Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

22
Jan20

Apesar de demissão de Alvim, política cultural “totalitária” continua no Brasil, diz imprensa francesa

Talis Andrade

beto- nazismo.jpg

 

Os jornais franceses desta segunda-feira (20) ainda repercutem o escândalo criado com a citação nazista de Roberto Alvim que levou à demissão do secretário de Cultura do Brasil. O jornal Libération aponta que o “delírio nazista” não é um fato isolado no país e que a “indignação dos pró-Bolsonaros foi seletiva”. "O Brasil de Bolsonaro em guerra contra seus artistas" é o título do Le Figaro.

O jornal conservador diz que desta vez “o alerta vermelho” foi acionado e que o presidente brasileiro foi obrigado a exonerar o secretário da Cultura após seu plágio do discurso do chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels, e a onda de indignação provocada pelo episódio. Citando a imprensa brasileira, a matéria informa que apesar dos protestos de organizações judaicas, da Alemanha e da classe política, Roberto Alvim caiu somente após a intervenção do embaixador de Israel, um país "cortejado" por Bolsonaro.

Para o meio artístico, esse discurso é uma ilustração caricatural da "guerra cultural" lançada pelo governo Bolsonaro desde sua chegada ao poder, no ano passado. O ex-ministro da Cultura e deputado Marcelo Calero, entrevistado pelo Le Figaro, afirma que o presidente considera o meio cultural como “um inimigo e, de fato, persegue os artistas que ousam contestá-lo”.

Censura “não assumida”

Também entrevistado pelo correspondente do jornal no Brasil, o cineasta Antônio d'Avila, que teve um projeto de documentário sobre a ditadura bloqueado pela Ancine, denuncia “a censura não assumida da política cultura atual”. Segundo ele, pela primeira vez no Brasil há “um filtro” para escolher os projetos artísticos a serem financiados, particularmente no cinema, que é uma indústria importante para a economia brasileira.

Lembrando a decisão do juiz carioca que mandou a Netflix suspender o especial de Natal da Porta dos Fundos, Le Figaro relata que nem sempre a censura é dissimulada no país. Ao correspondente do Le Figaro, o diretor Antônio d'Avila diz esperar que uma resistência contra a censura vá se organizar no Brasil.

“Indignação seletiva”

Libération diz que a indignação dos pró-Bolsonaros contra o plágio de Goebbels por Roberto Alvim e suas ambições nacionalistas foi “seletiva”. "Alvim foi demitido, mas sua política cultural continua". Com a exoneração do secretário de Cultura na última sexta-feira (17), o presidente de extrema-direita brasileiro acredita que tudo teria voltado ao normal, escreve o diário. Mas esta foi “uma volta à normalidade estranha”.

Fazendo referência a um tuíte do pesquisador Murilo Cleto, especialista em novos movimentos conservadores, Libération aponta que daqui para frente “o governo brasileiro só fará referências aos líderes que têm afinidades com Bolsonaro: Duterte, Trump, Salvini ou Pinochet. O nazismo, nunca mais!”

O psicanalista Tales Ab'Saber ressalta nas páginas do jornal, que a polêmica "desmascarou a natureza profunda do governo Bolsonaro". Os mais otimistas veem no caso o sinal de que “o extremismo tem limites, mesmo para o incivilizado Bolsonaro”. Na verdade, o presidente só reagiu porque foi pressionado, principalmente pela Confederação israelense do Brasil, sublinha o artigo.

“Delírio nazista” não é fato isolado

O escritor Michel Laub fustiga a elite brasileira que, “seduzida pela promessa das reformas econômicas liberais, “fechou os olhos para as declarações racistas, contra as minorias e artistas, do presidente.

Libération cita também Eliane Cantanhêde, editorialista do Estado de São Paulo, para quem o “delírio nazista de Roberto Alvim não é um fato isolado”. Ele se inscreve em um contexto favorável, onde, de tempos em tempos, responsáveis políticos ameaçam com o retorno do AI-5 e que o próprio Bolsonaro homenageia ditadores sanguinários.

Portanto, a exoneração do secretário da Cultura não transformará o governo Bolsonaro em um governo democrático, alertam críticos do governo citados por Libération. Sua política “totalitária”, com o apoio de projetos artísticos em conformidade com os valores bolsonaristas de defesa da pátria, família e religião, persiste. E isso tudo, sem preocupar demasiadamente a “opinião pública”.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub