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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

10
Out22

O bizarro catálogo de perversões sexuais da ministra Damares

Talis Andrade

 

O que gente com uma mente tão doentia vai fazer com suas crianças na escola?

 

Redação Socialista Morena

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A extrema-direita já deu mostras suficientes de possuir uma mente pervertida, capaz de, como diz a psicanálise, projetar nos adversários suas fantasias sexuais mais sórdidas. O auge (e a comprovação) disso aconteceu durante a campanha eleitoral, quando inventaram uma “mamadeira de piroca”, uma mamadeira com um pênis no lugar do bico que seria distribuída em creches (!!), para atacar o opositor Fernando Haddad. Quem em sã consciência imaginaria uma coisa dessas? Só alguém muito pervertido, claro.

Entre os extremistas em ação no novo governo, ninguém parece superar a ministra da Mulher, Direitos Humanos (sic) e da Família, Damares Alves, em reunir as mais bizarras fantasias sexuais em forma de “denúncias” contra a esquerda e os LGBTs. Damares conseguiu superar os grandes clássicos da literatura erótica em termos de perversões. Em menos de dois meses desde que foi alçada ao poder, o catálogo da ministra já reúne as mais doentias teorias sobre sexo já vistas. De onde é que eles tiram estas coisas? Freud explica.

Neste post, elencamos algumas das perversões que a ministra Damares afirmava estar sendo disseminadas aos estudantes, a partir do jardim de infância, nas escolas públicas do país –e, claro, culpava a esquerda por elas. É de se perguntar: o que gente com uma mente tão doentia pretende fazer com suas crianças?

Este post será atualizado à medida em que vierem à tona novas revelações sobre o catálogo de perversões sexuais da ministra.

 

Kit gay

A então assessora do senador Magno Malta foi uma das primeiras fundamentalistas religiosas a falar em “kit gay”. Um manual contra a homofobia, o “Escola sem Homofobia”, que o governo federal, sob o comando do PT (claro), intencionava distribuir nas escolas, foi transformado em um “manual de como se tornar gay” pelos fundamentalistas.

Este singelo documento anti-intolerância seria capaz de fazer qualquer um “virar” homossexual, bastando ter contato com os panfletos. Por incrível que pareça, essa maluquice se espalhou ao ponto de 84% dos eleitores de Bolsonaro acreditarem que ele é real, já que o candidato do PSL usou a mentira em seu horário gratuito na TV e em entrevista ao Jornal Nacional, mesmo após o TSE proibi-lo de apelar à notícia falsa contra Haddad.

A ministra de Bolsonaro afirmou em 2013 que os holandeses começam a masturbar bebezinhos a partir dos sete meses para que se tornem “homens saudáveis sexualmente” e as meninas teriam sua vagina “massageada” na mesma idade para que “tenham prazer na fase adulta”. Os holandeses, claro, souberam da aberração da qual eram acusados e manifestaram sua indignação nas redes sociais.

 

Holandeses masturbam bebês de 7 meses

Damares conseguiu superar os grandes clássicos da literatura erótica em termos de perversões. Em menos de dois meses, o catálogo da ministra já reúne as mais doentias teorias sobre sexo já vistas. De onde é que eles tiram estas coisas? Freud explica

 

Hotéis-fazenda são fachada para turistas transarem com animais

Fala sério! A mulher acha que as pessoas vão com suas famílias para hotéis-fazenda não para descansar e ver a natureza, mas para transarem com bezerros, cabras e galinhas. Curioso que quem admitiu que já fez sexo com animais foi o chefe dela.

 

Meninos de 3 anos chupam o pipi do coleguinha

Segundo a ministra Damares, uma professora de Brasília estaria em um dilema porque um aluno de três anos de idade estaria fazendo sexo oral em outro bebê da mesma idade, mas a diretora a teria admoestado a não fazer nada a respeito porque seria “homofobia”. Só problemas psicológicos (e sexuais) graves podem explicar que alguém acredite que um bebê de três anos possa “chupar o pipi” de outro, como se as escolas fossem lugar de orgia entre crianças. E dizer que se a professora fizesse algo contra isso seria “homofobia”? Mitomania em grau máximo.

 

Dever de casa de meninas de 12 anos é beijar meninos e meninas

Veja aqui mas casos eróticos e sexuais de Damares Alves: Segundo a ministra, eleita senadora do DF, uma professora de Brasília estaria em um dilema porque um aluno de três anos de idade estaria fazendo sexo oral em outro bebê da mesma idade, mas a diretora a teria admoestado a não fazer nada a respeito porque seria “homofobia”. Só problemas psicológicos (e sexuais) graves podem explicar que alguém acredite que um bebê de três anos possa “chupar o pipi” de outro, como se as escolas fossem lugar de orgia entre crianças. E dizer que se a professora fizesse algo contra isso seria “homofobia”? Mitomania em grau máximo.

Revela a mente suja:

Segundo a ministra Damares, uma professora de Brasília estaria em um dilema porque um aluno de três anos de idade estaria fazendo sexo oral em outro bebê da mesma idade, mas a diretora a teria admoestado a não fazer nada a respeito porque seria “homofobia”. Só problemas psicológicos (e sexuais) graves podem explicar que alguém acredite que um bebê de três anos possa “chupar o pipi” de outro, como se as escolas fossem lugar de orgia entre crianças. E dizer que se a professora fizesse algo contra isso seria “homofobia”? Mitomania em grau máximo. Diz mais a mente mais prolixa do que a de Donatien Alphonse François de Sade, de Leopold von Sacher-Masoch:

 

Dever de casa de meninas de 12 anos é beijar meninos e meninas

Ver Jesus no pé de goiaba é fichinha perto disso. O mais impressionante é que Damares é incapaz de exibir qualquer evidência do que fala. Quem acredita numa coisa dessas? Só quem acredita em mamadeira de piroca. Ou quem tem uma mente tão doentia quanto.

 

Crianças a partir de 10 anos recebem espelhinhos na escola para aprender a se masturbar

Segundo Damares, nas escolas de Rondônia as crianças a partir de 10 anos recebiam cartilhas e, junto com elas, um espelhinho para aprender a se masturbar olhando suas vaginas. Provas disso? Zero.

 

Livros didáticos redirecionam crianças para sites pornô

Essa merecia um processo: segundo a ministra, livros didáticos aprovados e distribuídos pelo Ministério da Educação redirecionam crianças para sites pornô. Nas provas aplicadas a estudantes, professores perguntariam a crianças de 9 anos: “O que é boquete?” As editoras e autores atacados por Damares deviam pedir indenização, além dos professores e dos pais das crianças. Que tipo de gente ela acha que são os professores do Brasil para permitir uma coisa dessas? Que tipo de pais não zelam pelo que seus filhos aprendem na escola? Talvez pais como a ministra, acusada de pegar a filha  dos outros sem autorização.

 

Meninas enfiam crucifixo na vagina

Em um congresso de extrema direita financiado com dinheiro público na capital paulista, espécie de versão fascista do Foro de São Paulo, Damares se espantou por nenhum jovem ter lhe oferecido maconha ou alguma menina ter enfiado um crucifixo na vagina. Onde a ministra anda? Ou melhor, onde a cabeça da ministra anda? Ela está pensando que crucifixo é vibrador?

Assistam a este documentário do canal Meteoro sobre Damares Alves:

09
Fev22

A banalização do absurdo

Talis Andrade

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por Eric Nepomuceno

Alguns amigos repetem seu espanto diante daquilo que chamam de minha infinita capacidade de ser masoquista.

A razão desse masoquismo: acompanho fielmente Jair Messias nas redes sociais e trato de não perder uma só de suas transmissões ao vivo nas quintas-feiras. Desde que ele iniciou, rompendo regras e leis eleitorais, sua campanha pela reeleição, ou seja, desde seu primeiro dia na poltrona presidencial, adotei esse hábito.

E de um tempinho para cá, esse masoquismo meu se reforçou: também acompanho outra aberração abjeta, Sérgio Moro. Sei bem que sua campanha eleitoral muito provavelmente irá naufragar ainda no cais, e que o mais provável é que essa figurinha de juiz manipulador acabe buscando imunidade numa vaga de Deputado ou, quem sabe, senador. Mas é interessante acompanhar seu cinismo estrondoso, confirmar a ausência de qualquer vestígio de decência e conteúdo ético e moral da sua constrangedora pessoa.

Jair Messias repete o mesmo bordão por tudo que é canto onde passa. Menciona cifras de supostos prejuízos e desvios, sempre na casa das centenas de milhões e algumas vezes na de bilhões, acusando os “vermelhos” de não terem feito absolutamente nada pelo país. Inaugura obras iniciadas justamente no período de seus inimigos (ele desconhece a palavra “adversários”), algumas já bastante avançadas, e quando não tem nenhuma à mão inaugura pontes de madeira de quinze metros de extensão. O importante é perambular por aí, já que trabalhar cansa.

E enquanto isso, o país continua a ser literalmente destroçado até mesmo em sua memória: as alterações no relatório final da Comissão da Verdade, autorizadas por juizecos da escola de Moro&Cia., é parte dessa destruição que ocorre de maneira incessante enquanto a plateia se distrai com as andanças e o bestialógico de Jair Messias.

Já Sérgio Moro naufraga solitário, apesar dos vigorosos esforços dos grandes meios oligopólicos de comunicação para viabilizar sua estilhaçada candidatura presidencial. De juiz desonesto e manipulador a ministro de Jair Messias, eleito em boa parte graças precisamente a ele, foi um pulo. E de ministro demissionário a funcionário de uma empresa misteriosa dedicada a reestruturar justamente as empresas que ele e sua turma quebraram, outro.

Nessa empresa, a Álvarez&Marsal, ele tinha por companheiros de diretoria antigos funcionários do FBI, antigos policiais, de tudo um pouco. Ninguém sabe qual era exatamente a função de Moro, se é que tinha alguma, para receber a pirâmide de dinheiro que recebeu. E nem ele nem a empresa contam qual foi seu trabalho, supondo que teve algum.

As andanças de Jair Messias e as virações de Moro encobrem crimes de todo tipo da parte do presidente e suspeitas mais que sólidas de outros tantos da parte do juiz manipulador e desonesto. Que um continue fazendo o que faz e o outro ainda não tenha sido levado aos tribunais são absurdos irremediáveis. Mas que nos tempos que o Brasil vive são considerados parte da rotina, puras banalidades.

É isso que constato no meu masoquismo: como este pobre país se acostumou a banalizar absurdos concretos.  

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06
Abr21

Brasil: um país sadomasoquista

Talis Andrade

 

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por Rubens R.R. Casara

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Pseudo-conservadorismo cristão

Em recente (e polêmica) declaração, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é um país conservador e cristão, o que  explicaria os índices de aprovação do modo bolsonarista de conduzir a nação. Não é verdade.

Em um país marcado por índices de desigualdade, violência, exploração e insegurança elevadíssimos, “não há muito o que conservar”, diria um verdadeiro conservador. De igual sorte, os valores historicamente associados à imagem de Cristo, que segundo a narrativa bíblica foi um líder perseguido, torturado e morto pelos detentores do poder político, dificilmente se mostram hegemônicos em um país que aplaude e vota massivamente em defensores da tortura e da violência estatal.

Se o conservador autêntico defende o capitalismo, limitado por valores legais, éticos e religiosos, inclusive adotando algumas posturas anti-repressivas, recatadas e não necessariamente egoístas, o pseudo-conservador se caracteriza tanto pela apropriação fundamentalista dos valores hegemônicos da classe média (sejam democráticos ou não) quanto pela distorção dos valores liberais e religiosos, em clara adesão ao modelo neoliberal de capitalismo, que se caracteriza pela desconsideração de qualquer tipo de limite na busca por lucros ou vantagens pessoais. Mas, não é só.

O Cristo que aparece no discurso bolsonarista é uma figura limitada à concepção de religião como um contrato que visa negociar a fé na busca por bens materiais e vantagens pessoais. A religação entre o indivíduo e Deus adota a forma de um negócio que mira no lucro. E, esse mesmo Cristo, esvaziado de valores como a solidariedade e o amor ao outro, passa a ser usado como um instrumento de legitimação tanto de uma espécie de “vale-tudo” dos “verdadeiros cristãos” contra as forças demoníacas quanto da demonização do “comum”. Demoniza-se a esfera do inegociável e, em certo sentido, toda uma tradição cristã que parte da opção preferencial pelos pobres. Pode-se, portanto, falar na construção de um (anti)Cristo que torna o egoísmo uma virtude, defende a violência/tortura e faz da solidariedade uma fraqueza.

 

A terra da perversão? Gozar ao violar limites          

O bolsonarismo pode ser pensado como o efeito da aproximação de dois fenômenos: a dessimbolização capitalista e a tradição autoritária em que o brasileiro se encontra lançado. O empobrecimento da linguagem, o desaparecimento dos limites (éticos, jurídicos, estéticos, civilizacionais etc.), o anti-intectualismo e a crença tanto na hierarquização entre as pessoas quanto no uso da violência para resolver os mais variados problemas sociais compõem um quadro que aponta não só a ruptura do laço social (as pessoas não se relacionam mais com outras pessoas, mas apenas com objetos) como também um funcionamento perverso da sociedade e dos indivíduos. A violação dos limites torna-se um fenômeno naturalizado.

Por um lado, o capitalismo leva à percepção de que tudo e todos são objetos negociáveis (por vezes, descartáveis) em meio a cálculos de interesses na busca por lucro e vantagens pessoais. Instaura-se uma espécie de “vale-tudo”. No Brasil governado por Bolsonaro, não há, portanto, a defesa de valores tradicionais e percebidos como positivos, mas o desaparecimento de todo valor, princípio ou regra que possa ser tido como obstáculo aos interesses dos detentores do poder político e/ou econômico.

De outro, a ausência de rupturas democráticas fez com que práticas autoritárias tenham se tornado aceitáveis e percebidas como inevitáveis. No Brasil, fomos incapazes de elaborar satisfatoriamente fenômenos como a escravidão e a ditadura militar, o que faz com que se naturalize a hierarquização entre as pessoas e se idealize o regime militar instaurado em 1964, produzindo uma espécie de “retrotopia” (Bauman), na qual parcela da população deseja o retorno a um regime de segurança, tranquilidade e honestidade que nunca existiu.

Como em todo período autoritário, o governo de Bolsonaro busca uma aderência aos “valores” da classe média, percebida pelos ideólogos do governo como racista, sexista, preconceituosa e muito ignorante. “Valores” que acabam prestigiados, porque não só são inofensivos como também ajudam à manutenção do projeto neoliberal. Não por acaso, práticas discriminatórias, violências policiais e violações das normas de cuidado com o outro, que são objetos de aplausos de uma considerável parcela da população, passam a ser naturalizadas e até incentivadas pelos detentores do poder político. Ao mesmo tempo, o governo demonstra uma oposição a tudo o que é da esfera do criativo e sensível. Demoniza-se a compaixão e a empatia enquanto se percebe a preocupação em reforçar a dimensão domínio-submissão, ao afirmar desproporcionalmente os valores “força” e “dureza”.

É a junção entre a racionalidade neoliberal, um modo de pensar e atuar que se tornou hegemônico no atual estágio do capitalismo, e a natureza autoritária de ampla parcela da população brasileira que permite excluir a hipótese de que o Brasil é um país “conservador e cristão” e substituí-la pela constatação que ele se torna cada dia mais um país sadomasoquista (e nisso não há qualquer relação à curiosidade presidencial pela prática do “golden shower”).

Para considerável parcela da população brasileira, correlata à atitude submissa e acrítica diante daqueles a quem considera “superiores”, há uma tendência a posturas intolerantes e agressivas direcionadas contra todos aqueles a quem considera “inferiores” ou “diferentes”. São pessoas que foram formatadas para naturalizar e até sentir prazer com o sofrimento e a dor, tanto alheia quanto própria. Assim, aplaudem medidas que são flagrantemente contrárias aos seus interesses e direitos, bem como reproduzem condutas que identifica no “grupo moral” que o despreza e ao qual gostaria de pertencer.

O indivíduo sadomasoquista se submete acriticamente à autoridade idealizada e deseja um líder forte capaz de decidir por ele, limitando os riscos e desafios inerentes ao pleno exercício da liberdade.  Vale dizer que se trata de uma postura que ultrapassa o respeito realista e equilibrado relacionado à autoridade legítima, mas que se aproxima de uma necessidade pulsional de se submeter e, por vezes, se humilhar. Ao mesmo tempo, verifica-se em grande parte da população um desejo de sacrificar seus prazeres, seus direitos e suas garantias fundamentais se isso significar a vingança e a punição dos “inimigos” (ainda que imaginários) ou, ainda, a manutenção da distancia social em relação àqueles a que considera inferiores.

Diante desse quadro, pode-se falar em uma perversão baseada em um modo de satisfação individual ligado ao sofrimento do outro ou ao que se origina do sujeito humilhado. Como já percebia Freud (1905), “o sádico é sempre e ao mesmo tempo um masoquista”. Tem-se, aqui, uma inter-relação de duas posições (componente sádico e componente masoquista) que se fazem presentes nos conflitos intersubjetivos (dominação-submissão) e na própria estruturação psíquica das pessoas.

Ao tomar o outro ou a si próprio como objeto, bem de acordo com a racionalidade neoliberal, o sujeito exprime uma agressividade prazerosa. A dor do outro e próprio fracasso passam a ser vistos como positividades, bem de acordo com a lógica das mercadorias que passa a reger a percepção de todos os fenômenos. Mais do que melhorar de vida, o indivíduo neoliberal-autoritário se contenta em ver os mais pobres fracassarem no projeto de reduzirem a distância social entre as classes. Mais do que o fim dos preconceitos que o atingem, o indivíduo neoliberal-autoritário deseja ver a manutenção dos poucos privilégios que mantém (por vezes, o “privilégio” de ser homem ou branco).

O que o presidente chama de “conservador e cristão”, saiba ele ou não, são indivíduos perversos que por medo da liberdade, por força da crença na violência, do ódio ao saber ou da manutenção dos preconceitos de gênero, de raça, de classe e de plasticidade apoiam (ou, ao menos, aceitam) o desmatamento criminoso da Amazônia, o aumento da violência doméstica, a redução dos direitos trabalhistas e previdenciários, a violência policial, o crescimento dos grupos paramilitares,  o desmonte da educação pública, as mortes evitáveis diante da pandemia em razão do Covid 19, dentre outras ações que causam sofrimento. Sem recorrer ao conceito de sadomasoquismo fica difícil explicar o Brasil.

soldadinhos de chumbo ou plástico ... tanto faz.

 

07
Nov20

“Ela mereceu ser estuprada”

Talis Andrade

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Reencontramos fala de Bolsonaro na pele de André Aranha e na voz de seu advogado. Mariana postava fotos sensuais, usava roupas vulgares, “vivia da imagem” e, portanto, buscou a violência. O macho não fez mais que atender aos próprios desejos…

 

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Há quatro anos Mariana Ferrer trabalhava numa casa de eventos em Florianópolis.  Ela tinha 19 anos. André Aranha, um dos convidados, colocou droga em sua bebida e a estuprou. Todas as acusações de Mariana foram comprovadas por exames e testes periciais. Foi absolvido na primeira e na segunda instância.

O site The Intercept Brasil publicou parte da audiência da segunda instância. Sem que ainda existisse o batismo conceitual (isso ficará a cargo do juiz), ali estava o advogado tecendo a tese do “estupro culposo”.  Ele organizou as supostas perguntas a Mariana com técnicas de tortura. O torturador, em sua ferocidade discursiva, avança sobre a vítima sem deixá-la tempo para pensar. Altera o tom de voz, agita fotos e papéis. Não pergunta, acusa. Não escuta, grita. E humilha.

As camadas de violência sobre Mariana são justapostas. Ela aciona o Estado para demandar reparação: pede justiça. Argumentos fora do processo são postos em cena pelo advogado para negar a credibilidade dos exames periciais: Mariana postava fotos sensuais nas redes, Mariana usava roupas vulgares, Mariana vive da imagem. Diante da violência do advogado do réu, Mariana sucumbe. A sessão de tortura a desmonta. Ela tenta segurar o choro. Murmura “eu nunca fiz mal para ninguém”. Há quatro anos ela luta por justiça. A prova na justiça brasileira parece de pouca utilidade. O excesso de provas materiais que comprova o estupro e a droga no seu corpo não são suficientes para que seu lugar de vítima seja assegurado. “Prova” é uma coisa que o Estado inventou para continuar distribuindo desigualmente a justiça.

A estratégia da defesa parece óbvia: provar que a vítima é a única responsável pelo estupro. Diante do assédio da jovem, com suas roupas sensuais, o rapaz de boa família não teve escolha: foi coagido, por sua natureza de macho, a fazer sexo não consentido. Na performance do advogado do réu, somos levados/as a acreditar que a jovem deve ter sonhado (ou planejado em cada detalhe hitchcockiano) ter a sua primeira relação sexual em um canto qualquer com um desconhecido (rico) para depois fazer fama com sua própria desgraça.

Quando a decisão da justiça foi publicada chegamos à conclusão de que a estratégia do advogado foi eficaz. Uma nova figura nasce: “estupro culposo”. Vamos reencontrar Bolsonaro agora na pele de André. Quando Bolsonaro era deputado, afirmou, aos berros, que não estuprava a deputado Maria do Rosário porque ela não merecia. O que o verbo “merecer” sugere? Que a deputada não tinha os atributos necessários de feminilidade que despertassem o ímpeto de macho de Bolsonaro? A urdidura discursiva do advogado segue caminho próximo ao do homem que ele ajudou a eleger. Talvez ele tenha se inspirado em Bolsonaro. Mariana merecia ser estuprada. O seu cliente não fez nada mais do que atender aos desejos do seu próprio corpo acordados pelas artimanhas dessa jovem sedenta de fama.

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Pergunto-me: a figura do “culposo” é, de fato, nova quando discutimos violência contra as mulheres? Qual seria a diferença entre o “estupro culposo” e o assassinato por “lavagem da honra”? No primeiro caso, a violência é desencadeada pelo comportamento da vítima: ela queria ser estuprada. A suposta vítima planejou seu próprio estupro porque tem um tipo de estrutura masoquista que encontrará, neste caso, prazer não na própria dor, mas na fama derivada da publicização dessa dor. No segundo, o assassinato (lavagem da honra) é a garantia de vida de quem comentou o crime, pois, a suposta desonra cometida pela mulher transformaria a vida do homem em não-vida. A história do feminicídio está atravessada por narrativas de homens que mataram para “limpar suas honras”.

Eis que o Estado reinstaura no seu interior a inversão amplamente analisada e denunciada pelos movimentos feministas: a transformação da vítima em ré. Nos dois casos, são as mulheres as responsáveis por suas desgraças. Está aberto o caminho para a invenção, pelo Estado, do feminícidio culposo. É o passado transformado em agora, no tempo presente.

 

10
Jul19

Glenn: será que Deltan vai negar que essa é sua voz?

Talis Andrade

Petrobras depositou 2 bilhões e 567 milhões

na conta de Deltan 

 

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Deltan Dallagnol e Sergio Moro conspiraram o impeachment de Dilma Rousseff, a posse de Michel Temer, a prisão de Lula da Silva candidato a presidente, e a campanha livre de concorrência de Jair Bolsonaro.

O jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept, que divulgou nesta terça-feira 9 o primeiro áudio da Vaza Jato, com a voz de Deltan Dallagnol, pergunta se o procurador vai ousar questionar se a voz é realmente dele, como vem fazendo em relação às mensagnes divulgadas pelo site, assim como o ministro Sérgio Moro.

Dallagnol, de codinome Delta, em algumas coversas, e DD na cobrança de propina a Tacla Durán, sempre foi um procurador partidário, tendo anunciado um jejum, como sofrimento 'cristão', como tortura física em nome de Deus, pela prisão de Lula.

Apesar do jejum, Dallagnol e mais seis procuradores desviaram da Petrobras 2 bilhões e 567 milhões de reais, para lastro inicial de um nababesco fundo. Dinheiro ao deus dará para eventos, propaganda ideológica contra a corrupção, grana de sobra para gastar com agências de publicidade, de relações públicas, de eventos, jornais, televisões, blogues (inclusive o Antoganista,  o Pavão Misterioso), comunicadores tipos Datena, Ratinho, Sílvio Santos. Rosangela Mora, esposa de Sergio Moro, criou uma agência de eventos. O dinheiro da Petrobras foi depositado no dia 30 de janeiro último. Trinta dias depois, denunciado, Dallagnol tentou justificar:

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Para o jornalista, o áudio de Deltan Dallagnol "deve encerrar para sempre, para qualquer pessoa razoável, o jogo cínico que Moro e Deltan têm usado para evitar a responsabilidade usando insinuações sobre a autenticidade desse material".

Glenn Greenwald@ggreenwald

Além das motivações políticas impróprias que sempre negou publicamente, observe que Deltan - além da alegria que Lula ficaria em silêncio - a) tinha conhecimento secreto e prévio da decisão de Fux e b) especificamente queria ocultá-la para impedir que a Folha pudesse recorrer.

Glenn Greenwald@ggreenwald
 

Será que Deltan - cuja voz é distinta e reconhecível - vai negar que essa é sua voz? Isso deve encerrar para sempre, para qualquer pessoa razoável, o jogo cínico que Moro e Deltan têm usado para evitar a responsabilidade usando insinuações sobre a autenticidade desse material.

 

 

 

30
Mai18

SÍNDROME DE ESTOCOLMO De joelhos pela ditadura

Talis Andrade

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 Um alienado, ontem, na porteira de um quartel em Alegrete, 

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repete os analfabetos políticos do golpe contra Dilma 

 

 

Um povo que fica de joelhos para reivindicar é um povo escravo.

Um povo que fica de joelhos, para pedir a volta da ditadura, o fim da democracia, da liberdade, da fraternidade, dos direitos humanos, é um povo alienado, masoquista, passivo, covarde.

 

 

Muitos não viveram os anos de chumbo da ditadura militar. Só o assédio moral na escola, no trabalho, e o medo de ser demitido pode explicar a Síndrome de Estocolmo nos pedidos de intervenção militar. Ou o assédio sexual, a tradição do incesto, que não é crime, e a cultura do estupro.  

 

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Adão 

 

O povo tem que ser livre. Tem que partir para a greve, para os protestos, gritar altar o que deseja. Reivindicar o mínimo direito, quando se ganha o salário mínimo. Quando se vive nas favelas, acossado pela polícia, que chega atirando e derrubando portas.

 

Se não tem justiça tem escracho

Por que aceitar, dando a outra face, o assédio policial, o assédio judicial, as costumeiras prisões sob vara? 

Por que a sociedade não protesta quando um preso fica mais de sessenta dias encarcerado sem julgamento?

"Bem-aventurados os que têm sede de justiça".

 

 

Temos que ir para a rua, por nossas filhas.

As filhas dos militares e dos togados, maiores de idade, recebem pensões vitalícias.

 

É o Brasil das castas, dos direitos adquiridos das elites, e nenhum direito para os pobres, inclusive os trabalhistas, que o golpe de Michel Temer rasgou a CLT, assim como o primeiro ato institucional da ditadura de 1964, implantada pelo marechal Castelo Branco, foi cassar a estabilidade no emprego dos trabalhadores.

 


A perturbadora presença dos militares na América Latina


Militarização da política de segurança traz como consequência

o aumento no poder irrestrito do Exército

 

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 Laerte

por Manuel Alcántara Sáez

A mobilização do Exército brasileiro para reduzir os bloqueios dos caminhoneiros nas rodovias que colapsaram o país e a recente prisão de 38 militares na Venezuela envolvidos em atividades conspiratórias colocou nas manchetes a evidência de que um ator que presidiu a política latino-americana durante grande parte de sua vida republicana continua sendo um ator inevitável com poder político.

 

sto, como ensina a história, é uma vicissitude que apresenta riscos à democracia que, longe de serem imprevisíveis, fazem parte da tradição militar do continente. O envolvimento das Forças Armadas por parte do Governo de Salvador Allende para enfrentar a greve dos caminhoneiros no Chile abriu as portas para sua intervenção política e foi um fator que facilitou o golpe de Estado, assim como o ruído dos sabres na sala de bandeiras dos quarteis.

 

No Brasil, foi aprovada em outubro a Lei 13.491/17, que ampliou a competência da Justiça Militar Federal relacionada aos graves problemas do crime organizado que assola o país. A lei não confere nenhum poder à polícia civil para investigar ações de soldados que causem a morte de civis. Desse modo, é ignorada a jurisprudência da Corte Interamericana de que a justiça militar tem caráter restrito, funcional e excepcional. Na mesma direção se discute no Senado o projeto de lei 352/201725 que pode alterar o Código Penal brasileiro para qualificar como legítima defesa quando um agente de segurança pública mata ou fere quem porta ilegal e ostensivamente uma arma de fogo. A militarização da política de segurança traz como consequência o aumento do poder irrestrito do Exército e a consequente ampliação das garantias legais que acabam conferindo impunidade às suas ações. Desde a pré-campanha eleitoral no país, a oferta de Jair Bolsonaro, ex-militar e ardente defensor do legado da ditadura, que mantém altas expectativas da disputa pela presidência, é coerente com esse estado de coisas. Tudo isso, juntamente com a presença dos militares no debate político, que aumentou no calor da destituição da presidenta Dilma Rousseff e se acelerou em relação à situação processual de Lula, gera um clima de ansiedade. Nesse sentido, a posição explícita do Comandante em Chefe do Exército, Eduardo Villas-Boas, e outros generais, como Luis Gonzaga Schroeder, que declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que se Lula não for mandado para a prisão, “o dever das Forças Armadas é restaurar a ordem”, geram um clima de opinião que pode permear o resto de uma região que começava a olhar seu futuro com algum otimismo depois da desmilitarização vivida na Colômbia. [Transcrevi trechos

 

 

 

 

 

 

05
Jul17

O jogo agora é outro: Aulas de corte e costura substituem os exercícios da baleia azul

Talis Andrade

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Estão aparecendo vários sinais de que o final do mundo se aproxima. Preso o negro curador da baleia azul no Maranhão, em uma comunidade subversiva e terrorista quilombola, um jogo aparece inspirado no medieval cinto da castidade, mas que não ousa tanto, para o contentamento de incestuosos, estupradores, pedófilos e outros tarados.

 

Os novos exercícios de sanidade e modernidade visam costurar os lábios, pescoço e braços para modificar e 'embelezar' o corpo, baseados na teoria comportamental de que crianças e adolescentes gostam porque gostam de jogos masoquistas.

 

O objetivo do jogo: Copiar um desenho animado japonês e ser o 'melhor' do grupo de amigos.

 

O desafio Tokyo Ghoul começou na China em setembro de 2011, quando os jovens passaram a imitar Juuzou Suzuya, uma personagem jovem com aparência andrógena, a pele branca e olhos grandes, que faz com que as pessoas pensem que é uma garota a primeira vista.

 

Aficionado por modificação corporal, exibe grande parte do seu corpo costurado por linhas vermelhas, geralmente em forma de x. Sua franja é prendida por clipes formando o numero 13 em romano.


Usa uma camisa social branca (desabotoada no topo e na parte superior), calça social preta dobrada até os joelhos, com um suspensório vermelho com bolinhas amarelas. No lugar de sapatos, calça uma espécie de pantufa vermelha.


O nome do chefe grupal foi mudado de curador para chanceler. Veja aqui um desafio  .

 

Outras personagens da série possuem o mesmo tipo de costuras.

 

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Tudo vale em um mundo que existe o prazer em torturar nas ditaduras militares, nos assédios da polícia, da justiça, dos serviços de cobrança bancária. Nos assédios moral e sexual no trabalho. No bullying nas escolas.  

 

Tudo politicamente correto, desde que o jovem não pense, não participe de movimentos como 'ocupa escola', de greves e passeatas estudantis por um ensino melhor, ou um mundo de felicidade para o povo em geral. 

 

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