Embora naturalmente dominado pelo adeus a Pelé e pela posse de novos ministros, a mais interessante publicação de hoje é a longa e detalhada entrevista do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a Leonardo Attuch e Marcelo Auler, no siteBrasil 247.
Nela, Haddad procura minimizar o ataque especulativo do “mercado” ao governo Lula, atribuindo o fato a, supostamente, estarem-se “abrindo os olhos” para a realidade do tamanho do rombo nas conta públicas deixado por Bolsonaro, ao despertar-se para a realidade de que o final de seu período foi de desaceleração e não de retomada do crescimento econômico.
Atribua-se à candura com que se expressa o novo ministro a criativa explicação sobre as razões da reação feroz do capital às medidas econômicas que nem existem, mas que já são apontadas como desastrosas por não se ajoelharem no milho do fiscalismo que proclama, sem qualquer pudor, que o sofrimento social é a receita milagrosa para a economia pública, uma espécie de “óleo de fígado de bacalhau” que se devia fazer descer goela abaixo das crianças para evitar-lhes o raquitismo.
Haddad anuncia – ainda sem muitos detalhes e muito cuidado para não ser marcado com o anátema de “desenvolvimentista”, convertido em pecado mortal pelo pensamentomercadista– as linhas do que chamou de “plano de voo” da política econômica, que disse que vai levar a Lula nos próximos dias, com algumas medidas que terão impacto real sobre o consumo e os negócios no país.
A primeira delas é a execução, em curto prazo, das medidas para combater a inadimplência das famílias (e também das miro e pequenas empresas) que atinge 30,3% em novembro. O ministro deixou claro que o Banco do Brasil e a Caixa vão dar a partida neste processo que, espera ele, será seguido por bancos privados e concessionárias de serviço públicos.
Isso é tratado quase que como uma política de “caridade” e não como o fator essencial para destravar, além da vida real de milhões de brasileiros, o consumo das famílias que se provou essencial para o enfrentamento de crises recessivas que a globalização econômica seguidamente “importa” para o país. Nos cânones neoliberais, consumo tem uma relação direta com inflação, porque havendo procura haveria, necessariamente, aumento de preços.
Poderia ser verdade, se a inflação, por estas bandas, fosse de demanda, mas não o é. A inflação é financeira, porque os preços tendem a subir por sua ligação por vasos comunicantes com o preço do dinheiro no mercado, que atende pelo nome de “juros”.
O que remete ao segundo conceito emitido por Haddad que desagrada o rentismo: chamar a situação brasileira de “anômata”, por ter uma taxa de juros públicos – isto é, o preço que é pago pelo Estado brasileiro – que é quase o dobro da taxa de inflação.
“Dependendo da conta, o juro real está de 6% a 8%. Qual é a atividade econômica que rende isso? Vocês conseguem imaginar um investimento que tenha essa taxa de retorno real? “. Sim, ministro, a intermediação financeira tem, porque há pequenos agentes econômicos que não têm como obter recursos senão a estas taxas, porque não conseguem se financiar por captações diretas de dinheiro, interno ou externo, a taxas duas vezes menores. ou até menores que isso.
Haddad parece estar confiante – talvez até demais – que não há fôlego no mercado financeiro para sustentar uma queda de braço, como a dos últimos dias, para forçar o governo a abjurar de seu programa econômico e contentar-se em seu apenas o gestor da escassez.
Se está sendo ingênuo ou realista, veremos em poucos dias.
Embora não seja incoerente que milicianos façam campanha eleitoral como milicianos, é inacreditável que isso consiga arrastar, pelo fanatismo, uma parcela de brasileiros que, em condições normais, nada têm a ver com este tipo de banditismo.
Agora, na reta final, pressionados pela desvantagem aparentemente intransponível que tem Lula, estes atos desesperados são prenúncio da derrota e, além disso, preparação para as contestações do resultado.
O comportamento de Jair Bolsonaro, no debate de hoje, refletirá este clima. Agressões, desaforos e tentativa de intimidação física não faltarão.
Há, portanto, de não faltar a Lula a tranquilidade para suportar e, na hora certa, a firmeza para reagir.
A nossa parte é dar a cara na rua, combater com a exposição de nossa vontade decidida a vontade da população e rechaçar o medo que procuram impor.
É focar no objetivo: o que queremos para a vida dos brasileiros e que Bolsonaro negligenciou: comida, saúde, salário, escola, SUS…
A casa no sítio, na localidade de Palmeira, município de Esplanada (BA), onde Adriano da Nóbrega foi morto
Uma simples fotografia desmonta a versão oficial sobre a morte de Adriano da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que era um verdadeiro arquivo vivo do submundo do crime carioca e das ligações da família Bolsonaro com este submundo
Uma simples fotografia do sítio, localizado no início da rodovia estadual BA-233, no povoado de Palmeira, município de Esplanada (BA), a 170 quilômetros de Salvador demonstra, no mínimo, a incompetência – para não se falar em má fé – da polícia da Bahia. Estado que há muito é governado por petistas.
No interior desta casa, na manhã do domingo (09/02/2020), sozinho, estava o mais procurado criminoso do Rio de Janeiro, o ex-capitão da PM-RJ, Adriano Nóbrega. Um verdadeiro arquivo do submundo do crime carioca. E testemunha das ligações da família Bolsonaro com este submundo. Do lado de fora havia entre oito e dez policiais, número que varia com a origem da notícia. Apesar disso, o foragido não conseguiu ser pego com vida. O arquivo foi apagado. Tal e qual o próprio Adriano previu dias antes.
Com essa simples fotografia cai por terra todo o argumento verbalizado pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, o delegado da Polícia Federal, Maurício Barbosa. Segundo ele, “tentamos, mais uma vez, trazer aqui a pessoa presa, mas a escolha, infelizmente, não foi da nossa equipe, foi de quem efetuou a resistência e quis confrontar com nossos policiais”.
Jamais se conseguirá saber ao certo se houve ou não a tentativa relatada pelo secretário. Nem o grau de resistência do ex-capitão do BOPE do Rio e chefe da milícia na capital fluminense. Mesmo que os fatos tenham ocorridos como descritos, o resultado apresentado mostra o despreparo da polícia baiana. Sua incompetência. O que, aliás, acaba por alimentar as suspeitas de uma ação premeditada, com os resultados desejados.
Afinal, a mesma fotografia da casa isolada na área rural reforça aquilo que o sociólogo e estudioso das milícias, José Cláudio Souza Alves, destacou em entrevista a Fernanda Mena – Sociólogo e estudioso das milícias José Cláudio Souza Alves questiona a ação policial -, na Folha de S.Paulo, na segunda-feira (10/02): “Estamos falando de um quadro simplificado: um cerco a uma casa no campo. Investiram recursos públicos para desembocar naquilo que é o oposto do desejável. É inacreditável.”
Pouco importa quantas armas Adriano dispunha quando foi cercado pelos policiais. Nem o fato de ser exímio atirador. Aliás, por outro relato da Folha de S.Paulo, na casa encontraram a marca de apenas um tiro na parede. Detalhe que permite se levantar suspeitas sobre a troca de tiros que alegaram ter ocorrido.
Da mesma forma que a quantidade de sangue que ficou no chão permite se suspeitar que o miliciano morreu no local. Levá-lo, para um hospital – onde ele chegou morto – permite a suspeita que desfizeram o local do crime para evitar perícia. Uma prática comum quando policiais querem esconder execuções. Tal como mostramos na postagem Ex-capitão Adriano, “arquivo morto” que perseguirá os Bolsonaros.
A quantidade de sangue no chão permite se suspeitar de que Adriano morreu ali mesmo
Outro detalhe chama a atenção, até mesmo de leigos. Adriano estava cercado e sozinho. Sem comparsas por perto. E cercado permaneceria. Bastava que assim o quisessem. Pelo tempo necessário. Poderiam até lhe cortar água, luz e alimentos.
Também não vem ao caso se eram oito ou dez soldados do lado de fora. Ainda que fossem poucos, bastava chamar por reforço.
Tampouco deveria interessar a pressa na operação de resgate do preso. Afinal, há mais de ano ele era foragido e, pela primeira vez tinham condições reais de capturá-lo vivo.
Operação de estupidez e ignorância
A regra em casos como este tem sido de se vencer pelo cansaço. Por uma negociação, para ele se entregar. Oferecendo-lhe garantias de que não seria torturado, como certamente cansou de fazer com seus inimigos e adversários. Mas preferiram invadir o imóvel, contrariando o bom senso em operações como esta:
“Uma operação de cerco lida mais com espera, controle e dissuasão do que com um confronto direto”, afirmou, na entrevista à Folha, Alves, que é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro “Dos Barões ao Extermínio – Uma História da Violência na Baixada Fluminense” (APPH, 2003).
Na mesma entrevista, ele lembrou: “Estamos falando de um quadro simplificado: um cerco a uma casa no campo. Investiram recursos públicos para desembocar naquilo que é o oposto do desejável. Não dá para falar em operação policial de inteligência, mas sim de estupidez e de ignorância.”
Para fazer o cerco e persuadir o foragido, porém, seria preciso ter o desejo de pegá-lo com vida. Isso parece não ter sido o objetivo daquela operação policial.
Afinal, com ele vivo, seriam grandes as possibilidades de se tentar extrair as informações que possuía. Informações de valor inestimável nas apurações dos crimes em que se envolveu. Porém, certamente, bastante comprometedoras para muitos.
Como os membros da família Bolsonaro, dos quais o miliciano, se não era próximo, tinha ao menos boas relações a ponto de merecer inúmeras homenagens e dedicações.
Uma relação muito bem desenhada pelo deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), em um gráfico que relembra o famigerado powerpoint da turma da Lava Jato, quando atacaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal relação é que faz todo mundo concluir que a “queima de arquivo” promovida pela polícia baiana – do governo petista, recorde-se – beneficiará em muito o clã Bolsonaro. Em especial o hoje senador Flavio, que quando deputado estadual no Rio, empregou a hoje viúva de Adriano – Daniele – e a mãe do miliciano – Raimunda.
Duas servidoras que, por tudo que já se sabe, eram fantasmas. Recebiam sem comparecer ao prédio do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio. Provavelmente são daquelas servidoras do gabinete do então deputado que nem crachá tinham confeccionado. Não precisavam. Não tinham que trabalhar. Apenas repartir o que recebiam com o também amigo em comum dos Bolsonaros e de Adriano, Fabrício Queiróz. No famoso esquema da “rachadinha” que o Ministério Público do Estado do Rio anda a investigar.
A “queima de arquivo”, além de calar de vez Adriano, terá ainda seu efeito colateral. Imporá o medo aos demais envolvidos no esquema da “rachadinha”. A começar pela viúva e pela mãe do miliciano morto no domingo. Apesar da suposta raiva pela perda do ente querido que as duas devem estar vivenciando e do sentimento de vingança que podem estar nutrindo, elas saberão com quem não devem mexer. Ela e os outros ex-funcionários do gabinete de Flávio, na Alerj, cujos salários também foram divididos.
Portanto, a operação policial que o professor Alves classificou como “de estupidez e de ignorância” prestou um total desserviço à apuração do esquema da “rachadinha” envolvendo Flávio Bolsonaro.
Sem falar que, com a eliminação de Adriano, talvez informações importantes sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes podem estar sendo enterradas com ele. Mesmo sem que tivesse participado daquele crime, certamente ele teria o que informar a respeito.
Ao mesmo tempo, porém, a família Bolsonaro e o mui amigo Queiróz devem estar bastante agradecidos. Eles sabem que serão cobrados sempre das ligações com Adriano. Mas poderão ser cobranças sem provas. Sem testemunhos. Pois o principal deles foi queimado. Outros foram e estão amedrontados.
Começou o clima de “já perdeu” na pré-campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Quem detalha é a jornalista Malu Gaspar em sua coluna desta terça-feira (28) no jornal O Globo.
Os escândalos de corrupção no MEC – que levaram à prisão preventiva do ex-ministro Milton Ribeiro –, o mau desempenho em pesquisas e as divergências sobre estratégias eleitorais abalaram a pré-candidatura. A tudo isso se somam as más notícias da economia, como os juros cada vez mais altos, os incessantes reajustes nos combustíveis e a inflação sem controle.
Com o sugestivo título “Por que o núcleo político da campanha de Bolsonaro vive clima de derrota”, Malu Gaspar informa que o “comportamento” do presidente é, acima de tudo, a razão para o “clima de velório” que tomou conta da “chamada ‘ala política’ da campanha”.
Para melhorar as chances de Bolsonaro ao menos avançar nas pesquisas, o marqueteiro Duda Lima traçou diversas “recomendações” ao presidente, que tinha na agenda uma importante viagem ao Nordeste entre quinta-feira e o sábado. Mas, segundo aliados, Bolsonaro ignorou tudo.
“Lima fez uma apresentação propondo que Bolsonaro dedicasse todas as oportunidades que tivesse no Nordeste para fazer a defesa do Auxílio Brasil e de outras iniciativas que geraram emprego”, diz Malu Gaspar. O objetivo era “tentar virar o voto de eleitores que hoje decidiram abraçar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”.
“O material apresentado ao presidente na quarta-feira continha uma lista de programas, junto com o que o presidente deveria dizer sobre cada um deles nos discursos. Depois de assistir a apresentação, Bolsonaro elogiou o plano e disse ter concordado com tudo”, acrescenta a colunista. “Mas, nos dias seguintes, o esperado ‘foco total no social’ virou uma sequência de falas a respeito do caso Milton Ribeiro, das suspeitas infundadas do presidente sobre as urnas eletrônicas e da guerra de bastidores com o Supremo do que de programas sociais ou de realizações do governo que acabaram deixadas de lado.”
A coluna compila depoimentos de apoiadores próximo ao presidente. “O risco de derrota só aumenta”, diz um deles. “O presidente está fazendo de tudo para perder”, irritou-se outro aliado. “No nosso planejamento, junho seria o mês da virada, mas até agora só colecionamos problemas”, emenda um “estrategista da campanha”.
Conforme o texto, “o desânimo é recíproco”, o que leva Bolsonaro a ignorar os conselhos que lhe chegam de tudo quanto é lado – o PL, o marketing da campanha, a equipe jurídica, etc. Mesmo a proposta eleitoreira e inicialmente consensual – de reajustar o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás e criar um voucher de R$ 1.000 para os caminhoneiros – já não empolga parte da base bolsonarista.
É por isso que uma outra jornalista, Maria Cristina Fernandes, arrisca a dizer, no Valor Econômico, que o foco de Bolsonaro, a esta altura, está mais “na contestação dos votos do que na obtenção de um resultado eleitoral favorável nas urnas”. A escolha de um general para vice seria a evidência dessa nova tática.
“Braga Netto não lhe acrescenta votos, mas garante que o Ministério da Defesa aja como operador de uma estratégia fundada na contestação do processo eleitoral e na perseguição de seus adversários”, escreve Maria Cristina. “Se o atual vice, general Hamilton Mourão, foi um seguro contratado por Bolsonaro para não ser derrubado pelo Congresso, Braga Neto cumpre outra função. A de evitar que o eleitor o derrube.”
QUADRILHA DA LAVA JATO: OS BANDIDOS DA LIGA DA JUSTIÇA DE CURITIBA
Procuradores ladrões que atuavam na quadrilha da Lava Jato: Apuram-se pagamentos indevidos em diárias e passagens de R$ 2,8 milhões, detectados pelo Tribunal de Contas da União, que deveriam ser devolvidos por condenação administrativa
A decisão do Superior Tribunal de Justiça demandar restabelecer a apuração das responsabilidade pelas contas de Deltan Dallagnol, se não nos dá certeza de que, afinal, haverá punição para aquele grupo daLava Jatoque se adonou da máquina pública para convertê-la numa engrenagem política de autopromoção política – o que as candidaturas de seus integrantes comprovam cabalmente – é uma recompensa a quem acreditou no jornalismo. Ou, pelo menos, à parte dele que não se prestou a ser corifeu da República de Curitiba.
Apuram-se pagamentos indevidos em diárias e passagens de R$ 2,8 milhões, detectados pelo Tribunal de Contas da União, que deveriam ser devolvidos por condenação administrativa mas que, por decisão da 6a. Vara Federal de Curitiba (sempre Curitiba), confirmada pelo TRF-4 (o tribunal confirmador daLava Jato) tiveram a apuração sustada e que, agora, volta a andar.
Poderia ser bem menos, porque no longínquo 2017, meu colega Marcelo Auler revelou –e este blog republicou– que havia ali uma farra de passagens e diárias, embora o total era de “apenas” R$ 463 mil. o que os cinco anos passados sem punição foram repetindo e multiplicando valores até chegar a uma quantia quase sete vezes maior.
Mas Auler, afinal, era um “blogueiro sujo”, como Luís Nassif, Paulo Henrique Amorim, este escriba que você lê e vários outros, e a sua apuração, documentada, não repercutiu na mídia do “jornalismo profissional” esta história, como a tantas outras que, no máximo e raramente, “dão uma resvalada” nos grandes jornais, para logo desaparecerem.
É possível que Dallagnol, tal como fez com a ridícula história do Powerpoint contra Lula, apele aoslavajatistasde vida farta para, com uma vaquinha, ressarcir o Erário. Pouco importa, porque fica no “santinho” a mácula indelével da condenação.
O “santo” ex-procurador da Lava Jato nem precisa mexer no seu farto patrimônio, ao contrário de Auler e nós, que temos de enfrentar, sem meios, esta gente na Justiça, sempre simpática aos “de bem”, como ocorreu ele com as ações judiciais deuma das delegadas da Lava jato, afinal vencida.
Mas para nós, como diz aquele comercial da TV, não tem preço ver a nossa profissão, a de revelar a verdade, triunfar.
O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol escolheu o Twitter. “4ª feira é o dia D da luta contra a corrupção na#LavaJato. Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo país, jamais serão responsabilizados. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país.” O juiz carioca Marcello Brêtas lhe respondeu na plataforma. “Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração.”
Militares abriam o ventre dos mortos, retiravam as vísceras e jogavam no rio para ser comido pelos peixes
por Denise Assis
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No primeiro dia (05/06) do desaparecimento, na Amazônia, do indigenista Bruno Pereira, (41 anos), e do jornalista, Dom Philips, (57 anos), ainda sem que houvesse uma investigação mais aprofundada, Bolsonaro declarou que eles se meteram numa “aventura” e que poderiam ter sido executados.
Não houve perguntas sobre a base para a sua afirmação. Tampouco agora, quando declarou à Rádio CBN de Recife que ambos talvez tenham sido submetidos a "alguma maldade". Bolsonaro demonstra, desde o primeiro minuto, que quer dar ao tema um tom de “normalidade”, quando duas prováveis mortes, e tudo leva a crer, com requintes de tortura, nada têm de normal. A impressão que se tem é que ele sabe mais do que fala.
"Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontradas boiando no rio vísceras humanas que já estão em Brasília para fazer DNA”. Calculou também, que pelo prazo entre oito e nove dias de desaparecimento, “vai ser muito difícil encontrá-los com vida. Peço a Deus que isso aconteça".
Por enquanto, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", de 41 anos, é a única pessoa investigada por suspeita de envolvimento nos desaparecimentos. Ontem (12/06) as equipes de buscas encontraram pertences dos dois. Nesta segunda-feira (13/06), a mulher do jornalista britânico, Alessandra Sampaio, disse que os corpos dele e do indigenista foram encontrados. Mas as autoridades que atuam nas buscas, lideradas pela Polícia Federal (PF), não confirmam a informação.
Amarildo, o Pelado, foi preso na terça-feira, dia 07, e durante buscas na casa dele policiais militares encontraram uma porção de droga, além de munição de uso restrito das Forças Armadas. Na ocasião, foi também apreendida uma lancha, usada por ele.
No domingo, dia em que o indigenista e o jornalista desapareceram, ele foi visto por ribeirinhos passando no rio logo atrás da embarcação dos dois, no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, destino da dupla. Em sua lancha foram encontrados vestígios de sangue, mas ele alega inocência.
A partir daqui é preciso prestar a atenção em alguns detalhes que, no mínimo, poderíamos chamar de instigantes. Há quem vá se lembrar da “invasão” de cerca de 200 balsas de garimpo fazendo um verdadeiro paredão próximo às comunidades indígenas, naquela região. Aconteceu alguma coisa? Alguém foi punido? Não se tem notícias. Ou seja, há, no mínimo, uma leniência sobre os abusos e malfeitos que por lá acontecem. Houve denúncia do “sumiço” de 25 yanomamis. Apuração sobre o caso? A que resultado chegaram?
De acordo com o portal “Amazônia- Notícia e Informação”, do dia 10 de junho, segundo dados do Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), “o mês de maio totalizou 900 km² de área sob alerta de desmatamento na Amazônia Legal. O número é o segundo maior em seis anos, ficando atrás apenas de maio de 2021 que totalizou 1.391 km² de desmate. Mesmo com os números de maio ficando atrás da soma dos alertas de 2021, o compilado dos cinco meses de 2022 já é cerca de 8% maior do que o ano anterior”. Em sua fala na Cúpula das Américas, Bolsonaro disse que o Brasil preserva a floresta.
O descaso tanto para com a Amazônia, quanto para com o trabalho de buscas fez eco lá fora. A alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Michelle Bachelet, classificou de “lenta” a ação para localizar os desaparecidos e painéis com os rostos de Bruno e Dom circulam pela Europa com a pergunta: onde estão?
E, detalhe: o fato de Amarildo portar armas de uso exclusivo das Forças Armadas não pode ser considerado irrelevante. Tampouco terem sido encontradas vísceras boiando no rio.
Era o ano de 1993, e eu estava prestes a embarcar para cumprir a pauta: “Araguaia, 20 anos depois”, (Revista manchete de fevereiro daquele ano) na companhia do então líder do PC do B, Haroldo Lima e da responsável pelo recrutamento e condução dos jovens que optavam pela luta no palco da selva. Antes, fui ter com um tenente que havia servido no Araguaia, num domingo à tarde, para tentar obter dicas e informações. Ele me recebeu com cordialidade e começou o seu relato, após o almoço. Desmentiu que os corpos dos guerrilheiros tenham sido queimados na Serra das Andorinha, e detalhou como eram obrigados a participar dos “desaparecimentos”.
Contou que abriam o ventre dos mortos, retiravam as vísceras e jogavam no rio, porque rapidamente elas seriam comidas pelos peixes. Em seguida colocavam pesos no interior dos corpos, os ensacavam e jogavam na água. Antes, porém, tinham o “cuidado” de cortar as cabeças e as mãos. As cabeças eram enterradas em sacos plásticos, depois de fotografadas. Quanto às mãos, eram enviadas para o Comando, a fim de identificarem os “abatidos”. Ao fim do relato ele vomitou no meu sapato. Teve pico de pressão e interrompeu o relato para ser hospitalizado.
No ano de 2014, em audiência à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o agente do Centro de Informações do Exército e coronel do Exército brasileiro, Paulo Malhães, fez um relato muito parecido em seu depoimento público. Detalhou da mesma maneira o destino dos que combateram a ditadura no Araguaia. A impunidade e a permanência desses oficiais na formação dos quadros das Escolas Militares permitiram que o “modus operandi” fosse passado de geração a geração. É possível que os autores das “maldades” contra a dupla Bruno e Dom, tenham recebido esse tipo de treinamento. E não devemos descartar que tal como naqueles tempos, um “teatrinho” esteja sendo montado, antes do caso ser apresentado à sociedade. O tempo passa, os métodos não mudam.
Colunista Marcelo Auler cita o caso Genivaldo e afirma que 'outros moradores de Umbaúba sofreram truculência parecida por motivos idênticos: o uso de motos'
A violenta e criminosa abordagem que policiais rodoviários federais promoveram, em 25 de maio, aplicando torturas que levaram ao assassinato de Genivaldo Jesus dos Santos, um sergipano negro, de 38 anos, que vivia sob tratamento de distúrbios mentais, não foi fato isolado. Truculência parecida já tinha sido praticada contra outros moradores da cidade, por motivos idênticos: o uso de motos, transporte utilizado na cidade até mesmo por crianças.
A diferença é que no caso de Genivaldo a abordagem que terminou em um homicídio – provavelmente qualificado – foi registrada em vídeos por transeuntes. Filmagens que viralizaram nas redes sociais e desmontaram a “versão oficial” apresentada no Boletim de Ocorrência, na Delegacia de Polícia Civil de Umbaúba, cidade distante 102 quilômetros da capital sergipana, ao sul do estado. Uma versão prontamente encampada pela administração da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que chegou a falar no emprego de “técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” na contenção da vítima. Diante dos vídeos que desmentiam tal afirmativa, a corporação se viu obrigada a recuar.
Quase dois anos antes, por exemplo, em 1 de agosto de 2020, dois dos policiais rodoviários federais que aparecem no Boletim de Ocorrência em torno da prisão de Genivaldo – Paulo Rodolpho Lima Nascimento (matrícula: 1318594) e Clenilson José dos Santos (matrícula: 1510422) – registraram, na PRF, o Boletim de Ocorrência Circunstanciado Nº 1510422200731105030. Nele narram a apreensão da menor M.D.N., então com 17 anos, por trafegar em uma moto sem habilitação para tal.
Seria, aparentemente, um caso corriqueiro, em que a irmã mais velha da detida, E. N. J., proprietária da motocicleta, respondeu ao processo nº 202087001409, no Juizado de Umbaúba, no qual foi condenada a uma multa de um salário mínimo por ter permitido o uso de sua Honda BlZ 110 por uma pessoa não habilitada.
Verdade omitida
Na realidade, porém, o caso foi bem diferente do relatado pelos policiais rodoviários federais no Boletim de Ocorrência. Deliberadamente omitiram informações importantes e incluíram fatos contestados pelas duas irmãs, como de que a perseguição teve início na rodovia, onde M.D.N. diz não ter passado.
A omissão maior está nas conseqüências daquela abordagem policial, que deixou em M.D.N, uma sequela para o resto da vida. Ela teve uma fratura do fêmur direito, em consequência da queda da motocicleta que, segundo diz, foi provocada pelos próprios PRFs. No BO o fêmur fraturado transformou-se em “dores no joelho direito, não conseguindo movimentá-lo”.
O fêmur fraturado de M.D.N. no Boletim de Ocorrência feito pelos PRFs virou uma “dor de joelho”.
Na ocorrência os policiais dizem que a queda foi fruto de uma trombada da moto, desgovernada, “contra a parede de uma casa”. Na versão da vítima e seus familiares, o tombo foi provocado pelos próprios policiais, dentro do perímetro urbano da cidade, área que foge à jurisdição da PRF. Por não ter parado diante da sirene das motos dos policiais – segundo diz, achou que não era com ela – os dois a perseguiram e a derrubaram da moto com chutes, provocando o acidente, conforme relatou M.D.N. na entrevista que nos concedeu (vídeo abaixo).
Além de fraturar o fêmur, a menor diz que com a queda quase se sufocou, pois o capacete a apertava ao mesmo tempo em que expelia sangue pela boca. Uma transeunte a salvou, retirando a proteção de sua cabeça, sem respeitar a ordem dos policiais que quiseram impedir tal providência:
“Eu estava meio que agonizando, porque o capacete estava apertando pela boca e uma moça falou ‘vamos retirar o capacete dela’. Os policiais disseram ‘não vai retirar não. Deixa ela assim mesmo’. Aí a moça esperou ele se distrair e puxou o capacete. No que ela puxou o capacete ela disse que eu dei um suspiro”, relata D.N. no depoimento gravado no último dia 3 de junho.
Também não existe nenhuma referência ao incidente com A.D.N., pai da M.D.N. Como narra no depoimento que nos prestou, ele circulava nas proximidades ao saber que os policiais rodoviários federais estavam “enrabando” (termo usado na região para descrever uma perseguição policial) uma menina.
A.D.N. não imaginava ser sua filha, mas ao vê-la caída, meio que desmaiada, expelindo sangue pela boca, questionou em voz alta: “É preciso isso?” Foi o suficiente para desagradar um dos policiais que lhe respondeu com spray de pimenta no rosto e na barriga, recomendando que “não colocasse mais suas patas ali”. Embora se calasse, não arredou pé do local até a ambulância do SAMU recolher sua filha, que foi acompanhada da mãe para o hospital. Nada disso, porém, foi levado ao Boletim de Ocorrência que apenas registra a presença do genitor da menor.
Violência se repetiu
Episódio parecido ao de M.D.N – uma queda da moto provocada pela ação policial – foi relatado na Delegacia de Polícia Civil de Umbaúba por outro jovem morador da cidade, no dia 27 de maio, isto é, dois dias após o assassinato de Genivaldo.
Encorajado pela repercussão do assassinato no dia 25, J., de 21 anos, procurou a polícia alegando ter sido perseguido e derrubado da motocicleta, mesmo depois de parar de fugir e se render a dois policiais rodoviários federais. Foi o que narrou com exclusividade a jornalista Thaísa Oliveira, daFolha de S.Paulo, na reportagemJovens dizem terem sido agredidos por PRFs em Umbaúba dois dias antes da morte de Genivaldo, dando conta do registro tardio do fato ocorrido em 23 de maio:
“Nos documentos, um homem de 21 anos e um adolescente de 16 relatam que, mesmo algemados com as mãos para trás, receberam chutes, tapas e pisões no rosto. Segundo os jovens, a abordagem contou com quatro agentes.(…)
Depois, os agentes mandaram que ele ‘ficasse sentado e começaram a lhe dar tapas no rosto’. O homem, então, relata ter pedido para que os policiais não o matassem. ‘Não me mate não, me leve preso’; que um dos policiais disse: ‘Vou te levar pra mata pra você aprender!’, consta em trecho do boletim de ocorrência. Ele diz que ‘sofreu lesões do lado esquerdo do rosto e nos lábios, em decorrência da pressão feita pelos pés do policial no seu rosto, pressionando a sua face contra o chão’.
Em depoimento àTV Sergipeo mesmo jovem, não identificado por questões de segurança, confirmou que ao decidir parar de fugir e se entregar, foi derrubado da moto e sofreu agressões, como reportado no Jornal local do dia 1 passado, pela repórter Lays Rocha, como pode ser visto nessevídeo:
“Quando eu parei a moto, eles vieram e colidiram na minha moto. Bateram no fundo da minha moto e eu caí. Quando eu caí… eu estava com mais um colega meu. Quando eu caí, ele também caiu… com medo ele correu ainda um pouco, aí eu comecei a chamar ele. Ele parou, um policial foi até ele e o outro veio por trás de mim e me deu um golpe e eu caí. Assim que eu caí começaram as agressões. Foi chute, tapa… as agressões que eles fizeram comigo eu não consegui nem perceber tanto pois eu estava tentando proteger meu rosto, tentando proteger o corpo, né?… alguns arranhões.. eu pedia e eles não pararam. Eles não paravam. Achava eu que eles iam me matar de pancada”.
Fraude processual
Estes episódios apenas reforçam que a violência com que policiais rodoviários federais atuam naquela região é rotineira e antiga. Demonstram ainda que esses mesmos policiais cometeram, em outras oportunidades, a chamada “fraude processual”, tal como classificou o advogado Ivis Melo de Souza, que representando a mãe, Maria Vicente de Jesus, e as irmãs, Alice e Valdice de Jesus Santos, de Genivaldo atuará como assistente de acusação no processo criminal a ser instaurado em conseqüência do assassinato do sergipano.
Com base no fato de os policiais registrarem um Boletim de Ocorrência, na Delegacia de Polícia Civil de Umbaúba com relato totalmente diferente do que realmente ocorreu na abordagem do dia 25 de maio, Melo de Souza entende que ocorreu a fraude processual. Respaldado nela, ingressou junto à 7ª Vara Federal Criminal de Sergipe, sediada no município de Estância (jurisdição à qual pertence Umbaúba), com o pedido de prisão preventiva dos três agentes que teriam tido relação direta com o homicídio: Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia.
Apesar de a PRF omitir o nome dos agentes que participaram do homicídio de Genivaldo, a identidade deles foi revelada pelo Fantástico da TV Globo.
Rodoviários Federais – Clenilson José dos Santos e Adeilton dos Santos Nunes – também faziam parte da equipe mas o envolvimento deles não está totalmente esclarecido. Clenilson, porém, também esteve envolvido na abordagem da menor M.D.N., em agosto de 2020, juntamente com Paulo Rodolpho o qual, por sua vez, já se envolveu em um caso de injúria com um vizinho,
O advogado entende que tanto o delegado de Polícia Federal responsável pelo caso, Fredson Vital, como os membros do Ministério Público Federal (MPF) erram ao não solicitar a prisão preventiva dos envolvidos. Para ele existe “demonstração cabal de que há clara tentativa de dificultar a livre produção probatória e, portanto, um risco a conveniência da instrução criminal”. Na petição ajuizada ele insiste:
“Diferente do que os Agentes registraram na Comunicação de Ocorrência Policial, a vítima atendeu todos os comandos, inclusive informando que usava medicamentos controlados.” O advogado ainda afirma que os policiais tentaram evitar que o corpo de Genivaldo fosse para o Instituto Médico Legal, onde os exames comprovaram sua morte por asfixia. Teriam tentado levá-lo diretamente à funerária.
Primeira Contradição
Transcreve-se da petição apresentada pelo representante da mãe e das irmãs de Genivaldo ao juiz federal Rafael Soares Souza:
“No registro de ocorrência policial, foi relatado que: ‘foi dado o comando para que o condutor desembarcasse da motoe levantasse a camisa, como medida de segurança,no entanto a ordem foi desobedecida, levantando o nível de suspeita da equipe. Ato contínuodeterminou-se que o indivíduo colocasse as mãos na cabeça e abrisse as penas, de modo a possibilitar a busca pessoal, porém esta ordem foiigualmente desobedecida, agravando-se pelo fato de que o abordado a todo o momento passava as mãos pela linha da cintura e pelos bolsos.
Excelência, o vídeo é claro ao demonstrar quenão houve desobediência. A vítima colou as mãos para cima de forma pacífica eEM NENHUM MOMENTOpassou as mãos pela linha da cintura, nem pelos bolsos.O VÍDEO NÃO DEIXA NENHUMA DÚVIDAde que o relato de ocorrência não reflete a verdade.
Segunda Contradição
Ainda no registro de ocorrência, consta que a vítima foi algemada e contida, mas que “ao tentar colocá-lo no compartimento de presos da viatura,novamente o abordado resistiu, se debateu e deu chutes a esmo, deixando as pernas do lado de fora,sendo necessário mais uma vez o uso das tecnologias. Em seguida a equipe abriu o compartimento para que o indivíduo se acalmasse e cooperasse com a condução, momento em que a contenção das pernas se tornou possível. Nesse momento, o abordado, plenamente consciente, posicionou-se de forma sentada, sendo conduzido começou a passar mal, sendo socorrido prontamente”
Meritíssimo, o vídeo mostra claramente que a vítima já contida, um dos policiais lança uma granada de gás lacrimogêneo dentro do porta-malas, sendo possível ouvir Genivaldo gritando desesperadamente, enquanto pessoas que presenciavam o fato, diziam aos policiais que eles iriam matar a vítima, mas isso não foi suficiente para sensibilizar os Agentes e fazer cessar a agressão.
Ainda consta do registro de ocorrência,que“o abordado, plenamente consciente, posicionou-se de forma sentada, sendo conduzido começou a passar mal, sendo socorrido prontamente”
Este fato é mais uma inverdadecontida na Comunicação de Ocorrência. É possível verificardos vídeosque a vítima não estava consciente quando os agentes abriram o porta-malas e que não foi posicionado sentado.
Como se pode extrair do vídeo, enquanto inalava o gás, Genivaldo se debatia de desespero eantes mesmo de abrirem a “câmara de gás” a vítima não tinha mais reação,momento em que os policiais pegaram suas pernas e colocaram para dentro e fecharam.
Terceira Contradição
Consta do registro de ocorrência que“imediatamente a equipe seguiu para a delegacia de Polícia Civil da cidadee, durante o trajeto, o conduzido começou a passar mal,sendo socorrido prontamente. A equipe seguiu prontamente para o hospital local, onde foram adotados os procedimentos médicos necessários, porém, possivelmentedevido a um mal súbito, a equipe foi informada que o indivíduo veio a óbito.”
Não houve imediato socorro,pelo contrário, há informações de queos policiais ainda demoraram no local,enquanto as pessoas reclamavam que a vítima precisava de atendimento.
Após algum tempo, entraram na viatura e saíram. Ao chegarem na Delegacia e constatarem o óbito,os Agentes quiseram encaminhar o corpo diretamente para funerária, sem que fosse levado para o Instituto Médico Legal, de modo a evitar a realização do exame tanatoscópico, pois sabiam que a causa da morte foi em decorrência da câmara de gás.
Portanto,há clara demonstraçãode que os Agentes,desde o início, buscaram alterar as informações, prejudicando a livre produção probatória para se chegar à verdade real dos fatos. (grifos do original)
Ao peticionarem ao juízo na segunda-feira (0/06) os representantes da família de Genivaldo ainda desconheciam os detalhes dos outros dois casos narrados nesta reportagem que demonstram a pratica abusiva recorrente dos agentes da Polícia Rodoviária Federal naquela região, ao sul de Sergipe.
Ainda assim, no pedido que fizeram da decretação da prisão preventiva dos três policiais diretamente relacionados ao homicídio qualificado de Genivaldo, eles destacam a periculosidade dos mesmos, a justificar a prisão cautelar deles:
“Excelência, a manutenção da liberdade dos agentes, quando certa a autoria e materialidade, causa descrédito social da Justiça. Não se pretende a prisão para atender o clamor público ou a repercussão social do fato, isoladamente. A periculosidade dos agentes é inerente na própria ação criminosa praticada. Não se trata de presunção de periculosidade dos agentes, a periculosidade decorre da forma como o crime foi praticado (modus operandi)”.
Senadores desembarcam em Sergipe
Antes de decidir, o juízo pediu a manifestação do Ministério Público Federal, mas os próprios advogados representantes dos familiares de Genivaldo não acreditam que o pedido encontrará respaldo SOS procuradores da República que analisam o caso.
Nesta segunda-feira (12/06) desembarca em Sergipe a Comissão de Direitos Humanos do Senado, capitaneada pelo senador Humberto Costa (PT-PE) autor do requerimento da diligência no estado para verificar o assassinato de Genivaldo. Os senadores estarão, na terça-feira, em Umbaúba. Seria conveniente que além de falarem com os familiares do morto e possíveis testemunhas do ocorrido no dia 25 de maio, eles tratasse de ouvir as vítimas dos outros casos relacionados às ações violentas dos Policiais Rodoviários Federais. Talvez isso, inclusive, atraia novos relatos de outros episódios parecidos que muitos na cidade dizem existir, mas não revelam os detalhes. Esta na hora desses outros casos serem levantados.
São curiosos os cenários traçados pelo mercado. Em geral, pegam séries históricas e projetam levando em conta fatores macroeconômicos que surgem no horizonte: aumento da inflação global, queda no PIB mundial, inflação brasileira etc.
Em qualquer cenário que se trace, o fato mais relevante são as análises de probabilidade de um golpe de Estado bolsonarista ser bem sucedido.
Não falei em análise de probabilidade de haver um golpe. A probabilidade é de 100 por cento. As análises são em relação à probabilidade do golpe ser bem sucedido ou não. E, em caso de não ser bem sucedido, quais as consequências de sedições e atentados insuflados pelos Bolsonaro.
Nunca houve golpe mais anunciado. Apenas nos últimos dias, o país testemunhou nos seguintes eventos:
Manifestações de PMs de Minas Gerais em favor de um cantor embaçado pela Justiça.
Antes disso, manifestações armadas da PM mineira em defesa de aumentos.
A decisão do governador do Rio de Janeiro de armar todos os policiais aposentados.
A adesão da Polícia Rodoviária Federal às milícias bolsonaristas, depois da nomeação, como diretor geral, de um integrante do Club 38, um clube de tiro de Florianópolis conhecido pela militância bolsonarista.
Os desdobramentos das medidas de Bolsonaro, desmontando a fiscalização no porto de Itaguaí, porta de entrada do contrabando de armas no país.
As informações sobre o arsenal mantido em casa pelo ex-policial Ronnie Lessa, vizinho de Bolsonaro e principal acusado pela morte de Marielle Franco.
A anomia das Forças Armadas, de assistirem a perda do monopólio da força para os clubes de caça e tiro, sem esboçar uma reação sequer.
Os ataques cada vez mais virulentos de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral.
O cenário já está armado.
Primeiro, acusa-se o TSE de manipulação da urna eletrônica. Há empresas que trabalham na segurança do TSE e, ao mesmo tempo, servem ao Exército.
Por outro lado, a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e o serviço de inteligência do Exército já dispõem de sistemas capazes de controlar ⅔ da população brasileira usuária da Internet.
Os sistemas permitem montar listas de pessoas a serem acompanhadas, delimitar territórios de espionagem, saber quando essas pessoas penetram nessas áreas, poder invadir seus celulares, mesmo estando desligados. Parte desses sistemas foi adquirida nos Emirados Árabes por uma comitiva da qual faziam parte os próprios filhos de Bolsonaro.
A grande questão é o que ocorrerá com as Forças Armadas e a cúpula das Polícias Militares estaduais quando eclodirem os atentados e tentativas de golpe.
Literalmente falando, é a questão de um milhão de dólares, muito mais relevante do que adivinhar o nível da Selic no final de ano.
Nesta semana, quando o apreço pela ideia de civilização ainda se recuperava da declaração cretina do vice-presidente Hamilton Mourão, debochando da descoberta de 10 mil horas de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) onde os próprios ministros reconhecem a prática da tortura durante a ditadura militar, inclusive em mulheres grávidas, outro personagem medalhado, o presidente atual do STM, resolveu pontificar.
“Não estragou a Páscoa de ninguém”, foi o pitaco do general Luis Carlos Gomes Mattos sobre a tortura. O que faz pensar que, naquele tempo de escuridão, decepar seios de mulheres, enfiar-lhes baratas na vagina ou violá-las com cassetetes não deve ter estragado nenhuma das 21 páscoas dos generais e muito menos a dos torturadores, diversos deles premiados com a inacreditável Medalha do Pacificador.
Foi numa semana da Páscoa de 1971, que Devanir José de Carvalho foi torturado até a morte pelo delegado , o cão de caça dos porões depois do Ato Institucional no. 5. No mesmo mês, Joaquim Alencar de Seixas foi espancado até a morte. Poucos dias antes da Páscoa do ano seguinte, foi a vez de Antonio Marcos Pinto de Oliveira, Maria Regina Figueiredo, Ligia Maria Salgado Nóbrega e Wilton Ferreira serem torturados e/ou assassinados.
Fleury serial killer
Em 1974, num dia 3 de abril, quando as famílias aguardavam a Sexta-Feira Santa, o ex-oficial do exército, Walter de Souza Ribeiro, desapareceu em São Paulo. Nos anos 1950, Ribeiro fizera algo que provocaria sua expulsão da corporação: assinou um documento em favor da paz mundial, condenando as armas atômicas e manifestando-se contra o cogitado envio de tropas brasileiras para lutar na Coréia.
Se não abalou a Páscoa da caserna, a desaparição de Ribeiro por certo amargurou muitas páscoas de seus familiares. Ele continua desaparecido. Em 1992, o ex-sargento Marival Chaves do Canto declarou à revista Veja que Ribeiro foi capturado pelo DOI-Codi e conduzido para o Rio onde foi assassinado e teve o corpo esquartejado para ser enterrado em lugares diferentes e não ser identificado, como consta no Dossiê de Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964, elaborado pela Comissão Especial que investigou o assunto.
Armada contra o regime apenas com o seu verbo e sua fúria, a estilista Zuleika Angel Jones sofreu um atentado na noite de 14 de abril de 1976. Havia cinco anos procurava seu filho Stuart Angel Jones. Stuart fora preso, torturado, amarrado e arrastado por um jipe na Base Aérea do Galeão e executado por agentes do governo. A ditadura urdiu para Zuzu Angel aquilo que, no jargão repressivo, ganhou o nome de “Código 12”: assassinato através da simulação de acidente ou assalto.
Naquela madrugada, o carro de Zuzu foi perseguido e abalroado por outro veículo e jogado numa ribanceira na estrada Lagoa-Barra, no Rio.
A Páscoa dos generais transcorreu dentro da mais completa normalidade.
Para o general do STM, as 10 mil horas são “notícia tendenciosa”, propositalmente ignorando que a “notícia tendenciosa” saiu da boca de generais que sentaram nas cadeiras onde assenta hoje o seu traseiro.
Mattos suspeita que, atrás de tudo, está a intenção de “atingir as Forças Armadas, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica”. É um erro medonho o do general.
Não existe algo que mais atinja as Forças Armadas do que a vassalagem a um governo que tem a sua testa um personagem destinado à lata de lixo da história. Aliás, uma criatura que os próprios generais repudiaram no passado. Não existe algo que mais atinja as Forças Armadas do que dilapidar dinheiro público na compra de próteses penianas, viagra, botox e gel lubrificante íntimo.
Não é a História e sim a vergonha que deveria estragar a Páscoa dos generais.
A decisão do presidente Jair Bolsonaro em conceder o indulto individual ao deputado federal Daniel Silveira foi o maior erro que o mandatário brasileiro cometeu, na visão do jurista Lenio Streck.
“Para mim, esse é o maior erro que o presidente Bolsonaro cometeu ao dar esse indulto individual, ou a graça, do deputado”, disse Lenio, em entrevista exclusiva aoTV GGN Jurídicodesta sexta-feira (22/04).“Acho que o número de ações que já entraram no Supremo e as manifestações todas vão colocar, digamos, esse ponto até onde vai o Bolsonaro, e até onde vai o direito e o próprio Supremo”.
Para Streck, Bolsonaro pretende usar isso para outros amigos, como o presidente de honra do PTB Roberto Jefferson, conforme o sucesso ou insucesso da medida, o que abre “um perigoso caminho” jurídico.
“Eu diria que, assim, a democracia brasileira é a democracia do match point. A bola tá lá em cima, tá caindo para um lado, caindo para o outro. Dependendo da bola que cai, se cai pelo lado do Bolsonaro ele pode marcar um ponto, dependendo do outro lado ele pode sofrer sério prejuízo com isso”.
Neste caso, pode-se dizer que o Supremo está sozinho, pois o Parlamento brasileiro não tem se movido para ajudar a justiça.“De um lado, está o Bolsonaro e ainda o Parlamento ajudando a puxar (a corda), e do outro lado está o Supremo Tribunal, que hoje é muito mais criticado pelos seus acertos do que por seus erros”.
Até o momento, três ou quatro Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) pedindo a anulação do indulto de Silveira estão em andamento. Na visão de Lênio, essa parece ser a medida correta, lembrando da movimentação em andamento no próprio Parlamento.
“Existe uma possibilidade na própria Constituição de que alguns atos administrativos do presidente da República podem ser sustados pelo Parlamento – isso já aconteceu outras vezes, mas é raro acontecer do Parlamento sustar”, diz o jurista.
“Mas, primeiro, não tem maioria pro Parlamento fazer a sustação desse ato e, portanto, só resta o Supremo Tribunal para examinar essas ações, essas Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental”, afirma Streck.“A esperança está nessa questão do Supremo Tribunal, como o Supremo Tribunal vai examinar isso, fazendo uma limpeza na área”.
Confira a entrevista completa de Lênio Streck na íntegra do especialTV GGN Jurídico. Clique abaixo e confira!
Em debate: Após o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o deputado federal Daniel Silveira a 8 anos de reclusão, além de inelegibilidade, por ataques aos ministros da Corte, o presidente Jair Bolsonaro decidiu assinar um decreto concedendo indulto (perdão presidencial) ao parlamentar bolsonarista. A medida tem sido considerada por alguns juristas como o mais grave ataque de Bolsonaro às instituições e à democracia. É de se perguntar: o que Bolsonaro pretende criar com esse indulto em pleno ano eleitoral? Para debater esse assunto, Luis Nassif, jornalista da TVGGN, recebe o colega Marcelo Auler, o jurista Lenio Streck e o professor de Direito Eduardo Appio.
1:30 Bolsonaro está testando seus poderes e demonstrando que ele é soberano. É uma continuidade do velho golpe. Há uma chance de acirramento da ditadura e deste estado de exceção
5:30 Daniel Silveira é o macho publicitário do bolsonarismo. Ele simboliza através do seu corpo, dos seus músculos e da sua desobediência a agressividade política. Ele faz a cena do brutamontes. Isso é um capital estético poderoso
13:00 Culto ao músculo é vazio. É um culto à força bruta e à violência. Fascistas cultuam a morte e se comprazem com a morte. E fazem o culto da masculinidade tóxica. Não por acaso, cresceu loucamente a violência doméstica e o feminicídio.
20:00 Este é um governo militar e Bolsonaro é seu espantalho.
22:00 Se Bolsonaro der demonstrações de fraqueza, ele perderá território. Vai vencer quem demonstrar mais força. As vítimas sempre perdem. Ainda há um mundo por destruir.
24:00 Os brasileiros estão tomados pelo pânico e não tomarão as ruas.
26:00 Se ele não for cancelado pelo STF, ficará maior do que já está. Para virar esta chave, o STF tem que prender Bolsonaro
31:00 Nenhum de nós tem certeza de que teremos eleições. É possível que não haja eleição. Talvez tenhamos que ir às ruas pedir Diretas Já
37:00 O povo não está disposto a sacrificar sua vida. Em nome de que? De qual democracia? Para que cuidar do País? A chance de desaparecermos como Nação é possível
43:00 Brasil corre o risco de virar uma ditadura escancarada