Bolsonaro é definido como 'um dos maiores negacionistas do coronavírus do mundo' em livro didático de escolas na Noruega
Bolsonaro é citado em livro didático vendido na Noruega — Foto: Reprodução
Obra relembra frases ditas pelo presidente ao longo da pandemia, como 'Chega de frescura, vão ficar chorando até quando?'. Ex-presidente americano Donald Trump também é mencionado no capítulo sobre teorias conspiratórias.
por Luiza Tenente, g1
O livro didático "Fabel 10", da Noruega, voltado para alunos de 15 anos, dedica um capítulo às teorias da conspiração disseminadas por governantes durante a pandemia de Covid-19. Como destaque de uma das páginas (veja a reprodução acima), está a imagem do presidente Jair Bolsonaro, definido pelos autores como "um dos maiores negacionistas do coronavírus do mundo" .
Bolsonaro é usado [na obra] como um exemplo de líder que foi contra suas próprias autoridades de saúde, e queremos que os estudantes reflitam sobre os efeitos disso", afirma ao g1 a editora Aschehoug, uma das maiores do país europeu.
A legenda da foto do presidente relembra a frase dita por ele em 4 de março de 2021, em Goiás, a respeito da comoção nacional diante do número de mortos pela doença: "Chega de frescura, vão ficar chorando até quando?".
O g1 teve acesso à íntegra da obra "Fabel 10", publicada em 2021. Um dos trechos diz, em tradução livre:
Enquanto as pessoas ao redor do mundo ficaram em casa durante a pandemia, ele [Bolsonaro] reuniu grandes multidões ao seu redor e cumprimentou os apoiadores que se aglomeravam ao seu redor. Chamou a Covid de 'gripezinha".
O livro escolar ressalta ainda que, "embora a pandemia tenha se espalhado em velocidade recorde no Brasil", o presidente definiu a Covid-19 como "histeria criada pela mídia".
No mesmo capítulo, os autores Helge Horn, Ellen Birgitte Johnsrud , Maria Nitteberg, Åse Marie Ommundsen e Harald Ødegaard relembram a demissão do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, "após criticar publicamente a conduta de Bolsonaro na pandemia".
Por e-mail, a editora justificou a abordagem destes temas ao declarar que "a Covid, o pensamento conspiratório e a desinformação são obviamente relevantes para nossos tempos". "São questões transcurriculares que tiveram um efeito profundo em todos nós (e em particular nas crianças)", afirma a nota.
A Aschehoug preferiu não informar nem o número de cópias do "Fabel 10" vendidas, nem o de escolas que adotaram o livro, alegando questões estratégicas do mercado editorial.
Procurada pelo g1, a assessoria de imprensa do governo não havia se manifestado até a última atualização desta reportagem.
Livro de norueguês cita Bolsonaro como negacionista — Foto: Reprodução
Na parte dedicada às teorias conspiratórias, o livro didático critica também a postura do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump nas eleições de 2020. À época, sem apresentar provas, ele disse que a votação, na qual Joe Biden foi vitorioso, havia sido fraudada.
A obra menciona ainda o episódio da invasão do Capitólio por apoiadores de Trump. "Como pôde ir tão longe? Após este incidente, ele foi banido do Twitter e do Facebook, porque havia espalhado informações falsas", cita o texto.
Exercícios sobre 'fake news'
Neste livro didático, os alunos são motivados a fazer exercícios sobre as teorias conspiratórias e o negacionismo de Bolsonaro e Trump. Devem responder a perguntas como:
- "Quem foi o responsável pelo número dramaticamente alto de mortes por Covid no Brasil, na sua opinião? Os líderes políticos podem realmente ser responsabilizados por uma pandemia que estava fora de controle?"
- "As pessoas que espalham desinformação devem ser responsabilizadas?"
- "Por que evitar a disseminação de inverdades é essencial para garantir a democracia e a cidadania?"