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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

29
Jun21

UM LÍDER FAMINTO

Talis Andrade

Charge Ricardo Barros | Charge de Simon Taylor sobre a insac… | Flickr

 

Ex de FHC, Lula, Dilma e Temer, novo articulador de Bolsonaro na Câmara faz jejum com regularidade - mas não de poder

 

por FELIPPE ANÍBAL

Exatamente às 14h23 da última terça-feira (18), o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR) tomou a palavra no plenário da Câmara dos Deputados. Era a primeira vez que ocupava o microfone em uma sessão como líder do governo Jair Bolsonaro (sem partido) na Casa. De máscara preta e óculos apoiados na ponta do nariz, fez um discurso protocolar: agradeceu a confiança do presidente e pediu apoio aos colegas. Às 15h14, Barros voltou ao microfone – já sem máscara nem óculos. E se mostrou ainda mais confortável no perfil que vem exibindo ao longo de seis mandatos: um profissional da política, capaz de permanecer no poder mesmo que o poder mude de mãos. Foi líder de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vice-líder de Lula (PT) e de Dilma Rousseff (PT), além de ministro da Saúde de Michel Temer (MDB). E não vê problema nisso.

“Qual o sentido disso? [de ser líder de diferentes governos]. O sentido é dar governabilidade ao governo que se elege. O nosso sistema é o presidencialismo de coalizão. O nosso sistema exige maioria ou três quintos [dos votos] para emendas”, disse, em tom didático, em seu primeiro pronunciamento ao assumir o cargo. “A função do líder do governo é formar maioria, agregar, convencer, ceder, para que haja o entendimento e para que o conjunto dos partidos possa, por maioria, aprovar as matérias aqui na Casa”, disse. Deputado federal desde 1995, notável membro do Centrão, grupo de partidos mais conservadores da Câmara, Barros já passou pro PR, PFL, PPB e PP. Sabe a hora de se aproximar de determinado governo, mas também é capaz de desembarcar dele sem pudores. À piauí, definiu-se como “um político de resultados” e “um bom articulador”. 

O anúncio de que fora escolhido como novo líder veio num período delicado, quando Barros faz o que chama de “programa de desintoxicação”  – a cada três meses, passa uma semana sem se alimentar de sólidos, jejuando e tomando exclusivamente água. A restrição terminara no domingo retrasado, quando completaram-se sete dias de jejum. Sete dias sem comer. É um tema sobre o qual o deputado evita falar. “É um programa de desintoxicação que eu faço de forma frequente. Em uma semana, só água”, disse. “É jejum. Jejum está na Bíblia, amigo”, acrescentou Barros, que não se diz essencialmente religioso.

Se faz o jejum nesses períodos definidos, Barros não esconde o apetite pela política e pelo poder. Deputados da base e da oposição fizeram uma leitura parecida sobre a escolha dele para o posto de líder: Bolsonaro abraça definitivamente o Centrão na tentativa de minimizar sua inaptidão política em compor consensos, terceirizando o trabalho para um “profissional”. Em sua primeira sessão na liderança, Barros já elegeu sua primeira missão: a costura política para aprovação da reforma tributária. O Centrão, por sua vez, também já demonstrou sua voracidade: de cada cem funcionários comissionados com filiação partidária no Executivo, 39 são filiados a partidos do bloco (como PP, MDB, DEM, PSD, entre outros).

Nascido em Maringá, interior do Paraná, Barros tem 60 anos. É um homem de estatura mediana, ligeiramente calvo e de expressão sisuda. Raramente ri e, quando o faz, nunca é um sorriso aberto. Até aos domingos costuma cumprir expediente em seu escritório, em Maringá, e quem é próximo dele diz que seu único interesse é a política. “Você nunca vai ver o Ricardo [Barros] falando de futebol, de um lugar que ele foi, de alguma coisa que comprou. É só política”, disse um aliado. Entre colegas e desafetos, a palavra usada com unanimidade para descrevê-lo é “pragmático” ou expressões que caem como sinônimos, de “calculista” a “trator” – perfil que, para quem está do lado oposto, pode ajudar a botar panos quentes na tensão entre Bolsonaro e o Congresso.

“Todo mundo sabe que o Ricardo [Barros] cumpre o que ele combina. Não tem surpresa. Vai chegar na hora da votação e ele não vai descumprir a palavra. Para nós, da oposição, é bom você ter um líder assim, que cumpre, senão vira confusão. O Ricardo tem esse pragmatismo e essa condição”, opinou o deputado Luciano Ducci (PSB-PR). “O que mais chama a atenção é o pragmatismo dele. Qual a visão que parte da sociedade tem de um bom deputado? É o que consegue recursos. Isso ele faz. E faz o que acha que precisa fazer”, disse o deputado federal Gustavo Fruet (PDT-PR). 

Um exemplo do modus operandi de Barros se deu em 2016, quando ele abandonou o governo Dilma. Em abril daquele ano, durante o processo de votação na Câmara da admissibilidade do pedido de impeachment da então presidente, Barros era vice-líder do governo. Apenas na véspera da votação anunciou publicamente que se posicionaria em favor da tramitação do impeachment. Embora ainda estivesse no governo, nos bastidores Barros vinha negociando com o grupo de Temer e já era cotado para o Ministério da Saúde, caso Dilma fosse deposta – o que acabou ocorrendo. “Ele [Barros] fez como um bom batedor de pênalti: esperou até o último momento pra bater na bola. Quando viu que o goleiro ia cair para um lado, virou o pé e chutou no outro canto. Mas se você preferir, pode usar a metáfora de ‘um pé em cada canoa’”, comparou um parlamentar de oposição.

Outra passagem, essa em 2010, lhe rendeu um apelido do qual não gosta nem um pouco: Leitão Vesgo. Na ocasião, o deputado avaliava quem apoiaria nas eleições para o governo do Paraná, se Beto Richa (PSDB) ou Osmar Dias (PDT), então aliado do PT.  Em uma reunião em Brasília, da qual participavam Gleisi Hoffmann (PT) e o deputado federal Fernando Giacobo (PL), Dias se irritou com a indefinição e disse: “Ô, Ricardo! Você fica mamando na teta do governo, enquanto, feito um leitão vesgo, já tá olhando para a teta do Beto Richa”. No Paraná, a alcunha pegou, principalmente entre os desafetos. 

 

Como ministro da Saúde, deu uma série de declarações que repercutiram muito mal. Criticou a quantidade de exames feitos pelo SUS, argumentando que 80% apontavam “resultado normal”, disse que pacientes “imaginam” doenças e que médicos “fingem trabalhar”. Mas os deslizes no discurso não foram os maiores problemas em sua gestão no Ministério.Ministro da Saúde diz que maioria dos pacientes "imaginam" estar doente -  Jota A! - Portal O Dia

No ano passado, o deputado foi alvo de  uma ação  civil pública de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal  (MPF) em razão de fatos que ocorreram quando era ministro. Conforme a investigação conduzida em 2017, houve irregularidades na compra de medicamentos para doenças raras. As fornecedoras atrasaram a entrega dos medicamentos, o que resultou na morte de catorze pacientes, segundo o MPF. De acordo com a ação, uma das empresas, a Global, ganhou um dos processos de compra emergencial em 2017 sem cumprir os requisitos exigidos, como dispor de todas as licenças, ser cadastrada pelo fabricante e dispor do medicamento em estoque. Ainda assim, de acordo com o MPF, o Ministério da Saúde levou  a compra adiante e fez um adiantamento à Global. O processo ainda não foi analisado pela Justiça. 

Na ocasião da denúncia, Barros emitiu nota em que afirmou que o MPF  escolheu “o lado errado da luta no SUS” e que “deveria acusar as empresas que mantêm monopólio de representantes para explorar o erário público”. O deputado disse que a legislação foi cumprida rigorosamente nas aquisições e que, no período em que esteve à frente do Ministério, bilhões de reais foram economizados em 22 meses. A piauí não conseguiu contato com a Global. À época, a empresa afirmou que parte dos produtos havia sido entregue e que estava negociando com o Ministério da Saúde a devolução do dinheiro referente ao montante não repassado. 

Também em 2017, em outra ação civil pública do MPF, o então ministro da Saúde foi acusado de tentar beneficiar seu reduto eleitoral. Na época, Barros anunciou uma parceria milionária por meio da qual o Ministério da Saúde transferiria ao Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), empresa pública do governo do Paraná, e à empresa suíça Octapharma a responsabilidade da produção de parte dos hemoderivados que seriam, posteriormente, adquiridos pelo próprio Ministério. A ideia era que o Tecpar passasse a gerir o processamento e a logística do plasma no Centro-Sul e Sudeste do país, além de investir 82 milhões de reais na construção de um centro em Maringá. O anúncio foi feito quando Cida Borghetti, mulher de Barros, era vice-governadora, em uma solenidade com a presença do ministro.

Na época, os hemoderivados eram produzidos exclusivamente na Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), cuja sede fica em Pernambuco. O MPF chegou a pedir que Barros fosse afastado do Ministério – o que foi negado pela Justiça. Responsável pelo caso, a procuradora Silvia Regina Pontes Lopes disse que o então ministro assumiu o compromisso público de levar o “mercado de sangue” ao Paraná, como forma de “esvaziar” as atribuições da Hemobrás e beneficiar seu estado natal. 

Barros acabou deixando o Ministério da Saúde não em razão do processo, mas para disputar as eleições de 2018. No governo Bolsonaro, o Ministério da Saúde mudou seus planos em relação aos hemoderivados, o que fez com que a ação perdesse efeito. A fábrica do Tecpar em Maringá nunca chegou a ser construída. Em julho do ano passado, o Ministério da Saúde suspendeu as parcerias, que se encontram em processo de revisão. Com a suspensão, os recursos anunciados na solenidade conduzida por Barros e Cida não chegaram a ser repassados ao Tecpar, conforme o Instituto. “A técnica manda que se tenha três fábricas, com operações com sangue. Por ativismo político, o MPF quer que tudo fique lá na Hemobrás. Não há razão técnica nem logística para isso. Vamos aguardar a nova direção da Hemobrás, que posicionamento trará, porque é importante que tenhamos mais opções de produção e processamento de plasma”, disse Barros, em áudio enviado à piauí.

No campo político, Barros tem um inimigo em comum com Bolsonaro: o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, também maringaense. Como quase todo o Centrão, o deputado é ferrenho crítico da Lava Jato. Ao longo dos últimos anos, deu uma série de declarações contra a força-tarefa – dizendo coisas como a operação “quebrou o país” – e contra seus principais personagens, como Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Nas planilhas da Odebrecht com nomes de doações feitas a políticos – o que não é ilegal – , Barros é citado. Entre os documentos apreendidos na casa de Benedicto Junior, então presidente de Infraestrutura da empreiteira, o deputado aparece como tendo recebido 100 mil reais.  Entre os 3,1 milhões de reais que recebeu em doações em 2014, não há doações da empresa. 

Segundo Barros, a planilha se referia a pedidos de doação eleitoral para a campanha de Carlos Roberto Pupin (PP), a quem o deputado apoiava na disputa à prefeitura de Maringá, nas eleições de 2012. Barros afirmou que “não era candidato e não houve nenhuma doação, nem oficial, nem extraoficial da Odebrecht ao candidato na época” e que “seu nome não apareceu em nenhum inquérito, denúncia ou delação” da Lava Jato.

 

veia política de Barros vem de família, uma oligarquia do Paraná baseada em Maringá – município de 423 mil habitantes, emancipado em 1951. Pai de Ricardo, Silvio Magalhães Barros é reverenciado como um dos “pioneiros” da cidade. Aportou na região ainda na década de 1940, para trabalhar com agrimensor. Ao longo dos anos seguintes, o forasteiro nascido em Minas Gerais foi se tornando influente politicamente, a ponto de se eleger vereador em 1960, pela União Democrática Nacional (UDN). A partir daí, a carreira de Silvio decolou. Com a ditadura militar e o bipartidarismo, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro, pelo qual foi eleito deputado estadual, federal e prefeito de Maringá. Em 1979, morreu vítima de um infarto fulminante.

Com a morte prematura do pai, coube a Ricardo assumir o papel de chefe dos Barros. Após concluir o curso de Engenharia Civil, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), aproximou-se, ao poucos, da política. Em 1988, aos 28 anos, venceu a eleição à prefeitura, pelo PFL. Em 1994, fez-se deputado federal. Seu irmão mais velho, Silvio Magalhães Barros II, entrou na política e foi eleito prefeito de Maringá em 2004. 

Barros também levou para a política sua mulher Cida Borghetti, ex-militante do PDS Jovem –  como foi rebatizada em 1980 a Arena, partido de sustentação ao regime militar. Cida Borghetti foi deputada estadual e federal. Em 2014, foi vice na chapa de Beto Richa (PSDB), que disputava a reeleição e em 2018, quando Richa deixou o governo para concorrer ao Senado, Cida assumiu o Palácio Iguaçu até o fim do mandato. Ela chegou a disputar a eleição seguinte ao governo, mas foi derrotada por Ratinho Junior (PSD). A filha caçula do casal, Maria Victoria, já está no segundo mandato como deputada estadual do Paraná. 

Ao longo das eleições de 2018, a posição de Barros beirou a neutralidade em relação à sucessão presidencial. No primeiro turno, o PP integrou a coligação que apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), mas o deputado concentrou todos seus esforços fazendo campanha pela mulher, Cida Borghetti, que disputava o governo do Paraná. No segundo turno, permaneceu em cima do muro, dizendo que o partido liberaria seus filiados para votar como quisessem.

Em uma manhã no fim de janeiro de 2019, Barros encontrou parlamentares paranaenses em um voo comercial de Curitiba a Brasília. Ao longo da “conversa de avião”, um colega da Câmara observou que Barros se mantinha distante do governo que se iniciava.“Tá quietão por quê, Ricardo?”, perguntou. Barros respondeu com uma espécie de prenúncio: “Eles vão precisar de articulação. Minha hora vai chegar”. No mês seguinte, disputou a eleição para  presidência da Câmara, mas obteve apenas quatro votos. Quem convive com o deputado diz que ele nem se abateu. Sabia que a forma como Bolsonaro vinha se relacionando com o Congresso não se sustentaria por muito tempo. Em setembro do ano passado, Barros subiu o tom em uma reunião da bancada paranaense com o titular da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, como se preparasse o terreno. 

“O presidente não pode demitir o deputado, mas o deputado pode demitir o presidente”, disse. “A palavra final é nossa. Ele é que tem que querer estar de bem conosco. Se ele não quer, está ótimo para nós”, acrescentou. Conforme percebia que a necessidade de articulação do governo com o Congresso aumentava, Barros adequava seu discurso ao bolsonarismo. Já nos primeiros meses deste ano, passou a ser a sondado pelo Planalto. Em abril, em meio à pandemia do novo coronavírus, Barros, a mulher, a filha, o genro e a neta foram diagnosticados com Covid-19. O deputado chegou a ficar internado por dois dias na Santa Casa de Maringá. Em entrevista à CNN após receber alta médica, declarou que tomou cloroquina. Um ano e sete meses depois daquela “conversa de avião”, em que previu que o governo precisaria de sua ajuda, Barros se tornava líder de Bolsonaro. “O Congresso e o Executivo têm que trabalhar juntos para atingirem seus objetivos”, disse Bolsonaro ao final da primeira reunião com o líder. Estava selada a aliança. Em se tratando de Barros, só não se sabe até quando.TRIBUNA DA INTERNET | Sob o signo da Liberdade

 
29
Jun21

O mito com pés de Barros: o deputado paranaense no centro de um escândalo nacional

Talis Andrade

 

Bolsonaro precisou do Centrão, e acabou colocando Barros para gerir sua articulação. Agora, a relação está dando dor de cabeça para os dois lados

por JOÃO FREY /Plural Curitiba

Em novembro de 2018, Cida Borghetti, então governadora do Paraná e esposa do deputado Ricardo Barros (PP), deu a Jair Bolsonaro, à época presidente eleito, a Ordem do Pinheiro, principal honraria do estado. A homenagem seria entregue no dia 19 de dezembro em uma cerimônia no Palácio Iguaçu, mas Bolsonaro, o principal homenageado, não apareceu. A ausência deu pistas de que Ricardo Barros, habituado a portas abertas no Palácio do Planalto desde o governo FHC, não teria a mesma influência política.

No começo do governo, quando Bolsonaro ainda tentava sustentar o discurso de repúdio à política tradicional e à sua principal expressão, o Centrão, Barros cortejava o governo numa relação que não era correspondida. Com as trapalhadas do PSL, então partido de Bolsonaro, e a incapacidade do governo em articular uma base sólida na Câmara, o presidente começou seu namoro com o Centrão e Barros conseguiu o posto de vice-líder do governo no Congresso. A relação ficou mais séria e, assumido o casamento com o Centrão, Bolsonaro nomeou Ricardo Barros para a liderança do governo na Câmara. 

Em agosto de 2020, o paranaense estava de volta ao principal cargo de articulação entre o Executivo e o Legislativo. Hábil, ele foi estendendo sua influência pelo governo. Sua esposa, Cida Borghetti, por exemplo, hoje ocupa o cargo no Conselho de Administração de Itaipu, com remuneração de cerca de R$ 30 mil para comparecer a reuniões bimestrais.

Barros conhece o Ministério da Saúde

A pandemia já havia matado 105 mil brasileiros quando Barros assumiu a liderança. Com a experiência de ex-ministro da Saúde, cargo que exerceu no governo de Michel Temer (MDB), o deputado passou a atuar também em questões relativas à pandemia. Disse que enquadraria a Anvisa para agilizar os processos de aprovação de vacinas e articulou a interlocução entre grupos interessados na compra de imunizantes e a burocracia do Ministério da Saúde. 

O caso da Covaxin, que arrastou Barros ao centro da principal suspeita de corrupção que pesa contra o governo Bolsonaro, não é o único em que ele intermediou negociações de imunizantes. O deputado  também articulou conversas entre o governo e a farmacêutica Belcher, interessada em importar a vacina chinesa do laboratório CanSino. As conversas são parte de um projeto de empresários bolsonaristas – entre eles Luciano Hang e Carlos Wizard – para que empresas privadas possam comprar vacinas. A Belcher tem sede em Maringá, cidade de Barros.

“Na condição de ex-ministro da Saúde e coordenador da Frente Parlamentar da Indústria Pública de Medicamentos sou procurado por muitos parceiros do SUS e coopero naquilo que está ao meu alcance em todos os temas da Saúde. Em relação à pandemia da Covid o objetivo maior é que todos os brasileiros possam ser imunizados e tratados o quanto antes. É minha obrigação como parlamentar”, disse o deputado em relação às negociações Belcher/CanSino.

Os reflexos no Paraná

O turbilhão em que Barros se meteu na política nacional aconteceu poucos dias após ele revelar seus planos para as eleições do ano que vem no Paraná. O PP, partido presidido por sua filha, a deputada estadual Maria Victoria, anunciou que estará no palanque de Ratinho Jr. (PSD) em 2022. O plano, a princípio, é o seguinte: Maria Victoria disputaria seu terceiro mandato de deputada estadual. Cida Borghetti, dessa vez, ficaria sem disputar eleições e permaneceria na Itaipu, Barros tentaria a reeleição para a Câmara e o grupo tentaria emplacar o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), como vice na chapa de Ratinho Jr.

Plural ouviu deputados e fontes ligadas ao governo para entender quais as consequências que as suspeitas envolvendo Barros podem ter para a política local. A única convergência é de que ainda é cedo para ter certezas. A história pode evoluir de modo a prejudicar Barros ainda mais, ou pode seguir por um caminho mais favorável ao deputado. 

Evandro Araújo (PSC), deputado estadual da mesma região da família Barros, acha que há ainda a possibilidade de Barros tentar disputar uma vaga no Senado pela chapa de Ratinho. Esse plano, em sua análise, pode ser prejudicado.

“O PP perde um pouco de poder de negociação dentro do cenário estadual. Fica ruim para o governo, que não precisa desse tipo de desgaste, já que tem outras opções”, avalia.

O deputado, entretanto, alerta que Barros tem o “corpo fechado” e que já passou por outros momentos de desgaste sem prejuízos a sua atuação política. Seu pragmatismo e sua habilidade como negociador são o segredo dessa capacidade de sobrevivência. 

“Ninguém apoia o Ricardo porque gosta, é porque acham um bom negociador, que leva recursos para os municípios e tem parcerias pragmáticas”, avalia. 

A força de Barros pode ser medida pela relutância dos deputados estaduais em comentar o caso. O Plural procurou outros parlamentares, que preferiram não falar sobre o caso. 

“Prefiro não fazer nenhum comentário, eu gosto do Ricardo Barros e creio que ele tem inteligência suficiente para fazer as explicações necessárias”, disse um experiente deputado. 

No governo, a tentativa parece ser a de manter uma distância segura, que possa tanto condenar a atitude de Barros caso se comprove alguma irregularidade, como  abraçá-lo no palanque no ano que vem caso ele consiga manter sua força política. 

“Nós não temos nenhum encaminhamento com ele, temos com os deputados do PP que fazem parte da nossa base política. Não temos nenhum encaminhamento de aliança, então para nós não muda absolutamente nada”, disse um importante articulador do governo. 

Sobre os planos políticos para 2022, Barros disse ao Plural que “está tudo tranquilo”. 

O que diz o deputado

Após as revelações do deputado Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, servidor concursado do Ministério da Saúde, de que Barros teria atuado para facilitar a negociação de vacinas superfaturadas, o deputado divulgou uma nota, que publicamos na íntegra abaixo. 

Tenho acompanhado as repercussões e entrevistas a partir da citação de meu nome na CPI da Covid, na última sexta-feira (25). 

Fica evidente que não há dados concretos ou mesmo acusações objetivas, inclusive pelas entrevistas dadas no fim de semana pelos próprios irmãos Miranda.

Assim, reafirmo minha disposição de prestar os esclarecimentos a CPI da Covid e demonstrar que não há qualquer envolvimento meu no contrato de aquisição da Covaxin. 

Dos temas levantados até o momento, já posso esclarecer que, no caso da servidora Regina Célia reafirmo que não é minha a indicação para cargo. Deve ser observado que ela é uma servidora concursada desde 1995, não podendo haver escolha ou não de sua participação na rotina do ministério da Saúde. Ocupou mais de 5 cargos de livre nomeação em 4 gestões presidenciais anteriores ou ao longo do período de seis ministros da Saúde ao longo de sua carreira. Link com todas as nomeações: https://bityli.com/WbOc2

Do ainda impreciso diálogo com o presidente da República, na transcrição da CPI, o caso em questão seria sobre a empresa Global e a compra de medicamentos não entregues. Trata-se de processo judicial, em que provo a minha conduta em favor do SUS, quando fui ministro da Saúde. Link com a defesa completa: https://bityli.com/Y03KX

Na minha gestão no Ministério promovi uma economia superior a R$ 5 bilhões ao sistema de saúde que pode ser reinvestido, implementando novos sistemas de compra. São processos que afrontaram grandes interesses, mas promoveram mais serviços à população. Embora a Global seja sócia da Precisa Medicamentos, em análise pela CPI, esse processo em nada se relaciona com a aquisição de vacinas da Covaxin. Não participei de qualquer negociação para a compra desse produto. 

Sobre a emenda da MP que autorizou a compra de vacinas da Índia, o maior produtor mundial de imunizantes, o tema foi motivo de emendas de 8 parlamentares, entre eles o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, que cita especificamente a autoridade indiana, e o deputado Renildo Calheiros, irmão do relator da comissão. A legislação é complementar ao que já previa o texto de fevereiro de 2020, da lei 13.979, artigo 3º VIII a, que permitia a importação excepcional de produtos registrados por autoridades sanitárias estrangeiras. Link com todas as emendas: https://bityli.com/Yhf1h

Sobre a minha defesa pública em favor de mais agilidade por parte da Anvisa e da oferta de imunizantes e produtos para o combate à Covid-19, além da minha obrigação como ex-ministro da Saúde, sou presidente da Frente Parlamentar da Indústria Pública de Medicamentos desde 2015. O Legislativo deve fazer sua parte para o acesso às melhores práticas e benefícios e ampliação do atendimento à população. 

Reitero que sempre busquei a transparência e o diálogo na minha vida pública e me coloco à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários à apuração da CPI.

29
Abr18

Por que a polícia esconde as imagens do terrorista da direita que atirou contra o acampamento de Lula para matar?

Talis Andrade

 

polícia ainda não liberou imagens do terrorista.

 

A polícia política da república do Paraná ainda não liberou as imagens do terrorista da extrema direita que atirou contra o acampamento Lula Livre em Curitiba. 

 

O vídeo que capturou o crime mostra uma pessoa andando em direção ao local e, em seguida, se afastando de costas, enquanto continua a efetuar disparos. Este foi o segundo ataque com armas de fogo contra simpatizantes do ex-presidente em um mês: em março, com Lula ainda em liberdade, um ônibus com integrantes de sua caravana foi alvejado também no Paraná. Leia mais no jornal El País, da Espanha 

 

Em nota oficial divulgada pelo partido, integrantes da vigília e de outras organizações repudiaram "o ataque a tiros contra o acampamento Marisa Letícia [...] que resultou em duas pessoas feridas, uma delas de forma grave, com um tiro no pescoço".

 

No relato das pessoas que estavam no acampamento no momento do ataque, a informação é a de que a ação aconteceu por volta das 4h. O ferido, identificado como Jeferson Lima de Menezes, é do estado de São Paulo e ficou em estado grave.

 

A autoria do ataque ainda não foi identificada, mas segundo o que disseram os integrantes do acampamento, havia movimentação de pessoas passando em frente ao local e gritando palavras de ordem a Jair Bolsonaro, candidato à presidência. 

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 Pobreza de hospital, o HT

 

Além de Jeferson, que está internado, entubado e instável no HT, uma mulher que estava no banheiro no momento do tiroteio também se machucou. Os tiros perfuraram três banheiros e ela não foi atingida pela bala, mas sim por estilhaços provocados pelos disparos. Segundo o pessoal do acampamento, o estado de saúde dessa vítima não é grave.

 

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Balas atingiram o banheiro do acampamento 

 

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do Paraná informou também que foram coletados cartuchos 9 mm no local.

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Após o incidente deste sábado, a Prefeitura de Curitiba oficializou na justiça regional um novo pedido para que Lula seja tranferido. O ex-presidente está em uma cela especial de 15 m2 no quatro piso da sede da Polícia Federal. Leia mais na AFP - Agence France-Press

 

O prefeito de Curitiba, o gorducho cujo cheiro de pobre causa vômito, é primo de Rosângela Wolff, mulher de Sergio Moro.  

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 Rosângela Wolff Moro na sua luxuosa residência

 

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Por outro lado, a Justiça proibiu qualquer tipo de acampamento perto da sede da Polícia Federal, estabelecendo uma multa diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento da determinação. Leia mais na Agencia EFE - Espanha 

 

Por Bajonas Teixeira: Desde duas semanas, vem sendo pedido pela PF e pela prefeitura de Curitiba, a transferência de Lula da sede da Polícia Federal. O atentado a tiros contra o acampamento em que se encontram os manifestantes pro-Lula é uma manobra ridícula e criminosa para forçar essa decisão. E que, justamente por ser ridícula e criminosa, tem tudo para dar certo. Como ocorreu em todos os estados fascistas, atos programados de terrorismo para justificar decisões políticas (como o incêndio do Reichstag logo após a ascensão de Hitler na Alemanha) nunca são punidos. Há, é verdade, uma lei antiterror no país, mas ela não será usada. De todo modo, o pior terrorismo é a insistência, sem qualquer motivo a não ser o desejo de degradar as condições de aprisionamento de Lula, em sua transferência da sede da PF.

 

Sobre o clima geral de violência política instalado no país, a Globo tem muito a nos explicar. Ao retratar o que ocorreu em Curitiba, o jornalismo da Globo do Paraná deixa muito claro como funciona o sistema de manipulação dos fatos pela emissora. (Veja o vídeo da Globo do Paraná)

 

Que o papel da Globo tanto para criar o clima de divisão e ódio, quanto para desfigurar os acontecimentos e, com isso, em última instância, ocultar os agentes imediatos dos atos terroristas, não seja perdido de vista nem esquecido. Leia mais

 

O Paraná é governado por Cida Borghetti, casada com o deputado federal Ricardo Barros, ministro da Saúde golpista, com quem tem uma filha, Maria Victoria Borghetti Barros, deputada estadual. Esse nepotismo eleitoral tem como cural eleitoral a cidade Maringá, berço de Sergio Moro.

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 FAMÍLIA BORGHETTI. A esposa governadora da república do Paraná, o marido ministro de Temer, a filha deputada

 

 

 

18
Jul17

A sina de Maringá, de Sergio Moro ao clã da deputada Maria Victoria

Talis Andrade

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 Polícia armada afasta povo do casamento ostentação da deputada Maria Victoria.Foto Lineu Filho

 

por Marcos Danhoni

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Moro em Maringá, cidade outrora famosa pela sua extrema arborização, qualidade de vida e tranquilidade.

 

Infelizmente, Maringá também é conhecida pelo seu lado sombrio ao engendrar criaturas diretamente responsáveis pelo ocaso da democracia no país. Relatarei aqui as principais:

 

. Sergio Moro;
. Ricardo Barros;
. Cida Borghetti;
. Maria Victoria Barros.

 

Existem outros menos famosos, mas que ajudaram a criar uma sociedade extremamente conservadora, além de ávida em sonegar toda forma de imposto.

 

Sobre Sergio Moro, nem me deterei muito, pois já escrevi a respeito dele. Vale a pena repetir somente que era muito ligado ao pai já falecido e arquiteto da direita local.

 

Lecionava no Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá: era histriônico, ultra-direitista e vivia sob o medo do domínio soviético no mundo.

 

Muitos dizem que Sergio Moro herdou todo o conservadorismo do pai e se programou a se tornar juiz. Teria prometido, em seu leito de morte, como muitos dizem por aqui, que liquidaria a esquerda no Brasil, realizando o desejo paterno.

 

Sobre os outros três personagens, pertencentes ao clã dos Barros (o Paraná é vítima de “famílias” que fatiaram o Estado em capitanias hereditárias: Barros, Richas, Carlis, Buenos, Belinattis, Lerners, Ratos, sênior e junior):

 

A triste aventura dos Barros começa com o patriarca, Silvio Barros, que foi prefeito de Maringá pela Arena, aliada do regime militar. Ricardo Barros herdou-lhe a veia política, assim como seu irmão Silvio Barros II (isso mesmo, a coisa é tão ridícula que o ultimo sobrenome é o algarismo “II” romano…).

 

Foi prefeito. Aliás, um desastrado prefeito. Seu último dia de governo terminou com a prefeitura de Maringá cercada por funcionários irados em greve. Ricardo Barros escapou do cerco com uma “tereza” (corda feita de lençóis como aquelas usadas por presidiários em fuga).

 

Após uma interrupção de dois mandatos, seu irmão, Silvio Barros II, tornou-se o terceiro do clã a eleger-se prefeito (sendo reeleito e fazendo seu sucessor). Assim, os Barros tomaram a cidade por longos 20 anos.

 

Sua esposa, Cida Borghetti, uma curitibana importada, fez toda sua plataforma política baseada em campanhas contra o câncer feminino, o que lhe angariou votos para toda a vida … O mesmo ocorreu com sua filha Maria Victoria Barros, formada em “banqueteria” (a “arte” de servir banquetes) na Suíça (believe it not).

 

Cida tornou-se vice-governadora ao lado do desastrado e multi-investigado governador Beto Richa. Ricardo Barros, que fez toda a campanha de Richa no norte e noroeste do Estado, foi brindado como Secretário de Indústria e Comércio do Paraná.

 

Ricardo sempre trabalhou no sentido de priorizar o privado sobre o público e notabilizou-se no setor de planos privados de saúde, o que o guindou à condição de escolha do usurpador Temer em nomeá-lo como Ministro da Saúde, desconstruindo toda a estrutura pública de saúde, implantando o caos e a barbárie no SUS, na Fiocruz, na saúde indígena, na produção de medicamentos, etc.

 

O clã locupletou-se nessa trajetória política de conservadorismo, e nenhum senso público, o que transpareceu de forma dramática na festa nababesca de casamento da filha banqueteira Maria Victoria Barros.

 

Sempre com espírito arrogante, Ricardo Barros escolheu ele próprio os lugares do regabofe matrimonial: uma Igreja histórica, a do Rosário, construída pelos escravos e o Palácio Garibaldi, construído sob a égide dos ideais de Garibaldi.

 

Ricardo Barros quis para mostrar que ele pode submeter tudo e todos ao seu projeto megalomaníaco de dominar politicamente o Estado, que considera um feudo de sua família e que se sobreporá às demais famílias das capitanias hereditárias. Uma espécie de Game of Thrones tupiniquim! Leia mais. Veja vídeo

 

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15
Jul17

Casamento ostentação da deputada filha do ministro da Saúde

Talis Andrade

A deputada estadual Maria Victória Barros (PP), filha do ministro da Saúde, Ricardo Barros, e da vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, foi alvo de protestos no dia de seu casamento em Curitiba (PR). Veja vídeos 

 

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A deputada noiva ...

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 ... A plebe rude não convidada 

 

 

O escracho no casamento foi um protesto contra as reformas do governo Temer, apoiadas pela família Barros, e uma forma de escancarar a “ostentação” da cerimônia, feita em uma igreja de escravos e com festa em estrutura considerada ilegal.

 

A ação começou por volta das 18h30, com batucada, faixas, como a com a frase “Deputada do camburão tem casamento ostentação”, “Viemos brindar a sua boa vida”, e palavras de ordem como “Golpistas”, “Fora Beto Richa” e “Chega de deboche, eu quero o meu brioche”.

 

 

Pelo menos 15 viaturas da polícia militar e integrantes da Tropa de Choque foram ao local para garantir a “segurança” da cerimônia e atacaram os manifestantes com balas de borracha, spray de pimenta e cassetetes. Ao menos uma pessoa ficou ferida e o protesto, após a intervenção policial, foi dispersado. Veja fotos 

 

Maria Victoria é mais um zero à esquerda que vive do dinheiro da família, ou seja, público. Ficou conhecida ao defender o pai no Facebook quando este pediu o corte de bilhões destinados ao Bolsa-Família.

 

“É triste ver o governo federal dando o peixe, ao invés de ensinar a pescar”, escreveu na época a filha, neta, irmã e sobrinha de políticos. Um triunfo da meritocracia.

 

Eles são donos de Maringá, terra de Sergio Moro. Maria Victoria precisa saber que é odiada pela população que finge representar. Odiada e desprezada. Leia mais 

 

 

 

 

 

15
Jul17

A revolta de Garibaldi e o pesadelo dos Barros

Talis Andrade

por Manolo Ramires

Fotos Théa Tavares

Pinga Fogo e Crônicas Curitibanas

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É quase certo, por outro lado, que muitos repudiam a manifestação em momento tão sagrado. Principalmente os escribas e suas penas digitais.

 

Era uma vez, uma bela jovem, cujo sonho era se casar de princesa em um lindo palácio. Seu sonho se concretizaria quando sua mãe fosse alçada ao cargo de duquesa das Araucárias, tornando-se parte do ducato dos Richas, e seu pai conquistasse o título de Dom Ministro da Saúde, patrono das empresas privadas, na Era Temer, um monarca voltado para agradar a aristocracia Cisnes Amarelos.

 

Como se fosse o seriado “Once Upon a Time”, o passado e o presente se confundem belamente. A noiva aluga sua pequena catedral no centro da República de Curitiba, terra das Araucárias imperiais, e em seguida recebe os convidados no Palácio Garibaldi, no nostálgico Largo da Ordem.

 

Na adaptação, a carruagem movida a puros sangues cede lugar a um elegante modelo branco clássico da marca Rolls Royce Silver Wraith 1955. Uma limusine que passou a ser produzida após a II Guerra Mundial para transportar chefes de estado. As taças e talheres são do mais fino cristal e fina prata com toques dourados. Os fraques são substituídos por belos ternos cortados e camisas e gravatas de seda. Já as damas trocam os vestidos de grandes frisas por peças justas e decotadas que possam evidenciar corpos esculpidos em salas de tonificação dos músculos contemporaneamente conhecidas como academias.

 

No centro disso tudo, a noiva, linda, jovial, com a face mais branca do que a carne de uma maçã gala. Seu longo vestido branco é bem comportado, como se recomenda a uma dama da sociedade. As transparências dão lugar a delicado bordado em volta do dorso que disputa atenção apenas com os lábios discretamente delineados. A sobriedade se completa com o véu que remete a uma coroa cristã pintada pelos mais zelosos florentinos. É a imagem da santa vitoriosa, como o nome da noiva indica, sobre todos os percalços que a vida impõe nessa matilha que é a Ilha de Vera Cruz.

 

Contudo, os fantasmas dos Garibaldis não gostaram de tanto ostentação da nobre corte paranaense em um momento de sacrifícios e dores para o povo. A celebração ocorreu na semana em que direitos trabalhistas foram retirados em massa, devolvendo os labutadores quase cem anos no tempo. Na semana em que o grande monarca Michel Temer, que usurpou o poder da presidente Dilma Rousseff, uma espécie de princesa Merida tupiniquim, era salvo de denúncia de corrupção por vassalos parlamentares em troca de moedas e emendas de ouro. Na semana em que o proletário Lula, o presidente libertador da fome do povo, era condenado sem provas por um inquisidor Moro. Tudo isso reunido fez com que os Garibaldis lançassem uma maldição: “Seu casamento será lembrado na história como a ‘noite das ovadas’ e a desforra aos Barros”. Eis a data: 14 de julho de 2017.

 

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Pobre noiva, pensaram uns. Que males podem cair sobre seus ombros para merecer tal infortúnio e reprovação dos plebeus? Desavisados desconhecem que a noiva pertence a um clã cujas riquezas aumentam na medida que o pão e o circo faltam aos populares

 

Ela é filha da duquesa que chancela o governo dos Richas quando esse toma a aposentadoria dos servidores, aumenta impostos e distribui os lucros entre os ricos do condado paranaense. Já seu pai traiu o governo que participava apenas para ganhar um novo título e mais poder. Dom Barros – o doente – é capaz de cortar recursos do sistema de saúde que atende a população e ainda falar que os médicos têm preguiça de trabalhar. Para ele, se cogita, uma peste negra seria um importante aliado na redução da demanda por atendimento público.

 

A própria princesa noiva também tem seus devaneios. Ela, cujo primeiro labor já foi na corte dos deputados, votou por tirar benefícios dos mais pobres no programa conhecido como Bolsa Família. Contrariando seu santo nome e toda a proximidade que carrega com os mais humildes, Maria Victória disse que ao povo não se pode dar nada, mas ele deve lutar para conquistar, como se a pobreza fosse uma punição divina.Contra auxílios moradias de togados, evidentemente, sua cândida voz não se levanta. Foram insanas palavras ditas por uma dama que é transportada por carruagens brancas, mas também por veículos grandes e pretos, conhecidos como caveirões, para votar pela retirada de direitos daqueles que jurou servir.

 

A reação da plebe a corte é quase natural. É a resposta à dama que pesquisava vestido de noiva em abril de 2015 enquanto ao povo a polícia distribuía bombas e gás de pimenta para impedir que eles impedissem a votação que lhes tomara R$ 2 bilhões de seus cofres. Dessa vez, no entanto, as bombas deram lugar ao véu de ovos e a opulência da data está marcada pela vulgaridade de quem escolhe governar zombando de seu povo. Pobre é a elite que acredita poder se fechar em castelos e distante da ralé.

 

É quase certo, por outro lado, que muitos repudiam a manifestação em momento tão sagrado. Principalmente os escribas e suas penas digitais. Mas também é quase certo que se dependesse desses, Dom Pedro I não teria dado seu grito às margens do Ipiranga, a República não teria sido instalada em 1889 e tampouco teria sido abolida a escravidão que agora retorna – once upon a time – transvestida de modernização das leis trabalhistas e pejotização. Enfim, tudo ao seu tempo e com sua história de uma estória que não tem nada de conto de fadas.

 

 

 

 

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