Ainda que algumas de nossas flores tenham ido ao chão, nada será capaz de deter a primavera que tomará as ruas no dia 2 de outubro com a eleição de Lula
por Ádamo Antonioni
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Não é de hoje que a esquerda sente na pele a escalada da violência no Brasil. Com a ascensão da extrema-direita no poder, consequentemente, uma névoa sombria de terror e medo sobrevoa o país desde 2018. A morte de Marielle Franco no Rio de Janeiro, que ainda hoje permanece um mistério sobre quem seria o mandante do crime, e do capoeirista Moa do Katendê na Bahia por um bolsonarista, eram um prenúncio dos tempos difíceis que tivemos que enfrentar desde então.
Como já cantara Caetano Veloso em 1969 durante os tenebrosos anos de chumbo: “Atenção ao dobrar uma esquina. [...] É preciso estar atento e forte”. É triste imaginar que nossa geração está muito perto de viver aqueles dolorosos momentos de repressão que a geração de Caetano viveu com o golpe de 1964.
Novamente estamos às voltas de uma tentativa de golpe com o atual ocupante do Palácio do Planalto que, diariamente, ataca as instituições como STF (Supremo Tribunal Federal), desqualifica o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e espalha desinformação entre seus apoiadores quanto às urnas eletrônicas.
Diante desse cenário que tanto nos causa espanto e medo, podendo desestimular alguns do campo progressista ou desmobilizar outros, resumi nesta espécie de decálogo, os mandamentos para que a militância possa resistir e sobreviver até o primeiro turno das eleições presidenciais que acontecem neste domingo, 02 de outubro:
1-Mantenha a esperança viva
A esperança de dias melhores é o que nos motiva. Apesar do sofrimento que vivemos nestes últimos anos, temos a esperança de que amanhã, aliás, a partir de 1º de janeiro de 2023, haverá de ser outro dia. E que nossos ideais como igualdade, solidariedade, justiça social e respeito à diversidade, hão de se tornar realidades. Manter a esperança viva é ter a coragem para se levantar e lutar. “Esperançar”, como diria Paulo Freire.
2-Proteja os seus e a ti mesmo
O bolsonarismo é responsável por dois assassinatos de petistas só neste ano de 2022. Marcelo Arruda no Paraná e Benedito dos Santos, no Mato Grosso. Fora as agressões como de uma mulher em Angra dos Reis (RJ) depois de criticar Jair Bolsonaro e de uma janela com bandeira do PT ser alvo de tiros no Recife (PE). É preciso criar redes de apoio e proteção para cuidar dos nossos, especialmente, dos grupos mais vulneráveis à violência política, como mulheres e população LGBTI+. Evite andar sozinho nas ruas e redobre a atenção, sobretudo, se tiver identificado com as cores vermelhas associadas à esquerda. Mantenha o telefone de contato de seus amigos/as atualizado.
3-Não entre em discussões vãs na internet
As redes sociais criam uma falsa sensação de debate político. Muitos que participam das discussões já possuem sua opinião formada e querem apenas “trollar”, isto é, enfurecer ou perturbar uma conversa. Além disso, segundo pesquisa do ITS- Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro), cerca de 50% dos tuítes pró-Bolsonaro foram impulsionados por bots, ou seja, robôs que apresentam comportamento automatizado para passar a sensação de engajamento digital. As chances de você estar “batendo boca” e perdendo seu tempo com uma máquina atrás de um perfilfake, geralmente sem foto, é muito grande.
4-Não ceda à provocação nas ruas
No último final de semana, o MBL (Movimento Brasil Livre) utilizou um adolescente para provocar a equipe de campanha de Guilherme Boulos, candidato a deputado federal pelo PSOL, que fazia um ato na Av. Paulista. Após confusão, o MBL acionou policiais para prender Boulos ilegalmente. A extrema-direita é intolerante e agressiva, age com provocações e insinuações para que percamos a linha e respondamos com baixaria. Mas a melhor resposta que podemos dar será nas urnas no dia 2 de outubro.
5-Orgulhe-se de suas cores e símbolos
É hora de ostentar nossas cores, sim. E por que não? O vermelho da cor do sangue que corre em nossas veias, a estrela, o martelo e a foice que mostra união da classe trabalhadora do campo e da cidade, a bandeira do arco-íris, as palavras de ordem estampadas nas camisetas. E no dia 2 de outubro, vá com um livro para sua sessão de votação, assim como fizemos em 2018. O livro é o símbolo mais potente contra este governo negacionista, terraplanista e obscurantista.
6- Não se desespere
Se se receber uma desinformação em seu WhatsApp ou vê-la circulando nas redes sociais, mantenha a calma. Respire. Jamais a compartilhe. Denuncie. Nesta reta final, o bolsonarismo vai inundar as redes com mamadeiras de todos os tipos para espalhar pânicos morais, desinformar e tentar causar confusão na população. Repito: denuncie nas próprias plataformas que já disponibilizam campos próprios para isso.
7-Busque fontes confiáveis para se informar
Se se deparar com alguma informação duvidosa, com dados confusos ou em tom alarmista, busque os sites que trabalham com checagem de informações, os chamadosfact-checking, como Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E- Farsas e Fato ou Fake, são alguns deles.
8-Não espalhe fake news
A dimensão ética nunca pode deixar de estar no horizonte de atuação do campo progressista. Por mais tentadora que possa ser, temos que resistir às armas do inimigo e levar sempre a verdade, a informação correta e os fatos concretos.
9-Fale com amorosidade
Nesta reta final, há muitos indecisos e pessoas propensas à abstenção. Esteja aberto ao diálogo, mas fale com amorosidade, expressão utilizada por Paulo Freire, para se referir ao processo pedagógico de profundo amor ao ser humano. A amorosidade fala do compromisso com a justiça, da superação das opressões, mas também escuta com paciência e respeita as opções políticas alheias. Procure convencer essas pessoas sobre a importância do comparecimento às urnas no dia da votação e da necessidade de derrotar o ódio e o autoritarismo já no primeiro turno.
10- Não esqueça o título de eleitor
Verifique com antecedência seus documentos, título e documento de identidade com foto. Também veja seu local de votação, sessão e endereço, caso precise se deslocar por causa do trânsito, etc. Quanto antes puder checar esses pormenores, mais cedo poderá se precaver de eventuais contratempos.
Falta pouco. Olha só o quanto já enfrentamos e superamos até aqui.
Resistimos como a flor de lótus que renasce a cada dia em meio à adversidade.
E ainda que algumas de nossas flores tenham ido ao chão, nada será capaz de deter a primavera que tomará as ruas no dia 2 de outubro com a eleição de Lula para presidente do Brasil.
A intolerância religiosa é considerada uma forma de violência de caráter físico ou simbólico, é um ato de discriminação, ofensa e agressão às pessoas por causa de sua crença e prática religiosa
APalavra da Semana, um dos termos que são mais pesquisados e compartilhados na web, é Intolerância Religiosa, que está em evidência por conta da postagem de Michelle Bolsonaro no Twitter relacionada à religião africana. No Brasil, intolerância religiosa é crime previsto em lei, de acordo com o Código Penal brasileiro, Decreto-Lei número 2.848, dos crimes contra o sentimento religioso. É crime escarnecer publicamente por motivo de crença ou função religiosa, impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso, vilipendiar publicamente ato objeto de culto religioso. Quem comete esse crime pode pegar pena de detenção de um mês a um ano ou pagar multa. A intolerância religiosa é considerada uma forma de violência de caráter físico ou simbólico, é um ato de discriminação, ofensa e agressão às pessoas por causa de sua crença e prática religiosa. Especificamente no Brasil essa intolerância está diretamente relacionada com o racismo religioso, sendo uma violência praticada em maior grau contra os praticantes das religiões de matrizes africanas.
Palavra da Semana Produção e apresentação: Professora Deise Maria Antonio Sabbag - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) Coprodução e Edição: Rádio USP Ribeirão Coordenação: Rosemeire Talamone Estagiária: Brenda Marchiori Baixar arquivo
Grande parte dos conflitos religiosos que acontecem no mundo envolve crenças religiosas, misturado a fatores políticos, econômicos, raciais e étnicos. Muito do preconceito contra algumas religiões é por desconhecimento, intolerância e falta de diálogo com o outro. Então, religiões que deveriam viver em paz, acabam por se odiar e se enfrentar em conflitos e desgastes inúteis. A charge acima indica(A) religiões diferentes em diálogo inter-religioso. (B) um compartilhamento harmonioso entre pessoas de religiões diferentes. (C) um falso religioso contrariando os principios de uma verdadeira religião. (D) pessoas de religiões iguais em uma celebração religiosa.
A situação é tão esdrúxula que começa a ganhar corpo a tese de que poderia ser tentado um golpe sem Bolsonaro.
por Luis Nassif
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Houve quem acreditasse que a intenção de Bolsonaro, no desastrado evento com diplomatas, fosse meramente reforçar seu discurso eleitoral para suas bolhas.
É mais que isso: é para impedir a debandada de seus principais auxiliares. Confiando na blindagem da presidência, até agora aliados ousaram se meter na lama até o pescoço. Não pensaram no dia seguinte. Confiaram excessivamente na manutenção do poder de Bolsonaro, pelo voto ou pelo golpe.
Essa sensação de impunidade foi sendo solapada pela ação de Alexandre de Moraes, Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenando a prisão de vários agitadores. A prisão do deputado Daniel Silveira colocou o bolsonarismo em uma sinuca de bico. Bolsonaro foi obrigado a usar o recurso do indulto, provocando enorme desgaste junto a setores do Estado ainda favoráveis a ele.
A queda de Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), e uma das pessoas mais próximas a Bolsonaro, foi um golpe fatal, mais ainda que a prisão do Ministro da Educação, acusado diretamente de corrupção. Agora, são escancarados os abusos de Guimarães, que foram muito além do assédio sexual. Ele está sob risco concreto de condenação e prisão. E Bolsonaro nada poderá fazer.
O evento com diplomatas despertou uma reação inédita de instituições e corporações públicas. Associações de toda ordem, da Polícia Federal, da ABIN, do TCU, sociedade civil, de todos os lados, a condenação foi unânime.
Ponto essencial foi o rescaldo da reunião, quando se constatou que os comandantes militares foram convidados e recusaram-se a comparecer ao show, assim como ministros do STF e presidentes da Câmara e do Senado.
O episódio explicitou de maneira inédita a vulnerabilidade de Bolsonaro, ainda mais após a repercussão negativa internacional e a constatação de que qualquer tentativa de golpe provocará retaliações não apenas das democracias europeias como dos Estados Unidos.
É esse o ponto central. Com a debandada antecipada de seus aliados, Bolsonaro poderá contar apenas com as milícias, alguns clubes de Caça e Tiro e prováveis malucos que arriscarão episódios violentos.
Esse movimento fortalecerá ainda mais o papel das Forças Armadas de defesa da legalidade;
Nas próximas semanas, todo o entorno de Bolsonaro começará a pensar seriamente na conta que recairá sobre cada um, com o fim do governo. E será cada vez mais presente, para os Bolsonaros, o pesadelo da futura prisão da família.
A situação é tão esdrúxula que começa a ganhar corpo a tese de que poderia ser tentado um golpe sem Bolsonaro. Não há nenhuma indicação concreta, apenas uma demonstração de como a imprevisibilidade caminha do risco de um golpe de Bolsonaro, para a hipótese de um golpe sem Bolsonaro.
Infelizmente, há de se reconhecer que algo como o assassinato de Marcelo Arruda por um homem armado que entrou em sua festa de aniversário gritando “aqui é Bolsonaro” já era esperado. Esse caráter de algo já anunciado aumenta ainda mais o assombro e a amargura pelo ocorrido. Pois tal ausência de surpresa mostra de forma clara onde estamos, ou ainda o tipo de projeto de engenharia social ao qual estamos submetidos.
Já na eleição passada, o Brasil havia se deparado com pessoas mortas por apoiadores de Jair Bolsonaro, como o caso de Mestre Môa. Na ocasião, há de se lembrar qual foi a reação do senhor que ocupa atualmente a presidência da República. Nenhuma declaração pública de consternação e luto, apenas a afirmação de: “Mas quem levou uma facada fui eu”. Agora, o padrão é o mesmo: ausência completa de consideração a respeito da morte, apenas a reclamação de que o caso estaria sendo tratado de forma distinta da maneira com que fora tratado seu próprio incidente que redundou na famosa facada.
Esse padrão do governo não é estranho. Infelizmente, sua racionalidade é bastante evidente. Trata-se de naturalizar a lógica da guerra como forma de relação entre grupos sociais. Em uma guerra, não haveria razão alguma para demonstrar consternação pela morte de inimigos. Na verdade, em uma guerra é fundamental que tais mortes ocorram, pois elas podem produzir uma espiral de violência cuja verdadeira função é empurrar o país inteiro para uma tensão armada, consolidando as posições antagônicas. Daí a necessidade de minimizar tais assassinatos como “incidentes” não muito distintos de uma “briga de trânsito”, como insinuou o líder do governo na Câmara.
Essa generalização da guerra seria a situação ideal para o governo do sr. Jair Bolsonaro. Pois isso lhe permitiria afirmar que o país se encontra em uma situação de caos, abrindo espaço assim para um jogo duplo, a saber, tanto procurar criar as condições para uma saída golpista (ou algo parecido) quanto crescer no medo, recuperando setores conservadores que saíram de sua órbita, mas que podem sempre voltar se a lógica da guerra imperar. Ou seja, tudo isso nos lembra que o terrível assassinato de Marcelo Arruda em sua própria festa de aniversário provavelmente não será o último.
Alguns podem se perguntar como chegamos até aqui. E é sempre bom lembrar nesse contexto que o Brasil conheceu 13 anos de governo de esquerda sem nenhum caso de violência eleitoral que tenha terminado em assassinato perpetrado por apoiadores ou apoiadoras do antigo governo. Não há possibilidade alguma de falar em alguma forma de acirramento mútuo. Se mesmo diante da violência simbólica normal dos embates políticos nunca houve casos reversos é porque não há linha direta entre violência simbólica e violência real. Muitas vezes, a violência simbólica é, na verdade, um anteparo contra a violência real, pois ela desloca a violência para uma outra cena, com dinâmicas próprias.
Há de se insistir nesse ponto não para apagar a responsabilidade desse governo em atos dessa natureza. Ao contrário, trata-se de mostrar onde exatamente está tal responsabilidade. Pois se estamos em uma situação como essa agora, devemos procurar uma de suas causas principais na generalização da lógica de milícias que marca o fascismo popular de Jair Bolsonaro. O bolsonarismo provoca uma reordenação social cujo eixo central é a “quebra de monopólio” no uso estatal da violência. É essa reordenação a verdadeira responsável por assassinatos brutais como esse.
Já se notou que a base fundamental desse governo não é apenas as forças armadas, mas principalmente as forças policiais. A lógica de extermínio, desaparecimento e assassinato que compõe a espinha dorsal da polícia brasileira ganhou um elemento suplementar quando tais ações passaram a serem feitas sem necessidade de sombras, sem precisar se deslocar dos holofotes, como aconteceu nesse governo.
Algo de fundamental ocorre quando a mesma coisa é feita, mas sem a necessidade de mascaramento, com a certeza absoluta da impunidade e com aplausos do Palácio do Planalto. Nesse caso, o fundo miliciano da polícia brasileira aparece de forma completamente desrecalcada, podendo produzir uma dinâmica irresistível de contágio social. Ou seja, outros grupos sociais, ou mesmo indivíduos isolados, se vem cada vez mais autorizados a agirem como se estivessem em uma situação de guerra.
De fato, como em movimentos fascistas históricos, a base armada desse projeto político não vem exatamente das forças militares tradicionais, mas da organização da sociedade a partir da lógica de milícias. A milícia se torna então o modelo fundamental de organização social. Isso significa que o exercício da violência aparece como atributo fundamental do exercício da cidadania, por mais estranho que isso possa inicialmente aparecer. Ser cidadão, ser cidadã é, nessa lógica, poder usar a violência para se “autodefender”, sendo que sempre é bom lembrar (e isso a experiência colonial nos mostra claramente) que nem todos tem o pretenso “direito de autodefesa”. Alguns tem apenas a condição de corpos a serem alvejados.
Assim, não erra quem afirma que o objetivo maior desse governo é fazer de todo brasileiro e brasileira um miliciano potencial. Ou seja, fazer de todos os que se identificam com esse “Brasil”, com suas cores nacionais, sua história de apagamentos e genocídios, com seu agronegócio depredador, um miliciano reconciliado consigo mesmo.
Alguém indiferente a morte de “inimigos”, solidário a corrupção vinda dos seus, identificado a figuras brutalizadas de poder e força, ao mesmo tempo que se vê como o defensor armado do ocidente e seus valores. Esse não é apenas um projeto de poder, mas efetivamente um projeto de sociedade. Contra isso, precisaremos de algo do tamanho da força de outra imagem de sociedade.
Mesmo após anos de evidências e fatos, como o assassinato de Marcelo Arruda, jornalistas e veículos ainda investem em uma polarização que nunca existiu
A ROUPA MAIS PREZADApela maioria dos jornalistas é aquela costurada com o fio da objetividade. Sentem-se não apenas mais bonitos, mas principalmente mais blindados e, portanto, mais seguros, com ela. Tornam-se semi-deuses: enxergam tudo do alto, sem se misturar com mesquinharias cotidianas como posicionamento político (coisa de ativista) e as questões do machismo (problema das mulheres), do racismo (problema dos negros) e do classismo (problema dos pobres).
Para costurar essa roupa-escudo, os jornalistas usam como principal matéria-prima os fatos e as evidências. É algo que vai na mesma linha do “cientificamente demonstrado”. Se algo aconteceu daquele jeito, só pode ser explicado pela descrição da ocorrência, como se um acontecimento não tivesse passado, contexto, futuro, raiz.
Pois bem, vamos brincar de Jornalista Equilibrado Usando Terno e Dono de Algum MBA Gringo e levar em consideração que os fatos são suficientes para explicarmos as coisas que ocorrem “lá fora”.
Moa do Katendê: assassinado com 12 facadas por um eleitor de Bolsonaro durante o primeiro turno das eleições presidenciais em 2018 após declarar seu voto em Fernando Haddad.
Jornalista espancada com pedaço de ferro e ameaçada de estupro também no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Saía do local no qual havia acabado de votar quando dois homens a arrastaram pelo braço ao verem seu crachá de jornalista. Os agressores disseram que ela era “de esquerda”. Um deles usava calça jeans e uma camiseta preta com a foto de Jair Bolsonaro (PSL) e os dizeres “Bolsonaro Presidente”.
Jair Bolsonaro concede indulto ao deputado Daniel Silveira,condenado pelo STFapós atacar a corte e dizer que imaginava ministros“levando uma surra”.
Nas últimas semanas, diversos atos violentos em eventos envolvendo a campanha de Lula foram registrados, desde a explosão debombas caseiras com fezesà invasãode reuniões.
O assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos quando foi atacado pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho. O caso possui semelhanças com o ocorrido com Moa do Katendê: no caso deste, o criminoso se envolveu em uma discussão, foi até em casa e se armou com uma faca do tipo peixeira. No segundo, o assassino deixou mulher e filha em casa e voltou com sua arma de fogo. Mas Marcelo também estava armado: morreu após disparar contra Guaranho.
Eu sei, eu sei: você já leu tudo isso que está aqui. A gente se engana achando que jornalismo trata necessariamente de novidade. Na verdade, ele tem muito de repetição. E é exatamente isso que está acontecendo desde o último terrível fato elencado aí em cima, o assassinato de Marcelo. Mesmo após anos de evidências e fatos que desenham um ambiente político novo no Brasil, no qual o bolsonarismo passa a mirar diariamente uma arma real ou simbólica contra nossas cabeças, uma penca de jornalistas insiste em colocar o campo democrático na mesma balança do discurso de morte e extermínio do presidente.
Mas não é de qualquer “campo democrático” que estamos falando: é preciso nomear o ex-presidente Lula para entender melhor o fenômeno dos jornalistas e/ou articulistas “objetivos” que ignoram os adorados fatos quando o ex-metalúrgico ou o Partido dos Trabalhadores estão na roda.
Nos últimos dias, artigos como o escrito porRicardo Kertzman, na IstoÉ (coloca Lula e Bolsonaro como “as bestas do apocalipse”), e o de Fábio Zanini, naFolha(“Ato de bolsonaristas pelas armas, fala de Lula e crime no Paraná mostram clima desfavorável à pacificação”), entre outros, nos mostraram como barbárie também se desenha a partir do ar-condicionado do home office ou das redações.
“Nesse ambiente, eventos banais tornam-se mortais, especialmente se os dois lados estiverem armados”, diz um trecho do artigo do último colunista. Essa é uma falsa equivalência estarrecedora, e não somente pelo fato de dezenas de eventos violentos pulularem após o espraiamento do bolsonarismo no país, mas por diminuir o peso imenso da caneta e do discurso de alguém que está no poder – e ainda turbinadíssimo pelo Centrão.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Vou repetir: um lado é o presidente do Brasil. E ele é parte máxima de nossa institucionalidade.
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo. O que não é novo entre nós é uma imprensa dotada de uma visão precária de democracia. Acho muito ruim que o candidato elogie atos violentos como o realizado pelo ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT, como fez em um evento no fim de semana. Mas comparar essa fala infeliz ao paredão de violência do bolsonarismo é forçar a barra.
Perdi a conta do número de pessoas que me disseram ter vontade de se expressar politicamente usando bandeiras ou adesivos em seus carros, janelas, roupas. Não o fazem por uma razão simples: medo de apanhar na rua. Ou, como no caso de Marcelo, de serem assassinadas.
Vocês têm notícias de bolsonaristas com medo de usar adesivo do presidente ou pendurar em seus carros bandeirinhas do Brasil?
Estão chamando “um lado” (para usar o termo raso) que tem apanhado, morrido, se lascado e está em parte acuado, de “extremista”?
Nos últimos anos, a palavra “polarização” vem sendo repetida por uma estrutura midiática acostumada a binarismos diversos, explícitos em termos como “gente do bem” e, vejam só, “dois lados”.
Nessas lógicas binárias não se associam Daniel Silveira, funk misógino e os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, por exemplo. Ou incentivo ao garimpo, racismo e xenofobia. Divide-se o bolsonarismo em gavetinhas e, usando-o aos poucos de cada vez, tem-se a impressão que ele pode não ser tão terrível assim.
Parte de nossa imprensa continua a tropeçar nas próprias platitudes ao se negar a trabalhar com a complexidade lá fora. Assim, constrói mitos e heróis, vilões e desgarrados, tudo a depender das suas necessidades econômicas e políticas no momento. A questão não são fatos, nem a leitura mais acurada dos mesmos, no final. A questão é – em nome de uma ideologia, bom dizer – instrumentalizá-los, mesmo quando flertam com a destruição de vidas.
Toda vez que equipara Bolsonaro e o bolsonarismo a qualquer coisa que já tenha acontecido na política brasileira, o jornalismo pula o cercadinho e vai fazer companhia ao presidente.
A democracia brasileira conviveu durante décadas com o pluripartidarismo sem que repórteres e editores precisassem recorrer a toda hora a termos que conformassem as legendas como “extremistas”. Isso era termo usado, no máximo, para tratar aquelas com poucas chances de atingir postos majoritários, como o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU, e o Partido da Causa Operária, o PCO, ambos à esquerda, ou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, já extinto, à direita. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, hoje Movimento Democrático Brasileiro, MDB, o Partido dos Trabalhadores, o PT, ou o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, por exemplo, transitavam entre centro, centro-direita e centro-esquerda, sem ocuparem os postos máximos da radicalização política.
Se nosso espectro político majoritário foi historicamente “equilibrado” ao centro com matizes à esquerda e à direita, o que muda no cenário para que a imprensa e mesmo nós, sociedade perpassada mais pelo senso comum do que pelo senso crítico, passássemos a ver tudo pela lente “radical”?
A instrumentalização da objetividade jornalística ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro
A resposta está no crescimento da ultra-direita brasileira, uma explosão de visibilidade embalada por ao menos três fatores. O primeiro é a consolidação de um contexto político e social mais conservador em todo o mundo, no qual se misturam, entre outros componentes, o colapso político de vários países causado por violentas disputas internas e uma onda inédita de imigração (foram 272 milhões de imigrantes em 2019, 51 milhões a mais do que em 2010, segundorelatórioda ONU). A precarização global do trabalho, resultando em um aumento de preconceito e violência sobretudo entre populações imigrantes, somente agrava essa questão.
O segundo fator se ancora na agudização dos sentimentos de raiva, impotência e medo derivados do contexto esboçado acima: trata-se da instrumentalização política de dados e algoritmos, principalmente nas redes sociais. O mais célebre escândalo desse uso indevido de informações foi protagonizado pela Cambridge Analytica, empresa que utilizou dados pessoais de usuários do Facebook para influenciar as eleições presidenciais americanas em 2016.
O terceiro fator para o crescimento da extrema direita no Brasil, apesar de seu precedente também global, ainda é pouco investigado entre nós – e é sobre ele que precisamos atentar: ele decorre dessa insistência em tratar Bolsonaro e o bolsonarismo como um extremo em oposição a outro, supostamente existente.
Vou repetir: de um lado está o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade. Do outro, são movimentos sociais, candidatos, população.
Bolsonaro, como já escrevi, não nasceu somente graças ao Superpop e ao CQC, sejamos claros. Essa é outra platitude que só serve para manter bonitinhos os ternos e MBAs dos Jornalistas Equilibrados. Ele sofreu um banho de loja realizado pela imprensa que se autointitula como “profissional” e transformou o autor da frase “o erro da ditadura foi torturar e não matar” (dita em 2008 e 2016) em um cara “controverso”.
Desde a madrugada de domingo, a respeito do assassinato de Marcelo, li várias vezes que um lulista e um bolsonarista “trocaram tiros”.
Alguém tem a festa invadida, a própria vida e a da família e amigos ameaçada por um homem armado. Usa seu próprio revólver para se defender. E o resumo é “troca de tiros”.
Poderia ser “legítima defesa”, mas estamos falando de algo que envolve o PT.
O fato é que o jornalismo “neutro”, empresarial, das redes e conglomerados mais assentados, passou a se constituir como norma. Tudo aquilo que não está conformado nele seria, assim, um desvio, uma anormalidade situada, como já colocou a pesquisadora e jornalista Márcia Veiga. Um veículo como, por exemplo, esteThe Intercept Brasil, foi e é criticado por se posicionar demais, ou, pior, por ser “ativista”. Mas, se entendemos que o Interceptfoi “ideológico” ao publicar as mensagens da Vaza Jato, devemos pensar o mesmo em relação ao Jornal Nacional no momento em que este vazou a ligação telefônica entre Dilma Rousseff e Lula.
Para marcar esse lugar que parece limpo e equilibrado, esse “estar acima das paixões”, nossos veículos naturalizaram o discurso criminoso de um político celebrizado midiaticamente. Primeiro, ele era apenas um cara controverso; depois, já presidente, um extremista que está em uma ponta enquanto Lula (cujo governo foi marcado por alianças com partidos como PMDB, hoje MDB, está na outra.
É fundamental perceber como o ex-presidente vai ser continuamente construído como o Bolsonaro do outro lado do espelho. Está posta a “polarização” que – sugerem esses veículos – nos apequena enquanto sociedade e da qual precisamos nos livrar; afinal, precisamos valorizar a democracia à brasileira, na qual indígenas e pretos são tratados como cidadãos de segunda classe e uma distribuição de renda mais justa é uma ideia estapafúrdia. A instrumentalização da objetividade jornalística (através, por exemplo, do jornalismo declaratório) ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro.
Enquanto imprensa e outras instituições fundamentais para a manutenção de nossa relutante democracia assinarem embaixo das práticas autoritárias e preconceituosas, enquanto normalizarem Bolsonaro o colocando como um espelho reverso de Lula, vamos seguindo o bonde em direção ao precipício. No volante, alguém “autêntico” que foi confundido pela imprensa séria como um tiozão do pavê que às vezes soltava um impropério.
Engraçado.
Folclórico.
Controverso.
“O avesso do fantoche é o terrorista”, escreveu o sociólogo Derrick de Kerckhove, que analisa democracia, dados e novos fenômenos da política. É uma análise que é também um retrato de um Brasil, onde, depois de pouco mais de um ano na presidência, o presidente resolveu levar até à imprensa que o ajudou a chegar ao poder, um humorista, o Carioca, vestido como ele mesmo, Jair Bolsonaro. Na ocasião, o presidente foi questionado sobre o PIB que crescera apenas 1,1% em 2019. Em vez de falar com repórteres, BolsonaroestimulouCarioca a distribuir bananas e a responder em seu lugar. Caos instaurado, perguntas não respondidas, bananas jogadas, selfies, apoiadores transmitindo ao vivo, gargalhadas, “mito”.
Vou repetir: é o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade.
Há algo muito importante naquele dia e que talvez ainda não tenhamos entendido: Bolsonaro agiu com imensa coerência quando colocou um humorista para ser nosso presidente. Ali nos deu, jornalistas, uma lição: ao ajudarmos a eleger um cara “meio controverso”, demonstramos que podemos ser tratados como idiotas. Dos atos tantas vezes violentos contra a imprensa, talvez aquele tenha sido um dos mais didáticos, e mesmo lúdico: tivemos uma experiência única de ver alguém sem qualquer capacidade para responder pela República ocupar os holofotes da política para fazer graça, distrair, ocupar a nossa atenção.
Eu não estou me referindo ao humorista, e sim ao fantoche. Falo do seu avesso.
Vou repetir: ele é o presidente do Brasil.
*Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2021 o Brasil registrou 430 casos de violência contra jornalistas. Foram mais casos que em 2020, quando foram registrados 428 ocorrências. É um recorde na série histórica, iniciada em 1990.
É frouxo o artista que fica à sombra dos distanciamentos, como se nada fosse com ele. Marília Mendonça desafiou a ira da extrema direita com apenas 23 anos, quando disse que não votaria no sujeito por uma questão de bom senso.
Não era e nunca foi uma artista engajada, nem uma militante, era apenas uma artista dizendo o que pensava ali naquela hora.
Ela disse em 2018 que era impensável votar naquele que todos sabiam (uns fingiam não saber) de quem se tratava. Participou da campanha do Ele, não, e foi o que bastou.
Posicionou-se sobre uma questão crucial, foi perseguida e ameaçada e teve de recuar, como muitos recuaram para sobreviver. Por isso mesmo, pela perseguição e pela urgência do recuo, a breve história de Marília nos comove".
Ele, não, em São Paulo
Ele , Não, o posicionamento da maioria dos compositores, cantores, poetas. Escute Ele, não, com Khalil Magno:
Ele é a faca que matou kantendê Ele é a bala em marielle Ele é o ódio à flor da pele Ele é o sangue na favela Ele é o mal
Onde nos quero livre ele é a jaula A hipocrisia em ditos cidadãos de bem Que se escondem num discurso isento Ele é você que não se vê ao lado De quem goza da coragem de dizer
Pro fascismo: Não mais! Pro machismo: Não mais! Homofobia: Não mais! Pra transfobia: Não mais! Para o nazismo: Não mais! Para o racismo: Não mais! Xenofobia: Não mais! Qualquer fobia: Não mais! Intolerância: Não mais! Não mais! Não mais! Não!
A um ano das eleições, sob a vista grossa do Judiciário, os crimes contra mulheres, negros e população LGBTQIA+ crescem alimentados pela tolerância da sociedade.
HÁ UM DITADO alemão que – sinal dos tempos – vem sendo repetido com frequência nas redes, a ponto de se aproximar da exaustão: “Se um nazista se senta à mesa com 10 pessoas e ninguém se levanta, então há 11 nazistas.”
O que é uma ilustração no dito popular se materializa em realidade nessa nossa terra com cada vez menos palmeiras e canto de sabiás: somos, neste exato momento, milhões compartilhando a mesa não somente com nazistas, mas com toda sorte de pessoas que enxergam o outro como inimigo caso este não siga suas crenças ou modos de vida. E com o inimigo, vocês sabem, não há conversa: precisamos apenas exterminá-lo.
Essa grande mesa vem recebendo cada vez mais intolerantes e criminosos, seja segurando um copo de leite, uma Bíblia ou uma mandala. Nela se ouvem a piada racista, o comentário homofóbico, a decisão misógina ou transfóbica, todas muitas vezes cobertas com os inocentes títulos de “opinião” ou “brincadeira”. É justamente aqui que o cano do revólver brilha: nessa grande nação recalcada que somos, adoramos nos ver como o povo manso desse Brasil que canta e é feliz, feliz, feliz. Assim, deixamos de confrontar – seja no nível pessoal, coletivo ou institucional – essa violência escancarada que vai se galvanizando mais e mais na língua e na alma. Escolhemos um cínico “tem que ver os dois lados”, um “ele está só brincando” e assim continuamos à mesa, muito simpáticos, sorrindo para o nazista. Agora, eles estão se espalhando sobre as palmeiras e comendo os sabiás.
– Você quer uma banana?
Segurando a fruta na mão, um rapaz identificado como Aristides Mathias Flach Braga, pergunta, em inglês, se uma menina negra gostaria de comer a fruta. Ela não compreende bem o que está acontecendo, e o jovem começa a imitar um macaco. Enquanto isso, ouvimos algumas pessoas sorrindo.
Aristides é filho de Alexandre Braga, comissário aposentado da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. O vídeo foi divulgado pelo arquiteto Antônio Isupério que, dias antes, havia recebido ameaças através de mensagens privadas vindas de uma conta com o nome de Aristides: “a gente vai te achar e o que a gente vai fazer contigo é do tamanho do patamar de aqueles vídeos dos chilenos cortando a cabeça dos caras”. O perfil ainda o chama de “macaco” e “preto fedido”. As ameaças e ofensas aconteceram depois que Isuperio postou sobre Israel Soares, homem que surge nas redes divulgando “recebidos” de objetos nazistas e fazendo saudações nazi (é isso mesmo, o cara se chama ISRAEL e é anti-semita).
Isso aqui, ô-ô, é um pouquinho de Brasil, iá-iá.
O caso de Isuperio, que abriu boletim de ocorrência digital na Polícia Civil do Rio Grande do Sul e uma representação no Ministério Público do estado, é só uma pequena mostra de quem está sentado hoje à nossa mesa, na maioria das vezes com o silêncio e/ou a passividade da Justiça e da imprensa. Atualmente, existem mais de 300 células de supremacistas identificadas no país, um número recorde que se expande graças também à ajuda do presidente Jair Bolsonaro (ele nunca escondeu sua simpatia por esses grupos, como já mostramos aqui no Intercept).
Na receita desse caldo, também é cada vez maior a dose de monstrificação de mulheres que buscam diminuir qualquer desigualdade entre elas e os homens: perfis anti-feministas, boa parte se intitulando cristãos, investem em palavras como “assassinas”, “cadelas”, “promíscuas”, “degeneradas”.
Um exemplo desse processo de construção da inimiga que deve ser eliminada pode ser vista no Instagram do chamado Clube Anti-feminista criado pela deputada estadual bolsonarista Ana Campagnolo, de Santa Catarina (imagens abaixo). Ali, uma ilustração mostra uma garota de cabelos coloridos vestindo apenas shorts, que parece representar uma feminista. Ela está ao lado de uma mulher esguia, com um crachá da ONU, e de George Soros, o maior filantropo do mundo. Os três seguram a cabeça decepada de Jesus Cristo, colocada sobre um tecido branco empapado de sangue.
Deputada bolsonarista Ana Campagnolo criou um perfil onde destila ódio contra feministas e população LGBTQIA+.Fotos: Reprodução/Instagram
“Atenção: essa publicação denuncia violência, não faz apologia a ela”, diz a legenda mais que cínica: o texto que se segue não traz nenhuma informação sobre atos violentos de feministas, mas sim uma propaganda do curso ministrado por Campagnolo, que se monetiza propagando ódio contra pessoas que já são alguns dos alvos preferenciais da violência no país. Ela provavelmente acha pouco: é clássica a sua foto com um porrete no qual está escrito “direitos humanos”. É puro ódio em um país no qual se fala mais em comunismo e perigo LGBTQIA+ do que em alternativas à fome e ao desemprego recordes.
Estes discursos não podem ser entendidos como casos isolados e de importância pequena: a menos de um ano das eleições, é nítido o investimento de grupos diversos na desumanização daqueles que consideram “dissidentes”. Para citar apenas um único e terrível caso, o compositor Moa do Katendê foi assassinado com 12 facadas por Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, após dizer que havia votado em Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018, como concluiu o inquérito policial.
“Não estávamos preparados para essa avalanche de ódio”, diz o promotor de justiça Maxwell Vignoli, do Ministério Público de Pernambuco. Integrante do núcleo LGBT do MPPE, ele e diversas outras pessoas da instituição sofreram um ataque nazista durante um webinário sobre população idosa realizado ano passado: Vignoli estava abrindo a primeira mesa, que tratava sobre direitos voltados para pessoas idosas LGBT, quando começou a tocar o hino da Alemanha nazista (1933-1945). “Começaram então as ofensas: disseram que eu não ia falar, chamaram as mulheres de puta, piranha. O webinário foi suspenso e não voltou a acontecer. Fiquei muito atemorizado não só por mim, mas por minha família.”
Um ponto crucial para que as ações da Justiça sejam mais efetivas, diz Vignoli, é a coletivização dos ataques, muitas vezes entendidos apenas como injúria qualificada (quando se ofende a dignidade do outro utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, condição de pessoa idosa ou com deficiência. A pena é de um a três anos de reclusão e multa). “É preciso entender a gravidade geral dessa prática, verificar o prejuízo para toda democracia, não apenas para uma pessoa, para casos isolados. É angustiante repetir isso.”
Pude experimentar um pouco dessa raiva há exatas duas semanas, quando escrevi sobre mulheres e grupos que se intitulam como femininas em contraponto às feministas. No texto, preferi não mostrar as tantas imagens de monstrificação das mulheres que havia encontrado dado o grau de toxidade. Minhas redes passaram a receber comentários que iam desde a já comum superioridade moral de quem entende Cristo como propriedade privada (“não existe feminista cristã”) a ofensas como “burra”, “nojenta”, “podre”, “mentirosa”. Mesmo mulheres evangélicas ou católicas que testemunharam no meu post sobre experiências machistas no interior de suas igrejas ou congregações foram atacadas. Era o caldo do ódio escorrendo na tela do celular.
Um fenômeno claro que observei ali era justamente a vasta incapacidade para estabelecer diálogos também através da discordância. Um texto balizado com pesquisa, escutas e argumentos – que podem, claro, ser refutados – é logo classificado como “ataque” caso ele vá contra crenças pessoais. Mas, definitivamente, não é o silêncio que vai nos proteger – muito pelo contrário.
Perguntei a uma “feminina cristã” se os altos índices de violência contra a mulher não eram uma questão pública (ela acredita que o problema pode ser resolvido com “mais amor” nos lares) e ela respondeu que as políticas públicas brasileiras eram enviesadas ideologicamente, pois não seguiam a Bíblia. Eu lembrei que o Estado é laico e que havia milhões de pessoas que seguiam outras religiões no Brasil. Ela disse que não gostaria de continuar a conversar sobre aquilo.
Horas depois, conclamou suas mais de 10 mil seguidoras a visitar meu perfil no Instagram. Um olavista com mais de 80 mil seguidores na mesma rede compartilhou o post da “feminina”. Foi quando o “podre” e “nojenta” começaram a pipocar. Li dias depois o texto de Eliane Brum falando como a apreensão religiosa da realidade está destruindo a linguagem e a humanidade e lembrei imediatamente dessa conversa.
É preciso dizer que ali, no meio do caldo, algumas mulheres cristãs que não concordavam com meu texto abriram um diálogo salvador, sem lançar mão da ironia e da ofensa. Foram poucas, mas estavam lá. Agradeço a todas.
É também o pouco de uma raça – que não tem medo de fumaça.
Um abraço para Sueli
Quero retomar nossa docilidade com os nazistas, racistas e demais outrofóbicos à mesa lembrando como não só os toleramos como lhes cedemos espaço. Há poucos dias, invocando a proteção da pluralidade, um dos maiores jornais do país abriu espaço para que um homem branco pudesse dizer que mulheres negras deveriam parar de olhar nosso passado escravocrata com tanto peso e se inspirar nas sinhás pretas e ricas existentes ali.
Na sua percepção parca, completamente carregada do dualismo que ele critica, não nos abraçamos à beleza, à música, ao saber e ao celebrar se também estamos conscientes da geringonça de matar gente que foi a escravidão. Não nós, que não somente estamos cientes da história, mas que ainda vivemos o saldo de séculos de trabalho cativo (impresso, por exemplo, na cara e no gênero de quem mais trabalha no serviço doméstico no Brasil). Não foi a primeira vez que a outrofobia do rapaz foi disseminada no ar: ano passado, ele conseguiu em um só comentário na CNN unir homens gays a HIV e promiscuidade. Foi demitido da emissora, mas, é claro, já encontrou guarida.
“A gente não teve uma legislação segregativa em relação ao negro no Brasil, o nosso racismo é por aproximação, diferente dos EUA e da África do Sul. Aqui há uma simulação de afeto entre ambas as partes, tanto com racista quanto com pessoas negras. Temos essa tolerância grande com racistas. Ninguém entende que o país tem uma ‘democracia racial’ feita em cima da violência”, diz Antônio Isuperio sobre o jeitinho brasileiro de tratar o assunto.
Sueli Carneiro, que há pouco tempo entrara no novo e “mais diverso” conselho editorial da Folha, pediu para sair.
Me pergunto até que ponto a fala do colunista é pessoal ou o quanto ela está difundida no próprio ethos do periódico: vocês conseguem imaginar, por exemplo, uma mulher negra ou qualquer outra pessoa escrevendo ali que judeus deveriam “superar” o horror do Holocausto e focar nas tantas histórias de sucesso após os eventos terríveis que toda aquela população sofreu? Seria um escândalo, e com razão.
Mas a distinção e hierarquização entre estes crimes contra a humanidade foi outra coisa que também aprendemos a fazer bem: basta, recalcados, repetir que não somos racistas e que vivemos em uma só nação democrática e miscigenada. Basta nos auto-conferirmos a pecha de iluministas abertos à diversidade. Assim, continuamos à mesa celebrando com os nazistas, os misóginos, os racistas. “Ei, cadela abortista!”, “ei, preto que pesa arroba!“, “ei, viadinho de merda!” (…)
– Ah, mas que é isso, gente, deixa quieto. Eles estão só brincando.
O podcast Roteirices traz dois excelentes episódios nos quais o jornalista Carlos Alberto Júnior entrevista o pesquisador Michel Gherman, da UFRJ, sobre o nazismo à brasileira. O caso de Isuperio está sendo investigado pela Polícia Civil.
Bolsonaro mantém no governo o slogan nazista da campanha: "Deus acima de todos. Brasil acima de tudo".
Diante da apologia da violência, do ódio, a divindade de Bolsonaro da Teologia da Prosperidade é bem primitiva, e renovada pela a xenofobia, o racismo, a homofobia, a misoginia nazistas.
Pela exibição do ministro Marcelo Queiroga, esta semana em Nova Iorque, o deus Priapus, evocado com a apresentação do dedo do meio.
O gesto de arma com os dedos, símbolo da campanha de Bolsonaro a presidente, outro signo fálico, considerado representativo dos templários, relacionado a Baphomet, Bafomete ou ainda Bafomé, uma representação de satã criada pelo Papa Clemente V na perseguição aos templários.
Teve propaganda de Bolsonaro em que ele aparece como cruzado no combate "Deus acima de todos" contra o comunismo, a corrupção, religiões indígens e afro-brasileiras, e pecaminosos costumes como o kit gay, a mamadeira de piroca, o aborto.
Eliminados os templários, o culto a Bafomé passou a ser associado aos judeus, mas recentemente ao ocultismo, à maçonaria, que motivou o ataque de Adelio Bispo de Oliveira a Bolsonaro.
Anderson Bahia escreveu em 13 de outubro de 2018: Muita gente anda espantada como a representação de algumas ideias, consideradas toscas, ganharam tanta força recentemente. Que a maioria da população concorda com a frase “bandido bom é bandido morto”, já se sabe há algum tempo. Mas daí a arma feita com os gestos das mãos virar uma onda no país e, pior, ser um dos principais símbolos do candidato que lidera as pesquisas para a Presidência da República parece um absurdo para alguns.
No esforço de entender como isso se deu, algumas respostas vão surgindo. Uma delas é dizer que há uma ascensão das ideias fascistas na sociedade. Sugere que a violência se legitima como prática social e se apoia na ampliação do clima de intolerância que insiste ganhar o tom de “novo normal” do Brasil. Fatos recentes como o assassinato de Moa do Katendê e da jovem que teve uma suástica marcada por canivete em seu corpo parecem corroborar essa compreensão.
Não se pode negar o crescimento do fascismo, mas também não é possível atribuir a ele a resposta única ou principal para o fato da arma ter se tornado um símbolo na proporção que virou. Acreditar nisso é deixar de considerar outros fatores.
Em 3 de setembro de 2017, quase um ano antes da campanha eleitoral para presidente, Kiko Nogueira observava o "drama das pistolinhas de Eduardo Bolsonaro", o filho 03 de Jair Bolsonaro:
Em suas “Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, Sigmund Freud incluiu em suas interpretações dos sonhos as armas como símbolos da genitália e, em particular, do pênis.
“Todas as armas e ferramentas são símbolos do órgão masculino: por exemplo, martelo, arma, revólver, punhal, espada, etc”, escreveu.
Preciso falar com vocês algo que tem me incomodado. Não será uma confissão tipo Sandy e Júnior, mas foi algo que me atingiu profundamente. Em minhas andanças por aí passei por um aeroporto em que a funcionária do raio-x quis encrencar com meus chaveiros de arminhas pendurados em minha mochila. Um revolverzinho de ferro e uma pistolinha de borracha (foto) , ambas com alguns centímetros de comprimento. Sem a minha permissão ela saiu abrindo o zíper da minha mochila e tratando de esconder os chaveiros dentro da mochila. Perguntei o porquê daquilo e ela disse ser uma norma que era proibido ter no aeroporto qualquer coisa que lembrasse uma arma. Eu falei algo que na minha cabeça era óbvio – mas talvez para ela não fosse – disse que aqueles chaveirinhos não atiravam, que ninguém acharia que era um objeto ameaçador.
Ela insistiu, disse que poderia sujar para ela caso alguém visse e etc. Vendo tamanho abismo decidi ser impossível seguir numa argumentação, falei que aquilo estava ferindo meus princípios, minha pessoa, minha moral, tudo – falei isso para evitar de falar outras coisas – tirei os chaveiros escondidos de dentro da mochila, deixo-os a mostra novamente e simplesmente saí dali. Não xinguei, não resmunguei, não fiz cara feia, não queria estressar a menina, apenas saí. Mas saí com vontade de sair do Brasil também. Ridículo uma pessoa se prestar àquilo. Se fosse um chaveiro de metal imitando folha de maconha ou uma genitália de borracha certamente eu não teria tido esse problema…
O sinal dos dois dedos eram usados antes das armas de fogo, do descobrimento da pólvora. Antecede ao deísmo judaico, ao surgimento do cristianismo e do islamismo. Impressionantemente chefes de igrejas, beatas e crianças passaram a exibir o sinal dos dois dedos que, na Idade Média, os tribunais religiososos puniriam com as torturas de Ustra, as fogueiras da Santa Inquisição.
Em uma imagem recente, vide os códigos ocultos de polêmica escultura de Bafomé nos Estados Unidos.
O crescimento da ultra direita como política ou religião, que apela para os mais baixos instintos inconscientes, não é só um fenômeno do bolsonarismo, realisticamente um movimento internacional pela presença dos propagandistas de Trump, viagens internacionais de Bolsonaro a países governados por ditadores ou pela extrema direita, visitas de lideranças alemãs ao Palácio do Planalto, a supremacia branca e a multiplicação de cédulas nazistas, principalmente no Sul e Suldeste, a transformação das escolas do Paraná em miniquartéis.
Steve Bannon participou da campanha presidencial. Outros agitadores da extrema direita estiveram no Brasil, nas semanas que antecederam as manifestações golpistas de 7 de Setembro: Jair Bolsonaro se reuniu com dois membros da cena conspiracionista e negacionista da pandemia na Alemanha. Vicky Richter e Markus Haintz, ligados ao Querdenken ("pensamento lateral" em alemão), movimento que organizou no último ano protestos contra as medidas do governo alemão para frear a pandemia de covid-19. Em abril, o serviço de inteligência interno alemão colocou setores do movimento sob vigilância nacional por suspeita de "hostilidade à democracia e/ou deslegitimação do Estado que oferece riscos à segurança".
Em julho, o presidente recebeu no Planalto a deputada alemã de ultradireita Beatrix von Storch. Filiada à AfD, Von Storch é uma figura influente da ala arquiconservadora e cristã do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem membros acusados de ligações com neonazistas. Uma organização ligada ao partido também chegou a ser colocada sob vigilância dos serviços de inteligência alemães no início do ano. Neta do antigo ministro das Finanças de Adolf Hitler, Von Storch ficou conhecida na Alemanha por publicações e afirmações xenófobas.
Deus Priapus exibindo o dedo do meio
Em 2 de junho de 2019, a Folha de S. Paulo publica reportagem sobre a "obsessão fálica" do presidente. Uma impetuosidade que atinge os quatro filhos e membros do governo.
Em 17 de junho de 2020, a secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, tinha a visão de que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tinha um pênis na porta.
"É um órgão que tem um poder imenso, porque durante anos eles controlaram, através do movimento sanitarista, que foi todo construído pela esquerda, a saúde do país”, disse a capitã Cloroquina.
A imprensa da Espanha publicou. Eliane Brum, em 19 de junho de 2019, no El País, alertou: "Ei, Bolsonaro, até o pênis está diminuindo". A excelente jornalista pretendeu chamar a atenção dos bolsonaristas: "as liberar agrotóxicos numa velocida inédita, o governo envenena o Brasil".
"Pesquisa feita com jovens da bucólica região do Vêneto, na Itália, foi publicada no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, em novembro de 2018. Mas só ganhou repercussão no último fim de semana nas redes sociais no Brasil. Os cientistas analisaram 212 jovens expostos ao veneno, comparando-os a um grupo de controle, de não expostos, de 171. A média de idade era de 18 anos. Embora seja um grupo pequeno, a investigação foi conduzida dentro dos critérios corretos, por uma equipe respeitável. O trabalho aprofunda aspectos que já vinham sendo investigados por outros cientistas. Os jovens expostos aos produtos tinham pênis menores, menor contagem de espermatozoides, menor mobilidade dos espermatozoides e uma redução da “distância anogenital” (distância entre o ânus e a base dos testículos), uma medida que os cientistas consideram uma marca de saúde reprodutiva. A porcentagem de espermatozoides de formato normal no grupo exposto era pouco mais da metade comparada ao grupo de controle. Como os produtos químicos são transferidos das mães para os bebês, é provável que os jovens tenham sido contaminados antes do nascimento.
Como se sabe, a palavra “pênis” é poderosa. Atrai especial atenção nos dias atuais por conta da obsessão de Bolsonaro, que não para de criar oportunidades para falar de pinto e de tamanho de pinto. Os japoneses que o digam. Em 15 de maio, Bolsonaro foi abordado por um homem com traços asiáticos no aeroporto de Manaus. O estrangeiro disse duas palavras: “Brasil” e “gostoso”. O antipresidente reagiu com “Opa!”, levantou os braços, aproximou o polegar do dedo indicador e perguntou: “Tudo pequenininho aí?”.
Dias depois, ao comentar a reforma da Previdência, apresentada ao país como a cura para todos os males da terra com todos os males, afirmou: “Se for uma reforma de japonês, ele (o ministro da Economia Paulo Guedes) vai embora. Lá (no Japão), tudo é miniatura”. No Carnaval, o antipresidente postou no Twitterum vídeo de dois homens fazendo “golden shower” (modalidade sexual em que um urina no outro), para tentar provar que a festa mais popular do Brasil – e que satirizou todas as trapalhadas do seu governo – era uma versão contemporânea de Sodoma e Gomorra. Não colou – e Bolsonaro passou (mais uma) vergonha.
A recorrente referência a pintos segue por mais episódios do que há espaço em um artigo sobre o risco dos agrotóxicos. A inclinação foi amplamente analisada pelo jornalista Naief Haddad, na Folha de S. Paulo de 2 de junho: “De ‘golden shower’; a piada com japoneses, obsessão fálica marca Bolsonaro. Especialistas comentam fixação do presidente com genitais e sexualidade”.
Quando a notícia de que havia um agrotóxico relacionado a redução do tamanho e da largura do pênis repercutiu no Twitter, criou-se a expectativa de que talvez fosse possível chamar a atenção antipresidencial para o que seu governo anda fazendo. Afinal, nada poderia ser mais promissor: pinto e Twitter, duas obsessões de Bolsonaro finalmente juntas. Aparentemente, porém, não completou-se a sinapse no cérebro antipresidencial. Informações que atrapalham as conveniências da família e os lucros dos aliados funcionam como uma espécie de criptonita. Se forem científicas, pior ainda. O fato de jovens poderem estar sofrendo alterações no pênis e na fertilidade já antes do nascimento não parece ser um assunto capaz de interessar Bolsonaro. Importante mesmo é “golden shower” e “piada” com japoneses.
Eliane colocou o título certo, por vários motivos. Em 25 de abril de 2019, Bolsonaro alertava sobre o risco de homens terem pênis amputado por falta de higiene. Falou o presidente:
"Uma coisa muito importante, para complementar aqui. Dia a dia, né, a gente vai ficando velho e vai aprendendo as coisas. Tomei conhecimento uma vez que certos homens ao ir para o banheiro, eles só ocupavam o banheiro para fazer o número 1 no reservado", afirmou o presidente, que em seguida citou um "dado alarmante": mil amputações de pênis por ano no Brasil "por falta de água e sabão".
"Quando se chega a um ponto desses, a gente vê que nós estamos realmente no fundo do poço. Nós temos que buscar uma maneira de sair do fundo do poço ajudando essas pessoas, conscientizando-as, mostrando realmente o que eles têm que fazer, o que é bom para eles, é bom para o futuro deles, e evitar que se chegue nesse ponto ridículo, triste para nós, dessa quantidade de amputações que nós temos por ano", declarou.
Fazer o numero 1, o numero 2 são eufemismos da nossa língua para ir ao banheiro (fazer as necessidades fisiológicas). Fazer o numero 1= urinar. Fazer o numero 2= defecar.
Bolsonaro esqueceu que milhões de brasileiros são miseráveis (vide tag) moradores de favelas, de áreas de risco. Residem em casebres sem banheiro, sem água encanada, e não possuem dinheiro para comprar sabão ou sabonete.
Temos os moradores de rua. De acordo com a representante do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Tatiana Dias, a estimativa entre fevereiro e março do ano passado, momento de eclosão da pandemia, era de 221 mil pessoas. Tudo indica que o número aumentou, como reforça Veridiana Machado, representante do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp-Rua). “Não sabemos quantas pessoas estão em situação de rua, mas com a pandemia, é algo que nos salta os olhos. O número é expressivo, inclusive de crianças nos sinais pedindo dinheiro. Basta ir à rua e ver”, destacou.
O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), compartilhou nas suas redes sociais um vídeo ironizando as convocações de panelaço contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na noite desta sexta-feira, 15 de janeiro último. Nas imagens, um homem aparece batendo panela com um pênis de plástico enquanto grita "Fora, Bolsonaro".
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atacou as parlamentares mulheres da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), nesta quinta-feira (8), dizendo que elas são “portadoras de vagina”.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) vai protocolar uma representação contra o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, segundo ela, deputadas de todos os partidos devem endossar o documento.
“Ele agrediu todas as parlamentares, inclusive as do partido dele”, disse Joice.
Eduardo Bolsonaro tuitou: "MENINOS TEM PÊNIS, MENINAS TEM VAGINA". A frase é d um menininho no filme "Um tira no jardim de infância" (Arnold Schwarzenegger, anos 90). Mas se passar hoje na tv causará alvoroço na esquerda que acusaria o guri de transfóbico ou algo do gênero.
“Ai, meu Deus! Eu escondo esse álbum dele! Deus me livre!” Heloísa Wolf Bolsonaro, mulher de Eduardo, o filho Zero Três do presidente da República, está zangada com o marido. Ele acaba de pegar o book de fotos que fez quando tentou ser modelo na adolescência para mostrá-las à piauí. “Tu vai vazar?”, ela questiona, insistindo que não quer ver as imagens publicadas na imprensa. Nelas, Eduardo aparece com a pele bronzeada e o cabelo loiro em formato tigela, à la Nick Carter, o integrante bonitinho dos Backstreet Boys. Em uma das fotos, está apenas de sunga vermelha, recostado em uma mureta com as pernas cruzadas, em pose insinuante. “Coisa brega!”, reclama Heloísa. Eduardo olha para o seu segurança e dá um sorrisinho, como quem se diverte com o incômodo da mulher. Conta que nunca mostrou à imprensa o álbum de modelo. “Não me chama de homofóbico, mas nessa época sempre tinham uns caras que queriam ou me comer ou dar para mim”, diz ele. Vigilante, Heloísa observa: “Essa tua frasezinha foi anotada, Eduardo.”
Duda, como Eduardo Bolsonaro era chamado na infância e adolescência, cresceu na Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Embora o bairro fosse longe da praia, ele vivia pegando onda. Subiu numa prancha de body-board aos 12 anos, inspirado por Flavio, o primogênito. Um ano depois, interrompeu a prática do novo hobby para ser submetido a uma cirurgia para corrigir uma ginecomastia, que é o crescimento excessivo das mamas em homens. Sofreu na mão dos colegas de escola. Seu apelido virou Buba, o nome de uma personagem intersexual na novela Renascer, exibida pela Rede Globo, em 1993. “Falavam que eu tinha vagina e pênis”, diz. “Eu dava risada. Às vezes caía na porrada.”
Curioso que numa família racista, homofóbica e sexista, o filho 04, Renan Bolsonaro postou um vídeo em suas redes sociais onde afirma que tem um pai de criação homossexual e negro.
“Domingo é aniversário do meu pai de criação. Ele é homossexual negro. Meu pai botou dentro da minha casa, da nossa casa pra cuidar de mim. No domingo é aniversário dele e vocês vão saber”, disse Renan.
No domingo (20), o filho de Bolsonaro postou a homenagem em seu Instagram: “Marcelo, ao longo desses anos todos, você tem sido um grande amigo para mim. Você me ensinou muito, especialmente a como me tornar uma boa pessoa. Sua empatia e seu carinho são contagiantes, e eu serei eternamente grato a Deus por tê-lo colocado em nosso caminho. Que neste aniversário seu coração possa transbordar com o dobro da felicidade que você trouxe para nossa família! Obrigado por tudo! Parabéns! Felicidades…”, escreveu.
Em 18 de fevereiro, o antipresidente Jair Bolsonaroprecisava tirar o foco da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, pessoa-chave para esclarecer o esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro, a relação da família Bolsonaro com as milícias que atuam no Rio de Janeiro e também quem mandou matar Marielle Franco – e por quê. A eliminação de Nóbrega, com vários indícios de execução, voltava a colocar em destaque as relações dos Bolsonaros com as milícias. Era preciso desviar a atenção. Como de hábito, Bolsonaro usou o velho truque: criou um novo fato ao atacar a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo. A repórter, uma das mais competentes da sua geração, estava entre os jornalistas que denunciaram o uso fraudulento de nomes e CPFs para disparos de mensagens no WhatsApp em benefício de Bolsonaro. Uma de suas fontes, Hans River, ao depor na CPMI das Fake News do Congresso, disse que Patrícia teria tentado obter informações “a troco de sexo”, embora as trocas de mensagens entre os dois provem exatamente o contrário. Em sua coletiva informal diante do Alvorada, a mesma em que costuma mostrar bananas para os jornalistas, Bolsonaro atacou: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar o furo [pausa para risos] a qualquer preço contra mim”.
Este episódio, amplamente divulgado, revela mais do que o truque do manual dos novos fascistas para desviar a atenção do público. Bolsonaro tem problemas com furos. Em vários sentidos. Sua obsessão com o que cada um faz com seu ânus é notória. Está sempre tentando regular onde cada um coloca o próprio pênis. Volta e meia dá um jeito de falar de cocô, como fazem as crianças pequenas. Para ele, a vagina é um furo, visão bastante surpreendente para um homem com mais de 60 anos que já deveria, para o próprio bem, ter conhecido um pouco mais sobre o órgão sexual das mulheres. Chegou a dizer que a Amazônia “era uma virgem que todo tarado de fora quer”. Só um/a psicanalista que um dia recebesse Bolsonaro no seu divã poderia encontrar pistas para o que essa redução da sexualidade a uma coleção de furos – uns feitos para o estupro, outros proibidos para o sexo – significa. Nós, os governados por tal homem, só conseguimos entender que ele tem obsessão por furos, por cocô e por pênis. E que isso determina seu Governo.
No "Ensaio sobre fertilidade e esterilidade na Bíblia hebraica", Suzana Chwarts começa historiando:
"No que diz respeito à fertilidade, Israel é como todas as outras culturas do mundo. O ideal bíblico é o de fecundidade, abundância e multiplicidade – impulsos naturais de todas as civilizações. Este ideal está expresso no Si 128 :3-4 “Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar. Seus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa. Essa é a bênção para o homem que teme o Eterno”.
Todas as bênçãos de Israel focalizam a abundância e a fecundidade. Em Lv 26 Deus promete que trará
(...) chuvas no seu devido tempo, a terra dará os seus produtos, e a árvore do campo seus frutos (...) comereis vosso pão até vos fartardes, voltar-me-ei para vós e vos farei crescer e multiplicar; depois de vos terdes alimentado da colheita anterior, tereis ainda de jogar fora a antiga, para dar lugar à nova.
Em Dt 28:4,
bendito será o fruto do teu ventre, o fruto do teu solo, o fruto dos teus animais, a cria das tuas vacas e a prole das tuas ovelhas. Bendito será o teu cesto e a tua amassadeira (...) Deus te concederá abundância de bens no fruto do teu ventre, no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, este solo que Deus jurou a teus pais que te daria.
Aqui a "Fertilidade" tem a mesma importância que a "Abundância" que os cristãos nos Estados Unidos, na década de 1940, vão propagar como Teologia da Prosperidade, e importada para o Brasil somente na década de 1970.
Em 2015, tendo como fonte o Infomoney, a revista Piauí destacava a impressionante riqueza dos pastores brasileiros:
1. Edir Macedo – fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, que também tem templos nos Estados Unidos, é de longe o pastor mais rico no Brasil, com um patrimônio líquido estimado pela Forbes de US$ 950 milhões, ou cerca de R$ 1,9 bilhão.
2. Valdemiro Santiago – fundou sua própria igreja, chamada Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem mais de 900 mil seguidores e 4 mil templos. Segundo estimativa da Forbes, seu patrimônio líquido é de US$ 220 milhões, ou aproximadamente R$ 440 milhões.
3. Silas Malafaia – líder da maior igreja pentecostal do Brasil. O pastor está constantemente envolvido em escândalos relacionados à comunidade gay. “Ele é defensor de uma lei que poderia classificar o homossexualismo como uma doença e é uma figura proeminente no Twitter, onde tem mais de 440 mil seguidores”, disse a publicação.
4. RR Soares – é o mais ativo em multimídia entre os pregadores evangélicos. O religioso é compositor, cantor e televangelista. Como fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, Soares é um dos rostos mais conhecidos na televisão brasileira. Com isso, sua fortuna estimada pela Forbes, é de US$ 125 milhões, ou R$ 250 milhões.
5. Estevam Hernandes Filho e sua esposa Sonia – fundadores da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Apóstolo Estevam Hernandes Filho e sua esposa, Bispa Sonia, supervisionam mais de mil igrejas no Brasil e no exterior, incluindo a Flórida. Juntos, o casal tem um patrimônio líquido estimado pelo site em US$ 65 milhões dólares, ou R$ 130 milhões.
O deus da Prosperidade esteve bem representado no grande comício golpista de Jair Bolsonaro no dia 7 de Setembro último. Comentou Juan Arias:
"Um dos muitos detalhes simbólicos foi o surgimento na cena de um pênis gigante com as cores verde e amarelo da bandeira do Brasil, que foi apropriada pelas forças mais golpistas do país. O pênis inflado estava colocado sobre um carrinho vazio de supermercado. Estava rodeado por homens de idade.
Dizem que o presidente não sabe chorar, e muito menos pela dor alheia. Sua melhor identidade é a raiva; seu lema, a destruição; sua vocação, a terrorista; sua sexualidade, misteriosa; seu sonho de poder absoluto depois de ter ameaçado todas as instituições, com o agravante de que essas instituições parecem amedrontadas e acovardadas pelas ameaças fanfarronas do aprendiz de ditador e terrorista.
Melhor, mais simbólico e mais real do que o pênis gigante e grotesco verde e amarelo da avenida Paulista teria sido uma fila de carrinhos vazios de supermercado para simbolizar o drama que aflige e faz chorar em silêncio tantas famílias vítimas da incapacidade de governar de quem há muito deveria estar fora do poder para permitir que o país recupere a esperança que lhe foi tragicamente roubada. E como ensina a psicologia, nada é mais difícil para uma pessoa e para uma nação do que a desesperança que seca a alma e arrasta para a depressão".
Bolsonaro perder a eleição porque fez um péssimo governo é um julgamento do eleitor. Voto contra Bolsonaro cidadão.
Para que não voltem a ser usados pela misteriosa Terceira Via, a campanha de Lula, para exemplificar, deve ser contra os slogans e símbolos que elegeram Bolsonaro. O ideário. As ideologias da direita, da extrema direita, do nazismo, do fascismo, do integralismo. Para que jamais sejam utilizadas novas cores para propagar antigas mensagens de um Brasil escravocrata, racista, preconceituoso, colorista, fundamentalista, com um militarismo golpista e cruel e um judiciário elitista e parasita.