247 -O ex-procurador Deltan Dallagnol qualificou como “bando de imbecis” os críticos da espetaculosa operação da Polícia Federal, comandada pela delegada Erika Marena, responsável pela operação que perseguiu reitores em Santa Catarina, prendendo ilegalmente Luiz Carlos Cancellier, então reitor da UFSC e que se suicidou em 2017, depois de uma humilhação pública com acusações de corrupção na universidade. Até hoje, nunca foram apresentadas provas do envolvimento de Cancellier no esquema. O diálogo faz parte do arquivo da Vaza Jato e foi divulgado nesta terça-feira (18) pelo siteThe Intercept Brasil.
De acordo com a reportagem, no diálogo travado via Telegram em 2017, o então procurador-chefe da Lava Jato conversava sobre o suícidio de Cancellier com a delegada Erika Marena. “Erika, vi a questão do suicídio do reitor da UFSC. Não sei o que passa pela sua cabeça, mas pelo amor de Deus não se sinta culpada. As decisões foram todas dele. Não sei se publicamente houve algum ataque, mas se Vc quiser qq expressão pública de solidariedade, conte comigo”, escreveu Dallagnol quatro dias após a morte do reitor.
“Erika, eles não prevalecerão. É um absurdo essas críticas. Um bando de – perdoe-me – imbecis. Nessas horas, quando há maior pressão, o importante é focarmos na realidade crua: Vc respeita todas as regras, atuou 100% corretamente e como fazemos em TODOS os outros casos. Não fique chateada, amiga, que eles não merecem. Vc sabe que no processo de luto uma das fases é RAIVA, e faz parte que pessoas que se sensibilizem procurem atribuir culpa, mas isso é absolutamente injusto. Conte com meu apoio e minha prece”, escreveu Deltan em um outro trecho da conversa. “E se quiser conversar saiba que sempre tera (sic) aqui um ouvido amigo”, completou.
Questionado pela reportagem sobre o assunto, Dallagnol [o cruel e verdadeiro imbecil] respondeu por meio de sua assessoria que “nas investigações em que trabalhou com a delegada Marena, ela sempre demonstrou correção, competência, dedicação e qualidade técnica, assim como respeito aos direitos fundamentais dos investigados e réus”. [Competência máxima para prender tem qualquer polícia fascista, nazista. Prender inocentes é pra lá de fácil. Prender milicianos outra história. Bem diferente. Idem prender traficantes de drogas, de moedas. É difícil. Dou o exemplo do doleiro Alberto Youssef, para quem o procurador Deltan Dallagnol pediu o perdão do juiz Sergio Moro. Idem o intocável bandido Dario Messer. Prender um reitor é descomplicado. Prender um professor é acessível. Prender um estudante é compreensível. Todas as vezes que a dupla Moro-Dallagnol prenderam Youssef negociaram com ele a liberdade via a prostituta complacente da delação premiada]
Como sempre aconteceu e acontecerá, Dallagnol não reconhece os trechos dos diálogos divulgados pelo Intercept, e que “um suicídio é sempre uma tragédia humana a ser lamentada, independentemente das circunstâncias”. [Idem os responsáveis por um suicídio são assassinos] A delegada Erika Marena, que atualmente trabalha na Polícia Federal do Paraná, não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
Uma reportagem minuciosa e consistente sobre as circunstâncias da trágica morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, arrolado por uma operação da Polícia Federal como integrante de um suposto fantasioso esquema de desvios de verbas
No início da manhã do dia 2 de outubro de 2017, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina subiu ao sétimo andar do Shopping Beiramar, em Florianópolis, e saltou no vão livre. Luiz Carlos Cancellier de Olivo – o Cau – havia assumido o posto de reitor pouco mais de um ano antes e foi um dos investigados na Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, num suposto desvio de verbas universitárias focado no sistema de ensino à distância. Envolvido em acusações anteriores ao seu mandato, humilhado publicamente com uma prisão espetaculosa e afastado da universidade por decisão judicial, Cau não resistiu.
Para entender os meandros dessa operação, o jornalista Paulo Markun mergulhou em mais de vinte mil páginas de documentos oficiais, além do vasto noticiário sobre o episódio, e entrevistou parentes, amigos, autoridades, professores, servidores e estudantes da UFSC. Em mente, sempre a pergunta: afinal, a lei é para todos?
“Recurso Final é uma reconstituição primorosa do contexto que culminou no suicídio de reitor”
por Tito Guarniere
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O livro “Recurso Final”, do jornalista Paulo Markun – ex-Globo, Bandeirantes, TV Cultura – é uma reconstituição primorosa em linguagem jornalística, do contexto e dos incidentes dramáticos que precederam a prisão do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, da sucessão de eventos devastadores que culminaram com o suicídio 18 dias depois, dos desdobramentos do episódio infausto, que abalou a Universidade Federal de Santa Catarina, a cidade, o país.
Uma única autoridade envolvida, com um pouco de humanidade e senso do Direito, teria evitado a tragédia – uma conjunção de erros, um conluio de vontades neuróticas, de juízos mal concebidos de fatos mal avaliados.
O que estava em causa era quase banal – irregularidades formais, possíveis ilegalidades, no programa de ensino à distância da Universidade. De pouca monta, já sob o escrutínio dos órgãos de controle, inflados de uma manipulação cavilosa dos fatos, se transformou numa ação de quadrilha, num caso de grossa corrupção.
Quem pôs em movimento a máquina sinistra foi o então corregedor Rodolfo Hickel do Prado, um servidor buliçoso, com mania de grandeza – achava que a UFSC era “uma grande zona”, e só ele poderia enfrentar a “turma que está no poder há 30 anos”.
O corregedor passou o resultado de suas investigações, com todas as ilações fantasiosas e exageros, à Polícia Federal. A delegada Érika Marena, titular do caso, com o habitual excesso de zelo da turma da Lava Jato, de onde ela tinha vindo, agregou novos expedientes à narrativa, e encaminhou o procedimento ao procurador André Bertuol, do MPF.
O procurador, ligado no piloto automático da função acusadora, concordou com os pedidos da delegada Marena. A juíza Janaína Cassol, depois de alguns dias, atendeu às solicitações da delegada e do MPF, e expediu mandados de busca e apreensão e prisão para 7 servidores da UFSC, incluindo o reitor.
Não ocorreu a nenhuma dessas autoridades perguntar se a origem das denúncias era confiável. Teriam descoberto facilmente que o corregedor era um homem irascível, encrenqueiro, cheio de rolos na Justiça. Nada no seu currículo, ou na sua vida pregressa o recomendava para a função de corregedor.
Nenhuma dessas autoridades levou em conta que os casos do Ensino à Distância eram anteriores à gestão de Cancellier, nem que os sete presos, o reitor inclusive, tinham a ficha limpa, emprego estável, endereço certo.
Nenhum refletiu por breves momentos na proporção que deve existir entre a decisão que tomam e o bem que se pretende preservar. Não passou pela cabeça que o aparato espetacular de sempre (mais de 100 agentes, uma parte deles vindos de outros estados) no caso, além da truculência manifesta, poderia custar mais caro do que o prejuízo que se queria apurar.
O livro de Paulo Markun é obrigatório para entender o suicídio do ex-reitor Cancellier, e as consequências sinistras que podem resultar da sanha punitivista, da ação insensata, desmedida de autoridades que, a título de passar o Brasil à limpo, acabam jogando o bebê fora junto com a água do banho.
O PT errou ao patrocinar tanto a legislação autoritária quanto ao inaugurar a era das grandes "operações da Polícia Federal", a pretexto de combater a corrupção. A autocrítica é do secretário geral do partido, deputado federal Paulo Teixeira (SP), em entrevista à ConJur.
"Todas essas propostas que o Brasil adotou foram a partir de sugestões de organismos internacionais. Essa é a armadilha, porque você fica pensando: 'Bom, se vem de um organismo internacional, trata-se da melhor solução porque já foi lapidada, e elaborada por um grupo de países'. Só que atrás dessas sugestões vêm os interesses de outros países, econômicos, que não adotam as mesmas medidas na sua origem", disse o advogado formado pela Faculdade de Direito da USP.
O paulista Luiz Paulo Teixeira Ferreira, 60, que também é professor, falou de como está nossa "fábrica de leis", o Congresso, de Ministério Pública, da "nova" e da "velha" política, de imprensa e opinião pública.
Márcio Chaer entrevista Paulo Teixeira
ConJur — Sobre o papel da "fábrica de leis" na produção da Justiça no Brasil. Como o senhor acha que o Congresso tem se saído com essa parte que lhe cabe na produção da Justiça? Paulo Teixeira — O Congresso tem se debruçado muito sobre o tema da Justiça no Brasil. O Código de Processo Civil, que fui o relator, tentou trazer inúmeras novidades para que as partes não só litiguem. A mediação e a conciliação foram um instrumental. Ao mesmo tempo dá mais efetividade, não permite com que as causas sejam debatidas ad infinitum. Ao mesmo tempo nos debruçamos sobre um pacote criminal, muito na direção oposta do que queriam setores autoritários, como o que foi proposto pelo Sergio Moro.
Modificamos, retiramos todos os conteúdos autoritários, negativos, e procuramos aperfeiçoar o sistema de Justiça Criminal, para que tivesse o chamado juízo de garantias, um aperfeiçoamento da ideia de que o julgador tem que ser imparcial, e para que não possa mais ocorrer o que aconteceu, por exemplo, na "lava jato", de um juiz militante, ativista, partidário, que destruiu parte da economia brasileira.
Conseguimos aprovar na Câmara, no Senado, o presidente da República sancionou, e houve a suspensão no Supremo Tribunal Federal. Agora há um entendimento no STF para a gente retomar o tema do juízo de garantias no Código de Processo Penal, com vacatio legis, que garante ao Judiciário tenha um tempo para implementar.
Aprovamos nesse período também outro instrumental, que achei importante: a lei contra o abuso da autoridade. Estávamos assistindo no Brasil juízes, promotores, delegados, parlamentares que abusam das suas prerrogativas. Conseguimos também uma legislação nova que prevê a punição para esse tipo de abuso.
E, mais recentemente, revogamos a Lei de Segurança Nacional. O governo se utilizou da LSN para perseguir opositores, jornalistas, advogados, militantes, inclusive ministros do STF. Instauraram um inquérito contra o ministro Gilmar Mendes, que disse que as Forças Armadas estariam sendo coniventes com o genocídio no Brasil por conta de indicar um general como ministro da Saúde.
Daí fizemos uma proposta de revogação da Lei de Segurança Nacional e de proposição de uma lei em defesa do Estado democrático de Direito. Foi aprovada. Revoga a anterior porque ela atuava em relação a crimes de opinião, portanto, inconstitucional. Também prevê a tipificação dos crimes de tentativa de golpe de Estado, preparação armada, o que é um tema muito atual, porque o presidente da República parece que namora com essa hipótese. E garantimos que os movimentos sociais são centrais para a democracia. Não podem ser punidos pelo Estado. Devem ser asseguradas suas atuações dentro do Estado democrático de Direito.
Foi assim que a deputada Margarete Coelho (PP-PI), que foi a relatora, conseguiu amarrar essas ideias em um bom projeto, que agora foi aprovado no Senado e está pendente da sanção do presidente da República [Bolsonaro sancionou a lei na última quinta].
ConJur — O Congresso tem reagido de uma maneira positiva quando desafiado, mas isso não tem sido comum. E no geral há uma queixa sobre a qualidade da lei produzida no Brasil. O que o senhor acha dessas críticas? Teixeira — São sempre bem-vindas. Aprovamos uma legislação muito autoritária nos últimos 20 anos. Uma lei de drogas muito autoritária, que aumentou o encarceramento de jovens envolvidos na questão. Pessoas que nunca deveriam ter sido presas. Temos que modificar! Tenho até um projeto de lei modificando a Lei de Drogas.
Aprovamos também uma lei muito autoritária em relação às organizações criminosas e também sobre a delação premiada.
ConJur – A Lei da Ficha Limpa, não é, deputado? A mais autoritária de todas... Teixeira — Praticamente esterilizou uma geração de políticos que perdeu a sua condição de continuar disputando por critérios muito subjetivos. Algumas pessoas que são honestas, que nunca cometeram crimes, mas perderam seus direitos políticos.
ConJur – Até por causa da Lei da Improbidade Administrativa, que é um exagero só, não é? Teixeira — A Lei da Improbidade Administrativa que também agora foi modificada e aprovada a sua modificação na Câmara. Está pendente de uma aprovação no Senado, E creio que no Senado e na Presidência da República ainda possa sofrer modificações, porque o que aprovamos na Câmara não está completo.
A LIA considera crime desviar dinheiro, malversação de dinheiro público, danos ao erário. Mas considera crime também, digamos, não atender a princípios constitucionais. Isso acabou gerando um enorme ativismo do Ministério Público e do Judiciário. Retirando os direitos de muitos bons políticos e gestores.
Por exemplo: o promotor da cidade mandava o prefeito construir cinco creches. Na história da cidade, eles conseguiram construir uma. E não tendo recursos para fazê-lo, é enquadrado na Lei de Improbidade Administrativa.
Se deveria punir crimes de desonestidade e não por não atender políticas públicas. Acaba gerando também responsabilidade objetiva. Então se você é prefeito e eu, porventura, sou o subsecretário de saúde e faço uma licitação, quem acaba respondendo por qualquer problema na licitação é você, prefeito. E isso você abusa na aplicação do Direito, extrapola a pessoa que praticou o erro e a autoridade do prefeito acaba respondendo.
Espero que a nova lei mantenha essa distinção entre o que é o artigo 9 atual, o que é a chamada improbidade dolosa, de eventuais acusações de natureza culposa. E assim não tenhamos mais esse abuso na aplicação do Direito no Brasil.
O Congresso está tentando corrigir os abusos que foram praticados no passado. Uma coisa que eu acho importantíssima: nenhum país desenvolvido aceita perder uma empresa constituída. É um patrimônio de uma sociedade. Quando você viaja e vai para um outro país, sempre vai dar uma olhada qual é a capacidade produtiva dele. Se é só um país agrícola ou se é um país industrial. Ou se é um país que está na era do conhecimento. Todos os países preservam as suas empresas.
O Brasil é um dos poucos países que, com o desejo, a vontade justa de combater a corrupção, destrói empresas. Isso é errado. Já discuti com juiz e com promotor. E falei: "Quando você vê uma empresa cometendo um crime de corrupção, vocês têm poder de afastar o gestor, botar um profissional e a empresa continuar, porque a empresa foi criada há cem anos, ela é uma construção social". E aqui no Brasil a má aplicação do Direito resultou em destruir quase que toda a indústria da construção civil pesada. Por má aplicação do Direito e a título de combate à corrupção.
Ora, quando você tem um problema de saúde, você não amputa o membro. É uma das últimas providências a serem adotadas, mas você tenta sanar o problema. Aqui a má aplicação da Lei Anticorrupção resultou na destruição de uma parte da indústria de infraestrutura do país.
ConJur — O senhor citou a Lei Anticorrupção, que foi sancionada pela presidente Dilma Roussef. As primeiras grandes operações do Brasil foram deflagradas no governo petista do ex-presidente Lula, como a Satiagraha. Tem uma autocrítica para se fazer aí do lado do PT? Teixeira — Tem uma autocrítica a se fazer. E aí há uma sutileza que acho que é importante a gente trabalhar. Todas essas propostas que o Brasil adotou foram a partir de sugestões de organismos internacionais. E qual é a sutileza? Essa é a armadilha, porque você fica pensando: "Bom, se vem de um organismo internacional, trata-se da melhor solução porque já foi lapidada, e elaborada por um grupo de países". Só que atrás dessas sugestões vêm os interesses de outros países, econômicos, que não adotam as mesmas medidas na sua origem. O que os Estados Unidos fazem com empresa corrupta. Todas. Da área de defesa, automobilísticas, todas as grandes que se meteram em corrupção. São extremamente pragmáticos. Afastam o gestor corrupto, exigem medidas de integridade e a empresa continua. Preservam as empresas. Aqui a má utilização dessa legislação fez com que nós matássemos as grandes empresas que tinham atestados de anos, de tecnologia, prospecção em alto-mar, de construção pesada. Mas sei porque nós matamos. Porque essas empresas começaram a disputar o mercado externo e concorrer com empresas estrangeiras. E nós, de maneira, creio eu, ingênua, adotamos no Brasil medidas que não poderiam ter sido adotadas. Então, tem, sim, uma autocrítica nossa em relação à legislação autoritária que aprovamos nas últimas duas décadas.
ConJur — O senhor trouxe à baila leis importantes, no sentido de equilibrar um pouco. Podemos dizer que historicamente no Brasil vigorava muita imunidade e muita impunidade. De repente passamos para o extremo oposto. As leis que o senhor citou claramente apontam para o equilíbrio. O senhor acha que com elas acaba a era dos linchamentos no Brasil? Teixeira — Eu ainda acho que precisa um pouco mais.
ConJur — De linchamento? Teixeira — Veja: a excessiva publicidade dentro de um processo judicial se traduz num linchamento. Hoje em dia, dependendo de como a imprensa faz a cobertura de um fato, não há como se mostrarem as provas contrárias, absolver alguém que já sofreu um linchamento público.
ConJur — O que falta são leis para conter linchamentos? Teixeira — Isso. Quero discutir com a relatora do Código de Processo Penal para que nós tenhamos mecanismos que impeçam a publicidade opressiva, que acontece muitas vezes em torno de processos públicos. Vou trazer aqui alguns casos: quantas pessoas foram condenadas, e quantas foram absolvidas na "lava jato"? E o que as pessoas receberam de publicidade opressiva? Vou trazer aqui o caso do presidente Lula.lava
Semana passada ele ofereceu uma espécie de levantamento, um panorama das ações que foram movidas contra ele. Praticamente todas as ações que foram promovidas contra ele fora de Curitiba, acabou absolvido. Agora qual foi o volume de publicidade opressiva em que ele foi submetido a uma acusação tão pesada. Na opinião pública, ele foi condenado, ainda que judicialmente tenha sido absolvido. E junto com ele tantos foram absolvidos, mas muitas vezes não têm retorno para a vida da pessoa a absolvição. A destruição foi de tal monta que não tem como recuperar.
Amanhã ou depois qualquer um de nós podemos ser acusados do cometimento de algum crime e receber alguma medida cautelar de prisão. Na Europa você não vê a pessoa sendo presa. Há um porta-voz que anuncia a prisão e diz dos motivos que a pessoa foi presa. Sempre me lembro daquele caso da Fifa, do João Havelange e demais dirigentes quando foram preso na Suíça. A Polícia tinha um cuidado de não permitir que a imagem da pessoa não fosse captada no momento da prisão. No Brasil, a prisão virou programa de TV. Há uma associação da Polícia com os órgãos de comunicação.
Ao efetuar a prisão, aquela pessoa já sofreu uma condenação ainda que possa não ter nenhuma culpa no cartório. Então a publicidade opressiva precisa ser cercada no Brasil, para a gente buscar um processo civilizatório.
Estamos em um processo em que o princípio da presunção de inocência não permite. Vamos trabalhar um pouco esse jovem de periferia que é preso. A TV vai levá-lo para o telejornal. Ele nunca mais vai conseguir um emprego na sua comunidade porque a sua imagem já foi associada ao crime, mesmo que possa ser defendido e provar que não tem nada a pagar em relação à lei.
Temos que mexer também na Lei de Leniência, para que não seja esse absurdo que é hoje. Veja o Cade. Se uma empresa é pega formando um cartel, ela oferece ao conselho as provas, faz o ajustamento de conduta, mas aquelas provas não são utilizadas criminalmente.
Aqui, se você entra em um acordo de leniência de uma empresa, depois o Ministério Público, o Tribunal de Contas a AGU podem te processar. Não tem o mesmo status que se tem nos EUA, na Europa, que se desenvolveram assim. Aqui parece que você quer destruir a empresa. Não acho que esse seja o desejo da nossa população.
ConJur — O clima de histeria não foi só contra o poder econômico, foi também contra o poder político. Tem aí um sem número de exemplos para mostrar os exageros que houve, e em decorrência disso surgiu o que foi apelidado de nova política, que de nova não tinha nada. Mas houve uma invasão de amadores na política, como já dizia o presidente Obama: "O político profissional é tão importante quanto o médico profissional". O senhor acha que a chamada velha política tomou as rédeas novamente do Congresso, por exemplo, ou do clima político no Brasil? Teixeira — Acho que são duas coisas. A primeira questão é que não há mudança em uma sociedade sem que você tenha pessoas experimentadas para fazer. Muitas que se elegeram por redes sociais não conseguiram dar conta de temas importantes da política brasileira. Não são pessoas que estão à frente dos grandes temas A política é muito importante. Agora não precisa ser a velha política.
Ao meu ver, o que está hoje presidindo o Congresso é a velha política. E isso não é bom. Eles desenvolveram um mecanismo de distribuição do orçamento entre a maioria parlamentar do governo. Isso é a velha política. É aquela que pulveriza, fatia o orçamento, faz com que o parlamentar se volte para a sua reeleição e não para o interesse público. Acho que a gente tem que resgatar a experiência, a participação, a história política. Mas temos que afastar os maus hábitos de sempre e que estão presentes no Congresso, principalmente nesse mecanismo do orçamento paralelo.
ConJur — Não falamos ainda mais detidamente sobre a imprensa. A imprensa tradicional impressa está caindo vertiginosamente, e a leitura no meio digital não está crescendo de forma que compense a perda. O senhor acha que a mídia tradicional está acabando? Teixeira — O que percebo é que a mídia tradicional brasileira e mundial, evidentemente, muda de papel. Até para ser literal. Muda do papel para a mídia digital. Agora, nesse período, no meio digital, nasceram outros meios de comunicação muito importantes e que às vezes conseguem fazer o embate com a mídia tradicional. Você vê muitos analistas com capacidade e que acabam confrontando uma análise ideológica enviesada, viciada de um órgão da mídia tradicional. E essas mídias ganharam muito espaço.
No meio jurídico tem duas, três mídias fundamentais para o meio que talvez tenham mais audiência do que a mídia tradicional. A [revista eletrônica] Consultor Jurídico hoje deve ter mais audiência para as questões jurídicas do que qualquer dos órgãos tradicionais. A ConJur é fonte para esses jornais também. Então surgiram gigantes na mídia, que eu chamarei agora de mídia alternativa.
Agora o Brasil carece, na minha opinião, de duas ou três medidas para equilibrar a mídia. A primeira é que não pode haver concentração em poucos grupos econômicos de tantas mídias. Isso em um país desenvolvido já não existe mais. Como é que se pode fazer a desconcentração? Pode fazer para o futuro. As próximas concessões seriam mais bem diversificadas, e não serão retroalimentadas pelos mesmos grupos.
O que impede a ConJur de ter uma televisão, outras mídias? É nesse sentido que acho que tem que ser pensada a comunicação no Brasil. Do ponto de vista do equilíbrio de opiniões. É preciso ter uma distribuição de verbas mais equânime, porque o setor público é fundamental para as verbas de publicidade. E uma terceira providência: chegar banda larga a todo mundo
Em resumo são essas três medidas: desconcentração na propriedade, melhor distribuição de verbas públicas e, por último, a promoção do acesso à internet de banda larga, que vão melhorar as condições de opinião pública.
ConJur — O senhor usou o termo gigante, agradeço, mas não é bem o caso. Gigante mesmo é o Google, que hoje traz para todos os sites do mundo de 60%, 70%, até 80% da audiência. O senhor recentemente, pela Associação Brasileira e Mídia Digital, teve contatos com a empresa. É uma novidade essa disponibilidade do Google de conversar com os sites que não são nem da mídia tradicional, mas também não são da nova mídia. Digamos que são da mídia alternativa como o senhor falou. Teixeira — O que aconteceu foi que, a partir de maio do ano passado, o Google mudou a administração do que eles chamam de algoritmos. E fez todas as mídias que tinham uma presença mais digital perderem audiência e recursos. Acabou diminuindo o alcance de uma série de órgãos de comunicação. Comecei a conversar com esses sites, que me trouxeram essa questão. Chamei o Google para conversar e a empresa reconheceu que mudou seus algoritmos e deu uma justificativa, na minha opinião, ruim: para atender à pandemia. Eu disse: "Mas, veja, esses sites a que nos referimos são aqueles que na pandemia foram críticos ao que o governo fez. Eles foram muito importantes para a pandemia, para trazer uma série de cientistas para o debate público, para o enfrentamento da doença, ainda que também a grande imprensa tenha feito. Não acho que ela tenha sido conivente com o terraplanismo do presidente da República".
Fizemos três reuniões. Creio que na segunda e até a terceira reunião eles não tinham entendido a gravidade do problema. Até que a gente apontou, botou o dedo na ferida. Estavam prejudicando o que a gente chama de opinião pública brasileira. E que nós precisávamos tomar providências mais sérias. A impressão que tive é que a partir daí o Google entendeu que não dava para tratar isso como uma questão menor. Até cheguei a falar para o representante da empresa, que ficou um pouco parecendo que não estava nem aí para a 'hora do Brasil', em outras palavras, não deram muita importância nas conversas, aos fatos. E isso fez a gente fosse mais forte no debate: "Vocês começaram a interferir na opinião pública brasileira e precisam rever isso".
Acho que vai precisar de uma regulação nova, que dê transparência a esses algoritmos. Tratam isso como se tivesse "neutralidade", mas o Facebook se associou ao Trump para chegar aquele resultado na manipulação digital que fizeram nas eleições americanas.
As falhas do WhatsApp ajudaram na manipulação eleitoral que houve no Brasil. Foram as falhas do aplicativo que foi preciso corrigir, a ponto de permitir que só enviasse a cinco pessoas por vez a mesma mensagem. Não há neutralidade. Eles têm que entender. O que interessa à democracia é transparência e controle de todos que acabam incidindo sobre a vida do país. E o Google precisa criar um mecanismo que devolva aquilo que foi retirado, pelo menos. Ninguém está pedindo um favor.
Está em cartaz a maior campanha contra a liberdade de expressão já vista no país. Ela foi articulada por pretensos justiceiros que adotam a mentira como técnica jornalística. O velho truque de fazer o mal em nome do bem — papel de embrulho para açular as arquibancadas.
A pantomima, no seu último influxo ganhou o estranho apelido de "lava jato". Os alicerces dessa construção foram "notícias" fabricadas e que agora vê-se, pelo espelho retrovisor, que metade delas foram lorotas. A parte verdadeira foi romanceada.
Como se estruturou essa novela? Vejamos:
O mercado do conteúdo tem um público enorme para o entretenimento, empreendimentos religiosos, mas um público muito reduzido para a informação política, econômica e científica.
Para aproveitar o sucesso da emoção sobre a razão, a mídia passou a embalar a informação jurídica e judicial — em geral árida e enfadonha — com sentimentos morais e maniqueísmo.
Essa metamorfose deu à luz o fetiche da corrupção. Criou-se a fantasia de que todo homem público ou empresário é corrupto. A campanha contra a liberdade de expressão começou por abolir a checagem das "informações" vendidas pelo lavajatismo. Qualquer rumor soprado pelos justiceiros passou a ter mais peso que documentos, provas e evidências que desmontasse. A começar pela falsa dimensão dada à prática da corrupção no país.
Na vida real, o maior problema dos brasileiros está nas relações de consumo. Isso representa cerca de 34% dos conflitos que chegam ao Judiciário. Em seguida, relações de trabalho: algo como 24% dos litígios. A criminalidade responde por pouco mais de 10%. Os crimes relacionados ao bloco da corrupção representam cerca de 0,03%.
Mas o charme de se derrubar um presidente, prender um deputado ou um empresário ricaço é insuperável, claro. Abusos de operadoras de telefonia, concessionárias, bancos ou planos de saúde não têm espaço nem interesse.
Até porque, pautas como a ineficiência do setor público (saúde, educação, segurança) ou do setor privado dão muito trabalho. É preciso pesquisar, estudar, fazer contas. É muito mais fácil sair gritando "pega ladrão". Não por outro motivo, os jornalistas mais famosos do momento (com exceções, claro) são verdadeiros linchadores.
O que isso tem a ver com liberdade de expressão? Tudo. Porque se essa deformação não for corrigida, as garantias e prerrogativas do jornalismo perderão o sentido. Não se fortalece as salvaguardas da imprensa fazendo vistas grossas para o fato de que há no meio vigaristas usando o manto do jornalismo para fraudar notícias — seja por dinheiro, seja por sensacionalismo.
O que tem caracterizado o noticiário sobre a Justiça? Existem os setoristas, os repórteres que acompanham julgamentos, leem as decisões, entrevistam as partes e os juízes. E existem aqueles que brilham na primeira página ou no espaço nobre das emissoras. São os animadores de auditório da escola do Ratinho, do Datena e outros artistas populares.
Sem tirar deles a importância que têm na história contemporânea, claro. Foram eles que construíram a fantasia da lava jato, elegeram Bolsonaro, Witzel, Doria e um lote de capitães, majores e coronéis no Congresso e Assembleias Legislativas. O Brasil deve a eles não só o avanço político como a gestão da crise sanitária da epidemia.
Isso foi construído com manchetes terroristas (e mentirosas) como a de que a prisão depois do trânsito em julgado colocaria nas ruas 180 mil "bandidos". Que o reconhecimento da suspeição de Sergio Moro anularia centenas de processos ou a velha ladainha de que anular ilegalidades de Curitiba seria trabalhar para corruptos.
A Academia está devendo ao país estudos menos conservadores a respeito do fenômeno do lavajatismo. O que pode explicar que procuradores e juízes de primeira instância tenham se tornado mais poderosos que seus órgãos de cúpula? Fenômeno igual ao que se viu com delegados da Polícia Federal e auditores da Receita. Quem acreditará em dez anos que um dia um grupo que se apelidou "força tarefa" governou o país, acima da Presidência da República e do Congresso?
Para voltar ao poder, movimentam-se "poetas", "escritores", "filósofos" e jornalistas em fim de carreira e sem perspectivas, que fugiram do ostracismo com a onda populista. Depois de verem suas balelas desmentidas, tentam desfibrilar o cadáver da fantasiosa "lava jato". A manobra de ressuscitação da "operação" consiste em insuflar ataques ao STF para emparedar seus ministros. Querem fazer crer que um acusado não é absolvido por falta de culpa, mas porque o juiz está do lado da corrupção.
É o encontro do voluntarismo desinformado com a perversidade. Um gênero de idealismo que confunde ingenuidade com esperteza. Ou com interesses financeiros e comerciais mesmo, como bem mostram falsos constitucionalistas e professores como Joaquim Falcão e Modesto Carvalhosa.
Um exemplo da farra: o comercialista Carvalhosa — que se apresenta como "professor aposentado" da USP, sem ser — dá aula nesta segunda-feira (3/5) para um comitê bolsonarista da Câmara dos Deputados. O tema é uma pretensa "PEC da 2ª instância". Quem sabe o professor ensine, como qualquer estudante sabe, que é inadmissível proposta de emenda constitucional para alterar cláusulas pétreas. Quem sabe.
Parafraseando o poeta Pablo Neruda, "você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências". Ou então, Eça, na frase do Conselheiro Acácio: "As consequências vêm sempre depois". Mas em pelo menos um aspecto não é preciso esperar o futuro. A imprensa tradicional só tem encolhido. Isso pode estar relacionado com suas escolhas. Ou ao seu controle de qualidade.
Delegado informou ao juiz que há indícios de que o hacker agiu com dolo para adulterar os arquivos. Isso não está no inquérito e indica armação para ajudar Moro e Dallagnol, agentes dos Estados Unidos na operação policial lava jato, que destruiu empresas brasileiras que atuavam internacionalmente. Lewandowski desautorizado
por Joaquim de Carvalho
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O delegado Felipe Alcantara de Barros Leal produziu um documento na semana passada sobre as mensagens acessadas por Walter Delgatti Neto que contém pelo menos uma inconsistência flagrante. Ou mentira.
Em texto entregue à Justiça, ele disse que “se reúnem indícios de que o invasor agiu com dolo específico não apenas de obter como também de adulterar os dados”.
Baseado em que o delegado fez a afirmação de que Walter Delgatti Netto aparentemente queria mudar as mensagens?
Onde estão estes indícios? Perguntei à Polícia Federal nesta terça-feira, mas a corporação preferiu o silêncio.
E é um caso grave, já que o relatório do delegado Luís Flávio Zampronha, que presidiu o inquérito da Operação Spoofing, não faz nenhuma referência a esses indícios.
Se o delegado Felipe Alcantara encontrou esses indícios, deveria investigar ou informar ao colega.
Por que ele fez essa afirmação, em documento oficial?
A resposta pode estar no julgamento que será realizado nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal sobre a incompetência da 13ª Vara da Justiça Federal para julgar os casos de Lula.
A PF pode estar tentando ajudar Moro e os procuradores, que aparecem nas mensagens em ações que podem ser interpretadas como crimes contra a dignidade humana e a soberania nacional.
Nas conversas, os integrantes da Lava Jato demonstram que trabalham em estreita colaboração com outros países, principalmente os EUA, sem recorrer aos mecanismos previstos em acordos internacionais que têm força de lei.
Os diálogos também deixam claro que Sergio Moro era o verdadeiro chefe da investigação, o que violenta o princípio universal que garante a todo cidadão o direito a um julgamento justo.
Além disso, os procuradores falam sobre a transferência de preso como método para forçar delação premiada.
Os diálogos guardam absoluta coerência com fatos que já são de conhecimento público. Ou seja, os procuradores fizeram o que dizem que fariam.
A manifestação do delegado Felipe Alcântara também faz referências às perícias realizadas nos arquivos acessos por Delgatti e que estão sendo tornados públicos.
Ele diz que os peritos não podem confirmar a autenticidade dos diálogos.
Com base em perícias de mentirinha, o coronel tentou convencer os brasileiros na época de que os militares que queriam explodir uma bomba onde se realizava o show do Dia do Trabalhador com 20 mil pessoas teriam sido, na verdade, vítimas de ação de militantes de esquerda.
Investigação realizada pelo Ministério Público Militar 20 anos depois concluiu que aquele inquérito era uma farsa.
Reproduzo o e-mail que encaminhei à Polícia Federal depois de conversar com o responsável pela comunicação do órgão:
Encaminho solicitação de informação sobre manifestação do delegado Felipe Alcantara de Barros Leal, publicada na imprensa, a respeito da perícia realizada nas mensagens apreendidas na Operação Spoofing.
No texto, ele diz que o hacker (ou hackers) agiram com dolo para adulterar mensagens acessadas e tornadas públicas pelo site Intercept e, em outro momento, após decisão do ministro Ricardo Lewandowski.
Pergunto: em que se ele se baseou para fazer essa afirmação oficialmente, em nome da PF, uma vez que se desconhece qualquer informação nesse sentido.
A pergunta faz sentido porque, no limite, essa manifestação pode induzir o Poder Judiciário a erro.
Por outro lado, caso haja evidência de que o hacker ou hackers agiram com esse dolo, se está diante de uma informação relevante, que precisa ser divulgada.
A manifestação do delegado produziu já um efeito.
O juiz Ricardo Leite, que conduz o processo na 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, negou a vítimas da Lava Jato acesso às mensagens, com base na informação de que não se pode garantir sua autenticidade.
PS: Dois jornais divulgaram a manifestação inconsistente do delegado da Polícia Federal, Globo e Estadão.
Os dois veículos se destacam desde 2014 por fazer a propaganda da Lava Jato.
Em 1981, quando houve a explosão no Riocentro, no colo de um dos militares envolvidos no atentado terrorista, o Globo fazia jornalismo, e se empenhou, na época, a mostrar as mentiras do inquérito do coronel Job Lorena
Agora publica a manifestação inconsistente do delegado sem nenhuma apuração complementar ou crítica. A velha imprensa perdeu completamente o decoro.
Nota deste correspondente: Parlamentares precisam investigar o contrassenso, a absurdidade, a discordância, a contradição, a confrontação dos relatórios de Felipe Alcantara versus Luís Flávio Zampronha. Inclusive o STF, desde que Felipe Alcantara afronta decisões do ministro Ricardo Lewandowski que garantem o acesso a conversas hackeadas, e o juiz Ricardo Leite nega. Depois de Moro, sempre, sempre essa 'quebra de hierarquia', essa rebeldia de juiz de piso contra ministro do Supremo. O STF virou casa de noca. Qualquer delegado de polícia, o mais obscuro procurador, todo juiz com um deus na barriga, cada um no seu divino feudo, considera o abuso de autoridade, o abuso de poder cousas naturais, direitos do cargo que ocupa, com anistia antecipada para todos os crimes.
Policiais fazem perícia na explosão que fez vítima um sargento do Exército, em 1981. Quarenta anos depois, policiais repetem a farsa circense, para Lula "apodrecer na cadeia"
Jornalista Márcio Chaer, editor do portal Consultor Jurídico, demonstra como a “perícia” da PF sobre as mensagens de Delgatti foi feita sob encomenda para ajudar o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba condenados por incompetência, parcialidade, suspeição, abuso de poder e sociedade em uma fundação secreta, bilionária, com dinheiro dos Estados Unidos, saqueado de empresas brasileiras
Um sargento morreu por causa da explosão de uma bomba dentro do automóvel em que estava e que arrebentou também grande parte da barriga do capitão que o acompanhava. Os dois, trabalhando para o serviço secreto do Exército, haviam sido incumbidos de explodir um centro de convenções onde 20 mil pessoas assistiam a um show alusivo ao Dia do Trabalhador.
Isso aconteceu no dia 30 de abril de 1981, uma quinta-feira, véspera do 1º de Maio. Mais coragem que os dois desastrados, que acabaram cometendo um atentado contra si próprios, teria o coronel do Exército, Job Lorena, dois meses depois. Estribado em uma perícia de 700 páginas, Lorena tentou convencer os brasileiros de que a bomba fora jogada no carro por terroristas — teoria que seria desmentida pelas investigações.
Nesta segunda-feira (12/4), três peritos da Polícia Federal entraram para o hall da fama junto com o coronel Lorena. Elcio Ricardo de Carvalho, Wilson Dos Santos Serpa Júnior e Fábio Melo Pfeifer produziram um "laudo", em nove páginas, para duvidar da autenticidade dos arquivos desviados pelo hacker Walter Delgatti, do armazém de dados do procurador Deltan Dallagnol.
Com um texto discursivo e retórico, o trio esbanja adjetivos e não oferece qualquer base concreta para suas conclusões — para tentar dar ares de sentença judicial ao que deveria ser um trabalho técnico. Os peritos não cruzaram nem checaram informações, não auditaram os arquivos e, por fim, não indicaram uma única inconsistência para concluir que os diálogos "podem ter sido" adulterados.
O hacker Walter Delgatti não disse que invadiu o Telegram, mas sim o material que Deltan armazenou na nuvem. Dali, ele baixava os arquivos no Dropbox. E, conforme explica o próprio Dropbox, qualquer alteração feita pode ser verificada. O que, se foi feito, não aparece no "laudo". Claro que tudo seria esclarecido se os envolvidos franqueassem seus dispositivos para verificação.
Algoritmos à parte, é possível verificar a veracidade das conversas. Os diálogos citam ofícios, decisões, notícias, reuniões, viagens que são combinados nos diálogos. Qualquer jornalista checaria se os fatos ocorreram depois: ofícios e decisões têm número e data; as notícias estão na internet; para reuniões há agendas e para viagens há bilhetes aéreos.
Nos arquivos, além de planilhas e documentos, há fotos, vídeos e áudios. Mas, segundo os peritos, não se pode presumir que isso tudo não foi adulterado.
Mais que isso, se o hacker baixou os arquivos de Deltan da nuvem — e os equipamentos usados pertencem à PGR, assim como telefones, laptops e computadores dos interlocutores de Deltan —, as informações que os peritos deveriam procurar estão nas mãos do próprio Estado. Ou seja, ao alcance da PF. Mas o fato de os procuradores terem negado ao Estado a prova que o Estado diz ter procurado, aparentemente, não interessava aos policiais.
Alguns dos procuradores da República de Curitiba se habilitaram no processo contra o hacker na condição de vítimas e receberam cópia dos arquivos. Eles nunca apontaram qualquer divergência entre o que escreveram e o que está documentado a partir da apreensão dos arquivos. Ao contrário, a procuradora Jerusa Viecili pediu desculpas a Lula pelo que disse a respeito do velório do neto do ex-presidente. Sergio Moro pediu desculpas ao Movimento Brasil Livre (MBL) por tê-los ofendido nos diálogos.
Não se apurou se de fato houve os encontros com procuradores dos Estados Unidos ou da Suíça para trocar informações estratégicas contra as empresas brasileiras. Nem se combinaram "rachadinhas" com dinheiro de multas de empresas. Ignorou-se, ainda, que, no Laudo de Apreensão dos arquivos, os diferentes dispositivos foram logo de início periciados — e considerados íntegros.
Nesse laudo de apreensão, ressalvaram os primeiros colegas dos peritos a avaliar o material, caso surgisse alguma dúvida posterior, qualquer possível adulteração poderia ser detectada, já que a Polícia Federal tem capacitação técnica para isso. O novo "laudo", divulgado dois dias antes de o Supremo Tribunal Federal discutir de novo a incompetência de Curitiba e a suspeição de Moro, tem um lugar na história, ao lado do Inquérito Policial Militar de Job Lorena.
Nos diálogos da apelidada turma da "lava jato" interceptados pelo hacker Walter Delgatti tem de tudo. Jornalistas instigando procuradores a denunciar pessoas, procuradores combinando como manipular a opinião pública — em geral para emparedar ministros do Supremo — e até articulações para garantir a eleição de aliados, quando Jair Bolsonaro chegou ao poder.
Mostram também que o grupo de Curitiba, estribado na imensa popularidade que alcançou, passou a comportar-se como um poder autônomo. Mais que isso: um Estado paralelo que passou a lidar com governos estrangeiros como uma República independente.
O grampo ilegal é condenável quando flagra a intimidade das conversas pessoais. Mas é válido e repleto de interesse público quando revela a desonestidade e a covardia de agentes do Estado que se valem do cargo e da função para perseguir pessoas e não a Justiça.
Este site foi objeto de 24.639 menções desses interlocutores. Em geral, diatribes. Sérgio Moro e seus parceiros atribuem as notícias e reportagens sobre eles a pretensos interesses escusos da empresa de comunicação que produz o conteúdo ConJur.
Os supostamente diligentes servidores públicos se mostram especialmente irritados quando o site desmascara mentiras levadas a público para fabricar condenações artificiais. Um caso típico foi quando procuradores inventaram a farsa de uma acusação que não existiu. No caso, que a OAS teria dado de presente ao ministro do STF, Dias Toffoli uma reforma em sua casa.
Para quem quisesse ver, Toffoli ofereceu as notas fiscais mostrando que ele pagou a empresa que se desincumbiu da obra. Mas não foi essa a notícia que estrelou a capa da revista Veja daqueles dias. O que se dizia era que um anexo do acordo de delação trazia essa "revelação". Descoberta a mentira (não existiu o presente nem o anexo), o que fez Rodrigo Janot? Desistiu da delação imputando à empresa o que ele e seus asseclas haviam feito: vazar o que não existia.
Em uma conversa, o próprio Moro alertou Deltan Dallagnol sobre um rastro que os procuradores deixaram ao tentar comprometer Toffoli: a irritação do MP com uma decisão do ministro que favoreceu o ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, dias antes. Foi um truque recorrente: para evitar anulação de ilegalidades, atacava-se os ministros ou seus familiares para colocar o STJ ou STF no seu devido lugar.
Um blog quase marrom
Veja o momento em que Moro adverte Deltan de que estava dando bandeira e quando o procurador tenta despistar dizendo que não sabia do anexo. O fato de que Curitiba sequer poderia investigar um ministro do Supremo, no caso, parece um mero detalhe:
23 AUG 16 07:21:55 É bom ficarem espertos por aí 07:36:37 Sem artigos 07:49:31 Deltan: Não entendi 07:54:20 Aquela artigo do hc do Paulo Bernardo por exemplo colocou vcs na linha de suspeitas desse vazamento 16:57:42 Cuidado para não reagirem mal 17:13:10 Deltan: Falamos muito sobre isso hoje. PGR está falando no CNMP sobre isso 24 AUG 16 11:10:42 Sabemos. Mas nesse caso nós não tínhamos nem a informação em anexo. Não há dúvidas de que foi a defesa. Conjur hoje é quase um blog marrom, só tenta nos prejudicar. Por isso encerramos as negociações com a OAS. Existe um risco oposto também que discutimos bastante, que é dizerem que estamos protegendo o Toffoli
A autoapelidada "força tarefa" tem méritos periféricos que nem seus piores inimigos podem negar. Eles foram eficientes no ofício. Trabalhavam bastante e jamais serão acusados pela morosidade da Justiça. Fora o fato de dispensar o detalhe da prova para buscar condenações, eles trabalharam de verdade. Outra atenuante é que, verdadeiramente, é injusto que respondam sozinhos por um surto coletivo que envolveu a imprensa, seus leitores e tribunais.
Mas ao enveredar pelo reino da fantasia, eles acabaram por se deixar dominar pela paranoia. Foi o que aconteceu diante de um texto técnico e correto veiculado pela ConJur e de um pedido de entrevista feito a candidatos ao cargo de PGR. Mario Bonsaglia, craque em armações de bastidor, mobilizou os colegas para tentar neutralizar um inexistente movimento para atrapalhar seus planos. Sabe-se lá por que razões secretas o grupo quis enxergar na notícia uma conspiração.
A notícia que saiu, neutra e burocrática, apenas divulgava as ideias de cada "candidato". Mas os poderosos do dia pareciam querer controlar mais que as estações do ano. Queriam também controlar as horas do dia. E resolveram, do alto de sua onipotência, identificar uma conspiração que envolvia o ministro Gilmar Mendes, do STF. Acompanhe a conversa descabelada e hilária dos procuradores. E, claro, a astúcia do grupo ao urdir um plano para anular os pretensos efeitos de uma notícia produzida com o único objetivo de informar o leitor de um fato de interesse público.
Divirta-se: 11/05/2015 15:07:56 Poder ser que exista algum movimento “por aí” para fortalecer e estimular a ação penal privada subsidiária. Não me surpreenderia se a ADPF começasse a dar at (...) 15:13:12 Mario: A repórter chegou a indagar sobre o risco de ação penal privada subsidiária, caso o arquivamento não fosse feito em juízo. 15:20:00 Helio: Mário, tendo em vista o tom hostil da reporter e o histórico do Conjur, será que não seria interessante a SECOM soltar uma entrevista com você, exatamen (...) Conjur soltar a dele? 15:20:32 Helio: Fale com a SECOM, veja a opinião deles. 15:21:00 Monique: Mencionando que a entrevista foi dada a Conjur nos termos tais e tais 15:21:32 Luiz Lessa: verdade, antecipa a notícia, bota eles para correrem atrás 15:21:32 Helio: Acho que não deverá fazer qualquer referência ao conjur 15:22:12 Helio: Na verdade, o propósito seria a SECOM furar o conjur, porém sem o tom hostil que eles empregarão. 15:23:32 Robalinho: A ideia tem um lado bom. Mas pode gerar ainda mais hostilidade da conjur. Ninguém gosta de levar furo. E da proxima vez opodem nem ouvir o Már (...) 15:23:52 Luiz Lessa: Aviso Sua delegação para o gênero Procedimento Extrajudicial/Adm não permite a visualização de documentos com grau de sigilo Reservado 15:24:36 Luiz Lessa: Esse o ÚNICO facilitando a vida de regional idiota 15:24:40 Robalinho: Há um meio termo que é avisar ao CONJUR que sairá repiortagem a ser distribuída pela secom imediatamente depois que divulgada a da conjur (...) furo e saberão que estarão sendo marcados em cima. 15:24:44 Helio: O Conjur é hostil porque ganha dinheiro das bancas criminais para assim sê-lo. 15:24:52 Luiz Lessa: sim 15:25:04 Robalinho: Há contudo diversos graus de hostilidade. Rs 15:26:00 Luiz Lessa: nós deveríamos fazer um negócio desses jurmesmo ou semsacanagemjur ou jursemjabá (esse é o trademark e o copyright) 15:28:12 Mario: Temos a gravação da revista, caso haja alguma distorção das declarações dadas. 15:28:40 Mario: “da entrevista” 15:29:28 Robalinho: (imagem) 15:29:32 Robalinho: Off topic: João cAROLS, é você dando dois beijinhos em Dilma? Rs 15:29:44 Robalinho: João Carlos 15:30:48 Robalinho: Cuidado exemplar Marios. Mas dada a relevância do tema acho que uma reportagem da secom cairia bem. Nisso concordo com os colegas. Apenas acho (...) conjur e avisada a conjur. Já procedi desta forma na PRDF. 15:30:56 Helio: é o Bigonha 15:32:44 Robalinho: (imagem) 15:32:48 Robalinho: Sei não, para mim é o joão no jetset paulista rs 15:34:12 Helio: O João é o de frente ou o de perfil? 15:34:46 Robalinho: (emojis de risada) 15:46:12 Silvio: Assinatura da devolução de 157 milhões à prtrobras em razão da colaboração premiada de Barusco...
Nota da Redação: este site reconhece o direito dos procuradores de falar mal de quem não gostam. Não há, portanto, motivo para deblaterar sobre as maledicências dessas conversas pessoais. O mesmo não se pode dizer do uso da máquina pública em horário de expediente, para conspirar e cuidar de iniciativas sem nexo algum com o interesse público.