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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

30
Dez22

A loucura do trabalho

Talis Andrade

 

Franklyn Dzingai, Espaço Entre Nós 2

 

Comentário sobre o livro de Christophe Dejours

 

por André Márcio Neves Soares /A Terra É Redonda

A psicopatologia do trabalho, tão bem apresentada por Christophe Dejours, apesar de não ser nova, tem sido muito escanteada pelos pesquisadores da atualidade histórica. Não é para menos. Afinal, nas últimas décadas de predomínio hegemônico do grande capital financeiro internacional, falar sobre a saúde do trabalhador pode parecer, no mínimo excêntrico. Nesse sentido, perceber o subdesenvolvimento desse fenômeno histórico de aprofundar o entendimento sobre o movimento operário e suas correlações de forças inter e intra-classes é varrer para debaixo do tapete as particularidades que nortearam, e ainda norteiam, o contínuo adoecimento do trabalhador na modernidade.

Nesse sentido, para Christophe Dejous, a história da saúde dos trabalhadores está coligada com a evolução das condições de vida e de trabalho que estes conseguiram alcançar através das lutas operárias ao longo do tempo. Com efeito, se no passado a luta pela saúde significava lutar pela sobrevivência, a atual “crise civilizacional” perpassa a mera questão da vida em si para chegar ao contexto do sofrimento mental. Em pleno século XXI, não basta mais atentar para a duração excessiva e precária do trabalho, mas também para a organização do atual trabalho alienado numa sociedade de consumo fetichista.

As mudanças capitalistas do século XX e início deste século impactaram sobremaneira o mundo do trabalho. Depois de 30 (trinta) anos de ouro do capitalismo pós-guerras, a nova fase liberal tem deixado marcas indeléveis na redução da qualidade de vida dos trabalhadores. A nova divisão internacional do trabalho, com a respectiva redução do proletariado industrial, reconfigurou a sociedade estabelecida ao longo dos últimos 200 anos, onde o trabalho fixo em algum local pré-determinado, e a vida decorrente dessa premissa, está se desfazendo rapidamente (POLANYI, 2000).

No Brasil, especialmente na ditadura militar entre 1964-1985, período que evidenciou os dois períodos do capitalismo pós-guerra e sua derrocada para o novo capitalismo liberal, ou neoliberalismo, a industrialização dependente reforçou a superexploração do trabalho, com baixos salários, aumento da jornada de trabalho, desorganização do movimento operário e sindical e reestruturação produtiva. Nesse sentido, o novo sistema neoliberal, herdeiro do fordismo, articula um novo processo de acumulação primitiva do capital CASTEL (1995).

Para Antunes e Praun (2015, p. ), a implantação de programas de qualidade total, dos sistemas just-in-time e kanban, além da introdução de ganhos salariais vinculados à lucratividade e à produtividade (de que é exemplo o programa de participação nos lucros e resultados — PLR), sob uma pragmática que se adequava fortemente aos desígnios neoliberais, possibilitou a expansão intensificada da reestruturação produtiva, tendo como consequências a flexibilização, a informalidade e a profunda precarização das condições de trabalho e vida da classe trabalhadora brasileira.

Os efeitos dessa reestruturação produtiva podem ser vistos no crescente aumento das taxas de acidente no trabalho, com o consequente aumento dos óbitos dos trabalhadores. Além disso, o nexo entre a deterioração laboral e os acidentes sem óbitos/adoecimentos têm se manifestado de forma cada vez mais evidente nas crescentes pesquisas realizadas (MPT, 2017).

Para além das discussões de cunho ideológicas, alguns fatores estão intimamente interligados com o aumento dos acidentes de trabalho e adoecimentos. Assim, a flexibilização do trabalho, encurtando as fronteiras entre a vida privada e a vida pública dos indivíduos; a individualização e solidão no trabalho; as metas cada mais vez menos tangíveis; os diversos tipos de assédios como forma de exploração do(a) trabalhador(a); e a terceirização dos serviços sem a devida fiscalização do poder público, são as portas de entradas para o aumento das estatísticas negativas sobre a saúde do trabalhador (idem, 2017).

Como se não bastasse esses fatores de risco, apontados acima, que são responsáveis diretos por mais de 6,3 mil mortes por acidente de trabalho por dia, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2018), mais de 61% da população empregada no mundo – 2 bilhões de pessoas – está na economia informal.

Ainda segundo a OIT (2018), a (falta de) educação é o principal fator dessa alta informalidade pois, segundo ela (OIT), quanto maior o nível de escolaridade, menor o nível de informalidade. E acrescenta o estudo da OIT que: “Pessoas que concluíram a educação secundária e superior têm menos chance de estar no mercado informal na comparação com trabalhadores que não têm escolaridade ou só completaram a educação primária.

No Brasil, segundo o Conselho Federal de Medicina – CFM – existe uma subnotificação muito grande das doenças causadas pelo trabalho, sendo notificadas menos de 2% de adoecimentos e menos de1% das mortes, quando a própria entidade máxima mundial, OIT, estabelece que as doenças causadas pelo trabalha representam 86%, em média (CFM, 2018).

Segundo Christophe Dejours: “A organização do trabalho exerce sobre o homem uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora.”

Embora o atual ocaso da modernidade (muitos já falam em pós-modernidade, o que não é o entendimento deste escriba, nem objeto de estudo desse trabalho) não apresentar muitos horizontes favoráveis para o mundo do trabalho, é mister tentar fazer um pequeno passeio pela recente história política-econômica-social mundial e, especificamente, o Brasil, postulando melhor entendimento sobre o desvio histórico que o capitalismo tomou, depois de passar várias décadas de bonança bem-estar social e crescimento econômico, ainda que a periferia do sistema, ou seja, os países em desenvolvimento e/ou subdesenvolvidos, tenham ficado com a menor fatia do bolo, apesar de concentrar a maioria da população mundial.

Dessa maneira, é fundamental entender como a política estatal foi sendo cooptada pelo capital, em todas as suas esferas de atuação, inclusive e especialmente a esfera da saúde pública, promovendo o desmantelamento das redes sociais de apoio. O desamparo do fim da centralização da vida familiar pelo trabalho, a falta de condições materiais e psicológicas de apoio ao trabalhador e o aumento da rigidez das relações sociais, são fatores importantes para o esgarçamento do tecido social de outrora, quando o trabalho, e sua remuneração constante, fixa, concreta, dava o tom psicológico da vida capitalista (aqui também não entraremos no mérito da questão do trabalho como fator de alienação do ser humano, tanto o trabalho abstrato, quanto o trabalho concreto) (DELGADO, 2017).

No Brasil, diante de um cenário econômico adverso desde a última crise financeira mundial em 2008, a volta da supremacia do mercado, e suas políticas ortodoxas de gestão pública, ainda no governo Dilma, o aumento acelerado do desemprego foi fator de desgaste político público, do grupo que detinha o poder ou parte dele, e de adoecimento privado dos trabalhadores cada vez menos seguros nos seus empregos. Os desarranjos políticos e institucionais desde então, e que provocaram a ascensão de uma nova corrente política em 2018, só fizeram aumentar a vida precária do trabalhador brasileiro, elevando os índices de acidentes do trabalho e de adoecimento laboral (idem, 2017).

Como diz Antunes e Praun (2015): “Não se trata, portanto, de mero acaso que a maior incidência de casos de lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/ Dort) e de transtornos mentais ocorra simultaneamente à disseminação em escala 424 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 123, p. 407-427, jul./set. 2015 global dos processos de reorganização do trabalho e da produção e, de maneira articulada, à expansão das diferentes formas de precarização do trabalho, entre elas a expansão da terceirização” (ANTUNES E PRAUN, 2015, p. 423-424).

Uma visada importante para ajudar a minimizar os danos já efetuados pelo ainda mais radical sistema neoliberal, alguns chamam de ultraliberal, no mundo e nos países periféricos, notadamente no Brasil, é a psicopatologia do trabalho de Christophe Dejours. Com efeito, para este autor, o objetivo maior do seu estudo foi estabelecer as relações entre a organização do trabalho e o sofrimento psíquico. Apesar do estudo dele ser majoritariamente eurocêntrico, é possível estender seu estudo para a esfera global em relação à exploração do sentimento de medo e de ansiedade para a extração máxima da produtividade do trabalhador na sua “relação de trabalho”.[i]

Por conseguinte, na fase de ouro do capitalismo industrial – século XIX – até a fase áurea do taylorismo, precisamente na chamada época dos “trintas anos gloriosos”,[ii] os habitantes de favelas nas grandes cidades representavam o grosso do operariado das fábricas mundo afora e eram as principais vítimas, junto com seus familiares, de uma alta taxa de morbidez, pois viviam em situação precária quanto à materialidade da pobreza endêmica.

Nesse sentido, a saúde mental desses trabalhadores expostos a condições degradantes de convívio social encetou estratégias defensivas para mitigar os efeitos dessas condições insalubres de vida. Para tal desidério, Christophe Dejours identificou as reações dessas pessoas como “válvula de escape”, a saber, o alcoolismo, atos de violência antissocial, loucuras de todas as formas e morte. Para ele, o sofrimento dos trabalhadores estava atrelado a insatisfação e a ansiedade/medo.

A pesquisa realizada pelo autor trouxe o sentimento de indignidade desses trabalhadores por realizarem tarefas desinteressantes, por não terem condições adequadas para a realização delas, tanto materiais como emocionais, e mesmo assim serem forçadas a realizar determinadas tarefas incompreendidas por esses trabalhadores em relação à finalidade do trabalho.

Destarte, ainda segundo o autor, o sentimento de indignidade está relacionado com a vivência depressiva do trabalhador assalariado, a qual se manifesta pelo cansaço deste, não apenas o cansaço físico, mas o esgotamento mental a influenciar seu desempenho e sua produtividade na concretização das tarefas que lhe são impostas.

Realmente, o que o autor verificou foi que os trabalhadores jamais abandonam a “tensão nervosa”, mesmo onde a carga de trabalho é menos elevada. Assim, as representações de ignorância em relação ao sentido do trabalha efetuado, este fragmentado de propósito para proporcionar a máxima produtividade do trabalhador, o sentimento penoso de estar sempre sendo controlado pelos superiores e a convicção de que o próprio local de trabalho é perigoso para a vida do trabalhador, especialmente os trabalhadores que participam diretamente do processo de produção mostram, segundo Dejours: “… a extensão do medo que responde, no nível psicológico, a todos os riscos que não são controlados pela prevenção coletiva”. (Idem, p. 88)

O que daí resulta é o que o autor chamou de “exploração do sofrimento”, ou seja, que a exploração desse sentimento da/o ansiedade/medo acarreta a erosão da saúde mental dos trabalhadores é benéfico para a implementação de um condicionamento a favor da produção. Em outras palavras, a vida mental de cada trabalhador, individualmente, nada mais é do que um intermediário necessário à submissão do corpo.

Por consequência, os exemplos das telefonistas e da indústria petroquímica que Christophe Dejours deu para que o sofrimento advindo da insatisfação e do medo, respectivamente, são essenciais para entender como funciona a engrenagem da organização do trabalho. Esses sentimentos produzem uma agressividade indeterminada, difusa e manipulável para a exploração do trabalhador pela organização do trabalho. De fato, na impossibilidade de escapar desse meio panóptico, o trabalhador passa para a fase da autoagressão, quando a agressividade se transforma em culpa e a frustração alimenta a disciplina, que é a base do comportamento condicionado.

Logo, para Christophe Dejours: “De maneira que a única saída para a agressividade, aliás, bem restrita, é trabalhar mais depressa. Eis aí um fato extraordinário, que conduz a fazer aumentar a produtividade…”. (Ibidem, 134)

Isto posto, se por um lado Dejours entende que a angústia serve como correia de transmissão da repressão, de outro a irritação e a tensão nervosa é capaz de promover um aumento da produção. Daí que ele entende que, para trabalhos repetitivos como o da telefonista: “o sofrimento psíquico, longe de ser um epifenômeno, é o próprio instrumento para a produção do trabalho”. (ibidem, p. 134).

Nesse ponto, seu estudo deixa bem claro que a organização do trabalho explora não o sofrimento em si mesmo, mas principalmente os mecanismos de defesa utilizados contra esse sofrimento. Os relatos das telefonistas sobre o trabalho “robotizante”, fragmentado, repetitivo que a organização do trabalho proporciona as trabalhadoras resulta na expulsão do desejo próprio de cada uma. Pois é, precisamente, a frustração e a agressividade da jornada laboral sofrida e tensionada que vai propiciar o aumento do ritmo de trabalho.

Ademais, o sofrimento psíquico na organização de trabalho é pouco reconhecido pelo próprio sujeito. As estratégias de defesa atuam para mitigar tal sofrimento, fazendo com que cada trabalhador/a administre seu sofrimento de acordo com as condições objetivas que cada um dispõe, como uma espécie de “válvula de escape”, podendo ocasionar com o tempo casos de depressão, neurose e psicose.

Por tudo isso, Christophe Dejours entende que a organização de trabalho “robotizado”, perigosa, fragmentada como tem sido a tônica desde o auge do capitalismo pode acarretar na perda de esperança e de sonhos por parte da classe trabalhadora. Assim, pode ocorrer o que ele chama de bloqueio na relação entre o homem e o trabalho. Esse bloqueio patogênico, para ele, está relacionado ao modo predatório que o trabalho atinge as necessidades da estrutura mental do trabalhador.

Referência


Christophe Dejours. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo, Cortez. 2017, 224 págs.

Bibliografia


ANTUNES, Ricardo; PRAUN, Luci. A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Revista de Serviço Social. São Paulo, No. 123, págs. 407-427, 2015.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social – Uma crônica do salário. Petrópolis. Editora Vozes. 1995.

DELGADO, Maurício Godinho. Capitalismo, Trabalho e Emprego. São Paulo. Editora LTr. 2017.

POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro. Editora Elsevier. 2000.

Notas


[i] Dejours entende “relação de trabalho” como todos os laços humanos criados pela organização do trabalho: relações com a hierarquia, com as chefias, com a supervisão com os outros trabalhadores – e que são às vezes desagradáveis ou mesmo insuportáveis. (2017, pág. 96)

[ii] Fase pós-guerras – de 1946 ao início dos anos 1970 – que engloba a três décadas de esplendor do Estado de Bem-Estar Social na Europa, especialmente, mas também de reconstrução global do mundo solapado por duas guerras mundiais.

20
Mar20

CONTÁGIO DO CORONAVÍRUS. Por que no SUS os médicos não usam EPI higienizado, luvas, óculos de proteção e máscara N95?

Talis Andrade

Nos hospitais do SUS, os pacientes padecem amontados nos corredores. Na rede hospitalar privada, "os pacientes suspeitos ficam no que chamamos de leito de pressão negativa, um ambiente completamente isolado, em que o ar que está ali dentro não sai para o corredor do hospital, por exemplo”

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por Joana Oliveira

El País

Medidas na rede privada (Continuação). Em três dos hospitais de referência no combate a doenças infecciosas em São Paulo, a situação é bem diferente. O Hospital Sírio-Libanês, o Hospital do Coração (HCor) e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein trabalham com protocolos de isolamento dos pacientes com suspeita de Covid-19 e fornecem EPI completo para as equipes de médicos e enfermeiros.

“Há risco de contágio dos profissionais, principalmente no pronto-socorros. Não tem como toda a equipe ficar paramentada o tempo todo, mas aqui o protocolo é identificar rapidamente os pacientes que têm tosse ou falta de ar, entregar uma máscara cirúrgica e isolá-lo em uma sala. Os médicos usam EPI higienizado, com luvas, óculos de proteção e máscara N95. Os pacientes suspeitos ficam no que chamamos de leito de pressão negativa, um ambiente completamente isolado, em que o ar que está ali dentro não sai para o corredor do hospital, por exemplo”, explica Valéria Paes, infectologista do Sírio Libanês.

Um protocolo similar é adotado no Albert Einstein, conforme conta o infectologista Moacyr Silva: “Nossa prioridade é que a equipe não adoeça, então, qualquer profissional que atenda um paciente com sintoma respiratório, mesmo no consultório, usa EPI completo. Temos medo de que aconteça aqui o mesmo que em outros países”, diz ele, referindo-se a lugares como a China, que, no ápice do contágio por coronavírus, registrou cerca de dois mil profissionais de saúde infectados. Lá, eles se tornaram um dos principais grupos de risco.

Para Pedro Mathiasi, infectologista do HCor, é importante dar exemplo. “Tenho dois filhos em casa, onde também cuido do meu pai, idoso. A primeira coisa que eu faço no trabalho é conscientizar minha equipe sobre higienização do material de trabalho e uso do EPI”, diz ele, acrescentando que, se o protocolo de isolamento for cumprido, não há risco de contágio para médicos e enfermeiros. Mathiasi é otimista: “Acredito que sairemos disso com uma rede de saúde no Brasil muito mais sólida e com protocolos de segurança melhor desenvolvidos”.

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28
Ago18

Ninguém liga, ninguém liga! O Brasil matou este ano 13 trabalhadores soterrados em armazéns de grãos!

Talis Andrade

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Efeito 'areia movediça' é um dos principais causadores de mortes em silos carregados de grãos. Ilustração Vitor Flynn

 

Os ajudantes Edgar Jardel Fragoso Fernandes, de 30 anos, e João de Oliveira Rosa, de 38, iniciavam o expediente na Cooperativa C. Vale, em São Luiz Gonzaga (RS), quando foram acionados para desentupir um canal de um armazém carregado de soja.


Era abril de 2017, quando a colheita da oleaginosa confirmava as previsões de que o Brasil atingiria a maior safra de sua história. Enquanto tentavam desobstruir o duto caminhando sobre os grãos, os dois afundaram nas partículas. Morreram asfixiados em poucos segundos, encobertos por várias toneladas de soja.


Acidentes como esse em armazéns agrícolas têm se tornado frequentes conforme o agronegócio brasileiro bate sucessivos recordes – expondo um efeito colateral pouco conhecido da modernização do campo. Leia mais 

06
Mar18

O dedo de Neymar, o rabo do Galvão e o salário dos médicos

Talis Andrade

O Brasil fosse operar os dedos-duros faltariam médicos e hospitais

 

 

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Escreveu Roberto Almeida: "O excesso de atenção à operação do dedo do jogador Neymar, por parte da mídia, especialmente a TV Globo, está sendo ridicularizado por brasileiros de diversas regiões do país, através da internet.

 

Faz sucesso na rede os versos, em estilo cordel, do poeta popular Pedro Paulino, da Vila de Campos, em Canindé, no Ceará.

 

Segundo comunicou
O velho José Simão,
Vai ter cobertura ao vivo
Em toda televisão;
A Globo até vai mandar
Ao local, pra comentar,
O baba-ovo Galvão.

Porque, segundo a notícia,
Quando o fato aconteceu,
Uma equipe logo veio
E o atleta socorreu,
Mas naquela ocasião
Foi o rabo do Galvão
O lugar que mais doeu! Leia mais aqui 

 

O médico Klaus Morales, de Minas Gerais, no dia que a imprensa cobria ao vivo a operação no dedo fez o seguinte desabafo: 

 

"Nosso salário está sendo pago em três parcelas mensais, pois o Governo do Estado diz que o orçamento não é suficiente para que o Estado faça o pagamento em parcela única".

 

Mas o Estado sempre tem dinheiro para pagar na marra os altos salários, acima do teto, dos juízes, promotores, desembargadores, procuradores, conselheiros, consultores, assessores das nababescas cortes palacianas da justiça estadual, do tribunal de faz de conta que faz as contas, cabide de emprego para deputados sem votos ou que perderam o mandato.

 

Sobra dinheiro para pagar os coronéis da polícia militar. Idem da justiça militar e delegados por todos os lados.

 

Sobra dinheiro para pagar auxílio moradia de finórios grã-finos em um Estado com milhões de sem teto, de moradores de rua, inclusive em área de alto risco.

 

DESABAFO de Klaus Morales: Estou de plantão na Maternidade Odete Valadares, uma maternidade pública estadual REFERÊNCIA no estado de Minas Gerais para acolhimento e tratamento de gestantes de alto risco, RNs prematuros e casos ginecológicos complexos.


Faltam leitos de CTI neonatal para atender toda a demanda. Não raramente pacientes ficam alojadas em macas por falta de leitos em enfermaria. Faltam médicos para preencher contratos de trabalho dada a burocracia para contratação e os salários defasados frente aos demais postos de trabalho semelhantes.
Para completar, nosso salário está sendo pago em três parcelas mensais, pois o Governo do Estado diz que o orçamento não é suficiente para que o Estado faça o pagamento em parcela única.

 

A exatos 50 metros daqui, no Hospital Mater Dei, o craque Neymar esta internado para uma cirurgia do quinto metatarso. Pedestres estão sendo impedidos de transitar pela calçada do hospital. Viaturas da polícia estão estacionadas desde cedo nos arredores. Um andar inteiro, com muitos leitos, está interditado para receber o jogador. Helicopteros sobrevoam o hospital e não se fala em outra coisa nos noticiários a não ser sobre o caso.


Inumeros repórteres fazem firulas na porta do hospital, papagaios de pirata com suas embaixadinhas e mais uns bons desocupados com camisas de time esperando um autógrafo. Tudo transmitido ao vivo com sorriso no rosto e peito aberto.
Do lado de cá, pacientes esperam horas para serem atendidas e muitas outras são transferidas por falta de estrutura imediata para internação. São apenas dois andares para receber as pacientes e, no momento, não existem vagas.


Infelizmente, reina a absoluta inversão de valores. Falta empatia. Falta vergonha na cara.
Brasil, um país de poucos.

 


P.S.: Não vim aqui pra reclamar de Neymar, de hospital algum (inclusive o Mater Dei é um belo hospital, com corpo clinico super bem formado, etc), se o Neymar está pagando ou não. Só que a cobertura e o rebuliço que têm sido feitos em torno disso é desproporcional à realidade de uma população que sofre o descaso do governo em relação à saúde. A imprensa, como fonte de informação, deveria a meu ver dar mais peso ao que realmente importa.

 

NEYMAR E A SOCIEDADE QUE CELEBRIZA E ESPETACULARIZA O FÚTIL

 

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por Jeferson Miola: O Brasil precisa enfrentar seus reais problemas. E o maior deles, que consome 43% dos impostos arrecadados, é o pornográfico sistema da dívida pública, que propiciou lucro líquido de R$ 24,9 bilhões só ao Itaú em 2017 e que, para assegurar a ganância dos banqueiros, levou centenas de milhares de brasileiros à dor e ao sofrimento por falta do mesmo acesso que o Neymar tem aos serviços de saúde para consertar o 5º metatarso do dedinho do pé direito. Leia mais aqui

17
Ago17

Cilada nazista de Temer para demitir os trabalhadores enfermos

Talis Andrade

 

 

Revisão de benefícios ou caça aos doentes?


Em mais um episódio de perseguição aos trabalhadores e desmonte do sistema previdenciário, governo Temer força retorno à rotina profissional de adoecidos sem planejamento ou programa de reabilitação, o que pode levar ao agravamento do quadro de milhões de afastados

 

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                                                            Ilustração Oguz Gurel

 

 

por Claudia Motta

 

Foi ampliado para 21 de agosto o prazo para que afastados por auxílio-doença entrem em contato para agendar nova perícia junto ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Uma lista de segurados por incapacidade foi publicada no Diário Oficial da União de 1º de agosto para entrar em contato com o INSS e saber a data da perícia por meio da qual o benefício será reavaliado. São trabalhadores que não puderem ser contatados via Correios. Nesse caso, o empregado deve entrar em contato com a central de atendimento (135) para saber a data agendada para a reavaliação do benefício por incapacidade. O não atendimento à convocação pode levar o auxílio a ser suspenso ou cancelado.

 

Para a perícia, o segurado deve apresentar toda documentação médica que justifique o auxílio-doença: atestados, laudos, receitas e exames. Quem não puder comparecer por estar internado ou enfermo, deverá pedir a uma pessoa de sua confiança que informe, em uma agência do INSS, sobre esse impedimento. Portando documento de identidade do segurado e comprovante do impedimento, será possível solicitar perícia hospitalar ou domiciliar.

 

Ao todo, 530 mil benefícios de auxílio-doença serão revisados, além de mais de 1 milhão de aposentadorias por invalidez. Segundo informações do MDS, até 14 de julho 199.981 perícias haviam sido feitas e 180.268 benefícios haviam sido cortados.

 

Para a médica do trabalho Maria Maeno, fazer a revisão não é um problema em si. “Vejamos uma situação exemplificativa. Um trabalhador é aposentado por invalidez e depois de certo tempo, passa a apresentar melhora da funcionalidade. No programa terapêutico, junto com ele, conclui-se que é possível tentar um retorno ao trabalho. É obrigatório que esse processo de reabilitação profissional inclua a análise da atividade de trabalho que ele desenvolverá, possibilidade de se manter tratamento, e só então, ele deverá fazer um estágio monitorado para que se possa analisar a viabilidade desse retorno. Semelhante processo deve ser desenvolvido nos casos de auxílio-doença de longa duração”, explica. “Nas circunstâncias em que está ocorrendo, a revisão de benefícios só tem um objetivo, que é o de cessá-los em maior número possível para que se diminua os gastos do INSS. Por isso, paga-se R$ 60 por fora do salário do perito para que ele participe do mutirão da revisão de benefícios. A avaliação é feita sob quais critérios? Ninguém sabe”, critica.

 

A categoria bancária figura entre os ramos de atividade com as mais altas taxas de acidentes do trabalho do país. De 2012 a 2016 foram 20.414 afastamentos por acidentes do trabalho conforme dados do Ministério Público do Trabalho. Para agravar a situação, são doentes geralmente acometidos por transtornos mentais, como depressão, estresse pós-traumático, síndrome do pânico.

 

Futuro crítico – A médica desenha um quadro bastante preocupante para os próximos anos. “Como não há equipes de reabilitação profissional, suponho, sem medo de errar, que milhares de pessoas estão tendo benefícios cortados sem que se promova uma real reinserção nos postos de trabalho, de forma que elas consigam se manter trabalhando sem agravar seu quadro clínico”, avalia.

 

“Seria obrigatório que equipes do INSS multidisciplinares acompanhassem e garantissem o retorno ao trabalho gradativamente e que após o retorno efetivo, monitorassem os casos, para verificar se o retorno ao trabalho efetivamente ocorreu. Da maneira como está sendo feito, corre-se o risco dessas pessoas piorarem seu estado clínico ou não conseguirem trabalhar dentro das expectativas, ficando vulneráveis a demissões. Se isso se concretizar, teremos muitos trabalhadores doentes e desempregados. Se perderem a condição de segurado, dificilmente retornarão a ser segurados. Será ruim para eles e para o INSS que arrecadará menos. Já nesse contingente que foi reavaliado me pergunto quantos ainda tinham vínculos empregatícios.”

 

Para a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro, essa é mais uma etapa do desmonte da Previdência e do enfraquecimento do sistema de seguridade brasileiro. “Por isso estamos convocando toda a população a reagir. Proteste, pressione os deputados para que votem contra o desmonte da Previdência e a favor dos direitos dos trabalhadores. As eleições de 2018 estão logo ali e não vamos esquecer quem traiu o povo brasileiro.”

 

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