Fake news da 'mamadeira de piroca'. A fake news versus realidade.
Câmara virou clube de tiro da bancada da bala assassina (tem deputado serial killer)
Repetindo o deputado Daniel Silveira, que quebrava o decoro parlamentar com discursos de ódio, o deputado federal Chrisostomo de Moura (PL-RO) fez uma falação gordofóbica, e ameaçou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, nesta terça-feira (9/5), na Câmara.
Disse o deputado da banca da bala se referiu ao ministro como “sobrepeso” e criticou a PL das Fake News. A indústria das fake news. A mentira como verdade. A mentira como narrativa política. A fake news de Carla Zambelli. A fake news de Damares Alves. A fake news de Daniel Cid. A fake news de que Lula presidente fcharia igrejas. A fake news da cartilha gay. A fake news da mamadeira de piroca.
Pênis inflável verde e amarelo (referência à mamadeira de piroca) erguido pelo presidente Bolsonaro na manifestação cívica para lembrar a Independência do Brasil, em São Paulo, Sete de Setembro de 2022, quando refez o discurso do golpe anunciado
“Ele declarou que o STF e o governo vão regular a internet na marra. Se vier na marra, vai levar porrada do povo brasileiro. Vem pra cima, vem”, ameaçou.
É preciso investigar quem espalha e quem finacia as fake news. Fake news virou uma indústria do golpe, do bolsonarismo. Da extrema direita que inventou a fake news da mamadeira de piroca, da cartilha gay, da cartilha do crack. Da Damares Alves das estórias infantis, das meninas sem calcinhas.
ConJur - Cabe multa contra políticos que divulgam notícias sabidamente falsas contra candidatos. Com base nesse entendimento, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu, nesta quinta-feira (11/5), multar o empresário, coach e político Pablo Marçal por divulgar um vídeo relacionando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao "kit gay".
O conteúdo falso foi divulgado durante as disputas presidenciais de 2022. Marçal reproduziu um vídeo em que Jair Bolsonaro (PL), então presidente e candidato no pleito do ano passado, afirma que o Ministério da Educação distribuiu o chamado "kit gay" durante os governos do PT.
O relator do caso, ministro Sérgio Banhos, confirmou uma liminar que determinou a retirada do vídeo e entendeu que cabe a aplicação da multa prevista no artigo 57-D da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997). Ele foi seguido pelos demais integrantes da corte.
"Estou dando provimento ao recurso para confirmar a liminar, determinando a retirada definitiva da íntegra do conteúdo impugnado e para condenar Pablo Marçal ao pagamento de multa de R$ 5 mil, nos termos do parágrafo 2º do artigo 57-D da Lei 9.504", disse o relator.
A decisão ratifica entendimento firmado em julgamento de março deste ano, quando o tribunal ampliou a interpretação de uma regra da Lei das Eleições criada para vetar manifestações anônimas na internet durante a campanha eleitoral, de modo a fazê-la alcançar também os casos em que há disseminação de fake news.
Ao analisar caso envolvendo a divulgação de informação falsa pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), o TSE decidiu que o artigo 57-D não indica que o ilícito se restringe à hipótese de anonimato. Em vez disso, tutela outros tipos de abusos no exercício do direito fundamental à livre expressão, que é garantido na Constituição Federal, mas não é absoluto.
Na ocasião, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, afirmou que a disseminação de fake news, mesmo quando feita por pessoa identificada, tem os mesmos efeitos nocivos à legitimidade das eleições da manifestação feita por usuário anônimo.
EM JANEIRO DESTE ANO, o ministro da Justiça Flávio Dino coordenou a transferência de Marcola do presídio federal de Rondônia para o presídio federal de Brasília. O motivo foi a descoberta de um plano do PCC para resgatar Marcola, o seu principal líder. A Polícia Federal foi acionada pelo Ministério Público de São Paulo, que descobriu os planos da facção após monitorar suas ações durante anos. Com a transferência de Marcola para Brasília, o plano foi por água abaixo. A facção, então, se preparou para o plano B: sequestrar e matar autoridades públicas para forçar a libertação ou pelo menos a transferência do seu líder para São Paulo. Entre os alvos estavam o senador Sérgio Moro e o promotor Lincoln Gakiya, o homem que lidera as investigações do Ministério Público contra o PCC.
Esses são os fatos. Agora vamos às mentiras, à politicagem barata e ao show de demagogia do bolsonarismo. Logo que saiu a notícia de que Moro seria um alvo do PCC, a grande imprensa quase que de maneira unânime afirmou que, quando ministro da Justiça, “Moro foi o responsável pela transferência para penitenciárias federais de líderes da facção criminosa” — essas aspas são da CNN Brasil. Trata-se de uma mentira descarada e bastante utilizada durante as últimas eleições por Bolsonaro e Moro. À época, o bolsonarismo tentou de toda maneira associar Lula e o PT à Marcola e ao PCC. Embriagado pelo vale-tudo da campanha, Moro espalhou a mentira:
"Por que Lula, no Governo, nunca transferiu os líderes do PCC, Marcola entre eles, para presídios federais de segurança máxima? E isso mesmo após os atentados de 2006. Perguntado, não respondeu. Em fevereiro de 2019, com 2 meses de Governo, foi feito o que Lula não fez em 8 anos.
Moro voltou agora a espalhar a mesma mentira sem o menor pudor e conta com o suporte de boa parte da grande imprensa. Quem pediu a transferência foi o promotor Lincoln Gakiya, que virou o principal alvo dos criminosos. Segundo o próprio Gakiya, Moro entrou na mira do PCC porque baixou uma portaria proibindo visitas íntimas aos presos no sistema penitenciário federal quando foi ministro da Justiça. Moro poderia faturar politicamente com o episódio falando apenas a verdade, mas a sua megalomania não deixou. Uma proibição de visita íntima não é tão grandiosa e midiática quanto uma transferência de presos para presídio de segurança máxima.
Mas, convenhamos, não dá pra se esperar nada além disso de um moralista sem moral. Estamos falando de um sujeito que rugiu como um leão quando se demitiu do governo fazendo graves acusações contra o presidente e, pouco tempo depois, voltou miando como um gatinho para debaixo das calças de Bolsonaro para apoiar a tentativa de reeleição deste e garantir sua vaga no Senado. O oportunismo e a demagogia barata são as principais marcas da carreira política de Moro — uma carreira que teve início dentro dos tribunais da Lava Jato.
O plano do PCC contra autoridades públicas fez com que o bolsonarismo ressuscitasse as velhas mentiras associando Lula e o PT ao crime organizado. Jair Bolsonaro reviveu em suas redes sociais as teoria conspiratórias envolvendo o assassinato de Celso Daniel e a facada de Adélio Bispo. Seu filho, Flávio Bolsonaro, lembrou da recente visita de Flávio Dino ao Complexo da Maré no Rio de Janeiro e sugeriu que Lula e o governo estão associados ao crime organizado. Deltan Dallagnol talvez tenha sido o bolsonarista que ficou mais ouriçado com o caso. Ele, que também iniciou sua carreira política usando os tribunais lava-jatistas, passou a fazer insinuações ardilosas sobre uma possível ligação do governo Lula com o plano do PCC em sequestrar Moro.
Moro e Dallagnol, que hoje formam o braço lavajatista do bolsonarismo no parlamento, fingem esquecer que quem tem fortes ligações com o crime organizado é a família Bolsonaro’.
Moro e Dallagnol, que hoje formam o braço lavajatista do bolsonarismo no parlamento, fingem esquecer que quem tem fortes ligações com o crime organizado é a família Bolsonaro. Essa não é uma suposição ou uma forçação de barra. Essas conexões já foram fartamente comprovadas. Flávio Bolsonaro empregou familiares do chefe de milícia em seu gabinete. Ele e seu pai fizeram diversas declarações públicas em defesa de milicianos e chegaram até prestar homenagens a um chefe de milícia. A liberação maciça de armas feita durante o governo Bolsonaro foi responsável por facilitar ainda mais o acesso do PCC às armas. Em 2019, o MPF enviou uma nota técnica ao governo Bolsonaro afirmando que os decretos de liberação de armas facilitariam o desvio de armas para o crime organizado. Graças ao governo Bolsonaro, a “cesta básica do crime” – formada por fuzis, carabinas e pistolas – ficou até 65% mais barata. Moro era ministro da Justiça e nada fez.
Lula errou feio ao sugerir que o plano do PCC poderia ser “mais uma armação do Moro”. Mesmo se isso for verdade — nada indica que seja — um presidente da República não deve fazer esse tipo de ilação sem apresentar provas. A fala atabalhoada mostra que a comunicação é o calcanhar de aquiles do governo atual. Em tempos de fascismo e redes sociais, não se pode levantar uma bola açucarada dessa pros adversários. Moro e os bolsonaristas se indignaram, posaram de vítimas e faturaram politicamente em cima da fala infeliz. O governo precisa resolver esse problema de comunicação ou continuará tomando bola nas costas. O governo do PT tinha tudo pra ganhar politicamente com o caso, mas a fala de Lula virou alimento para a hipocrisia do bolsonarismo. Lula poderia enaltecer a independência da Polícia Federal e ressaltar que o seu governo não interfere em investigações, diferente do governo Bolsonaro do qual Sérgio Moro fez parte.
os bandidos que queriam matar Moro foram presos por um órgão subordinado ao ministério da Justiça do governo petista’
Lula poderia lembrar que ele próprio foi alvo do crime organizado quando foi presidente. Em 2008, uma investigação da Polícia Federal descobriu um plano de Fernandinho Beira-Mar para sequestrar um dos seus filhos. O objetivo era conseguir a sua soltura e a de Marcola, chefe do PCC. Outro registro importante: foi durante os governos do PT que se construíram todos os presídios federais de segurança máxima — que hoje representam o maior pesadelo do crime organizado. No caso envolvendo Moro, o atual governo Lula tem atuado de maneira exemplar. A Operação Sequaz da Polícia Federal cumpriu 24 mandados de busca e apreensão e prendeu 9 criminosos envolvidos no caso. Ou seja, os bandidos que queriam matar Moro foram presos por um órgão subordinado ao ministério da Justiça do governo petista. A PF atuou com a mesma independência que atuou nos governos anteriores do PT. Quem diz isso sobre os governos petistas não sou eu, mas — vejam só! — um ex-procurador da Lava Jato. Em 2016, Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou: “um ponto positivo que os governos que estão sendo investigados, os governos do PT, têm a seu favor é que boa parte da independência atual do Ministério Público, da capacidade administrativa, técnica e operacional da Polícia Federal decorre de uma não intervenção do poder político”.
As ações da PF do governo atual contra o PCC mostram que essa independência continua de pé. Isso não acontecia no governo Bolsonaro, como atestou o próprio Sérgio Moro à época de sua demissão. Ligar o governo, Lula e o PT ao crime organizado é, portanto, mais uma mentira escabrosa servida nas mamadeiras de piroca do bolsonarismo. Quem senta à mesa com o crime organizado é o bolsonarismo.
Finada Lava Jato esquece a pornofia diária de Bolsonaro e faz zoada para abafar o testemunho de Tacla Duran amanhã
Todo profano dia de fala de Bolsonaro no cercadinho do Palácio do Planalto, quando reunia o rebanho, o presidente capitão contava mentiras e baixarias, e a grande imprensa dava uma de surda. Veja seletas (vídeos abaixo) de frases de corar frades de pedra e virgens de hímen rompido. Com os pornôs de Bolsonaro, bentos nas igrejas evangélicas, pela irmã Michelle Bolsonaro despida de joias, jornais e tvs criavam alardes e manchetes. Os discursos e sermões louvando o golpe, e esmagando imaginários comunistas mais perigosos que a corte - disse o papa Francisco = do "diabo que se finge 'educado' e até toca a campainha apresentando-se como amigo, a ponto que o tens em casa sem te aperceberes do mal".
O juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, intimou o advogado Rodrigo Tacla Duran para prestar depoimento nesta segunda-feira (27), por meio de videoconferência.
Nos últimos anos, o advogado espanhol denunciou os pedidos de cerca de cinco milhões de dólares em propina do advogado Carlos Zucolotto Junior, amigo íntimo do casal Moro, para ajudá-lo em processos da Lava Jato.
O Jornalista Chico Alves, colunista do UOL, escreve:
O presidente Lula deu nos últimos dias ao senador Sergio Moro (União-PR) todas as condições de terminar a semana como vencedor da disputa pessoal que os dois travam na política. Primeiro, pelo desabafo feito durante entrevista admitindo que, quando estava preso, tinha vontade de "foder" o então magistrado. Mas principalmente por chamar de "armação" o plano do PCC para matar ou sequestrar Moro, descoberto pela Polícia Federal, subordinada ao seu ministro da Justiça e Segurança Pública.
Como a coluna registrou, ao fazer acusação sem provas contra o senador — duvidando indiretamente da PF —, Lula marcou um dos maiores gols contra de toda sua trajetória política. Deu a deixa para Moro atacá-lo e fez dele vítima em dose dupla, tanto da ameaça do crime organizado quanto da leviandade de sua suspeita desprovida de base.
Desde a fala sobre "armação", Lula vem recebendo todo tipo de críticas, que vão das justificadas até aquelas exageradas, que comparam sua declaração com os piores momentos do bolsonarismo — como se as baixarias de Jair Bolsonaro e seus asseclas não fossem resultado de uma gigantesca e permanente estratégia de destruir reputações, algo muito diferente de uma rara fala condenável em que Lula usou o fígado para tratar de seu desafeto.
Nos últimos dias, por causa da incontinência verbal do petista, o lavajatismo saiu do túmulo e se juntou ao bolsonarismo para desancar o presidente.
O jogo estava bastante desfavorável para Lula. Até que ontem Sergio Moro jogou contra o patrimônio: também marcou um gol contra memorável.
Por conta da divulgação de que uma das contas de email investigadas entre as várias que serviram de ponto de partida para desbaratar o plano do PCC tinha o endereço lulalivre1063@icould.com, o senador jogou nas suas redes sociais uma suspeição irresponsável.
"Gostaria de entender por que um dos criminosos do PCC, investigado no plano de sequestro e assassinato, utilizava como endereço de email lulalivre1063?", questionou.
A acusação indireta de parceria entre PT e tráfico foi endossada por Deltan Dallagnol, fiel escudeiro de Moro — que, de quebra, requentou a lorota bolsonarista sobre a ida de Flávio Dino à favela da Maré:
"Finja surpresa: membro do PCC usava email 'lulalivre'. Em áudio que divulguei dia 22, PCC reclamou de Moro porque com ele não tinha conversa, enquanto com o PT tinha. Não surpreende também que o Ministro da Justiça de Lula entre livremente em área dominada pelo crime organizado", acusou Deltan.
A própria polícia explica que os integrantes do PCC usavam emails de terceiros para despistar. Assim como o fato de a juíza Gabriela Hardt tratar do caso das ameaças ao ex-juiz não dá a Lula o direito de dizer o que disse, o aparecimento de endereço eletrônico com o nome do presidente no meio da investigação é obviamente insuficiente para justificar qualquer suspeita infundada de Moro e Dallagnol. Mas nenhum dos dois levou isso em consideração antes de atacar o PT.
Com essa desprezível intriga, Moro marca a semana não apenas por ser vítima de um plano do PCC e passa também à lamentável categoria dos parlamentares que fazem politicagem com qualquer coisa — inclusive com eventuais desventuras.
Tanto a acusação leviana de Lula quanto a ilação inconsequente de Moro, rebaixam a já desvalorizada política nacional. Mas não é um empate.
O petista sempre poderá argumentar que tem motivos de sobra para ressentimento contra o ex-juiz que, em processo sem provas e recheado de ilegalidades, o obrigou a ficar 580 dias na prisão e entregou o país de bandeja para Bolsonaro.
Já Moro não explicou ainda a fixação que tem por Lula desde 2014 e que agora o faz perder o controle da situação.
Cientistas políticos parecem não dar conta. Talvez seja o caso de recorrer a Freud.
Enquanto militantes sustentam posição golpista em quartéis, filho do presidente foi curtir Copa no Catar matando trabalho
por João Filho /The Intercept
DURANTE A CAMPANHAdo primeiro turno das eleições de 2018, um estudante perguntou a Eduardo Bolsonaro sobre uma possível ação do Exército caso seu pai fosse impedido de assumir a presidência por alguma decisão do Supremo. A resposta se tornariaum clássico do golpismo brasileiro: “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. É só mandar um soldado e um cabo.” As ameaças à democracia acontecem desde antes da chegada do bolsonarismo ao poder.
O golpismo bolsonarista não precisa de razões para existir. Ele faz parte da essência do bolsonarismo e atuou de maneira permanente antes, durante e continuará atuando após o mandato de Jair Bolsonaro. Por essa e outras razões, o bolsonarismo não deveria ser considerado uma corrente política apta a participar da democracia, porque o seu grande projeto é justamente o de destruí-la. O que vem a seguir é uma obviedade, mas vivemos tempos em que o óbvio precisa ser repetido: incitar golpe é crime no Brasil. Um crime do qual os bolsonaristas não têm o menor pudor em cometer, já que vêm desfrutando de enorme tolerância por parte das instituições. As recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes contra os golpistas são importantes, mas insuficientes diante da gravidade do problema.
Enquanto golpistas anônimos permanecem na frente dos quartéis tomando chuva,cometendo crimese passando vergonha, o deputado Eduardo Bolsonaro resolveu dar um perdido no trabalho na Câmara para curtir a Copa do Mundo no Catar, ao lado da sua esposa.
A reação de parte do gado bolsonarista foi de indignação.Alguns se sentiram trouxas — o que de fato são — por estarem sofrendo perrengues na rua enquanto o filho do presidente matava o trampo pra dar um passeio no Oriente Médio. Eduardo, então, correu para apresentar uma conversa para seus bois dormirem. Segundo ele, o objetivo da viagem não foi o de curtir a Copa, mas comandar uma missão muito mais nobre: distribuir pen drives contendo informações em inglês “explicando a situação do Brasil”. Ou seja, foi cumprir uma agenda golpista com interlocutores estrangeiros para buscar apoios para conspirar contra a democracia brasileira.
Em vídeogravado sob medida para acalmar os bolsonaristas indignados, Eduardo pergunta: “Será que você não consegue perceber a importância da comunicação internacional?”. É claro que se trata de uma desculpa esfarrapada. O deputado se deu uma folga numa época cheia de trabalho na Câmara para poder praticar no exterior o seu hobby favorito: o crime de atentar contra a democracia.
À Câmara, o deputado se limitou a informar que ficaria ausente do país entre os dias 23 de novembro e 5 de dezembro para uma “viagem de caráter particular ao Oriente Médio”. O período engloba justamente todos os jogos do Brasil na primeira fase da Copa. Sua esposa, Heloísa Bolsonaro, a blogueirinha que costuma postar fotos e vídeos do dia a dia do casal, não publicou nada sobre a viagem. Mas depois que foram flagrados fazendo festa nas arquibancadas no Catar, ela resolveu se explicar. “Eduardo hoje é o único brasileiro que consegue ser recebido pelas maiores autoridades mundiais”, delirou Heloísa, ao tentar justificar a viagem. Segundo a pobrezinha, o casal “assumiu o compromisso com o anfitrião há um ano” e, desde então, começou a pagar as parcelas das viagens.
“Pode parecer que estamos curtindo a vida, mas vocês sequer imaginam a tal ‘vida’ que levamos”, arrematou a esposa do deputado, que no meio do ano já haviareclamado dos “perrengues”financeiros do casal. Falando assim nem parece que há poucos anos Eduardo e Heloísa casaram numacerimônia luxuosíssimaem uma das casas de festas mais caras do Rio de Janeiro, com vista para o Pão de Açúcar e o Corcovado. Esse é o tamanho do “perrengue”. O golpismo é mesmo um estado de espírito do clã Bolsonaro.
Incitando o golpe
Outra deputada golpista que vem cometendo crimes em série é Carla Zambelli. Depois de iniciar uma perseguição armada contra um jornalista negro nas vésperas da votação do segundo turno e mentir para a polícia ao dizer que foi agredida, a deputada tem sido uma das bolsonaristas mais atuantes nos crimes de atentado contra a democracia.
Durante a última semana, o empresário bolsonarista Paulo Figueiredo informou na Jovem Pan que três generais progressistas estariam boicotando uma “ação contundente” das Forças Armadas para impedir a posse de Lula. Antes de continuar, é importante registrar: Paulo Figueiredo é neto do ex-ditador João Figueiredo,já foi preso nos EUA, éinvestigado por lavagem de dinheirono Brasil e hoje atua como uma espécie de pet do neofascismo bolsonarista na Jovem Pan.
No dia seguinte à declaração de Figueiredo, o Exército odesmentiu em nota, afirmando que os militares “são apartidários em suas condutas”. Foi aí que Zambelli resolveu entrar em cena. A deputadagravou um vídeo instigando as Forças Armadas a cometer um golpe de estado: “Dia 1º de janeiro, senhores generais quatro estrelas, vão querer prestar continência a um bandido ou à nação brasileira? Não é hora de responder com carta se dizendo apartidário. É hora de se posicionar. De que lado da história vocês vão ficar?”.
Alguns se sentiram trouxas enquanto o filho do presidente matava o trampo no Oriente Médio
A deputada prega abertamente que a vontade popular expressa nas urnas não deve ser respeitada pelas Forças Armadas. O artigo 286 do Código Penal é claríssimo ao apontar que é crime passível de prisão “incitar publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade”.
Foi exatamente isso o que a bolsonarista fez. Sem margem para outras interpretações. Em condições normais de temperatura e pressão, Zambelli seria cassada e presa imediatamente.
Eduardo Girão é outro golpista atuante. Na última quarta-feira, eleconvocou uma audiência no Senadoque reuniu parlamentares bolsonaristas, advogados reacionários e militantes do golpismo. Ali, eles atacaram o processo eleitoral, o STF, pediram a prisão do ministro Alexandre de Moraes e defenderam abertamente um golpe militar. Trata-se de um crime registrado em ata do Senado.
O golpismo do gado alucinado na frente dos quartéis segue sendo alimentado por parlamentares da extrema-direita. E essa ameaça golpista continuará nos assombrando pelos próximos anos se os criminosos golpistas não começarem a ser cassados e punidos de maneira rigorosa.
A lei de liberdade de expressão não pode mais ser escudo para que essa gente continue cometendo crimes. A democracia precisa enquadrar o golpismo de maneira definitiva, em nome da sua própria sobrevivência. Hoje, não existem condições objetivas para um golpe, mas amanhã elas poderão existir. Colocar os golpistas na cadeia é, portanto, uma obrigação histórica.
Mamadeira inflada em ato golpista /7 de Setembro /São Paulo
por Jornalistas Livres
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Com o fim do segundo turno e a derrota deBolsonaro, os seguidores fiéis do presidente não desistiram da corrida eleitoral e se mantiveram firmes nas ruas questionando o resultado das urnas. Como de costume, o que vem dando sustentação aos argumentos desses golpistas é um vasto acervo de fake news. Tem de tudo. Tem notícia que traz a cantora Lady Gaga representando a primeira-ministra do tribunal de Haia. Tem Alexandre de Moraes preso por favorecer Lula. Tem general das Forças Armadas Beijamin Arrola. E por aí vai. No universo paralelo do bolsonarismo o déficit cognitivo impera. Para os que estão do outro lado, chega a ser cômico. Nós dos Jornalistas Livres reunimos algumas das mais absurdas fake news propagadas por grupos bolsonaristas desde o dia 30 de outubro.
Lady Gaga, a primeira-ministra do Tribunal de Haia
Uma imagem com a cantoraLady Gagaem uma suposta conferência com Jair Bolsonaro começou a circular nas redes sociais bolsonaristas. A foto estava acompanhada de uma explicação: Stefani Germanotta (o verdadeiro nome da cantora), a primeira-ministra do “Tribunal de Haia”, estaria negociando uma possível intervenção militar com o atual presidente.
Lady Gaga é, na verdade, uma cantora que não tem relações com a política brasileira, e não possui um cargo de primeira-ministra (já que esse cargo não existe) no Tribunal Penal Internacional, localizado na cidade de Haia.
Stefani Germanotta (Lady Gaga), em uma suposta conferência de vídeo com Jair Bolsonaro. Foto/Reprodução
Mia Khalifa, diretora do tribunal de Haia
Outra notícia foi compartilhada nas redes sociais do grupo bolsonarista “Direita Brasil” (@direita.brasil_oficial), a matéria contava com uma foto deMia Khalifa, ex-atriz pornô libanesa, em um entrevista que fez para a BBC em 2019 acompanhada de uma foto de Jair Bolsonaro com a seguinte manchete: “Diretora do Departamento Anti-Fraudes Eleitorais do Tribunal de Haia diz que está chocada com as provas obtidas”.
Mia Khalifa não apresenta nenhuma relação com o tribunal de Haia ou com as eleições presidenciais do Brasil. “Ok, a essa altura eu deveria estar me perguntando se estou atrasada para o trabalho, eu acho que eu realmente tenho esse emprego”, ironizou a modelo ao compartilhar a notícia falsa que estava circulando nas redes sociais.
Tweet do portal Direita Brasil chamando Mia Khalifa de Diretora do Departamento Anti-Fraudes Eleitorais do Tribunal de Haia. Imagem/Reprodução
General Benjamin Arrola
Mais uma notícia duvidosa começou a circular nos grupos bolsonaristas nesta semana. Trata-se de um texto que afirma que o suposto general das Forças Armadas “Benjamin Arrola” teria pedido ao TSE uma explicação sobre as eleições. É admirável a credibilidade que um bolsonarista pode dar a uma notícia que traz um nome fictício que sonoramente se traduz em “Beija Minha Rola”. Foi o caso do prestigiado lutador Vitor Belfort, ex-campeão de UFC e eleitor de Jair Bolsonaro. Em seu instagram, o lutador compartilhou um story com a notícia do general e ainda abriu uma enquete para os seus seguidores perguntando se eles acreditavam no resultado das urnas.
“O General Benjamin Arrola das Forças Armadas declarou que o exército deu 24 horas para que o TSE explique o que houve nas urnas no domingo. Segundo ele, as forças armadas já estão apostos para a tomada do poder caso não haja nenhuma explicação coerente”, diz o texto que Belford compartilhou nos stories do seu instagram”.
Vitor Belfort, ex-campeão de UFC, postou em seu stories uma declaração do “General Benjamin Arrola”. Imagem/Reprodução
Nesta terça-feira (08/11), o ex-lutador de UFC postou um vídeo pedindo uma declaração do suposto general.
Onde está o General Benjamin Arrola?
A renomada juíza Anna Ase, cantora do ABBA
A cantora Agnetha Fältskog, do conjunto ABBA, também foi alvo defakenewsbolsonaristas. Um vídeo mostra a suposta juíza Anna Ase, uma autoridade internacional sueca, falando sobre fraudes nas urnas brasileiras.
Anna Ase, na verdade, é Agnetha Fältskog, cantora na banda ABBA. O vídeo que a “juíza” questiona a veracidade das urnas é uma entrevista de 2013, e os bolsonaristas usaram legendas falsas nas falas da cantora para sustentarem sua tese.
Agnetha Fältskog, a cantora do grupo ABBA, é chamada de juíza renomada e comenta as eleições brasileiras de 2022. Imagem/Reprodução
Pedido de prisão contra Alexandre de Moraes
Um vídeo que viralizou na última semana mostra um grupo de bolsonaristas comemorando a suposta prisão do Ministro Alexandre de Moraes. A filmagem aconteceu em Porto Alegre e nela bolsonaristas choram, se jogam no chão e balançam a bandeira do Brasil ao receberem a notícia falsa.
O ministro não recebeu nenhum mandado de prisão e segue atuando no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), confira abaixo o vídeo que viralizou nas redes:
Christmas
Uma foto da reportagem afiliada ao SBT do Rio Grande do Norte, TV Ponta Negra, viralizou na internet. A imagem mostra um idoso em uma manifestação antidemocrática, contrariando a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na Avenida Hermes da Fonseca.
O sujeito segura um cartaz escrito: “intervenção federal 02/11/2022 Natal/RN — Brasil”. No entanto, o que chamou mais a atenção dos internautas foi a tradução em inglês logo abaixo: “federal intervention already 02/11/2022 Christmas/RN — Brasil”. O nome da cidade havia sido traduzido para “Christmas”, como é chamado a data comemorativa em que Jesus nasceu, 25 de dezembro, isto é, Natal.
Homem traduz o nome da cidade de Natal para Christmas. Imagem/Reprodução
Com Camilla Veles e Marina Merlino. Roteiro André Cavalieri e Gabriel Di Giacomo. Direção captação edição André Cavalieri
Desde que surgiu, em 2018, a mamadeira de piroca causou transformações radicais na vida brasileira. O artefato imaginário, criado pelas tropas bolsonaristas, tornou-se símbolo da mentira e da perversão que inspiram fanáticos a atacar as instituições brasileiras. Na ciência, os estragos causados por esses delírios mamadeirísticos são dramáticos, especialmente em tempos de pandemia. Os depoimentos na CPI da Covid dão a exata noção do prejuízo.
Como qualquer criança pode constatar, tratava-se da reprodução do logotipo comemorativo dos 120 anos da instituição, a estilização da torre do castelo de inspiração mourisca onde funciona a sede.
Mais impressionante nessa alucinação fálica é que Randolfe ainda deu à depoente a chance de se retratar. Perguntou se realmente em algum momento a Fiocruz teve "órgão reprodutor masculino" à porta. Mayra confirmou: "Sim", disse. "Isso é uma constatação, senador".
É desesperador constatar que essa pessoa que enxerga formas eróticas em símbolos históricos é a responsável pela gestão do trabalho e da educação dos profissionais de saúde pública brasileiros. Descolada do mundo real, como demonstrou ser, imagina-se as orientações estapafúrdias que deve passar aos subordinados.
Não faltaram outros momentos constrangedores na participação de Mayra. Como quando abordou os motivos que a levam a acreditar que a cloroquina, em determinados casos, pode ter efeito positivo no tratamento da covid-19.
Sobre isso, enrolou o quanto pôde, citando estudos obscuros. Até que se deparou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania -SE). Munido de levantamento feito por um especialista, o parlamentar citou análise em 2.871 pesquisas em bases disponíveis em todo o mundo que apontam 14 estudos de excelência sobre o assunto. Destes, nenhum indica benefícios de medicamentos como cloroquina para o tratamento da covid-19.
Mayra, a Capitã Cloroquina, reconheceu tanto a qualidade das pesquisas citadas por Vieira quanto a inexistência de estudos de alto nível para provar suas sugestões de tratamento heterodoxo para o coronavírus. Apesar de confrontada com a verdade mais uma vez, continuou a demonstrar fé nessas terapias.
"A senhora acredita no que fala, mas acreditar no que se fala não torna o que se fala uma verdade", criticou o senador sergipano.
Também acompanham Mayra nessa cruzada irracional pela cloroquina parlamentares governistas da CPI como Eduardo Girão (Podemos-CE), Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e outros. Apesar de influenciarem diariamente os brasileiros a usar substâncias não reconhecidas contra a covid-19, Girão e Heinze não querem ser criticados por isso.
Os dois acionaram a Polícia do Senado para intimidar o sociólogo Celso Rocha de Barros, autor do artigo "Consultório do Crime", publicado na Folha de S. Paulo. Mais uma vez, a crendice afronta a realidade.
Seja no Ministério da Saúde ou no Congresso, onde em tempos passados era defendida, a ciência brasileira está hoje a mercê desses personagens fanáticos da turma da mamadeira de piroca.
É gente que despreza as pesquisas rigorosas e detalhadas de cientistas que estão entre os melhores do mundo para sugerir políticas públicas em cima de achismos ou de histórias do tipo "conheço alguém que se curou".
As 450 mil mortes não foram suficientes para fazê-los abandonar os ilusionismos em favor da busca por vacinas e da divulgação do isolamento social.
Nesse momento dramático, enquanto pesquisadores sérios trabalham duro para oferecer alternativas reais à sociedade brasileira contra a pandemia, autoridades do governo e integrantes do Senado continuam a se apegar a poções mágicas, como se vivessem no tempo do guaraná de rolha.
A simpatia com cloroquina, no entanto, além de não curar pode custar caro, por causa dos efeitos colaterais. Os amuletos do passado, como pé de coelho ou galho de arruda na orelha, ao menos eram inofensivos [Publicado no UOL in 26/05/2021]
Pouco após o primeiro turno das eleições, um questionamento chamou a atenção da cabeleireira Monika Ganem. "Uma cliente ligou para perguntar a um profissional do meu salão se eu estava trabalhando pro Lula. Ele respondeu: 'claro que não'", conta a empresária, que há 30 anos é dona de um salão de beleza em Maringá (PR).
Dias depois, ela descobriu que o seu estabelecimento estava em uma "lista de petistas" que eleitores de Jair Bolsonaro (PL) elaboravam para que pessoas deixassem de frequentar.
"Fiquei me sentindo na fogueira da inquisição ou nos porões da ditadura militar", revela a cabeleireira.
Ela frisa que nunca declarou voto no petista ou em qualquer candidato. "Mesmo que eu tivesse me manifestado publicamente, estaria no meu direito. Eu enxergo esse tipo de perseguição como uma violência irremediável, já que a Constituição nos assegura o direito de pensar e expressar pensamento."
Uma situação parecida foi vivida pelo cirurgião plástico Michel Patrick, de Cuiabá (MT). Ele teve o seu nome citado em uma lista semelhante em Mato Grosso.
"Isso tem, lógico, uma conotação de segregação e exclusão, com a mensagem: não façam negócio com esse tipo de gente. Situações desse tipo abalam as pessoas, fazendo com que se sintam ameaçadas", diz.
O médico também afirma que nunca manifestou voto em Lula. "Não sou petista, isso se torna impossível pois não sou partidário, não tenho político de estimação e não falo sobre política nos meus canais de comunicação."
Os dois casos ilustram uma situação que se tornou recorrente nas últimas semanas em diversas regiões do país: as inúmeras "listas de petistas" que são compartilhadas em grupos bolsonaristas em forma de repúdio, com incentivo para que as pessoas não frequentem esses lugares ou não contratem esses profissionais.
Entre os alvos desses tipos de listas há estabelecimentos ou profissionais de diferentes áreas. Até mesmo servidores públicos foram mencionados.
A BBC News Brasil ouviu algumas histórias de pessoas que foram citadas em algumas dessas listas. Além do receio de enfrentar prejuízo financeiro, elas também temem que se tornem alvos de diferentes tipos de ataques.
Monika optou por não denunciar a situação às autoridades, ao menos por ora. Já Michel registrou um boletim de ocorrência e avalia as medidas judiciais cabíveis.
Especialistas têm apontado que cada caso tem que ser analisado individualmente, mas frisam que pode se enquadrar como difamação, que prevê pena de um a três anos de detenção. Além disso, é possível pedir indenização por danos morais ou materiais e até tentar descobrir a origem da lista por meio da Justiça.
'Um discurso de ódio pesado que te atinge'
Além dos profissionais liberais ou donos de estabelecimentos que dizem evitar se manifestar sobre política, essas listas também mencionam aqueles que são publicamente a favor do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Para a comerciante Letícia (nome fictício), dona de um restaurante vegano em São Paulo, a manifestação de apoio ao PT e contra o atual presidente Jair Bolsonaro sempre fez parte da rotina de seu estabelecimento. "Talvez eu tenha sido ingênua em não imaginar o que isso poderia causar."
Ela diz que já havia ouvido críticas pontuais sobre o seu posicionamento político, mas nunca acreditou que viveria algo semelhante ao que enfrentou dias atrás quando uma página bolsonarista mencionou o restaurante dela em uma lista de estabelecimentos petistas numa rede social.
"Pegaram as nossas fotos, com as bandeiras do Lula e do Haddad (candidato petista ao governo de São Paulo, que foi derrotado) e postaram com a mensagem: essa empresa chama a gente de genocida e de nazistas. Incitaram os ataques", diz Letícia.
A partir de então, o estabelecimento dela começou a receber inúmeras ofensas na rede. "Eu diria que vai dando uma noção do perigo que a gente corre e que geral está correndo. É uma coisa muito descontrolada, um discurso de ódio pesado que te atinge. Eles sabem falar as coisas que vão lá no fundo e assusta", diz a comerciante.
"Eu me senti invadida e acuada. É uma invasão de privacidade, um desrespeito enorme ao pensamento de cada um e à democracia", diz ela.
"Mesmo que seja só um assédio virtual, compartilharam também o nosso endereço e nossos rostos, então deu medo de haver algum assédio físico na hora também. É a proliferação de uma cultura antidemocrática e violenta", acrescenta o sócio dela.
Em meio às ofensas, eles compartilharam a situação no perfil do estabelecimento no Instagram e também passaram a receber diversas mensagens de carinho.
"Quando comecei a ver o apoio das pessoas, me senti um pouco mais tranquila. Mas antes disso mexeu bastante comigo e me deu até tremedeira", conta.
Os dois registraram um boletim de ocorrência sobre o caso. E apesar de tudo o que enfrentaram, não se arrependem de manifestar publicamente apoio a Lula. "Espero que isso caia no esquecimento e que a gente possa trabalhar e ter a nossa vida. Não vou deixar de postar e apoiar a democracia", declara Letícia.
A mesma página que expôs o restaurante de Letícia também mencionou a cafeteria de Fernanda (nome fictício), em Goiânia (GO), na lista de "locais petistas".
"Na nossa porta de entrada tem uma mensagem 'Lula livre', mas ainda assim recebemos mensagens de pessoas falando que não sabiam que a gente era de esquerda", comenta Fernanda, ao explicar que nunca escondeu que era contra a gestão de Jair Bolsonaro.
"Pessoalmente, nunca passamos por nenhum constrangimento ou recebemos algum tipo de ataque, mas pelas redes sociais foi muito pesado nesse ano."
A enxurrada de comentários negativos começou pouco após a página bolsonarista divulgar a cafeteria. "Fiquei muito mal com isso e chorei. Também fizeram xingamentos no meu perfil pessoal e até ofenderam a minha família. Diziam que queriam que a gente morresse ou falisse", diz.
"Eu me senti muito triste e oprimida, a gente se esforça muito para fazer um trabalho legal, estou pagando empréstimo que fiz porque fiquei endividada na pandemia", acrescenta.
Além disso, conta a comerciante, as pessoas foram a uma plataforma de avaliações e deram notas ruins para o estabelecimento.
"Derrubaram a nossa avaliação e fizeram comentários falsos. Isso prejudicou bastante, porque é uma avaliação muito importante", comenta.
"Eu acho 'de boa' ter uma lista dessas e o meu posicionamento nunca foi segredo. O problema é atacar, ir atrás e fazer comentários de ódio sobre um lugar só por causa da visão política."
Ela optou por não registrar boletim de ocorrência. "Sinto que a velocidade dos comentários negativos diminuiu, então acredito que essa onda está passando."
"E ao menos recebi muito acolhimento e apoio depois disso. Não me arrependo do meu posicionamento, não vou deixar de ser quem eu sou por causa dessa violência", declara.
Letícia e Fernanda afirmam que por sempre terem defendido abertamente a eleição de Lula, não acreditam que perderão clientes após serem expostas nas páginas.
'Pessoas mais preconceituosas deixaram de frequentar o salão'
Um dos principais receios desses profissionais mencionados nessas listas é sofrer prejuízo financeiro.
O cirurgião plástico Michel Patrick diz que a situação afastou algumas pessoas que planejavam procurá-lo. "Perdi algumas (pacientes), gente falando que ia fazer comigo no futuro, mas que agora não faria mais", afirma.
Mas ele acredita que também deve ganhar outros clientes, após compartilhar uma nota para lamentar a situação e afirmar que não apoiou nenhum candidato nas eleições.
No salão de Monika, o impacto da lista já começou a ser notado na agenda de atendimentos. "Percebi que as pessoas mais preconceituosas deixaram de frequentar o salão. Algumas eram muito frequentes e assíduas. Isso impacta de modo geral, mas não em números de visitantes do salão", diz.
Apesar disso, ela afirma que também recebeu manifestações de apoio após ser mencionada na lista.
Em seu perfil no Instagram, Monika compartilhou um vídeo sobre o tema e disse que ficou sem dormir por conta da situação.
"Fui acusada injustamente de comunista, injuriada, difamada, boicotada, hostilizada", diz em trecho do vídeo sobre clientes que deixaram de procurá-la após a lista.
"Eu e várias empresas da cidade fomos listadas e houve incitação a um boicote, a uma retaliação", diz Monika em outro trecho do vídeo.
"Isso se torna um temor, hoje tenho medo pela minha integridade física e emocional da minha família. Não acho que seja mero boicote", conta a cabeleireira à BBC News Brasil.
Segundo ela, alguns bolsonaristas da região chegaram a compartilhar mensagens para que os donos de estabelecimentos que votaram em Lula colocassem uma estrela vermelha em seus comércios. "Isso repete o comportamento da Alemanha nazista contra judeus", diz Monika.
"Nada mais é do que a repetição da conduta nazifascista da Segunda Guerra Mundial. Os nazistas faziam isso para perseguir e quebrar os judeus", acrescenta.
Ela e as outras comerciantes citadas nessa lista criaram um grupo para debater o que poderiam fazer em relação ao caso.
"Não por acaso, a maioria dessas empresas (citadas na lista) é comandada por mulheres", diz Monika. Segundo a cabeleireira, elas ainda não sabem se irão tomar alguma medida judicial.
Lista com servidores públicos
Não são apenas estabelecimentos ou profissionais liberais que são mencionados nessas listas que circulam pelo país. Há também situações em que servidores públicos foram citados, como é o caso da professora Roberta*, que mora em uma cidade pequena no interior do Paraná.
"Na quinta-feira passada, recebi uma mensagem de WhatsApp de que eu estava na lista de pessoas que votaram no PT contra o atual governo. Nessa lista, diziam para as pessoas buscarem a gente se houvesse qualquer problema no município, porque nós que votamos no PT iríamos resolver Estavam rotulando mesmo, como na Alemanha nazista", conta.
"Me senti como uma criminosa tendo o meu nome na lista. Sou uma cidadã de bem, trabalho e sou muito rigorosa. Cumpro todos os meus deveres e pago as minhas contas", acrescenta ela, que é diretora de uma escola pública no município.
Na lista constavam cerca de 40 nomes, incluindo, além de alguns servidores públicos, donos de bares ou restaurantes na cidade, pedreiros e taxistas.
Por ser uma cidade pequena, ela diz que ficou com medo de sair de casa por alguns dias, por temer que fosse encarada de modo diferente pelas pessoas.
"Gostaria que as pessoas entendessem que essa lista é grave, simplesmente estão colocando rótulo na pessoa porque votou para outro candidato. É muito grave, porque estamos em uma democracia", declara.
Ela diz que já retomou a rotina e não sentiu nenhum tipo de mudança na forma como é tratada no município. "Estamos em período de matrícula e fiquei com medo de alguém não se matricular na escola por causa disso ou que eu recebesse alguns olhares. Mas, graças a Deus, isso não aconteceu", comenta.
A professora registrou um boletim de ocorrência e avalia, junto com uma advogada, a possibilidade de entrar na Justiça contra os responsáveis pela lista.
As consequências na Justiça
Em meio à propagação dessas listas pelo país, os responsáveis por elas ou por divulgá-las podem ser punidos pela Justiça.
No caso do cirurgião plástico Michel Patrick, ele aguarda a apuração do caso após registrar boletim de ocorrência.
"Estamos aguardando as investigações para descobrir o ID da rede que divulgou essa lista. E posteriormente será distribuída ação de danos morais e materiais em desfavor dessa pessoa que divulgou notícias falsas", diz a advogada Nadeska Calmon, que acompanha o médico.
Especialista em Direito Digital e coordenador do curso de Direito da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), o advogado Marcelo Crespo explica que essas listas podem gerar, além do temor de prejuízo financeiro, o medo de violência física ou moral.
"Essas condutas estão inseridas num contexto de violência política em razão da polarização e desses posicionamentos extremos."
Ele frisa que cada caso deve ser analisado individualmente para avaliar a forma como a lista foi divulgada e a repercussão dela. "Mas, em tese, pode configurar difamação, cuja pena normalmente é convertida em prestação de serviços à comunidade. Essa pena pode ser aumentada em até um terço, se for cometida em grupo de WhatsApp ou em redes sociais, porque isso facilita a divulgação da difamação."
"A (caracterização da) difamação quer proteger a honra dessa pessoa, a imagem projetada dessa pessoa na sociedade. No momento de manifestação de ódio político, a divulgação não autorizada de quem votou em um candidato pode afetar a sua honra, inclusive no contexto da sua atividade econômica", acrescenta.
"Não importa se fulano realmente votou no Lula, falar a verdade nesse cenário também pode ser crime contra a honra", declara o especialista. "Além disso, nesses casos também pode haver ação por reparação de danos morais e/ou materiais", completa.
Ele comenta que é possível exigir na Justiça que as redes sociais ou aplicativos de mensagem informem a origem dessas listas.
"A rede social ou o aplicativo de mensagem é o veículo de transmissão da mensagem. Em regra, não responde por nada. Ela só responde se houver determinação judicial para que apague um post e caso essa rede deixe de tomar essa providência."
"Se a publicação acontece nas redes, há um procedimento padrão que a gente chama de investigação com quebra de sigilo telemático, por meio do qual é possível saber quem fez aquela publicação na plataforma. E, eventualmente, é possível descobrir o IP, o e-mail e dados cadastrais da pessoa."
Em nota à BBC News Brasil, o WhatsApp informa que não tem acesso ao conteúdo das mensagens trocadas entre usuários nem realiza moderação de conteúdo "por utilizar criptografia de ponta a ponta como padrão".
No entanto, a plataforma ressalta que "encoraja que as pessoas reportem condutas inapropriadas diretamente nas conversas, por meio da opção 'denunciar' disponível no menu do aplicativo (menu > mais > denunciar) ou simplesmente pressionando uma mensagem por mais tempo e acessando menu > denunciar."
"Os usuários também podem enviar denúncias para o email support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações possível e até anexando uma captura de tela."
A plataforma de mensagens argumenta na nota que informa em seus termos de serviço e na política de privacidade do aplicativo que "não permite o uso do seu serviço de forma difamatória, ameaçadora, intimidadora ou ofensiva".
"Nos casos de violação destes termos, o WhatsApp toma medidas em relação às contas como desativá-las ou suspendê-las. Para cooperar com investigações criminais, o aplicativo pode também fornecer dados disponíveis em resposta às solicitações de autoridades públicas e em conformidade com a legislação aplicável", frisa o comunicado do WhatsApp à reportagem.
O Instagram, rede em que havia uma página que divulgava e incitava ataques a estabelecimentos "petistas", diz em nota que suas políticas têm o objetivo de evitar possíveis danos offline. Em suas normas, a plataforma afirma que remove linguagem que incite ou facilite a violência.
"Também encorajamos as pessoas a denunciarem esse tipo de comportamento e/ou qualquer conteúdo que acreditem violar as nossas Diretrizes da Comunidade do Instagram. Lembrando que todo conteúdo pode ser denunciado na plataforma. Nossa equipe analisa as denúncias 24 horas por dia, 7 dias por semana, em mais de 50 idiomas, e removeremos tudo que viole as nossas políticas. As denúncias são sempre anônimas", diz nota do Instagram à BBC News Brasil.
O perfil que divulgava estabelecimentos que classificava como petistas foi excluído. O Instagram não confirmou à reportagem se ele foi deletado em razão das diversas denúncias que recebeu ou se o próprio dono do perfil decidiu excluí-lo.
A BBC News Brasil também procurou o Twitter, onde também foi encontrado um perfil que divulga comércios com donos que manifestaram voto em Lula. No entanto, a rede social não respondeu até a conclusão desta reportagem.
Benett
@Benett_
Anedonia - newsletter de tiras do @pluraljorbr para apoiadores do jornal, mas que publico aqui para todo mundo durante essa semana. Minha pequena contribuição para esses dias turbulentos.
O povo deixou clara sua vontade nas urnas e aguarda com ansiedade pelo restabelecimento da ordem democrática
por Paulo Moreira Leite
A mensagem da transição política entre os governos Lula e Bolsonaro não pode ser escondida.
Lula venceu a eleição -- nos dois turnos -- e será empossado com apoio consistente da maioria dos brasileiros e brasileiras, ampla o suficiente para dissuadir setores que hesitavam entre o respeito à democracia e uma adesão ao golpismo.
Na reta final da campanha, a clareza da vantagem de Lula, em particular no primeiro turno, produziu o recuo de Bolsonaro -- após um misterioso sumiço de horas -- e de seus ministros e aliados, que tiveram o bom senso de se afastar do ex-presidente e tentar entender-se com a nova ordem.
Três dias depois da proclamação do resultado das urnas, no entanto, está claro que, na noite da clandestinidade, bolsonaristas e seus aliados construíram uma máquina de violência e destruição, ainda ativa até agora. Apenas no dia de ontem, havia 129 bloqueios e interdições em rodovias federais. Conforme o Estado de S. Paulo, "no auge do movimento o número chegou a 420" bloqueios, uma barbaridade mesmo quando se recorda a expressiva malha de estradas do país. Ontem, em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais e Distrito Federal ocorreram manifestações com milhares de participantes, que pediam "intervenção militar" e anulação da eleição que deu vitória a Lula. No Ibirapuera, bairro de São Paulo onde funciona o Comando Militar do Sudeste, os bolsonaristas estabeleceram um acampamento de dias, e passam o dia a proferir ameaças selvagens à democracia. Longe de constituir um movimento espontâneo, está claro que se trata de uma articulação combinada e preparada com antecedência. Os piquetes na porta de quartéis e outras instalações militares foram anunciados por vídeos que circulam há dias pelas redes sociais, com orientação e instruções que não deixam dúvida quanto a seus métodos e objetivos.
Embora Jair Bolsonaro tenha feito um apelo público para que todos levantem acampamento para voltar para casa, a baderna permanece por horas -- o que indica uma situação de perda de controle, tão ou mais grave pelo risco que representa para a população. Trata-se de uma situação insustentável. O povo deixou clara sua vontade nas urnas e aguarda com ansiedade pelo restabelecimento da ordem democrática, indispensável para a formação de um novo governo. É disso que se trata, com a urgência que a democracia exige.
Alguma dúvida?
Quanto esse picareta deve de impostos e empréstimos apadrinhados nos bancos oficiais? Quantos reais repassou para a campanha de Bolsonaro? Tem olhos de psicopata
Sérgio A J Barretto
@SergioAJBarrett
Após virar motorista de um golpista e de fazer declarações abjetas e racistas contra Lewis Hamilton, agora Nélson Piquet sugere que o Lula deveria morrer? Não está na hora de se começar a prender essas pessoas?
Outro louco
Revista Fórum
@revistaforum
VÍDEO: Cássia Kis reza ajoelhada no asfalto, sob chuva, com bolsonaristas em ato golpista Imagens da atriz da Globo cercada por seguidores de Jair Bolsonaro, com um terço na mão e na porta do Comando Militar do Leste, no Rio, viralizaram nas redes