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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

18
Abr23

“O Brasil vai ter de se refazer por inteiro”

Talis Andrade
 
 
 
UERJ | RESENHA: Antes de Nascer o Mundo, de Mia Couto - YouTube
 

“Sou ainda um poeta que vai de visita pela prosa”, diz Mia Couto, um dos mais reconhecidos escritores africanos contemporâneos. O autor moçambicano vem ao Brasil para uma homenagem no Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, no dia 12 de abril, quando fará uma leitura de Antes de nascer o mundo (1999).

Em entrevista à Cult, ele fala sobre as expectativas com o governo Lula, lamenta a falta de maior intercâmbio literário entre o Brasil e o continente africano e faz críticas ao monopólio da informação. “Há gente preocupada com que acabem os jornais impressos. O meu medo é que o jornalismo já tenha acabado”, diz.

Luís Costa entrevista Mia Couto

 
 

Luís Costa/ Cult - É sua primeira visita ao Brasil após o início do terceiro mandato de Lula, a quem declarou apoio nas eleições. Como tem acompanhado o desenrolar desses primeiros meses pós-Bolsonaro?

Mia Couto - Acompanho com muita esperança e mantenho-me o mais possível informado. Eu acho que esta é a fase da euforia, estamos ainda vivendo o que era sonhado numa espécie de estado de graça. É evidente que irão ocorrer aquilo que podemos chamar os pequenos choques da realidade. Por muito que nos guiemos por desejos de ruptura, governar é gerir o possível, é negociar diferenças e fazer cedências que nem sempre nos surgem claras a nós que não estamos no governo. Mas é importante pensar que o Brasil não vai ter apenas um novo governo. Vai ter de se refazer por inteiro e isso é obra que pede uma entrega e um entendimento de todos.

A construção de uma rede de diálogo onde havia apenas um rasgão da incomunicabilidade é talvez o maior desafio para a nação brasileira. Vivemos isso depois do final da guerra civil em Moçambique. Parecia impossível depois de tanto ódio acumulado. O grande desafio era como escutar o outro e como reumanizarmos todos juntos a nossa casa comum.

 

O primeiro governo Lula foi marcado por uma política de aproximação com os países do hemisfério sul, especialmente da África. O que espera desse novo governo?

Não espero, tenho a certeza de que essa tendência de aproximação recíproca vai ser retomada. Aliás, o presidente Lula já anunciou visitas a países africanos que deverão acontecer em breve. Mas não apenas as visitas. As mudanças serão, espero, bem mais profundas do que isso. O que não vai continuar a acontecer é esse virar de costas com os africanos que marcou a governação anterior.

 

Escritores brasileiros estão mais e mais mergulhando em literatura africana contemporânea e descobrindo clássicos do continente. Você considera esse movimento recíproco?

Infelizmente não tanto como deveria ser. É verdade que os brasileiros conhecem hoje muito mais as literaturas africanas (acho que é importante respeitar o plural quando se fala de África). Mas falta que esse conhecimento não fique preso ao que o mercado e as modas constroem. Os africanos também necessitam de ter mais acesso ao que se produz no Brasil. Não existe uma troca. O que existe (e é pouco e irregular) depende exclusivamente de entidades comerciais que são as editoras. Há um espaço dinâmico que são associações cívicas dos dois lados do oceano. Muito pouco é feito pelos governos.

 

Você é um leitor de clássicos brasileiros. É conhecida sua relação com a literatura de Guimarães Rosa. Você tem lido escritores brasileiros recentes?

O que é curioso e triste é que na década de 1960 e até meados dos anos 1970 (em que prevaleciam regimes ditatoriais no Brasil e em Portugal e nas suas colônias africanas) existia uma maior ligação com os escritores do Brasil do que agora. Hoje não chegam livros brasileiros a Moçambique. Assim sendo, tudo o que listar entre autores novos do Brasil fica sujeito a erros e omissões da minha parte. De qualquer modo, tocaram-me muito livros que chegaram a meu conhecimento de autores e autoras como Carla Madeira, Itamar Vieira Júnior, Ricardo Aleixo, Julian Fuks, Aline Bei, Jeferson Tenório, Socorro Acioli, Conceição Evaristo. Acho importante realçar que esse leque de autores mantém e amplifica a enorme diversidade de escolas, estilos e correntes. Essa literatura traduz as vozes tão díspares que compõem as culturas do Brasil.

 

Sua estreia literária foi como poeta e você é leitor voraz de poesia. Por que decidiu pela prosa?

Sou ainda um poeta que vai de visita pela prosa. Para dizer a verdade, faço de conta que acredito nessas fronteiras. Fomos aprendendo a arrumar o mundo, mas essa arrumação nem sempre é a mesma nas diferentes culturas. Em Moçambique, a lógica da metáfora poética contagia todo tipo de pensamento. Não existe nas filosofias indígenas de Moçambique fronteiras que separem o sonho do pensamento, a objetividade impessoal da entidade relacional. Do mesmo modo não se separa o vivo do que não é vivo, o orgânico do inorgânico. Não existe fronteira entre mortos dos viventes. Essa cosmologia tomou posse de mim como de todos os outros escritores moçambicanos.

 

O que tem de método de poesia na sua escrita de prosa?

Tem tudo. Sobretudo, a ausência de método. Essa ausência é bem visível num momento inicial, que é esse momento encantado em que tudo é possível. A história é ainda uma semente, não se sabe que árvore se esconde nela. Depois, a prosa pede escolhas radicais como se, ao podar a árvore, ela mudasse de natureza. O que nasceu como cerejeira pode vir um pé de ipê quando se lhe corta ou acrescenta um ramo. Como se cada galho fosse uma semente e nele morasse todas as potencialidades. Disse na resposta anterior que sou um poeta que, de quando em quando, emigra da oralidade para a nação da escrita em prosa. Mas o que pretendo no texto é sentir que devolvi à palavra escrita as vozes que a fizeram nascer.

 

E o que tem de jornalismo, ofício que exerceu por mais de uma década?

Sempre procurei no jornalismo aquilo que era mais do domínio da subjetividade e, por isso, os meus gêneros eram a crônica e a reportagem. O padrão da objetividade e da linguagem padronizada não exercia nenhum fascínio em mim. Nos dias de hoje, o jornalismo foi assaltado por uma vulgarização muito empobrecedora. Existem vozes e focos que resistem, mas esses nichos contam-se pelos dedos. Isto não tem de nostalgia passadista. Mas existe hoje um monopólio que reduziu a vitalidade e a pluralidade das versões que devem compor o retrato que fazemos do mundo. Há gente preocupada com que acabem os jornais impressos. O meu medo é que o jornalismo já tenha acabado.

 

No Brasil, você fará a leitura de Antes de nascer o mundo (1999), uma trama mágica sobre um refazimento do mundo. Mais de duas décadas depois, como você volta a esse romance a partir de sua leitura do mundo hoje?

Existe no romance um pai que se tornou insano por razões íntimas, mas que também deixou, como todos nós, de reconhecer o mundo como sendo dele, deixou de ser capaz de se sentir em casa e na família alargada que dizem que somos como humanidade. Esse pai tirano não interdita apenas ideias. Ele proíbe as lembranças, os sonhos, as rezas, as canções. Contudo, ele sabe que há no silêncio a gestação de toda a música. E é nesse nicho de falsas ausências que ele reconstitui a sua humanidade.

Esse livro foi escrito em 2009 e havia nessa altura, em Moçambique, a terrível herança de um conflito violentíssimo que dilacerou famílias e a nação inteira. Mas será que esse cenário mudou assim tanto mesmo depois de mais de duas décadas de paz? Quantas guerras nos continuam dilacerando em Moçambique e no mundo e que não são visíveis porque as notícias são produzidas com o fito de vender e de ocultar essas outras violências. Uma das guerras (talvez a mais grave) que está no livro e que permanece inalterada até hoje é a guerra contra as mulheres.

 

Moçambique enfrenta agora uma nova crise de cólera, agravada pela destruição causada pelo ciclone Freddy. Em 2019, o ciclone Idai já tinha arrasado Beira, sua cidade natal. Como você absorve esses desastres e essa permanência de uma tragédia que se renova?

Moçambique é uma das nações mais pobres do mundo. Enfrenta uma crise estrutural que é a miséria cotidiana que se reproduz em mais miséria. Não são apenas esses eventos episódicos que se tornam notícia internacional que temos de superar. Recordo-me que, na nossa guerra civil que durou 16 anos e fez um milhão de mortos, metade do país foi forçada a fugir e a refugiar-se nos países vizinhos, que são também pobres. Sete milhões de refugiados. Isso foi notícia nos media internacionais? Não.

Os ciclones possuem um efeito de espetáculo dramático, mas de efeito pontual como se, na rotina do cotidiano, tudo decorresse sem drama. É preciso, apesar de tudo, admitir que os ciclones em Moçambique serão muito provavelmente mais frequentes e intensos. Acontecerão com regularidade que os tornará menos propensos a serem noticiados. O que há a fazer? Uma vez mais, teremos de internamente arregaçar as mangas e lutar para prevenir e remediar de forma mais eficaz. Necessitamos de contar com a solidariedade internacional sem nunca ficarmos dependentes dela. Quatro anos depois da tragédia do ciclone Idai estamos ainda à espera de grande parte da ajuda prometida.

 

Está escrevendo ou planejando escrever um novo livro?

Sim. Estou desde há um ano a trabalhar num novo romance que tem como ponto de partida o início da Primeira Guerra Mundial em Moçambique. Este ano será publicada no Brasil uma antologia de contos intitulada As pequenas doenças da eternidade.

 

20
Nov22

“País irmão”: Lula se reúne com presidente de Portugal em Lisboa e encontra comunidade brasileira

Talis Andrade

ImageO presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Lisboa o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Lisboa o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Lisboa o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, recebeu em Lisboa o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. AP - Armando Franca

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcou em Lisboa nesta sexta-feira (18), após ter participado da COP27 no Egito. Além de se reunir com o chefe de Estado português, o petista se encontra no sábado com representantes da numerosa comunidade brasileira que vive no país. Ele foi recebido na porta do palácio presidencial de Belém por grupos de apoiadores, mas também por bolsonaristas.

Lula chegou em Lisboa minutos antes das 13 horas (pelo horário local), a bordo do mesmo jatinho privado que o levou para o Egito, onde participou da COP27, justamente no momento em que a seleção portuguesa de futebol partia para a Copa do Mundo no Qatar. Por essa coincidência de horários, ele teve de sair do aeroporto por uma área privada, dedicada somente aos chefes de Estado. Uma comitiva de 10 carros esperava por ele e Fernando Haddad.

Depois de almoçar camarões vermelhos e robalo ao leite de coco e dendê no badalado restaurante Cícero – onde na saída foi cercado por muitos brasileiros – Lula foi diretamente ao palácio presidencial de Belém para o encontro com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Na porta de Belém, grupos de bolsonaristas e apoiadores de Lula manifestavam, cantavam e trocavam insultos. O presidente eleito obteve em Portugal 65,7% dos votos no segundo turno.

A agenda em Lisboa, ainda não fechada e mantida em grande segredo por razões de segurança, acabou por agregar o presidente moçambicano Filipe Nyusi, que estava momentos antes no palácio e acabou ficando para receber Lula. O líder brasileiro não escondeu sua alegria ao encontrar os dois chefes de Estado e disse nas redes sociais que foi uma “grata surpresa” ver o presidente africano.

Lula ao chegar em Lisboa, entre os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa (d).
Lula ao chegar em Lisboa, entre os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, e de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa (d). AP - Armando Franca

 

"Importante parceiro do Brasil na Europa"

Às 20 horas de Lisboa (17h em Brasília), Lula participa de um jantar com o primeiro-ministro português Antonio Costa e uma restrita lista de convidados. A imprensa não tem acesso ao jantar.

Além de agradecer o apoio a sua candidatura, Lula deverá discutir com ambas autoridades as questões relacionadas com o retorno das negociações entre União Europeia e Mercosul, que ficaram paralisadas durante o governo Bolsonaro. A questão da facilitação dos vistos para os brasileiros também deve entrar na pauta das conversas.

Antes de desembarcar, Lula escreveu em seu twitter: “Hoje vou para Lisboa, onde me encontro com o presidente de Portugal e o primeiro-ministro. Portugal é um país irmão e importante parceiro do Brasil na Europa. Vamos retomar diálogos para o melhor de nossos povos”.

Para este sábado (19), Lula deve se reunir com a comunidade brasileira que reside em Portugal, em um encontro organizado pelo núcleo do PT no país e a Casa do Brasil, onde irá ouvir as questões que preocupam os 210 mil imigrantes que estão no país. O tema da xenofobia, sofrida por muitos brasileiros que vivem em Portugal, também deverá ser discutido neste sábado.

 
14
Mar22

Mourão diz que tem a chave da porteira dos quartéis

Talis Andrade

 

Minha página do Twitter hoje

 

R$ 1.212 o salário do brasileiro e quase a totalidade das pensões. 14 milhões de trabalhadores estão desempregados. A fome é pior do que a guerra convencional. Idem as pestes do Terceiro Mundo.Image

Por Ana Eduarda Diehl /Jornal Plural: "O GNV vai bater em oito reais, um monte de gente com fome e diz que a guerra é lá na Ucrânia".guerra.jpg

Além da Ucrânia, dezenas de conflitos sangrentos hoje no mundo. Guerras no Iêmen, Etiópia, Mianmar, Síria, Afeganistão, Haiti, Camarões, Mali, Níger, Burquina, Somália, Congo, Moçambique provocam enorme sofrimento humano que a imprensa esconde.

Dinamarca planeja abrigar ucranianos, mas quer saída de sírios."El régimen israelí condena a Rusia" Del artista jordano Emad Hajjaj.Image

Jaqueline Quiroga
Image
Blog do Noblat
Vejam a mesma cena por outro ângulo. Carlos sentado ao lado do pai em reunião com os russos em Moscou. Atrás deles, sentado, o ministro Augusto Heleno. De pé, encostado na parede, o ministro Luís Eduardo Ramos. Os dois ficaram de fora da mesa principal para dar lugar a Carlos.Image
Gerardo Santiago
ImageHQ 'Raízes' conta a história de Marielle Franco para as crianças
Natália Bonavides
Uma vereadora eleita com quase 50 mil votos na segunda maior cidade do país foi executada a sangue frio. Quatro anos depois, o crime ainda não foi elucidado. Até quando seguiremos sem respostas? #4AnosSemRespostasImage
Luciana Thomé feminista antirracista
Quem mandou o vizinho do Bolsonazi matar Marielle Franco ? Quem estava na casa 58 ? Pq o CARLUXO foi na portaria, mexer no computador ?
Suzanne Bernard
 Image
Ivana Emerick
Ajudem a ministra! Compartilhem com seus contatosImage
Rosa de Luxemburgo
"É preciso fazer uma devassa nas contas desse grupo sinistro chamado MBL", diz Cynara Menezes

Manuela d’Ávila relatou algumas das inúmeras agressões que sofreu especialmente dos milicianos ligados ao MBL: "Ando nas ruas de cabeça erguida porque sei quem sou e o que defendo e sei quem são os mentirosos que me atacam".Charge: Reprodução Facebook/Ferrugem CartuneiroImageImage

Denise Balestra
Eu tenho essa sensação... Será só eu?Image
Reinaldo Azevedo
Outra novidade que o humanismo ucraniano introduziu na guerra são os “militares estrangeiros”. Antigamente, o nome era “mercenários”. Não paremos de vituperar contra Putin. Sempre será merecido. Mas ñ está faltando um pouco de rigor técnico? Cresce risco de confronto nuclear.Image
G5
ImageImage
 
14
Mar22

Além da Ucrânia dezenas de conflitos sangrentos ocorrem hoje no mundo

Talis Andrade

assassinato Boligán exército guerra .jpg

 
02
Set21

NOÉMIA DE SOUSA POESIA

Talis Andrade

Templo Cultural Delfos: Noémia de Sousa - sangue negro

A MINHA DOR

Dói
a mesmíssima angústia
nas almas dos nossos corpos
perto e à distância.

E o preto que gritou
é a dor que se não vendeu
nem na hora do sol perdido
nos muros da cadeia. 


AFORISMO

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.

Estávamos iguais 
com duas diferenças:

Não  era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.

Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.


GRÃO D´AREIA

Um só ínfimo grão de´areia
nunca imaginei
pesar tanto...

--------------

eu depondo 
no clássico ritual
sobre o nosso adeus
constrangidos torrões
à mancheias.


EM VEZ DE LÁGRIMAS

Só um choro em seco
põe no vértice da minha dor
o mais intenso
auge do luto.


INFELIZMENTE JAMAIS

No instintivo temor das ruas
Maria hesitava nos passeios
até não pressentir
o mais fugaz
presságio.

Contorno de sombra
à berma de uma além –asfalto
fatal presságio da rua
infelizmente já não
a intimida.

Cumprido o funesto prenúncio
já atravessava uma avenida
infortunadamente já nenhum risco
intimida o espírito
de Maria.

Doentiamente eu amaria ver
Maria ainda amedrontada
e nunca como depois
em que já nada a intimida.


SACRÁRIO

Ausência do corpo.
Amor absoluto.

Hosanas de Sol.
De chuva.
De areia.
E andorinhas
resvalando as asas
no consternado ombro cinzento
de uma nuvem.

E uma hérbia mantilha
teu sacrário 
velando.


TE DEUM

 Opressiva
a inquietude
no carrilar dos bronzes.

Libreto
de mil cactos
em mudo refrão dos desertos.

Dobre
de sinos
em solene Te Deum
de graças pela Maria.


TEIAS DA MEMÓRIA

Na baça melancolia do tecto
bilros de teia bordam solidão
enquanto meigos sussurros de sombra
no brilhante mutismo do espelho
recitam estrofes de poeira.

- - -

Seleta Nelson Rossano

 

02
Ago18

Eu sou de Moçambique, esta é a marrabenta

Talis Andrade

Marrabenta.jpg

 

Como Anima A Marrabenta

 

Tsaa tsaa tsaa
Tsaa tsaa
Tsaa! Tsaa! Tsaa! Tsaa!
Tsaa tsaa

É só "djingui ski dji"
"Djingui ski dji"
"Djingui ski dji"
"Djingui ski dji"

Amarra a capulana, ouve a melodia
Eu sou moçambicana, sente esta alegria
Entra nesta dança, aqui ninguém aguenta
Eu sou de Moçambique, esta é a marrabenta

Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!

A marrabenta anima a Neyma
A Neyma anima a marrabenta
A marrabenta anima a Neyma
A Neyma anima a marrabenta

Devu teka teka famba!

Como anima, como anima
Como anima, como anima
Como anima, como anima
Como anima, como anima

Eba, eba!

Teko! teko! teko! teko!
Teka! teka! teko!
Teko! teka!
Khoma! khoma! khoma! khoma!

A marrabenta anima a Neyma
A Neyma anima a marrabenta
A marrabenta anima a Neyma

Teka! teka! teka! teka! teka!
Tsaa tsaa tsaa! Tsaa tsaa tsaa tsaa!

Amarra a capulana, ouve a melodia
Eu sou moçambicana e sente só esta alegria
Entra nesta dança, aqui ninguém aguenta
Eu sou de Moçambique, esta é a marrabenta

Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!
Como anima a marrabenta!

A marrabenta anima a Neyma
A Neyma anima a marrabenta
A marrabenta anima a Neyma
A Neyma anima a marrabenta

É só "djingui ski dji"
"Djingui ski dji"
"Djingui ski dji"
"Djingui ski dji"

Teka! teka! Mamba!
Teka!

 

A Marrabenta é o principal ritmo urbano de Moçambique, com origem no sul de Moçambique e, em particular, de Maputo, surgiu no início da 2.ª metade do século XX, na época áurea colonial de Lourenço Marques (actual Maputo). Conhecida internacionalmente, a marrabenta teve origem nos meios urbanos.

 

Dada a falta de aprendizagem académica dos moçambicanos, este género surgiu de uma fusão da música europeia com os ritmos tradicionais de Moçambique. Normalmente, era tocada por um cantor masculino, acompanhado por um coro de mulheres, e tocada com instrumentos feitos de materiais improvisados, como latas de óleo, fios de pesca e pedaços de madeira. A Marrabenta tem certas semelhanças com ritmos da América Latina como salsa e calypso.

 

Origens do termo marrabenta

A palavra Marrabenta vem do verbo “rebentar” (“arrebentar”, em vernáculo local), numa provável referência às guitarras baratas cujas cordas rebentavam com facilidade.

 

 

 

02
Ago18

Aqui o sol só brilha para as elites

Talis Andrade

barragem cahora bassa.jpg

 

 

País Da Marrabenta
Gpro Fam

 

O país da marrabenta vai de mal a pior
Mas paciência, moçambicanos têm de melhor
Foram 16 anos de uma guerra civil
Só de orelhas decepadas foram mais de mil
Ainda querem que o povo lhes de ouvidos
Dam! filhos da mãe desses politicos!!


Prometem isto e aquilo mas no fim nem um quilo
De arroz pro povo nem um saco de milho
Os impostos que nem elevadores sobem
Tantos argumentos mas no fim nada resolvem
O que serão? buracos em estradas ou estradas em
Buracos
Argumentos foi a guerra que fez esses estragos!!


Maputo é tipo a 24 de julho, pois é
Começa em luxo mas acaba em entulho
Tem ladrão de galinha que vai para a prisão
E tem o traficante de haxixe que paga caução
Quem dorme no chão? o gajo que arroumbou uma janela
Quem é rico até instala um telefone na cela


Todos na mesma cela mas crimes bem diferentes
De ladrões de galinha a assassinos dementes
Onde é que esta a policia quando vem os ladrões
Arriscar a vida quando não há condições
Corrompidos pelas quinhentas que o estado não dá
20 anos de trabalho e a patência não há
Não sobem de nível, continuam pelas ruas
2 meses de trabalho tem as mãos bem nuas


Moçambicanas e moçambicanos,
A nossa républica popular nasce do sangue do povo


Lançaram uma falsa taxa de 20 paus
Mas o saneamento básico ainda é um caos
Tem mais lixo na cidade do que peixe no mar
E um concelho parasita que nos tenta sugar
Nos tenta tirar o pouco que poupamos nos bolsos
Chega o fim do mês temos que pagar os impostos
Enquanto gastam dinheiro em carros de luxo
O povo sobrevive embora que sem nada no buxo

Tantos anos de trabalho mas foram em vão
Madjermanes já não sabem se têm ou não
Direito a tais moedas que conquistaram
Com o suor das camisetas e lhes confiscaram
Cadê a justiça? quem tem o poder na mão pisa
O pobre mais pobre fica e só lhe resta xiiçaaaa!!!
Injustiça! palavra mais comum entre nós
Tanto se reclama quase que se perde a voz


No país de mondlane já mais houve justiça
Ginza tem mais armas que a própria policia
Não consegue se aguentar com um salário de fome
Coitado do bufo, tem que alugar uniforme
Sujar o seu nome para ter o matabicho na mesa
Se é honesto sujeita-se a viver na pobreza
Aqui o sol só brilha para as elites
Sem duvidas para o povo life's a bitch!


Mais de mil familias sacrificadas por um mercedez
Novo
Nem com greves o povo consegue ter direitos todos
São 10 anos de paz, 10 anos de um governo incapaz
10 anos de: " nós faremos mais !!!"
Promessas falsas não enchem barrigas
Deixem dessas graças são bem antigas
Mais força para o povo que continua firme
Sem poder fazer nada na plateia vê o filme


Deram liberdade de imprensa ao jornalista
O carlos teve azar foi o primeiro da lista
Pois é o mano esqueceu-se da lei da floresta meu
Antes que abrisse a boca tiro na testa
Dizem que era boa pessoa mas sabia demais
Resultado, levou uma facado por trás
E o assassino com certeza foi ao enterro
Abraçou a viuva e disse: meu companheiro!

 

 Escute e dance a marrabenta aqui

01
Ago18

Moçambique nossa terra gloriosa / Pedra a pedra construindo um novo dia

Talis Andrade

 

Flag_of_Mozambique.png

 

 

Na memória de África e do Mundo
Pátria bela dos que ousaram lutar
Moçambique, o teu nome é liberdade
O Sol de Junho para sempre brilhará

 

Moçambique nossa terra gloriosa
Pedra a pedra construindo um novo dia
Milhões de braços, uma só força
Oh pátria amada, vamos vencer

Povo unido do Rovuma ao Maputo
Colhe os frutos do combate pela paz
Cresce o sonho ondulando na bandeira
E vai lavrando na certeza do amanhã

 

Moçambique nossa terra gloriosa
Pedra a pedra construindo um novo dia
Milhões de braços, uma só força
Oh pátria amada, vamos vencer

Flores brotando do chão do teu suor
Pelos montes, pelos rios, pelo mar
Nós juramos por ti, oh Moçambique
Nenhum tirano nos irá escravizar

 

Moçambique nossa terra gloriosa
Pedra a pedra construindo um novo dia
Milhões de braços, uma só força
Oh pátria amada, vamos vencer

 

 

 

 

 

13
Mai18

As cotas são fundamentais para consolidar a democracia

Talis Andrade

A maioria da população é negra. Na região amazônica, as cotas favorecem a entrada dos jovens de origem indígena nas universidades 

 

Amanda Rossi entrevista Luiz Felipe de Alencastro,

autor de 'Trato dos Viventes'

Navio tumbeiro.jpg

Navio tumbeiro. 4,8 milhões de africanos foram transportados para o Brasil e vendidos como escravos,

ao longo de mais de três séculos

 

BBC Brasil - 4,8 milhões de africanos aportaram como escravos no Brasil. É muito mais que em qualquer outro lugar no mundo. Nos Estados Unidos, foram menos de 400 mil. Por que a vinda de escravos para o Brasil foi tão grande?

Alencastro - São vários fatores. Do ponto de vista da navegação, há um sistema de correntes e ventos que aproxima muito o Brasil da África. A viagem de ida e volta para os portos brasileiros era 40% mais curta do que a dos navios saindo das Antilhas ou dos Estados Unidos, os quais enfrentavam turbulências na ida e na volta, quando atravessavam a zona equatorial. O Brasil também tinha mercadorias que eram trocadas por escravos, como tabaco e cachaça.

 

Outro fator importante são as conexões do Brasil com os portos africanos. Quando a Corte portuguesa veio para cá, o Rio de Janeiro se tornou a capital do império português - isso incluía Angola, Moçambique... Também havia bases mercantis de interesse brasileiro lá - muito mais associadas ao Brasil do que a Portugal. Isso os americanos nunca tiveram. O negócio negreiro dos Estados Unidos era muito mais controlado pelos ingleses.


O terceiro fator é o boom do café, que aumentou muito o tráfico negreiro para o Centro-Sul do Brasil. Quem estava financiando isso em última instância? O operário e a classe média inglesa, francesa, russa, que estavam tomando café mais frequentemente. O café do Brasil não tinha concorrência. A partir de 1840, o Brasil vira o maior produtor mundial de café - e é o maior até hoje. Não foi assim com o ciclo do açúcar, que sofria concorrência das Antilhas.


BBC Brasil - Os próprios africanos participaram do comércio de escravos, não?
Alencastro - Os africanos desenvolviam comércio de escravos localizado, limitado aos circuitos regionais das zonas econômicas africanas. A articulação desse comércio interno ao comércio Atlântico - que era um dos setores mais dinâmicos da economia mundial, com companhias formadas, com acionistas investindo pesado - criou uma demanda de escravos que exacerbou o tráfico interno africano. Também houve a importação de armas europeias, dando maior impacto aos conflitos internos, que eram os mecanismos de criação mercantil de escravos. O comércio atlântico negreiro era um comércio totalmente europeu e brasileiro. Nunca houve um navio africano vendendo escravo nos portos das Américas.


BBC Brasil - Como a escravidão explica o país e a sociedade que o Brasil se tornou?
Alencastro - O tráfico negreiro em si explica muita coisa. Explica a unidade nacional, por exemplo. Quem quisesse se separar do governo do Rio de Janeiro, da Coroa, já sabia por antecipação que ia sofrer pressão da Inglaterra quando ficasse independente e teria que acabar com o tráfico. Quem estava melhor posicionado para moderar a pressão inglesa contra o tráfico transatlântico de africanos? O governo do Rio de Janeiro. Uma monarquia que tinha corpo diplomático bem plantado na Europa e era a única representante do sistema monárquico europeu nas Américas. A unidade nacional brasileira é um fenômeno inédito nas Américas. Falava-se a mesma língua. Mas da Patagônia até a Califórnia também se falava a mesma língua, o espanhol e os 4 vice-reinos espanhóis se fragmentaram virando 19 países.


Mas não é só. O tráfico também explica boa parte da diferença entre o Centro-Sul e o Nordeste do Brasil. O sucesso do primeiro não é porque teve mais espírito comercial. É por causa do café, mas também porque a rede negreira fluminense era mais extensa e mais eficaz na África que a dos negreiros pernambucanos ou baianos. Por isso, o café pode se expandir tanto.


BBC Brasil - 130 anos é pouco tempo, só cerca de quatro gerações. Mesmo assim, parece muito distante. Por que temos a impressão de que a escravidão é um passado tão longínquo?
Alencastro - Eu conheci gente em Goiás que falava do tempo da escravidão. E há depoimentos de ex-escravos colhidos no Paraná, nos anos 1950. Por que parece que é tão longe? Logo depois da abolição o assunto saiu de pauta. Salvo para se ensinar que a abolição foi uma generosidade da Coroa, do governo, da redentora princesa Isabel. Daí o motivo do movimento negro ter proposto a troca do 13 de maio pelo 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), da princesa Isabel por Zumbi - numa luta política significativa. E depois veio também a imigração, criou-se uma outra história popular que não deixava muito espaço para a história dos afro-brasileiros.


BBC Brasil - A abolição foi uma farsa?
Alencastro - A abolição teve limites. Mas ela ocorreu, não foi farsa. Seria como dizer que a República foi uma farsa, que não acabou com a monarquia. A abolição acabou com a aberração gerada por um quadro institucional e legal que permitia uma pessoa ter como propriedade outra pessoa e seus descendentes, de maneira perpétua. A abolição também não foi uma benevolência da princesa ou do governo. A monarquia já estava caindo, fez uma última manobra e caiu ao tentar captar a plataforma abolicionista para enfraquecer o movimento republicano

 

BBC Brasil - O senhor é defensor das cotas...
Alencastro - O meu argumento das cotas é que elas são fundamentais para os negros, para os índios e para os pobres e os brasileiros em geral. São elas que vão consolidar a democracia plena no Brasil, com acesso à educação e ao trabalho.


BBC Brasil - Há quem defenda cotas por renda, não por cor...
Alencastro - A cota social apareceu como um argumento substitutivo dos que não queriam apoiar a cota racial. Ninguém falava em cota social no Brasil antes do movimento negro levantar a bandeira da política afirmativa racial - a favor dos negros e também dos índios, é importante lembrar. Trata-se de uma política baseada nas estatísticas étnicas dos Estados. Na região amazônica a proporção de jovens de origem indígena é importante e as cotas favoreceram a entrada deles nas universidades federais.


O Supremo Tribunal Federal votou unanimemente pela constitucionalidade das cotas, em 2012. Raras decisões do Supremo são unânimes. Juridicamente, a situação estava definida: os negros não sofrem descriminação legal, mas há mecanismos informais que os descriminam e desqualificam de forma óbvia. O censo de 2010 mostrou que a maioria da população é negra. Esse dado deve ser bem observado pela maioria dos progressistas e por setores do movimento negro que consideram a política afirmativa como um instrumento em favor da diversidade. É muito mais do que isso. É um instrumento em favor da democracia, do funcionamento do Estado, que favorece o país inteiro. Achar que ela garante a diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria.


BBC Brasil - O senhor também defende o ensino de história da África nas escolas.
Alencastro - A maioria das pessoas que chegaram aqui são africanos. É esse o dado que os professores têm que dar em reunião de pais e mestres, quando perguntam por que perder tempo com história da África. Ora, porque a África é mais importante para a formação do povo brasileiro do que a Ásia e boa parte da Europa e das Américas.

 

 

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