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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Dez19

Ação truculenta da polícia de Doria resultou na morte de nove jovens

Talis Andrade

 

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É revoltante a notícia de que nove jovens morreram pisoteados numa operação da PM, comandada pelo governador João Doria e, outras sete ficaram feridas durante a repressão policial, aos jovens que se divertiam num baile funk, em Paraisópolis, bairro periférico da capital paulista.

Há meses a Polícia Militar têm atacado os bailes funk, com apreensão de motos, carros e detenção de jovens, numa clara atuação preconceituosa e de marginalização da juventude negra periférica.

Há cerca de um mês uma jovem perdeu a visão de um olho, alvejado com bala de borracha numa ação policial de opressão à baile funk.

A Bancada das deputadas e deputados estaduais do PT/ SP exige explicações, punições duras e exemplares aos envolvidos na ação truculenta que resultou na morte dos nossos jovens, que tiveram seu ciclo de vida brutalmente interrompido pela violência policial.

Logo no início desta semana questionaremos o governador do Estado, secretário de segurança pública e comandante da PM e, acompanharemos com rigor este assombroso caso, para que estas mortes não caiam na vala da impunidade.

Teonilio Lula Barba
Deputado Estadual e líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo

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09
Set19

Visita de Moro à cadeia renova denúncia de complô judicial para matar Lula

Talis Andrade

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Que diabos o ministro da Justiça e da Segurança Pública foi fazer na cadeia da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde o ex-presidente Lula se encontra preso?

Lá, o ministro Sergio Moro teve uma reunião fora da agenda e a portas fechadas com o chefe da corporação no estado, o delegado Luciano Flores, de acordo com informações de Bela Megale no Globo Overseas.

A pessoas próximas, Moro disse que foi à PF fazer uma "visita técnica" (seja lá o que isso signifique...).

A reunião entre Moro e o superintendente aconteceu a poucos metros da cela onde Lula está preso injustamente há quase um ano e meio.

Vale lembrar que já foi denunciada por várias lideranças políticas a existência de um complô envolvendo setores do Ministério Público e do Judiciário para matar o ex-presidente na cela solitária da Polícia Federal (PF), em Curitiba.

“Não bastam a condenação arbitrária, a prisão solitária e a destruição de seu legado, querem é a morte de Lula, querem ver Lula morto em Curitiba”, denunciou Paulo Pimenta.

Segundo ele, procuradores e juízes da chamada Operação Lava Jato e de outros setores do Judiciário e do Ministério Público foram capturados por um projeto de poder que ajudou na eleição do ultradireitista Jair Bolsonaro (PSL) e, assim, querem “destruir a capacidade física e psicológica do ex-presidente, o maior líder popular da história brasileira”.

“Lula tem 73 anos, já passou por um câncer e é vítima de uma perseguição implacável dia a pós dia, para destruí-lo”, denunciou o líder do PT.

“Ele é vítima de uma perseguição perversa, odiosa e criminosa”. De acordo com Paulo Pimenta, a perseguição a Lula insere-se numa engrenagem maior em torno de um projeto de poder antinacional, antipopular e alinhado com os interesses geoestratégicos dos Estados Unidos. Para os articuladores desse projeto, não basta banir Lula da vida pública.

“Querem matá-lo, eles não têm limites, pois identificam em Lula a força da resistência do povo brasileiro”, destacou o parlamentar.

Na campanha eleitoral, depois de convidar Moro para ser ministro, Jair Bolsonaro, discursando por telefone celular para os manifestantes reunidos na avenida Paulista, mandou um recado para Lula:

“Seu Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia”.

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Meme que a Lava Jato fez circular na campanha pela prisão de Lula

 

21
Mai19

Polícia prende envolvido no desabamento de prédios na Muzema

Talis Andrade

 

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A Polícia Civil prendeu, na noite de sábado (18), um dos envolvidos no desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, em Jacarepaguá. Rafael Gomes da Costa era procurado pela venda de apartamentos nos edifícios que desabaram no dia 12 de abril, deixando 24 mortos.

Segundo nota divulgada pela assessoria da Polícia Civil, Rafael foi capturado do bairro do Leblon, durante diligências com a intermediação de seu advogado e a delegada Adriana Belém, da 16ª Delegacia de Polícia (Barra), responsável pelas investigações.

Rafael vai responder pelo crime de homicídio qualificado multiplicado por 24 vezes, além de ser investigado por lavagem de dinheiro e organização criminosa. Outras três pessoas continuam foragidas: José Bezerra de Lima, o Zé do Rolo, Renato Siqueira Ribeiro, e o capitão da PM Adriano da Nóbrega.

A construção dos prédios que desabaram, e outros construídos sem licenciamento na região da Muzema, são empreendimentos da milícia que atua na localidade, conhecida como Escritório do Crime.

Milícia usa esquema de cartórios e alvarás para ter prédios irregulares 

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O Escritório do Crime, considerado a principal milícia do Rio de Janeiro, usa ao menos três pequenas construtoras e uma imobiliária para erguer e negociar imóveis ilegais em Rio das Pedras e na Muzema, comunidade na zona oeste do Rio onde dois edifícios ruíram, causando as mortes de 24 pessoas.

Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual mostram que o grupo paramilitar usou laranjas como sócios nas empresas abertas por um contador que teria pago propina a um funcionário da Prefeitura do Rio.

As empresas ConstruRioMZ, São Felipe Construção Civil e São Jorge Construção Civil tiveram os alvarás de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli) concedidos pela Prefeitura do Rio no ano passado. Todas estão em nomes de integrantes da milícia chefiada pelo capitão do Bope Adriano da Nóbrega, citado em escutas telefônicas do MP como "Gordo" ou "Patrãozão" (foto)

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Capitão Adriano Magalhães tem fortes ligações com os Bolsonaro.

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16
Set18

Há um projeto de extermínio que se confunde com a história passada e presente

Talis Andrade

 

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Marielle Franco e o mal radical

por Marcia Tiburi

 

 

 

O assassinato de Marielle Franco é um acontecimento político limítrofe. Um divisor de águas na história da política nacional. Sua morte torna visível um tipo de luta à qual as classes dominantes, as corporações e a mídia convencional parecem ter pavor: a luta antirracista, anticapitalista, a luta contra o machismo, a luta pelo direito à cidade, a luta pelos direitos fundamentais das pessoas sem os quais não há vida justa em sociedade.

 

Mais que isso. As mulheres negras se tornaram as representantes de um poder totalmente outro, de um poder que aparece como ameaça real ao status quo. Nesse sentido, se olharmos do ponto de vista da história de um país racista e escravagista como é o nosso, de um país misógino, de um país em que aos pobres se reserva a morte por fome e abandono, a morte de Marielle Franco surge como uma espécie de fato dedutível em um longo processo de genocídio da população negra, antes usada como escrava, depois como mão de obra barata e, sempre, como descartável.

 

Combinando todas as características da indesejabilidade, todas as formas de ódio caíram contra ela: racismo, misoginia, ódio ao intelectual, à ativista, à socialista, mas também ódio ao fato de que Marielle, embora fosse uma pessoa meiga e amorosa, não andava de cabeça baixa, não se escondia, não tinha uma imagem “dócil” como se espera de mulheres, de pretos e pobres. Marielle não tinha medo e, também por isso, ela foi morta. A lógica do neoliberalismo implica que os cidadãos para sobreviverem nele devem curvar-se ao medo do que ele pode fazer com cada um simbólica e economicamente, e ela nunca se curvou. Foi morta também para nos dar o exemplo de que, ativistas e mulheres, negros e pobres, todos temos um novo “dever cívico”, o de “temer”. A lei não escrita que subjaz à nação do Estado de exceção na qual se transformou o Brasil define que será morto aquele que não temer.

 

De certa forma, configurando tantos aspectos em si mesma, dentro da lógica assassina do sistema que sobrevive da administração de afetos tais como o ódio (acrescentemos também a inveja e a avareza), não é um exagero dizer que seu assassinato vai ao encontro da racionalidade neoliberal que torna pessoas descartáveis, em especial os inimigos políticos desse projeto. E é, nessa mesma medida, lógico que, depois de morta, queiram usá-la para fundamentar o jargão assassino da extrema-direita: “bandido bom é bandido morto”. Agora é preciso transformar Marielle em algo de “bandido”.

 

As fake news que surgem em profusão visam a conspurcação de sua memória e de suas lutas nas redes sociais, nos jornais impressos e na televisão. Nesse momento, distorcer sua luta contra a intervenção militar no Rio de Janeiro faz parte de um jogo cínico que já se tornou tradicional em termos de relação entre política e mídia. O jogo retórico dos donos do poder, das classes favorecidas ou dos odiadores profissionais, humanos ou robôs é evidente, mas está ameaçado pela própria população que luta pelo respeito à sua memória.

 

Se Marielle não for transformada em “bandido”, o que só se consegue manipulando o imaginário da população e contando com aqueles que, sem ética, já tem um ódio bem desenvolvido, ela será transformada em heroína, como já vem sendo promovido pela maior parte da população que se identifica com ela, seja porque era jovem, negra e empoderada, ou porque admirava a sua causa, a da ativista e parlamentar que lutava por direitos humanos.

 

O perigo de sua condição de heroína está em seu potencial revolucionário. Essa condição também torna seu assassinato inútil. Uma espécie de tiro no pé que os donos do poder dão em si mesmos. Pois como símbolo Marielle vive e a maior parte da população brasileira, composta de mulheres negras e de jovens negros que ela defendia, não deixará de ressuscitá-la a cada dia como símbolo de luta.

 

A morte de Marielle Franco faz ver que o ódio aos negros e às mulheres negras é um ódio fascista, ou seja, um ódio que não se contenta em matar. Na linha desse tipo de ódio, é preciso “exterminar” e é isso o que se faz quando se tenta usar sua memória e sua morte para conspurcar sua própria luta.

 

Marielle representava uma luta contra o que podemos chamar de mal radical, esse mal que visa o extermínio do outro. Esse mal aparece em momentos, tais como quando os nazistas deixaram claro seu desejo de que os judeus nunca tivessem existido. O exercício do mal radical está claro em todas as mortes de líderes campesinos e indígenas (de 2014 até março de 2018, mais de 20 líderes foram assassinados no Brasil e não são noticiados pela televisão), na morte de cada menino negro nas favelas cariocas, e da população LGBT. Há um projeto de extermínio que se confunde com a história passada e presente.

 

O mal radical tem a dimensão de um projeto. Nele há um prazer em destruir. Um verdadeiro gozo perverso. Os donos do poder, governos e corporações, são seus sacerdotes. O cidadão comum faz parte desse projeto como uma espécie de “lacaio” que serve a um senhor. Ele é como o escravo digital que faz o mesmo papel do qual um robô é capaz, mas só o faz porque foi capturado por discursos orquestrados que o atingem no vazio previamente forjado pelos meios de subjetivação capitalistas, exímios esvaziadores de subjetividades. Nos espanta que haja alguém que possa aplaudir qualquer tipo de assassinato e que possa se utilizar politicamente disso. Mas não é de espantar quando pensamos nos fins administrativos e governamentais, os fins do poder que “educa” pessoas para serem replicante de ideias prontas que não pensam no que dizem e no que fazem ao dizer.

 

Nesse momento, não devemos nos esquecer das manifestações nas ruas em 2013. Assim que os meios de comunicação hegemônicos perceberam que o povo estava de outro lado, resolveram “capitalizar” sobre o fato. Fazem isso quando percebem que há “capital simbólico” em disputa e que podem perder muito, basicamente audiência e lucros relacionados a elas, sem tocar em determinados assuntos. O destaque ao assassinato de Marielle Franco tem fins específicos nesse momento.

 

O Rio de Janeiro tem sido usado para “dar exemplo” por todos aqueles que se colocaram como donos do Brasil e da cidade do Rio de Janeiro. O assassinato de Marielle Franco tem um alto impacto simbólico que cancela a vida de uma guerreira admirável, aquela pessoa que queríamos na política, em todos os lugares, como vereadora, como senadora, como deputada, como prefeita e que sonhávamos um dia, seria nossa Presidenta. Seu assassinato é uma prova da abjeção governamental e se insere na política de terror de Estado que atinge a todos. Mas atinge sobretudo o povo da favela, marcado pra morrer em uma economia-política de extermínio que já se tornou natural no Brasil.

 
 
09
Set18

Tirando o Rio do atraso! Marcia Tiburi governadora para promover a igualdade e os direitos humanos

Talis Andrade

O assassinato de Marielle Franco foi um "crime político da pior espécie"

 

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"Brasil, O Golpe: A Ópera do fim do mundo”, detalhe do painel de Flávio Tavares

 

 

Com o objetivo de discutir temas contemporâneos dos direitos humanos, o curso de Direito da Unijuí  realizou antes da campanha eleitoral o “1º Congresso Nacional Biopolítica e Direitos Humanos: refletindo sobre as vidas nuas da contemporaneidade”.

 

A palestra de abertura teve o tema “O ridículo político e outros problemas éticos e sociais da sociedade”, realizada por Marcia Tiburi, graduada em filosofia (PUC-RS) e artes (UFRGS) e mestre (PUC-RS, 1994) e doutora em filosofia (UFRGS, 1999). Publicou diversos livros de filosofia, entre elas as antologias As Mulheres e a Filosofia (Editora Unisinos, 2002), O Corpo Torturado (Ed. Escritos, 2004), e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero (2008, Edunisc), Seis Leituras sobre a Dialética do Esclarecimento (2009, UNIJUÍ), entre outros.

 

De acordo com a palestrante, “Ridículo Político” é o título de uma das suas últimas publicações, livro que foi lançado no ano passado. “Nesta obra tento abordar um fenômeno de mutação política que está acontecendo no Brasil e no mundo. Muitos de nós estão perplexos com certos personagens no campo da política institucional e também no sentido mais amplo, na vida, no dia a dia, ruas, redes sociais. O Ridículo é tudo o que antes nos causava vergonha, e que hoje vem com uma espécie de capital, muitas vezes um discurso de ódio, de incitação da violência”, salienta.

 

“É muito importante que o campo do conhecimento, professores, pesquisadores, estudantes, escritores, intelectuais, desempenhem uma tarefa social, pública e histórica, que é produzir diálogo, fazer com que as pessoas pensem mais, se envolvam com política e se preocupem com termos como a democracia”, complementa Marcia Tiburi.

 

Para Marcia, o assassinato de Marielle foi "recado"

 

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"A impressão que eu tenho é que Marielle Franco foi assassinada para criar um exemplo, que serve tanto aos parlamentares mais críticos, como ela, e que estão numa posição indesejável para os donos do poder, aqueles que lutam por Direitos Humanos, aqueles que renunciam, aqueles que movem simbolicamente a população para um outro tipo de pensamento, antifascista, anticapitalista, antirracista, pelos direitos relacionados a gênero e sexualidade, como era o caso de Marielle", diz Marcia Tiburi em entrevista à RFI (veja vídeo).

 

"É um recado enviado aos parlamentares de esquerda", afirma Tiburi. "Mas é também um recado enviado à população: 'nós podemos matá-lo'. Para jovens negros e jovens negras, militantes, ativistas, juvenis, mirins... Há uma matança dos jovens negros nas favelas brasileiras no Rio de Janeiro. Não é à toa a intervenção militar, com um cunho 'espetaculoso' e que visa sinalizar simbolicamente para a situação quem é que manda. Marielle foi exterminada e sacrificada neste sentido", analisa.

 

"Marielle Franco representava muita coisa no Brasil, muita coisa no Rio de Janeiro, representava o pensamento mais crítico, a forma de fazer política mais desejável porque era uma jovem de 38 anos, negra, nascida na favela da Maré, que falava sobre Direitos Humanos e das causas mais importantes para o feminismo, o feminismo negro, uma lutadora da ação, da prática", analisa a filósofa e escritora.

 

Marcia Tiburi afirma que o assassinato da vereadora foi um "crime político da pior espécie". "É todo um projeto que envolve uma economia política que manda no Brasil hoje. Sabemos que vivemos na instauração de um neoliberalismo que tenta se aprofundar e que faz o Brasil retornar ao pior de sua própria História, sua escravização, hoje com a perda dos direitos trabalhistas, com a reforma da Previdência. Isso faz o Brasil voltar aos anos 1960, da ditadura militar", contextualiza.

 

"Os procedimentos de matar algumas pessoas para dar exemplos que servem para todos, para aqueles que têm algum desejo de transformação, é para acabar com a ideia de que a democracia é possível. E para acabar, evidentemente, com o propósito de um outro mundo possível, que é o que a esquerda no Brasil tem tentado levantar como possibilidade", critica.

 

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01
Ago18

O Brasil esconde. A imprensa internacional publica a lista dos camponeses marcados para morrer no Pará

Talis Andrade

Não se faz golpe sem presos políticos, tortura e morte

Massacre anunciado na Anapu de Dorothy Stang

A tensão no Pará, lugar mais letal do mundo para defensores da terra ou do meio ambiente, tornou-se ainda mais explosiva do que na época em que a missionária foi assassinada

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O pai do menino de 11 anos foi a vítima mais recente dos conflitos de terra em Anapu, no Pará, mas certamente não será o último a tombar no Brasil sem justiça. Foto LILO CLARETO

“Já conferi na lista, mãe. Meu nome não está lá”, garantiu Leoci Resplandes de Sousa, poucos dias antes de ter o corpo transformado numa peneira. Na maioria das cidades, poderiam ser muitas as listas. Aprovação no vestibular, contratados por alguma empresa, selecionados para algum concurso público. Mas não em Anapu, município do estado do Pará que entrou no mapa mental do Brasil e do mundo em 2005, quando a freira Dorothy Stang foi executada com seis tiros por defender os direitos dos mais pobres à terra e, com isso, confrontar os interesses dos grileiros (ladrões de terras públicas). Em Anapu, no Pará, 13 anos pós o assassinato da missionária, a lista ainda é a de camponeses marcados para morrer.

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Leoci não estava na lista. Mesmo assim foi assassinado em 3 de junho, ao final da tarde, sentado com a mulher no alpendre da casa depois de um dia de roça. Segundo a sua mãe, liderança do lote 46 da Gleba Bacajá, “com 23 chumbos de 12 (calibre da espingarda)”. A lista ou não estava completa. Ou há mais de uma lista. Segundo afirmam pessoas que não podem ser identificadas, a “lista” está nas mãos de um dos chefes da pistolagem. Haveria pelo menos três figuras-chaves na pistolagem e uma milícia armada. Quando um trabalhador rural precisa saber se o seu nome está lá, aciona intermediários que vão “assuntar”. Isso é contado com naturalidade na cidade e no campo de Anapu, como mais um dado da rotina. Não há limites para o que pode ser naturalizado nas regiões em que ou o Estado não está presente – ou está presente a serviço da grilagem e da extração ilegal de madeira, o que é bastante comum no território amazônico.

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A de Leoci foi apenas uma entre 16 cruzes de madeira cravadas nas casas dos mortos durante a Romaria da Floresta, entre 19 e 22 de julho. Realizada há 13 anos, desde o assassinato de Dorothy Stang, esta foi a primeira vez que a romaria andou pela cidade em vez de percorrer 25 quilômetros de estradas rurais por dia. A mudança foi um pedido dos camponeses que temem pela vida devido à escalada de violência e a criminalização dos movimentos sociais na região de Anapu e em toda a Amazônia.

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Padre José Amaro Lopes, um dos principais sucessores de Dorothy Stang na defesa dos pequenos agricultores, foi preso com um buquê de acusações em 27 de março. E jogado na mesma prisão em que Regivaldo Galvão, o “Taradão”, um dos mandantes da morte de Dorothy Stang, paga sua pena. Depois de três meses na cadeia, padre Amaro passou a responder às acusações em liberdade, mas sujeito a várias restrições. Na romaria, os camponeses gritavam: “Irmã Dorothy vive! Padre Amaro livre!”.

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Duas semanas antes de ser preso, Padre Amaro deu uma entrevista ao jornal The Guardian. Nela, afirmou que sua “batata estava assando”, referindo-se ao fato de que sabia que algo aconteceria com ele. “Como matar a Dorothy deu muita repercussão e problemas para os grileiros, eles vão forjar algum acidente ou inventar alguma coisa para me criminalizar”, disse. Ele, um sacerdote desarmado que se preparava para cumprir as obrigações rotineiras, foi preso como se fosse um chefe da máfia. A espalhafatosa operação envolveu 15 policiais e vários setores da polícia paraense. Uma das acusações, a de assédio sexual, caiu em seguida, mas já tinha cumprido o objetivo de desqualificar o padre diante de parte da população de Anapu e da região.

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As 16 cruzes e nomes, segundo a Comissão Pastoral da Terra, correspondem aos mortos por conflitos de terra apenas em Anapu, de 2015 até hoje. Exceto um punhado de homens e mulheres com as mãos escavadas pela enxada e os pés marcados pela dureza do caminho, ninguém mais parece revoltar-se contra a execução desses brasileiros pobres: Edinaldo Alves Moreira (05/07/2015), Jesusmar Batista Farias (11/08/2015), Cosmo Pereira de Castro (23/08/2015), Hercules Santos de Souza (17 anos, 10/10/2015), José Nunes da Cruz (“Zé da Lapada”, 27/10/2015), Claudio Bezerra da Costa (“Ivanzinho”, 31/10/2015), Wislen Gonçalves Barbosa (17/11/2015), José de Nascimento (“Jacaré”, 20/04/2016), Lourinho (20/04/2016), Marrone Gomes da Conceição (16 anos, 08/06/2016), Antônio Pereira Queiroz (“Titela”, 08/06/2016), Parazinho (desaparecido em 2016, considerado morto pelas organizações), Jhonatan Alves Pereira dos Santos (“Jhon”, 26/07/2017), Valdemir Resplandes dos Santos (“Muletinho”, 09/01/2018), Gazimiro Sena Pacheco (“Gordinho”, 09/01/2018), Leoci Resplandes de Sousa (03/06/2018).

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Em 24 de julho, a organização britânica Global Witness (Testemunha Global) divulgou o relatório chamado “A que custo” (aqui a versão em português). O ano de 2017 foi o mais perigoso no mundo para defensores da terra ou do meio ambiente. O Brasil é o país mais letal para esses lutadores, com 57 dos 207 assassinados. Hoje, não existe no planeta nenhum lugar mais perigoso para quem luta pela terra ou pelo meio ambiente do que o Pará, o mais mortal entre todos os estados brasileiros. 

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A polícia prende e mata. Os crimes até a justiça inventa como acontece com Lula. Leia mais sobre as mortes que a imprensa esconde aqui no jornal El País, Espanha

24
Jul18

Brasil lidera ranking de relatório da Global Witness, com 57 mortes de ativistas ambientais Por RFI

Talis Andrade

Brasil mata mais que todos os países da África

 

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A líder comunitária brasileira Maria do Socorro, presidente da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), de Barcarena, no Pará, sabe que corre risco de vida

 

 

RFI - Pelo segundo ano consecutivo, o país chega em primeiro lugar no balanço divulgado nesta terça-feira (24) pela ONG britânica. O ano de 2017, salienta a Global Witness, foi o mais violento para os defensores do meio-ambiente. A organização ainda lembra que 60% das 207 vítimas, identificadas em 22 países, estão na América Latina.

 

É isso aí. Não se dá golpe sem presos políticos, tortura e mortes encomendadas.

 

Segundo o relatório, ativistas foram executados por se oporem a projetos florestais, agroindustriais ou propostos por empresas de mineração. O balanço, diz a Global Witness, ainda está aquém da realidade, já que muitas dessas mortes não são declaradas. Entre as vítimas estão líderes locais, encarregados de proteger a flora e a fauna selvagens, ou “pessoas comuns”, que defendem suas terras.

 

No Brasil, o relatório cita o ataque à comunidade maranhense dos índios Gamela, em 2017, que deixou 22 feridos, incluindo crianças. Machetes e rifles foram usados para expulsá-los de suas terras. Em um verdadeiro ato de selvageria, alguns dos moradores tiveram suas mãos decepadas e outros sofreram tentativas de esquartejamento. Meses depois, ressalta a ONG, nenhum dos responsáveis foi julgado, “o que reflete a ampla cultura de impunidade e a falta de ação para defender os ativistas e comunidades”.

 

Segundo o relatório, “em vez de agir para acabar os ataques, o governo do presidente Michel Temer e o Legislativo estão enfraquecendo leis e instituições que protegem terras e os direitos dos povos indígenas. Ao mesmo tempo, eles facilitam a ações do grande empresariado, que não parece se incomodar com a devastação humana e ambiental perpetrada pelas suas atividades – que aceleram a exploração de ecossistemas frágeis”.

 

Colômbia está em 3° lugar

 

De acordo com a Global Witness, os ativistas não são as únicas vítimas dessa situação. Em todo o mundo, pessoas que lutam contra as grandes corporações, grupos paramilitares ou o próprio governo para preservar o meio-ambiente sofrem ataques ou são assassinadas. Em segundo lugar no ranking divulgado no relatório, liderado pelo Brasil, está as Filipinas, com 48 mortes – um recorde na Ásia. Em terceiro lugar está a Colômbia, com 24 mortes. Na África, 19 ativistas foram assassinados, 12 da República Democrática do Congo.

 

 

 

21
Jul18

Os quatro meses de silêncio de um brutal crime político

Talis Andrade

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A brutal execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completou quatro meses no sábado passado sem que se saiba ainda quem os matou e mandou matá-los. As investigações seguem sob sigilo absoluto do Departamento de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, principalmente após vazar o depoimento de uma testemunha que acusou o vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando de Curicica, que está preso, de serem os mandantes da execução. A pressão para que o crime fosse desvendado começou um dia depois do ocorrido, quando milhares de pessoas ocuparam as ruas nas capitais brasileiras, ao mesmo tempo em que se criava o entendimento de sua complexidade e do longo tempo que a apuração levaria. O apoio de familiares e amigos das vítimas aos investigadores sempre existiu, mas, diante de um deserto informativo imposto pela polícia, cresce a impaciência e a angústia.

 

"O padrão é de não investigação devido a uma negligência do Estado, que não quer enfrentar interesses de certos grupos. Alguns casos, inclusive, contam com a participação de policiais diretamente, como foi a chacina de Pau D'arco", explica Renata Neder, coordenadora de pesquisa da ONG Anistia Internacional, em referência ao assassinato de dez trabalhadores rurais no Pará, em 2017.

 

Outro padrão recorrente, e em especial no Estado do Rio, é a falta de apuração de crimes nos quais existe a possibilidade de policiais estarem envolvidos, lembra 

 

Neder. Um relatório de 2015 da Anistia mostrava que dos 220 registros de homicídios decorrentes de intervenção policial feitos em 2011, 183 permaneciam em aberto em 2015. "Um Boletim de Ocorrência foi aberto, mas nenhuma diligência foi feita", explica a especialista. Leia mais 

 

 

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21
Jul18

NÚMEROS COMPROVAM A FALÊNCIA DA INTERVENÇÃO FEDRAL MILITAR NO RIO

Talis Andrade


por MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND 

 

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A intervenção federal militar no Rio de Janeiro só fez aumentar os homicídios decorrentes de ações policiais em quase 60% 

 


A intervenção federal militar no Rio de Janeiro só fez aumentar os homicídios decorrentes de ações policiais. Mais do que palavras, vale apresentar os números de junho. Em relação ao ano passado, o mês de junho de 2018, segundo dados oficiais, teve um aumento de 59,8% e ainda cresceram 9,2% em comparação com o mês anterior de maio.

 

É preciso que o general Braga Neto, o interventor nomeado por Michel Temer como responsável pela segurança do Rio, responda uma pergunta sobre tal fato. Como de um modo geral, o militar não vem sendo cobrado por isso e outras incursões policiais em áreas pobres da cidade, tudo continuará a acontecer, sob o silêncio da mídia comercial, que de um modo aprova esse tipo de ação que mata jovens negros.

 

É mais do que necessário que a sociedade civil pressione as autoridades responsáveis pelo que tem acontecido, para que a violência institucional tenha fim.

 

Não podem mais os cariocas assistir passivamente a violência que atinge principalmente parte da população mais necessitada e que deveria ter a assistência do Estado. É uma realidade que precisa ser apresentada sem subterfúgios, porque se isso não for feito, as autoridades responsáveis pela violência continuarão agindo dessa forma e ainda por cima receberão elogios de setores que compactuam com essa forma de ação.

 

É necessário, portanto, que se dê um basta de uma vez por todas a esse tipo de ação policial, que não só não produz resultados, como ainda por cima agrava o quadro da segurança na cidade que o cancioneiro popular ainda considera maravilhosa.

 

Na verdade, esse tipo de ação faz parte do repertório de alguns setores da população, na prática estimuladores do racismo, que as autoridades reproduzem. E uma forma de agir inócua que deve ser repudiada pela população brasileira que tenha um mínimo de consciência.

 

Os números aqui apresentados que demonstram o crescimento da violência policial contra os pobres devem ser repudiados e servirem de fator de convencimento da necessidade de se acabar o mais rápido possível com a intervenção federal militar. Não se pode aceitar que essa prática siga até o fim de dezembro.

 

Está mais do que provado que as ações policiais sob o comando do general Braga Neto são inócuas e para combater a violência é preciso que a inteligência seja prioritária.

 

Realmente essa forma de agir não é aceita pelo governo que decretou a intervenção na área da segurança do Rio, porque os seus integrantes preferem seguir os parâmetros do senso comum, ou seja, que através da violência policial em áreas pobres se combate o crime.

 

Nesse sentido, certas coberturas da mídia comercial de alguma forma ajudam a fortalecer essa ideia preconceituosa que prejudica os pobres, como comprovam os fatos.

 

É hora, vale sempre repetir, de acabar com isso! (via Brasil de Fato)

15
Jun18

Afinal, quem matou Marielle?

Talis Andrade

Se permanece impune um crime de repercussão internacional, o que esperar das investigações sobre assassinatos contra militantes quase anônimos?

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Grupo segura cartazes em ato que lembrou os três meses da morte de Marielle, na última quarta-feira, no Rio SILVIA IZQUIERDO AP

 

 

por Luiz Ruffato

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Ontem completaram-se três meses do assassinato covarde da vereadora, militante feminista, ativista negra e defensora dos direitos da população LGBT e de moradores de favelas, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes. Marielle, eleita pelo PSOL, “cria do Complexo da Maré”, como gostava de se identificar, foi morta no dia 14 de março, com quatro tiros disparados de dentro de um carro, numa rua semideserta do bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro, às 21h30. Embora tenha causado repercussão internacional, sua execução até hoje permanece sem autoria...

 

Treze dias depois do assassinato de Marielle e de Anderson, no dia 27 de março, um dos três ônibus que levavam a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Paraná foi atacado a tiros entre os municípios de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul. Segundo o delegado que investigava o caso, Hélder Lauria, o ataque foi planejado: “Quem fez isso sabia o que estava fazendo. A pessoa não estava lá atirando em passarinhos e por acaso acertou o ônibus”. Embora tenha sido um atentado contra um ex-presidente da República, o autor dos dois tiros, calibre 32, permanece solto e desconhecido...

 

Um mês depois, no dia 28 de abril, às 4 horas da manhã, seis tiros de pistola 9 mm foram disparados contra o acampamento de apoiadores do ex-presidente Lula, que encontra-se preso em Curitiba. Dois militantes da vigília pacífica saíram feridos – Jefferson Lima de Menezes, do Sindicato dos Motoboys do ABC, e Márcia Koakoski. Também desta vez a polícia não conseguiu identificar os responsáveis...

 

No dia 24 de maio, completou-se um ano do assassinato de dez trabalhadores sem terra na fazenda Santa Lúcia, em Pau D’Arco (PA). O inquérito da Polícia Federal apontou para a execução sumária das vítimas, contrariando a versão dos policiais, de que teriam sido recebidos a bala pelos sem terra. Laudos e testemunhas mostraram que os trabalhadores foram mortos à queima-roupa. Apesar de haver quinze policiais presos, aguardando julgamento, até hoje a Polícia Federal não descobriu quem foram os mandantes do massacre...

 

Em 2016, foram assassinadas 66 lideranças, uma a cada cinco dias. A grande maioria atuava em conflitos em zonas rurais

 

No dia seguinte, 25 de maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello mandou soltar o fazendeiro Reginaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, um dos condenados pelo assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, em Anapu (PA). Embora condenado a 25 anos de prisão, Taradão só foi recolhido em maio do ano passado, após ter tido a sentença confirmada em segunda instância. Mas o ministro Marco Aurélio, contrariando o entendimento do próprio STF que levou Lula à prisão, revogou o encarceramento de Taradão, afirmando que ele só poderia cumprir a sentença após esgotarem todos os recursos...

 

Se permanecem impunes um crime de repercussão internacional, como o de Marielle Franco, ou um atentado a tiros contra um ex-presidente da República, o que esperar das investigações sobre assassinatos contra militantes quase anônimos como os líderes comunitários Jefferson Marcelo do Nascimento (Rio de Janeiro), Leandro Altenir Ribeiro Ribas (Rio Grande do Sul), Carlos Antônio dos Santos (Mato Grosso), George de Andrade Lima Rodrigues (Pernambuco), Paulo Sérgio Almeida Nascimento (Pará); os líderes sem terra Valdemir Resplandes (Pará) e Márcio Oliveira Matos (Bahia); o líder quilombola, Nazido Brito (Pará); ou o líder de pequenos agricultores, Katison de Souza (Pará) - todos executados apenas neste ano, em casos sem solução...

 

O Brasil está entre os quatro países mais perigosos do mundo para ativistas dos direitos humanos, ao lado da Colômbia, Filipinas e México

 

Segundo relatório da Anistia Internacional, referente a 2017, o Brasil está entre os quatro países mais perigosos do mundo para ativistas dos direitos humanos, ao lado da Colômbia, Filipinas e México. Conforme a Comissão Interamericana, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), aqui, em 2016, foram assassinadas 66 lideranças, uma a cada cinco dias. A grande maioria atuava em conflitos em zonas rurais, ligados à defesa dos direitos da terra e à proteção do meio ambiente.

 

 

Difícil viver no Brasil e fechar os olhos para a triste realidade que nos envolve. Mais difícil ainda é viver no Brasil e lutar para mudar essa triste realidade que nos envolve... Mas há muitos e muitas que fazem isso... E que estão fazendo isso agora, espalhados por todos os cantos do país, no momento mesmo em que você lê esse artigo...

 

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