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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Jun22

Coronel Anderson Berenguer foge para não explicar por que o Exército compra Viagra do laboratório que inundou o país de cloroquina

Talis Andrade

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"Ao deixar deputados à espera de suas explicações, é possível que Anderson Berenguer tenha avaliado que deveria proteger a própria pele"

 

CPI da Covid não ousou ouvir o depoimento do misterioso e enigmático coronel Anderson Berenguer (o militar sem rosto) que parece dirigir um laboratório secreto

por Denise Assis

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O coronel Anderson Berenguer, diretor do laboratório químico farmacêutico do Exército, não apresentou motivo para negar o convite feito pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, conforme informa a Folha. Mas ao fazer forfait e deixar os deputados à espera de suas explicações, é possível que tenha avaliado que deveria proteger a própria pele. Ou a própria “imagem”, se preferirem.

 Chamado a participar de audiência pública ontem (01/06), o coronel fugiu de ter que debater parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs) em curso nos laboratórios públicos do país. Uma dessas PDPs, segundo alega o Exército, é a da transferência de tecnologia para a produção do citrato de sildenafila, (nome científico do Viagra), que incluiu a compra de milhões de comprimidos entre 2019 e 2022. Em carta aos deputados da comissão, Berenguer diz que declinou do "digno convite", e sugere que a Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil seja chamada a falar.  

Jorge Solla, deputado federal do PT-BA, disse ao jornal que "Eles - Forças Armadas – contrataram a aquisição do Viagra como sendo de PDP, com o laboratório EMS. Com isso, fizeram uma compra de Viagra sem licitação. “Nossa suspeita, com evidências fortes, é a de que foi uma forma de burlar a licitação e escolher um laboratório específico", afirma o parlamentar. Bingo!

Conforme apurou a Comissão, como não existe patente do Viagra no Brasil e o sistema de PDP permite que você não precise fazer licitação, já há quatro anos o Exército adotou a prerrogativa de indicar uma empresa detentora da tecnologia, capaz de transferir suas especificidades a um laboratório público do Brasil. Durante esses quatro anos, segundo o deputado, a Força adota esse expediente sem, contudo, se beneficiar da transferência de tecnologia. Uma forma de burlar a licitação, apenas.

Embora a sociedade ignore se há uma “epidemia de impotência” nas fileiras e o Exército alegue que a compra foi para uso no combate à “hipertensão pulmonar” (doença que costuma acometer mais mulheres, e cuja posologia não é a mesma do Viagra, pois no caso da hipertensão é de apenas 20mg, quando a do Viagra é de 25mg), o contrato segue nesses moldes.

Aí começam as coincidências. Prestaram a atenção ao nome do laboratório que fornece o “estimulante” para as fileiras? Não?! Pois foi o EMS, reconhecidamente o “rei dos genéricos”.  

 O EMS, maior indústria farmacêutica do Brasil, foi o primeiro laboratório a obter licença da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para produzir a versão genérica do Viagra, no país, em 2014, ano em que expirava a validade da patente do medicamento (fonte: portal Guiame.com). Àquela altura, - 21/06/2014 -, Waldir Eschberger Júnior, o vice-presidente de mercado da EMS, publicou nota, avisando que aguardava apenas isto para disponibilizar o remédio no mercado brasileiro, a expiração da patente.  

 Tinham diante de si um mercado para lá de promissor, anunciavam, para “um dos medicamentos mais vendidos no país, que movimentou cerca de R$ 170 milhões no ano passado (2013 – grifo nosso). Em âmbito global, esta quantia chegou a US$ 1,9 bilhão.” E avisava: “Queremos ser o primeiro a chegar às farmácias, pois, quem sai na frente, sempre acaba liderando as vendas”, dando mostras do seu “tino” comercial.

E não foi diferente com a Cloroquina, amplamente debatida durante a pandemia, quando foi apresentada por Bolsonaro, filhos e membros do seu governo, como a “saída milagrosa” para as milhares de mortes por Covid-19, em um mercado potencial de R$ 9,7 milhões por mês no Brasil. Bolsonaro queria que a população esquecesse as vacinas e acatasse a sua empulhação negacionista. Fazia corpo mole para a aquisição das vacinas comprovadas cientificamente como eficazes e que não chegavam ao Brasil devido às “negociatas” flagradas pela CPI da Covid.

O que se sabe é que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) aumentou em 80 vezes a produção do remédio desde março de 2020, e laboratórios privados prometiam em julho daquele ano ampliar a fabricação. Embora especialistas em saúde pública temessem efeitos colaterais da cloroquina, no uso contra o coronavírus, o embate em torno do medicamento, com contornos técnicos e políticos, movimentou o mercado farmacêutico brasileiro. Diante de tamanha perspectiva, os laboratórios privados ampliaram a fabricação, para distribuição em hospitais e postos de saúde públicos.  

 

 

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Dito & Feito - AUXÍLIO EMERGENCIAL – Linha “dura” das Forças Armadas manda  comprar Viagra 

O aumento da produção do foi determinado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, defensor enfático da cloroquina. Por que será?

Cloroquina foi assunto dos mais discutidos na PCI da Covid  

 

Antes da pandemia, a média produzida era de 250 mil comprimidos a cada dois anos, quase todos para combater malária e doenças reumatoides, como lúpus. No auge da pandemia foram 2 milhões de pílulas em três meses (março, abril e maio), com prioridade para a covid-19.  A produção ganhou tal ritmo que precisou ser interrompida por falta de insumo - encomendado da Índia -, mas foi retomada em junho de 2020, numa quantia não divulgada pelas Forças Armadas, o que gerou investigação.  

O Ministério Público de Contas (MPC) solicitou ao Tribunal de Contas da União auditoria sobre possível superfaturamento nas compras de insumos de cloroquina feitas pelo Exército, sem licitação, e mandou checar também o porquê da ampliação na oferta de um medicamento que ainda não tinha comprovação científica para tratar a covid-19.

O subprocurador-geral do MPC, Lucas Rocha Furtado, investigou se procediam informes de possível superfaturamento. Afinal, o preço do quilo do sal difosfato (matéria-prima produzida na Índia) comprado pelo Exército, na época, havia saltado de R$ 219 para R$ 1,3 mil entre maio de 2019 e maio de 2020.  

Como a produção, não atendesse à enorme demanda provocada pela propaganda do presidente, a produção do laboratório militar, localizado no Rio de Janeiro e criado em 1808 (com o nome de Botica Real Militar), não tinha mãos a medir quanto à enorme demanda criada por ele e pelo medo da maior ameaça sanitária já enfrentada pelo Brasil. O país, àquela quadra estava com mais de 1,7 milhão de infectados pelo coronavírus e grande parcela permanecia hospitalizada em estado grave. As Forças Armadas não produziam todo o medicamento, mas apenas o difosato de cloroquina (fabricado desde 1940) e não dominavam a forma mais moderna e com menos efeitos colaterais, o sulfato de hidroxicloroquina, segundo alegavam para a compra, pelo governo, nos laboratórios privados.

Foi aí que entraram os laboratórios privados, prometendo medicamento de última geração, em troca da perspectiva de um mercado de R$ 9,7 milhões mensais. Uma fatia mercadológica a ser disputada. Somente três indústrias particulares estão autorizadas a comercializar a hidroxicloroquina no Brasil: a multinacional Sanofi, e as brasileiras EMS e Apsen. A da Sanofi é importada da Europa. Essa empresa, inclusive, decidiu interromper as vendas no Brasil, em meio à polêmica sobre efeitos adversos em pacientes com covid-19.  

Uma quarta empresa, a brasileira Cristália, se ofereceu para também produzir. Essas indústrias farmacêuticas informaram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que reuniam condições de produzir 7,2 milhões de comprimidos por mês.  

Um deles, o laboratório EMS - Chamado de "rei dos genéricos". O EMS produz uma hidroxicloroquina genérica, semelhante ao Plaquinol, da francesa Sanofi-Aventis (que tem como acionista o presidente norte-americano Donald Trump). O dono do EMS e de outro laboratório apto a produzir cloroquina, o Germed, é Carlos Sanchez, chegaram a participar de duas reuniões de industriais com Jair Bolsonaro, nas quais o presidente prometeu pressionar a Índia pela venda de produtos necessários à fabricação do medicamento. Sanchez foi um dos que pediram e conseguiram que o imposto de importação dos insumos da cloroquina fosse zerado. Ele também obteve aprovação da Anvisa para estudos clínicos apoiados pela empresa EMS para uso de hidroxicloraquina em pacientes com coronavírus, (de acordo com informações da GZH).

Por toda esta interligação entre uma situação e outra, o coronel Berenger deve ter avaliado com os botões da sua farda se valia a pena amarrotá-la durante horas de depoimento a deputados ávidos a espremê-lo, sobre tema espinhoso e cujas explicações ele talvez não detenha todas. Por fim, concluiu: melhor escapar desses congressistas cheios de tesão para arrancar dele a história da contratação de lotes de Viagra.  

Charge - Angelo Rigon

 
 
 
 
30
Dez21

Bolsonaristas revoltados com filme 'Não Olhe para Cima' produzem festival de pérolas

Talis Andrade

Não olhe para cima em montagem

Redação Pragmatismo Político

O filme ‘Não Olhe para Cima’, lançado pela Netflix no último dia 24 de dezembro, tem dominado as discussões nas redes sociais e provocado revolta particularmente em apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O filme conta a história de dois astrônomos que descobrem um cometa mortal vindo em direção à Terra, mas são descreditados quando tentam alertar a população sobre o perigo.

O elenco estrelado chama a atenção: tem Meryl Streep, Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Timothée Chalamet. Muitos viram o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, na personagem interpretada por Streep.

Os personagens que se recusam a levar a ameaça a sério foram vistos como referências aos negacionistas que ignoram dados científicos sobre temas como a emergência climática e a pandemia de covid-19.

“Quem escreveu o roteiro do filme também escreveu o roteiro do Brasil”, comentou um internauta. “Os bolsonaristas estão revoltados porque se viram no espelho”, ironizou outro. “Leonardo DiCaprio pode não ter incendiado a Amazônia, mas anda tirando a graça de quem odeia a ciência. O filme satiriza o apocalipse ao denunciar que a idiotice e ganância acabarão com o planeta”, acrescentou mais um.Image

 

'Não olhe para cima' gera repercussões e comparação com governo brasileiro

 

por Pedro Ibarra /Correio Braziliense

Não olhe para cima trabalha em roteiro simples, que não se aprofunda nas histórias dos personagens, e que, muitas vezes, parece jogar na tela muitas informações ao mesmo tempo em uma mimetização da realidade. Porém, apesar de ser superficial, a forma como a produção põe o dedo na ferida é contundente e verdadeira. O longa está cotado para temporada de premiações, porque explica um dos principais problemas do mundo de forma simples e compreensível.

A crítica do filme dialoga diretamente com os tempos atuais. Negacionismo, anticiência, politização dos discursos e polarização são questões que o longa traz, mas que já podiam ser vistas no mundo há anos, principalmente no Brasil. A similaridade com os atuais embates sociais do Brasil gerou uma repercussão intensa na internet. Um dos fatos mais recorrentes nas redes sociais são os personagens do longa comparados a funcionários do alto escalão do governo.

"Quem conhece o Brasil e o fascismo — com sua veia negacionista e anticiência — não vai ver muita novidade", escreveu a autora e professora Marcia Tiburi nas redes sociais. Natalia Pasternak, cientista e presidente do Instituto Questão de Ciência, lembrou em postagem de uma participação em um programa na qual perdeu a paciência com os apresentadores por tentarem levar com "humor e leveza" a pandemia, situação similar á do filme. "Esse filme se encaixa perfeitamente com a realidade do Brasil", postou a microbiologista no Twitter.Image

 

Reinaldo Azevedo: "Não Olhe para Cima" retrata extrema direita que resolveu atacar a ciência

  

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26
Ago21

CPI, corrupção fardada e o papel da imprensa

Talis Andrade

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por Álisson Coelho /ObjETHOS

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Desde 1979 o Brasil, enquanto nação, tem reafirmado uma decisão fundamental para entendermos o buraco em que nos metemos. Desde a Lei da Anistia temos renunciado coletivamente ao nosso direito de punir aqueles que representavam o Estado pelos muitos crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985). Acreditamos verdadeiramente que esquecer os nossos traumas era a melhor solução para recomeçarmos, algo que qualquer psicólogo diria que é uma péssima decisão. Não há como ler o Brasil de Bolsonaro sem ter esse ponto como premissa fundamental.

Vivemos os efeitos de traumas não superados, lembranças horríveis que vão se alterando até que tenhamos reescrito porcamente nossa história para, então, romantizarmos um período de barbárie. Dentre os muitos efeitos que essa decisão gerou na sociedade brasileira está um mito que começa a cair (ao menos um): o de que não há corrupção em governos militares.

O combate à corrupção foi uma das bandeiras do golpe de 1964 (parece familiar, não?). Demonstrações públicas de honestidade eram alardeadas pelos presidentes fardados, mas por trás das aparências, corruptores e representantes do governo aparelharam a roubalheira começando pelo jogo do bicho até as grandes obras governamentais, passando pelo crescimento vertiginoso das empreiteiras nacionais (ainda mais familiar). A Super tem um bom texto sobre o tema.

A corrupção no Ministério da Saúde veste farda

O monstrengo anticorrupção gestado no Brasil na última década, que de anticorrupção tem pouco, mas de conservador tem muito, aproveitou-se enormemente do mito da honestidade verde oliva. E foi assim que parimos um governo militar eleito pelo voto (em urnas eletrônicas, diga-se de passagem). Nos primeiros dois anos de governo da extrema-direita cada crise havia sido respondida com mais militares nos ministérios, e esses não são nem de longe o problema maior. Os escalões inferiores da máquina pública foram completamente ocupados por militares. São mais de 6 mil fardados ocupando cargos civis no governo Bolsonaro, em funções onde, de fato, as decisões cotidianas do governo são tomadas.

O que a CPI da Pandemia tem conseguido mostrar é que os militares não mudaram em nada desde que deixaram provisoriamente o poder. Ao ocupar a máquina pública tomaram para si os velhos esquemas operados por civis e inovaram, passaram a criar as suas próprias formas de roubar dinheiro público. A corrupção no Ministério da Saúde veste farda.

O que muda

Se os militares mudaram pouco desde o fim da ditadura, é certo que o cenário é bem diferente hoje daquele visto entre 1964 e 1985. E nesse contexto a imprensa tem um papel fundamental. CPIs são, via de regra, shows midiáticos, palanques eleitorais, picadeiros em que senadores, deputados ou vereadores se aproveitam do espaço midiático para garantir alguns votos. No entanto, no meio da cacofonia, do negacionismo e dos silêncios vistos em muitas sessões, as investigações apresentaram um desfile militar ainda mais deprimente do que aquele realizado pela esquadrilha terrestre da fumaça no último dia 10 de agosto.

São sargentos, tenentes, coronéis (muitos coronéis, chega a ser confuso) e até um cabo da PM de Minas Gerais implicados nos escândalos. Sob o comando do general da ativa Eduardo Pazuello, o homem que não entendia a pressa das pessoas por vacinas, militares das mais diferentes forças e patentes negociaram vacinas e propinas com a tranquilidade de quem vê milhares de pessoas morrendo todos os dias. Pensando bem faz sentido, considerando que matar não é exatamente um tabu para os militares.

Até aqui a imprensa tem cumprido um papel importante em amplificar as descobertas da comissão. Sem a censura, que os acobertou durante a ditadura, os militares veem seus crimes estampados no horário nobre. É necessário, no entanto, que o jornalismo aprofunde os indícios que têm sido apresentados. Mais do que jornalismo de investigação, é necessário um jornalismo investigativo que amplie as luzes sobre os desvios de conduta de civis e militares durante a condução das políticas públicas relacionadas à pandemia.

A organização e a reorganização da narrativa

Contar a história da pandemia no Brasil não é e não será tarefa das mais fáceis. Quando iniciada a CPI da Pandemia, a impressão é de que ela serviria apenas para organizar a narrativa dos descaminhos do governo Bolsonaro na (não) condução do combate à Covid. A linha a ser seguida era bastante clara: mostrar o absurdo do investimento no chamado tratamento precoce, a aposta bolsonarista na imunidade de rebanho por contágio, a incompetência na compra de vacinas, a falta de um comando nacional na condução das políticas sanitárias e o descaso mesclado com incompetência do governo na crise de oxigênio em Manaus.

Organizada essa narrativa, tendo ela toda documentada, a CPI já teria cumprido uma missão extremamente importante. Com o passar do tempo, no entanto, a CPI acabou podendo prometer mais. Os indícios de corrupção no governo tiveram duplo efeito. Se por um lado a sociedade passou a dedicar ainda mais atenção às investigações, por outro os senadores parecem ter ficado confusos com a profusão de linhas de investigação.

Essa confusão tem feito com que cada vez menos pessoas falem e acompanhem a CPI nas redes, algo fundamental para dar visibilidade aos trabalhos. É certo que as liminares do Supremo Tribunal Federal que garantem aos depoentes a prerrogativa do silêncio não ajudam, mas é preciso que os senadores que comandam os trabalhos encontrem uma linha de condução mais eficiente.

Chegado o estágio final dos trabalhos da comissão é preciso reorganizar a narrativa, tarefa que compete tanto aos senadores quanto à imprensa. Primeiro, retomando a lista acima dos descaminhos claros e conhecidos, mas que precisam ser documentados e organizados de forma clara para a sociedade. Em seguida, desmembrando os diferentes casos de corrupção, apresentando as provas recolhidas e apontando responsabilidades. A reorganização de todas essas narrativas é fundamental ante o risco cada vez maior de que a sociedade perceba a CPI como perda de tempo e de recursos públicos, algo que já tem sido orquestrado pelas redes bolsonaristas.

Reorganizadas as diferentes narrativas que nos trouxeram até a calamidade em que vivemos, a partir dos dados já disponíveis, a bola volta a ser do jornalismo. É preciso aprofundar as investigações, ir além da função de divulgador de investigações já realizadas. Há farto material já coletado, mas é certo que há muito mais por ser descoberto e essa é uma tarefa também do jornalismo, especialmente em um governo que aparelhou as instituições de investigação do Estado. E que dessa vez nós, enquanto nação, tenhamos a sabedoria de não escolher o esquecimento. Sabemos que os custos de optar por esse caminho são altos demais.

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13
Jun21

Bolsonaro é a crise sanitária

Talis Andrade

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por Cristina Serra

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Jair Bolsonaro é como o vampiro de um conto de terror, insaciável em sua sede de sangue. Ele deu prova disso, mais uma vez, ao tentar flexibilizar o uso de máscaras. Para a imensa maioria da população brasileira, que não pode se dar ao luxo do trabalho em casa e é obrigada a sair em busca do pão de cada dia, a máscara e o álcool em gel são as duas únicas medidas de proteção, enquanto não tem vacina para todos e, sabidamente, existe o risco de reinfecção.

Como fazer distanciamento social em ônibus, trens e metrôs lotados? Com o nível de contaminação no Brasil, falar contra o uso de máscaras é, praticamente, tentativa de homicídio. Bolsonaro se esmera em confundir e desinformar. Esse aspecto do descontrole da pandemia entre nós foi destacado pelo médico sanitarista Cláudio Maierovitch e pela microbiologista Natália Pasternak, em depoimento à CPI da Covid. Desinformação mata. 

Ambos assinalaram que uma pandemia só pode ser controlada com grande esforço coletivo. Daí a necessidade de campanhas permanentes de informação e esclarecimento. Bolsonaro faz o contrário. Estimula a população a ser agente de propagação da doença. 

Bolsonaro é a crise sanitária. Cada vez que abre a boca, alastra a praga, pulveriza nuvens de pestilência, espalha veneno. É como um experimento altamente tóxico que escapou aos controles do laboratório. Mas, no comando do genocídio, ele não está sozinho. Tem o inacreditável suporte do Conselho Federal de Medicina, que deveria estar na vanguarda da defesa da ciência e da população, mas que advoga uma genérica “autonomia médica”. Lava as mãos covardemente. Vai ficar por isso mesmo ? 

Quem ganhou dinheiro com a falcatrua do “tratamento precoce” também é cúmplice da carnificina. Essa é uma linha de investigação a ser aprofundada pela CPI. Bolsonaro tudo faz para derrubar o nosso sistema imune, em múltiplos sentidos. O risco que corremos é o de uma septicemia.

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13
Jun21

Piso e a narrativa sobre a “cloroquina da maloca”

Talis Andrade

por José Ribamar Bessa Freire

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“Submeti ao exame e à praxe tudo o que do amplíssimo teatro da natureza observei ou recebi dos indígenas” (Guilherme Piso, História da Medicina Brasileira, 1648)

 

Supunhetemos que a CPI da Pandemia que ouve os vivos, especialmente os vivíssimos, tenha o poder de convocar também os mortos, entre eles o médico Guilherme Piso, considerado o pai da medicina tropical. Advertido que poderia ter sua alma presa no inferno se mentisse, ele jurou dizer a verdade. Deram-lhe, como de praxe, 15 minutos para se apresentar:

– Meu nome é Willem Pies, em português Guilherme Piso. Nasci em Leiden, Holanda, em 1611, e morri em Amsterdã numa segunda-feira, 28 de novembro de 1678. Viajei em 1637 para Pernambuco como médico particular do príncipe Maurício de Nassau e ali vivi oito anos, com o salário pago em florins pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais. Orientei a política sanitária nos serviços públicos como coleta de lixo, drenagem de terrenos, construção de jardins e praças, pavimentação de ruas, construção de pontes. Ajudei a sanear e a urbanizar Recife.

Piso faz breve pausa para beber água (e para poupar o leitor de um parágrafo demasiado longo). Prossegue:

– Retornei a Amsterdam, lá me casei e passei a clinicar. Ocupei o cargo de inspetor do Colégio Médico, do qual fui deão – a autoridade máxima deste órgão colegiado. Sou autor da primeira História da Medicina Brasileira (1648) e da História Natural e Médica da Índia Ocidental (1658) edição impressa em latim. Descrevo lá 22 doenças e as propriedades de 114 plantas Todo esse saber fitoterápico aprendi com os índios, o uso de plantas adstringentes, afrodisíacas, venenosas e até abortivas. Dito isto, coloco-me à disposição dos senhores senadores.

Omar Aziz – Com a palavra o nobre relator.

Renán Calheiros –  Sim ou não, o senhor teve experiência na luta contra alguma epidemia?

Guilherme Piso – Sim.

Renán – Qual?

Piso – A epidemia de varíola, conhecida popularmente como “bexiga”, matou em 1641 muitos escravos dos engenhos e milhares de índios, cujos corpos ficavam cheios de manchas vermelhas, pústulas e bolhas com pus que atingiam as mucosas nasal e da boca. Era como se estivessem atacados por uma lepra mortal, que deformava o corpo inteiro. Quem escapava da morte podia ficar cego e com a cara esburacada.

Renán – O senhor fez tratamento precoce? Usou cloroquina? Salvou algum paciente?

GP – A varíola não tinha cura, senador. Os remédios não matavam o vírus, mas aliviavam os sintomas parecidos com os da gripe – febre, dor de cabeça, dor muscular, mal-estar. O contágio se dava através de secreções e da saliva.  A gente isolava os doentes. Foi o que fiz com Margarida, filha do pastor Soler, que se salvou e que era, por sinal, muito gostosinha. Não gosto de fofoca, mas preciso dizer que ela era amante do Príncipe Nassau e, quando  ficou com a cara de areia mijada, cicatrizes e olhos chorões, foi por ele abandonada. Só um século após minha morte é que descobriram a vacina.

Omar – Quero foto da “gostosinha” para anexar ao relatório. Depois falo com o senhor em particular. Agora passo a palavra ao senador Oto Alencar.

Oto Alencar – Sou também médico e já vi que, ao contrário do general Pazuello e da doutora Nise, o senhor sabe a diferença entre o vírus e o protozoário.  Gostaria que comentasse o deboche de Jair Bolsonaro, quando em vez da vacina recomendou contra a covid-19 o “chá de carapanaúba, saracura ou jambu dos índios Balaios”, um povo que nem sequer existe.

Piso – Senador, minha resposta está no meu livro editado em 1957 pelo MEC. Permita-me ler um trecho curto do que escrevi:

– “De fato, creio ser não só indigno, mas detestável, num assunto tão sério de que depende a salvação de tantos homens, ensinar coisas não acordes com os experimentos, expondo assim a perigo a vida dos doentes” (pg.8).

Oto – Não podia ser mais atual. A cloroquina, muito boa no combate à malária, é ineficaz para a covid. O chá seria, então, uma espécie de “cloroquina da maloca”? Existe mesmo medicina indígena?

Piso – “Cada qual, sobretudo os velhos, preparam sem dificuldades remédios de diversos gêneros obtidos por toda parte nas florestas. Usam remédios simples e se riem dos nossos. Nisso merecem vênia. […]. Todos os íncolas das Índias exercem a medicina e pesquisam o conhecimento das doenças e tendo ambas as Índias mais providas de medicamento do que de médicos teóricos, ninguém se admire de que até agora não estejam divulgadas as propriedades de muitíssimos remédios de notáveis virtudes, ocultos em seu seio e dignos de sair à lume. […] São utilíssimos e podem até impressionar os médicos mais eruditos [pg.74]

Humberto Costa – Sou médico pós-graduado em medicina geral comunitária e não sabia. Na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco nunca me falaram disso. Gostaria de ouvi-lo sobre como os pajés curaram soldados com pernas gangrenadas, depois do ataque da armada luso-espanhola aos holandeses, em 1640.

Piso – Senador, responderei com outro trecho do meu livro:

– “Lembro-me que os bárbaros, nos acampamentos, por meio de gomas frescas, sucos e bálsamos, livraram do ferro e do fogo e restabeleceram com êxito os membros dos soldados feridos por balas de espingardas, que estavam para ser amputados por cirurgiões europeus, lusitanos e batavos… Na preparação, prescindem de laboratórios e, ademais, sempre tem à mão sucos verdes e frescos de ervas… (pg. 9).

Humberto Costa –  Embora trate os índios de “povos ignorantes, bárbaros, atrasados e de nenhumas letras”, o senhor se maravilhou ao descobrir como os pajés indígenas impediram que soldados com pernas gangrenadas virassem saci como receitava a medicina oficial europeia da época. 

Omar – Isso acontece ainda hojeQuando eu era governador do Amazonas, uma menina de 12 anos, LB, foi picada por uma cobra jararaca em Pari Cachoeira. Os médicos do Hospital João Lúcio, que queriam amputar o pé esquerdo dela, não permitiram a pajelança, ela foi então transferida para o Hospital Universitário Getúlio Vargas, onde foi tratada por pajés e por um cirurgião e de lá saiu caminhando normalmente. Ocorreu caso semelhante com Fernando José Baniwa, 62 anos. Médicos queriam decepar a perna dele, a família resistiu, levou-o de volta à comunidade e lá não deixaram que virasse saci.

Marcos Rogério – Protesto. Indubitavelmente essa é uma narrativa po-li-ti-ca para desmoralizar a narrativa robusta do presidente Bolsonaro, mas nós temos outra narrativa técnica robusta sobre a “cloroquina da maloca” que se contrapõe à narrativa do depoente. Não perderemos essa guerra de narrativas.   

Piso – Senador, nunca ouvi falar o nome de Bolsonaro, no entanto, a estratégia dele aqui exposta parece demonstrar um discurso que já era obscurantista no séc. XVI, produto de mentes colonizadas. Suas opiniões retrógradas me fazem pensar que ele viveu em séculos anteriores e desapareceu há muito tempo.

Randolfe Rodrigues – Segundo as atas dessa CPI, o senador bolsonarista Marcos Rogério já usou 16.853 vezes a palavra “narrativa”, que ele descobriu recentemente, por ela se deslumbrou e por ela morre de paixão, assim como pela palavra “robusta”. Suplico que se contenha. Que seja argumentativo em lugar de narrativo.  Doravante, ele será multado em R$ 50,00 reais cada vez que “narrativizar” e “robustizar”, destinando-se a multa ao pagamento da dívida externa brasileira. O troco será aplicado em obras sociais. (Randolfe, que substituiu Omar na presidência, faz uma pausa e bebe água. Prossegue)

– Na qualidade de historiador formado pela Universidade Federal do Amapá, reconheço a importância do depoimento do médico Guilherme Piso, cujo livro foi lembrado na segunda-feira (7) no evento Raízes-RJ – I Encontro de Saberes Populares e Tradicionais em Saúde, organizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com a participação de Célia Xacriabá (APIB), Cleonice Pankararu (Aldeia Cinta Vermelha), e do autor do Taquiprati. Declaro a sessão suspensa.

P.S. 1 A abertura do evento Raízes, que contou com a fala do sábio Carlos Tukano, foi feita por José Jorge de Carvalho (UnB): “Encontro de Saberes. Uma aliança entre a Academia, o SUS e os Mestres e Mestras dos Saberes”. No encerramento, Antônio Bispo dos Santos discorreu sobre “Colonização e a Resistência dos Saberes Tradicionais”.

P.S. 2 – Referências bibliográficas:

a) Guilherme Piso. História Natural e Médica da Indias Ocidentais (escrito em 1648). Coleção de Obras Raras. Rio. MEC – Instituto Nacional do Livro. 1957 (Traduzida e anotada por Mário Lôbo Leal, com esboço crítico do historiador José Honório Rodrigues.

b) CHAMBOULEYRON, Rafael; BARBOSA, Benedito C.; BOMBARDI, Fernanda A.; SOUSA, Claudia R. de. ‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia Colonial (1660-1750). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 18, n. 4, p. 987-1004.

P.S. 3 – O livro de Piso está esgotadíssimo, tinha alguém vendendo na internet por R$ 650,00. Sugiro à Editora Valer, de Manaus, que o publique (está isentado de direitos autorais) e chame para fazer o prefácio (aí sim, pagando) o tukano João Paulo Barreto, cofundador do Centro de Medicina Indígena da Amazônia e doutor em antropologia.

P.S. 4 – A gente sente vergonha do Brasil quando ouve na CPI as falas oportunistas, medíocres e mentirosas de Eduardo Girão (Phodemos-CE), Jorginho Melo (PL-SC), Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Marcos Rogério (DEM-RO). Nesta sexta (11) sentimos orgulho de ser brasileiro com a aula dada por Natália Pasternak e Cláudio Maierovitch, acusados de buscarem a fama. “Natália, com fama ou sem fama, nós te ama”.

12
Jun21

CPI: "Ciência não tem dois lados", diz Natalia Pasternak para Eduardo Girão senador da cloroquina

Talis Andrade
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por Gustavo Garcia /G1
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A microbiologista Natalia Pasternak afirmou nesta sexta-feira (11) à CPI da Covid no Senado que a ciência "não tem dois lados".

Ela deu a declaração após o senador Eduardo Girão (Pode-CE), defensor de medicamentos do chamado tratamento precoce, defender um debate de especialistas contrários e favoráveis ao uso desses remédios, comprovadamente ineficazes contra a doença.

"Ouvir um lado e ouvir o outro. Isso seria mais interessante do ponto de vista de ver eventuais contradições", afirmou.

Natalia Pasternak disse que esse princípio não se aplica à ciência.

"É importante salientar que princípios do jornalismo — e da política também — de sempre observar o contraditório, eles não se aplicam para a ciência porque a ciência é um processo investigativo, dos fatos, da realidade. E aí não cabe o contraditório. A ciência não tem dois lados. E isso não é por desrespeitar opiniões alheias, mas pelo modo como a ciência trabalha, que é um processo empírico de investigação", afirmou a especialista.

Ao lado do médico sanitarista Cláudio Maierovitch, ela foi convidada pela CPI a participar de uma audiência pública da comissão.

Eduardo Girão sugeriu que os especialistas tinham "viés político". Ele também disse que o trabalho da CPI não pode ser politizado, de forma a antecipar as eleições presidenciais de 2022.

"Eu espero que sexta-feira (18) nós não tenhamos nenhum cientista que tenha viés político, defendendo A, B, bolsonarista, lulista, para que a gente possa realmente ter um resultado coerente, que as pessoas possam acreditar no trabalho da CPI", afirmou o parlamentar cearense.

Simone Tebet (MDB-MS) pediu aos colegas que não colocassem "em xeque" a credibilidade dos especialistas convidados para participar da audiência pública.

O sanitarista da Fiocruz Cláudio Maierovitch disse que as posições políticas que tem "não se confundem" com o que, cientificamente, defende. Ele acrescentou não ser filiado a nenhum partido político. Sobre o tratamento precoce, o especialista declarou que não há atualmente nenhuma terapêutica desse tipo eficaz contra a Covid-19.

Natalia Pasternak reconheceu que, no Brasil, a orientação de uso de determinados medicamentos foi politizada e que isso não é positivo.

 

Mortes evitáveis

 

Crítica da gestão da pandemia do governo Jair Bolsonaro, Natalia Pasternak afirmou que há, por parte do Executivo, um "processo de desinformação" que acabou "levando muito mais vidas" do que teria ocorrido se o Brasil tivesse adotado campanhas de informação da população.

 

"A mensagem passada pelo presidente da República tem sido uma mensagem de descaso e de negação. E essas duas mensagens são muito prejudiciais para a população brasileira. O descaso com que ele trata a pandemia e as mortes, as famílias que perderam os seus entes, mostra uma total falta de empatia que chama a atenção. Isso acaba incitando discursos de ódio, violência e uma maior politização", afirmou a pesquisadora da USP.

"Pessoas mudam o seu comportamento de acordo com o que o presidente fala e faz. Se o presidente diz que é 'só uma gripezinha', pessoas vão seguir esse exemplo", completou.

Para Maierovitch, não há dúvidas de que milhares de mortes poderiam ter sido evitadas se o governo federal tivesse uma postura diferente da que tem em relação ao coronavírus.

"Numa crise desse tamanho, precisamos de uma resposta à altura, de organização, de uma equipe capaz de responder. O Ministério da Saúde esteve virtualmente ausente, inexistente, exceto no papel de repassar recursos. Não coordenou e não implantou medidas. O Ministério da Saúde inexistiu, e a resposta foi nenhuma", afirmou o médico sanitarista.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (10) que que pediu um parecer do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para desobrigar o uso de máscaras por quem estiver vacinado contra a Covid ou já tiver contraído a doença.

A proposta é criticada por médicos e pesquisadores, que consideram imprescindível o uso do equipamento de proteção.Image

Cláudio Maierovitch afirmou que a utilização da máscara, como medida de prevenção à Covid, deve ser a última "a cair".

"É um instrumento fácil e barato, que não interfere no funcionamento da economia, em qualquer necessidade das pessoas, exceto um leve desconforto que alguns têm. Não devemos ter pressa nenhuma em suprimir a máscara. E a minha é impressão é que isso ganhou um caráter simbólico para o presidente", disse.

 

 
 
11
Jun21

Brasileiros foram tratados como 'animais' com tese de 'imunização de rebanho', diz médico da Fiocruz na CPI

Talis Andrade

Agora, Bolsonaro mostra cloroquina até para as emas do Alvorada - O  CORRESPONDENTE

 

Sputnik - Segundo o médico, tanto a tese da imunização de rebanho quanto o Plano Nacional de Imunização foram linhas seguidas que não levaram a um combate expressivo do vírus no Brasil.

Nesta sexta-feira (11), em seu depoimento à CPI da Covid, o médico sanitarista Claudio Maierovitch, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), criticou a tese da imunidade de rebanho adotada pelo governo e a coordenação do Plano Nacional de Imunização, segundo o G1.

Para Maierovitch o termo "imunidade de rebanho" se aplica a animais, e considera que foi justamente dessa forma que a população brasileira foi tratada diante da pandemia da COVID-19.

[...] Rebanho se aplica a animais, e fomos tratados dessa forma. Acredito que a população brasileira tem sido tratada dessa forma ao se tentar produzir imunidade de rebanho às custas de vidas humanas. Infelizmente, o governo brasileiro se manteve na posição de produzir imunidade de rebanho, com esta conotação toda para nossa população, ao invés de adotar as medidas reconhecidas pela ciência para enfrentar essa crise", disse o médico citado pela mídia.

De acordo com a teoria da imunidade de rebanho, o país superaria a pandemia por meio de um alto número de infectados, o que, em tese, deixaria grande parcela da população imunizada. Porém, segundo especialistas, essa estratégia não funciona para o enfrentamento do vírus. Muitas pessoas morreriam no processo e, além disso, quem já teve a doença poderia ser reinfectado.

"[...] Morreriam, provavelmente, os mais frágeis, desonerando a previdência, desonerando os serviços de saúde", explicou Maierovitch.

O médico também caracterizou o Plano Nacional de Imunização como um plano pífio, o qual, em sua concepção, pecou por não ter tido uma definição de critérios homogêneos para o país.

O plano de imunização que tivemos é um plano pífio. É um plano que não entra nos detalhes necessários para um plano de imunização que deve existir no país."

Maierovitch salientou que o fato de a condução do plano ter ficado pautado na coordenação de cada estado ou município, em um primeiro momento, pode ter parecido algo democrático, mas que na verdade, só ajudou a criar desigualdades.

"Não tivemos, por exemplo, critérios homogêneos definidos pelo Brasil inteiro, de forma que ficou a cargo de cada estado, cada município definir os seus próprios critérios, o que pode parecer democrático, um sistema descentralizado, mas frente a uma epidemia dessa natureza e com a escassez de recursos que temos isso deixa de ser democrático para induzir iniquidades", completou.

 

11
Jun21

Natalia Pasternak debocha de Heinze sobre efeito da cloroquina: 'chazinho da vó e voltas no quarteirão também funcionam' (vídeo)

Talis Andrade

Natalia Pasternak e Luis Carlos Heinze

 

247 - Em depoimento à CPI da Covid nesta sexta-feira (11), a microbiologista Natalia Pasternak deu uma reposta cheia de ironia ao negacionismo do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), que mais uma vez defendeu o suposto "tratamento precoce" contra a Covid-19, mesmo diante de dois especialistas que atestaram a ineficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina contra o coronavírus.

Heinze citou o número de brasileiros recuperados da Covid-19 afirmando, sem citar nenhuma fonte, que tais pacientes foram medicados com remédios ditos sem eficácia contra o coronavírus. "Essas 15.670.754 têm cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, annita, ivermectina e vitaminas. Hoje tem 16 ou 17 drogas reposicionadas que foram responsáveis por essas 15 milhões de vidas salvas".

Natalia, então, destacou que tomar medicamentos sem eficácia para o tratamento da Covid-19 têm o mesmo efeito de não tomar nada. "Essas 15 milhões de pessoas também tomaram chazinho da vó, deram três pulinhos e uma volta no quarteirão, senador".

Veja mais vídeos aqui

 

21
Mar21

Sem vacinas, sem liderança, sem fim à vista: como o Brasil se tornou uma ameaça

Talis Andrade

Atendimento médico em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes de CovidAtendimento médico em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes de Covid-19. Foto Mister Shadow/Estadão 

Na sexta-feira (19), 16 dos 26 estados brasileiros estavam com ocupação de leitos de UTI de 90%, o que significa que esses sistemas de saúde entraram em colapso

 

por Matt Rivers /CNN /Estados Unidos
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A temperatura era de 35 graus Celsius na terça-feira (16), mas a umidade fazia com que parecesse ainda mais quente. Em meio ao calor sufocante do final do verão carioca, Silvia Silva Santos acalmou sua mãe de 77 anos enquanto as duas caminhavam em direção ao portão da clínica.

“Já viemos aqui duas vezes, mas ela não conseguiu se vacinar”, contou Silvia. “Ela fica na fila, daí não tem mais vacinas e a gente tem que ir embora”.

No portão, Silvia perguntou ao guarda se poderia vacinar a mãe. Consciente da presença das câmeras da CNN, ele rapidamente a conduziu para dentro.

Cerca de cinco minutos depois, mãe e filha voltaram com as más notícias estampadas em seus rostos.

“Acho isso muito errado”, disse a filha, claramente irritada e frustrada. “Agora teremos que descobrir novamente quando vai ter vacina, e na verdade não dá para saber quando".

A mesma frustração se espalhou pela multidão de idosos quando as doses foram negadas a todos. O estado do Rio de Janeiro suspendeu a campanha de vacinação porque seu estoque de doses havia acabado.

“É um desastre, um desastre total”, disse uma mulher à CNN após ter sua vacina negada. “Quem é o culpado por tudo isso? Acho que são os nossos líderes, nossos políticos não prestam”.

A tempestade perfeita

A crise da Covid-19 no Brasil está pior do que nunca. Quase todos os estados brasileiros têm uma taxa ocupação de leitos de UTI de 80% ou mais, de acordo com uma análise da CNN de dados estaduais. Na sexta-feira (19), 16 dos 26 estados estavam com ocupação de 90% ou acima, o que significa que esses sistemas de saúde entraram em colapso ou estão em risco iminente de fazê-lo.

As médias de sete dias de novos casos e novas mortes estão mais altas do que nunca.
Nos últimos dez dias, cerca de um quarto de todas as mortes por coronavírus no mundo foram registradas no Brasil, de acordo com análises da CNN.

“São sinais claros de que estamos em uma fase de aceleração muito crítica da epidemia e é algo sem precedentes”, disse o epidemiologista brasileiro Jesem Orellana.

Se as vacinas são a melhor saída para essa pandemia global, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para sua superação.

Até sexta-feira, menos de 10 milhões de pessoas no país de cerca de 220 milhões de habitantes haviam recebido pelo menos uma dose, de acordo com dados federais de saúde. Apenas 1,57% da população foi totalmente vacinada.

Esse é o resultado de um programa de vacinação lento que tem sido atormentado por atrasos. Durante o anúncio de seu plano de distribuição no início de fevereiro, o governo prometeu que cerca de 46 milhões de doses de imunizantes estariam disponíveis em março. O governo foi forçado a diminuir esse número repetidas vezes, e agora estima apenas 26 milhões no final do mês.

A produção nacional – que os governos dizem que será de centenas de milhões de doses da vacina da Oxford-AstraZeneca – acaba de começar. As primeiras 500 mil doses foram entregues e celebradas por autoridades do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro esta semana, apesar do atraso de meses.

“[Não há] vacinas em uma quantidade que realmente cause um impacto no momento”, afirma a microbiologista brasileira Natalia Pasternak. Segundo ela, vai demorar até o segundo semestre para que doses suficientes estejam disponíveis para ter um impacto significativo na epidemia.

Se as vacinas continuarem escassas no futuro próximo, as únicas maneiras de controlar o crescimento exponencial da epidemia no Brasil são os métodos que o mundo já cansou de ouvir: distanciamento social, nada de grandes reuniões, movimentos restritos e boa higiene.

Mas, em muitos lugares do Brasil, isso simplesmente não está acontecendo. No movimentado Rio de Janeiro, é fácil encontrar multidões sem máscara andando pelas ruas, conversando de perto.

Embora as famosas praias da cidade estejam fechadas neste fim de semana, restaurantes e bares ainda podem ficar abertos até as 21h, e muitos provavelmente ficam lotados.

Muitos estados impuseram restrições bem mais severas, incluindo toques de recolher noturnos, mas os líderes locais estão lutando contra a liderança federal, ou a falta dela, que está determinada a manter tudo aberto.

O presidente Jair Bolsonaro, um cético da Covid-19 que zombou da eficácia das vacinas e não as tomou publicamente, anunciou na quinta-feira (18) que entraria com uma ação judicial contra certos estados no Supremo Tribunal Federal, alegando que a única pessoa que pode decretar toques de recolher é ele – algo que  prometeu nunca fazer.

Apesar da morte de milhares de pessoas diariamente por causa do vírus, Bolsonaro afirma que a verdadeira ameaça vem dos danos econômicos que as restrições provocadas pelo vírus podem impor.

Milhões de seus apoiadores estão seguindo seu exemplo, desafiando abertamente os regulamentos locais de distanciamento social e uso de máscaras.

Tudo isso por si só já seria preocupante, mas é exacerbado por uma realidade profundamente preocupante: a disseminação das variantes do Covid-19.

O perigo da P.1

variante P.1 foi descoberta pela primeira vez no Japão. As autoridades de saúde japonesas detectaram a mutação viral em viajantes que vinham do Amazonas, um estado isolado no norte do Brasil repleto de floresta tropical.

A CNN tratou da região no final de janeiro, quando uma segunda onda brutal de Covid-19 dizimou a cidade de Manaus.

Quase dois meses depois, mais pesquisas apontam para a variante P.1 como um fator crucial não apenas no surto de Manaus, mas na crise nacional que o Brasil enfrenta hoje.

Um estudo do início de março feito pela principal fundação de pesquisa médica do Brasil, a Fiocruz, descobriu que, dos oito estados brasileiros pesquisados, as variantes da Covid-19, incluindo a P.1, eram prevalentes em pelo menos 50% dos novos casos.

A variante é amplamente aceita como sendo mais facilmente transmissível, até 2,2 vezes, de acordo com um estudo recente. Isso significa que ela é mais transmissível do que a amplamente discutida variante B.1.1.7, identificada pela primeira vez no Reino Unido, que é até 1,7 vezes mais transmissível, de acordo com um estudo de dezembro.

A mesma pesquisa também descobriu que as pessoas têm 25% a 65% mais probabilidade de escapar da imunidade protetora existente de infecções anteriores que não tenham sido causadas pela P.1.

Por fim, ainda existem preocupações de que as diferentes vacinas possam não ser tão eficazes contra a variante P.1.

Embora um estudo recente do Reino Unido tenha descoberto que as “vacinas existentes podem proteger contra a variante do coronavírus brasileiro”, a CNN conversou com vários epidemiologistas que continuam preocupados.

“O mundo não acordou para a terrível realidade potencial que a variante P.1 pode representar”, afirmou o doutor Eric Feigl-Ding, epidemiologista. ‘As pessoas não perceberam o quanto a P.1 é pior”.

Ameaça global

Em meio à disseminação não mitigada do vírus no Brasil, encontram-se duas ameaças adicionais distintas.

A primeira é a exportação mais fácil da variante P.1 existente para o exterior. Ela já está presente em pelo menos duas dezenas de países e as viagens internacionais de e para o Brasil ainda estão abertas para a maioria dos países.

A segunda é que, se a variante P.1 foi criada aqui, outras também podem surgir.

“O fato de a pandemia estar fora de controle no Brasil causou a variante”, disse Natalia Pasternak, a microbiologista brasileira. “E vai causar mais variantes. Vai causar mais mutações porque é isso que acontece quando você permite que o vírus se replique livremente”.

De acordo com as leis da evolução viral, novas variantes são criadas para tentar permitir que o vírus se espalhe mais facilmente. Ao longo da trajetória, iterações mais perigosas podem ser criadas.

“Mais variantes significam que há uma probabilidade maior de que uma delas possa de fato escapar de todas as vacinas, por exemplo", disse Pasternak. “É raro, mas pode acontecer”.

Segundo a microbiologista, isso torna o Brasil um perigo global, não apenas para os países vizinhos, mas para outros ao redor do mundo.

“Tudo isso junto deve aumentar o alarme em todos os países do mundo de que devemos ajudar o Brasil a conter P.1, para que todos não sofram o mesmo destino do colapso do sistema hospitalar brasileiro”, detalhou o doutor Feigl-Ding.

Com a falta de vacinas e um governo relutante em tomar as medidas necessárias para evitar que isso aconteça, não está claro como as coisas vão melhorar tão cedo no Brasil.

O jornalista Eduardo Duwe contribuiu para esta reportagem.

(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)

26
Fev21

“Dê a sua contribuição, contribui com a sua vida pra que a gente salve a economia de Porto Alegre”. Sebastião Melo prefeito

Talis Andrade

Comitê Suprapartidário se forma em apoio à candidatura de | Política

Num vídeo de apenas 10 segundos, o prefeito de Porto Alegre, o bolsonarista Sebastião Melo (MDB) conclamou as pessoas nesta quinta-feira (25) a morrerem para salvar a economia na pandemia. A retórica de Melo é a condensação de toda a lógica bolsonarista na pandemia de Covid-19:

Dê a sua contribuição, contribui com a sua família, com a sua cidade, com a sua vida …. [pausa teatral] pra que a gente salve a economia do município de Porto Alegre”.

Manuela
@ManuelaDavila
Cheguei a pensar q o negacionismo de Melo era eleitoreiro. Imaginava que ele tinha vestido essa roupa de bolsonarismo/ medo do comunismo/ abre tudo/ vai liberar carne de cachorro só pra nos derrotar. Dois meses depois ele diz para as pessoas darem a vida para salvar a economia
Manuela
Se alguém tem dúvidas sobre o que significa essa política de morte: contribua com sua vida para que a gente salve a economia
Pedro Abramovay
@pedroabramovay
“Dê a sua vida para que a gente salve a economia de Porto Alegre.” Eles querem nossas vidas. E nem disfarçam.
Observatório Internacional
Para vocês terem uma noção da figura execrável que é o prefeito de Porto Alegre: ele literalmente diz "contribua com a sua vida para que a gente salve a economia do município de Porto Alegre." O sentimento da grande maioria dos governantes do Brasil é esse
Image
Veloz e Furiosa
@_laurabarreras
Gente, vamo chegar num consenso aqui, Porto Alegre está na bandeira preta pq o recém eleito prefeito Sebastião Melo >retirou TODAS as restrições do comércio no início de janeiro< seja de lotação ou horário de fechamento etc
Manuela
O prefeito de Porto Alegre é tão negacionista com relação à covid-19 que quer aplicar as medidas de bandeira vermelha em uma cidade que acaba de entrar em bandeira preta e está com superlotações de até 375% nas unidades de saúde. Quantas vidas ainda iremos perder para o vírus?
Fernanda Melchionna
É alarmante a situação da pandemia no RS: 11 regiões em bandeira preta, incluindo Porto Alegre. O projeto genocida e negacionista de Bolsonaro e Melo, com atraso das vacinas e sem auxílio emergencial para pessoas poderem comer e ficar em casa, não pode seguir matando nosso povo!
Fernando Oliveira
@fernao_berthold
Rua Sete de Setembro Bandeira Preta
Image
Fernando Oliveira
Porto Alegre:
24°C. Bandeira Preta Retorno das aulas na Educação Infantil.
Image
Leandro Demori
“Contribua com a sua vida para que a gente salve a economia de Porto Alegre”, disse o prefeito sobre a crise gerada pela covid. Não vou comentar o que eu gostaria.
Natalia Pasternak, PhD 
@TaschnerNatalia
Reconhecimento de um bom trabalho! e o melhor foi receber a notícia do próprio juiz ! Parabéns Eugenio pelo trabalho e pela coragem. que outros sigam seu exemplo.
Justiça determina a suspensão do "kit covid" em Porto Alegre | Brasil de Fato
Conforme destaca a decisão, até o momento o tratamento precoce não tem suporte em evidências científicas robustas e assentadas em pesquisas clínicas conclusivas sobre a sua eficácia
brasildefators.com.br
Leonardo Attuch
E pensar que Porto Alegre poderia ter tido
Bolsonarista, prefeito de Porto Alegre conclama pessoas a morrerem pela economia.
Sebastião Melo lançou um vídeo chocante dizendo que as pessoas devem contribuir “com a sua vida” para “que a gente salve a economia”
brasil247.com
 

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