O assassinato de Marielle Franco foi um "crime político da pior espécie"
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"Brasil, O Golpe: A Ópera do fim do mundo”, detalhe do painel de Flávio Tavares
Com o objetivo de discutir temas contemporâneos dos direitos humanos, o curso de Direito da Unijuí realizou antes da campanha eleitoral o “1º Congresso Nacional Biopolítica e Direitos Humanos: refletindo sobre as vidas nuas da contemporaneidade”.
A palestra de abertura teve o tema “O ridículo político e outros problemas éticos e sociais da sociedade”, realizada por Marcia Tiburi, graduada em filosofia (PUC-RS) e artes (UFRGS) e mestre (PUC-RS, 1994) e doutora em filosofia (UFRGS, 1999). Publicou diversos livros de filosofia, entre elas as antologias As Mulheres e a Filosofia (Editora Unisinos, 2002), O Corpo Torturado (Ed. Escritos, 2004), e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero (2008, Edunisc), Seis Leituras sobre a Dialética do Esclarecimento (2009, UNIJUÍ), entre outros.
De acordo com a palestrante, “Ridículo Político” é o título de uma das suas últimas publicações, livro que foi lançado no ano passado. “Nesta obra tento abordar um fenômeno de mutação política que está acontecendo no Brasil e no mundo. Muitos de nós estão perplexos com certos personagens no campo da política institucional e também no sentido mais amplo, na vida, no dia a dia, ruas, redes sociais. O Ridículo é tudo o que antes nos causava vergonha, e que hoje vem com uma espécie de capital, muitas vezes um discurso de ódio, de incitação da violência”, salienta.
“É muito importante que o campo do conhecimento, professores, pesquisadores, estudantes, escritores, intelectuais, desempenhem uma tarefa social, pública e histórica, que é produzir diálogo, fazer com que as pessoas pensem mais, se envolvam com política e se preocupem com termos como a democracia”, complementa Marcia Tiburi.
Para Marcia, o assassinato de Marielle foi "recado"
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"A impressão que eu tenho é que Marielle Franco foi assassinada para criar um exemplo, que serve tanto aos parlamentares mais críticos, como ela, e que estão numa posição indesejável para os donos do poder, aqueles que lutam por Direitos Humanos, aqueles que renunciam, aqueles que movem simbolicamente a população para um outro tipo de pensamento, antifascista, anticapitalista, antirracista, pelos direitos relacionados a gênero e sexualidade, como era o caso de Marielle", diz Marcia Tiburi em entrevista à RFI (veja vídeo).
"É um recado enviado aos parlamentares de esquerda", afirma Tiburi. "Mas é também um recado enviado à população: 'nós podemos matá-lo'. Para jovens negros e jovens negras, militantes, ativistas, juvenis, mirins... Há uma matança dos jovens negros nas favelas brasileiras no Rio de Janeiro. Não é à toa a intervenção militar, com um cunho 'espetaculoso' e que visa sinalizar simbolicamente para a situação quem é que manda. Marielle foi exterminada e sacrificada neste sentido", analisa.
"Marielle Franco representava muita coisa no Brasil, muita coisa no Rio de Janeiro, representava o pensamento mais crítico, a forma de fazer política mais desejável porque era uma jovem de 38 anos, negra, nascida na favela da Maré, que falava sobre Direitos Humanos e das causas mais importantes para o feminismo, o feminismo negro, uma lutadora da ação, da prática", analisa a filósofa e escritora.
Marcia Tiburi afirma que o assassinato da vereadora foi um "crime político da pior espécie". "É todo um projeto que envolve uma economia política que manda no Brasil hoje. Sabemos que vivemos na instauração de um neoliberalismo que tenta se aprofundar e que faz o Brasil retornar ao pior de sua própria História, sua escravização, hoje com a perda dos direitos trabalhistas, com a reforma da Previdência. Isso faz o Brasil voltar aos anos 1960, da ditadura militar", contextualiza.
"Os procedimentos de matar algumas pessoas para dar exemplos que servem para todos, para aqueles que têm algum desejo de transformação, é para acabar com a ideia de que a democracia é possível. E para acabar, evidentemente, com o propósito de um outro mundo possível, que é o que a esquerda no Brasil tem tentado levantar como possibilidade", critica.
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