Nessa virada de ano – e de governo – o simbolismo ganhou peso e espaço, para deixar claro que até nos seus mais mínimos aspectos nada do que acontece deixa de ser revelador.
Uma história contada pela jornalista Natuza Nery – que nem o mais lunático chamaria de esquerdista, petista ou lulista – deixa isso bem claro.
Conta ela que, na véspera da posse, um grupo da equipe de Lula foi até o Palácio do Planalto ver como estava tudo. Afinal, no primeiro dia do ano o presidente empossado iria subir a rampa daquele Palácio e falar para o país e o mundo.
O grupo foi até o terceiro andar, onde fica o gabinete presidencial, e seus integrantes deram com a porta trancada. A chave? Ora, tinha sumido.
Foi preciso chamar um chaveiro para que os integrantes da equipe de Lula pudessem abrir a porta – vale reiterar: da sala do presidente da República, que ele poderia ocupar no dia seguinte – e entrar.
Natuza Nery fecha seu pequeno texto com um comentário: diz ela que “a situação mostra o grau de hostilidade do governo Bolsonaro com a nova gestão”.
Devo, com toda delicadeza, dizer que discordo dela.
Muito mais que grau de hostilidade, o gesto de Jair Messias e seu bando mostra o grau de desvario a que chegou o pior e mais abjeto presidente da história do Brasil.
Mostra também a que ponto chegam o desprezo pelas normas básicas da civilidade e a falta de respeito pelos bens públicos – para dizer o mínimo – de quem não tinha outro futuro em mente que um golpe para se perpetuar no poder. E que ao ver que tal golpe não aconteceria, optou por fugir do país.
Para terminar, essa fuga deixou claro que, para Jair Messias e sua tropa, não há fronteira entre o público e o privado. Tanto assim que além de levar a chave do gabinete presidencial, ele fugiu levando mulher, filha e sabe-se lá quem mais em um avião da presidência, ou seja, às nossas custas.
Esse é o bolsonarismo em flor, esse é o bolsonarismo que não só o novo governo terá pela frente, mas todos nós teremos.
Não se trata de hostilidade à nova gestão, como quis a jornalista: trata-se de hostilidade ao país, à democracia. A todos nós que não somos do bando do Genocida.
E assim vai ser durante muitos e muitos dias: iremos descobrindo novos gestos mostrando até que ponto esse bando de devastadores que giram ao redor do Genocida desrespeita o mais mínimo da civilidade.
por David Nemer /Publica Agência de Jornalismo Investigativo
Ataques de Jair Bolsonaro à jornalista da TV foram complementados por campanha de assédio online no Twitter e Telegram
Robôs foram usados para inflar apoio feminino ao presidente
Relembramos o histórico de ataques às mulheres de Jair Bolsonaro
Caso Vera Magalhães: Bolsonaro odeia as mulheres porque odeia a democracia
No último debate presidencial, no domingo (28/08), ao ser questionado pela jornalista Vera Magalhães sobre a queda da cobertura vacinal e desinformação difundida por ele, o presidente Jair Bolsonaro (PL), em mais uma demonstração de misoginia, respondeu: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”.
Na tarde de segunda-feira, o termo difamatório “Verba Magalães”, uma referência ao salário da jornalista na Tv Cultura, chegou aos Trending Topics do Twitter.
Porém Vera Magalhães não estava só. Uma corrente liderada por mulheres ocupou o Twitter para demonstrar o apoio e solidariedade à jornalista. As contas mais relevantes foram da Fátima Bernardes (@fbbreal), Simone Tebet (@simonetebetbr), Andreia Sadi (@andreiasadi), Natuza Nery (@natuzanery), Patrícia Campos Mello (@camposmello), e Miriam Leitão (@miriamleitao).
Misoginia como projeto autoritário
O Bolsonarismo tende a aumentar seus ataques quando o alvo é mulher. Outro exemplo é a postura das redes de apoio ao presidente sobre a cantora Anitta.
Ultimamente, devido ao posicionamento político da cantora, que declarou voto em Lula, os grupos bolsonaristas no Telegram têm se ocupado a deslegitimar o poder e a influência de Anitta, assim, como manchar a sua reputação. Desde o início de 2022, nos mesmos grupos bolsonaristas no Telegram monitorados pelo Sentinela Eleitoral, já foram proferidos mais de 1520 mensagens com tons misóginos e sexistas contra Anitta.
Durante o século 20, mulheres se organizaram e conquistaram diversos direitos ao redor do mundo, como o de votar, o acesso aos cuidados de saúde reprodutiva, inserção social, educação, entre outros. A jornada para a conquista da igualdade de gênero parecia não ter volta. Porém, nos últimos anos, a ascensão de líderes autoritários em diversos países – apoiados em estratégias de desinformação online – não só comprometeu a democracia, mas promoveu sérios retrocessos aos direitos das mulheres.
Segundo as pesquisadoras de Harvard Erica Chenoweth e Zoe Marks descreveram no artigo “A vingança dos Patriarcas – Por que os autocratas temem as mulheres” (aqui, em inglês), não é coincidência que a igualdade das mulheres esteja sendo revertida ao mesmo tempo em que o autoritarismo está em ascensão. Os direitos civis das mulheres e a democracia andam de mãos dadas, porém há uma geral dificuldade em reconhecer que o primeiro é uma pré-condição para o segundo.
De acordo com as pesquisadoras, autocratas e autoritários patriarcais têm boas razões para temer a participação política das mulheres: quando as mulheres participam de movimentos de massa, esses movimentos são mais propensos a ter sucesso e mais propensos a levar a uma democracia mais igualitária. Em outras palavras, mulheres totalmente livres e politicamente ativas são uma ameaça para líderes autoritários e de tendência autoritária – e, portanto, esses líderes têm uma razão estratégica para serem sexistas. Compreender a relação entre sexismo e retrocesso democrático é vital para aqueles que desejam lutar contra ambos.
Assim, nessa coluna, vale a pena dissecar pontos traduzidos do artigo de Erica Chenoweth e Zoe Marks para demonstrar como o bolsonarismo e seu líder Jair Bolsonaro atacam as mulheres como um meio para desmantelar a democracia brasileira.
Em 1998, quando era deputado federal, Bolsonaro agrediu pelas costas Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército;
Em 2011, Bolsonaro atacou Preta Gil quando ela o perguntou como ele reagiria se algum de seus filhos se envolvesse com uma mulher negra. “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”, respondeu;
Em 2012, Bolsonaro votou contra a PEC das Domésticas que visava lhes assegurar direitos trabalhistas;
Em 2014, disse que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia. Bolsonaro também já afirmou que mulheres que decidem ser mães deveriam ganhar menos e, caso não estejam contentes, que busquem outro emprego;
Em 2016, durante o impeachment de Dilma, ele celebrou um torturador que inseriu baratas nas vaginas de mulheres, para mostrar que ele era “o terror”;
Em 2017, Bolsonaro afirmou que a sua única filha “veio uma mulher” porque ele deu “uma fraquejada”;
Em 2019, Bolsonaro em uma fala sexista e homofóbica, afirmou que o Brasil não poderia ser um país de turismo gay, mas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.
Por outro lado, Bolsonaro ataca constantemente a imprensa, um dos pilares da democracia, porém não é de se surpreender que jornalistas mulheres são o seu alvo preferido.
Em 2018, ao se pronunciar sobre um furo de reportagem da jornalista da Folha Patrícia Campos Mello, que revelou a contratação de disparos em massa com fake news na campanha de 2018, Bolsonaro disse que ela ” queria dar um furo a qualquer preço contra mim”. A declaração, com os tweets do seu filho Eduardo Bolsonaro amplificaram os ataques misóginos que já estavam acontecendo no Twitter e em grupos de WhatsApp.
No seu artigo, Chenoweth e Marks afirmam que, apesar da flagrante misoginia, autoritários e autocratas conseguem recrutar mulheres como protagonistas de seus movimentos políticos, como é o caso da Damares Alves e da primeira dama, Michelle Bolsonaro.
Damares Alves promove discursos em que valoriza a maternidade e a família tradicional para obscurecer políticas desiguais de gênero. Já a Michelle Bolsonaro tem sido instrumental para tentar diminuir a rejeição do seu marido no eleitorado feminino — ela tem participado de comícios e convenções partidárias para promover a percepção que Bolsonaro se importa com as mulheres, ela chegou a afirmar que ele “sancionou 70 novas leis de proteção à mulher”.
O Bolsonarismo também usa as redes para demonstrar de forma artificial que as mulheres o apoiam. No dia seguinte ao debate presidencial (29/08), as hashtags #SouMulherEVotoBolsonaro e #MulheresComBolsonaro foram parar nos assuntos mais comentados do Twitter (Trending Topics).
Na visão do autoritário patriarcal, os homens não são homens de verdade, a menos que tenham controle sobre as mulheres em suas vidas. Bolsonaro, após ter o apoio incondicional da deputada Joice Hasselman, ao sentir que ela seria uma ameaça à sua liderança, cortou relações e, junto com a sua base, focou em atacá-la com mensagens e memes misóginos com referências à sua condição física. Diversas vezes em que Carla Zambelli se manifestou em coletivas com Bolsonaro, foi avisada para ficar quieta. Bolsonaro também demonstra controle sobre a primeira dama, Michelle, ao fazer insinuações sobre a vida sexual do casal.
Por que tanta raiva das mulheres?
No último debate presidencial, a candidata Simone Tebet perguntou a Bolsonaro: “Por que tanta raiva das mulheres?”
A resposta é simples: porque Bolsonaro odeia a democracia. Por mais que as mulheres brasileiras, e seus direitos, estejam sendo atacadas e ameaçadas, é preciso mais do que nunca reconhecer os seus esforços de resistência. É nelas que está a saída do Bolsonarismo.
Estudiosos da democracia muitas vezes enquadraram o empoderamento das mulheres como resultado da democratização ou mesmo como função da modernização e do desenvolvimento econômico. No entanto, como afirmam Chenoweth e Marks, as mulheres exigiram inclusão e lutaram por sua própria representação e interesses por meio de movimentos contenciosos de sufrágio e campanhas de direitos que, em última análise, fortaleceram a democracia em geral.
Alguns, como o movimento pró-democracia do Brasil em meados da década de 1980, tiveram ampla participação feminina: pelo menos metade dos participantes da linha de frente eram mulheres. Atualmente, as mulheres são 52,7% do eleitorado brasileiro e assim podem ser decisivas na derrota não só do Jair Bolsonaro mas na derrota do bolsonarismo como um todo.
Se a história servir de guia, as estratégias autoritárias falharão a longo prazo. Como explicam Chenoweth e Marks, as feministas sempre encontraram maneiras de exigir e expandir os direitos e liberdades das mulheres, potencializando o avanço democrático no processo.
Mas, no curto prazo, autoritários patriarcais descontrolados podem causar grandes danos, apagando conquistas que levaram gerações para serem alcançadas.
Colaboraram Natalia Viana, Yasodara Cordova e Laura Scofield
O presidente fez 'gol contra' ao atacar a jornalista Vera Magalhães.
O descontrole de Bolsonaro abriu caminho para queSimone TebeteSoraya Thronickecriticassem as posturas do presidente, que tem rejeição acima de 50% entre o eleitorado feminino, segundo pesquisa do Datafolha.
As candidatas somam menos de 5% das intenções de voto, mas ganharam espaço após os ataques de Bolsonaro.
A TV Cultura se solidariza com a jornalista Vera Magalhães e repudia a agressão do candidato Jair Bolsonaro durante o debate organizado pelo pool de empresas jornalísticas.
O ataque do presidente faz parte de uma longa lista de ataques à liberdade de imprensa, especialmente a jornalistas mulheres.
São atitudes inconstitucionais por partirem do chefe de estado, e imorais, porque marcadas pela desproporção absoluta entre seu poder e o de profissionais que agride.
A liturgia da função exige que o presidente da República, um funcionário pago com dinheiro público, tenha pelos seus patrões, cidadãos brasileiros, o mesmo respeito que seu cargo merece.
Andréia Sadi
Bolsonaro fez 'gol contra' ao atacar as mulheres mais uma vez,disse a colunista da Globonews Andréia Sadi. A meta do QG bolsonarista era associar Lula aos casos de corrupção – e vinha bem-sucedido – até o presidente "mudar a rota" e perder a compostura com a jornalista Vera Magalhães.
"Existe uma máxima nos bastidores do Planalto de que o presidente, muitas vezes, é o seu principal opositor. No fim do dia, Bolsonaro fez mais por Lula do que o próprio candidato no debate."
Já Lula perdeu a oportunidade de rebater as acusações de Bolsonaro sobre os casos de corrupção no governo do petista, admitiram bastidores da campanha do ex-presidente.
Ana Flor
Ao atacar mulheres, Bolsonaro acabou prejudicando seus esforços de campanha para diminuir sua rejeição entre o público feminino – hoje acima de 50%, segundo pesquisa Datafolha.
"Em 2022, atacar mulheres e ser preconceituoso pode tirar ainda mais votos. Afinal, elas são 52% das eleitoras", explicou a counista Ana Flor
Julia Duailib
Os erros dos candidatos líderes nas pesquisas renderam a Simone Tebet e Soraya Thronicke maiordestaque e protagonismo no debate, avaliou Julia Duailib. As candidatas foram elogiadas em grupos monitorados com eleitoras mulheres de baixa renda e de classe média.
"Soraya foi elogiada por ter dado a declaração dizendo que Bolsonaro é “tchutchuca” com os homens do Centrão e “Tigrão” com as mulheres. Simone também se saiu bem quando fez uma defesa à democracia, atacou as fake news do presidente e perguntou: “Bolsonaro, por que você tem tanta raiva de mulheres?"
Gerson Camarotti
Em um debate recheado de ataques e foco na corrupção, os candidatos da terceira via acabaram se unindo para quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro,analisou o colunista Gerson Camarotti.
Em dado momento, Simone Tebet ganhou maior visibilidade entre os candidatos da terceira via ao sair da zona de conforto e tentar se colocar para quebrar essa polarização. Ela não aceitou até mesmo uma tabelinha oferecida por Lula para falar de corrupção na pandemia. Ao falar da CPI da Covid, a candidata cita também a corrupção nos governos petistas.
Valdo Cruz
Assim como Simone Tebet e Soraya Thronicke, o candidatoCiro Gomes seguiu a mesma estratégia para furar a polarização, e não aceitou os acenos de Lula para atrair seu apoio.
"Até agora, porém, o candidato do PDT não tem lançado gestos na direção de apoiar o ex-presidente num eventual segundo turno caso ele não vá para a fase da eleição. Lula, no entanto, tem recebido nos bastidores sinalizações de pedetistas de que o PDT pode apoiá-lo em um segundo turno."
Natuza Nery
Para Natuza Nery, o ataque de Bolsonaro a uma mulher jornalista pode ter sido o tiro no pé para quem busca o eleitorado feminino. Segundo a colunista, tanto o presidente como seu principal adversário precisam, pelo menos, manter as intenções de voto já conquistadas.
Em um debate de primeiro turno quem está na frente tem que sair pelo menos mantendo o que tem. As pesquisas dirão se este foi o caso de Lula ou não."
"Quem está em segundo lugar precisa ir para um debate para conquistar mais votos do que já tem. E, se isso não for possível, tem que atuar para, pelo menos, não perder votos".
A CPI da Covid ouve nesta sexta-feira (25/6), sob enorme expectativa, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, em relação às negociações da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
O Ministério Público Federal (MPF) e, agora, a CPI investigam suspeitas de irregularidades no contrato de R$ 1,6 bilhão relativo à vacina indiana. O valor da dose do imunizante definido em contrato saiu 1.000% mais alto do que o preço anunciado pela fabricante seis meses antes.
A dose foi orçada em 100 rúpias, valor equivalente a US$ 1,34, em agosto de 2020. O valor acordado com a pasta, contudo, em fevereiro deste ano, foi de US$ 15 por unidade.
Em depoimento ao MPF, Luís Ricardo relatou “pressão atípica” de superiores e articulação de membros do governo junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo imunizante. O servidor disse também que, junto ao irmão parlamentar, denunciou ao presidente Jair Bolsonaro as suspeitas de irregularidades nas transações.
Miranda pede que CPI apure se Bolsonaro mandou Onyx disparar “ameaças”
O deputado Luis Miranda (DEM-DF) encaminhou, nesta quinta-feira (24/6), um ofício para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, senador Omar Aziz (PSD-AM), para requerer a prisão do ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, e do assessor especial da Casa Civil, Élcio Franco. O parlamentar também pede apuração para saber se as “ameaças” foram a mando do presidente Jair Bolsonaro.
O congressista e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda — que é concursado do Ministério da Saúde — serão ouvidos hoje pela comissão, após terem levado uma denúncia de possível pressão sofrida pelo servidor para acelerar a compra da Covaxin, que passou a ser alvo das investigações parlamentares do Senado Federal.
Na justificativa, o deputado Luis Miranda reforça que, como testemunha da CPI, se sentiu ameaçado pelos dois representantes do presidente Jair Bolsonaro, durante pronunciamento para a imprensa na noite da última quarta-feira (23/6), no Palácio do Planalto.
“Cientes de que toda a máquina estatal foi conclamada pelo ministro Onyx com o intuito de mostrar força e ameaçar as testemunhas convidadas por essa CPI, serve a presente para querer que se digne Vossa Excelência determinar a prisão de ambos, o Sr. Onyx Lorenzoni e o assessor da Casa Civil Élcio Franco, que deverão ser processados sob as penas do art. 344 do Código Penal brasileiro, bem como determinar que a Procuradoria-Geral da República venha a apurar se os autores da ameaça o fizeram a mando do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que foi citado como o ‘traído'”, escreveu o parlamentar.
"O inverno chegou para o governo"
por Natuza Nery /G1
As suspeitas que pairam em torno das negociações de compra da vacina indiana agitaram a semana da CPI – e do governo. A gestão que esnobou a vacina da Pfizer e passou meses criticando a Coronavac acelerou a contratação de 20 milhões de doses da Covaxin, em uma negociação de R$ 1,6 bilhão. Nesta sexta-feira a Comissão espera o servidor do Ministério da Saúde que disse ter alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre irregularidades na compra. Neste episódio, Natuza Nery entrevista Thomas Traumann, jornalista e analista político. Ele explica como os depoimentos de Miranda e do irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) podem impactar o governo. "A partir de agora estamos falando de dinheiro público", diz. Traumann avalia ainda o impacto das suspeitas e aponta como a "reação desmedida" do governo escancara o medo do Planalto sobre o caso, que "chega no círculo muito perto do presidente". E conclui como o caso pode impactar a popularidade de Bolsonaro em um momento de piora da pandemia. "O inverno chegou para o governo", avalia.
Em 25 de fevereiro, governo Bolsonaro comemorou contrato para compra da Covaxin
por Brasil 247
Uma publicação, datada do dia 25 de fevereiro deste ano, veiculada no site do Ministério da Saúde, anunciou com alarde o contrato de compra da vacina Covaxin, que está no centro do escândalo que será detalhado nexta sexta-feira (25) a partir de 14h na CPI da Covid.
“O Ministério da Saúde assinou, na tarde desta quinta-feira (25), contrato para compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin junto à Precisa Medicamentos/ Bharat Biotech. O investimento total foi de R$ 1,614 bilhão na compra da vacina produzida na Índia. A aquisição permitirá ampliar ainda mais a estratégia de vacinação dos brasileiros contra a Covid-19”, destaca o texto publicado na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
"As primeiras 8 milhões de doses do imunizante devem começar a chegar já no mês de março, em dois lotes de 4 milhões, a serem entregues entre 20 e 30 dias após a assinatura do contrato. Em abril, o governo federal espera receber outras 8 milhões de doses de imunizantes importados da Índia, no prazo de 45 e 60 dias após a oficialização da compra. Em maio, é esperado o último lote de doses, com 4 milhões de unidades", diz um outro trecho da publicação.
Na quarta-feira, Queiroga irritou-se ao ser questionado por repórteres sobre o valor do contrato do imunizante, produzido pela Bharat Biotech e intermediado pela Precisa Medicamentos. “Eu falei em que idioma? Eu falei em português. Então, não foi comprado uma dose sequer da vacina Covaxin nem da Suptinik”, disse o ministro antes de abandonar a entrevista.
Segundo a jornalista Natuza Nery, colunista do Estúdio i da GloboNews, governadores enxergaram a ação da subprocuradora como política e pretendem acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra ela, pedindo a suspeição alegando abuso de autoridade
No pedido, Lindôra levanta acusações contra os governadores pedindo justificativas sobre “a desativação de diversos hospitais de campanha no ano passado, considerando que a pandemia prossegue e que a falta de leitos pode deixar pessoas sem a assistência adequada, além de representar possível prejuízo ao erário ou mau uso da verba pública”
Lindôra, que recentemente minimizou a pandemia dizendo que “estão politizando o covid”, tem sido usada por Aras e Jair Bolsonaro em uma espécie de contra-ataque à investigação que terá início no senado com a instalação da CPI do Genocídio.
A subprocuradora requisita informações completas sobre as verbas federais e estaduais utilizadas na construção dos hospitais de campanha, incluindo especificação de valores repassados pela União aos estados e a quantia redistribuída aos municípios. Também pede a relação completa dos insumos e equipamentos das estruturas desativadas, com a comprovação da destinação de bens e valores. Além disso, solicita dados sobre o uso das verbas federais destinadas ao combate à pandemia, perguntando, por exemplo, se algum valor foi realocado para outros fins.
Nota deste corresponde: A inquisição de Lindôra acontece prontamente quando instalada a CPI da Covid-19 no Senado Federal, quando Bolsonaro é acusado de crime contra a humanidade e os governadores reclamam a falta dos medidamentos do kit intubação.