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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

05
Ago21

GGN produz documentário sobre Caso Cancellier. Saiba como apoiar

Talis Andrade

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A autoimolação do reitor foi o mais relevante ato político visando interromper a marcha da intolerância que se apossou do País e que gerou alguns dos episódios mais abusivos da história da Justiça brasileira

 

O GGN, portal de jornalismo independente criado pelo jornalista Luis Nassif, lança na plataforma Catarse mais uma campanha de financiamento coletivo (crowfunding). Desta vez, para produzir um documentário sobre o caso de Luiz Carlos Cancellier, ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina. Este será o quarto projeto do gênero encampado pelo GGN. Entre 2019 e 2021, o veículo lançou outros três documentários inéditos sobre o modelo chileno de privatização da Previdência Social, a influência dos Estados Unidos na Lava Jato e o passado do ex-juiz Sergio Moro.

Clique aqui para apoiar com doações a partir de R$ 10.

Luiz Carlos Cancellier nasceu em maio de 1958. Ele tinha 59 anos quando suicidou-se, pulando do vão central de um shopping no centro de Florianópolis, em outubro de 2017. Foi o mais relevante ato político visando interromper a marcha da intolerância que se apossou do País e que gerou alguns dos episódios mais abusivos da história da Justiça brasileira.

Duas semanas antes da trágica morte, o reitor da UFSC fora preso temporariamente no âmbito da Ouvidos Moucos, a operação conduzida, na Polícia Federal, pela delegada Erika Marena, uma ex-Lava Jato chefiando mais de uma centena de policiais convocados em vários cantos do país.

O inquérito apurava supostos desvios no programa de educação à distância da UFSC no período anterior ao da posse de Cancellier. Era uma falsa denúncia, conforme se conferiu posteriormente. Mas serviu de motivo para mais um pacto macabro entre a delegada da PF, a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público Federal em Santa Catarina.

A perseguição e morte de Cancellier foi o mais significativo episódio desses tempos nebulosos. Contra Cancellier não havia provas de corrupção. Ainda assim, ele foi afastado da reitoria sob a alegação de tentar obstruir investigações na Corregedoria da Universidade.

Antes de partir, Cancellier deixou uma última carta na qual assinalou a devassa em sua “vida” e “honra”, além da perplexidade e do medo que sentia pelo modo como a investigação da PF estava sendo conduzida – com seletividade e sem espaço para contraditório e ampla defesa. Aqueles eram tempos em que o “ouvi dizer” sobrepunha-se à presunção de inocência até do ex-presidente da República mais popular da história brasileira.

Cancellier não resistiu ao que chamou na carta de “humilhação” e “vexame”. Saiu da vida para entrar na história como personagem de uma trama maior, que envolve um Brasil embriagado por operações policiais espetacularizadas pela grande mídia, abusos de autoridade e um caldo de retrocessos e autoritarismos no comando do País, abrindo a porteira para ataques à liberdade de cátedra e de expressão nas universidades públicas.

Este projeto de financiamento coletivo criado pelo GGN, de Luis Nassif, visa registrar, em vídeo, a história de Cancellier, o reitor cuja morte foi um grito contra a intolerância.

O vídeo será disponibilizado no canal do GGN no Youtube (www.youtube.com/tvggn). Os apoiadores terão acesso prioritário.

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31
Out19

Marielle na roda da História

Talis Andrade

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Por Paulo Moreira Leite

Jornalistas pela Democracia 

 

Qualquer que seja a verdade sobre a conversa de portaria no condomínio Vivendas da Barra, cabe não perder de vista o essencial.

Um ano e oito meses depois, o assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes segue à espera de esclarecimentos capazes de levar ao julgamento e punição de responsáveis -- não apenas os operadores de ponta, mas os mandantes graduados.

A morte da vereadora do PSOL, em 18 de março de 2018, é o grande crime político ocorrido na estrada torta que conduziu uma democracia já esfrangalhada pelo impechament para um período de perseguição aberta e violência à espreita. A evolução dos acontecimentos tem uma cronologia clara.

Um mês antes da morte de Marielle, Michel Temer assinou o Estado de Emergência no Rio de Janeiro, entregando o segundo maior estado brasileiro, subjugado pelo poder paralelo das milícias, ao comando das Forças Armadas.

Um mês depois do assassinato, como se fosse uma sequência natural, Lula seria conduzido de helicóptero para a cela de Curitiba. Depois do assassinato impune, passou-se à prisão sem prova.

Em agosto, por 6 votos a 5, o Supremo decidiu que o candidato favorito ao pleito presidencial estava fora da campanha, decisão sacramentada por um tuíte do então comandante do Exército, general Villas Boas. Em janeiro de 2019, quando tomou posse, Bolsonaro reconheceu em voz alta que o general fora um dos responsáveis por sua  chegada à Presidência.

A história brasileira ensina que a preservação do esquema criminoso que assassinou Marielle e acobertou as responsabilidades maiores é parte essencial de mudanças recentes que ameaçam direitos e garantias conquistados com tantas dificuldades.

Acima de qualquer direito civilizatório, o segredo deve ser preservado de qualquer maneira. É o que se aprende nos manuais de guerra revolucionária dos professores da ditadura, heróis do presidente da República, que usavam até codinomes para dar choques e conduzir cidadãos indefesos para o pau-de-arara.

Quando foi possível acender luzes naquela indizível escuridão, diminuíram os crimes mais infames, a barbárie mais violenta, as atitudes mais hediondas. Nem tudo foi esclarecido, nenhum carrasco foi julgado, o que é uma lástima.

Ainda assim, por três décadas o país teve direito a encontrar-se consigo mesmo, curar  dores agudas, alimentar  esperanças.

Examinada em retrospecto, única forma de se compreender a História de um povo, a operação que assassinou Marielle Franco e Anderson representa uma tentativa de fazer a história andar para trás.

Está inteiramente ligada ao que veio depois. É preciso que seja esclarecida, para que a roda da história retome seu curso.

Alguma dúvida?

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22
Set19

Quero ver Witzel, Daniel Silveira, Rodrigo Amorim quebrar a placa do Jardim Marielle Franco em Paris

Talis Andrade

 

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A revista francesa L’Express publicou os perfis de políticos que saíram vencedores nas eleições de 2018 no Brasil. A matéria dá destaque ao fato de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que chamou atenção da comunidade internacional pelo discurso sexista, racista e homofóbico, está longe de ser "uma exceção" no cenário político brasileiro atual, segundo a publicação.

"Vários candidatos extravagantes foram eleitos deputados federais, estaduais ou governadores", diz a revista. "Pouco conhecidos dos brasileiros antes da campanha eleitoral, essas personalidades atípicas foram guiadas pela onda de 'renovação' e 'cansaço' que levou o ex-capitão do Exército à presidência do país. [...] É o caso do novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Adepto de um discurso forte na cidade dominada pela violência, Witzel sugeriu o uso de armas e até mesmo de drones para abater os criminosos nas favelas", afirma L’Express.

A publicação lembra que o partido de Bolsonaro, o PSL, passou de um parlamentar desde as últimas eleições a 52 em 2018, tornando-se o segundo maior partido na Câmara dos Deputados. Entre os eleitos, "há quem se veste com roupas de estampa militar, como é o caso de Daniel Silveira, que, durante a campanha eleitoral foi fotografado destruindo uma placa em homenagem a Marielle Franco, veredora do Rio assassinada em março de 2018". Leia mais

Transcrevo do jornal O Globo:

Um vídeo gravado ao vivo, no domingo anterior à eleição, mostra Witzel junto com Daniel Silveira, eleito deputado federal pelo PSL, e Rodrigo Amorim, deputado estadual mais votado do Rio, também pelo PSL, durante ato de campanha em Petrópolis, na Região Serrana.

No começo do vídeo, Witzel pede votos para Silveira e depois a câmera mostra o discurso de Amorim em cima do carro de som:

"Marielle foi assassinada. Mais de 60 mil brasileiros morrem todos os anos. Eu vou dar uma notícia para vocês. Esses vagabundos, eles foram na Cinelândia, e à revelia de todo mundo, eles pegaram uma placa da Praça Marechal Floriano, no Rio de Janeiro, e botaram uma placa escrito Rua Marielle Franco. Eu e Daniel essa semana fomos lá e quebramos a placa. Jair Bolsonaro sofreu um atentado contra a democracia e esses canalhas calaram a boca. Por isso, a gente vai varrer esses vagabundos. Acabou Psol, acabou PCdoB, acabou essa porra aqui. Agora é Bolsonaro, p***", gritou Amorim pelo microfone.

Neste sábado, em Paris, foi inaugurado o Jardim Marielle Franco.

O jardim Marielle Franco, situado ao logo da via férrea no 10° distrito da cidade, é um espaço suspenso de 2.600m² ao composto por cerca de 70 árvores, a maior parte delas frutíferas. O acesso é feito pela rua d’Alsace.

Jardim Marielle Franco junto à Gare de l’Est, uma das principais estações de trem de Paris.Mairie 10
 

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Lá no Jardim, em Paris, a placa lembra o martírio, o heroísmo, a coragem, o idealismo de Marielle Franco, sua luta pelos Direitos Humanos, pela Democracia, pela Liberdade, pela Igualdade, pela Fraternidade. Lembra também a covardia dos políticos milicianos do Rio de Janeiro. Eis a placa do Jardim que eles jamais terão a audácia de quebrar:
 

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20
Set19

Jardim Marielle Franco será inaugurado neste sábado em Paris

Talis Andrade
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Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada em 2018, é homenageada em Paris

 

Acontece nesse sábado (21) a cerimônia de inauguração de um jardim em homenagem à vereadora brasileira Marielle Franco, assassinada em março de 2018 no Rio de Janeiro. Além de várias personalidades políticas e militantes franceses e brasileiros, familiares da ativista estão na cidade especialmente para o evento.

Aprovada pelo Conselho Municipal de Paris, a homenagem é fruto de um pedido de várias associações, encabeçadas pela RED.Br – Rede Europeia pela Democracia no Brasil. A prefeitura viu na iniciativa uma prova do “engajamento da capital na defesa dos direitos humanos pelo mundo, mas também da defesa dos políticos em perigo”, segundo comunicado divulgado na véspera da inauguração.

 

A inauguração acontece às 15h em Paris (10h em Brasília). Está prevista a presença de Alexandra Cordebard, prefeita do 10° distrito, Patrick Klugman, Pénélope Komitès e Paul Simondon, chefes de diferentes secretarias muncipais, além de Silvia Capanema, presidente da RED.Br. Do lado brasileiro, participam Antônio Francisco da Silva Neto, Marinete da Silva e Luyara Francisco dos Santos, respectivamente pai, mãe e filha de Marielle, que estão na capital especialmente para a ocasião. Renata da Silva Souza, deputada estadual do Rio de Janeiro e ex-chefe de gabinete da vereadora do PSOL também participa da cerimônia. Já Monica Benício, viúva de Marielle, será representada por Stéphanie Palancade.

A inauguração acontece dois dias após o nome da vereadora ter sido indicado para a edição 2019 do Prêmio Sakharov de direitos humanos. Também fazem parte da lista três outros brasileiros: o líder Caiapó Raoni, o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL) e a defensora da Amazônia Claudilice Silva dos Santos.

 

Manifestações de solidariedade

 

A morte de Marielle Franco suscitou inúmeras manifestações de solidariedade na França. Além de protestos organizados pela comunidade brasileira que vive na cidade, vários responsáveis políticos exprimiram sua indignação após o crime.

A foto da vereadora ficou durante meses exposta em diversos lugares da capital. Alguns prédios, entre eles o da prefeitura, chegaram a colocar a imagem da brasileira em suas fachadas.

O jardim Marielle Franco, situado ao logo da via férrea no 10° distrito da cidade, é um espaço suspenso de 2.600m² ao composto por cerca de 70 árvores, a maior parte delas frutíferas. O acesso é feito pela rua d’Alsace.

Jardim Marielle Franco junto à Gare de l’Est, uma das principais estações de trem de Paris.Mairie 10
 
29
Jul19

"Bolsonaro tem que informar como e porquê Queiroz desapareceu"

Talis Andrade

"Tiete de torturador, Bolsonaro demonstrou ser

um verme"

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247 – O ex-deputado Wadih Damous, que presidiu a OAB-RJ, reagiu à fala de Jair Bolsonaro, que disse saber como Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, foi assassinado pela ditadura militar. Mais do que isso, Bolsonaro praticamente exaltou o assassinato. "O ataque de Bolsonaro ao Presidente da OAB e a memória de seu pai mostra que somos governados por um verme.Ele já havia feito essa afirmação quando deputado e foi rebatido por mim na hora,da tribuna. Bolsonaro é um lixo humano.Receba um forte abraço, meu amigo Felipe Santa Cruz", disse Wadih. Confira seus tweets: 

Wadih Damous@wadih_damous
 

O ataque de Bolsonaro ao Presidente da OAB e a memória de seu pai mostra que somos governados por um verme. Ele já havia feito essa afirmação quando deputado e foi rebatido por mim na hora, da tribuna. Bolsonaro é um lixo humano. Receba um forte abraço, meu amigo Felipe Santa Cruz.

 
Wadih Damous@wadih_damous
 

Felipe Santa Cruz sabe como o pai dele desapareceu. Não precisa perguntar ao colega de seus assassinos, Bolsonaro. O que esse tiete de torturador tem que informar é como e porque o Queiroz desapareceu.#BolsonaroEnvergonhaOBrasil

Onde-ta-o-queiroz.jpg

 

 
 

 

 

29
Mai19

Fernando Brito: "A carta do Papa Francisco a Lula é reveladora de quanto a situação do Brasil repercute pelo mundo"

Talis Andrade

 

Papa Francisco, por Alfredo Martirena.jpg

 

Para revidar, por profundo ódio, Bolsonaro mandou chamar em Palácio um dos algozes, quando a imprensa divulgava a carta que o Papa Francisco escreveu para Lula no dia 3 de maio último.

Bolsonaro não esconde seu desejo maior de ver Lula "apodrecer na cadeia". 

Bolsonaro nada tem para oferecer ao povo brasileiro que, com a reforma da previdência, e com a reforma trabalhista de Temer, permanecerá jogado nas trevas, na ditadura do pranto e do ranger dos dentes, quando as castas togadas e fardadas com seus privilégios, aposentadorias principescas, inclusive pensões herdadas e vitalícias para uma vida de luxo e luxúria das filhas solteiras maiores de idade.

Recém-eleito presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o desembargador Victor Luiz dos Santos Laus – que julgou recursos do caso do Triplex do Guarujá, que condenou Lula, na 8ª Turma da corte – nesta terça-feira (28) esteve com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

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"Laus foi eleito para comandar o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a partir de 27 de junho. Até lá, ele continua na 8ª turma, que julga recursos relacionados à Operação Lava Jato, e pode participar da decisão do caso do Sítio de Atibaia, que também envolve o ex-presidente Lula. Confira a reportagem completa na Revista Fórum.

Escreve o jornalista Fernando Brito: "A carta do Papa Francisco a Lula, divulgada hoje por Monica Bergamo, na Folha, não é apenas gentil e piedosa, mas reveladora do quanto a situação anômala do Brasil repercute pelo mundo.

Ela é cheia de referências sutis de encorajamento do Pontífice ao ex-presidente, não apenas ao valorizar suas opiniões sobre a situação brasileira – o que fez numa carta a Francisco, há dois meses – que, diz o Papa, 'me será de grande utilidade', mas, a pretexto da Páscoa, convidar Lula a sentir a 'alegria serena e profunda de quem acredita que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação'.

Até quando consola Lula pelas perdas que sofreu – a mulher, Marisa, o irmão e o neto – o Papa manda mensagens: 'quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus'.

Lá de Roma, Francisco percebe o que alguns aqui não vêem: Lula não está preso por seus defeitos ou eventuais comportamentos pessoais – nunca provados -, mas pela referência que é para o povo braileiro.

O martírio, do ponto de vista cristão não é 'ser santo', é preferir morrer a renunciar naquilo em que acredita."

 

 

 

06
Mai19

Quem aponta “paralisia” na antipresidência de Bolsonaro está cego – ou se faz de cego – para a velocidade assombrosa da implantação do projeto autoritário

Talis Andrade

O “mártir” governa

bolsonaro guedes moro olavo.jpg

 

 

 

 

Olavo de Carvalho, o guru do antipresidente Jair Bolsonaro, segue apostando na estratégia de falsificar a realidade para criar realidades. Desde que seu mais famoso olavete assumiu a presidência, o escritor tem tentado plantar a mentira de que Bolsonaro estaria sendo impedido de governar. São várias as afirmações neste sentido ao longo dos mais de 100 dias do Governo. Em vídeo divulgado no canal de Bolsonaro no YouTube, no final de semana, o guru repetiu mais uma vez seu repisado mantra: “Bolsonaro é um mártir”.

capitalismo selvagem Alfredo Martirena.jpg

 

Com um canetaço, o Mártir decidiu deletar centenas de conselhos sociais com participação popular. Estes conselhos – formados por representantes da gestão e representantes da sociedade civil, gente com experiência nas respectivas áreas, entidades com atuação reconhecida – acompanhavam, debatiam e influenciavam as políticas públicas. São especialmente importantes em áreas invisibilizadas, como as relacionadas à população de rua, indígenas e LGBTI. Sem serem remunerados para isso, os conselheiros só recebiam transporte e diária. Eram a voz da sociedade no Governo. E a voz da sociedade foi silenciada. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.

jean reforma previdencia bolsonaro.jpg

 

A reforma da Previdência é apresentada como a salvação do país. Tudo indica que o Armageddon pode ser antecipado caso a reforma não for aprovada. Mas quando é exigido que o Governo apresente os dados técnicos em que se baseou para construir a proposta levada ao legislativo, o Mártir, pelas mãos do Posto Ipiranga Paulo Guedes, decreta sigilo sobre o material até a aprovação. A lei altera a vida de todos os brasileiros, mas aos brasileiros é negado o direito de conhecer as informações que poderiam justificar a lei. São informações públicas, obtidas por funcionários públicos com dinheiro público, mas o Mártir determinou que nem os legisladores nem o povo podem vê-las. Aprova primeiro, prova depois. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.

 

O filho zerotrês, que também é deputado federal, não gosta apenas de ameaçar fechar o Supremo. Como diz o Mártir, pai orgulhoso de seus “garotos”, (embora sobre zeroum ande meio calado), ele também “gosta muito de viajar”. Por isso andou pela Itália e Hungria na semana passada. Contou numa rede social que aprendeu muito com o presidente de extrema direita Viktor Orbán, especialmente “no trato da imprensa sem o politicamente correto”. Orbán construiu uma imprensa formada majoritariamente por aliados, transformando grande parte da mídia independente em porta-voz do governo. Ou seja: a liberdade de imprensa na Hungria é uma ficção e o Governo autoritário tem controle sobre a divulgação das informações. Orbán também criou uma corte paralela, sob o controle do seu ministro da Justiça, que, vejam só que conveniente, lida com questões como eleições, corrupção e direito a manifestações. O Governo do Mártir tem dois chanceleres, um deles é zerotrês, sem oficialidade no cargo mas com muita efetividade na prática, um garoto que gosta muito de viajar para conhecer a democracia de países como a Hungria.

 

Porque o Brasil é uma democracia, os eleitores do Mártir têm toda a liberdade para afirmar que foram “enganados”, como muitos, cada vez mais, têm afirmado. Nesta semana mesmo, ouvi de um evangélico: “Ele mentiu! Ele enganou o pastor. Ninguém sabia que ele ia fazer isso”. E, quem tem apreço pelos fatos, precisa defender até mesmo o Mártir. Ele não mentiu. Bolsonaro não cometeu estelionato eleitoral. Está sendo exatamente o que sempre foi, fazendo exatamente o que disse que faria. Com método e com velocidade.

 

“paralisia” do Governo por conta das “crises” provocadas por Bolsonaro e sua corte, apontada por alguns analistas, não está contando nem a rapidez do desmonte das políticas públicas nem o atraso proposital dos compromissos assumidos anteriormente que o Governo atual não quer cumprir. Olavo, o guru, é tudo o que já percebemos, mas burro não é. Escolheu a palavra “mártir” com muito propósito. Mártir é aquele que se sacrifica pela causa. Temos aí mais uma perversão. Bolsonaro não se sacrifica pela causa – ele sacrifica a causa em nome próprio.

 

Pela contagem regressiva, há mais 1.347 dias. Caso termine. O tamanho e a profundidade do martírio dependerão da nossa capacidade de sair da frente da “live” do novelão e passar a ser protagonista do Brasil real. [Transcrevi trechos]

23
Abr19

Só cachorro pode procurar osso, famílias de mártires brasileiros não

Talis Andrade

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Por Hildegard Angel

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Quando o governo do Brasil impede a busca dos ossos dos desaparecidos políticos, ele evidencia que ainda há muitos mais mortos a serem encontrados. Ninguém melhor para saber quantos eles são, e onde estão, do que aqueles que enterraram os cadáveres.

O presidente, que aprova as torturas e achou poucos os assassinatos na ditadura, é contraditório quando impede a procura dessas ossadas. Afinal, seria a oportunidade, a cada esqueleto achado, de ele demonstrar sua alegria, armar palanque, providenciar salva de tiros, reger banda de música e bater continência para eventuais autoridades estrangeiras.

Festejos sinistros de um dirigente para quem procurar osso é coisa de cachorro e mais 30 mil brasileiros deveriam ter sido eliminados. Hoje haveria mais 30 mil mães sem túmulo para chorar, mais 30 mil famílias à procura dos restos de seus entes amados.

A crueldade pelo menos não impede os cachorros de procurarem os ossos dos seus. Afinal, cachorros são filhos de Deus.

 

04
Abr19

A extradição de Olga Benário, que lutou contra a polícia e a justiça nazistas

Talis Andrade

Ernesto Araújo, o discípulo amado de Olavo de Carvalho, astrólogo do bolsonarismo, está escrevendo uma justificativa para a extradição de Olga Benário (Olga Gutmann Ben-Ario) ocorrida em 23 de setembro de 1936. 

O analfabeto do Ernesto compara Olga com Gustav Franz Wagner, um carrasco genocida, protegido do procurador Henrique Fonseca de Araújo, um nazistóide.

  

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Olga Benário

Escreve Sergio Caldieri: Anita Prestes fez um emocionante relato da vida de Olga Benário sacrificada no campo de concentração nazista Bernburg, na Alemanha, em 1942, depois do julgamento e deportação pelos juízes STF dos mesmos togados de capa preta. Olga era filha de um casal abastado em Munique. Seu pai era advogado social democrata e sua mãe filha de banqueiros. Ela saiu de casa aos 16 anos para se juntar à Juventude Comunista de Berlim, onde conheceu Otto Braun, depois seu namorado. Otto foi preso e Olga conseguiu entrar na prisão de Moahit, conseguindo libertá-lo. Fugiram para Moscou, tornaram-se militantes do Cominter, recebendo treinamentos de tiros e paraquedismo.

Olga foi convocada para fazer a segurança do líder comunista Luiz Carlos Prestes que estava exilado trabalhando como engenheiro na Rússia e pretendia voltar ao Brasil. Olga já tinha conhecimento do famoso revolucionário Cavaleiro da Esperança. Em dezembro de 1934, arrumaram documentos falsos como se fossem um casal de portugueses em lua de mel, passando por vários países na Europa, EUA, América Latina e por Buenos Aires e Montevidéu.

Chegaram ao Rio de Janeiro e foram morar no Méier em março de 1935. Quando os gorilas do Filinto Muller descobriram o paradeiro de Prestes, os policias invadiram a casa e Olga se postou na frente de Prestes dizendo que não podiam atirar, pois estava grávida. Foram separados e presos. Olga ficou na Casa de Detenção, na Rua Frei Caneca, onde estavam várias prisioneiras, entre elas, a advogada Maria Werneck de Castro, a psiquiatra Nise da Silveira, a poeta Beatriz Bandeira, que depois casou com Raul Ryff, a jornalista Eneida de Moraes e a atriz Eugênia Moreyra, esposa do escritor Alvaro Moreyra. Com decisão do STF, embarcaram Olga Benário e Elise Ewert na calada da noite no navio cargueiro La Curuña direto para Hamburgo, sem nenhuma escala em países europeus, pois os estivadores dos portos da Espanha e França estavam dispostos a entrar no navio para resgatar Olga Benário e Elise. Foram para prisão de Barnimstasse, em Berlim. Já havia um clamor mundial pela libertação por Olga Benário. Prestes estava preso e ficou durante 9 anos incomunicável debaixo de uma escada num porão de uma delegacia no Morro da Conceição, no Rio de Janeiro. O advogado Sobral Pinto exigiu do governo a aplicação do artigo 14 da Lei de Proteção aos Animais para retirar da prisão Elisa Ewert. Como foi advogado de Luiz Carlos Prestes e Harry Berger, que foi barbaramente torturado pelos gorilas do capitão Filinto Muller.

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Fotos dos passaportes de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário como os portugueses Antônio Vilar e Maria Bergner (fonte: site da revista História Viva)

 

25
Dez18

Vem de longe a sina de sofrimentos que a elite colonial deste país reserva aos que entregam a vida pelo Brasil e por seu povo

Talis Andrade

"Cartão"de Natal para Lula

 

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por Fernando Brito

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Caro Lula,

Perdoe-me a falta do tratamento de “presidente”, que sempre foi o hábito cultivado por mim nos anos de convívio com Leonel Brizola, durante os quais “governador” era o vocativo natural.

Releve também a intimidade pessoal que não tenho e que uma dúzia de encontros na política é claro que não me dão.

Mas ambas as atitudes são necessárias para o que me ocorreu ser a maneira de celebrar este que, para quase nós, é o Dia da Confraternização Universal, enquanto o dia 1° deveria ser o Dia da Esperança Geral. O que, no primeiro dia do 2019 que vai começar parece ser não só uma impropriedade, mas também uma amarga ironia.

Deixemos, porém, as agruras futuras para o futuro e falemos das presentes, sem deixar nunca de lado o tantas vezes citado aqui “não tá morto quem luta e quem peleia” dos gaúchos.

Creio que posso ousar a intimidade por conviver – aí, sim, de longa data e de vários milhares de dias – com alguém que também viveu a mistura entre o ser humano e o personagem, este sempre mais forte e, afinal, dominante.

Vem de longe a sina de sofrimentos que a elite colonial deste país reserva aos que entregam a vida pelo Brasil e por seu povo. Já Cecília Meirelles, no Romanceiro da Inconfidência, de Tiradentes falou: “Foi trabalhar para todos…/– e vede o que lhe acontece!/Daqueles a quem servia,/já nenhum mais o conhece./Quando a desgraça é profunda,que amigo se compadece? “

A você, Lula, coube de novo o martírio que a estes homens se impõe. Ora por forca, ora por tiro, ora por exílio, ora por tortura ou prisão é o presente maldito que dão a quem se atreve a pensar em termos independência, termos direitos, termos reformas, termos escolas, termos, numa palavra, um país.

O preço que pagam, ainda que nos seus luxos e homenagens, é o do medo. Como disse um amigo, “tremem de medo desse senhor de 73 anos, armado com a ira dos justos e dono da palavra mágica”.

Tanto medo que não hesitaram em entregar o país a um homem tosco, um desqualificado, deixando à beira da estrada os punhos de renda de que se valeram eleitoralmente nas três últimas décadas.

Por isso, Lula, escrevo este cartão, para dizer que não há nada de infeliz no seu Natal, pois lhe tiraram a liberdade, o convívio com as pessoas queridas e até mesmo o direito de falar.

Cinicamente ofereceram apenas o direito a ir para casa, de tornozeleira, desde que se reconhecesse culpado de crimes que, está visto, não é culpado.

E estão furiosos porque não viram você ceder e porque não puderam tirar de você o bem mais precioso de um ser humano, depois da vida: os sentimentos de honra e de dignidade.

O Lula, acima e além de tudo o que se pode pedir de um ser humano, é maior que o mortal Luís Inácio da Silva, que saiu do seu modesto Caetés, retirante, para entrar na História.

Por isso, no brinde que farei e que tantos farão esta noite, milhões temos um pedido que lhe pode até ser cruel para com o Luís, mas é necessário: viva, Lula!

Pois até que o tempo faça brotar um grande líder nos milhões de Lula que você semeou, você é indispensável.

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