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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

18
Abr19

Morre segunda vítima por fuzilamento de militares do Exército no Rio de Janeiro

Talis Andrade

Catador de materiais recicláveis, Luciano Macedo foi baleado ao tentar ajudar a família do músico Evaldo Rosa, que morreu após seu carro ser fuzilado com 80 tiros por soldados do Exército. Advogado que defende militares receberá honraria do governo Bolsonaro

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Baleado ao tentar ajudar a família que estava no carro que foi fuzilado por mais de 80 tiros por militares do Exército em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, no último dia 7, o catador de materiais recicláveis, Luciano Macedo, morreu nesta quinta-feira (18).

 

A informação é do portal G1, citando familiares de Luciano, que estava internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na mesma região.

 

O catador foi baleado em Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro, ao prestar socorro à família do músico Evaldo Santos Rosa, que morreu ao ter o carro alvejado com oitenta tiros por militares do Exército.

Na quarta-feira (17), a Justiça ordenou que Luciano fosse transferido para o Hospital Moacyr Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A Secretaria Estadual de Saúde, no entanto, informou que a transferência não seria possível devido ao estado gravíssimo de saúde de Luciano.

 

Honraria

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Fazendo a defesa dos militares, o advogado – e militar da reserva – Paulo Henrique Pinto de Mello consta da lista publicada no DOU (Diário Oficial da União) nesta terça-feira (16) entre 300 pessoas que receberão a Medalha da Vitória, em alusão ao papel do Brasil na Segunda Guerra Mundial e em missões de paz.

 

A honraria, que será concedida pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), é normalmente concedida a ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial ou de missões de paz, além de civis que tenham prestado serviços relevantes na avaliação do Ministério da Defesa.

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16
Abr19

’80 tiros em nós’: ato em SP cobra justiça por Evaldo Rosa dos Santos

Talis Andrade

‘Quais vidas importam num lugar onde a morte negra é algo comum?’, indaga manifestante sobre os 80 tiros disparados contra família no Rio

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Intervenção artística feita pelo militante Alex Miranda | Foto: Rosa Caldeira/Ponte

 

por Paloma Vasconcelos

Ponte

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Manifestantes se concentraram em frente ao vão livre do Masp, neste domingo (14/4), com o mesmo objetivo: repudiar a ação do Exército que executou o músico Evaldo Rosa dos Santos, 51 anos, há exatos 7 dias em Guadalupe (RJ), em ato intitulado “80 tiros em nós”. Foram 80 tiros alvejados contra o carro de Evaldo e sua família, que estava a caminho de um chá de bebê no domingo passado. Os 10 militares envolvidos na ação foram presos, apenas um foi liberado depois da audiência de custódia.

O governo federal demorou para se pronunciar sobre o fuzilamento do músico. Sérgio Moro, ministro da Justiça, classificou o episódio como um “incidente lamentável”. Para o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), a operação que tirou a vida de Evaldo foi um “erro grosseiro”. O último a se posicionar foi o presidente Jair Bolsonaro (PSL) que, depois de seis dias de silêncio, alegou que “o Exército não matou ninguém” e que a instituição não poderia ser acusada de ser “assassina”.

“Se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo. Por menos que contem a história, não te esqueço meu povo”. O poema ‘Insônias’, de José Carlos Limeira, foi recitado em coro pelas mais de 300 vozes durante a caminhada. O ato que começou às 14 h, caminhou até a sede da Presidência da República em São Paulo, na altura do metrô Consolação, às 16 h e foi encerrado por volta das 17 h. Em sua maioria de pessoas negras, os manifestantes trajavam preto, como pedia a organização do evento – que foi organizado por diversos coletivos dos movimentos negros.

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O ato acontece no dia em que se completa 13 meses do assassinato da vereadora Marielle Franco, morta com 4 tiros no bairro de Estácio, zona norte do Rio de Janeiro. Um crime para o qual o Estado ainda não conseguiu dar uma solução definitiva. A Polícia Civil e o Ministério Público prenderam dois suspeitos de matarem Marielle, o PM da reserva Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, conhecidos por atuarem como assassinos de aluguel, mas não foram capazes até agora de apontar os possíveis mandantes do crime. Franco foi lembrada durante todo o trajeto aos gritos de “Marielle vive e viverá, mulheres pretas não param de lutar”, sempre seguido de “povo preto unido, é povo preto forte”.

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Manifestante segura cartaz com a frase: ‘O tom da minha pele não é desculpa para me matar’ | Foto: Rosa Caldeira/Ponte Jornalismo


Na linha de frente, com a bandeira principal, estava Douglas Belchior, professor e integrante da Uneafro. Em entrevista à Ponte, Douglas enfatiza que é preciso cobrar responsabilidade do Estado em mortes como a de Evaldo. “O governo é responsável pelas mortes das suas policias e do Exército. Isso é a síntese e tem que ser repetido. As pessoas não morrem aleatoriamente, no Brasil inclusive há uma predileção específica para a população negra que morre nas ações cotidianas da polícia, quando o Exército ultrapassa a barreira do que é aceitável agindo nas ruas, o que já é por natureza inconstitucional é para cumprir outra tarefa. A vítima desse Exército é a mesma que a da polícia”, argumenta Belchior.

80tiros_ponte- protesto.jpg‘O governo é responsável pelas mortes das suas policias e do Exército’, defende Douglas Belchior | Foto: Rosa Caldeira/Ponte Jornalismo


O professor destaca que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) acentua a situação. “A partir do governo Bolsonaro isso se aprofunda ainda mais por que você tem o reforço da narrativa violenta e racista explícita de um presidente que diz que a polícia tem que matar e quando ocorre um absurdo como esse não se pronuncia e quando se pronuncia diminui a importância da ação”, argumenta Douglas.

Para a educadora popular Maria Aguiar, 49 anos, o fuzilamento com mais de 80 tiros representa cansaço de ir às ruas pedir justiça por outro corpo negro tombado. “Nós não aguentamos mais ir para a rua para falar da morte dos nossos iguais. Mas, ao mesmo tempo, é importante a gente estar aqui para dizer que estamos vivos e estamos presentes, que a gente rechaça tudo o que está acontecendo no país. Isso aconteceu com o Evaldo, isso aconteceu com Marielle, isso aconteceu com Mestre Moa e por aí vai. Estamos aqui para dizer que vidas negras importam, vamos continuar gritando e defendendo nosso direito. Eu, enquanto mulher negra, tenho esse papel e essa missão com outros e outras”, destaca Maria.

 

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‘Nós não aguentamos mais ir para a rua para falar da morte dos nossos iguais’, diz Maria Aguiar | Foto: Rosa Caldeira/Ponte Jornalismo


Para o cientista social Wellington Aparecido Santos Lopes, 22 anos, o fuzilamento do músico carioca mostra que o corpo negro está em território inimigo. “O que aconteceu no Rio de Janeiro, com a morte desse músico, assassinado pelo Exército, demonstra mais do que nunca a importância que as vidas negras têm nesse território. A mobilização do movimento negro no sétimo dia de morte do músico é trazer à tona um questionamento importante: quais vidas importam num lugar onde a morte negra é algo comum?”, enfatiza Wellington.

 

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Milton Barbosa, 70 anos, coordenador nacional de honra do Movimento Negro Unificado (MNU), mortes como essa são parte de um projeto genocida que perpetua no Brasil desde a abolição da escravatura. “A extrema-direita está muito forte em todo o mundo, eles tomaram a presidência através da manipulação, colocando um presidente obtuso [Jair Bolsonaro] que por trás tem um militar como o Hamilton Mourão [vice-presidente da república]. Colocam ele lá para falar as bobagens e passar um pano nas ações criminosas desse governo. Os tiros representam o genocídio da população negra, especificamente voltado para a juventude negra. É um projeto genocida que não é de hoje, vem desde os tempos da abolição da escravatura. Eles matam negros das mais variadas formas. Mas nós nos defendemos, apesar de toda ação deles nós a maioria da população”, aponta Milton.

 

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10
Abr19

O cheiro do fascismo em oitenta tiros: estrutura e conjuntura de um assassinato em Guadalupe

Talis Andrade

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…e os lançarão na fornalha de fogo; lá haverá choro e ranger de dentes”
(Mateus 13:50)

 

por Felipe Demier

___

O fato de alguns aspectos e elementos, como o racismo e a violência policial, serem estruturais de determinada formação social e de seu padrão de dominação de classes não significa, absolutamente, que eles não estejam sujeitos a variações conjunturais, podendo ser reduzidos ou intensificados a depender da correlação de forças na sociedade. Desde o fim da escravidão, a Polícia do Rio de Janeiro tem como alvos preferenciais os setores mais pauperizados e periféricos da classe trabalhadora assalariada, os quais, em sua maioria, são negros e habitam as regiões mais precarizadas e favelizadas do estado. Eles sempre foram, e nunca deixaram de ser, as “classes perigosas”, para recorrer a uma terminologia da imprensa carioca da Primeira República.

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Nas Forças Armadas, desde pelo menos o Golpe de 64 e a eliminação de quaisquer laivos de pensamento progressista e popular dentro da caserna, a situação não é muito diferente. O inimigo declarado sempre foi o comunista, o “subversivo” – o que remete, como é sabido, não só à ruptura pela esquerda de Prestes com o tenentismo no final dos anos 1920, como, principalmente, ao levante de 1935 da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e à ideologia bonapartista-semifascista do Estado Novo. Oficiosamente, no entanto, também foi alvo a população negra e pobre, cuja própria cor e pobreza, segundo a lógica dos agentes da repressão, favoreceriam seu ingresso na marginalidade ou ainda sua adesão a chamados revéis advindos dos “subversivos”, adeptos de “ideologias exóticas” ao nosso país – para retomarmos aqui outra expressão reacionária de antanho, utilizada por aqueles que, tomando nosso povo como ordeiro e cordato, não concebiam que ele pudesse se rebelar por si mesmo.

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Há, entretanto, momentos, conjunturas políticas, em que, com a restrição, legal ou não, das liberdades democráticas, essa permanente repressão estatal de classe e de raça, estrutural, não só se intensifica sobre as periferias e favelas, como atinge, nos locais de trabalho e estudo, os setores mais organizados da classe trabalhadora, negros e brancos, favelados ou não, que passam a ser não só espionados, como também ameaçados ou mesmo perseguidos, presos, exilados, torturados e mortos. Usualmente, a intensificação da repressão sobre esses dois espaços (favelas/periferia e local de trabalho/estudo), assim como sobre esses dois setores da classe (organizados e desorganizados – dentro ou fora das favelas/periferias), costuma ser dar conjuntamente, justamente em função das determinações políticas dessas conjunturas “de exceção”. Foi o caso, por exemplo, da ditadura militar, quando se intensificaram sobremaneira a repressão tanto ao movimento sindical e de esquerda, quanto às organizações de moradores de favelas e às formas de manifestação cultural da juventude negra, como o soul music.

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Durante a chamada Nova República, isto é, sob o processo de construção e aperfeiçoamento da nossa democracia blindada, as forças estatais de coerção jamais deixaram de reprimir, de forma cruenta, os setores mais pauperizados da classe trabalhadora, com destaque para juventude negra, masculina e moradora de periferias/favelas. As constantes chacinas praticadas por policiais militares e as incontáveis crianças mortas falam por si só. As execuções praticadas pelos grupos paramilitares de extermínio, protoformas das atuais milícias oriundos dos aparelhos de repressão da ditadura, completam o quadro de sangue da nossa democracia antipopular. Nesses poucos mais de trinta anos de regime democrático-blindado – chamado de forma laudatória de “Estado Democrático de Direito” por alguns juristas ladinos e certos “especialistas em Segurança Pública” – o movimento social organizado e a esquerda socialista, por sua vez, jamais deixaram de ser monitorados e, quando necessário, reprimidos. Muitas vezes, as bombas foram de gás e efeito moral, e os tiros, de bala de borracha, como nas manifestações de rua contra as privatizações nos anos 1990 e nas Jornadas de Junho em 2013 – às vésperas da Copa do Mundo, no ano seguinte, militantes foram presos “preventivamente” para que nada fizessem durante o mundial da FIFA, convém lembrar. Outras vezes, não poucas, os tiros foram pra matar, como ocorreu com os três operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no ano de 1988 (o da nossa Constituição “Cidadã”), com os dezenove sem-terra em Eldorado dos Carajás, em 1996, e com outras incontáveis lideranças populares do campo onde, para citarmos Guimarães Rosa, o “sertão está em toda parte”, e onde “viver é um negócio muito perigoso”.

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Do Golpe de 2016 para cá, em especial a partir da eleição de Jair Bolsonaro, parece que estamos adentrando justamente uma conjuntura em que alguns aspectos e elementos estruturais da nossa formação social, como a violência estatal racista e antipopular, estão se intensificando. Mais uma vez, as repressões destinadas aos setores organizados e desorganizados da classe trabalhadora parecem caminhar juntas. Assim, se em uma interpretação historiográfica e sociológica de longa duração, na qual os fatores estruturais adquirem preponderância analítica, os 80 tiros de fuzil disparados no último domingo pelo Exército brasileiro, que assassinaram o trabalhador negro Evaldo e feriram sua “perigosa” família (negra), não podem ser considerados como um ponto fora da curva, ou seja, como tiros fora do alvo no padrão da dominação de classes no Brasil moderno, do ponto de vista da análise conjuntural, cujo tempo é o das lutas de classe e da ação política, pensamos que tal ocorrido evidencia a viragem conservadora e mesmo reacionária que estamos vivenciando recentemente no país.

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Desse modo, o assassinato em Guadalupe, não obstante todas as suas particularidades atrozes, não pode ser, à escala conjuntural, dissociado de fatos como a cassação do sufrágio universal de 2014, a ofensiva policialesca do Judiciário contra adversários políticos, as conduções coercitivas praticadas pela Lava Jato, a perseguição às universidades públicas e seus professores, o movimento “Escola sem partido”, as brutais repressões aos atos de rua do “Fora Temer!”, a crescente censura em espaços de ensino e aprendizagem, o assassinato (político) de Marielle e Anderson, a prisão (política) de Lula, a proibição de sua candidatura, a omissão da Justiça Eleitoral em relação às fake news durante o último processo eleitoral, a invasão de seus agentes em universidades, os ataques contra militantes de esquerda e setores oprimidos às vésperas do segundo turno do pleito, o aumento do feminicídio, a vitória de Bolsonaro, suas declarações, suas propostas de contrarreformas, suas viagens aos Estados Unidos e a Israel, sua entourage arquirreacionária e psicótica, seu ministro Moro com seu pacote de licença para matar e, por fim, suas ligações com as milícias e todo o cheiro de fascismo que isso tudo junto produz no ar.

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Talvez, assim, os 80 tiros que tiraram anteontem a vida de Evaldo e traumatizaram para sempre (mais) uma família trabalhadora e negra tenham sido apenas a mais recente e cruel prova de que a nossa democracia blindada, com a intensificação nos últimos anos de seus próprios expedientes coercitivos, esteja dando lugar a uma democracia dos blindados, um regime semibonapartista reacionário e ultraneoliberal que traz consigo, alimenta e tem como base de apoio indisfarçáveis setores fascistas (alguns deles já no governo, com ou sem farda). Não pode ser subestimado, pensamos, o fato de Evaldo ter sido fuzilado pelo Exército, na rua, à luz do dia, em uma carro com sua família, sob um governo federal que há poucos dias comemorou o Golpe de 1964 e a ditadura militar, e sob um governo estadual que diz que sua polícia vai “mirar na cabecinha”, “atirar primeiro e averiguar depois”, e que seus snipers de pobres “já estão operando” na surdina.

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É necessário estarmos atento ao que permanece, mas também ao que muda. Toda vida é importante e cada vida é única, mas as mortes, ou pelo menos as “mortes matadas”, por assim dizer, são frutos de determinado período histórico. Se limitar a afirmar que “a morte de Marielle é apenas mais uma morte de uma mulher negra” e que “a morte de Evaldo é apenas mais uma morte de um homem negro pelo Estado”, não obstante toda a veracidade estrutural das sentenças, contribui para obnubilar uma análise de conjuntura mais precisa, fundamental para a ação política dos explorados e oprimidos no tempo presente.

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Embora a nossa noite histórica seja fria, longa e violenta, não podemos tomá-la como a hegeliana noite na qual “todos os gatos são pardos”, sob risco de não percebemos que alguns desses gatos, justamente os mais brancos e ricos, estão mais fortes nos últimos anos, suas unhas estão mais afiadas e que, se não forem parados por nós o mais rápido possível, muitas outras Cláudias serão arrastadas nas periferias, muitos outros Amarildos serão mortos nas favelas, muitos outros Evaldos serão fuzilados em Guadalupe, muitas outras Marielles serão executadas na esquerda e aqueles que, na sua militância sindical ou universitária, hoje sofrem apenas alguns arranhões terão que ter sorte para evitarem perigosas gangrenas. Se isto acontecer, e não duvidemos de que quem está no governo assim o deseja, não estaremos mais apenas sentindo o cheiro do fascismo, e sim diante do próprio fascismo, em carne e osso, e com muitos ossos e carne negra para enterrar.

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10
Abr19

Silêncio sobre Evaldo é apoio aos 80 tiros do Exército que o executaram

Talis Andrade

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Evaldo Rosa

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Por Aquiles Lins
 
A execução brutal do músico negro Evaldo Rosa dos Santos por militares do Exército no Rio de Janeiro não recebeu nenhuma manifestação até às 9h30 desta terça-feira, 9, mais de 30 horas após o ocorrido, por parte das principais autoridades do governo federal. 
 

No Twitter do presidente Jair Bolsonaro, que apressou-se em comemorar ação da Rota que matou 11 pessoas em São Paulo, e do vice-presidente Hamilton Mourão não havia qualquer menção a este crime hediondo. Mourão, lembremos, antes do verniz do media training, foi didático ao dizer durante a campanha que os militares são "profissionais da violência".

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, até o momento também não se manifestou sobre os 80 disparos de fuzis, feitos de trás para frente, contra o carro em que Evaldo estava com a família, a caminho de um chá de bebê. 80 tiros de fuzis! É mais do que a polícia da Alemanha disparou em um ano inteiro. Em 2017, foram 75 disparos de arma de fogo, com 14 mortes.

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Ao Globo, o governador Wilson Witzel, que defende uso de snipers contra suspeitos e pede para "mirar na cabecinha", esquivou-se dizendo que não lhe "cabe fazer juízo de valor e muito menos tecer qualquer crítica a respeito dos fatos".

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Quando autoridades públicas deste porte não condenam um assassinato brutal como este, significa dizer que concordam com ele. O ministro Moro inclusive apresentou um projeto de lei que isenta policiais de punição em circunstâncias semelhantes. Bolsonaro então, nem se fala, sua biografia é enlameada por ataques à vida humana.

É óbvio ululante que uma ação de execução sumária desta magnitude, contra um homem negro que levava a família a um chá de bebê, está amparada no discurso de apologia às armas, de defesa do assassinato, de desprezo pela vida.

Aliás, já não há apreço pela vida no estado brasileiro há muito tempo.

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Nota deste Correspondente: O ministro da Segurança Pública foi entrevistado, nesta terça-feira (9), no programa Conversa com Bial, quando considerou o óbvio: que foi  um 'incidente' a morte do músico Evaldo Rosa.

"Incidente" tem como sinônimos as palavras: acontecimentocasoeventoocorrênciacircunstânciadificuldadeepisódioimprevistoinconvenienteinesperadoperipécia.

Moro falou para defender os assassinos e o seu pacote anticrime, para afirmar que o "incidente" não tem qualquer relação com o que se coloca no chamado projeto, ou seja, o crime não decorreu de "escusável medo, surpresa ou violenta emoção".

Decorreu de quê? 

"Pelo que eu entendi no episódio, e mais uma vez destacando que ele está em apuração pelo Exército, aparentemente não teria havido sequer uma situação de legítima defesa", afirmou o ministro.

Medo, realmente não existiu. Existiu sim: malvadeza, corvadia, abuso de autoridade: Dez militares, fortemente armados, em patrulha, contra um músico negro desarmado, acompanhado de familiares, inclusive uma criança.

Supresa? Também não. Os dez soldados estavam de tocaia, na espera de um "carro branco" roubado, possivelmente um veículo de propriedade de algum militar.  

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Muito menos existiu violenta emoção, ato injusto da vítima.

Falta coragem no Moro para afirmar que o "incidente" foi mais uma chacina no Rio de Janeiro, zona de guerra.  

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10
Abr19

Carne e voz da barbárie; prova viva da existência do esgoto ético e moral

Talis Andrade

O Witzel pelo menos é coerente

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por Jeferson Miola

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Ele é fiel ao lado que escolhe.

Isso é notório, sobretudo nos seus silêncios ensurdecedores.

Não podemos esquecer, jamais, que numa atividade da campanha eleitoral a governador ele quebrou placa de rua com o nome de Marielle.

Fez isso numa celebração bárbara e macabra, em praça pública.

Na companhia de 2 milicianos da extrema-direita que foram eleitos.

Agora, como governador, nesta segunda-feira, 8 de abril, Witzel outra vez confirmou seu caráter.

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É espantosa a frieza fascista do Witzel diante da tragédia criada pelo ato terrorista de uma tropa do Exército que fuzilou com mais de 80 tiros de fuzil uma família de 4 adultos e 1 criança.

O saldo mínimo desse atentado assassino, por enquanto, é a orfandade de 1 criança, e a dor lancinante que acompanha quem fica por nada menos que todo o resto de tempo de vida.

Mas Witzel, um ex-juiz, hipocritamente diz: "não me cabe fazer juízo de valor".

Witzel é carne e voz da barbárie; é a prova viva da existência do esgoto ético e moral.

Witzel se esquiva de reprovar uma monstruosidade.

Por isso ele é coerente.

Um monstro jamais conseguirá reprovar sua monstruosidade.

Witzel não esconde a ambição de suceder Bolsonaro.

Isso diz muito. Ele sabe que consegue ser mais eficaz na execução de barbaridades que o Bolsonaro.

Um monstro.

Isso diz porque Witzel é um psicopata, um canalha asqueroso.

No fundo, Witzel é tão ou mais nefasto que Bolsonaro.

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09
Abr19

Moro, Bolsonaro e Witzel terão de carregar esta morte anunciada

Talis Andrade

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por Fernando Brito

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Dez militares envolvidos na fuzilaria que matou o músico Evaldo Rosa, de 51 anos, ontem, em Guadalupe, estão presos.

Devem responder pelo pavoroso homicídio de Evaldo, pelas tentativas de homicídio dos outros dois homens feridos, hospitalizados em estado grave, e das duas mulheres e da criança pequena, que milagrosamente escaparam da saraivada de mais de 80 balas disparadas contra o carro.

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Mas este crime, infelizmente, tem outros culpados, autores intelectuais de uma – e de várias outras, pode apostar – chacina oficializada.

Quem insuflou aqueles rapazes, desqualificados e despreparados, a atirar primeiro e perguntar depois?

Quem lhes deu a ideia de que poderiam impunemente atirar em seres humanos sem terem sido atacados, simplesmente porque achavam que eram bandidos?

Quem lhes deu voz de comando para atirar não para imobilizar um veículo, mas para matar pessoas sobre as quais não tinham provas, mas convicção de que eram criminosos?

Não é difícil entender que todos se sentiram estimulados para agir assim por um presidente que faz apologia da morte, por um Ministro da Justiça que considera o “medo”, a surpresa ou a violenta emoção para caracterizar a legítima defesa sem que tenha havido, sequer, a ameaça de uma “injustificada ameaça”.

E por um governador que manda “apontar na cabecinha” e atirar.

Também têm culpa os oficiais que lançaram estes rapazes fardados na rua sem limites ao potencial ofensivo de suas armas de guerra. Pior, sem nenhuma reação imediata e, só no dia seguinte, diante da repercussão pública, ordenar a prisão em flagrante de sua patrulha, assumindo o que sabiam ser falso, que se tratou de um “ataque de bandidos”.

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“Colaria”, se por acaso o morto tivesse uma passagem pela polícia, o que nada teria a ver com o fato.

E os generais comandantes, também não são menos culpados, porque negligenciaram os riscos de armar incapazes e irresponsáveis, que arruinaram anos de construção de uma imagem de respeito às Forças Armadas.

Tornaram-se, assim, cúmplices de um processo de desmoralização dos militares brasileiros interna e externamente.

O Exército Brasileiro não merece, nem por aqueles que atiraram, nem pelos que os insuflaram, nem pelos que os acobertaram, ter a imagem de um bando armado de assassinos.

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