11 presos na operação Agro Fantasma
Roberto Carlo dos Santos, agricultor acusado de ter um iate, em entrevista ao jornalista Marcelo Auler, em 2018. Foto: reprodução/YouTube.
Sergio Moro inimigo do pequeno agricultor
Algema e absolvição. Moro acusou pobre pequeno agricultor de ser proprietário de mansão, carro de luxo e iate
Os 11 presos na operação Agro Fantasma foram absolvidos em 2017 pela juíza substituta da 13.ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt (a mesma que condenou o ex-presidente Lula no caso do Sítio de Atibaia), por falta de provas. No dia da prisão, os policiais invadiram as residências com armas de grande porte, segundo os produtores rurais, reviraram os objetos e acusaram os suspeitos na frente de seus familiares. Moro autorizou os agentes a utilizarem algemas e um dos agricultores foi levado algemado para a delegacia.
Gelson Luiz de Paula, outro agricultor preso, ficou 48 dias na sede da Superintendência da PF em Curitiba, no bairro Santa Cândida. Com problemas intestinais, não conseguia se alimentar e perdeu 9 kg em poucos dias. Ele relata que teve dificuldade para receber a visita de familiares (seu pai só foi autorizado a visitá-lo um mês depois da prisão). Chegou a dividir com 15 pessoas a cela que tinha apenas dois beliches. Depois que foi solto, passou a ter ansiedade e dificuldade para dormir.
A família do agricultor Nelson José Macarroni recebeu a visita da PF às 6h da manhã naquele dia 24 de setembro de 2013, mas ele estava na sede da Associação São Francisco de Assis. Os policiais fizeram uma busca na casa e teriam dito para os familiares do produtor que se tratava de uma investigação sobre tráfico de drogas. Eles estariam ali em busca de entorpecentes. Nada foi apreendido. Nelson foi preso na sede da associação e algemado pela cintura. Permaneceu algemado das 8h30 às 17h30. A prisão na 14.ª subdivisão policial, em Guarapuava, durou 64 dias.
Roberto Carlos dos Santos (o suspeito de esconder um iate) só foi autorizado a receber visitas depois de 30 dias preso. Ele diz que até hoje é estigmatizado e visto como “culpado” na comunidade. Precisou de acompanhamento psicológico. Sua filha, com 13 anos na época da prisão, teve síndrome do pânico e apresentou um quadro de depressão.
“Eles nem sabiam que a investigação estava em curso. Foram presos com abuso da polícia e foram impelidos a falar sem a presença de um advogado. Tudo isso corrobora que essa instrução processual foi eivada de erros”, afirma a advogada Naiara Bittencourt. “O argumento utilizado foi que a prisão impediria a interferência no curso processual e que seria um crime de colarinho branco. O fato de o MPF não recomendar a prisão é um dos fatores que demonstra a ilegalidade e a arbitrariedade dessa prisão preventiva.”
“Cadê a mídia?”![Brum on Twitter: "Charge da Tribuna do Norte #brum #charge #critica #fome #onu #alimentacao #miseria #desnutricao #mapadafome #comida #brasil https://t.co/dLmSQVQYzD" / Twitter]()
Ao chegar à delegacia, logo após ser preso, Nelson Macarroni conta que ouviu um dos policiais federais perguntando “Cadê a mídia? Cadê a mídia?” Em seguida, o agente teria ligado a televisão para acompanhar as notícias sobre a operação. A Agro Fantasma já estava em todos os sites de notícias. Em muitos deles, a sentença já havia sido dada.
O jornalista Reinaldo Azevedo, em seu blog no site da revista Veja, escreveu que os “companheiros” (alusão a filiados ao PT) estavam “tirando comida da boca de crianças pobres”. “Os ‘companheiros’ definitivamente, não estão na política a passeio. Vieram para colonizar o estado brasileiro e estão fazendo isso”, escreveu Azevedo.
Uma das vozes mais críticas aos governo dos PT na década passada, Azevedo também usou uma carta do MST (Movimento Rural dos Trabalhadores Sem-Terra) sobre a operação e o PAA para tentar ligar o movimento a práticas criminosas. “ESCÂNDALO”, escreveu o jornalista com letras maiúsculas. “MST e seus satélites divulgam carta contra a PF, que investiga roubalheira na área da agricultura familiar. Estão com medo do quê?”, questionou o blogueiro. “Roubalheira”, sentenciou ele. Sem provas, mas nestes termos.
Interpretação “livre” e semelhante foi a adotada pelo jornal A Tarde: “PF desmonta quadrilha que fraudava programa do governo”, sentencia o título da matéria. “Não pegamos nem metade”, diz o delegado responsável pela operação. Segundo ele, entre os principais crimes cometidos pela “quadrilha” estavam “falsidade ideológica, estelionato, peculatos culposo e doloso e prevaricação”.
Para Naiara Bittencourt, existe a possibilidade, caso a União seja condenada na ação movida pelos agricultores, de se buscar a responsabilização do juiz que determinou as prisões e dos agentes da PF que cometeram arbitrariedades. “Nesse caso (de condenação), a União poderia entrar com uma ação de regresso contra os servidores públicos da época e cobrar esse ressarcimento.”