Rosto mais conhecido do grupo racista Ku Klux Klan (KKK) nos Estados Unidos, o historiador americano David Duke fez um raro comentário sobre a política brasileira no programa de rádio que comanda.
"Ele soa como nós. E também é um candidato muito forte. É um nacionalista", disse o ex-líder da KKK sobre Jair Bolsonaro, candidato à presidência pelo PSL.
"Ele é totalmente um descendente europeu. Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro", afirmou Duke, que frequentemente classifica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Mandela como um "terrorista", em declaração que foi ao ar em um programa de rádio no dia 9.
Os KKK, como se tornaram conhecidos, começaram a atuar em 1865 nos Estados Unidos. Frequentemente usavam capuzes brancos para proteger sua identidade e fazer com que parecessem ainda mais assustadores para suas vítimas. O grupo, que defende a supremacia branca sobre os negros e judeus, foi responsável por muitas das torturas e linchamentos que ocorreram com os negros no país.
O historiador, conhecido também por negar o Holocausto, fez ressalvas à proximidade do candidato brasileiro com Israel, comparando o que classifica como "estratégia" de Bolsonaro à que teria sido adotada por Donald Trump, na visão dele.
Após a publicação desta reportagem, o candidato do PSL respondeu, pelo Twitter, às declarações de Duke. Bolsonaro disse rejeitar qualquer apoio "vindo de grupos supremacistas".
"Sugiro que, por coerência, apoiem o candidato da esquerda, que adora segregar a sociedade. Explorar isso para influenciar uma eleição no Brasil é uma grande burrice! É desconhecer o povo brasileiro, que é miscigenado", acrescentou o ex-capitão.
Um dos organizadores dos protestos em defesa da supremacia branca em Charlottesville, no ano passado, e cabo eleitoral de Donald Trump entre membros da extrema-direita americana (o presidente diz que não o conhece pessoalmente e que rejeita o apoio), Duke apontou Bolsonaro como parte de um fenômeno nacionalista global, mas fez ressalvas sobre sua proximidade com judeus, a quem, em uma clara manifestação de antissemitismo, acusou de promoverem uma "lavagem cerebral no mundo".
"Ele vai fazer coisas a favor de Israel, e acredito que ele esteja tentando adotar a mesma estratégia que Trump: acho que Trump sabe que o poder judaico está levando a América ao desastre, levando a Europa e o mundo ao desastre. Então, o que ele está tentando fazer é ser positivo em relação aos judeus nacionalistas em Israel como uma maneira de obter apoio", disse o americano.
'O incrível Bolsonaro'
Diferentemente de Duke, Bolsonaro mantém em sua vida política uma postura de proximidade com a comunidade judaica e a defesa do Estado de Israel.
'Minha primeira viagem como presidente será para Israel', disse Bolsonaro
Há dois anos, enquanto o Senado votava o impeachment de Dilma Rousseff, o capitão brasileiro foi batizado nas águas do rio Jordão. Durante a campanha eleitoral, o candidato reforçou o elo com o país e promete expandir relações políticas, culturais e comerciais se eleito.
"Minha primeira viagem como presidente será para Israel", disse Bolsonaro em transmissão ao vivo no Facebook, no último domingo.
Como Bolsonaro, Trump é um defensor do Estado de Israel e apoia um alinhamento político com o país - ele fez sua segunda viagem internacional como presidente ao país, em maio do ano passado.
David Duke foi um dos organizadores da marcha em defesa da supremacia branca em Charlottesville no ano passado
Na publicação sobre o programa de rádio em seu site pessoal, o americano se referiu ao brasileiro como "o incrível Bolsonaro". Na última segunda-feira, Duke compartilhou um vídeo com legendas em inglês em que o capitão reformado discursa "contra a degradação da família" e a "desconstrução da heteronormatividade".
Assim como a campanha de Bolsonaro, Duke também não respondeu aos pedidos de comentários enviados pela BBC News Brasil.
"A verdade é que os movimentos nacionalistas, que são basicamente pró-europeus, estão definitivamente varrendo o planeta. Mesmo em um país que você jamais imaginaria", afirmou Duke em referência à ascensão de Bolsonaro, que aparece com 59% das intenções de voto no segundo turno, segundo o Ibope (Fernando Haddad, do PT, tem 41%).
Dias antes do comentário de Duke, a agência internacional de notícias judaicas JTA classificou Bolsonaro como um "candidato extremamente pró-Israel que divide a comunidade judaica por sua retórica racista e homofóbica", ressaltando que o político "conta com o apoio apaixonado de grande parte dos judeus" no Brasil.
Manifestantes exibiram bandeiras nazistas e dos Estados Confederados da América, que representa os estados sulistas nos EUA na época da Guerra Civil, durante marcha em Charlottesville
No ano passado, em palestra no clube judaico Hebraica, no Rio de Janeiro, Bolsonaro fez críticas a quilombolas e afirmou que "o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas, não fazem nada, eu acho que nem pra procriador servem mais". A fala foi aplaudida por parte dos presentes, mas depois recebeu críticas de lideranças judaicas.
À JTA, na semana passada, o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, Osias Wurman, disse que Bolsonaro "se destacou entre os muitos candidatos por incluir o Estado de Israel em seus discursos principais de campanha".
"Ele é um apaixonado pelo povo do Estado de Israel", continuou Wurman.
Do Partido Nazista a 'BlacKkKlansman'
Nos anos 1960, antes de se juntar à KKK, David Duke foi membro do extinto "Partido Nazista da América", depois renomeado para Partido Nacional Socialista das Pessoas Brancas.
A liderança de Duke no Klan começou em 1974 e foi retratada no no filme BlacKkKlansman ("Infiltrado na Klan", em português), que narra a história de um policial negro que se infiltrou na Ku Klux Klan no Colorado, em 1978, e foi lançado pelo cineasta Spike Lee em agosto. O filme foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri do festival de Cannes de 2018.
Spike Lee (à dir.) e John David Washington, que faz o papel de Ron Stallworth, no set de filmagens de BlacKkKlansman
A produção mostra como Duke, então líder nacional da organização supremacista, foi enganado pelo policial Ron Stallworth, que fingiu ser branco com a ajuda de um colega e conseguiu se tornar membro oficial da KKK.
Stallworth, que escreveu o livro que deu origem ao filme e chegou a ser designado como guarda-costas de Duke, conta que conversava com supremacista branco por telefone.
"Um dia ele me disse que era capaz de reconhecer um negro pelo telefone, porque eles falavam diferente. E me disse que, por exemplo, sabia que eu era um homem branco. Dei muitas gargalhadas depois."
Depois de sair da KKK, Duke foi congressista pelo Estado da Luisiana entre 1989 e 1992 e se candidatou, sem sucesso, a uma série de cargos nos anos 1990, incluindo senador e governador.
Em 2002, ele foi preso por um ano após de confessar que enganou apoiadores em troca de apoio financeiro e sonegou impostos.
Autor de três livros sobre o que classifica como "supremacia judaica" e defensor de teses contestadas, como a que sugere que negros seriam mais violentos e teriam QI inferior aos dos brancos, Duke voltou a ganhar projeção mundial em 2016, quando passou a apoiar a campanha presidencial de Donald Trump.
Após críticas por não se posicionar sobre o cabo eleitoral, Trump afirmou que mantém distância do historiador e se referiu a Duke como "um cara ruim". Duke, por sua vez, continuou a apoiá-lo nas redes sociais e em entrevistas.
No ano passado, o ex-líder da Ku Klux Klan agradeceu aos comentários pouco enfáticos do presidente americano sobre os protestos que liderou em Charlottesville, onde milhares de manifestantes da extrema direita empunharam tochas como as da KKK e fizeram saudações nazistas.
"Trump nos empoderou", afirmou Duke na época, após o presidente americano igualar a violência entre supremacistas brancos e grupos contrários no protesto.
Quando Trump, dias depois, fez críticas mais contundentes aos supremacistas, Duke reagiu. "Foi o voto branco esmagador que o colocou na Casa Branca e ele deveria se lembrar disso."
Jovem Pan se posiciona após jornalista fazer comentário bizarro sobre nazismo
O comentarista José Carlos Bernardi, do Jovem Pan News, associou o desenvolvimento econômico da Alemanha com o Holocausto. O episódio é conhecido como um dos piores momentos da história da humanidade. Na ocasião, seis milhões de judeus foram assassinados entre as décadas de 1930 e 1940. Por conta da declaração do jornalista, a emissora se desculpou.
“Por meio desta nota, jornalista José Carlos Bernardi pede desculpas após posicionamento feito no Jornal da Manhã. Transmitido em 16/11/21, em uma discussão com a comentarista Amanda Klein”, iniciou o comunicado.
“’Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz hoje no Jornal da Manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã’”, falou Bernardi.
“Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio. Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido. Obrigado”, concluiu.
Entenda o caso envolvendo o comentarista da Jovem Pan
Bernardi entrou em uma discussão com a jornalista Amanda Klein. Ele criticou a chanceler alemã Angela Merkel e a acusou de tentar interferir na soberania da Amazônia, argumento muito usado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Amanda Klein rebateu: “Quem dera o Brasil chegar aos pés do desenvolvimento econômico da Alemanha”.
Foi aí que José Carlos Bernardi soltou a franga. Em tom irônico, ele afirmou que o país teve sucesso após assaltar e matar “todos os judeus”.
“É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha pós-guerra”, declarou.
Houve um tempo em que o teatro ocupava o imaginário das pessoas com fantasias, ídolos e exemplos de bem e de mal. Não só os arquétipos gregos, até hoje lembrados, mas os personagens de Shakespeare, Moliére ou Rostand, no século XVII, também criaram modelos de comportamento que se refletem até nossos dias. Era comum nos séculos seguintes as pessoas serem classificadas, de acordo com seu comportamento, aparência ou algum feito inusitado, como Romeus, Julietas, Tartufos, Dons Juans ou Cyranos de Bergerac (este um personagem real, celebrizado pela peça de Rostand).
A literatura tornou-se o veículo ideal para a disseminação de personagens que acabam tornando-se modelos comparativos de comportamento. Figuras como o sonhador Quixote, a insatisfeita Emma Bovary, o ciumento Bentinho ou o dividido Raskolnikov ainda são lembradas pelos mais cultos ao se depararem com figuras reais que emulam aqueles comportamentos.
O cinema, arte do século XX, introduziu novos parâmetros culturais, absorvendo e adaptando os exemplos teatrais e literários, mas também criando novos personagens paradigmáticos. Muitos homens tentaram imitar Humphrey Bogart, Errol Flynn ou John Wayne, em seus papéis mais famosos, enquanto as mulheres queriam ser Olivia de Havilland, Vivian Leigh ou Rita Hayworth. Ou melhor, as personagens que viveram nas telas.
O cinema falado é o grande culpado de promover esta sutil alteração na construção de modelos. Introduz personagens sem passado. Não têm história, não têm vivência, surgem feitos e morrem – quando morrem – como surgiram, sem alterar suas características. Personagens-síntese, modelos, arquétipos, que têm seu epítome nos heróis de histórias em quadrinhos e desenhos animados.
E o grande público foi se acostumando – ou sendo acostumado – a isso: a não precisar de história, de construção psicológica e histórica, contentando-se com ações e aparências. É uma espécie de regressão intelectual, se compararmos com o público do teatro grego ou elisabetano, com as românticas leitoras de folhetim do século XIX, com os leitores do século XX. A televisão, como mais poderoso meio de comunicação de nosso tempo, exerce papel fundamental nessestatus quo.Não é à toa que os roteiristas mais espertos de cinema e quadrinhos perceberam isso, procurando construir um passado psicologicamente mais elaborado para alguns personagens, como Batman, Coringa ou Homem-Aranha.
Já os desenhos animados, teoricamente destinados a um público infantil, dispensam este aprofundamento. A criança quer ver ação e conhecer as qualidades e defeitos presenciais de seus heróis e vilões, dispensando seu passado. É comum, e natural, vermos crianças assumir gestos e comportamentos de personagens de animação. O preocupante é ver cada vez mais jovens e adultos fazerem o mesmo.
Um forte sintoma de que a humanidade se adaptou bem a essa infantilização cultural é o fato de que os protagonistas do cenário político mundial cada vez mais se assemelham a personagens de desenho animado. Pinochet, Ulstra, Boris Johnson, Trump, Bozo, são caricaturas do mal. Seres de biografia obscura, que se firmam no imaginário popular mais pelo aspecto grotesco que por algum conteúdo humano.
Alguns dirão que o Papa, Mandela ou Lula também são caricaturáveis. Bem, todos nós somos, mas nem todos somos caricaturas. A diferença é que o ex-presidente tem uma biografia conhecida, construída em termos sociais e humanísticos, desde que era um líder operário, assim como Bergoglio ou Madiba. Quem conhece de fato a biografia de Trump? Ou de Dória, Musk ou Moro? O que é Bolsonaro senão um Dick Vigarista que anda de moto e cujos golpes acabam dando errado, e que mesmo assim tem muitos “seguidores”?
Mas embora esse retrato raso (e também caricatural) se encaixe bem em ambições eleitorais e outras atividades escusas, é preciso frisar sempre que representam mais que isso. São fantoches, mas manipulados por interesses maquiavélicos e totalitários, que sufocam cada vez mais a cultura, o conhecimento e a história, buscando um novo período de trevas. Para estes, o ideal é um mundo onde a política seja reduzida a um filme de má qualidade, para ser assistido no sofá, comendo pipoca, enquanto devastam o planeta.
O antigo Presidente brasileiro Lula da Silva recebeu, esta tarde, em Paris, o título de cidadão honorário da cidade que lhe tinha sido atribuído em Outubro do ano passado quando ainda estava preso.
No discurso no Hôtel de Ville em Paris, Lula da Silva disse que deve a sua liberdade a todos os que lutaram pela sua libertação durante 580 dias e agradeceu veementemente a solidariedade da cidade de Paris.
A distinção foi-lhe entregue pela presidente da Câmara Municipal de Paris, Anne Hidalgo, pela sua luta contra as desigualdades sociais, já que este título é atribuído a personalidades que se destacaram na defesa dos direitos humanos.
Hermano Sanches Ruivo, conselheiro-executivo da Câmara de Paris, explicou à RFI que a cidade de Paris também teve o seu papel na pressão para libertar Lula da Silva.
A distinção do ex-chefe de Estado brasileiro como cidadão honorário de Paris foi concedida pela Câmara Municipal da capital francesa em Outubro passado, quando Lula da Silva ainda se encontrava preso na cidade brasileira de Curitiba, onde cumpriu 580 dias da condenação de oito anos e dez meses de prisão por corrupção e branqueamento de capitais. Lula foi libertado a 8 de Novembro de 2019 na sequência de uma decisão do Supremo Tribunal.
A condecoração foi concedida desde a sua criação, em 2001, em 17 ocasiões, para homenagear personalidades presas ou que corressem perigo devido às suas opiniões políticas, incluindo o ex-Presidente sul-africano Nelson Mandela, a escritora do Bangladesh Taslima Nasreen e a vencedora, em 2003, do Prémio Nobel da Paz, a iraniana Shirin Ebadi.
Esta segunda-feira, o antigo chefe de Estado participa, ainda, num comício da campanha para as autárquicas de Anne Hidalgo, acompanhado pela também ex-Presidente do Brasil Dilma Rousseff e pelo ex-candidato à presidência brasileira, em 2018, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad.
Esta terça-feira, Lula da Silva vai estar também em Paris no Festival Lula Livre em Paris” no Théâtre du Soleil, com vários artistas a subir ao palco como a actriz Marina Foïs, a cantora e actriz Agnès Jaouï e a cantora Helena Noguerra.
Lula da Silva vai ainda a Genebra e Berlim até 11 de Março para discutir a questão da desigualdade social com líderes políticos, sindicais e religiosos.
Em entrevista exclusiva à TV 247, o senegalês Pierre Sané, ex-secretário geral da Anistia Internacional, destaca a intensa relação de Lula com a África; "O povo africano possui Mandela e Lula em seu imaginário, fruto das políticas que o ex-presidente promoveu no continente", afirma; Sané avalia ainda a prisão de Lula como política; "Está claro que querem impedi-lo de participar das eleições", constata, ressaltando que o Brasil "deve acatar a decisão da ONU"; assista"
Ex-secretário-geral da Anistia Internacional, o senegalês Pierre Sané defendeu, numa importante entrevista exclusiva à TV 247, que o ex-presidente Lula "merece ganhar o Nobel da Paz". Na conversa com o jornalista Leonardo Attuch, ele afirma que o povo africano admira Lula tanto quanto Mandela, fruto das políticas que o ex-presidente promoveu na África. "Está claro que querem impedi-lo de participar das eleições", constata, ressaltando que o Brasil "deve acatar a decisão da ONU".
O ex-secretário enumera dezenas de feitos que Lula promoveu no Brasil e na África, destacando seus projetos de combate à fome, distribuição de riqueza e acesso a bens básicos. “Ele merece de fato ganhar o Prêmio Nobel da Paz”, defende.
“Ele promoveu uma política externa voltada para a África, reforçando os laços do Brasil com os países que compõe o continente, com base em uma cooperação de igual para igual, principalmente na luta contra a fome e a pobreza”, relata.
O entrevistado relembra outro grande gesto de Lula. “O ex-presidente visitou particularmente a ilha de Goré, local que simboliza o tráfico de escravos, e em nome do Brasil ele pediu perdão à África, por conta da escravidão, reconhecendo a responsabilidade de seu País”, ressalta.
Sané destaca que há dois homens políticos no mundo que marcaram o imaginário africano: Nelson Mandela e Lula. Para o seu povo, explica, o Brasil também é um país africano, já que metade de sua população é afrodescendente.
Questionado sobre a prisão de Lula, Sané afirma que apoia a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU), defendendo que o ex-presidente tenha seus direitos políticos garantidos. “Infelizmente, em muitos países, a justiça é instrumentalizada por aqueles que estão no poder, mas o árbitro final ao nível internacional são as Nações Unidas. Considero que ele encontra-se em cárcere para não participar das eleições”, explicita.
“Não seguindo as orientações da ONU, o Brasil perde prestígio internacionalmente, perdendo credibilidade e reputação”, acrescenta.
Cem anos após o nascimento de Nelson Mandela, a África do Sul presta homenagem nesta quarta-feira (18) a este ícone da luta contra o Apartheid com uma marcha simbólica liderada por sua viúva, Graça Machel, e um fórum organizado pelo ex-presidente americano Barack Obama.
Todos os anos, o "Mandela Day", que marca o nascimento em 18 de julho de 1918 de "Madiba", o apelido do líder sul-africano, é comemorado em todo o mundo. "Atuem, inspirem-se na mudança, façam de cada dia um Dia Mandela", exorta a fundação que leva seu nome.
Na terça-feira (17), em um discurso em um estádio em Joanesburgo para 15.000 pessoas, o ponto alto das comemorações em homenagem a "Madiba", Barack Obama lembrou "a onda de esperança que tomou conta do mundo" depois da libertação de Mandela em 2 fevereiro de 1990, após 27 anos de prisão.
Quatro anos depois, sem derramar sangue após décadas de um regime racista branco, Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul, cargo que ocupou até 1999.
Cem anos do nascimento de Mandela.
Cem dias de Lula preso político.
Lula e Mandela presos políticos sim
por Adriana Dias
Ontem, ao postar que Mandela era comunista, algumas pessoas me mandaram mensagem privada afirmando que eu estaria “manchando” (para não reproduzir exatamente o que foi dito, por educação), a imagem do grande líder da África do Sul.
Surpreendida que fui com a desinformação reinante, achei melhor escrever sobre a prisão dele, e traçar um paralelo entre alguns aspectos de sua prisão e a de Lula, ambas políticas.
A prisão de Mandela em 1964 chocou o mundo, mas não foi a primeira vez que ele enfrentou o sistema judicial anti-democrático, branco e elitista de seu país. Ele havia sido preso, anteriormente, assim como Lula, na sua primeira prisão, por liderar uma greve.
Depois de liberto, na medida em que sua popularidade crescia, Mandela foi acusado e preso novamente. Antes que me digam que Mandela não foi presidente antes de ser preso, porque obviamente eu sei disso, ele não o foi porque o sistema político de seu país o impedia, o apartheid não permitia esse direito. Mandela era comunista. Mandela estudou minuciosamente os escritos de Mao e de Che Guevara.
O que impressiona na denúncia que levou Mandela à prisão em 1964 é que ele foi acusado de sabotagem, por “promover o comunismo e solicitar, aceitar e receber dinheiro tanto dentro como fora da África do Sul”. Sim, Mandela foi acusado de ser “comunista e corrupto”, e foi isso que o levou à prisão.
Mandela foi preso político, sua prisão foi uma criação midiática apoiada pelo judiciário de seu país. Assim como ele, Lula também é um prisioneiro político, e as mentiras que levaram à sua prisão foram criadas pela mídia, numa narrativa perversa, apoiada pelo judiciário do nosso país. E sim, o nosso judiciário é elitista e branco, e nada, nada democrático. Vivemos um imenso apartheid social. Se ele não está na lei, está nos fatos.
Se você não sabe também, o grupo que comprou parte da Revista Veja, o Naspers, foi um dos apoios do regime racista. O Naspers surgiu em 1915 com o nome de Nasionale Pers. Por quase um século permaneceu como o grupo midiático que sustentou o Partido Nacional, o nojento recurso das elites africâneres que manteve o apartheid na África do Sul. O grupo teve membros indicados a Ministros de Estado durante o regime, e jamais se desculpou por isso. Sabe-se também que diretores do Naspers foram simpatizantes do nazismo. Outras empresas brasileiras são controladas pela Naspers ou a tem como acionária. A Naspers nunca se desculpou por sua ação no regime sul africano.
Posto aqui uma foto de um jornal da época da prisão de Mandela.
Nelson Mandela e Lula em Maputo, 2008. FOTO RICARDO STUCKERT
O músico e produtor brasileiro Daniel Téo, nascido em Chapecó-SC e radicado nos Estados Unidos há sete anos, compôs uma belíssima música para o ex-presidente Lula. O tema serviu como trilha sonora de um inspirador e emocionante vídeo – também produzido por Daniel e sua equipe – publicado justamente no domingo 8, dia em que uma nova injustiça foi cometida contra o petista, que viu a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro rasgarem a Constituição para impedir o cumprimento de uma ordem judicial que determinava a sua libertação.
No melhor estilo das canções de protesto dos anos 1960, a letra, composta no dia da prisão de Lula, 7 de abril, coloca Lula ao lado de outras lideranças globais históricas e contemporâneas que sofreram injustiças, perseguições ou foram vítimas de violência, como Nelson Mandela, Dalai Lama, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi, Rosa Parks, Martin Luther King, John Lennon, Malala e Woody Guthrie, entre outros.
O artista conta que está buscando alguma forma de doar parte do que ganha com o seu trabalho – através do download de suas músicas nas plataformas de música digital e no youtube, por exemplo – para fortalecer a vigília permanente instalada em Curitiba em prol da liberdade de Lula. Outra opção seria apoiar o Instituto Lula, que tem enfrentado dificuldades para se manter por conta da perseguição judicial.
You’re not Alone
You’re not alone, Together we are stronger We know a better way of winning.
Can’t you hear me y’all God, there ain’t no walls for dreamers they can’t keep us from dreaming
Hey you in the valley Come to the top of the hill Lets bring our hands together Lets chant down the avenue for:
A longa espera para ver o amigo. A tentativa dos juizes Carolina Lebbos e Sergio Morro de humilhar Leonardo Boff e Lula
No dia 7 de maio cumpriam-se 30 dias de prisão do ex-presidente Lula. Foi-lhe concedida pela primeira vez receber a visita de amigos. Tive a honra de ser o primeiro a encontrá-lo pela amizade de mais de 30 anos e pela comunhão de causa: a libertação dos emprobrecidos e para reforçar a dimensão espiritual da vida. Cumpri o preceito evangélico:”estava preso e me visitaste”.
Encontrei-o como o conhecemos fora da prisão: rosto, cabelo e barba, apenas levemente mais magro. Os que queriam vê-lo acabrunhado e deprimido devem se decepcionar. Está cheio de ânimo e de esperança. A cela é um amplo quarto, muito limpo, com armários embutidos, banheiro e chuveiro numa área fechada. A impressão é boa embora viva numa solitária, pois, à exceção dos advogados e dos filhos, só pode falar com o guarda de origem ucraina, gentil e atento, que se tornou um admirador de Lula.Traz-lhe as marmitas, ora mais mais quentes ora mais frias e café, sempre que solicita. Lula não aceita nenhum alimento que os filhos lhe que trazem, porque quer se alimentar como os demais presos, sem nenhum privilégio. Tem seu tempo de tomar sol. Mas ultimamente, enquanto o faz, aparecem drones sobre o espaço. Por precaução Lula logo vai embora, pois não se sabe qual seja o propósito destes drones, fotografá-lo ou, quem sabe, algo mais sinistro.
O importante foi a conversação de natureza espiritual na qual se misturavam observações políticas.. Lula é um homem religioso, mas da religiosidade popular para a qual Deus é uma evidência existencial. Encontei-o lendo um livro meu, “O Senhor é meu pastor”,(da Vozes) um comentário do famoso salmo 23 o mais lido dos salmos e também por outras religiões. Sentia-se fortificado e confirmado, pois a Bíblia geralmente critica os pastoes políticos e exalta aqueles que cuidam dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Lula se sente nesta linha, com suas política sociais que beneficaram a tantos milhões. Não aceita a crítica de populista, dizendo: eu sou povo e vim do povo e oriento o mais que posso a política para ele.
Na cabeceira da cama há um crucifixo. Aproveita o tempo de reclusão estrita para refletir, meditar, rever tantas coisas de sua vida e aprofundar as convicções fundamentais que dão sentido a sua ação política, aquilo que sua mãe Lindu (que a sente como um anjo protetor e inspirador) sempre lhe repetia: sempre ser honesto e lutar e mais uma vez lutar. Vê nisso o sentido de sua vida pessoal e política: lutar para que haja vida digna para todos e não só para alguns à custa dos outros. A grandeza de um político se mede pela grandeza de sua causa, disse enfaticamente. E a causa tem que ser produzir vida para todos a começar pelos que menos vida têm. Em função disso não aceita derrotas definitivas. Nem quer cair de pé. O que não quer é cair. Mas manter-se fiel a seu propósito de base e fazer da política o grande instrumento para ordenar a vida em justiça e paz para todos, particularmente aos que vivem no inferno da fome e da miséria.
Esse sonho possui grandeza ética e espiritual inegável. É à luz destas convicções que se mantém tranquilo, pois diz e repete: vive desta verdade interior que possui força própria e vai se revelar um dia. “Só quero”, comentava, “que seja depois de minha morte, mas ainda em meu tempo de vida”. Indigna-se profundamente por causa das mentiras que divulgam contra ele e sobre elas montaram o processo do triplex. Pergunta-se, como podem as pessoas mentirem conscientemente e poderem dormir em paz? Faz um desafio ao juiz Sérgio Moro: “apresente-me uma única prova sequer, de que sou dono do triplex de Guarujá. Se aprensentar renunciarei à candidatura à presidência”. Recomendou-me que passasse esse recado à imprensa e aos que estão no acampamento:“Sou candidatíssimo. Quero levar avante o resgate dos pobres e fazer das política sociais em prol deles, políticas de Estado e que os custos que são investimentos entrem no orçamento da União. Irei radicalizar estas políticas para os pobres, junto com os pobres e dignificar nosso país”.
A meditação o fez entender que esta prisão possui um significado que transcende a ele, a mim e às disputas políticas. Deve ser o mesmo preço que Gandhi e Mandela pagaram com prisões e perseguições para alcançarem o que alcançaram. “Assim creio e espero”, dizia, “que é o que estou passando agora”.
Eu que entrei para anima-lo, saí animado. Espero que outros também se animem e gritem o “Lula livre” contra uma Justiça que não se mostra justa.