O suicídio de André Valadão
O empresário da fé passou a intensificar o seu discurso biombo e de ódio contra os homossexuais, após ter um relacionamento homoafetivo divulgado nas redes sociais
por Ricardo Nêggo Tom
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Observando atentamente a postura e as falas do empresário evangélico André Valadão, percebe-se que ele trava uma luta desesperada com a sexualidade que precisa esconder dentro da Bíblia que ele costuma utilizar para atacar pessoas que não precisam omitir da sociedade a sua verdadeira orientação sexual. Observando mais atentamente o comportamento de outros ditos heterossexuais evangélicos, e não evangélicos também, é possível identificar a mesma luta contra a sexualidade reprimida. E eu não estou aqui apenas repetindo uma narrativa com relação a homossexuais enrustidos, que atacam os assumidos para matar o desejo que têm dentro de si. Eu quero propor uma reflexão sobre a morte. A física e a existencial. Mas, como assim, Ricardo?
Como diria, Jack, o estripador, vamos por partes. Comecemos pela narrativa construída e disseminada por boa parte dos evangélicos, de que eles são perseguidos por pregarem a verdade de Jesus Cristo e que isso já estaria previsto na Bíblia. A mesma Bíblia que destina trechos de alguns livros para classificar a relação entre pessoas do mesmo sexo como “abominável” e condenar os homossexuais ao fogo do inferno. E é com base nesses trechos, que André Valadão estruturou a sua bandeira “teo-ideológica” e pretende, ao mesmo tempo que mascarar a sua sexualidade apócrifa, se transformar em um grande perseguido por defender a palavra de Deus. Mesmo que ele tenha que sugerir a morte de homossexuais ou o próprio suicídio, como fez durante um culto que celebrava em uma de suas empresas nos EUA, e ainda foi aplaudido pelos fiéis à ele presentes ao local.
Após a “perseguição”, que pode incluir até um indiciamento criminal, afinal de contas, fazer uma convocação pública para o assassinato de um grupo de pessoas é crime - ou, pelo menos, deveria ser - essa cantilena liturgia anti homossexualidade vai alegar que a esquerda e o bicho papão do comunismo, querem proibir o cristianismo no Brasil, porque querem destruir a família tradicional, a moral, os valores, a ingenuidade de “chapeuzinho vermelho” e todo o blá blá blá fundamentalista que já conhecemos. Vale lembrar a declaração dada pelo também evangélico, Deltan Dallagnol, no programa “Roda Viva”, dizendo que a Bíblia determina a submissão da mulher ao homem e advertindo a quem contesta, que isso era uma determinação de Deus, você concordando ou não. Na ocasião, Deltan estava se posicionando contra o PL das fake News, que, segundo ele, abria uma brecha para uma “censura” a pastores que pregam essa orientação e restringiriam a leitura desses textos. Um raciocínio lisergicamente bíblico.
Ex positis, teríamos o cenário ideal para a incitação de uma guerra civil-religiosa, que mobilizaria a muitos desavisados, alienados e mal-intencionados pela “fé”, com a finalidade de desestabilizar a sociedade e o atual governo, que é manifestamente contrário a tal pensamento, em nome da defesa da palavra de um deus que só vive e reina no inferno dos corações de milhões de Valadões e Deltans, que, infelizmente, dividem conosco as suas amargas e dúbias existências neste planeta. Eu já escrevi aqui há um tempo, que Jesus Cristo é o cara mais sacaneado da história da humanidade. E André Valadão não me deixa mentir, quando se apresenta como mais um de seus discípulos. Nunca que Jesus andaria com ele ou o escolheria para pregar o seu evangelho. Nunca!
O mesmo não podemos dizer do deputado Marco Feliciano, outro empresário da fé, que subiu à tribuna da câmara para defender o seu sócio no ramo da alienação religiosa, e ratificar a intolerância que os textos bíblicos estimulam contra os homossexuais, porque foram escritos por homens que pensavam como eles dois e também atribuíam à Deus os seus preconceitos. A diferença é que esses homens viveram há dois mil anos atrás, numa época em que já existiam homossexuais, mas que a civilização talvez não estivesse suficientemente amadurecida e humanizada para compreender certos aspectos pessoais da natureza humana. E Feliciano usou do mesmo argumento de Deltan Dallagnol, defendendo que, dentro das igrejas, os pastores podem orientar a seus fiéis como bem entenderem, desde que encontrem respaldo bíblico para as suas falas. Ele também disse que a esquerda e o comunismo querem destruir os valores cristãos da sociedade. É que a liberdade de expressão em nome do deus deles se sobrepõe às leis, ao direito à vida de pessoas LGBTS e aos ensinamentos do próprio Jesus Cristo, que, pelo que se sabe através de suas inserções na Bíblia, não se preocupava com a orientação sexual das pessoas (continua)