Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

15
Jan24

“Militares atuaram em 8 de janeiro por omissão e também por ação”

Talis Andrade

francisco teixeira.jpg

Francisco Teixeira, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e pesquisador da UFRJ

 

Historiador Francisco Teixeira revela que pesquisadores intercederam para governo não aprovar GLO após invasão em Brasília  

 

Por Natalia Viana

Houve uma tentativa de insurreição, segundo conceito da ciência política – e uma insurreição que repete ações semelhantes que ocorreram recentemente da Ucrânia à Bolívia e nos Estados Unidos. Essa é a avaliação do historiador Francisco Teixeira, que estuda a relação entre civis e militares e mantém contato com oficiais. Em conversa com a Agência Pública, ele analisa os eventos de 8 de Janeiro e a não punição dos principais envolvidos. 

“É um movimento caracterizado por insurreição, que geraria necessidade, então, de uma intervenção militar. E isso se afirmaria através de um golpe de Estado. É uma técnica que é perfeitamente identificada na Marcha sobre Roma de 1922, de Benito Mussolini. É um modelo da insurreição fascista”, diz.

Teixeira foi presidente do Instituto Pandiá Calógeras de Estratégia Internacional do Ministério da Defesa durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, é professor emérito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). 

Ele revela, na entrevista, como um grupo de estudiosos dos militares manteve interlocução com o PT e o governo federal durante o dia 8 para ajudar a afastar a opção de uma GLO e abrir caminho para a intervenção civil, prevista no artigo 136 da Constituição, em casos de Defesa do Estado. “Na verdade, tinha se preparado o nome de um general para assumir o controle. E assumindo o controle a devolução desse poder à República não seria fácil”, diz.

POR QUE ISSO IMPORTA?

  • A entrevista revela como foram os bastidores para se impedir o decreto de uma GLO após a invasão de Brasília, que daria ainda mais poderes para militares
  • A análise de Teixeira também aponta como um golpe foi impedido por pouco e que as forças militares seguem anti democráticas no atual governo

 

Natalia Viana entrevista Francisco Teixeira

 

Como o senhor analisa a participação dos militares no dia 8 de janeiro?

Os militares tiveram uma participação intensa, mas também variada, em graus diferentes. Eu acho que, para simplificar, de um lado, nós poderíamos dizer que houve uma participação por inação.

Essa inação se deu, por exemplo, no caso do coronel Fernandes da Hora, comandante da Guarda Presidencial, que não agiu. Tinha os homens, tinha os meios, tinha as formas, inclusive, de dar alerta prévio do que estava acontecendo e não fez nada do que suas funções o obrigavam a fazer.

Mas também do General Dutra, comandante militar do Planalto, que tem todo um aparelho ali, e que a gente sabe, inclusive quando tem manifestações populares, Gritos da Terra, tudo isso é colocado em funcionamento — e não foi. Aqui teve uma participação muito clara por inação, por deixar acontecer.

De outro lado, houve uma participação também por ação, e essa é ainda mais grave, se é possível, porque também deixar invadir o Palácio Presidencial é de extrema gravidade. 

Isso ocorreu porque alguns elementos dentro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e dentro das Forças Armadas, particularmente no Comando Militar do Exército, tiveram uma atuação muito clara nesse sentido. 

Seja através da infiltração de homens no processo insurrecional… Na verdade, do ponto de vista estrito de ciência política, não foi golpe, foi uma tentativa de insurreição que levaria a um golpe.

Mas isso é uma questão mais técnica.

 

Não, é muito interessante, por favor desenvolva..

Todo o modelo, o que aconteceu em 2014 na Praça Maidan (praça central de Kiev, na Ucrânia), o que aconteceu em La Paz (Bolívia) em 2019, o que aconteceu no Capitólio, é insurreição. 

É um movimento caracterizado por insurreição, que geraria necessidade, então, de uma intervenção militar. E isso se afirmaria através de um golpe de Estado.

Deu certo na Praça Maidan, deu certo em La Paz, não deu certo no Capitólio, em Washington, e não deu certo no Brasil.

É uma técnica perfeitamente identificada na Marcha sobre Roma de 1922, de Benito Mussolini. É um modelo da insurreição fascista.

Mas, voltando aqui, quer dizer, no caso da ação, ficou claro, por exemplo, que o general Arruda, então comandante do Exército, não só protegeu esses infiltrados, que depois acabaram sendo denominados de “kids pretos”, como também mobilizou, deslanchou a ação de blindados na Praça dos Cristais para proteger os insurretos, as pessoas que estavam depredando a cidade e foram procurar abrigo lá na praça, no chamado acampamento dos patriotas.

 

Mas não houve punição… 

Isso não foi entendido assim. Naquele momento, as pessoas responsáveis pelas cobranças que deveriam ser feitas, principalmente o general Gonçalves Dias (chefe do GSI) e o ministro José Múcio Monteiro, eles não entenderam isso.

Múcio vinha já há dias e dias dizendo que não era para mexer nos acampamentos, que tinha, inclusive, amigos e familiares e que todos eram patriotas. E o Gonçalves Dias tinha a ilusão de que ele estava no controle da máquina, o que se mostrou que não era verdade e que ele, ao não afastar os elementos golpistas militares dentro do GSI, cavou a própria tumba. [continua]

24
Nov23

Carta aberta a Francisco Mesquita Neto, diretor do Estadão e da ANJ

Talis Andrade

 

Os autores de dois dos maiores furos recentes do jornal foram demitidos logo após a publicação das reportagens.

12
Jul23

A Cara do Golpe, Capítulo 1: A reunião preparatória

Talis Andrade

bolsonaro cleaning_professional_force__paolo_calle

 

Primeiro capítulo da série recupera audiência pública realizada no Senado um mês após as eleições e que serviu como estopim para os ataques de 8 de janeiro. Sâmia chama Girão de "terrorista" por envolvimento em ações golpistas

 

Em 30 de outubro de 2022, a maioria da população brasileira escolheu Lula como seu presidente. Derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro se comportou como era de se esperar de alguém que não respeita a democracia e se recusou a telefonar para o candidato vitorioso, reconhecendo a derrota.

O silêncio do ex-capitão era a senha que seus seguidores mais fanáticos esperavam. No dia seguinte, eles começaram a bloquear estradas, tentando provocar o caos no país. E não demorou para que começassem a se fixar em frente a quartéis do Exército, pedindo por um golpe militar.

Reuniao golpista no Senado

Foi nesse clima de tensão e de clara ameaça à democracia que, em 30 de novembro de 2022, um mês após o segundo turno das eleições, o Senado abrigou uma audiência pública que, devido ao que se falou e às pessoas presentes, pode ser considerada uma reunião preparatória dos ataques terroristas e golpistas de 8 de janeiro.

Realizada na Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle (CTFC), a audiência foi proposta pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) para “discutir o pleito no Brasil de 2022”. Mas “discutir” é um termo muito suave para o que de fato ocorreu.

No encontro, os presentes, em sua totalidade apoiadores de Jair Bolsonaro, se recusaram a aceitar o resultado das urnas. Segundo eles, a eleição havia sido “fraudada”, “injusta”, “discriminada”, “suspeita”, “parcial”, “maculada”, “não transparente”, “duvidosa”, “de mentirinha”.

O então deputado eleito Gustavo Gayer (PL-GO), por exemplo, afirmou que “simplesmente não houve eleição”. E o deputado Marcelo Moraes (PL-GO) disse haver “elementos suficientes para derrubar essa eleição”.

Tudo foi transmitido ao vivo em telões para golpistas acampados em frente aos quartéis Brasil afora. Inclusive o Quartel General em Brasília, que já abrigava — graças ao financiamento de empresários bolsonaristas que estão sendo identificados — os terroristas que atacaram os Três Poderes no dia 8.

Girão "terrorista" 

 

A sessão da CPI do MST desta quarta-feira (12) virou um intenso bate-boca após a deputada Samia Bomfim acusar Elieser Girão de "terrorista". O argumento da parlamentar surge após denúncias exclusivas da jornalista Denise Assis, do Brasil 247, apontando o envolvimento do deputado em ações golpistas.

Elieser Girão, coronel aposentado como general, foi flagrado trocando mensagens com o terrorista que tentou explodir o aeroporto de Brasília, George Washington. 

 

General anuncia semana de terror

Humor negro. O general aposentado deputado Girão anunciou a bomba no Aeroporto de Brasília como um presente de Natal. Inclusive divulgou a senha mórbida: coloque sapatinhos na janela. Veja vídeo reportagem dos jornalistas Marcelo Auler e Leonardo Attuch.

Tem outro general Girão, o senador, que promoveu a reunião doutrinária de 30 de novembro no Senado Federal, o que também nao deixou de ser uma piada macabra de quem pretende um golpe que vai depor um presidente eleito e fechar o Congresso. 

Os terroristas pretendiam no dia primeiro de janeiro matar o presidente Lula que derrotou Bolsonaro no primeiro turno. E no segundo. O plano falhou.

No dia 8 de janeiro prentendiam golpear o Brasil. O plano falhou.

 
Antigas fake news
 

Durante mais de 11 horas de audiência, antigas mentiras inventadas por eles mesmos foram repetidas para “comprovar” sua aloucada tese de eleição “fraudada”. O ex-ministro de Bolsonaro Fabio Wajngarten recuperou o factoide de que rádios deixaram de veicular a campanha do ex-presidente derrotado.

Já o youtuber argentino de extrema direita Fernando Cerimedo ganhou espaço para repetir sua já desmoralizada denúncia sobre indícios de fraude nas urnas eletrônicas.

Outras “provas” seriam o “fato” de os institutos de pesquisa manipularem dados e a fake news de que o ex-presidente do TSE Roberto Barroso teria dito que “eleição não se ganha, eleição se toma”. Desmentida desde agosto (veja vídeo abaixo), essa frase foi citada como sendo verdade ao menos quatro vezes.

No fim, o quadro pintado era o de que o Brasil vivia um estado de exceção, expressão empregada mais de 20 vezes por diferentes participantes. E o culpado por essa “ditadura” era o Poder Judiciário, que não só interferira no processo eleitoral como estaria “perseguindo” e “censurando” a direita brasileira.

Dando força a essa tese, o advogado e professor Ives Gandra Martins, espécie de guru jurídico dos que defendem a tomada de poder pelos militares, ganhou espaço de destaque na audiência, para criticar a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao cidadão, disseram os participantes, caberia resistir e defender a democracia, em uma completa inversão da realidade. “Não podem voltar ao poder. Faremos de tudo o que for necessário. (…) Vocês que estão protestando – e é legítimo – e nós faremos a nossa parte. Estamos juntos nessa empreitada, até o fim”, atiçou o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS).

Enquanto a sessão transcorria, mensagens explodiam na caixa de comentários no canal da TV Senado no YouTube. “SOS Forças Armadas”, “GLO (Garantia da Lei e da Ordem)”, “Artigo 142” eram algumas das expressões mais comuns. Todas, um claro apoio a um golpe militar.

Efeito imediato: queima de Brasília

O incentivo à turba acampada em frente aos quartéis surtiu efeito e foi como gasolina lançada sobre uma fogueira que estava acesa desde a derrota de Jair Bolsonaro (baixe aqui a Linha do Tempo e o Roteiro do Golpe).

A temperatura golpista subiu em Brasília após a reunião no Senado. Três dias depois, bolsonaristas invadiram um shopping da capital federal aos gritos, pedindo “liberdade” e a prisão de Lula. Ação semelhante se repetiu na semana seguinte. E indígenas apoiadores de Bolsonaro surgiram como protagonistas de protestos contra o resultado das eleições e o STF.

O tom agressivo se transformou em violência de fato em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula e Geraldo Alckmin como presidente e vice eleitos. Terroristas incendiaram veículos, levaram o pânico às ruas de Brasília e tentaram invadir a sede da Polícia Federal.

A escalada insana continuou. Em 24 de dezembro, um atentado a bomba, que mirava o aeroporto de Brasília, foi evitado pela Polícia Militar do Distrito Federal. E, por fim, em 8 de janeiro de 2023, um ataque golpista e terrorista atingiu as sedes dos Três Poderes da República.

Golpistas estavam no Senado

Não coincidentemente, os protagonistas desses ataques estavam na audiência de 30 de novembro no Senado. O cacique Rony Pareci, que ao lado do cacique Tserere liderou protestos contra as eleições e o STF, estava lá.

O empresário George Washington de Oliveira Sousa, hoje um dos condenados pela tentativa de explodir o aeroporto de Brasília, também estava lá.

O blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio – apontado como um dos principais articuladores do 8 de Janeiro e que, em 12 de dezembro, após a prisão de Tserere, refugiou-se no Palácio da Alvorada, ainda ocupado por Bolsonaro – não só estava como também discursou na audiência.

Além dos três, estavam ou foram citados na reunião do dia 30 várias outras pessoas que, nos últimos anos, ajudaram a criar no Brasil um verdadeiro ecossistema de desinformação. São nomes que vão de juristas a parlamentares de extrema direita, como Bia Kicis e Daniel Silveira, passando por blogueiros e canais de YouTube, a exemplo do foragido Allan dos Santos e seu Terça Livre e o Brasil Paralelo.

Muitas dessas pessoas, que formam essa organização criminosa, já eram citadas ou tinham sido punidas no inquérito das fake news, que investiga atos antidemocráticos no país. Mesmo assim, insistiram não só na continuidade do crime como também premeditaram os atos terroristas de 8 de janeiro, que ameaçaram e ainda ameaçam a democracia brasileira.

Mostrar os principais atores e a origem desse ecossistema de mentiras e seus desdobramentos é o objetivo desta série.

Bolsonaristas espalharam botijões e atacaram viaturas; ninguém foi preso 

03
Jun23

DPF Érika Marena acusada de fraudar novo depoimento (vídeos)

Talis Andrade

Na operação Ouvidos Moucos surge a denúncia que a delegadan Erika forjou depoimentos também (Foto: reprodução da TV)

 

por Marcelo Auler

- - -

Principal responsável pela operação policial Ouvidos Moucos – e, consequentemente, pelo suicídio, em 2 de outubro de 2017, de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, então reitor afastado da Universidade Federal de Santa Cataria (UFSC) – a delegada federal Erika Mialik Marena foi acusada, no ultimo dia 26 de abril, em audiência na 1ª Vara Federal de Florianópolis, presidida pela juíza Janaina Cassol Machado, de modificar o depoimento de uma testemunha ouvida no inquérito.

Não foi a primeira vez que a mesma delegada teve seu nome envolvido em possíveis falsificações de depoimentos em inquéritos policiais. Os primeiros casos surgiram com a Vaza Jato que revelou diálogos, pelo Telegram, entre os membros da Força Tarefa de Curitiba da Operação Lava Jato. Em janeiro de 2016, os procuradores Deltan Dallagnol e Orlando Martello Júnior comentaram através do aplicativo que a delegada Erika “lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… Dá no mínimo uma falsidade…” A existência desses diálogos foi noticiada amplamente, inclusive pelo site Conjur na reportagem – Polícia Federal forjou depoimentos para ajudar ‘lava jato’, mostram diálogos – e pelo 247  Delegada Erika Marena, que comandou operação contra Cancellier, ex-reitor que se matou, falsificou depoimento na Lava Jato, em fevereiro de 2021.

O mesmo diálogo dos procuradores nas mensagens levadas ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal pela defesa do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicou que outros casos de falsificação de depoimentos podem ter ocorrido. Naquela conversa por aplicativo, Martelllo Júnior escreveu: “o mesmo ocorreu com padilha e outros. Temos q chamar esse pessoal aqui e reinquiri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia q não vimos” (sic).

A nova modificação de depoimento, desta feita na Ouvidos Moucos, foi apontada pela administradora Simone Machado Moretto Cesconetto. Ela atuou como tutora de alunos no curso de graduação em administração do programa de Ensino a Distancia (EaD). A Polícia Federal de Santa Catarina, tendo à frente a delegada Érika, investigava uma suposta organização criminosa supostamente constituída por professores e servidores da UFSC. Falava-se em um desvio de R$ 3,3 milhões no EaD.

Deprimido, o reitor suicidou-se

Após ser preso indevidamente, Cacellier Oliva entrou em depressão eapelou ao suicidio. Foi homenageado na UFSC. (Foto: reprodução)

 

Desencadeada em 14 de setembro de 2017, a operação Ouvidos Moucos repetiu os moldes da Lava Jato curitibana: prisão dos suspeitos antes mesmos de serem chamados a se explicar. Foram presos seis professores e o reitor Cancellier, que sequer era acusado de corrupção. Falou-se que ele estaria interferindo nas investigações, o que jamais foi provado.

Algemado nas mãos e nos pés, obrigado a trajar um macacão comum aos presidiários ao passar a noite no presídio, afastado do cargo e impedido de ingressar no campus, Cancellier, mesmo tendo sido solto no dia seguinte e apesar de toda a solidariedade que recebeu, entrou em depressão. Em conseqüência, em 2 de outubro, jogou-se do sétimo andar do Shopping Beira mar, no centro de Florianópolis. No bolso um bilhete com a explicação: “Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”.

Responsável pela operação, a delegada logo depois foi transferida para Sergipe, com a promoção ao cargo de superintendente. Uma sindicância do próprio DPF concluiu que não houve irregularidade alguma na ação que comandou e levou o reitor ao suicídio.

No governo Bolsonaro, foi levada pelo ex-juiz Sérgio Moro para o ministério da Justiça. Nomeada diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça, perdeu o cargo junto com a queda de Moro. Retornou para a Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SRDPF-PR), onde atua na Delegacia de Repressão a Entorpecentes.

O relatório final do inquérito policial da Operação Ouvidos Moucos indiciou 23 pessoas, mas o Ministério Público Federal denunciou apenas 13, entre eles o filho de Cancellier, Mikhail Vieira De Lorenzi Cancellier. Este e mais dois réus terminaram por fazer um acordo com o Ministério Público. Comprometeram-se a pagar cestas básicas para instituições de caridade. [Continua]

O jornalista Paulo Markun fala do seu novo livro Recurso final: A investigação da Polícia Federal que levou ao suicídio de um reitor em Santa Catarina, que conta a história do suicídio do reitor José Carlos Cancellier, da UFSC, depois de ter sido vítima de uma operação abusiva e esdrúxula da Polícia Federal e do Ministério Público promovida sob a vigência da Lava-Jato.

Bob Fernandes comenta o documentário "Em nome da Inocência: Justiça".  Documentário sobre o suicídio de Luiz Carlos Cancellier. Dirigido por Sergio Giron e Edike Carneiro. 

Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Cancellier se matou há dois meses. Depois de ser preso sem acusação formal, sem ser réu e sem ter sido ouvido pela justiça.

Foi preso, posto nu, submetido à revista íntima.

Solto foi proibido de entrar na Universidade.

Prisão arbitrária. Sob suspeita de tentativa de obstruir uma investigação. De um caso de 10 anos antes da sua gestão.

Nos dias da prisão, escândalo nacional: "Roubalheira", "80 milhões"... Um pedaço de fato e muita mentira.  A Operação da Polícia Federal se chamou "Ouvidos Moucos". Ou seja: Ouvidos Surdos. Passados quase 60 dias, silêncio sobre a sequência de erros e sobre Cancellier. Nem um pio de agentes de Estado. E não foram poucos os chamados a operar. Da Polícia Federal, 105 policiais para prender Cancellier e mais seis. O documentário elenca os que, entendem os autores, teriam se envolvido em decisões. O corregedor na Universidade, e "adversário político" de Cancellier, Rodolfo Hickel do Prado. A delegada Erika Marena, ex-estrela na Operação Lava Jato, e a Juíza Janaína Machado. Nunca é demais lembrar: algo como 40% dos 620 mil presos do Brasil não têm culpa formada. Fosse Cancellier um pobre da periferia nem ouviríamos falar. Nessa tragédia, ilegalidades em nome do combate à corrupção. E segue se multiplicando o ferir a lei em nome da lei. Some-se a dribles na lei por parte de quem aplica a lei. No serviço público o teto salarial é o dos ministros do Supremo: R$ 33.763. Incontáveis reportagens Brasil afora: há juízes que, ao menos uma vez por ano, recebem mais de R$ 100 mil. Resultado de penduricalhos acrescidos ao salário. Tudo, claro, tornado dentro da lei. Mas tudo profundamente imoral se feito por qualquer cidadão dito "comum".  Sempre a certeza dos "Ouvidos Moucos", dos olhos vendados e do temor reverencial.

22
Mai23

Moro e MPF impediram quebra de sigilo

Talis Andrade

 

O delegado Magno Xavier quis quebrar sigilo telefonico e telemático dos delegados Rosalvo, Erika, Igor e Márcio Adriano, entre outros

 

Appio desarquiva investigação que Moro abafou  (parte 2)

por Marcelo Auler

- - -

A derrubada do sigilo no processo nº 5053382-58.2016.4.04.7000 trouxe a público detalhes de uma estranha história dos bastidores da Lava Jato do Paraná. Os autos guardados a sete chaves tratam do inquérito no qual o MPF – que por dever constitucional controla as atividades da Polícia Federal – impediu que a Corregedoria do Departamento de Polícia Federal (COGER/DPF) investigasse possíveis ações criminosas de seis delegados, dois agentes e um escrivão da Polícia Federal. Era o cérebro da Força Tarefa de Curitiba deflagrada em 17 de março de 2014.

Em outras palavras, o órgão que deve fiscalizar o cumprimento da lei e a atividade policial – MPF – impediu uma ação da corregedoria que pretendia justamente investigar ações suspeitas de policiais. Ou seja, fazer a fiscalização que caberia ao próprio MPF providenciar. Esse estranho impedimento contou ainda com o respaldo do então juiz federal que alardeava que na capital paranaense a lei valia para todos. No caso da Lava Jato paranaense isso não aconteceu.

A proibição de se investigar os policiais federais ocorreu no início de 2017 após o delegado Marcio Magno Xavier, então na Coordenadoria de Assuntos Internos (COAIN) da Corregedoria do Departamento de Polícia Federal (COGER/DPF), depois de realizar investigações preliminares, requisitar autorização judicial para a quebra de sigilos telefônicos e telemáticos “de cerca de uma dúzia de delegados e agentes policiais federais que trabalharam na Operação Lavajato em Curitiba, entre fevereiro de 2014 a agosto de 2016”, como consta do documento assinado pelo delegado.

Foram relacionados mais de 40 números de celulares e cerca de 30 endereços de e-mails de onze alvos: seis delegados, dois agentes de polícia, um escrivão e dois civis.

A Operação Lava Jato teve início em 17 de março de 2014 com a prisão dos doleiros Alberto Youssef, Carlos Habib Chater e Raul Srour. A também doleira Nelma Kodama foi presa dois dias antes, ao tentar embarcar para Milão.

O delegado Magno Xavier, portanto, queria acessar as trocas de mensagens e mapear os telefonemas trocados pelos operadores da Lava Jato desde um mês antes do início da operação até dois anos e meio depois. Pretendia investigar justamente a cúpula da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, assim como os principais “cabeças” da Força Tarefa de Curitiba, a saber:

Rosalvo Ferreira Franco, então superintendente da PF no estado; Igor Romário de Paula, o Delegado Regional de Combate ao Crime Organizado; Márcio Adriano Anselmo e Erika Mialik Marena, os principais responsáveis pela operação; e ainda os delegados Eduardo Mauat da Silva e Felipe Eduardo Hideo Hayashi; os Agentes de Polícia Federal (APFs) Rodrigo Prado Pereira e Luiz Carlos Milhomem e o escrivão (EPF) Mario Nunes Guimarães. Também eram alvos Meire e seu auxiliar Marcelo Ananias Notaro.

 

Crimes que o delegado quis investigar

 

O interesse era aprofundar as investigações em torno do heterodoxo relacionamento que esses policiais federais tiveram com Meire. Ela, com medo de ameaças feitas por Youssef quando ameaçou abandoná-lo, tomou a iniciativa de procurar a Polícia Federal para denunciá-lo. Queria repassar documentos que o comprometiam. Isso ocorreu antes mesmo de ela saber que haveria uma operação envolvendo doleiros acusados de lavar dinheiro proveniente possivelmente de corrupção,

Acabou conhecendo o delegado Adriano Anselmo e o agente Prado nas idas dos dois a São Paulo. Mas o que poderia ser uma colaboração formal foi mantido como um relacionamento totalmente informal, com inúmeras irregularidades que soaram como possíveis crimes na Corregedoria do DPF. Irregularidades essas relacionadas por Magno Xavier no pedido de quebra de sigilo apresentado à Justiça de São Paulo em setembro de 2016:

  1. realização de ajustes com o intuito de realizar medida de busca e apreensão, objetivando formalizar a apreensão de documentos que, supostamente, já estavam na posse da Polícia Federal, inovando artificiosamente, pois, o estado de lugar das coisas;
  2. inclusão de documentos recebidos posteriormente (de terceiros), em auto de apreensão (ou anexo deste) cuja lavratura já havia sido concluída;
  3. utilização de cidadão não policial como “agente infiltrado”, sem autorização judicial e contrariando o texto legal;
  4. tratamento de pessoa como “colaboradora”, inclusive com a concessão de benesses legais, sem a formalização dos instrumentos legais previstos para esse tipo de procedimento;
  5. investigação de pessoas com foro especial por prerrogativa de função, sem autorização dos Tribunais competentes para apuração;
  6. inclusão de esclarecimentos/fatos em termos de oitiva, com a concordância do oitivado, apesar da ausência de conhecimento prévio do oitivado sobre os esclarecimentos que foram insertos no termo inerente;
  7. suposta lavratura de auto de apreensão em relação à mídia eletrônica recebida, por correio, de forma previamente ajustada; e
  8. violação de sigilo funcional.

A apresentação do pedido ao juízo em São Paulo foi uma opção que Magno Xavier entendeu correta uma vez que o relacionamento da contadora com os policiais federais da chamada República de Curitiba ocorreu no território paulista. O argumento, porém, não foi encampado pela procuradora da República Priscila Pinheiro de Carvalho. Tampouco pela juíza federal titular da 5ª Vara Federal de São Paulo, Maria Isabel do Prado, que terminou por declinar a competência do caso para a 13ª Vara Federal de Curitiba.

Em seu despacho, porém, a procuradora reconheceu que os possíveis crimes que o delegado queria investigar poderiam afetar a Operação Lava Jato em si:

De fato vislumbra-se possível conexão entre o que se pretende apurar neste expediente e o objeto da operação policial, estando claro que eventual comprovação dos crimes ora levantados repercutiria diretamente na prova de diversas das infrações investigadas na referida operação”, registrou Priscila, em 3 de outubro de 2016.

22
Mai23

Appio desarquiva investigação que Moro abafou

Talis Andrade

sergio moro malandro .jpg

por Marcelo Auler

Despacho de Appio, a partir de reportagem desse Blog, reabre o inquérito arquivado por Moro

 

Através de uma “inspeção anual ordinária”, o novo titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, juiz Eduardo Fernando Appio, decidiu desarquivar o processo nº 5053382-58.2016.4.04.7000.

Esses autos tratam de um inquérito policial (IPL 0005/2016) no qual o ex-juiz Sérgio Moro, atendendo ao pedido do Ministério Público Federal (MPF), tratou de arquivar, açodadamente, no inicio de 2017. Desde então o caso estava sob sigilo em grau máximo que Appio derrubou recentemente.

A investigação foi aberta em 2016 para investigar a suspeita relação que a Força Tarefa da Lava Jato de Curitiba manteve com Meire Bonfim Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef. Ela, no início da Operação Lava Jato (abril de 2014) funcionou como informante dos policiais.

A decisão do titular da 13ª Vara teve por base uma reportagem que publicamos aqui no Blog, em 6 de março de 2021 – “Lava Jato/PR no Telegram: “Que p… é essa?“-, reproduzida no mesmo dia no Brasil 247. Nela mostramos os diálogos dos procuradores da República de Curitiba no Telegram, divulgados na chamada Vaza Jato. Estavam preocupados com o fato de a ex-contadora, por iniciativa do editor desse Blog, ter prestado depoimento ao procurador da regional da República Osório Barbosa, em São Paulo.

Depoimento gerou preocupação

A contadora de Youssef, Meire Poza, entregou documentos à Lava Jato em abril que só foram oficializados 45 dias depois

 

Quando noticiamos, em junho de 2016, esse depoimento na reportagem – Enfim, a contadora e informante infiltrada da Lava Jato foi ouvida oficialmente – o procurador identificado no Telegram como Paulo (provavelmente Paulo Galvão, do MPF do Distrito Federal) mostrou-se surpreso:

Meire ouvida por Osório??? Que p… é essa?

Em seguida, acrescentou no aplicativo de conversas:

“Claro que ela não tem nada… praticamente nada, pq tem a historia da busca, que é meio esquisita mesmo… como não está repercutindo, talvez nem se manifestar mesmo… mas salvo engano foram três edições seguidas da carta capital já” (sic)

No entendimento do juiz Appio, as conversas dos procuradores da República através do aplicativo Telegram noticiadas pelo nosso Blog e pelo 247 podem ser consideradas um fato novo que justifique a re-análise do inquérito arquivado. Algo que antes não foi feito pelo desinteresse, tanto pelo juízo como pelo MPF, de que a investigação prosseguisse.

Appio oficiará à Superintendência do Departamento da Polícia Federal do Paraná (SRDPF-PR) pedindo o reexame do caso. A decisão caberá ao atual superintendente, delegado Rivaldo Venâncio, um dos perseguidos pela turma da Lava Jato de Curitiba (continua)

23
Abr23

As ligações do juiz Malucelli com a família Moro

Talis Andrade

Ficha cadastral de João Ediuardo Malucelli e seu pai, o juiz federal Marcelo Malucelli 

 

por Marcelo Auler

- - -

A decisão do juiz federal Marcelo Marucelli, atualmente na 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, revalidando o mandado de prisão de 2016 contra o advogado Rodrigo Tacla Duran – TRF-4 revalida prisão de Tacla Duran, que cancela viagem -, certamente vai gerar um debate em torno da imparcialidade do magistrado.

 
Luiz Carlos (@LuizCarlosDorn3) / Twitter
 
 

Marucelli é pai do advogado João Eduardo Barreto Malucelli, registrado na OAB do Paraná sob nº 113601, que aparece nos cadastros da mesma OAB como sócio do ex-juiz Sérgio Moro e da esposa dele, Rosangela Wolf Moro, no escritório Wolf & Moro Advogados Associados.

A decisão já estava sendo questionada diante da determinação do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em 14 de março passado, mandando suspender as duas ações em tramitação contra Tacla Duran na 13 Vara Federal de Curitiba. A partir dessa suspensão, o novo titular daquela vara, juiz Eduardo Appio, revogou o mandado de prisão preventiva decretado pelo ex-juiz Sérgio Moro, em 2016. Malucelli entendeu que Appio não poderia ter feito isso, e cancelou sua decisão.

Em conseqüência da decisão de Marucelli tomada na terça-feira (11/04), Tacla Duran suspendeu seu embarque para o Brasil onde deverá prestar depoimento tanto ao juiz Appio, como à Polícia Federal.  Ele, desde 2016, denuncia ser vítima de extorsões praticadas pelo advogado Carlos Zucoloto Júnior que não apenas trabalhou no mesmo escritório com Rosangela Moro, como ainda é padrinho de casamento do casal.

O parentesco foi denunciado por leitores

A extorsão, conforme tem insistentemente narrado Tacla Duran, seria para facilitar a sua situação nas ações penais em que foi denunciado por lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato de Curitiba. As acusações foram respaldadas em provas recolhidas de arquivos da Construtora Odebrecht, depois anuladas pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Diante dessa decisão da Segunda Turma, o então ministro Ricardo Lewandowski, antes de se aposentar naquela corte, determinou a suspensão de cinco ações penais abertas a partir das provas consideradas imprestáveis. Duas delas têm Tacla Duran como réu e tramitam na 13ª Vara Federal de Curitiba.

A partir da suspensão das ações por Lewandowski, Appio, no dia 16 de março revogou os mandados de prisão contra Tacla Duran que perduraram por sete anos. Alegou que o advogado/réu tem direito de se defender em liberdade até o trânsito em julgado dos processos. Essa revogação foi suspensa pelo juiz Marucelli, na última terça-feira.

Nesta quinta-feira (13/04), a partir da divulgação da decisão do juiz Malucelli, alguns leitores do Blog nos remeteram o cadastro de registro da Wolf & Moro Sociedade de Advogados, na qual o filho do juiz, João Eduardo, aparece como sócio do casal Moro. O escritório funciona no bairro Juvevê, em Curitiba.

Em decorrência da eleição do casal Moro para o Congresso Nacional – Rosangela é deputada federal, por São Paulo, e ele é senador, pelo Paraná, ambos na legenda do União Brasil – o escritório de advocacia vem sendo tocado pelo jovem advogado, filho do juiz federal da 8ª Turma do TRF-4.

No cadastro da OAB, o registro da Sociedade dos Moros com João Eduardo Malucelli

Malucellis se calam

O Blog, através da assessoria de comunicação do TRF-4 questionou o juiz Malucelli sobre seu parentesco com João Eduardo e do possível impedimento de sua atuação no caso envolvendo um desafeto direto do casal Moro, de quem o filho é sócio. Além de um e-mail encaminhado às 16h00 à assessoria, também telefonamos cobrando uma posição. Até as 19h00 não recebemos nenhum retorno do tribunal.

Mais cedo, porém, o editor do Blog telefonou diretamente para João Eduardo que após confirmar sua identidade, recusou-se a responder se é realmente parente do juiz. Travamos um dialogo amistoso e respeitoso, mas ele não quis admitir o parentesco.

Depois de nos apresentarmos e explicarmos o motivo da ligação, ele tentou encerrar a conversa:

Eu peço desculpas, mas agora eu não estou podendo falar...”

Blog – Nem dizer se você é parente do desembargador?

“Não”.

Blog – Não?

“Não. Me abstenho de dizer…

Blog – Então é sinal de que tem algum parentesco, eu posso deduzir isso, certamente…

Não foi isso que eu falei. Não é, senhor Marcelo?”…

Blog – Não, não foi isso que o senhor falou. Nem estou dizendo que o senhor me falou isso… Estou dizendo que eu posso deduzir que algo existe.

“Não, mas daí é o senhor que está dizendo, não é? Dedução é uma coisa muito pessoal”.

Blog – Está bom, de qualquer forma eu agradeço a sua atenção, o meu celular está ai e caso você resolva esclarecer e eu agradeço o esclarecimento. Tenha uma boa tarde e me desculpe qualquer inconveniente.

Para bom entendedor, nem sempre é preciso uma confirmação direta. Meia palavra basta.

Abaixo a conversa com João Eduardo Malucelli

30
Mar23

Moro quer escolher o juízo para julgá-lo (vídeos)

Talis Andrade

pinoquio moro russo.jpg

 

Moro quer afastar Eduardo Appio, crítico dos métodos adotados na Lava Jato. Gilmar Mendes ao falar de Sergio Moro: ‘Os combatentes de corrução gostam muito de dinheiro’

 

por Marcelo Auler

Ao abrir mão do foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF) no caso da denúncia feita pelo advogado Tacla Duran que alegou perante o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, ter sofrido uma extorsão, em 2017, no âmbito da Operação Lava Jato, o atual senador e ex-juiz Sérgio Moro (UB-PR) pode estar simplesmente querendo escolher o juízo em que essa acusação será julgada.

Na última segunda-feira (27/03), em audiência diante de Appio, Duran confirmou a denúncia que faz desde 2017 sobre a tentativa de extorsão de que foi vítima por parte de amigo do então juiz Moro. Em troca do pagamento de US$ 5 milhões, lhe prometiam facilidades na Ação Penal que respondia na Operação Lava Jato, na qual foi acusado por lavagem de dinheiro da Construtora Odebrecht.

A tentativa de extorsão, segundo ele, partiu do advogado Carlos Zucolloto Junior, que foi sócio da mulher do ex-juiz, Rosângela Moro — hoje deputada federal – e padrinho de casamento dos dois.

Appio – que hoje responde pela Vara que Moro comandou antes de ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro – ao tomar conhecimento do possível envolvimento do hoje senador Moro (UB-PR) e também do ex-procurador da República, Deltan Dallagnol, atualmente deputado federal pelo Podemos-PR, remeteu as acusações para apreciação do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. O ministro já relata processos ligados à mesma causa. No entendimento do novo titular da 13ª Vara Federal de Curitiba prevalece o foro privilegiado dos parlamentares federais.

29
Mar23

Moro quer escolher o juízo para julgá-lo

Talis Andrade

pinoquio moro russo.jpg

 

Moro quer afastar Eduardo Appio, crítico dos métodos adotados na Lava Jato.  Gilmar Mendes ao falar de Sergio Moro: ‘Os combatentes de corrução gostam muito de dinheiro’

 

por Marcelo Auler

Ao abrir mão do foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF) no caso da denúncia feita pelo advogado Tacla Duran que alegou perante o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, ter sofrido uma extorsão, em 2017, no âmbito da Operação Lava Jato, o atual senador e ex-juiz Sérgio Moro (UB-PR) pode estar simplesmente querendo escolher o juízo em que essa acusação será julgada.

Na última segunda-feira (27/03), em audiência diante de Appio, Duran confirmou a denúncia que faz desde 2017 sobre a tentativa de extorsão de que foi vítima por parte de amigo do então juiz Moro. Em troca do pagamento de US$ 5 milhões, lhe prometiam facilidades na Ação Penal que respondia na Operação Lava Jato, na qual foi acusado por lavagem de dinheiro da Construtora Odebrecht.

A tentativa de extorsão, segundo ele, partiu do advogado Carlos Zucolloto Junior, que foi sócio da mulher do ex-juiz, Rosângela Moro — hoje deputada federal – e padrinho de casamento dos dois.

Appio – que hoje responde pela Vara que Moro comandou antes de ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro – ao tomar conhecimento do possível envolvimento do hoje senador Moro (UB-PR) e também do ex-procurador da República, Deltan Dallagnol, atualmente deputado federal pelo Podemos-PR, remeteu as acusações para apreciação do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal. O ministro já relata processos ligados à mesma causa. No entendimento do novo titular da 13ª Vara Federal de Curitiba prevalece o foro privilegiado dos parlamentares federais.

 

"É hora de começar a falar dos crimes que Sergio Moro cometeu", diz Fernando Fernandes

O advogado e cientista político Fernando Fernandes comenta a relevância do depoimento de Tacla Duran, que foi advogado da Odebrecht durante o ápice da Lava Jato e que afirma ter provas contra Sergio Moro. Para Fernando Fernandes, Moro é um sujeito que “não presta” do ponto de vista jurídico.

Senador Fabiano Contarato dá aula e detona Sergio Moro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

28
Mar23

O estranhíssimo caso Moro-PCC (vídeos)

Talis Andrade
 
Imagem
 

por Pepe Damasco

1) Quando Lula aponta armação no episódio envolvendo Sérgio Moro e o PCC, certamente está se referindo, como disse o ministro da Secom, Paulo Pimenta, às coincidências ocorridas e à cronologia dos acontecimentos. Como ser político por excelência, Lula sabe como poucos que nada acontece por acaso. 

2) Antes de qualquer consideração, é preciso assinalar que o ex-juiz Sérgio Moro firmou-se como um dos maiores canalhas surgidos na esfera pública do país ao longo da história. Sua total falta de escrúpulos dispensa comentários.

3) Vivendo merecido ostracismo, Moro se arrastava pelos cantos no Senado, onde a maioria dos senadores sequer o cumprimentava. Aí Lula tem um trecho de uma entrevista sua ao Portal 247 descontextualizado pela extrema direita nas redes sociais. Em desabafo sobre o sofrimento na prisão, Lula disse que na cadeia pensava em “foder” Sérgio Moro. Leia-se fazer justiça e desmascará-lo.

4) A imprensa nativa providencia, então, um jeito de pegar carona na campanha caluniosa dos fascistas, abraçando a tese de que o presidente usa o cargo para se vingar de adversários políticos, no caso o ex-juiz declarado suspeito e corrupto.

5) No dia seguinte, a juíza Gabriela Hardt, morista de carteirinha e conhecida como “corte-cola” por ter condenado Lula no caso do sítio de Atibaia copiando a sentença de Moro no processo do triplex, resolve entrar em campo para dar uma força ao amigo e autoriza a operação da PF sobre a ameaça do PCC a autoridades. Detalhe importante: a investigação já durava meses e Moro tinha pleno conhecimento de seu andamento. No dia seguinte, retira o sigilo do processo e a vitimização do parceiro anda mais algumas casas. 

6) Bastou para Moro voltar à ribalta. De herói da Lava Jato é alçado à condição de mártir pelas Organizações Globo. Eureca: enfim, o cavalo passava encilhado, afinal defender Moro e tentar isentá-lo de seus crimes significa a autodefesa da própria Globo, atolada até o pescoço na cumplicidade às atrocidades cometidas pela Lava Jato.

7) Viciado em mentira, Moro, durante suas sessões públicas de vitimização, diz que é perseguido pelo PCC porque transferiu seu chefe Marcola para um presídio federal. Mas o promotor do Gaeco, Lincoln Gakiya, antigo alvo das ameaças do PCC, o desmente. O promotor afirma que Moro tirou o corpo fora e o deixou sozinho e exposto no processo de transferência de Marcola. Gakiya garante ainda que atacar Moro está longe de ser prioridade do PCC.

8) Logo vem à tona, através de matéria publicada no Estadão, que ameaçar autoridades é uma velha estratégia do PCC, tanto que Alckmin, quando governava São Paulo e vários secretários seus também estiveram entre os alvos da organização criminosa.

9) A Polícia Federal comandada por Flávio Dino resolveu agir de forma preventiva e republicana. Não sei exatamente qual é o grau de independência da PF para deflagrar operações sem precisar da anuência do ministro da Justiça, chefe hierárquico da corporação. Contudo, lembro que José Eduardo Cardoso, ministro de Dilma, dizia não ter conhecimento prévio da maioria delas. Caso isso tenha mudado no governo Lula, Dino pode ter autorizado a desarticulação do suposto plano também para prevenir o governo de armações, pois qualquer escaramuça contra Moro seria de imediato associada à fala de Lula.

10) Por fim, a maior esquisitice de todas: por que uma organização criminosa forte e enraizada como o PCC, cujo principal negócio é a venda de drogas, optaria deliberadamente por fazer o cerco se fechar contra si depois de um atentado contra um senador da República?

 
Imagem
 
Imagem

Os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler entrevistam o promotor de Justiça de São Paulo, Lincoln Gakiya. Gakiya é um dos principais investigadores do PCC no País. Ele atua em inquéritos envolvendo a facção há mais de 18 anos. Em 2018, o promotor foi responsável por solicitar a transferência de presos importantes do PCC para presídios federais, incluindo o líder Marcola - uma ação que tentou ser capitalizada politicamente pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Em março de 2023, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sequaz, que desbaratou uma quadrilha ligada ao PCC que tinha Moro e o promotor Lincoln como possíveis alvos de sequestro.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub