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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

23
Set22

As visitas de Jair Bolsonaro a matador na prisão | UOL Investiga T2E2

Talis Andrade

Polícia e MP procuram 5 foragidos por suspeita de integrar milícia que  domina Rio das Pedras e Muzema | Rio de Janeiro | G1

 

 

No segundo episódio da segunda temporada do podcast “UOL Investiga”, a jornalista Juliana Dal Piva retrata duas visitas na cadeia do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e de seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ao ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega, entre 2004 e 2005, enquanto este estava preso sob a acusação de assassinato. Em 2019, Nóbrega foi apontado como líder de um grupo de matadores de aluguel chamado Escritório do Crime e foi denunciado por participar de uma milícia em Rio das Pedras (RJ). “UOL Investiga - Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro” fala da relação da família Bolsonaro com agentes das forças de segurança que se tornaram milicianos e usaram seu treinamento para cometer crimes. Traz ainda detalhes da relação da família Bolsonaro com Adriano Nóbrega, ex-policial militar morto em 2020 e apontado como chefe de assassinos de aluguel –Jair e Flávio inclusive fizeram visitas ao ex-capitão na prisão. Esta temporada tem também a história completa do roubo de uma moto do presidente em 1995, crime que mobilizou parte da polícia do Rio e simboliza vários problemas da segurança pública.

 

Bolsonaro visitou o miliciano Adriano Nóbrega na prisão em 2004 e 2005 

 

por Juliana Dal Piva e Elenilce Bottari /UOL

- - -

O presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), fizeram, ao menos, duas visitas ao ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega entre 2004 e 2005.

Nóbrega foi apontado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio), em 2019, como líder de um grupo de matadores de aluguel chamado de Escritório do Crime e também denunciado por participar de uma milícia em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio.

As histórias dessas visitas foram reveladas no episódio dois do podcast "UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro", que estreou nesta sexta-feira (23). No mesmo episódio, está um registro raro e inédito da voz de Nóbrega, obtido com exclusividade pela coluna.

Questionados sobre os dois episódios das visitas na cadeia, a assessoria do presidente e do senador disseram, por nota, que "à época das homenagens era impossível prever que alguns desses policiais pudessem desonrar a farda" e, ainda, que no caso do motim "trabalharam para resolver uma crise". Veja a nota na íntegra no final.

A primeira visita relatada à coluna ocorreu durante um suposto motim de policiais que estavam presos no recém-criado Batalhão Especial Prisional (BEP), em 28 de outubro de 2004.

Já a segunda foi por ocasião da entrega da medalha Tiradentes, a maior comenda do estado do Rio, pedida por Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e entregue por ele a Adriano Nóbrega dentro da prisão. Jair Bolsonaro também esteve presente na cerimônia.

Sobre o episódio de 2004, a coluna ouviu duas pessoas que testemunharam a rebelião no presídio. Uma delas pediu anonimato, mas o sociólogo Paulo Baía, que também esteve lá, concordou em gravar entrevista. Ele foi subsecretário de Direitos Humanos do governo do Rio de 2003 a 2005.

Na época, os policiais reclamavam da criação do BEP em Benfica, onde também estavam presos outros acusados pelos mais diversos crimes e que não eram policiais.

Antes da criação do BEP, os policiais ficavam custodiados na carceragem do Batalhão de Choque (ou em suas unidades de origem) e o comando da polícia avaliava que aquele não era um local adequado para prisão dos policiais porque faltava estrutura para um efetivo controle dos presos, o que permitia que, mesmo presos, esses policiais continuassem gozando de regalias.

Em 2004, Adriano Nóbrega estava preso aguardando julgamento pela morte do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, ocorrida em novembro de 2003. Ele e um grupo de policiais foram presos em flagrante acusados de executar Silva, que, dias antes, tinha denunciado um episódio de tortura e extorsão liderado por Nóbrega.

Na carceragem do Choque, enquanto o ex-caveira aguardava julgamento, a então mulher dele, Danielle Nóbrega, chegou a passar algumas noites com ele sem autorização legal, o que rendeu a Nóbrega uma sindicância interna. Rodrigo Pimentel, ex-instrutor de Nóbrega no Bope, recebeu telefonemas do antigo aluno de dentro da carceragem.

No entanto, a transferência dos policiais para o BEP gerou revolta. Os PMs se queixavam que em Benfica estavam no mesmo local onde ficavam presos alguns supostos criminosos que eles tinham ajudado a capturar. Por causa disso, teria se iniciado a rebelião.

O sociólogo Paulo Baía recorda que foi despertado no início da manhã do primeiro dia da rebelião por um telefonema do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, à época, em seu primeiro mandato na Alerj. "Ele falou assim: 'Está havendo uma rebelião e nós fomos acionados e eles estão querendo alguém dos direitos humanos'", conta Baía.

O sociólogo disse que, em seguida, acionou sua equipe e soube que todos também tinham recebido ligações de Flávio nas primeiras horas da manhã. Na sequência, Baía e a equipe foram ao BEP, que ficava na Casa de Custódia de Benfica, na zona norte do Rio.

Baía conta que, ao chegar lá, Flávio e Jair Bolsonaro já estavam no local. "Eu já acompanhei amotinados em várias situações, e a situação de amotinados, os amotinados usam escudos humanos, crianças, mulheres, reféns, para se proteger. Eu nunca vi amotinados de peito aberto, sem uma proteção fora disso".

"Quando eu cheguei no presídio, já estavam lá, o deputado Flávio Bolsonaro e o deputado Jair Bolsonaro. Eu conversei com os dois, mais com o Flávio do que com o Jair, o Flávio era deputado estadual e nós tínhamos uma relação grande porque o Flávio acompanhava os inquéritos", conta.

Baía diz que, durante as negociações, Flávio conversou com Adriano Nóbrega. "O principal interlocutor do Flávio Bolsonaro era o Adriano. E aí eu procurei saber quem é esse rapaz aí que fala com o Flávio?", afirma o sociólogo.

Além disso, segundo Baía, os presos estavam com celulares dentro da cadeia. "Todos com celulares. Eu não posso afirmar, seria leviandade da minha parte, que eles falaram com Jair Bolsonaro, porque o Jair Bolsonaro foi muito discreto. Ele ficou lá, mas ficou na dele", diz.

"Conversou com o comandante da unidade ao lado dos Bombeiros, ele ficou conversando. Chegaram mais dois oficiais da PM, capitães ou tenentes, e conversaram com ele, mas ele não entrou nas celas de negociação, o Flávio entrou, até porque o Flávio tinha uma função institucional. Ele era deputado estadual e era da comissão de controle", conta Baía.

Na opinião do sociólogo, o episódio foi montado. "Eu quero frisar que esta rebelião é uma falsa rebelião, é um circo armado para projetar Flávio Bolsonaro".

Adriano Nóbrega morreu em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, após passar um ano como foragido da Justiça. Ele foi denunciado na Operação Intocáveis pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio).Image

 

 
01
Set19

Ao elogiar Moro, Bolsonaro elogia o crime

Talis Andrade

MEDO, DOR, CRUELDADE

Milícias somem com uma pessoa a cada 2 dias no Grande Rio

moro bolsonaro_fernandes.jpg

 

por Jeferson Miola                   

Bolsonaro disse em cerimônia oficial que “Sérgio Moro é um patrimônio nacional” [sic].

Essa declaração é mais que outro rompante retórico do Aberração aboletado no Planalto [aqui]; é um verdadeiro elogio ao crime.

Bolsonaro elogia Moro assim como elogia Brilhante Ustra, como condecora milicianos, como celebra a morte e a violência e como faz apologia ao estupro de mulheres “que merecem ser estupradas”.

No mundo jurídico brasileiro e internacional predomina o consenso de que Sérgio Moro cometeu arbítrios, atropelos, ilegalidades e crimes na Lava Jato.

É pacífico o entendimento de que Moro atuou como um bandido de toga manipulando julgamentos e aparelhando o cargo de juiz para fins pessoais e com o objetivo de aniquilar o principal inimigo ideológico – Lula – para favorecer o projeto político-partidário de sua preferência.

Se havia dúvidas a respeito da atividade ilícita do Moro no submundo do judiciário, tais dúvidas foram dissipadas depois das revelações do site The Intercept.

O ministro do STF Gilmar Mendes nomeou a força-tarefa da Lava Jato como uma organização criminosa. Chefiada por Sérgio Moro.

Manietado desde os EUA, Moro atuou como o maestro da conspiração que corrompeu o sistema de justiça brasileiro e instalou no poder a extrema-direita fascista que executa o mais devastador plano de destruição de direitos e liquidação da soberania, da independência e da estrutura econômica nacional.

Um tigre não pode “destigrar-se”. Por isso Moro – agora não mais como “juiz”, mas como ministro do Bolsonaro – continua praticando ilegalidades e cometendo crimes.

Ele continua prevaricando ante o sumiço do Queiroz, ante o tráfico internacional de cocaína no AeroCoca presidencial, ante o tráfico de armas pelo assassino da Marielle e vizinho de condomínio do Bolsonaro etc. Ele ainda violou o sigilo da investigação da PF sobre os laranjas do PSL, tentou destruir provas dos supostos hackers etc.

Na vigência do Estado de Direito – que não é a realidade no Brasil hoje – Sérgio Moro não poderia estar exercendo nem o mais modesto cargo público, menos ainda o de ministro de Estado. E se o sistema de justiça estivesse funcionando normalmente, Moro tampouco estaria livre, leve e solto.

No mínimo, ele estaria afastado de todo e qualquer cargo público e preso preventivamente para ser impedido de continuar manipulando, interferindo ilegalmente em investigações e destruindo provas – mas sequer há investigação da sua prática criminosa.

Para Bolsonaro, porém, a despeito disso tudo, Moro é um herói; um “um patrimônio nacional”, chegou a dizer.

Essa percepção, afinal, é coerente para alguém cuja trajetória se confunde com a trajetória do Queiroz, do Escritório do Crime e das milícias.

Ao enaltecer Moro, Bolsonaro elogia o crime. No fundo, se auto-elogia.

cacinho moro bolsonaro.jpg

 

---

P.S. deste correspondente: Diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil, o delegado Antônio Ricardo Nunes estima, com base em informações de inteligência, que as milícias dão sumiço a uma pessoa a cada dois dias apenas nos 18 municípios da Região Metropolitana cobertos pelas Delegacias de Homicídios (DHs).

Parte das histórias que estavam ocultas começa a ser revelada nos cemitérios ilegais. Nos últimos meses, investigações das DHs e do Ministério Público Estadual (MPRJ) localizaram seis deles — dois em Itaboraí, dois em Queimados, um em Belford Roxo e outro em Itaguaí —, com pelo menos 45 corpos ou ossadas.

Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, comanda a Polícia Federal e Força Nacional de Segurança Pública, não prendeu ainda nenhum miliciano. Estão aí soltos Fabrício José Carlos de Queiroz, Adriano Magalhães da Nóbrega e os mandantes da morte de Marielle Franco.

VEJA TAMBÉM: 'Tribunal' das milícias tem morte por fogo, espada e esquartejamento; mães de vítimas se unem por justiça

20
Abr19

MULHER DE MILICIANO NOMEADA PARA GABINETE DE FLÁVIO BOLSONARO NUNCA TEVE CRACHÁ EM 8 ANOS

Talis Andrade

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Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe de milícia foragido 

 

247 - Mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe de milícia foragido da polícia, Danielle Mendonça da Nóbrega trabalhou até novembro passado como assessora do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro — sem crachá; Danielle nunca, nos oito anos em que esteve na folha de pagamento da Assembleia do Rio, recebeu o documento que autorizaria sua entrada no prédio e que todos os outros funcionários são obrigados a usar. A apuração é da Revista Veja.

 

O descuido se repetiu com a mãe do miliciano foragido, Raimunda Magalhães. Nomeada em 2015, ela, também segundo os registros da Alerj, só ganhou crachá em 2017. A revista procurou a assessoria do hoje senador Flávio Bolsonaro para esclarecimentos, mas não obteve resposta.

 

Informa Veja: Em janeiro, quando o Ministério Público deflagrou a operação contra a milícia de Rio das Pedras e o nome de Nóbrega ficou em evidência, Flávio, em nota, afirmou que a indicação de Raimunda fora feita por seu ex-assessor e ex-policial Fabricio Queiroz — aquele enrolado em movimentações financeiras suspeitas, que foi submetido a tratamento contra um câncer de intestino em janeiro e, desde então, sumiu. Flávio não citou Danielle, mas Queiroz, sim: em nota posterior, confirmou que “facilitou” a nomeação das duas porque a família do ex-colega de polícia passava por “grande dificuldade”. Aliás, por falar em Queiroz, o ex-marido da sua mulher, Márcio Gerbatim, foi motorista do gabinete de outro Bolsonaro, o vereador Carlos, por dois anos. De lá foi transferido, em 2010, para a Alerj. Para qual gabinete? Para o de Flávio Bolsonaro.

PRESOS MILICIANOS DA GRILAGEM

E ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

 

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) desencadeou na manhã de hoje (22) a Operação Os Intocáveis, para prender 13 integrantes de organização criminosa que atua em Rio das Pedras, Muzema e adjacências, todas no Rio de Janeiro. Ao menos cinco suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes foram presos. Eles são integrantes da milícia mais antiga e perigosa do estado. Os principais alvos da operação são o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras; e o subtenente reformado da PM Maurício Silvada Costa, o Maurição.
 
 
O objetivo da ação do MP-RJ seja atacar a milícia que explora o ramo imobiliário ilegal em Rio das Pedras com ações violentas e assassinatos, há indícios de que dois dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda. 
 
 
Os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos. O major Ronald Paulo Alves Pereira, de 43 anos, é investigado por integrar a cúpula do Escritório do Crime. Foi denunciado por comandar os negócios ilegais como grilagem de terra e agiotagem. É réu no processo de homicídio de jovens na antiga boate Via Show, em 6 de dezembro 2003, e vai a júri em abril deste ano. O oficial foi preso no condomínio fechado Essence, perto do Parque Olímpico, na Zona Oeste. Segundo moradores, os apartamentos mais caros valem mais de R$ 1 milhão. Maurição, de 56 anos, é uma espécie de capataz dentro de Rio das Pedras. Dá também ordens sobre as cobranças dos imóveis da facção e controla as vans. Também foi preso Manuel de Brito Batista, o Cabelo – que atua na quadrilha como contador e gerente armado. Os agentes encontraram Cabelo dormindo em seu quarto, em uma casa no condomínio de luxo Floresta Country Club, na Estrada do Bouganville 442, bloco C1. Ele deu diversas informações contraditórias aos agentes. Indagado se tinha carro, ele negou. Mas os policiais encontraram chaves de dois veículos, um Corolla e um HB20 preto placa LTA-9321. O Corolla não foi encontrado, mas o HB20 foi revistado e nada foi encontrado em seu interior. Os policiais acharam um cofre cuja a chave não foi encontrada. Os agentes ainda cumprem o mandado de busca e apreensão. Os outros presos na operação são Benedito Aurélio Ferreira Carvalho e Laerte Silva de Lima. Benedito é apontado como “laranja” da organização criminosa. Ele empresta o nome para a abertura de uma empresa de construção civil na Junta Comercial do Rio. Já Laerte é o braço armado da quadrilha. É um dos responsáveis pelo recolhimento e repasse das taxas cobradas aos moradores e comerciantes, além da parte de agiotagem. Investigação Segundo nota do MPRJ, as investigações, realizadas por meio de escutas telefônicas e notícias de crimes, recebidas pelo canal Disque Denúncia, “evidenciam que os denunciados estão envolvidos em atividades de grilagem, construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; e extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a ‘serviços’ prestados. Eles são acusados, ainda, de ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de ‘laranjas’; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder, para manutenção do domínio territorial na região de Jacarepaguá. Na denúncia, o MPRJ requer a condenação dos denunciados, incursos, com variações conforme a atuação de cada um, em penas que vão desde acusações de promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa, com pena de reclusão de três a oito anos, e multa; até acusações de assassinatos.

 

Galeria de fotos da milícia Escritório do Crime aqui . 

13
Abr19

Escutas revelam ameaças de milicianos a moradores dos prédios que desabaram no Rio

Talis Andrade

triunvirato miliciano do Rio das Pedras.jpg

Triunvirato miliciano do Rio das Pedras: os capos 'Capitão Alexandre', 'Maurição' e major da PM Ronald Paulo Alves Pereira

 

 

Rio - Escutas telefônicas autorizadas pela justiça e presentes na denúncia feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) revelam a rotina de cobrança, ameaças, negociação de imóveis irregulares, agiotagem, entre outras atividades criminosas dos milicianos de Rio das Pedras, alvos da operação "Os Intocáveis". A ação com a Polícia Civil prendeu cinco acusados de milícia, dois deles suspeitos das execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes.

A denúncia divulgada pelo MP mostra a transcrição das gravações. Nas conversas, milicianos ameaçam moradores da comunidade que não pagaram o aluguel de seus imóveis irregulares. Uma gravação de um dos integrantes, identificado como Manoel Batista, o Cabelo, mostra a liderança do ex-cabo da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, o "Capitão Adriano" ou "Gordinho", e Maurício Silva da Costa, o "Maurição", além do major da ativa da PM Ronald Paulo Alves Pereira.  

milícia prédios 13 abril.jpg

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"Eu tenho oito apartamentos naquele prédio, o resto é tudo do Adriano e do Mauricio entendeu, você procura ele e fala com ele entendeu, não adianta ficar me mandando mensagem, e você fala pro João que o Aurélio acabou de me falar aqui que ele falou que vai cortar os cabos lá no Pinheiro, se ele cortar, eu vou cortar os dois braços dele e as duas pernas", diz Manoel, na ligação de 15 de novembro de 2018.

Na mesma conversa, ele reforça a liderança de Maurição, dizendo que ele manda em tudo: "Ele manda em tudo, como ele não vai mandar no prédio entendeu? (...) Agora eu não posso passar por cima da ordem do homem pô", conclui.

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Manoel de Brito Alves, vulgo 'Cabelo'

 

Cabelo participa ativamente das "negociações" e ameaças dentro do ramo imobiliário. Em uma chamada do dia 5 de novembro de 2018, Cabelo conversa com um homem sobre uma moradora que poderia não pagar o aluguel no dia. "Se não pagar o aluguel hoje, amanhã é pra travar não deixar ela entrar não tá", sentencia.

Entre as provas juntadas na denúncia contra o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira estão inúmeras plantas de imóveis, documentação de loteamento de terrenos, "restando evidenciada a sua participação ativa no ramo imobiliário", diz o Ministério Público do Rio.  

Cabelo é apontado como integrante de "destaque" na milícia de Rio das Pedras e espécie de gerente armado da quadrilha. "Ainda é o braço financeiro da quadrilha, responsável pelo acompanhamento da construção dos empreendimentos, bem como negociação, supervisão da cobrança, arrecadação e posterior repasse dos lucros auferidos ilegalmente, além da ocultação dos patrimônios pertencentes à malta (grupo), todas essas funções sob a constante vigilância dos denunciados Adriano e Maurício".

 

Outro integrante da quadrilha, Júlio César Veloso Serra, apontado como responsável pela contabilidade da quadrilha e homem de confiança do major Ronald e Manoel, destaca a chefia do capitão Adriano em outra escuta, de outubro do ano passado, na qual o chama de "patrãozão".

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Adriano Magalhães da Nóbrega

 

Ligações de luz e água irregulares e informações privilegiadas

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A denúncia do MP também aponta que os criminosos faziam ligações clandestinas de água e energia em seus empreendimentos imobiliários irregulares. Em conversa com um interessado em alugar um apartamento no condomínio Bosque das Pedras, no Anil, Cabelo fala que os serviços não são pagos. 

"Eu tenho um aí (apartamento), dois quartos, sala, cozinha e banheiro, Mil e Trezentos Reais. Não paga luz, não paga condomínio, não paga água, não paga nada", diz Manoel para a mulher interessada no imóvel. 

O grupo também recebia informações sobre operações tanto de órgãos municipais quando da polícia, inclusive com pagamento de propina para exercerem suas atividades sem serem incomodados. "Eu que levo o negócio pro homem, eu sei quando vem pô", diz Manoel sobre a presença da PM. Em outra conversa com um homem chamado Bruno, uma fiscalização é motivo de preocupação para Manoel.

MANOEL: Tá sabendo que tem alguma coisa amanhã?

BRUNO: Não, não to sabendo não.

MANOEL: Acabou de me ligar aqui que vai ter.

BRUNO: Aonde?

MANOEL: Muzema e Rio das Pedras, falou que não é, é pica heim.

BRUNO: O quê?

MANOEL: Falou que é INEA e Prefeitura.

BRUNO: Eu não aguento não mano.

MANOEL: INEA e Prefeitura, falou que os cara são do caralho.

BRUNO: É?

MANOEL: Hum, hum, eu nem sei o que eu faço.

BRUNO: Não aguenta o coração mais não, na moral

MANOEL: E aí, procura ver se é verdade mesmo.

Por meio da transcrição de áudios foi verificada as relações estabelecidas entre os criminosos e as funções desempenhadas por cada um deles na organização, tais como segurança (ou 'braço armado'), agente de cobrança de taxas, lavagem de dinheiro (na figura de 'laranjas'), agiotagem e forte atuação no ramo ilegal imobiliário.

.

Dois alvos do 'Escritório do Crime'

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Maurício Silva da Costa, o 'Maurição'

 

 

Dois dos alvos de prisão, o major Ronald e o capitão Adriano, comandariam o "Escritório do Crime", braço armado da organização especializado em assassinatos por encomenda. Os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos. Há uma suspeita de que o "Escritório" esteja envolvido no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Tanto Ronald quanto Adriano chegaram a ser ouvidos na condição de testemunhas no caso Marielle. "O caso Marielle corre em segredo de justiça. São investigações que não se confundem. Não podemos, nesse momento, nem afirmar e nem descartar a participação de todos ou de alguns desses integrantes no caso", disse Simone Sibilio, outra das promotoras que investiga as execuções da vereadora e do motorista. "É possível sim que eles façam parte do escritório do crime e as investigações serão aprofundadas nesse sentido", concluiu.

Foram denunciados Adriano Magalhães da Nóbrega, mais conhecido como "capitão Adriano" ou "Gordinho"; Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald ou "Tartaruga"; Maurício Silva da Costa, conhecido como "Maurição", "Careca", "Coroa' ou "Velho"; Marcus Vinicius Reis dos Santos, "Fininho"; Manoel de Brito Batista, "Cabelo"; Júlio Cesar Veloso Serra; Daniel Alves de Souza; Laerte Silva de Lima; Gerardo Alves Mascarenhas, o "Pirata"; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, "Aurélio"; Jorge Alberto Moreth, o "Beto Bomba"; Fabiano Cordeiro Ferreira, o "Mágico" e Fábio Campelo Lima. [Reportagem de Adriano Araújo, publicada no jornal O Dia, em 23 de janeiro último.

 

27
Fev19

RJ investiga policiais suspeitos de atuar como agentes duplos para milícias

Talis Andrade

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Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão da PM-RJ, foragido da Justiça

 

247 - Um levantamento divulgado pelo Portal UOL revela que nos últimos 15 meses houve suspeita de vazamentos de informações sigilosas em ao menos cinco operações de enfrentamento a grupos paramilitares no Rio. Uma destas operações envolve o principal suspeito de ter executado a tiros a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março passado: o ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) Adriano da Nóbrega, que segue foragido da Justiça há cerca de um mês.

Um dos alvos da operação "Os Intocáveis", o ex-oficial caveira - como são chamados os policiais que passam pelo curso do Bope - contaria com uma rede de proteção formada por agentes da lei infiltrados em batalhões e delegacias do Rio para se manter longe da prisão.

O episódio mais recente de infiltração aconteceu no último dia 14, quando dois policiais militares foram presos por suspeita de terem antecipado à milícia chefiada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, informações sobre uma operação "Volante" desencadeada pela Polícia Civil na Zona Oeste do Rio. As equipes foram às ruas para tentar cumprir 20 mandados de prisão, sendo que dez deles em nome de suspeitos que já estavam presos. Apesar disso, apenas um homem foi detido na ação policial.

A reportagem de Sérgio Ramalho aponta ainda que interceptações telefônicas mostraram que o trabalho acabou prejudicado pelo PM Marcelo Tinoco Petuquio, que teve uma conversa telefônica captada pelas escutas autorizadas pela Justiça. No diálogo, ele dava detalhes sobre a operação a um interlocutor ligado ao grupo paramilitar. Além dele, também foi detido o sargento Marcelo Costa Brito, lotado no Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE), apontado como chefe da milícia de Rio da Prata, em Campo Grande. O grupo do PM tem ligação com a "Liga da Justiça", milícia chefiada por Ecko.

Em 22 de janeiro, durante a operação "Os Intocáveis", apenas cinco dos 13 mandados de prisão foram cumpridos pelos policiais civis envolvidos na ação, sendo que dois dos presos são oficiais da PM, o major Ronald Paulo Alves Pereira e o tenente aposentado Maurício Silva da Costa. Caso permanecessem foragidos, ambos perderiam prerrogativas, dentre elas, salário e aposentadoria. No dia seguinte, dois outros suspeitos foram detidos, elevando para sete o número de mandados cumpridos.

Além do ex-capitão Adriano, outro que conseguiu escapar da operação foi o presidente da Associação de Moradores de Rio das Pedras, Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba. Em um trecho da denúncia encaminhada pelo Ministério Público à Justiça consta a informação de que Beto Bomba tinha acesso a dados privilegiados sobre operações policiais realizadas nas localidades sob influência de milicianos e, com isso, alertava seus aliados com antecedência. Veja a vida de Adriano Magalhães da Nóbrega e suas ligações com o senador Flávio Bolsonaro aqui

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Milícia de Itaguaí tinha cemitério clandestino para enterrar inimigos

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A polícia descobriu que a milícia que atua em Itaguaí, Região Metropolitana do Rio, e é um braço da comandada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, tinha um cemitério clandestino para enterrar “inimigos”. Segundo as investigações da Polícia Civil, pelo menos 10 corpos foram enterrados no local.

quadrilha de ecko.png

 

 

Milícia é máfia. Esses grupos são compostos em parte por agentes da lei, que atuam como agentes duplos, servindo ao crime organizado enquanto recebem salários para proteger o cidadão

Marcelo Freixo (PSOL-RJ), deputado federal

 

 

 

 

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