paraná quando comemorava seu aniversário, para não falar de Marielle Franco, de Bruno Pereira e Dom Philips e de muitos outros vitimados com a conivência do Planalto e também, cada uma a sua maneira, de instituições que deveriam defender a democracia.
O 7 de setembro reforçou o recado. “Temos que extirpar essa gente”, bradou o capitão expulso do Exército ao lado de um empresário investigado por articulações golpistas, o “Louro José” Luciano Hang, das lojas Havan. O “salve geral” foi enviado aos bolsonaristas como licença para cometer atrocidades contra quem se opuser à direita e à extrema direita. Não por acaso,o deputado estadual cearense Francisco de Assis Cavalcante Nogueira, mais conhecido como Delegado Cavalcante (PL-CE),bolsonarista-raiz, achou-se à vontade para, em seu discurso no mesmo 7 de setembro, ameaçar: “Se a gente não ganhar nas urnas, nós vamos ganhar na bala”
Bolsonaro usou o 7 de setembro como um comício televisionado ao vivo a favor de suas barbaridades, temperado com o machismo de sempre e custeado pelo dinheiro do povo. Usa as canetadas para distribuir dinheiro a rodo (só até dezembro), financiar um orçamento clandestino e obstruir investigações sobre o crescimento astronômico do seu patrimônio e da família em dinheiro vivo! Nada acontece: Supremo, Tribunal Eleitoral, grande mídia & cia escondem-se atrás de prazos processuais e minudências judiciais para deixar o fogo se alastrar.
É preciso ampliar os horizontes sobre o que está acontecendo. A grande imprensa internacional, controlada por uma “direita civilizada”—vigiada por sociedades com tradição mais ou menos democráticas–, alerta insistentemente para os riscos da jornada bolsonarista. A publicação mais enfática a respeito foi a revista britânica “The Economist”, que pode ser acusada de muita coisa, menos de ser porta-voz da esquerda. Nesta semana, dedicou reportagem de capa às eleições brasileiras.
O texto termina assim: “O melhor resultado seria o sr. Bolsonaro perder por uma margem tão ampla que ele não possa plausivelmente alegar ter vencido, seja no primeiro turno em 2 de outubro, ou (mais provável) em um segundo turno em 30 de outubro. Serão semanas tensas e perigosas. Outros países devem apoiar publicamente a democracia brasileira e deixar claro aos militares brasileiros que qualquer coisa que se assemelhe a um golpe faria do Brasil um pária. Os eleitores brasileiros devem resistir à atração de um populista desavergonhado. Eles, e o país, merecem coisa melhor.”
A “Economist” não virou a casaca. Apenas enxerga o que boa parte da imprensa brasileira trata cheia de dedos. Bolsonaro é um risco não apenas para o país, mas para os grandes negócios das multinacionais e do dinheiro gordo.
O capitalismo está às voltas com uma crise que não para de crescer, feita de descontrole financeiro, desastre ambiental, insurreições, inflação descontrolada e piora generalizada das condições de vida do povo pobre e mesmo da classe média –ambos a maioria.
O mundo ainda vive as ondas de choque do crash de 2008, que assinou novo atestado de óbito do neoliberalismo. Naquela crise, os mandatários supostamente “anti-estatizantes” despejaram montanhas de dinheiro público para salvar bancos e capitalistas à beira do naufrágio. O governo americano e seus congêneres chegaram a comprar grandes empresas prestes a falir para depois devolvê-las a responsáveis pela catástrofe.
Agora, temos outro momento bastante grave. O capitalismo precisa da rapina desenfreada e selvagem para sobreviver, mas precisa também de “certo consenso” para que a exploração seja suavizada e pareça aos explorados o curso natural das coisas. Só que é possível enganar poucos durante algum tempo, muitos durante pouco tempo, mas não todos durante todo o tempo.
As grandes potências internacionais hoje lutam em torno de uma saída palatável para manter seus privilégios e suas fontes de recursos. A guerra da Ucrânia continua, sabiam? Disputa por combustíveis, gás e cerco à Rússia e à Ucrânia. Milhares de mortos, milhões de refugiados em plena Europa. Alguém ainda fala disso? A mídia se encarregou de abafar o caso.
Hoje o Brasil não está apenas na mira dos EUA; o destino do país interessa à União Europeia, China, Rússia e sobretudo a gente oprimida por anos de submissão aberta ou disfarçada. É a velha luta de classes que está em curso. O Brasil neste momento está no centro do tabuleiro. A derrota de Bolsonaro será um respiro para quem ainda almeja um presente melhor e um futuro promissor.
Será só um primeiro passo, porém sem ele não se darão o segundo nem os posteriores. Os petistas ou não petistas devem ter isso em mente nesta reta final de campanha. Todo esforço é pouco para deter um retrocesso que só significará mais fome, miséria, obscurantismo, discriminação e desencanto. Aqui e alhures.
No ano de 585 antes de Cristo, Tales, da cidade de Mileto, uma colônia grega na atual Turquia, predisse que haveria um eclipse do sol – e acertou. Duzentos anos depois,Aristótelesdiria que naquele momento nasciam a ciência e a filosofia gregas. Tales chegara à sua previsão não por poderes mágicos, mas pela observação do movimento dos astros, e o que ela revelava era que havia uma ordem até então insuspeitada no cosmo. Os egípcios já haviam feito um calendário baseado nas fases da Lua mais de 2 mil anos antes de Tales. A novidade da descoberta grega era a de dar o nome de ciência à curiosidade desenfreada e a especulações sobre a origem e o futuro do mundo na ordem cósmica recém-revelada. Contemporâneos de Tales, como Anaximander e Anaximandes, tinham, cada um, sua teoria a respeito. A teoria do próprio Tales era de que a origem de tudo era uma única substância, a água. Não estava muito longe do que se sabe hoje, que a vida na Terra começou nos oceanos. De um jeito ou de outro, o eclipse previsto inaugurou uma nova maneira de pensar, baseada na observação e na lógica. E influenciou o debate sobre a convivência humana. Afinal, se a organização do universo era previsível, a organização da “polis” também poderia ser, se conduzida racionalmente.
A próxima observação astronômica consequente grega de que se tem notícia é a do filósofo ateniense Proclus, noanno Domini475 – quase mil anos depois de Tales de Mileto. Não sei o que Proclus descobriu ou deduziu dos seus astros. O importante não é Proclus, são os mil anos. O que aconteceu com o que Tales parecia estar inaugurando? Aconteceu que o irracional derrotou o racional. Os mil anos entre Tales e Proclus incluíram uma recaída grega na superstição e no misticismo e num embrutecimento da vida civil, muitas vezes oculto pela exaltação feita por outros filósofos das supostas virtudes democráticas de uma sociedade escravocrata, em que as mulheres não tinham vez. Incluíram o começo do cristianismo e o crescimento do seu poder sobre vidas e mentes. E incluíram o começo da longa noite medieval, da qual o mundo só acordou, meio zonzo, com a publicação, em 1543, doDe Revolutionibus, do Copérnico – outros mil anos depois de Proclus.
Às vezes, dá para pensar que chegamos perto do racional exemplificado por Tales e seus contemporâneos – afinal, conseguimos evitar a guerra nuclear, uma cura para o câncer é iminente e todo dia aparece um sabor novo de picolé – mas, às vezes, parece que estamos escorregando para mais mil anos de obscurantismo e estupidez.
Os sucessivos golpes urdidos pelos filhos do obscurantismo ao longo da história do Brasil nos devem ensinar. A democracia é um valor em si
por Alberto Cantalice
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A derrota dos aprendizes de autocratas, viúvas do golpe civil-militar de 1964, se aproxima. Cupins da Coisa Pública: desmontaram o Ibama, o Instituto Chico Mendes, a Funai e os setores responsáveis pela fiscalização do trabalho escravo, do desmatamento da Amazônia, da grilagem e do garimpo clandestino nas terras dos indígenas.
A razia produzida pelo desgoverno Bolsonaro deixará marcas profundas na história do país. Entreguistas, venderam a BR Distribuidora na bacia das almas, privatizaram a refinaria da Petrobras na Bahia, querem queimar a Eletrobras no saldão de fim de feira, ao mesmo tempo que tentam privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.
Vergonhosamente, um grupo de militares apresenta um “documento” intitulado Brasil 2035, denotando o desejo de permanecer no poder e propondo com a cara mais lavada do mundo o enfraquecimento do Sistema Único de Saúde e a cobrança de mensalidades em Universidades Públicas. É a velha e surrada “tutela militar” – sempre que a democracia brasileira desperta ela aparece. É uma verdadeira Espada de Dâmocles sobre a cabeça da nação.
Os ataques desferidos pelo aprendiz de autocrata ao Supremo Tribunal Federal e às urnas eletrônicas não passam de “tiros de festim”. Ele tenta desesperadamente inverter a pauta que interessa de imediato ao povo trabalhador: A carestia, a miséria, o desemprego e a inflação. Mesmo assim parte do mercado financeiro e da mídia nacional-totalmente divorciados das agruras em que vive a maioria da população- apostam em uma reviravolta que tire o inominável da situação periclitante eleitoral em que se encontra.
Diferentemente do mote implantado pelo ex-presidente Juscelino Kubistchek (50 anos em 5 de crescimento econômico-social, o país viveu a partir de 2016 um período tenebroso de decréscimo econômico de 5 em 50 anos). O privilégio do fiscalismo e a contração da economia nacional nos lega 16 milhões de desempregados e mais de 20 milhões de brasileiras e brasileiros passando fome.
Esse cenário catastrófico exige das forças democráticas atitudes enérgicas em defesa do futuro da nação. Não é admissível que setores lúcidos e de boa-fé brinquem de fazer política. A hora de derrotar a autocracia e a falta de empatia popular é agora. A chamada “terceira via” nada mais é do que criar embaraços para um novo governo progressista encabeçados por Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmim.
Quanto mais forte for a chapa progressista, mais força terá para reconstruir a nação e ajudar na formação de uma ampla bancada no parlamento que dê sustentação ao futuro governo. Os sucessivos golpes urdidos pelos filhos do obscurantismo ao longo da história do Brasil nos devem ensinar. A democracia é um valor em si. Tem que ser principalizada e não pode ser negligenciada. O restabelecimento do Estado democrático de direito é o início do caminho para construção de uma verdadeira democracia inclusiva e distributiva. O contrário é a barbárie!
Quantas vezes, estes anos, trocamos ideias e nos ajudamos – muito mais ele a mim que eu a ele – em conseguir os meios de nos defender de gente poderosa e com todos os meios para usar a Justiça contra a verdade.
Quem não se atemorizaria com ações movidas por uma delegada da Lava Jato e depois personagem do próprio Ministério da Justiça?
Eu, notificado pela família Marinho sei como a espinha tremeu.
É o “manda o advogado fazer” contra o “será que eu acho um amigo advogado que me ajude sem cobrar?”
E, não fossem estas boas almas, estaríamos arruinados.
Pois acho que me posso dar ao direito de pegar uma “casca” na grande vitória do jornalismo que Auler representa quando ele, afinal, e depois de anos, consegue a vitória na Justiça contra aquela delegada – Érika Maria Marena, responsável pela operação que desembocou no suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Cataria, Luiz Cancellier, que procurou (e conseguiu) censurar o que ele escrevia pela simples razão de que contava a história.
Detalhista e meticuloso, como sempre é, Aulerconta esta saga em seu blog, meio deixado de lado por conta de suas participações nos sites do Nassif e do Brasil 247.
Vale a leitura, porque gente como Auler ainda nos faz sentir orgulho da profissão que é a razão de nossas vidas.
Todos esses retrocessos, esse período de trevas, decorrem de um contexto mundial e nacional de defensiva estratégica da luta dos trabalhadores, de hegemonia da agenda neoliberal do capitalismo. Esse processo foi agravado na fase recente com a combinação perversa de ultraneoliberalismo na economia, de fascismo na política e de obscurantismo nos direitos civilizatórios. Está em curso no mundo uma brutal ofensiva do capital contra o trabalho, uma onda fascistizante.
O Brasil é um dos epicentros dessa regressão. O nosso país tem sido palco de uma sucessão de golpes contra os trabalhadores. Em 2016, com a falsa justificativa das pedaladas fiscais, um golpe travestido de impeachment derrubou a presidenta Dilma Rousseff, eleita democraticamente pela maioria dos brasileiros.
Logo na sequência, o traíra Michel Temer impôs uma “deforma trabalhista”, que retirou vários direitos, sabotou a Justiça do Trabalho e asfixiou financeiramente as entidades sindicais. Ele ainda impôs o golpe da “PEC da Morte”, que congelou por 20 anos investimentos em saúde, educação e outras áreas sociais com o único propósito de reservar recursos para os abutres financeiros.
Essa escalada antidemocrática – que ainda teve como um de seus capítulos a prisão arbitrária do ex-presidente Lula por 581 dias – abriu brechas para a ascensão do fascismo no Brasil, com a eleição de Jair Bolsonaro. O ex-capitão do Exército (que foi expulso da corporação após planejar ações terroristas) e ex-deputado (com 28 anos de baixo clero e de políticas fisiológicas) chegou ao poder com um discurso mentiroso do combate à corrupção, à violência urbana e ao desemprego.
O saldo do seu governo, porém, é um desastre em todos os quesitos – na questão ética, com suas “rachadinhas” e propinas do Ministério da Saúde, entre outros crimes; na questão da segurança pública, com o aumento da violência que aterroriza a sociedade; e na economia, com a explosão do desemprego e a queda do Produto Interno Bruto (PIB). Desde o golpe contra Dilma Rousseff, o Brasil despencou de 6ª para 12ª economia no mundo, uma queda vertiginosa.
Desmoralização e isolamento crescentes
Mas não há mal que dure para sempre. Aos poucos, o desgoverno de Jair Bolsonaro vai se desmoralizando e ruma para a debacle. O “capetão” caminha para o inferno. A sua queda de popularidade é sentida em todas as pesquisas recentes de opinião pública.
Cerca de 25% dos brasileiros ainda apoiam sua gestão; apenas uns 20% dizem acreditar no que ele fala; e menos de 12% constituem o chamado “bolsonarismo hard”, dos seguidores fanáticos e partidários do ódio fascista. Com o agravamento da crise econômica, a alta do desemprego e a explosão da inflação, estes índices negativos devem seguir em queda.
As fake news disparadas pelo presidente, como forma de desviar a atenção e alimentar seu gado, não servem mais para estancar sua perda de prestígio. Bolsonaro também se isola em todos os terrenos. Com seu espírito autoritário, ele comprou briga com governadores e prefeitos, membros do Poder Judiciário – em especial com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) –, líderes da Câmara Federal e do Senado, setores da mídia, comunidade científica, intelectualidade e artistas, entre outros setores da sociedade.
Ele também virou um pária no cenário internacional. Após a derrota do seu “mito” Donald Trump, o falso patriota brasileiro – que bate continência para a bandeira dos EUA – ficou órfão. Nenhum líder mundial de prestígio o apoia, ninguém deseja posar com ele para fotos. Esse isolamento inclusive já tem impacto na esfera econômica-comercial, afugentando capitais externos do Brasil – conforme apontou reportagem do jornal britânico “Financial Times”, a bíblia do capital financeiro mundial, de outubro passado. *** Continua...
O Brasil espera o dia 2 de outubro, dia das eleições livres e democráticas, do voto da esperança sem medo de ser feliz.
O voto na Fraternidade, na Liberdade, na Paz. O voto contra a violência, o fanatismo, o racismo, o negacionismo, o obscurantismo, as chacinas, os massacres.
Nunca mais tortura.
Nunca mais ditadura.
Que o futuro do Brasil seja decidido pelo povo. Que o povo unido jamais será vencido. A coragem do povo derrota qualquer sinergia golpista das castas que estão no poder.
O dia 2 de outubro, dia do lulaço geral, que o futuro do Brasil como nação será decidido no primeiro turno das eleições presidenciais.
O governo espera à Herodes, um massacre de inocentes para iniciar a vacinação de crianças.
Leia nota da OAB sobre vacinação obrigatória de crianças.
A consulta pública sobre vacina da Covid 19, mais uma palhaçada mortal do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para agradar o negacionismo, o obscurantismo de Bolsonaro, o governo das Quatro Bestas do Apocalipse, a fome que mata, a morte pelas doenças do Terceiro Mundo - tuberculose, hanseníase, verminoses como a ancilostomíase e esquistossomose, malária, doença de Chagas, leishmaniose e tracoma são algumas das doenças da pobreza e estão associadas às más condições de higiene e saneamento-, o genocídio da pandemia da covid-19, a ameaça da epidemia da gripe H3N2, as chacinas nas favelas, zonas de guerra das milícias, do tráfico, da polícia que mata - a prática nazista de um militar morto vale a vida de dez civis.
Outra puxa -saco é o ministro da Educação Milton Ribeiro, que decidiu proibir as Instituições Federais de Ensino de exigir a vacinação contra covid-19 como condicionante ao retorno das atividades educacionais presenciais.
Nota pública sobre vacinação obrigatória de crianças (OAB/SP)
Diante das notícias largamente veiculadas na imprensa sobre a queda no índice de imunizações de crianças, do surto de doenças e da detecção do aparecimento de enfermidades que estavam erradicadas no Brasil como sarampo, poliomielite, dentre outras e ainda, considerando o teor das dúvidas apresentadas por pais, guardiães e educadores à Comissão Especial de Direitos Infantojuvenis da Seção Bandeirante da Ordem dos Advogados do Brasil vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:
É dever de todos os pais (e/ou eventualmente guardiães) submeter os filhos menores ao calendário de imunização visando preservar a sua integridade física, a qual é indisponível, ou seja, não se trata de uma faculdade, mas sim de uma obrigação legal;
AConstituição Federal de 1.988em seuArtigo 227assevera de forma clara a fundamental importância do papel da família juntamente com a Sociedade e o Estado na preservação dos direitos dos infantes, sendo que em 1989, com a promulgação da Lei nº 8.069(ECA)foi o legislador categórico ao acrescentar dentre os deveres inerentes ao poder familiar a obrigatoriedade de vacinação de crianças nos casos determinados pelas autoridades sanitárias, conforme o calendário de vacinação definido pelo Ministério da Saúde(art. 14, §1º);
A institucionalização de políticas públicas voltadas a imunização contra enfermidades ocorreu com o advento daLei nº 6259/75e tem por escopo, dentre outras nuances, disponibilizar gratuitamente à população brasileira acesso a vacinação preventiva de enfermidades, em sua grande maioria recomendadas pelaOrganização Mundial da Saúde;
A não submissão a determinação legal além de deixar a criança vulnerável a enfermidade, torna-a vetor de risco para proliferação de moléstias junto a sociedade;
Em caso de inobservância da norma existe a possibilidade de aplicação de multa aos pais (de 03 a 20 salários mínimos) que pode ser dobrada em caso de reincidência(Art. 249 ECA), não obstante podemos ter a decretação de reflexos restritivos no exercício do poder familiar, decretação de medidas de proteção e até mesmo a configuração de crimes previstos no código penal como abandono, tentativa de homicídio, homicídio, além de delitos contra a saúde pública;
O Poder Público tem o dever de manter campanhas de vacinação e manter todas as vacinas obrigatórias em postos de saúde. Na falta de atendimento na sua cidade, avise imediatamente ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público ou a Subsecção mais próxima da Ordem dos Advogados do Brasil;
É dever de todos informar as autoridades públicas sobre a ocorrência de tais casos, em especial, o Conselho Tutelar de sua localidade para adoção das medidas cabíveis; e
Caso os pais desejem submeter o filho a um processo de imunização distinto da forma tradicional, tal pedido deverá ser submetido ao Poder Judiciário e, somente após a obtenção de uma manifestação favorável do Juízo competente, devidamente embasada em perícia e argumentos científicos, poderemos ter uma exceção à regra que assegure a manutenção de uma vida saudável ao infante.
Ricardo de Moraes Cabezón Presidente da Comissão Especial de Direitos Infantojuvenis
Uma das virtudes do documentário Bolsonaro e Adélio – uma fakeada no coração do Brasil, realizado pelo repórter investigativo Joaquim de Carvalho e TV247, é jogar luzes sobre pontos obscuros de um episódio controverso da campanha eleitoral de 2018, que foi a suposta facada em Bolsonaro.
A relevância deste trabalho pode ser medida tanto pela audiência já alcançada, de 1 milhão de visualizações em menos de uma semana; como, também, pelo interesse despertado na crítica, inclusive da imprensa hegemônica, como o jornal Folha de São Paulo e a Rede Globo.
Independentemente da motivação e da natureza das críticas – algumas nitidamente enviesadas e de índole duvidosa –, o dado concreto é que o documentário tem um valor em si mesmo nestes tempos em que a distopia, a mentira, a mistificação e a falsificação da realidade são recursos instrumentais de um projeto de dominação e poder.
A verdade não é revelada; é sempre deturpada, quando não ocultada. Nestes tempos de Bolsonaro e de extremismo de direita reina a camuflagem, o engano, o engodo, a tergiversação, a distração. Tudo é recoberto por um manto obscurantista, de sigilo, de mistério.
Por isso, em caso de dúvida, investigue-se. E, no caso da suposta facada, não faltam dúvidas, contradições, lacunas e coincidências que precisam ser apuradas para se alcançar a real verdade acerca deste fato.
Por fim, é preciso anotar um benefício colateral do documentário do Joaquim de Carvalho: o de manter vivos na memória pública outros episódios que, assim como a suposta facada, são recobertos de mistério, sigilo e opacidade, como alguns deles adiante relembrados:
1. o tráfico internacional de 39 Kg de cocaína por sargento da Aeronáutica em avião da frota presidencial da FAB [25/6/2019].
O general Augusto Heleno, do GSI, o órgão responsável pela segurança presidencial, chegou a lamentar a “falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento internacional [sic] [aqui];
2. o atentado terrorista perpetrado por bando bolsonarista contra a sede do Porta dos Fundos. O ato, ocorrido na noite de 24 de dezembro de 2019, foi o 1º atentado a bombas perpetrado pela extrema-direita desde o fim da ditadura.
Um dos criminosos [Eduardo Fauzi], filiado ao mesmo PSL do Bolsonaro, fugiu do país para a Rússia e não foi extraditado [aqui e aqui];
3. a execução [ou “queima de arquivo?”], em 9 de fevereiro de 2020, de Adriano da Nóbrega, miliciano do esquema do clã dos Bolsonaro, cujas mãe e ex-esposa faziam parte da engrenagem de peculato [“rachadinha”] do gabinete de Flávio Bolsonaro. Muitos mistérios, coincidências e pontos obscuros rondam este caso [aqui – enigmas da morte do miliciano ligado aos Bolsonaro]:
– Adriano tinha contra si uma ordem de captura internacional da Interpol desde janeiro de 2019. Apesar disso, porém, em 31/1/2020 [9 dias antes da execução] o então ministro da Justiça Sérgio Moro o excluiu da lista de bandidos mais procurados do país. Terá sido uma arapuca para o miliciano relaxar a segurança e facilitar sua localização? [aqui];
– Adriano era um alvo fácil para ser capturado com vida, mas foi executado: estava numa chácara isolada, sozinho, sem comparsas, sem munições, com arsenal limitado [1 revolver, 1 pistola 9 mm e 2 espingardas enferrujadas], sitiado no interior de uma pequena casa e cercado de dezenas de policiais armados e equipados. O advogado de Adriano declarou que ele sabia que era alvo de queima de arquivo;
– o proprietário do imóvel onde Adriano foi executado na cidade baiana de Esplanada, distante 155 km da capital Salvador, é um vereador do PSL, do mesmo partido pelo qual Bolsonaro foi eleito;
– o filho presidencial Eduardo Bolsonaro visitava Salvador pela 1ª vez em quase 40 anos de vida justo no exato dia em que o miliciano foi executado. Segundo publicou na rede social naquele 9 de fevereiro, “Satisfação conhecer Salvador com @alexandrealeluia” [aqui];
– gravações telefônicas autorizadas mostram que durante a fuga de Adriano, comparsas da rede de proteção dele fizeram contato com um pessoa tratada como “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro” – que o MP/RJ deduz tratar-se das sedes dos palácios do Planalto e Alvorada, que possuem fachadas inteiras de vidro [aqui];
– os conteúdos e os nomes dos contatos constantes nos 17 aparelhos celulares que pertenciam ao miliciano, apesar de fundamentais para desvelar as conexões do criminoso, continuam guardados a 7 chaves;
4. o esconderijo de Fabrício Queiroz, comparsa e capataz do clã dos Bolsonaro, na casa do advogado Frederick Wassef;
5. o assassinato da Marielle, cuja investigação é bastante tortuosa e tumultuada, e que envolve muitos aspectos nebulosos:
– o isolamento absoluto e a incomunicabilidade total de Ronnie Lessa – assassino da Marielle e vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra;
– a presença de Carlos Bolsonaro no Vivendas da Barra [e não em sessão da Câmara de Vereadores, como alegado] na tarde de 14 de março de 2018, no mesmo momento em que os assassinos da Marielle – Ronnie Lessa e Élcio Queiroz – ultimavam os preparativos do crime;
– o sumiço das gravações do interfone e a “saída do ar”, para não dizer desaparecimento, do porteiro do condomínio Vivendas da Barra.
Como diz o poema de Augusto Branco, “Nem tudo o que reluz é ouro. Nem sempre o melhor está ao alcance dos olhos”. É preciso ficar atento, pois assim como a verdade, “os diamantes não ficam na superfície, e são o que de mais valioso há”.