Quantos serial killers foram eleitos vereadores e prefeitos nas eleições de 2020, na onda fascista militar e policial de Jair Messias Bolsonaro presidente?
Nas bancadas da bala, quantos serial killers estão pousando de heróis nas assembleias legislativas estaduais e Câmara dos Deputados? Vide tags.
Serial killer o facínora que assassinou mais de três pessoas.
Há uma fúria homicida na política brasileira... e deputados vão ao Congresso armados e acompanhados de capangas.
Todos são conspiradores do golpe falido de 8 de janeiro último, que pretendia derrubar Lula, pela eventualidade de uma guerra civil, pelo terrorismo de Bolsonaro ditador.
E mais horrendo, desumano, diabólico que um serial killer, um massacrador, um genocida.
Ao final, Gaza, como o Gueto de Varsóvia, será inabitável. Mas “exterminar todos os bárbaros” vai além de Hitler e de Netanyahu. Sua origem está nas guerras coloniais que o Ocidente faz há cinco séculos, em nome de sua “civilização”
Eu era repórter doNew York Times, durante o cerco a Sarajevo. Nunca enfrentamos o nível de bombardeamento de saturação e o bloqueio quase total de alimentos, água, combustível e medicamentos que Israel impôs a Gaza. Nunca tivemos de suportar centenas de mortos e feridos por dia. Nunca enfrentamos a cumplicidade da comunidade internacional com a campanha sérvia de genocídio. Nunca suportamos a intervenção de Washington para bloquear resoluções de cessar-fogo. Nunca enfrentamos carregamentos maciços de armas dos EUA e de outros países ocidentais para sustentar o cerco. Nunca enfrentamos que notícias provenientes de Sarajevo fossem sistematicamente desacreditadas e rejeitadas pela comunidade internacional, embora 25 jornalistas tenham sidomortosna guerra pelas forças sérvias sitiantes. Nunca toleramos que os governos ocidentais justificassem o cerco como o direito dos sérvios de se defenderem, embora as forças de manutenção da paz da ONU enviadas para a Bósnia tenham sido em grande parte um gesto de relações públicas, ineficazes para travar a matança até serem forçadas a responder aosmassacresque tiraram a vida de 8 mil homens e meninos bósnios em Srebrenica.
Não pretendo minimizar o horror do cerco de Sarajevo, que me dá pesadelos quase três décadas depois. Mas o que sofremos – trezentos a quatrocentos bombardeamentos por dia, quatro a cinco mortos por dia e duas dúzias de feridos por dia – é uma pequena fração da morte e destruição em massa em Gaza. O cerco israelense a Gaza assemelha-se mais ao ataque da Wehrmacht [as forças armadas alemães durante o cerco nazista] a Stalingrado, em que mais de 90% dos edifícios da cidade foram destruídos, do que a Sarajevo.
Na sexta-feira, a Faixa de Gaza teve toda a sua comunicação cortada. Ficaram sem internet. Sem serviço telefônico. Sem eletricidade. O objetivo de Israel é perpetrar o assassinato de dezenas, provavelmente centenas de milhares de palestinos e fazer alimpeza étnicadaqueles que sobreviverem em campos de refugiados no Egito. Trata-se de umatentativade Israel deapagarnão apenas o povo, mas a ideia da Palestina. É umcópiadas campanhas maciças de massacre racializado levadas a cabo por outros projetos de colonização que acreditavam que a violência indiscriminada e generalizada poderia fazer desaparecer as aspirações de um povo oprimido, cujas terras roubaram. E tal como outros autores de genocídio, Israel pretende mantê-lo escondido.
A campanha de bombardeamento de Israel matou mais de 7.300 palestinos, quase metade dos quais crianças, juntamente com 26 jornalistas, profissionais de saúde, professores e funcionários das Nações Unidas. Cerca de 1,4 milhão de palestinos em Gaza foramdeslocados, e cerca de 600 mil estãodesabrigados. Mesquitas, 120 instalações de saúde, ambulâncias, escolas, blocos de apartamentos, supermercados, estações de tratamento de água e esgoto e centrais elétricas foram reduzidos a escombros. Hospitais e clínicas, sem combustível, medicamentos e eletricidade, foram bombardeadas ou estão fechadas. A água limpa está acabando. Gaza, no final da campanha de terra arrasada de Israel, será inabitável, uma tática que os nazistas empregavam regularmente quando enfrentavam a resistência armada, incluindo no Gueto de Varsóvia e, mais tarde, na própria Varsóvia. Quando Israel terminar, Gaza, ou pelo menos Gaza como a conhecíamos, não existirá.
Não só as táticas são as mesmas, também aretóricaé igual. Os palestinos sãochamadosde animais, bestas e nazistas. Eles não têm o direito de existir. Seus filhos não têm o direito de existir. Eles devem ser extirpados da terra.
O extermínio daqueles cujas terras roubamos, cujos recursos saqueamos e cujo trabalho exploramos está codificado no nosso DNA. Pergunte aos nativos americanos. Pergunte aos indígenas. Pergunte aos congoleses. Pergunte aos Kikuyu no Quênia. Pergunte aos Herero na Namíbia que, tal como os Palestinos em Gaza, forambaleadose levados para campos de concentração no deserto, onde morreram de fome e doenças. Oitenta mil deles. Pergunte aos iraquianos. Pergunte aos afegãos. Pergunte aos sírios. Pergunte aos curdos. Pergunte aos líbios. Pergunte aos povos indígenas em todo o mundo. Eles sabem quem somos.
A face distorcida da invasão colonial de Israel pertence a nós. Nós fingimos ser outra coisa. Atribuímos a nós próprios virtudes e qualidades civilizatórias que são, como em Israel, justificativas frágeis para privar um povo ocupado e sitiado dos seus direitos, confiscando as suas terras e recorrendo à prisão prolongada, à tortura, à humilhação, à pobreza forçada e ao assassinato para mantê-los subjugados.
O nosso passado, incluindo o nosso passado recente no Oriente Médio, baseia-se na ideia de subjugar ou exterminar as raças “inferiores” da terra. Damos a essas raças “inferiores” nomes que personificam o mal. Estado Islâmico. Al Qaeda. Hezbolá. Hamas. Usamos insultos racistas para desumanizá-los. “Haji” “Sand Nigger” “Camel Jockey”, “Ali Baba”, “Dung Shoveler”. E então, porque eles personificam o mal, porque eles são menos que humanos, sentimos ter uma licença para – comodisseNissim Vaturi, membro do parlamento israelense pelo Likud, partido do governo – apagar “a Faixa de Gaza da face da terra”.
Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro de Israel, em entrevista àSky Newsem 12 de outubro,disse, “Estamos lutando contra os nazistas” – em outras palavras, contra o mal absoluto.
Para não ficar atrás, primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa coletiva de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz,descreveuo Hamas como “os novos nazistas”.
Pense sobre isso. Um povo, preso no maior campo de concentração do mundo durante 16 anos, a quem foi negada comida, água, combustível e medicamentos. Sem exército, força aérea, marinha, unidades mecanizadas, artilharia, comando e controle e baterias de mísseis, que está sendomassacradoesubmetido à fomepor uma das forças militares mais avançadas do planeta – e eles são osnazistas?
Há uma analogia histórica aqui. Mas não é algo que Bennett, Netanyahu ou qualquer outro líder israelita queira reconhecer.
Quando aqueles que estão ocupados se recusam a se submeter, quando continuam a resistir, abandonamos toda a pretensão da nossa missão “civilizadora” e desencadeamos, como em Gaza, uma orgia de massacre e destruição. Ficamos bêbados de violência. Essa violência nos deixa loucos. Matamos com ferocidade sem limites. Tornamo-nos as feras que acusamos os oprimidos de serem. Expomos a mentira da nossa alardeada superioridade moral. Expomos a verdade fundamental sobre a civilização ocidental: somos os assassinos mais implacáveis e eficientes do planeta. Só por isso dominamos os “miseráveis da terra”. Não tem nada a ver com democracia ou liberdade. Estes são direitos que nunca pretendemos conceder aos oprimidos.
“Honra, justiça, compaixão e liberdade são ideias que não têm adeptos”, lembra-nos Joseph Conrad, autor deNo coração das trevas. “Só existem pessoas, sem conhecimento, compreensão ou sentimentos, que se intoxicam com palavras, repetem palavras, gritam-nas, imaginando que acreditam nelas sem acreditar em mais nada senão no lucro, na vantagem pessoal e na própria satisfação.”
O genocídio está no cerne do imperialismo ocidental. Não é exclusivo de Israel. Não é exclusivo dos nazistas. É o alicerce da dominação ocidental. Os partidários do “intervencionismo humanitário” que insistem que devemos bombardear e ocupar outras nações porque somos a encarnação da bondade – embora promovam a intervenção militar apenas quando esta é percebida como sendo do nosso interesse nacional – são idiotas úteis da máquina de guerra e do imperialismo global. Eles vivem em um conto de fadas de Alice no País das Maravilhas, onde os rios de sangue que geramos tornam o mundo um lugar melhor e mais feliz. Eles são os rostos sorridentes do genocídio. Você pode assisti-los em suas telas. Você pode ouvi-los proclamar sua pseudomoralidade na Casa Branca e no Congresso. Eles estão sempre errados. E eles nunca vão embora.
Talvez sejamos enganados pelas nossas próprias mentiras, mas a maior parte do mundo nos vê – a nós e a Israel – com clareza. Eles entendem nossas tendências genocidas, classificam a hipocrisia e a justiça própria. Eles veem que os palestinos – em grande parte sem amigos, sem poder, forçados a viver em campos de refugiados miseráveis ou na diáspora, privados da sua pátria e eternamente perseguidos – sofrem o tipo de destino outrora reservado aos judeus. Esta, talvez, seja a ironia trágica final. Aqueles que anteriormente necessitaram de proteção contra o genocídio, agora, cometem-no.
247 -Um mês após o início do conflito entre Israel e a Palestinoa, a Faixa de Gaza, onde se concentram mais de 2,1 milhões de palestinos, enfrenta um cenário desolador, com prédios destruídos e a infraestrutura reduzida a escombros. Além disso, os moradores relatam que os corpos estão sendo enterrados em valas comuns e os hospitais estão realizando cirurgias em condições precárias, faltando até mesmo anestesia para atender os feridos.
“Havia apenas o cheiro de cadáveres e pólvora”, disse Ameen Abed, que morava em Jabaliya, local que foi severamente afetado por ataques aéreos israelenses, destacaO Globocitando o jornal estadunidense The New York Times.
Ainda conforme a reportagem, o representante da instituição de caridade de saúde MedGlobal, Rajaa Musleh, definiu a situação nos hospitais de Gaza como "miserável". Com recursos escassos, os hospitais enfrentam a falta de insumos e equipamentos, impactando especialmente o atendimento a crianças, que representam metade da população de Gaza. "A situação nos hospitais é miserável… De fazer você chorar. Não há equipamentos, as pessoas ficam amontoadas umas em cima das outras", disse ela à CNN.
Segundo a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), dos mais de 10 mil mortos na Faixa de Gaza, cerca de 4,1 mil mortos são menores de idade.
Profissionais de saúde, como Alaa Shitali do Hospital al-Shifa, relatam trabalhar sem parar, enfrentando uma carga insuportável. A organização Médicos do Mundo denunciou condições precárias nos hospitais, onde cirurgiões são obrigados a operar no chão e realizar procedimentos sem anestesia devido à falta de material. A médica Tanya Haj-Hassan, dos Médicos Sem Fronteiras, ressaltou a escassez de medicamentos essenciais.
“Ao menos 10.584 prédios da Faixa de Gaza foram atingidos desde o início da contraofensiva israelense, após os ataques do grupo terrorista Hamas contra civis no dia 7 de outubro. O levantamento foi feito pelo Centro de Satélites das Nações Unidas (UNOSAT), que analisou as imagens do território palestino. Os dados anteriores davam conta de mais de 8 mil edificações danificadas, mas a divulgação, nesta quarta-feira, de um novo mapa com os danos causados em todo o território de Gaza fizeram os números cresceram novamente”, destaca a reportagem.
O brutal impacto do conflito entre Israel e Hamas nas crianças de Gaza
Netanyahu vai parar o massacre dos inocentes antes do Natal, dia que os cristãos festejam o nascimento do Messias? De Jesus?
Com imagens pertubadoras, BBC News publica reportagem que informa:
Crianças da Faixa de Gaza têm sido as principais vítimas do conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas.
As crianças são cerca de 40% do total de mortos no território. Leia aqui
Reportagem de Dalia Haidar, no BBC Newz, apresenta "Quem são os cristãos de Gaza, agora abrigados em duas igrejas, uma delas já bombardeada. Leia aqui
Netanyahu o rei Herodes e a matança
dos pequenos inocentes
Antes do Natal
Por Oussama El Ghaouri - Rádio Nacional - Brasília
O secretário-geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, disse nesta segunda-feira (6) que a Faixa de Gaza está se tornando um cemitério para crianças.
A madrugada foi de fortes bombardeios em Gaza. O território passou a noite sem internet. Mas os poucos relatos que chegaram são de que foi o ataque mais intenso desde o início da guerra.
Na manhã desta segunda-feira, sobreviventes procuravam por mortos e feridos nos escombros no campo de refugiados de Maghazi. O hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza também foi atingido. Segundo um funcionário das Nações Unidas, 200 pessoas morreram na noite de domingo no ataque ao hospital.
O Al-Shifa abriga no momento cerca de 50 mil civis que foram desalojados. Israel ordenou a evacuação do local. Mas a população diz que não tem pra onde ir.
O exército de Israel anunciou que concluiu o cerco à cidade de Gaza, no norte. E que dividiu a Faixa de Gaza em duas. Há agora apenas um corredor que separa o norte do sul do território. Por ele, civis podem ir em direção ao sul. O lado norte é onde os ataques estão mais intensos. Mas o sul também não é seguro. A cidade de Khan Younis, onde estão muitos dos que aguardam para sair de Gaza, também foi atingida hoje.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 10 mil civis foram mortos desde o início do conflito. Israel e os Estados Unidos contestam os números. Mas a Organização Mundial de Saúde diz que é provável que ele seja real. Hoje o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, voltou a pedir cessar- fogo. Ele afirmou que as operações terrestres das Forças de Defesa de Israel atingem civis, hospitais, campos de refugiados, igrejas e instalações da ONU - incluindo abrigos. E que Gaza se tornou um cemitério para crianças.
Guterres também criticou o Hamas e disse que o grupo usa civis como escudo e segue lançando foguetes contra Israel.
Herodes, o Grande, e a matança dos pequenos inocentes: quem é grande e quem é pequeno?
Na juventude, ele matou Malic, o homem que tinha envenenado o seu pai. Ele prendeu o próprio irmão, Fasael, que, levado pelo desespero, acabou se suicidando. Ele matou a própria esposa, Mariamne I, e, alguns anos mais tarde, matou também os dois filhos que tinha tido com ela, Alexandre e Aristóbulo. Cinco dias antes de morrer, ele ainda mandou executar mais um filho, Antípatro, nascido de Dóris, que tinha sido outra das suas esposas.
Ele mandou construir obras à altura do que considerava a sua “grandeza”. Dedicou dez anos à reconstrução do Templo de Jerusalém, aquele mesmo templo a respeito do qual, certa vez, disseram fascinados os discípulos de Cristo: “Olha, Mestre, que pedras e que construções!” (Mc 13,1). Mas nenhuma pedra restou sobre pedra quando o templo, feito por mãos humanas, foi destruído na guerra judaica de 67-70 d.C.
E não foi só o templo ao Deus dos judeus que ele mandou construir. Ele também ordenou a edificação de templos pagãos, inclusive em honra do “divino Augusto”, o imperador romano. Ele fez em Jerusalém um teatro e um anfiteatro. Depois de reformar a fortaleza dos macabeus, ele mudou seu nome para Fortaleza Antônia, em bajulação ao seu protetor romano, Marco Antônio. Ele mandou edificar um magnífico palácio real ao noroeste da cidade. Ele revitalizou a cidade de Samaria, que rebatizou como Sebaste em bajulação a Augusto – porque Sebastos é o termo original grego para o latinizado Augustus. Ele mandou construir o palácio-fortaleza Haerodium, ao sul de Belém. Ele fez levantar Cesareia Marítima, a nova capital, na costa do Mar Mediterrâneo.
Ele se sentava ao trono de uma corte pagã que em muito sobrepujava todas as outras do Oriente em podridão e obscenidade.
Ele queria ser um dos “grandes” da história.
E a história, sempre disposta a bajular de alguma forma os humanamente poderosos, lhe concedeu o título tão obsessivamente desejado.
Ele é Herodes, o Grande.
Mas Herodes, o Grande, ficou, certo dia, profundamente perturbado (cf. Mt 2,3).
É que alguns magos lhe tinham anunciado que havia nascido o “Rei dos judeus”. E a suposta “grandeza” de Herodes, daquele momento em diante, se apequenou ainda mais até ficar do tamanho de uma única e determinante preocupação: “Quem era esse que poderia derrubá-lo do trono?”.
O grito de alarme latejava em sua mente doentia e fez a sua desumanidade conceber mais um monstro: se o “Rei dos judeus” tinha nascido havia pouco tempo, não poderia ter mais de um ano de idade. Talvez um ano e meio. Como identificá-lo? Não precisava identificá-lo. Bastava destruí-lo, quem quer que fosse. Bastava exterminar todas as crianças de até dois anos de idade.
E Herodes, o Grande, o fez.
***
Passou-se o tempo.
Depois de seis meses de uma enfermidade cruel e devastadora, imune às “grandezas” dos homens e acompanhada por um cortejo de vermes que já em vida lhe corroíam o corpo, morre em Jericó o rei Herodes, o Grande.
Flávio Josefo, o célebre historiador daqueles tempos, relata que o funeral do “grande” rei foi do máximo esplendor: seu cadáver, apodrecido em todos os sentidos, jazia sobre uma liteira de ouro, cravejada de pérolas e pedras preciosas de várias cores, recoberta de um manto púrpura; também o morto vestia púrpura e uma tiara à qual se sobrepunha uma coroa de ouro; à sua direita jazia o cetro.
Mas os seis meses de agonia dolorosa não tinham acendido na alma cruel daquele rei nenhuma centelha de consciência. Longe disso: Herodes, o Grande, ainda maquinou sua barbaridade derradeira e deu ordens à irmã, Salomé, para prender todos os nobres do reino em Jericó para serem executados no mesmo instante em que ele morresse.
Segundo Flávio Josefo, Herodes teria dito a Salomé: “Sei que os judeus festejarão a minha morte. No entanto, ainda posso ser chorado por outras razões e ter um funeral esplêndido se vós seguirdes minhas orientações. Esses homens que estão presos, quando eu expirar, matai-os todos, depois de rodeá-los de soldados, para que todos na Judeia e todas as famílias, mesmo não querendo, derramem lágrimas por mim”.
Salomé, felizmente, desobedeceu e libertou os prisioneiros após a morte do “Grande” irmão.
A tragédia arquitetada pelos “Grandes” da história, porém, nunca terminou. De “Grande” em “Grande”, a chacina dos inocentes continua até o nosso tempo, muito embora também prossigam as grandiosas construções voltadas a aumentar a aparência de grandeza da nossa civilização e do seu poderio material. Entre as faraônicas e mirabolantes obras que a grandeza humana não cessa de incrementar, permanece vivo Herodes, o Grande, na violência, na corrupção, na promiscuidade, no assassinato, na guerra, na exploração, na fome e, muito significativamente, no extermínio voluntário e implacável dos pequenos inocentes. Herodes vive.
Mas ele não consegue matar Jesus.
Não consegue porque, hoje como ontem, mesmo no meio da mais densa das noites, Deus sempre manda anjos a milhares de Josés que ainda ouvem seus conselhos e se dispõem, com prontidão, a renunciar a tudo a fim de salvar a vida dos pequenos e inocentes.
Josés sonhadores, talvez, aos olhos dos homens. Mas muito despertos aos olhos de Deus.
Bombardeados mais de 2 milhões de crianças, mulheres e velhos sem água, sem alimentos, sem medicamentos e sem fuga por terra, mar e ar
De acordo com estatísticas divulgadas nesta sexta-feira (27) pelo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, os bombardeios fizeram 7.326 vítimas, incluindo 3.038 menores de idade, desde 7 de outubro. Outras 18.967 pessoas ficaram feridas. Entre os israelenses, a contagem chega a 1,4 mil mortos. Nesta sexta, Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou resolução que pede trégua humanitária em Gaza.
Vídeo: Israel corta comunicações de Gaza com o mundo e intensifica bombardeios. Enquanto isso, Assembleia geral da ONU aprova resolução de cessar-fogo, mas com votos contrários de EUA e Israel.
Vídeo: Com o voto do Brasil, sob aplausos e sem mencionar o Hamas, a Assembleia Geral da ONU aprovou por ampla maioria uma resolução que pede uma "trégua humanitária" na Faixa de Gaza.
Sob terror e escombros, humanidade e poesia. Crônica da guerra, por uma escritora palestina. A família confinada em Gaza. As bombas gritam, os telefones se calam. As mortes que não contam. Em meio ao terror de Israel, a Palestina viverá
Acordo cedo, de maneira estranha, em 7 de outubro, sonolenta após uma noite que terminou tarde. Coloco a chaleira para ferver e ligo o rádio na BBC. Um momento depois, ouço um noticiário que começa com “Lutadores palestinos de Gaza cruzaram a fronteira para Israel…”. Viro na direção do som desencarnado. Estou acostumada a acordar com notícias de violência na Cisjordânia – pelo menos uma manhã a cada semana começa assim, com uma história de ataques de colonos ou outra incursão do exercito de Israel. Labib Dumaidi, um estudante universitário palestino de dezenove anos, foi baleado ontem durante outro pogrom em Huwara, na Cisjordânia. Mas este relato é algo diferente, e minha mente luta para compreender as palavras. Gaza? Como?
* * *
Uma imagem: uma escavadeira estoura uma cerca em torno a Faixa de Gaza, vinda de Israel, e corpos passam pela abertura. Fora da câmera, um homem rouco grita em árabe: “Quebrei! Deus é grande! Quebrei!” Por um instante, Gaza já não significa inacessível, encurralada, inerte. Toda a minha vida, esse nome tem sido uma dor, amada e intransponível, íntima e fora de alcance. É a terra onde meu pai nasceu como refugiado, um lugar que ele amou apesar da Grande Tragédia [Nakba] que enroscou sua família por lá. Gaza, um lugar que nasceu em mim da primeira vez que ele me contou histórias do mar. Quando tinha seis anos, ele mergulhava no Mediterrâneo a caminho de casa, nadando nu na água até que seu irmão chegasse para puxá-lo de volta. Vejo Gaza retornar em seus olhos cada vez que ele avista as ondas.
Gaza, também o lugar onde meu pai viu minha avó cavar trincheiras à medida que se aproximava a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Ele não entendeu as valas até que os aviões rasgaram o céu. Por toda a vida, lamentei os familiares mantidos cativos lá, suas vidas tornando-se mais desesperadas a cada ano de cerco que começou em 2007. Prendi a respiração com eles através de quatro guerras, seus corpos presos sob céus em queda, impedidos de qualquer fuga. Um massacre tão rotineiro que Israel o chama de “aparar a grama”. Minha família e dois milhões de outros, enjaulados por um poder nuclear que os chama de ervas daninhas. Muitas vezes desesperei que jamais viveria para vê-los livres.
No entanto, por um instante, vendo aqueles corpos correndo sob o sol, parece absurdamente simples. Um muro é apenas um muro.
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“Lutadores palestinos romperam as barreiras israelenses…”. Aguardo a inevitável sequência – notícias de que esses guerrilheiros em potencial foram mortos, como é o destino da maioria dos palestinos que se rebelam. Em vez disso, ouço que dezenas de israelenses foram mortos – a contagem acabou de começar. Ruptura. O único status quo que já conheci – aquele em que qualquer violência desvia-se para a morte brutal dos palestinos – foi, ainda que brevemente, derrubado. Uma sensação estranha: minha visão embaçando, meu corpo se dividindo ao meio, as partes se separando. Meu corpo sabe o que ainda está além da minha capacidade de compreensão. Uma história terminou, e estamos caindo, já sangrando, na próxima.
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Começam a chegar mensagens de um dos meus primos em Gaza começam: “Exatamente às seis e trinta [em 7 de outubro], acordamos com o som de mísseis partindo da Faixa de Gaza como relâmpagos. A pergunta repetida por todos foi: ‘O que está acontecendo???’. . . A situação até este momento não é nada. . . mas tememos a resposta da ocupação. Eles não nos deixarão dormir esta noite. . . Pedimos a Deus segurança. . .”
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Levará dias para saber o número final de israelenses mortos pelo Hamas. Mas quando ultrapassa cem, entro em pânico. Embora meu estômago se revolte com imagens dos mortos, tenho certeza de que eles já estão sendo metabolizados pela máquina sionista. Receio a maneira como a violência – tanto real quanto fabricada – será alavancada para lançar um arsenal do tamanho de um século em uma jaula humana. Este é o cálculo cruel de nossa opressão: minha compaixão pelos mortos é ofuscada pelos números altos de nossos já mortos e dos que em breve morrerão.
“Eles nos chamam de terroristas, Sarah”. A voz do meu pai está perplexa, ferida. Por trinta anos, ele esperou, certo de que os Estados unidos retribuiriam seu amor. Estamos falando no domingo, 8 de outubro, e as últimas 36 horas passaram por nós como dentes. “Eles chamaram isso de massa…?”. Sua boca gagueja a palavra em inglês. “Massacre, Baba. Isso significa matar em grande escala. E sabe de uma coisa? Acho que foi um massacre… Muitas pessoas foram mortas”. Na cozinha, meu parceiro judeu mantém-se discreto sobre o fogão, preparando comida que não iremos provar. Meu pai suspira. Estamos nos afogando em um luto complexo.
É uma pesar muito maior que as palavras. Grande o suficiente para reconhecer a dor judaica, tanto recente quanto histórica. Como palestina, recuso-me a imitar o opressor negando a humanidade dos falecidos. Mas essa tristeza situa-se dentro da cratera da certeza de que o mundo continuará a recusar a nossa. É um abismo esculpido por décadas de discurso, no qual apenas certos corpos sangram. Dentro deste consenso, não há desapropriação violenta da nossa terra, nenhuma forma aceitável em que possamos resistir às nossas muitas mortes lentas e instantâneas. Recusa o fato de que, por décadas, enterramos centenas de mortos para cada israelense morto. Nesse olhar seletivo do Ocidente, só há a nossa barbárie, que deve ser brutalmente contida.
Para o meu pai e para mim, o assassinato de cidadãos israelenses em 7 de outubro vibra com uma familiaridade primal, uma espécie de déjà vu. Minha família foi expulsa etnicamente da região a nordeste da Faixa de Gaza durante a Nakba em 1948 – bem perto do local dos ataques. Muitos dos meus parentes perderam irmãos, pais e filhos para balas e bombas sionistas. O horror vivenciado em 7 de outubro pareceu estranho, como se eu já tivesse visto isso antes. Essa ressonância não mistura tristezas ou histórias únicas, mas para nós a terra há muito tempo está assombrada, o chão já está manchado. Por mais chocados que estejamos com os ataques, também os vemos pelo que são – as convulsões inevitáveis de um corpo político violento. A erupção de uma verdade purulenta: a de que um regime deapartheidé sempre um território de morte.
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Passei a maior parte de 2023 em uma profunda depressão, que se enraizou durante uma visita à Palestina em março. Enquanto estava lá, senti o sabor de eletricidade de cobre no ar. As condições materiais atingiram novos níveis de miséria absurda. Recordes de violência foram quebrados e quebrados novamente, enquanto o governo de extrema direita de Israel se regozijava na linguagem do genocídio. Das colinas da Cisjordânia devoradas por assentamentos ilegais a Jerusalém segregada, um sentimento selvagem pairava vermelho e espesso. Uma vibração, ameaçando se tornar um grito.
Voltei para as chuvas de abril. Minhas entranhas estavam secas como ossos. “Sinto que algo violento está iminente”, disse ao meu parceiro. Diante de mim, vi anos longos e lentos de perda angustiante. Vi levante. Vi nossas ruas banhadas em sangue.
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O breve silêncio do Ocidente é substituído por um rugido. Políticos de Washington a Bruxelas gritam com uma sincronia que parece ensaiada. Apenas horas se passam antes que a justa tristeza pela perda de vidas judias seja transformada em declarações de guerra. Pedidos para “arrasar” e “liquidar” conosco. Demandas de “nenhuma restrição” [à ação de Israel]. Somos declarados “animais” pelo ministro da Defesa de Tel Aviv, e o consenso ocidental concorda – senadores dos EUA nos chamam de selvagens, que merecem ser aplainados no chão. Um segundo tipo de déjà vu: o de meus piores pesadelos, realizados. A retórica da guerra ao terror é reprisada; palestinos, muçulmanos, ISIS e Hamas são reduzidos a um monte degradado. As facções antiárabes mais extremas de Israel estão em alta, enquanto celebridades e governos ocidentais ecoam os clamores do pós-11 de setembro de bem contra o mal. A própria noção de civis palestinos desaparece. Este é o primeiro tipo de morte.
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“Você acha que o Hamas matará os reféns?” Meu pai pergunta ao telefone. “Não faço ideia, Baba. Acho que eles querem trocá-los por prisioneiros palestinos.” “Ahhhh. Eu realmente espero que eles não os matem. Isso não é… não queremos isso.” “Não. Isso não é o que queremos.”
Meu primo em Gaza manda outra mensagem: “Agora estamos todos reunidos em um quarto, ouvindo as notícias no rádio e também pelas redes sociais. Meu irmão Mahmoud [nove anos] sempre sente medo em todas as guerras, e tentamos acalmá-lo. Ele pergunta: ‘Como é a morte?’ Ele chora, ‘Tenho medo de morrer’. Ele não quer comer nada e está muito assustado. Tentei fazê-lo assistir a um filme até que esquecesse, mas ele ainda pensa na morte e pergunta: ‘Como é a morte e o que sentimos quando morremos?’ Seu rosto está pálido. . . Sinto um sentimento estranho e diferente.”
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Alguns leitores esperam que eu denuncie a resistência violenta. Eles imaginam que, sem essa garantia, que não pedem de nenhum israelense, não tenho o direito de falar. Acreditam ter direito a uma versão de palestina que abre mão de tudo o que o liberalismo branco oferece a nossos opressores e a si mesmo: o direito de existir, o direito à autodefesa. Eles criminalizaram nossas formas não violentas de protesto, mataram manifestantes pacíficos, prenderam nossos poetas e assassinaram nossos jornalistas. Eles não acreditam em nosso sofrimento histórico ou contemporâneo. Ao mesmo tempo, acreditam que é nosso estado natural – parte da paisagem marrom e nebulosa do chamado “mundo árabe”. É uma abjeção que devemos aceitar, em silêncio e acima da dor dos nossos mortos.
E nossos mortos – oh, nossos mortos. Às vezes me pergunto se morremos de verdade. Quando centenas de manifestantes pacíficos de Gaza foram abatidos por soldados israelenses, nós os contamos sozinhos. Este ano, até o dia anterior aos ataques do Hamas, os palestinos foram assassinados a uma taxa de cerca de um por dia – mais de duzentos até 6 de outubro. Para nós, até funerais podem se tornar cenas de assassinato ou lugares para ataques de soldados.
Se um assassino não se incomoda em cobrir seus rastros, eles realmente mataram?
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Estou empenhada em manter minha humanidade. Leio testemunhos de israelenses das áreas visadas pelo Hamas. Quase invariavelmente, eles narram a busca de esconderijo em uma área segura, um abrigo destinado a proteger a vida. Um homem diz ao New York Times: “Em cada casa em nossa comunidade [perto da fronteira com Gaza], há o que chamamos de uma área segura, que é um construída com concreto muito forte e tem um tipo especial de porta, supostamente resistente à queda de morteiros e foguetes. É geralmente onde as crianças dormem”. Acho esse detalhe tão arrepiante. Eu me pergunto, em que tipo de mundo alguém imagina que vive, em que tais estruturas são normalizadas? Que tipo de status quo alguém aceita, em que seus filhos se abrigam dessa maneira todas as noites? Realmente parece paz? Será que ocorre aos arquitetos se perguntar o motivo de os foguetes serem lançados? Ou essa sociedade aceitou completamente que os morteiros lançados de Gaza são apenas mísseis de ódio? As filhas deles não sentem falta de acordar com o sol?
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Mensagem da minha prima. Uma casa em sua rua, no Campo de Refugiados de Nuseirat, é bombardeada. Outras pessoas são mortas enquanto compram comida em um mercado próximo. Quando pedem para fugir, ela responde: “Não sabemos para onde ir… Eles tratam as pessoas de Gaza como monstros. Por quê?”
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Rehan, uma jornalista de Gaza em seus vinte anos, usa a bateria do telefone que está acabando para gravar um diário em áudio. Coloca sua filha na cama. Abre a janela para alimentar um gato faminto. Diz ao gravador: “Minha gata Yara teve três gatinhos adoráveis há três semanas… mas como posso cuidar deles agora?” Por trás de sua voz, há o som de bombas caindo.
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Segunda-feira, 9 de outubro. A previsão em Gaza é de tempo ensolarada com nuvens passageiras. Eu acordo em Nova York. O ar está frio.
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“Cinco em Khan Younis”, diz meu pai. Está falando dos nossos parentes mortos. Não usa a palavra mortos. “Cinco se foram em Khan Younis”, ele diz. “Apenas duas crianças sobraram.”
الله يرحمهم.
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“Mas e o Hamas?” Cresci com esta pergunta sendo lançada em minha cara toda vez que declarava o direito de meu povo à sobrevivência. “E o Hamas?” Não importava se eu acabara de pedir água limpa ou o direito de retornar à nossa terra roubada. “E o Hamas?”, perguntavam, mantendo minha humanidade como refém. Seus sorrisos presunçosos a esta pergunta, que eles viam como um golpe retórico. Eu lhes dei horas, páginas das minhas palavras. Enchi salas com o meu hálito quente, ofegando: “Nós não somos terroristas – o Hamas é um sintoma da opressão – sim, claro que condeno o extremismo – esta é uma luta pelos direitos humanos – Israel sustentou o Hamas por anos – por favor, olhe para nossas crianças – por favor, você não vê nossos idosos indefesos? – por favor, se você não nos respeita como seres humanos, poderia poupar um pouco de piedade?”
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Outra tia desaparece.
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“Seu nariz está sangrando”, meu parceiro aponta enquanto choro.
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Israel anuncia que a fronteira com Gaza está novamente “totalmente segura”.
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O telefone da minha prima está morrendo; Israel cortou toda a eletricidade, gás, água e comida. “Também sentimos cheiro de fumaça agora. Acho que é gás [branco] de fósforo que eles jogaram no céu hoje”, ela manda mensagem. “Me sinto sufocada por isso. Meu amigo morreu inalando gás de fósforo branco na guerra de 2008.”
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Você está bem? Você está bem? Você está bem? Você está bem?
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A matemática do apocalipse: 1,1 milhão intimados a evacuar o norte de Gaza em vinte e quatro horas. Pediram a mais de um milhão que empurrem seus corpos para um pedaço de terra onde mais de um milhão de corpos já estão.
Isso não é algo que corpos humanos possam fazer. Notícias de nossa não existência vêm e vêm novamente.
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Atravesso uma passarela de pedestres em Queens várias horas antes do amanhecer. Eu me curvo. Minha mão está na minha boca. Não sei mais como mover o ar para dentro ou para fora.
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Como é ficar à beira da aniquilação? Só posso falar do meu ponto, distante alguns graus do epicentro da guerra. Aqui, parece que estou caindo por uma garganta infinita. É a incredulidade misturada com a sensação de que este dia já chegou. É saber que qualquer possível sobrevivência estará inscrita na consciência de que este planeta é um lugar onde seu extermínio foi decretado, e milhões o acolheram.
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Um amigo palestino me manda uma mensagem: “Você já comeu hoje?”
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Outro me manda mensagem de sua casa na Cisjordânia, onde mais de trinta palestinos foram mortos em uma semana. “É difícil, mas apenas nos tornará mais determinados a sermos livres.”
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Os Estados Unidos anunciam que duplicarão sua presença militar no Oriente Médio. Eu fico acordada até tarde em um quarto cheio de amigos libaneses e sírios, cercada por fantasmas.
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O desafio: manter um senso de agência no meio de formas sobrepostas de déjà vu; reconhecer que o ímpeto de um século de tentativas de apagamento está por trás dos eventos atuais e, no entanto, resistir ao desespero. Acreditar, até insistir, que de alguma forma ainda é possível deter a máquina imperialista genocida.
É uma esperança que morre e ressuscita a cada hora. Revivida, incontáveis vezes, pela narrativa em mudança radical nas ruas. Em mais de dez anos de organização em prol das vidas palestinas, nunca vi tanta solidariedade vibrante, diversa e urgente. A mudança que senti em 2021, quando um ciclo anterior de brutalidade israelense instigou protestos em massa de um público pós-George Floyd, parece ter se mantido. Embora eu tenha cuidado em confiar no meu feed de mídia social para refletir a realidade política, estou chocada com o volume da resposta antissionista de base.
Meu telefone é inundado com mensagens de texto e postagens em redes sociais de amigos, colegas e figuras culturais de todo o mundo. Esmagadoramente, as mensagens reconhecem o contexto do colonialismo e da violência desproporcional, bem como a piora da crise humanitária em Gaza. Tentando subverter uma resposta da mídia norte-americana lamentavelmente distorcida, os amigos compartilham relatos de organizações humanitárias e jornalistas independentes no local. Postagens de judeus antissionistas proclamam este como um momento para cumprir o juramento de “nunca mais”. Meu parceiro, membro ativo da Jewish Voice for Peace, participa de ações diárias enquanto o grupo denuncia a manipulação do luto.
Mais importante talvez, seja o rápido movimento para as ruas. Dezenas de milhares se reúnem de cidade em cidade, bandeiras palestinas voando de Nova York e Londres a Bagdá e Kuala Lumpur. Manifestações pró-Palestina são proibidas na França, Viena e Berlim. Manifestantes franceses, desafiando essas ordens, são pulverizados com gás lacrimogêneo. Centenas de ativistas judeus bloqueiam a casa do senador Chuck Schumer no Brooklyn, protestando contra seu apoio enfático aos bombardeios israelenses. Dezenas, incluindo descendentes de sobreviventes do Holocausto, são presos. “Isso parece diferente”, sussurramos eu e meus amigos um para o outro. A pergunta que não fazemos: Vai durar?
Há momentos que sempre desafiarão palavras. Há crimes tão hediondos que toda a alma humana estremece. Bombas atingem o Hospital al-Ahli em Gaza, matando pelo menos quinhentas pessoas. A negação de Israel segue rapidamente. Meios de comunicação norte-americanos, após inicialmente relatarem a bomba como israelense, logo se alinham sugerindo que os palestinos podem ser culpados.
الله يرحمهم.
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“Costumava ter esperança”, meu pai me diz ao telefone.
“E agora?”
“Eu não sei”, ele diz. “Eu não sei. Mas sei que continuaremos.”
Conheço essa verdade, embora não conheça sua forma. Não é necessário chamá-la de esperança, mas não se pode negar que o ethos palestino é esmagadoramente de vida. Insistimos em sobreviver, em amar mesmo as versões destroçadas da existência que nos foram concedidas. Somos mestres em paradoxo, criando beleza e cuidado dentro de jaulas, sob destroços. Somos fluentes em absurdo, mudando de forma para sustentar nossa humanidade dentro de paredes cada vez mais estreitas. Setenta e cinco anos de justiça adiada não apagaram nossa determinação de construir, reconstruir, escrever, casar, dar à luz, dançar, permanecer.
Mesmo assim, sabemos que merecemos muito mais, e por isso pressionamos contra nossa opressão com imaginação e amor desafiantes. Como a estudiosa palestina Sophia Azeb coloca, “Não estamos obrigados a estruturar nossas epistemologias, estéticas e políticas apenas dentro da arquitetura desta catástrofe.” Embora nunca tenhamos conhecido uma Palestina livre, nenhum número de bombas pode extinguir a vontade inata de viver com dignidade. Desta forma, nossa resistência é, para citar Mahmoud Darwish, incurável. Este é o cerne do problema de Israel – não se trata de barbárie palestina, mas de vida palestina. É uma praga para o projeto sionista, nossa recusa de um século em desaparecer. Continuará sendo uma praga enquanto o Estado de Israel existir como uma estrutura baseada em nossa morte. Israel está enganado se acredita que esta será a última palavra. A Palestina viverá.
“Eles estão ali para matar ou morrer e essas imagens mostram que são treinados para isso. Criminosos aprendem táticas de guerrilha onde vive gente que é de paz, as maiores vítimas dessa guerra”, assim começa a narração de uma reportagem doFantásticoque tinha potencial para ser um relevante mergulho na gestão que o Estado faz sobre os ilegalismos que ele mesmo se dispõe a combater e criminalizar, mas que, apesar de tudo, acabou recorrente ao sensacionalismo barato digno da Record às 18h, na hora do café da tarde.
A matéria em questão tem 11 minutos e é trabalhada em cima de filmagens do complexo de 16 favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, captadas pelos drones da Polícia Civil do Rio de Janeiro ao longo de dois anos. As imagens mostram jovens criminosos sendo treinados mal e porcamente por alguém, que pressupõe-se serem agentes de Estado (mais sobre isso depois), para melhorar o desempenho em conflitos armados contra policiais e membros de outros grupos; além disso, fica registrado também o dia a dia das bocas de fumo e o relaxamento de membros das facções em piscinas e quadras esportivas. Ao todo, após dois anos filmando-os, a polícia decidiu indiciar 1.100 pessoas. O que a Globo fez com esse material sintetizado acima?
Um show de pânico moral
Nos primeiros minutos, eles fabricam a ilusão de que o treinamento que aqueles relés traficantes de boca de fumo estão recebendo os deixa par-a-par com as forças armadas. Afirmação não só desproporcional, como absurdamente perigosa, uma vez que passa a legitimar midiaticamente uma atuação mais violenta da Polícia. Pois veja: se todo mundo achar que o tráfico é altamente capacitado para aniquilar as forças policiais, ficará mais fácil justificar um aumento no uso de força quando houver incursões às comunidades, as ditas operações.
Desde os tempos narrados por Caco Barcellos e Misha Glenny que os traficantes do Rio recebem treinos de militares e ex-militares. Conheci até, certa vez, um rapaz que, após terminar seu período como fuzileiro naval, repassou todo conhecimento que tinha para os jovens das bocas da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Um homem treinando aqui e acolá uma meia centena de rapazes que, em sua maioria, mal entraram na vida adulta versus o treinamento intenso, diário e que perdura por anos de um matador do Estado. É disso que estamos falando. Você pode por quantos treinadores for, mas um traficante nunca terá as condições de enfrentamento que as polícias têm. E isso tanto é prova que, apesar dos relatos decanos da prática de treinos de guerrilha aos criminosos, vê-se que o número de pessoas mortas pela polícia segue sendo de 6 mil em 2022 enquanto o de policiais mortos no mesmo ano foi de 171, sendo que mais da metade sequer estava em serviço. Ou seja, acontece o que acontecer, o Estado é mais bem equipado e treinado para aniquilar o outro, posto que exatamente por isso detém o monopólio da violência. Não é à toa que os entes do próprio Estado são os responsáveis por essa versão vagabunda de treinamento militar. Algo tão visivelmente vagabundo que na própria reportagem da Globo fica visível como os rapazes não conseguem fazer polichinelos ou flexões direito. Não têm pique, força ou técnica.
Outra ponto é que na irresponsabilidade de legitimar o discurso de medo e preparação para guerra que as polícias gostam de propagar aos quatro cantos, a Globo está também legitimando as chacinas e toda a longa jornada de operações que produzem o genocídio negro no Brasil. Basta ver que o Complexo da Maré foi vítima, segundo um relatório doGENI/UFF, de 23 chacinas, com 107 mortos ao todo, isso entre 2007 e 2022, configurando assim o segundo bairro da capital a mais ser afetado por chacinas policiais no Rio de Janeiro, com 107 mortos. Vítimas da violência estatal expressa nas mãos de Polícias que mais nada são do que facções legalizadas.
Ainda assim, independente das mortes e do fato de que os treinadores de traficantes pareçam ser pessoas oriundas do próprio Estado, a reportagem preferiu focar nos anseios e receios que os próprios policiais têm em relação ao panorama atual da criminalidade urbana. Tão afetados pelo discurso policialesco que estão que até a fonte especialista convidada a opinar sobre o fenômeno é o pesquisador Robson Rodrigues, um cientista social da UERJ conhecido por, outrora, ter pertencido às forças de matar do Estado. Este último, ao analisar as imagens dos criminosos em treinamento, não consegue pensar em resposta melhor para o problema do que a famosa ladainha do “investir em inteligência para fazermos operações mais precisas”, como se o problema não fosse a própria criminalização tácita da juventude negra periférica somado às necessidades do próprio Estado em gerar gestões eficientes para as ilegalidades que abarca sob uma tutela nunca assumida.
Jornalismo e ideologia
Por cegueira ideológica e contratos não escritos com as forças policiais — que só concordam em ceder imagens impactantes como essas contanto que não haja questionamentos à sua atuação —, a Globo vende a ilusão de um Estado, que deveria ser um agente de justiça, de um crime que é combatível sem que se modifique as estruturas sociais mais básicas, de uma política de segurança pública baseada na disseminação do medo para justificar o uso de força para algo que as próprias forças do Estado geram.
Afinal: a duas principais facções do país (PCC e CV) surgiram em reação às sistemáticas violações de direitos de presos; as milícias surgem e ainda se sustentam a partir de relações ilegais entre policiais e agentes de segurança do Estado num todo que tinham por intenção o lucro maximizado ao dominar territórios marginais da Zona Oeste; o jogo do bicho só se torna um fenômeno empresarial insuperável a partir da ditadura, quando o regime passa a ajudá-los por baixo dos panos; todos os grupos armados do Rio e do Brasil constroem relações econômicas com agentes de Polícias, seja por suborno, contrato ou sociedade em negócios comuns. Poderia citar aqui as inúmeras formas como aqueles mesmos indivíduos que alertam para o medo de um tráfico mais especializado são, na verdade, os gestores de toda a “brincadeira” que decorre no nosso território. Das fronteiras ao tráfico de armas internas, só não enxerga essa complexa teia de relações quem prefere cair no maniqueísmo de nós (bons cidadãos protegidos pela lei) versus eles (os bandidos que merecem ser mortos).
A Globo, com todas as contradições e disputas internas que ocorrem quando repórteres com diferentes visões brigam pela narrativa oficial de uma pauta, acaba por, na maior parte do tempo, produzir reiterações do mesmo discurso punitivo que só serve para derramar o sangue dos meus.
Se tivessem a boa vontade de ir além do que os policiais querem que saia, a produção do Fantástico poderia ter feito uma investigação mais relevante sobre como funciona esse mercado de treinos de táticas de guerras para criminosos, pondo de forma clara o foco de luz sobre a própria produção estatal desses “treinadores do crime”. Se mais responsáveis, poderiam ter avaliado que estão falando de um território sensível ao se falar da Maré, que é dividida entre áreas de domínio armado de milícias e das facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro, o Complexo é um raro exemplo de convívio tão próximo de três grupos armados inimigos em um território tão pequeno. Talvez, justamente ao olhar para isso, conseguiriam reportar a verdadeira complexidade das relações entre facções. Certa vez, para uma reportagem que acabou saindo na Ponte Jornalismo, uma moradora da Maré me relatou que, para escapar do ex-abusivo, recorreu ao chefe do tráfico na favela em que morava para que ele mandasse um recado para o chefe da facção inimiga, que dominava o território em que morava o ex. Dito e feito, com o recado dado, o homem nunca mais a perturbou. Esse tipo de história explica muito mais do mundo do que a mesmice Global.
Mas o que esperar de uma equipe que numa reportagem de 11 minutos não soube diferenciar CV, TCP e milícias e não tratou de forma crítica o indiciamento de 1.100 pessoas, das quais, com certeza, a grande maioria ou não é diretamente envolvida com o crime ou pertence à ralé da ralé da hierarquia de suas redes criminais.
No dia 5 de junho deste ano, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal,manteve a ordem de uso de câmeras corporaispor policiais do Rio de Janeiro. Na ocasião, o magistrado lembrou que o prazo de 180 dias concedido pelo Plenário do STF ao governo fluminense, em fevereiro do ano passado, já havia se esgotado e questionou quanto tempo mais seria necessário para que fosse cumprida a determinação do Supremo, garantindo-se, assim, que todas as unidades de operações especiais estivessem usando as câmeras.
A ordem do ministro se deu na apreciação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 — conhecida como ADPF das favelas —, que tramita no STF desde 2019. A ação foi ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e questiona decretos estaduais relacionados à segurança pública frente às recorrentes violações de direitos humanos pelas forças policiais nas favelas do Rio.
Uma das decisões provocadas pela ADPF ocorreu em 2020. Na ocasião, o Supremo impôs novas restrições à atuação dos agentes de segurança pública fluminenses, como veto ao uso de helicópteros blindados como plataforma de tiros e às operações em perímetros escolares e hospitalares.
Essa decisãotambém foi desrespeitada pelo governo do Rio. Em maio de 2021, uma operação policial deixou 28 mortos na Favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro.
Na esteira das decisões que visavam a combater a letalidade policial no estado, Fachin determinou o uso de câmeras corporais (asbodycams) pelas forças de segurança fluminenses. Países como Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Chile e China utilizam o equipamento. No Brasil, o estado de São Paulo adotou a ferramenta e o resultado foi uma redução de 85% nas mortes em confrontos com policiais nas 18 unidades em que a novidade foi implantada, na comparação com o mesmo período de 2020.
Resistência Por meio de ofícios, representantes das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro se opuseram de forma clara ao uso de câmeras corporais. E, de 2019 para cá, a administração estadual do Rio têm adotado um comportamento, no mínimo, errático frente ao que foi determinado pelo ministro.
Em abril deste ano, o governador Cláudio Castro afirmou que não pretende obrigar forças especiais de segurança a utilizar o equipamento. Ele alegou que o uso do equipamento pode colocar em risco a segurança dos policiais.
"Sou contra nas questões específicas, de estratégia policial. Você mostra por onde anda, por onde entra. Enquanto eu não garantir essa segurança, e hoje não há como garantir, continuo sendo contra."
Desde dezembro do ano passado — quando Fachin determinou pela primeira vez o uso das câmeras pelas forças policiais fluminenses —, houve muitos recursos do governo do estado contra a decisão e poucos atos administrativos para cumpri-la. Assim, a revista eletrônicaConsultor Jurídicoprocurou juristas e advogados para entender as possíveis consequências jurídicas da "rebeldia" do Rio.
O juristaLenio Streckexplica que, ao se negar a cumprir ordem do STF, o gestor público pode responder pelo crime de desobediência, descrito no artigo 330 do Código Penal.
"Em caso de reiteração de condutas, pode-se aplicar as regras de concurso de crimes, notadamente o concurso material (artigo 69, CP), quando há uma somatória das penas aplicadas; ou crime continuado (artigo 71, CP), que ocorre quando se aplica a pena e dela se aumenta até 2/3. Há de se pensar ainda acerca da possibilidade de responsabilizar o gestor público por omissão imprópria."
O advogadoGeraldo Barchi, do escritório MFBD Advogados, diz que, no caso em questão, o governador pode responder por improbidade administrativa, conforme indica a atual redação do artigo 11 da Lei 8.429/1992, que foi inserida no ordenamento jurídico por meio da Lei 14.230/2021.
Na mesma toada,Mozar Carvalho, sócio fundador do escritório Machado de Carvalho Advocacia, afirma que, além de responder por ato de improbidade, o governador pode cometer crime de responsabilidade ao descumprir determinação judicial.
"Em algumas situações, é possível que a recusa em cumprir uma ordem judicial seja caracterizada como crime de responsabilidade, previsto na Constituição Federal. Nesse caso, o governador poderia ser alvo de um processo de impeachment e até mesmo sofrer as consequências políticas e jurídicas decorrentes."
O advogadoCaio Almeida, do escritório Lopes & Almeida Sociedade de Advogados, também entende que a conduta do governador pode configurar crime de responsabilidade e que o caso deve ser apurado segundo o regramento legal estadual que estabelece o procedimento do impeachment.
Imagens apagadas No último dia 26 de agosto, o jornalista Guilherme Amado, do portalMetrópoles, informou que um levantamento da Defensoria Pública do Rio de Janeiro apontou que a PM fluminense apagou e manipulou imagens das câmeras corporais.
Segundo a Defensoria, entre abril e julho deste ano, o órgão fez 90 pedidos de acesso a imagens de câmeras corporais e de viaturas. Desses, apenas oito foram atendidos. Mesmo assim, desses oito, três deram acesso a links sem imagens e quatro eram gravações manipuladas.
A revelação adicionou uma nova camada ao imbróglio, já que, além de não cumprir o determinado pelo STF em sua totalidade, as forças de segurança do Rio de Janeiro podem estar trabalhando contra a transparência nas ações policiais, objetivo da adoção das câmeras corporais.
ParaFernando Gardinalli, sócio do Kehdi Vieira Advogados, a prática — se comprovada — poderia ser enquadrada no crime de fraude processual, previsto no artigo 347 do Código Penal ("Inovar artificiosamente (...) o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito").
"Já se a manipulação da gravação tiver sido realizada com o objetivo de dificultar a investigação sobre um fato (isto é, não tiver havido alteração da cena do crime; a câmera, por exemplo, ficou dentro da viatura policial, sem filmar uma abordagem violenta ou mesmo ilegal), a hipótese seria de prevaricação, prevista no artigo 319 do Código Penal: 'Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal'", sustenta o advogado.
Lenio Streck entende que o caso pode ser enquadrado no crime de "supressão de documento" (artigo 305, CP), que, se público, pode chegar a uma pena de até seis anos de reclusão. "Porém, penso que somente poderia se falar na existência de tal delito em caso de destruição ou ocultação das imagens das câmeras. Isso por questão de taxatividade do tipo penal. Também entendo que, se a intenção do agente é apagar imagens de uma execução ou algo do gênero, também poderá se falar no crime de fraude processual (artigo 347, CP, com o aumento de pena previsto em seu parágrafo único)", explica ele.
No último dia 15 de agosto, o jornalO Globoinformou que, enquanto as ordens para redução da letalidade policial são discutidas no bojo da ADPF 635, ao menos dez crianças morreram no Rio de Janeiro vítimas da violência armada — três em operações policiais.
Em janeiro, já havia sido divulgado estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP) que informou que as forças de segurança do Rio mataram 1.327 pessoas no ano passado. O número representa 29,7% de todas as mortes violentas no estado. Ainda assim, as imagens das ações da polícia fluminense continuam escassas.
28 civis trucidados para vingar a morte de um soldado lembram as vinganças nazistas nos territórios ocupados
Presidente do CNDH, André Carneiro Leão, diz ao Portal Vermelho que outras recomendações para redução da letalidade (28 pessoas mortas para vingar morte de um pm) continuarão sendo monitoradas em São Paulo.
Após 40 dias, o governo de São Paulo anunciou nesta terça-feira (5) o fim da Operação Escudo (denominada de Chacina do Guarujá), iniciada no fim de julho no litoral paulista após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias (Rota) durante uma ação policial em Guarujá. A Operação Escudo deixou ao menos 28 pessoas mortas, numa das operações mais letais já realizadas. O anúncio foi feito pelo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, durante uma entrevista coletiva.
A interrupção foi anunciada logo após a Defensoria Pública de São Paulo e a ONG Conectas Direitos Humanos entrarem com uma ação civil pública na segunda-feira (4) com pedido de tutela antecipada para que a Justiça obrigue o governo de São Paulo a instalar câmeras corporais nos policiais militares e civis que atuam na Operação Escudo, na Baixada Santista. Caso não fizesse isso, a ação também exige que a operação seja imediatamente suspensa, sob pena de multa diária. Na semana passada, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) também cumpriu missão em São Paulo para verificar a atuação das polícias e fez dezenas de recomendações para reduzir a letalidade das operações.
Em entrevista aoPortal Vermelho, o presidente do CNDH, André Carneiro Leão, entendeu que essa decisão (de encerrar a Operação Escudo) atende à primeira recomendação do Conselho à Secretaria de Segurança Pública e ao Governo de São Paulo. “Mas entendemos que existem outras mais de 20 recomendações que ainda não foram cumpridas pelo Governo do Estado de São Paulo”, acrescentou.
Segundo o Derrite, o litoral paulista continuará com o apoio da Operação Impacto, que estava em andamento na região antes da Operação Escudo. Com a mudança, os policiais do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) que estavam no local para dar apoio voltarão para suas bases.
O governo de São Paulo, por sua vez, afirma que a Operação Escudo visa combater o tráfico de drogas e o crime organizado na Baixada Santista e que, desde o início da operação, foram presas 747 pessoas, sendo 291 foragidas da Justiça, e apreendidos mais de 934 kg de entorpecentes, causando um prejuízo estimado em mais de R$ 2 milhões ao tráfico. Além disso, alega que nenhum desvio de conduta foi tolerado e que até o momento nenhuma denúncia de abuso durante a operação foi registrada.
Em relação às operações que ele disse que continuam, segundo o que foi informado, o CNDH entende que são operações padrões, que já ocorriam anteriormente. “Mas a nossa leitura é de que, na verdade, independentemente do nome que a operação tenha, o que precisa mudar é a política de letalidade. Isso é que precisa ser de fato alterado e conformado aos parâmetros internacionais de direitos humanos”, explicou.
O conselheiro também comentou o fato de ter havido uma grande movimentação no comando de batalhões, na segunda-feira (4), inclusive da própria Rota. Derrite teria justificado como movimentações naturais de carreira na polícia. “De fato, há uma série de equívocos na gestão da Segurança Pública de São Paulo e, talvez, isso esteja se refletindo na organização interna com insatisfações que têm sido manifestadas de algumas representações das forças de segurança do alto escalão”, pondera.
André não sabe se isso pode ser atribuído à intervenção do Conselho, ou da movimentação ocorrida por parte de outros órgãos e entidades de Direitos Humanos. “Mas o que podemos dizer é que essas mudanças talvez sejam reflexo dessa incerteza, dessa insegurança na gestão pública”, avalia.
O defensor público diz que o CNDH “lamenta muito” que a Operação Escudo tenha ocorrido. “O fato dela ter ocorrido, nas condições em que ocorreu, com acusações de que se tratava, na verdade, de uma vingança”, disse André.
Do ponto de vista técnico do CNDH, houve uma modificação da política de segurança pública no Estado de São Paulo. Antes da posse de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de Derrite, a política vinha no sentido de redução da letalidade policial. A Operação Escudo, no entanto, representa parte dos dados concretos, que foram contabilizados já nesse ano, de um aumento dessa taxa de letalidade. “Então, aquilo que deveria ser uma política de Estado, uma política independentemente de partido político ou de pensamento ideológico, de conformação das atuações da polícia de acordo com o Estado de Direito, parece que agora vai num sentido inverso e nos preocupa”, diz ele.
No entanto, o conselheiro ressalta que o fato de a Operação ter sido encerrada não impede a atuação do Conselho. “Muito pelo contrário, como eu disse, essa foi apenas a primeira das recomendações. Existem outros que precisam ser responsabilizados e as vítimas reparadas. Então o Conselho seguirá acompanhando a gestão até que efetivamente situações como essa não voltem a acontecer”, garantiu.
Durante este período de violência nas abordagens policiais, a questão das câmeras nos uniformes se tornou uma questão crucial, conforme a SSP-SP se negou a entregar imagens, alegando problemas na captação. O defensor público diz que esta é uma das uma das recomendações do CNDH, que São Paulo apresente um plano de ampliação da implementação das câmaras corporais em todos os batalhões, em especial nos batalhões de operações especiais da polícia.
Desde o início da operação, a Defensoria Pública enviou cinco funcionários à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, solicitando informações sobre as investigações das mortes e a utilização de câmeras corporais pelos policiais. No entanto, as respostas recebidas até o momento não foram suficientes para esclarecer os fatos.
“Nós vamos seguir acompanhando e monitorando. Nós tivemos um diálogo com o Procurador-Geral de Justiça e nessa conversa ele manifestou também ser favorável à ampliação do uso das câmaras. Nós encaminhamos uma recomendação também ao Ministério da Justiça, porque pensamos que essa é uma política pública que deve ser nacionalizada, ou seja, deve ser expandida para todos os estados do país e vamos cobrar também do Ministério da Justiça que alinhe essa política, que oriente a forma de implementação dessa política”, completou.
Operação Escudo (Chacina do Guarujá)
A Operação Escudo (Chacina do Guarujá), iniciada em julho de 2023, foi deflagrada pela Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo em resposta à morte do soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Patrick Bastos, no Guarujá. Inicialmente previsto para durar cerca de um mês, a operação continuou por tempo indeterminado, resultando em 28 mortes até a segunda-feira (4).
Segundo a SSP, todas as mortes decorrentes de intervenção policial estão sob investigação, e os laudos oficiais das mortes não registraram sinais de tortura ou qualquer incompatibilidade com os relatos das ocorrências.
Os laudos do Instituto Médico Legal, por sua vez, revelam que de 24 mortos na Baixada Santista durante os 30 dias da Operação Escudo, 46 tiros atingiram as vítimas. Os promotores de justiça estão analisando esses laudos para determinar as estatísticas das mortes. Até o momento, as imagens das câmeras corporais usadas pelos policiais trouxeram informações importantes para as investigações, mostrando tanto confrontos com crimes quanto falhas operacionais.
Chuva forte causa estragos em cidades do RS — Foto: Reprodução/ RBS TV
Associação de PMs pretende que a chacina de Guarujá seja chamada de Operação Escudo - de defesa de Brasília contra os atos golpistas e terroristas
247- A Federação Nacional de Entidades de Praças Militares Estaduais (Fenepe), que representa mais de 40 entidades de oficiais militares das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros no Brasil, moveu um processo contra as emissoras Globo, Band e TV Cultura. O motivo central do processo é a contestação do uso do termo "chacina" nas reportagens que cobriram a Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar no litoral de São Paulo, após o assassinato do soldado Patrick Bastos Reis. Chamar de "escudo" a chacina da polícia de Tarcísio de Freitas é desmoralizar o programa escudo de defesa de Brasília contra atos terroristas e golpistas de extremistas bolsonaristas. Que resultaram na prisão do alto comando da PM do DF.
De acordo com reportagem dojornalFolha de S. Paulo, que teve acesso a documentos judiciais do caso, que tramita na 32ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a Fenepe alega que os telejornais, como Jornal Nacional, Bom Dia Brasil, Jornal da Cultura, Jornal da Band e Brasil Urgente, veicularam o termo "chacina" para descrever a ação policial, o que é considerado pela associação como uma "ofensa à corporação".
Segundo a Fenepe, essas reportagens estariam prejudicando a imagem dos policiais/praças militares perante a sociedade civil, gerando uma deterioração na opinião pública sobre a corporação e criminalizando as ações dos policiais envolvidos na Operação Escudo.
A associação solicitou inicialmente uma liminar que impedisse as emissoras de utilizarem os termos "chacina", "extermínio" ou "tortura" em suas reportagens sobre a operação, além de requerer uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento dessa medida.
Entretanto, o juiz do caso, Fábio de Souza Pimenta, negou a concessão de uma tutela de urgência em primeira instância. O magistrado alegou que, de imediato, não era possível determinar a ilegalidade na conduta das emissoras, visto que o direito constitucional à livre manifestação de pensamento deve ser respeitado. A decisão final ficará pendente até que as emissoras apresentem suas defesas no processo.
A Defensoria Pública de São Paulo e a organização Conectas Direitos Humanos equipararam a Operação Escudo ao Esquadrão da Morte. As organizações entraram com uma ação civil pública na segunda-feira (4) exigindo que a Justiça obrigue o governo de São Paulo a equipar policiais com câmeras corporais durante a Operação Escudo, em andamento no Guarujá e em outras localidades da Baixada Santista. Caso não seja possível cumprir essa determinação, a Defensoria solicita a suspensão da operação, destaca ojornalFolha de S. Paulo.
A Operação Escudo já resultou em 28 mortes, tornando-se uma das ações policiais mais letais desde o Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, quando 102 presos foram mortos por policiais militares.
Temporais no RS: com 4 mortos, ruas submersas e energia cortada
A forte chuva que atinge o Rio Grande do Sul, com granizo e ventos fortes, causou estragou e deixou vítimas pelo estado. Conforme levantamento divulgado pelas autoridades na tarde desta segunda-feira (4), são 353 desalojados (pessoas que saem de suas residências e vão para as casas de familiares, amigos ou vizinhos). Há registro de quatro mortesnesta segunda-feira (4). Todos os óbitos ocorreram na Norte do estado, uma das regiões mais afetadas pelo temporal.