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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

18
Jan22

'Michelle Bolsonaro é a mãe de todos os brasileiros', Marcelo Queiroga

Talis Andrade

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por Ana Mendonça /Estado de Minas

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a primeira-dama Michelle Bolsonaro é “simbolicamente” a mãe de todos os brasileiros.

No momento da comparação, Queiroga citava um dos maiores desafios que ele teve quando assumiu a pasta: a morte de uma mulher grávida em função de um efeito adverso de uma vacina.

“Embora as vacinas sejam extraordinárias, eventos adversos, eles podem acontecer. E era na véspera do Dia das Mães. E eu comuniquei – a primeira pessoa, a nossa primeira-dama. Dona Michelle Bolsonaro. Que como a primeira-dama, e também mãe, é simbolicamente a mãe de todos os brasileiros”, afirmou.

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29
Dez21

“Deixo de comer para dar aos meus filhos”

Talis Andrade

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Mães que sustentam sozinhas suas famílias foram atingidas em cheio pela perda de emprego e renda; mulheres são sempre as últimas a comer

 

por José Cícero e Mariama Correia /Agência Pública

 

Era por volta das 11 horas quando Letícia dos Santos, 32 anos, moradora da ocupação Nova Esperança, no Jardim São Luís, Zona Sul de São Paulo, começou a preparar o café da manhã para os quatro filhos que cria sozinha. Enquanto a panela com óleo aquecia, ela misturou farinha de trigo, água e açúcar. O cheiro de fritura que se alastrou pelo barraco lembrava um bolinho de chuva, mas faltavam ingredientes: “não tenho ovo, fermento, leite e canela”.

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Letícia com seus filhos pequenos e outros parentes que moram em outros barracos na mesma ocupação

 

Naquele dia, as refeições da família vieram de doações. Desde que perdeu o emprego como cuidadora de idosos, em plena pandemia, Letícia depende dos donativos para alimentar os filhos. Ela também faz bicos com biscuit, doces e trabalhando em eventos para conseguir alguma renda. 

No ano passado, quando Letícia ficou desempregada, mais de 96% dos postos de trabalho fechados eram ocupados por mulheres, muitas delas mães solteiras. Segundo o IBGE, 11,5 milhões de mães cuidam dos filhos sozinha no Brasil. A insegurança alimentar é mais grave nesses lares, justamente porque as mulheres foram as mais prejudicadas pela falta de emprego e perda de renda na pandemia, como mostrou o inquérito nacional sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil. 

Em 2020, segundo o Inquérito, a fome atinge mais as famílias sustentadas por alguém do sexo feminino, ou de raça/cor da pele autodeclarada preta/parda ou com menor escolaridade. No ano passado, 43,4 milhões de brasileiros – 20,5% da população – não tiveram acesso a alimentos em quantidades suficientes. Os percentuais de insegurança alimentar são mais altos em domicílios sustentados por uma única pessoa (66,3%), sobretudo se a responsável for mulher (73,8%). Ainda de acordo com o levantamento, mais da metade da população brasileira (55,2%) conviveu com algum grau de insegurança alimentar em 2020. Ou seja, 116,8 milhões de pessoas não tinham acesso absoluto e permanente a alimentos.

 

Nutrição das mães em segundo plano 

Letícia ainda amamenta o filho caçula, um bebê de três meses. Como tem anemia profunda, deveria tomar um suplemento de ferro e ter uma alimentação balanceada, mas a nutrição dela fica sempre em segundo plano. “Por causa da minha alimentação ruim, o leite do peito fica fraco”, diz.  A ajuda que a família recebe do governo encolheu de R$ 375 para R$ 217 por mês, com o fim do auxílio emergencial. O dinheiro serve basicamente para comprar as fraldas e o complemento alimentar do bebê, que custa R$ 52 por lata. 

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“Por causa da minha alimentação ruim, o leite do peito fica fraco”, diz Letícia

 

A maioria das 260 famílias que moram na ocupação Nova Esperança são chefiadas por mães solo. Lá, recebem cestas básicas que “garantem ao menos o arroz e o feijão”, diz Letícia. Também não pagam aluguel, que já foi uma fonte de dívidas para ela no passado. “Tive que sair do apartamento apenas com as roupas. Não deixaram nem trazer os meus móveis porque eu estava devendo”, relembra.

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“Se não fossem as cestas básicas, tinha passado fome”, diz Zenaide Severina, 40 anos, vizinha de Letícia. Com dois filhos para criar sozinha – um adolescente de 17 e uma menina de três anos -, ela foi morar na ocupação depois de ter a casa interditada pela defesa civil em 2020. Não recebeu auxílio moradia. No mesmo ano, foi afastada do emprego por problemas respiratórios, mas ainda espera as perícias para conseguir o auxílio doença. 

Na escola pública, a filha mais nova de Zenaide consegue ter todas as refeições. Quando as crianças estão em casa, muitas vezes a mãe come apenas uma vez por dia. “Não tenho coragem de fazer uma mistura para mim e não dar a eles”, diz. A pequena nem sempre aceita comer feijão com arroz várias vezes ao dia. Então, quando não há nada além disso para oferecer, Zenaide faz uma mamadeira de leite.  “Quando você é só, para quem vai pedir ajuda? Muitas vezes pedi ajuda ao pai da minha filha, mas ele ameaça tirar ela de mim”. 

O pesquisador José Raimundo estuda a fome no município de São Paulo desde os anos 2000. Ele afirma categoricamente que: “uma pessoa que está fazendo uma refeição por dia, está passando fome.

Quando não há alimentos necessários para toda a família, mesmo nos lares chefiados por homens, “as mulheres são as últimas a comer”, diz o pesquisador. “Em um domicílio que está em situação de fome ou risco de fome, as mulheres são as primeiras a sofrer porque elas tendem a priorizar a alimentação dos filhos e em seguida a dos maridos. A chance da mulher estar com fome é maior que a do homem e das crianças”, explica.

Em uma sociedade machista, argumenta Raimundo, “o cuidado com os filhos recai sobre as mulheres, que muitas vezes ficam presas até para arrumar um emprego, porque dependem de alguém para cuidar dos seus filhos”. 

 

Doações escassas, auxílios insuficientes 

“Tudo é mais difícil para uma mulher”, desabafa Ednalva do Nascimento, 43 anos, moradora do Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro. Ela sustenta cinco filhos com bicos de faxinas e lavagem de roupas. O caçula tem nove anos e o mais velho, que está desempregado, 25.  

“Perdi o emprego um pouco antes da pandemia. Quando a covid começou, nem faxina eu conseguia”, conta. A família não passou fome graças às doações de cestas básicas, mas até isso está se tornando mais escasso, com a desaceleração da pandemia, conta Ednalva.  “Muitas vezes deixo de comer para dar aos meus filhos. Verdura, fruta, carne só compro quando dá”, diz. 

Para ela, que só de aluguel paga R$ 500 por mês, a  promessa de aumento do auxílio brasil, criado após a extinção do Bolsa Família, para R$ 400 anima, mas não resolve os problemas. “Ajuda, mas não sei como vai ser até o fim do ano porque as doações estão diminuindo e ainda não tem emprego. Acho que ainda vai demorar muito para melhorar mesmo nossa situação”.

Vazio nos pratos e também nas políticas públicas

O cotidiano de insegurança alimentar repercute na saúde mental das mães solo de várias formas. Diante da incerteza sobre a condição de sustentar a própria família, Zenaide sofreu de depressão. Ela faz acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Zona Sul, mas até o acesso ao serviço de saúde é complicado porque o atendimento fica distante da casa dela. “Se eu tirar esse dinheiro do transporte faz diferença nas contas, então nem sempre vou”. 

Para controlar crises de ansiedade, ela cuida do pequeno quintal onde cultiva plantas medicinais. Conta que não recebeu o auxílio emergencial na pandemia, por estar afastada do trabalho, embora o benefício do INSS ainda não tenha sido liberado. “Também não tenho direito ao auxílio para comprar gás de cozinha porque recebo o auxílio brasil. Como não tenho direito se estou sem emprego e com filho pequeno?”, questiona.

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Zenaide organizou um pequeno jardim no barraco. Para ela, cuidar das plantas ajuda a reduzir a ansiedade

 

“O pobre é esquecido”, lamenta Letícia. Desde que foi morar na ocupação, há um ano, ela tenta, sem sucesso, arrumar vagas para os filhos na escola pública mais próxima. “Parece que quanto mais a gente é humilde, mais difícil é para conseguir as coisas. Criam programas para ajudar os pobres, mas os pobres não são socorridos.” 

A percepção de Letícia se aproxima do Informe Dhana (Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequada) 2021, que analisa os impactos da Covid-19, ações e omissões do poder público diante da crise sanitária, econômica e social. O documento alerta para “cortes orçamentários e o enfraquecimento de programas voltados à promoção de segurança alimentar no Brasil”, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa de construção de Cisternas, de grande relevância para a segurança hídrica no semiárido brasileiro, entre outros. 

É o que também pensa a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. Para ela, os impactos da pandemia poderiam ter sido mais amenos, caso o Governo Federal tivesse adotado medidas que fortalecessem políticas públicas e de proteção social. “Alguns países tiveram um aumento da pobreza, de problemas, mas não passaram enfrentar uma situação de fome. No Brasil, a gente viveu um acirramento gigantesco da fome e da insegurança alimentar nos seus vários níveis, porque todo colchão de proteção social que existia foi desmontando.” 

Tereza lembra que, no primeiro mês do governo Bolsonaro, a Medida Provisória 870 encerrou as atividades do Conselho Nacional de Segurança  Alimentar e Nutricional (Consea). Instituído em 1993, o Consea fazia parte do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como um espaço crucial para garantir a participação da sociedade civil nas discussões sobre acesso a alimentos. 

“Ao desmontar o Consea, ele (Bolsonaro) desmontou o controle social, que é fundamental, porque o Consea era muito ativo, não só fiscalizando e cobrando o Governo Federal pelo bom funcionamento das políticas públicas, como ajudando na construção de uma política social sólida. Quando se extingue o Consea, se desorganiza toda essa agenda da transparência e do controle social”, explica Tereza. “Esse governo não liga para a alimentação saudável e não só, também não liga para a fome”, diz.

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Folha de S.Paulo on Twitter: "ITENS NÃO ESSENCIAIS | Defesa gasta verba da  Covid para comprar filé mignon e picanha, diz TCU. Pasta usa R$ 535 mil do  combate à pandemia com

03
Jun21

Manuela o amor e a solidariedade

Talis Andrade

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Manuela no Twitter

Manuela
Minha solidariedade ao que está sofrendo ataques por ter indicado livros progressistas em uma celebração religiosa nas suas redes sociais. O amor e a solidariedade vão vencer o ódio, e você é um exemplo de que isso é possível 
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Há um ano, o menino Miguel, de 5 anos, foi vítima da negligência de Sarí Corte Real, ex-patroa de sua mãe, Mirtes, e caiu do 9º andar de um residencial em Recife. O caso segue sem conclusão. Exigimos #justiçapormiguel

Em depoimento à CPI, Drª Luana Araujo fala sobre o delírio de quem defende o tratamento precoce.

No Dia da Imprensa, Bolsonaro resolveu novamente atacar jornalistas. Dessa vez, @DanielaLima_ foi o alvo. Minha solidariedade à Daniela e todos jornalistas que tentam fazer seu trabalho em meio a esse caos de desinformação e violência contra a imprensa e seus profissionais.Sob ataque virtual, Daniela Lima vira 'Bonner da CNN Brasil'Um pai da escola de Laura (cuja identidade Conhecemos o que torna tudo ainda mais cruel) tirou uma fotografia de Laura e a entregou para os grupos que distribuem ódio nas redes. A partir disso, todo o submundo da internet passou a usar a imagem dela para nos agredir.Manuela D'Ávila: "Decidi, no próximo ano, combater redes de notícias falsas  e de conteúdos de ódio"

São muitos anos de violência. Como vocês sabem, quando laura ainda era um bebê de colo, foi agredida fisicamente em função de uma mentira distribuída amplamente na internet. De lá pra cá, muitas coisas aconteceram.Livro: Manuela D'Ávila lança "Revolução Laura" em São Luís - Ed Wilson  Araújo
Mas nenhuma jamais havia envolvido sua escola e algum pai de colega. Foi devastador lidar com isso. Ver a imagem sendo usada por toda essa gentalha que vive as nossas custas, diz que é político e só faz o mal, foi uma violência imensaMANUELA D'ÁVILA LANÇA “REVOLUÇÃO LAURA” EM BH : site Gui Torres
Poucos dias depois chegaram as ameaças de estupro para ela (que tem cinco anos!!!) e nova ameaça de morte para mim. A Polícia já acompanha o caso. O que é evidente que não diminui o medo, a tristeza, a culpa por ver as pessoas que mais amo submetidas a essa gente inescrupulosa.Manuela D'Avila lança livro em Teresina e fala sobre fake news -  Cidadeverde.com
São anos vivendo assim. A gente mal toma ar de uma agressão e vem a próxima. Mas quando a gente respira, a gente lembra que tem um mundo pra mudar. Que tem um genocida no governo. Que tem mãe enterrando filho e filho enterrando mãe. Que tem criança trabalhando. Se todos os dias tenho vontade de desistir, todos os dias me lembro das imensas razões que temos para continuar.Manuela d'Ávila: Vencendo a batalha ao lado de Laura – Blog do Renato
 Não conheço Manuela pessoalmente. Ouso usar fotos de Laura. Que sou um jornalista, nascido em 37, que estudou nas principais universidades do mundo, e professor de jornalismo dirigiu vários jornais e foi líder sindical, e começou a profissão ainda adolescente na imprensa estudantil e no jornal de festa do interior. Nada mais lindo, e perfeito e grandioso e santo que o amor de mãe. Rezo no Corpos Christi
Então disse Jesus: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas". -- Mateus 19:14
 
@ManuelaDavila
 A Ministra Cármen Lúcia acaba de autorizar abertura de inquérito para investigar denúncias contra Ricardo Salles. O Ministro do meio ambiente é investigado por advocacia administrativa, obstrução de investigação ambiental e organização criminosa. #ForaSallesImage
Bolsonaro sentiu o poder das ruas e seu pronunciamento cheio de mentiras só mostra que esse Brasil com recorde de vacinados existe só na cabeça dele #ForaBolsonaro
Bolsonaro, que diversas vezes negou a vacina, agora quer se gabar por sermos um dos países que produz o imunizante. O mundo já sabe que o Brasil está nas mãos de alguém que sabotou as medidas de combate à pandemia.
Ontem à noite, em um debate, me perguntaram se eu não sinto vontade de desistir. Sim, eu sinto. Todos os dias. Ao contrário do que muitos pensam, a violência política está cada vez mais intensa. O último mês foi muito agressivo e me impactou muitíssimo.Image
Manuela D'Ávila luta por um 'feminismo amoroso' e vem parar na lista |  PublishNews
19
Abr20

A dimensão da divisão sexual do trabalho em relação ao trabalho não-pago realizado para a reprodução da vida no interior das famílias

Talis Andrade

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II - A vida das mulheres em tempos de pandemia

A PANDEMIA ESCANCAROU A POBREZA FEMININA, TROUXE PARA O DEBATE NACIONAL O FARDO DAS TAREFAS DOMÉSTICAS E A DIFÍCIL CONCILIAÇÃO DAS MULHERES EM IR PARA O MERCADO DE TRABALHO E O CUIDADO COM A FAMÍLIA

 

por Hildete Pereira de Melo

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Na realidade, a crise econômica brasileira tem possibilitado um deslocamento do trabalho formal (com carteira de trabalho) para o informal e, de forma perversa: 82% desses novos postos de trabalho foram ocupados por mulheres negras, grande parte delas no emprego doméstico, sendo 71,2% desses postos de trabalho informais, e as demais são trabalhadoras por conta própria (ambulantes e cuidadoras). Uma das consequências da crise econômica foi o crescimento do empreendedorismo e as mulheres são a maioria das microempreendedoras individuais e, provavelmente, são as “informais” que migraram diante do desemprego para essas novas formas de trabalho. Outro aspecto que devemos chamar atenção é que cerca de 45% dessas mulheres são responsáveis pela família, e a perda de rendimentos afeta seus filhos e dependentes, tornando toda sua família um batalhão de miseráveis.

O retrato traçado acima depara-se, no momento, com um quadro de desatinos e retóricas sobre as propostas de políticas públicas para enfrentar esta crise. Do isolamento social como modo de vencer a pandemia e o aprofundamento da crise econômica pela política do isolamento social, embora todos os países do mundo tenham seguido este caminho, o governo federal segue calmamente com um calendário que ignora o apelo famoso do Betinho: “quem tem fome tem pressa!” Há enorme lentidão em concretizar as medidas draconianas, já anunciadas pelo governo, que permitem a redução de salário e jornada ou até a suspensão de contratos e preveem a complementação de remuneração pelo governo, tendo como base o seguro-desemprego. Essa medida só se refere às mulheres nos casos específicos das empregadas domésticas com carteiras, tendo o mesmo tratamento que os demais trabalhadores, e com relação às trabalhadoras gestantes, elas também têm os contratos reduzidos ou suspensos como os demais trabalhadores, só não podem ser demitidas sem justa causa. Mas, aquelas que estão em licença-maternidade não podem ter alteração nos seus contratos.

Com relação ao trabalho informal, foi finalmente assinada a Lei 13.982 de 02/04/2020 que cria o auxílio emergencial para quem não recebe benefícios previdenciários ou assistenciais, além do seguro desemprego, cuja medida define que as mulheres chefes de família, que preencham essas condições, recebam R$ 1.200 reais nos próximos três meses. Foi uma vitória construída no plenário da Câmara Federal, porque o projeto de lei não tinha considerado essa questão, e permite um mínimo de sobrevivência para milhões de famílias chefiadas por mulheres.

Quanto ao aumento da violência doméstica devido ao confinamento das famílias, fenômeno não só brasileiro, a ministra de Estado da Mulher, Família e dos Direitos HumanosDamares Alves, declarou que o governo está preocupado com essa questão. O Disque 180 do Governo Federal mostrou um crescimento de 9% nas denúncias de casos de violência doméstica, quando comparado com o mesmo período do ano passado. A ministra prometeu que nos próximos dias será possível fazer denúncias tanto ao Disque 180 como ao Disque 100, por meio de um aplicativo para telefone celular com sistemas operacionais Android e IOS. E o depoimento da juíza titular da vara de violência doméstica do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Adriana Mello, mostra a preocupação que deve ter o Estado com relação a essa questão tão espinhosa para todas as mulheres. No estado do Rio de Janeiro, foram registrados 724 pedidos de medidas protetivas de urgência no plantão judiciário, e a ministra teme que as medidas de restrições de circulação possam limitar as denúncias: “É importante reforçar que se ela está sofrendo violência física pode ligar para o 190 e acionar a Polícia Militar… as delegacias da mulher também estão abertas 24 horas …” (Jornal O Globo, Celina, p.16).

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Um dos temas que esta pandemia trouxe à tona, de forma avassaladora, para a sociedade brasileira foi a dimensão da divisão sexual do trabalho em relação ao trabalho não-pago realizado para a reprodução da vida no interior das famílias. As classes médias nacionais contemporizaram com esta situação ao longo de toda a nossa história. E, assim, as trabalhadoras domésticas são ainda um dos maiores contingentes de trabalhadores nacionais, significando 14,6% dos trabalhadores nacionais (IBGE, PNADC, 2018) e, desses milhões de trabalhadores, 92% são mulheres. Elas necessitam de proteção especial do Estado, pois são maioria nos trabalhos informais e, com o isolamento social, perderão fontes de renda, além de mais vulneráveis à violência doméstica.

No entanto, a pandemia expôs de forma contundente a realidade do trabalho doméstico: afazeres e cuidados. Pesquisando esse tema há alguns anos, estimo que cerca de 15 milhões de famílias brasileiras têm trabalhadoras domésticas nas suas diversas facetas, mensalistas ou diaristas. Mas, a quarentena expôs o problema de outra forma. Para as donas de casa dos estratos médios e altos da sociedade que, neste momento, vivem a quarentena da covid-19, tudo ficou de cabeça para baixo. Viver exige muitas tarefas ao longo do dia até a hora de deitar, tais como limpar a casa, cuidar das crianças, cozinhar, lavar prato e roupas, passar ferro. Faz-se o café da manhã, em seguida vem o almoço e depois lanche da tarde e janta. Essas tarefas eram divididas com as trabalhadoras domésticas, mesmo para aquelas com contratos de dois ou três dias. Agora, a pandemia mudou essa rotina. Ou se assume trazê-las com todos os riscos inerentes ao contágio ou a família faz. Porque continuamos comendo, sujando e limpando. E os homens das famílias, maridos, companheiros, filhos que façam!!! E os grupos de WhatsApp mostram bem essa ressignificação da divisão sexual do trabalho e do significado de sua carga para essas mulheres, sem as suas trabalhadoras domésticas. Elas brincam e em tom jocoso expressam esse sentimento: “nunca pensei que fazer essas tarefas fosse tão desgastante, e não param nunca” (professora universitária aposentada, Maceió, AL, 02/04/2020); “você deprimiu porque fez faxina, eu até me redimi, depois que vi minha sala faxinada e a luz do abajur” (advogada, Rio de Janeiro, 03/04/2020).

Será que novos tempos se anunciam e as mulheres exigirão novas atitudes masculinas? Pode-se ter esperança de que a pandemia revele alguma mudança no comportamento masculino em relação a essas atividades, diferentes das únicas que eles admitem fazer como cozinhar, ir ao supermercado, jogar bola com criança, pagar contas na internet e tirar do vocabulário “deles” o verbo “ajudar” para caracterizar que essas atividades no interior das famílias são atribuições de todas as pessoas da família?

Uma grande preocupação internacional e nacional é com as pessoas que trabalham nos serviços essenciais de saúde. Essas são massivamente as enfermeiras, atendentes de enfermagem, fisioterapeutas, assistentes sociais, professoras e também médicas. No Brasil, as mulheres preenchem 63% das vagas de emprego consideradas de grande risco em relação à covid-19, enquanto são 43% da força de trabalho do país (IBGE). Por sua vez, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva afirma que é preciso “rever o ambiente de trabalho, investir em higienização, equipamentos de proteção” (O Globo, 05/04/2020, p. 4).

Seguindo as recomendações da ONU Mulheres, é necessário que o Estado forneça os dados da covid-19 por sexo para o país, não só para a mortalidade, mas para as pessoas infectadas. É necessário conhecer se há diferenças nesses números por sexo. É preciso entender se há uma maior vulnerabilidade por sexo na transmissão do vírus entre as pessoas.

Quando um atrevido novo vírus derruba as economias mundiais e aplasta toda a sociedade? A pandemia escancarou a pobreza feminina, trouxe para o debate nacional o fardo das tarefas domésticas e a difícil conciliação das mulheres em ir para o mercado de trabalho e o cuidado com a família. É preciso que o governo brasileiro priorize as mulheres nos processos de formulação, implementação e avaliação de políticas públicas em geral e, em particular, das políticas de emprego, inclusão social e redução da pobreza.

 

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17
Mar19

FAMÉLICOS A fome que o Judiciário não vê

Talis Andrade

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O Judiciário solta os corruptos milionários da Lava Jato, que tem depositados na Caixa Econômica mais de 2 bilhões e 500 milhões para gastar nas vaidades e ambições de juízes e procuradores que se consideram divinos, e prende famélicos pelo furto de um pedaço de pão, um naco de carne, um copo de leite. É a cruel justiça PPV, desde seus primórdios, no Brasil Colônia, continua a mesma: PPV. Contra os pretos, as putas, os viados. Quando pobres.

Os togados recebem os mais altos salários da República, além do teto permitido e mais inventados auxílios: de alimentação, de moradia, de vestimenta, de natalidade, de saúde, de transporte, de pré-educação, de educação, até pensão vitalícia para as filhas maiores de idade. E perdão antecipado para todos os crimes, que a penalidade máxima constitui um prêmio para o trabalhador, que é a aposentadoria precoce.


As jornalista Julia Dolce, Rute Pina, in Publica, apresenta a reportagem especial


MICROBOLSA FOME


Prisão para condenados nesses casos é nociva e sobrecarrega o Judiciário, diz desembargador

Furtos de valor insignificante chegam até os tribunais superiores

Ocorrências de furto de alimentos cresceram 16,9% nos últimos quatro anos


Regineide da Silva ficou constrangida e abaixou os olhos ao responder que a razão de ter deixado de cumprir a medida cautelar foi a falta de dinheiro. A catadora de materiais recicláveis deveria ter comparecido mensalmente ao Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo (SP), para acompanhar a acusação de furto em um supermercado, pela qual havia obtido liberdade provisória há dois anos. Não conseguiu.

Naquela tarde, Regineide voltou a uma das sete salas apertadas do subsolo do Fórum, onde ocorrem as audiências de custódia, após ser flagrada durante a tentativa de furto de uma peça de carne e um pote de Nutella. Nervosa, ela contorceu as mãos algemadas ao ouvir a pergunta seguinte da juíza Gabriela Marquez Bertolli:

— Dinheiro pra quê? — questionou a magistrada, levantando o tom de voz.

— Para pegar a condução para cá, eu ganho muito pouco…

— Certo. É só para a senhora tomar consciência de que, independentemente da decisão sobre este atual processo, a senhora será presa por ser considerada foragida pelo anterior — afirmou a juíza, categórica.

Mãe de dois filhos, um menor de idade, Regineide chorou ao ser levada novamente à carceragem por um policial militar, mesmo tendo conseguido liberdade provisória no caso atual. A audiência durou 10 minutos.

Meia hora depois, em outra daquelas salas, Aline de Jesus, jovem e negra, respondia ao flagrante por furto de produtos em um mercado. Mãe de cinco filhos, o mais novo com apenas 8 meses, ela também havia tentado subtrair um pote da marca de creme de avelã, além de uma vela de aniversário, garfos plásticos, dois pacotes de café e três itens de higiene. Desempregada, Aline se declarou usuária de crack há dois anos e afirmou ter interesse em fazer tratamento.

A juíza dessa audiência permitiu que a mulher respondesse em liberdade, por ser primária e pelo baixo valor dos produtos furtados. Liberada da carceragem apenas duas horas depois, Aline deixou a fila de detidos algemados.

A Pública acompanhou ambos os casos na tarde da segunda-feira, 14 de janeiro, apesar de a assessoria de imprensa do órgão ter reiterado que há pelo menos cinco anos não registrava casos de furtos famélicos – aqueles cometidos pela necessidade de se alimentar. Mas, logo no primeiro dia em que comparecemos ao Fórum, presenciamos duas audiências de custódia envolvendo esse tipo de furto.

De acordo com a defensora pública Fernanda Macedo, que atuou no caso de Aline, delitos relacionados à subtração de alimentos não são raros. “Eu, por dia, pego no mínimo um furto em supermercado. Geralmente, são todos cometidos por pessoas vulneráveis ou que estão desempregadas por muito tempo”, relata.

A contradição entre a fala da defensora e o dado inicial da assessoria de imprensa reflete o descompasso entre o conceito atual de fome e a prática dos tribunais.

O entendimento do Judiciário sobre o estado de necessidade, lei que abarca o furto famélico, é tão restrito que caiu em desuso no direito brasileiro. O artigo 24 do Código Penal estabelece que, se alguém praticou um delito para “se salvar de perigo atual que não poderia ser evitado de outra forma”, fica “excluída sua ilicitude”. Em outras palavras, aos famintos não existiria crime em furtar alimentos para saciar a fome. A concepção de fome, com base na lei, fica atrelada diretamente ao risco emergencial à vida. O acusado deve oferecer, além de tudo, provas consistentes de que se encontra nessa situação.

O promotor Alexandre Rocha de Moraes, professor de direito penal da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), confirma quão raro é o estado famélico para a Justiça brasileira: “A vulnerabilidade, ou a hipossuficiência, pode ou não causar uma situação de fome que gera risco à vida, que é o que justificaria o estado de necessidade, ou risco à integridade física da pessoa”.

Questionado sobre o critério que utiliza para processar pessoas por furtos de alimentos, entretanto, ele reconhece que a definição de fome é subjetiva. “É como a dor, cada um aguenta diferentes pontos. Ou seja, dar critério objetivo de fome é algo completamente leviano e arbitrário, isso muda de pessoa em pessoa, de região para região”, pondera. No entanto, o promotor destaca que o tipo de alimento furtado impacta a sua visão ao oferecer denúncias de furto. “É um critério que pesa, mas não por si só. Temos que avaliar as circunstâncias anteriores e posteriores ao fato”, completa.

Juízos de valor sobre a qualidade dos alimentos furtados são comuns nesses processos. Frequentemente, juristas interpretam que, se houve a escolha de um produto de maior valor ou que represente uma preferência de sabor e gosto, o caso não pode ser considerado famélico.

Dada tal rigidez, advogados optam por utilizar outro princípio na defesa: o da insignificância, também conhecido como bagatela. O entendimento traz a ideia de que, apesar de o furto ser considerado crime, alguns tipos, por tão pequenos, não deveriam ser julgados na justiça penal. Nesses casos, a própria tipicidade do fato ficaria excluída, ou seja, tais delitos não se encaixariam na definição de crime de furto.

 

Por um quilo de picanha


Pioneiro na defesa do princípio da insignificância no Brasil, o desembargador Carlos Vico Mañas, da 12ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), era apenas um jovem defensor público quando, incomodado com a quantidade de casos “insignificantes” que chegavam à justiça penal, elaborou uma tese sobre a jurisprudência. Desde então, ele relata que ficou “carimbado com o tema”.

“O direito penal é pesado, trabalha com o bem mais relevante para as pessoas: a liberdade. Costuma-se dizer que é a última instância de controle social. Ou seja, se der para resolver de outra forma, melhor para todo mundo”, pontua o desembargador. “A punição criminal, sem a menor dúvida, é estimuladora da própria criminalidade. A pessoa condenada é estigmatizada, não volta a conseguir emprego, e o encarceramento de alguém absolutamente despersonalizado dá munição ao crime organizado”, acrescenta.

Além disso, o magistrado destaca que o grande número de processos de pequenos furtos sobrecarrega o sistema e gera ineficiência. “Quando eu comecei, eu tinha processos gigantescos de latrocínio, com requintes de crueldade, e um processinho de furto de um quilo de picanha no supermercado. Na prateleira aquilo lá é a mesma coisa, ocupa o tempo do profissional”, afirma.

De fato, casos de furto de alimentos não apenas geram a abertura de processos, mas também chegam, com frequência, à terceira instância do Poder Judiciário. A reportagem identificou pelo menos 32 casos que foram julgados pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) no último ano, a partir da pesquisa de jurisprudência de processos que traziam o termo “furto famélico” em seus registros.

Outro fator apontado para a abertura desses processos é a atitude dos órgãos que têm o primeiro contato com os casos de furto de alimentos. De acordo com o desembargador Vico Mañas, o próprio delegado de polícia teria autonomia para não abrir um inquérito de casos cuja jurisprudência seja de automática absolvição.

“Ele não é obrigado a instalar nada se há o entendimento de que aquilo juridicamente não é um crime. Mas o delegado faz isso? Não, porque ele tem medo. O ambiente da polícia é conservador, e deixa para a Justiça resolver. A mesma coisa se dá com o Ministério Público (MP). Ele tem a obrigação de oferecer denúncias contra alguém quando entende que a conduta é criminosa. Os promotores fazem isso? Mais do que antes. Alguns, mais corajosos, fazem. Esse tipo de coisa exige coragem. Eu já sofri muitas retaliações na vida, mas fiz essa opção”, afirma o desembargador, que comanda uma das câmaras conhecidas como mais liberais da capital paulista.

A defensora pública Fernanda Macedo afirma que alega o princípio da insignificância em “toda santa audiência” de furtos de produtos em supermercado. Ela revela, porém, que “uma discussão doutrinária” impede que juízes entrem no mérito dos processos e arquivem casos de insignificância já na própria custódia.

“Ninguém reconhece. Alguns juízes nem mesmo colocam na decisão que eu aleguei o princípio da insignificância ou furto famélico, para se ter uma ideia”, conta. “Não existe essa coisa de reconhecer na delegacia ou na custódia porque é como se o princípio de insignificância desse uma carta branca ao crime. Eles acham que as pessoas cometem furtos porque gostam e que, se o Estado pegasse mais leve com isso, seria um incentivo à criminalidade.”

Para a jurista Sônia Drigo, uma das fundadoras do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), a automatização do trabalho jurídico, que deveria ser interpretativo, é um dos motivos que impedem esses profissionais de arquivar os processos insignificantes e famélicos.

“Se eu recebo um furto de pão, de um Toddynho, por que eu vou deixar isso ir para frente? Por que eu vou movimentar a máquina do Estado para uma situação que, de antemão, já sei que não vai levar a uma condenação? Porque eles estão agindo automaticamente. Eles não estão com o olhar para o fato e para a pessoa acusada. Vem um boletim de ocorrência, que vira uma verdade para o MP, que vira uma verdade para o juiz de custódia e segue para uma vara criminal. E isso vai tomando uma proporção enorme”, opina.

Em alguns casos, o próprio MP é o responsável por recorrer às decisões de absolvição, insistindo na condenação de acusados por pequenos furtos. Por serem enquadrados no Código Penal, tais delitos são denunciados, necessariamente, pelo órgão. Na opinião do magistrado Vico Manãs, se os próprios mercados tivessem que seguir com os processos, o número de condenações seria bem mais reduzido.

“As grandes redes já fazem um cálculo, incluindo desde produtos que irão estragar até os que serão furtados. Isso é acrescentado ao preço dos produtos, todo mundo já paga, a vida continua, e eles não têm prejuízo”, explica o desembargador.

Segundo Vico Mañas, na Alemanha, o problema do alto número de processos penais de furto de produtos de supermercado foi resolvido com a transformação da ação penal em privada. “Aqui, se eu entro no supermercado e furto algo, a rede não gastará um tostão processando. A polícia manda para o MP, que o faz em nome da empresa. Na Alemanha, se o supermercado quiser processar criminalmente, ele que movimente seu departamento jurídico. O que acontece? Zero processos de furtos de supermercado, porque nenhum empresário é estúpido o suficiente para processar alguém que tentou furtar algo de sua prateleira”, completa o desembargador.

Na opinião do defensor público Glauco Moreira, assessor criminal e infracional da Defensoria Pública Geral do Estado de São Paulo, não faz sentido existir uma resistência tão grande dos juízes para absolver esses pequenos delitos. Ele lembra que o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu pela absolvição de diversos casos de furtos de alimentos, aplicando o princípio da insignificância para produtos subtraídos que valiam até quase um salário mínimo. Outras cortes utilizam a jurisprudência que determina como insignificante valores entre 10% ou até 50% do salário mínimo.

“Mesmo assim, o defensor tem que manejar uma série de recursos para fazer valer o que o STF ou o STJ dizem. Há casos em que precisamos entrar com até cinco recursos para conseguir a absolvição. Será que, se o juiz de origem não tivesse observado a interpretação constitucional da norma, isso não teria parado bem antes? Se fosse para seguir a orientação literal do Código Penal, sem interpretações, não precisaríamos nem de juristas”, considera.

 

Desamparo e preconceito


Em abril de 2016, G. A. foi surpreendida ao tentar subtrair, junto com o namorado, dois marmitex, um pedaço de costela bovina assada, uma cerveja e um refrigerante em um supermercado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Os produtos, em conjunto, eram avaliados em R$ 41. Ela foi condenada a oito meses de reclusão em regime aberto.

Na época, G. estava grávida e vivia em situação de rua. Ela alegou que passava fome e, por isso, cometeu o delito. O caso se arrastou por dois anos na Justiça até ela ser absolvida em segunda instância, em dezembro de 2018.

Da mesma forma, A. S. conseguiu reverter uma decisão do juiz na segunda instância. Ele havia sido condenado à pena de um ano e dois meses de reclusão, em regime inicial semiaberto.

A. bebeu um iogurte e comeu um pão de queijo em uma unidade do supermercado Carrefour, em São Bernardo do Campo (SP), região metropolitana do Estado. O caso ocorreu no dia 12 de agosto de 2017. “Guloso, ainda quis se fartar com os três chocolates ‘Chokito’, que procurou esconder no bolso, deixando de pagar pelas mercadorias”, registra a denúncia da Procuradoria. A. estava sendo monitorado e assim que passou pelo caixa foi detido em flagrante pelos seguranças do mercado. Na delegacia, ele também afirmou que se encontrava em situação de rua.

Já o catador de materiais recicláveis J. R. S. conseguiu ser inocentado pelo crime de furto qualificado pela segunda instância do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em outubro de 2017. Ele havia sido condenado a quatro anos e oito meses de prisão, em regime fechado, pelo furto qualificado de 34 pacotinhos de bolacha Club Social, que estavam em três caixas, pegas através de uma janela de uma padaria em Araranguá (SC). Em seu depoimento, ele também afirmou que ele estava em situação de rua.

“Eu tava catando latinhas, já fazia uns dias que eu tava com fome, não encontrei comida nos lixos. Aí eu vi as bolachas na janela, mas eu não arrombei, nem nada, só peguei”, afirmou. Segundo o defensor do caso, o advogado Felipe José Ferreira, o J.R.S e outro morador de rua foram encontrados pela polícia no quarteirão seguinte, sentados na sarjeta enquanto comiam as bolachas. A decisão do TJSC é um dos raros casos em que o princípio famélico foi aceito pela corte.

Furtos de alimentos cometidos por pessoas em situação de rua são recorrentes entre os processos encontrados. A reportagem visitou o Espaço Cultural Cisarte, sede do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), no centro de São Paulo, para conversar com alguns de seus representantes. Eles estavam se reunindo para discutir o aumento da população de rua e dos discursos de ódio contra ela. Lá, contaram a estigmatização que sofrem, e como ela também é estimuladora de condenações.

Carlos Henrique relata que está na rua há cinco anos. “Eu não posso nem entrar em um supermercado, não me deixam passar pela porta. É por isso que eu peço para pessoas comprarem comida, em vez de me darem dinheiro. O segurança já percebe quando eu entro e já vai atrás achando que eu vou furtar. Às vezes chegam até a nos levar para a sala de patrimônio, já nos acusando de furto.’’

O morador de rua denunciou também que os seguranças chegam a forjar flagrantes nas delegacias. “Sabem que a pessoa está em vulnerabilidade e não pode se defender. As pessoas sentem que o sistema judiciário é injusto porque o cara que roubou uma sardinha é punido e o cara que roubou uma mala de dinheiro está solto”, lamenta.

Os relatos de flagrantes forjados, abusos e violência por seguranças de supermercados também são comuns, como recentemente lembrou o caso do jovem Pedro Gonzaga. Ele foi assassinado no dia 14 de fevereiro por um mata-leão dado por um segurança em uma filial do supermercado Extra, no Rio de Janeiro. Em 2009, o pedreiro Ademir Peraro foi torturado e assassinado por seguranças de uma unidade do Dia%, pertencente à rede Carrefour, em São Carlos, após furtar coxinhas e pães de queijo.

Em novembro de 2018, a reportagem entrou em contato com o advogado da família de Ademir, Arlindo Basílio, que informou que, após uma série de recursos do supermercado, a indenização aos familiares só havia sido paga naquele mês, quase dez anos depois. A assessoria de imprensa da rede comunicou, em nota, que qualquer abordagem por seguranças é realizada apenas quando há comprovação do delito, “de forma cuidadosa, respeitando os procedimentos e valores da empresa e a legislação vigente”.

Outra crítica trazida pelos integrantes do MNPR é falta de controle com as refeições servidas nos albergues públicos da cidade. Marcelo Jamaica está há 15 anos em situação de rua. Só no ano passado, ele contraiu infecção alimentar duas vezes, segundo ele, por conta da alimentação oferecida no Centro Temporário de Acolhimento (CTA) do Brás.

“Reclamei, mas não levei para frente. Cheguei até ir de ambulância para a AMA [Assistência Médica Ambulatorial]. A comida é péssima. E culpam sempre a falta de verba. Eles não fazem a comida no próprio CTA. Ela vem de longe, às vezes no trajeto, azeda. Vem de manhã e é armazenada de qualquer forma. E essa mesma refeição é usada para o almoço e para janta. Não é digno.”

Em resposta às denúncias de Marcelo, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) de São Paulo informou que seus serviços ofertam alimentação completa, servindo, em média, 8.198 alimentações por dia. A SMADS informou também que o cardápio oferecido é regido por portarias que tratam de normas e recomendações para uma alimentação saudável e equilibrada: “A alimentação é preparada diariamente, sendo que a maioria dos CTAs prepara as próprias comidas e outros utilizam sistema hot box”.

Marcelo já trabalhou como estoquista em uma unidade do Carrefour, no bairro da Mooca. “Tinha um senhor rico que furtava chocolate direto. Todo mundo sabia e ninguém fazia nada. Quando é classe média, é chamado cleptomania, né?”, provocou. O defensor público Glauco Moreira reitera: “Não me recordo e desconheço casos de pessoas de classe média condenadas por furtar bens alimentícios”.

 

Furtos de alimento em alta


A Pública obteve, via Lei de Acesso à Informação, todos os boletins de ocorrência (BOs) por furtos de alimentos cometidos no estado de São Paulo nos últimos cinco anos. Os dados mostram que foram 13.288 furtos do tipo, excluindo os furtos de cargas e os que tiveram seu local e circunstâncias marcados como desconhecidos. Entre 2014 e 2018, foi observado um crescimento de 16,9% de registros de furtos de alimentos

Dos boletins que marcavam a profissão dos autores do delito, um quarto foi cometido por “desempregados”. Além disso, em 76,8% dos casos os acusados são homens. A grande maioria dos furtos foi cometida em estabelecimentos comerciais, e o alimento mais furtado, entre os categorizados, foi carne bovina.

A advogada Luciana Zaffalon, coordenadora-geral do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) e ex-ouvidora da Defensoria Pública de São Paulo, é autora do livro A política da Justiça: blindar as elites, criminalizar os pobres, um desdobramento de sua pesquisa de doutorado. Luciana analisou duas gestões do TJSP, entre 2012 e 2016, para mensurar os impactos sociais das decisões do tribunal na segurança pública e no sistema penitenciário.

Uma das conclusões do estudo é que o Judiciário protege as elites, enquanto destina o sistema prisional às classes populares. “Uma perspectiva otimista seria dizer que o sistema de justiça opera com uma insensibilidade de classe, mas na prática a gente observa um recorte ainda mais cruel”, diz Luciana. “Você decidir processar criminalmente alguém por um furto famélico, ou por uma quantidade irrelevante de drogas, é uma tomada de decisão irracional no sentido mais puro da palavra quando a gente pensa gestão, quer seja de recursos humanos ou financeiros. Em qualquer dimensão de gestão, é um contrassenso.”

No entanto, Luciana lembra que a Justiça aplica o princípio da insignificância em crimes de descaminho e contrabando, quando o valor de sonegação de impostos chega até R$ 10 mil. “Tudo bem que falamos de diferentes instâncias, mas na prática quer dizer que você entrar ou sair do país com essa quantia é considerado irrelevante, enquanto crimes praticados por outra parcela da população, de até R$ 100, são dramaticamente perseguidos.”

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“Eu precisava de apoio, não de prisão”


“Sumiu um bife da minha marmita, será que foi o Mário?!”, brincou um dos funcionários da Construtora Gois, no intervalo do trabalho. Ele se referia à Mário Ferreira Lima, eletricista que há poucos dias havia conseguido um emprego na companhia.

Essa foi apenas uma das diversas provocações, e até mesmo ofensas, que o eletricista sofreu, após a história de seu furto de 6 quilos de coxão mole ter viralizado em veículos de notícias.Foi em maio de 2015, alguns meses após o acidente de moto que deixou sua esposa em coma, que Mário foi flagrado, ainda no caixa do mercado, escondendo o pedaço de carne. Ele havia largado o emprego para cuidar do filho de 11 anos. No dia, com R$ 7 em seu cartão do Bolsa Família, deu para pagar por apenas alguns pães e bananas. Leia mais

 

Necessidade: substantivo feminino

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O furto é um dos crimes mais cometidos por mulheres no Brasil.

Isso porque, sendo as únicas chefes de 40% dos lares brasileiros (IBGE, 2017), muitas mulheres têm como justificativa, para cometer tais delitos, o cuidado de seus dependentes, como relata Mariana Boujikian, pesquisadora do projeto Justiça Sem Muros, do ITTC. “O Infopen traz um dado muito gritante sobre maternidade: entre a amostra entrevistada de mulheres presas, 74% eram mães.” Leia mais

 

Fome de quê?

 

A taxa média de desemprego em 2018 foi a maior dos últimos sete anos em pelo menos 13 capitais do país, de acordo com dados divulgados pelo IBGE no dia 22 de fevereiro. Além disso, órgãos públicos responsáveis por monitorar a fome, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), têm sofrido desmontes pelo governo Bolsonaro. Isso sem falar no corte dos programas sociais já no governo Temer.

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A conexão entre políticas públicas de combate à fome e pobreza e diminuição da criminalidade já foi provada em diversos estudos. O mais recente deles, publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisou dados de municípios que tiveram uma maior e mais prolongada cobertura pelo Bolsa Família e identificou queda de 24% nos assassinatos em relação à situação anterior.

Para o defensor Glauco Moreira, a mesma relação pode ser feita nos casos de furtos. “A quantidade de furtos de alimentos está mais conectada à questão econômica do que qualquer outro fenômeno. Ou seja, quando o desemprego aumenta, o furto aumenta.” Nessa circunstância, uma percepção do furto de alimentos como um problema social, e a expansão do entendimento do “furto famélico”, na sua opinião, se fazem ainda mais necessárias.

Isso já está minimamente previsto no marco legal brasileiro. Em fevereiro de 2010, a Emenda Constitucional 64 adicionou a alimentação como um direito social no artigo 6º da Constituição Federal brasileira. Além disso, o país também é signatário do Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas. O artigo 11 do tratado internacional reconhece “o direito de todas as pessoas a um nível de vida suficiente para si e para as suas famílias”, incluindo a alimentação.

Secretária-geral da Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (Fian Brasil), a advogada Valéria Burity aponta que esse arcabouço legal já admite que a Justiça considere a fome em suas mais diversas expressões. “O conceito de alimentação na nossa própria lei está mais amplo, implica um conjunto de necessidade que não é só ter acesso a uma ração, mas comer o que de fato vai te transformar em uma pessoa, com capacidade de ter outros direitos”, explica.

Por isso, ela considera casos de furtos famélicos responsabilidade do próprio Estado. “Uma pessoa que chega a esse ponto de não ter o mínimo para sobreviver mostra que, antes da fome, houve a ausência do Estado”, defende. “Mas o direito à propriedade, que em última instância é o que se está defendendo, é muito mais valioso do que o direito de você conseguir atender às suas necessidades básicas.”

Distante das discussões jurídicas, Adriana Salay é historiadora e pesquisa a fome no Brasil no século 20. Ela lembra o conceito de Josué de Castro, um dos principais estudiosos do tema no país, e estabelece que não é apenas porque as pessoas não estão em risco de vida que não vivem com fome, uma “fome oculta”.

Como pesquisadora, Adriana faz questão de pontuar que o alimento é um “fato total”. “A pessoa não come apenas para nutrir. O comer não é apenas uma função biológica, é uma função social, tem um lado de prazer. Todos temos esse lado, independentemente da renda”, diz. Para ela, estar à parte dessas dimensões simboliza uma exclusão social.

“O comer engloba questões filosóficas, religiosas, comportamentais, sociais, econômicas, e também biológicas, está atrelado a muitas esferas. Então, mesmo que a pessoa tenha acesso ao alimento doado ou dado pelo Estado, é um alimento que não necessariamente nutre a pessoa emocionalmente.”

Adriana se indigna ao tomar conhecimento pela reportagem da rígida exigência de comprovação da necessidade para aplicação do furto famélico. “O ser humano é um animal de desejos, e não de necessidades”, pontua a historiadora. “O desejo se torna uma necessidade. Até o capitalismo precisa disso para sobreviver. Imagina o seu filho te pedindo alimento e você sem condições de dar. Eu, enquanto mãe que sou hoje, posso assumir que teria total capacidade de furtar uma bolacha para ele.” Transcrevi trechos

 

21
Jan18

A 'praga' do feminicídio na América

Talis Andrade

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Trujillo, Peru, 20 jan 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco denunciou hoje no Peru o que classificou como “praga” do feminicídio em toda a América.


“Olhando para as mães e as avós, quero convidar-vos a lutar contra uma praga que fere o nosso continente americano: os numerosos casos de feminicídio”, disse, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de Armas da cidade de Trujillo, no norte do Peru, para uma oração dedicada à Virgem Maria.


Na sua intervenção, Francisco disse que há muitas situações de violência que ficam “silenciadas por trás de tantas paredes”.


“Convido-vos a lutar contra esta fonte de sofrimento, pedindo que se promova uma legislação e uma cultura de repúdio a todas as formas de violência”, pediu aos presentes.

 

O Papa tinha elogiado as mulheres como “verdadeira força motriz da vida e das famílias”, um “baluarte” na vida das cidades, rezando à Virgem Maria para pedir “defesa contra o mal da indiferença e da insensibilidade”.


“Ela leva-nos ao seu Filho e, assim, nos convida a promover e irradiar uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos”, concluiu.


Esta sexta-feira, num encontro com populações da Amazónia, em Puerto Maldonado, o Papa tinha denunciado a violência contra as mulheres, alertando em particular contra o contra o tráfico de pessoas e a exploração sexual.


“Não se pode ver como normal a violência contra as mulheres, achá-la normal, não se faz da violência contra as mulheres algo natural, mantendo uma cultura machista que não aceita o papel de protagonista da mulher nas nossas comunidades”, alertou, perante os peregrinos reunidos na capital da região de ‘Madre de Dios’ [Mãe de Deus].

 

Papa presta homenagem à Virgem Maria, «Mãe Mestiça», que acompanha todos os povos

 

“É motivo de esperança ver como a Mãe assume os traços dos filhos, as vestes, o dialeto dos seus, para os tornar participantes da sua bênção. Maria será sempre uma Mãe mestiça, porque no seu coração encontram lugar todas as raças, porque o amor procura todos os meios para amar e ser amado”, disse, na celebração de homenagem à ‘Virgen de la Puerta’, na Praça de Armas.
Francisco falou num “santuário a céu aberto”, com a presença de várias imagens de culto vindas da região norte do Peru.
“Cada comunidade, cada cantinho desta terra, vem acompanhado pelo rosto dum Santo, pelo amor a Jesus Cristo e à sua Mãe. E pensar que, onde há uma comunidade, onde há vida e corações palpitando ansiosos por encontrar motivos de esperança, motivos para o canto, para a dança, para uma vida digna… lá está o Senhor, lá encontramos sua Mãe e também o exemplo de muitos Santos que nos ajudam a permanecer alegres na esperança”, assinalou.
O pontífice sustentou que “a linguagem do amor de Deus” se manifesta sempre em “dialeto”, mostrando a ternura divina que “quer estar perto de cada aldeia, de cada família”, de todos.

17
Ago17

Mar Becker

Talis Andrade

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quando morrem,

 

as mães deixam um enxame de bocas no mundo: um vulto de milhões de vozes que orbitam e sonham em torno dos corpos das filhas.

 

à noite,
como se cantassem.

 

são bocas que lembram halos de sétimo dia ou fendas em fumaça de incenso.

 

[santo, santo, santo,
rastilho pubiano, um pântano de pernas
de filhas

 

no corredor da missa.]

 

“porque este é meu corpo e este é meu sangue”.

 

durante o inverno as bocas-restos crescem, tomam um princípio de vingança e furam os corpos das filhas com a ponta de suas línguas.

 

entre as pernas.

 

---

(Mar Becker)

Marceli Andresa Becker

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