Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

24
Fev24

Lula é massacrado por comparar nazistas

Talis Andrade

Muro da Vergonha. Palestino separado de Jerusalé

 

Por Jair de Souza

Em sua participação recente num evento na Etiópia, Lula condenou com veemência a atitude do governo israelense de massacrar impiedosamente o indefeso povo palestino. Lula considerou inadmissível a matança indiscriminada de tanta gente, em sua maioria mulheres e crianças.

Visando chamar a atenção para suas denúncias dos horrendos crimes que estavam sendo cometidos pelo Estado de Israel, Lula disse que cenas de tanta atrocidade só tinham sido vistas na Alemanha, durante o regime nazista, sob o comando de Hitler. Isto levantou a ira dos dirigentes sionistas do Estado de Israel, que resolveram partir para uma brutal arremetida contra Lula e o Brasil.

Como forma de humilhar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, o ministro de relações exteriores do governo sionista o convocou para uma reunião de emergência. Só que, em lugar de realizá-la em seu gabinete no ministério correspondente, nosso embaixador teve de comparecer a um espaço público e com microfones abertos. Ou seja, o que se queria era envergonhar nosso país diante de todos.

Mas, o que mais está causando indignação é constatar como a mídia corporativa de nosso país está repercutindo estes acontecimentos. Em lugar de se mostrar solidária com nosso governo neste momento em que é vilipendiado por autoridades estrangeiras, nossa mídia corporativa se alinhou em uníssono com os agressores. Tanto assim que praticamente todas as manchetes dos principais órgãos de comunicação capitalistas de nosso país expressaram severas condenações à fala de Lula e total subserviência às atitudes de represália do governo sionista de Israel.

O que unificou em sua ira os dirigentes sionistas do Estado de Israel e toda nossa mídia corporativa foi a menção comparativa que Lula ousou fazer entre as práticas assassinas atuais do regime sionista do Estado de Israel e as atrocidades cometidas pelo nazismo de Hitler contra vários grupos humanos, dentre os quais os judeus tiveram peso relevante. Em vista disto, é mister que repassemos os fatos para tentar esclarecer o que há de verdade por trás de tal indignação.

muro_israel_palestina o muro da discordância.jpg

 

Antes de retomar a argumentação, gostaria de fazer referência a uma matéria recente que publiquei neste enlace (https://www.monitordooriente.com/20240122-sionismo-e-nazismo-no-es-lo-mismo-pero-es-igual/), na qual muitos dos aspectos que vamos levantar já tinham sido abordados com algo mais de atenção.
 
É evidente que os fenômenos históricos são sempre exclusivos, que não se repetem, uma vez que cada fenômeno reflete certas peculiaridades que são exclusivas de cada situação específica. Assim que o fascismo italiano, o nazismo alemão, o apartheid sul-africano, etc. nunca vão ter um equivalente total em outros lugares e outros tempos. No entanto, é mais do que válido relacionar algum fato novo em função de sua semelhança com certos aspectos básicos de um ou outro regime. E é sobre alguns destes pontos coincidentes entre o sionismo israelense e o nazismo alemão que gostaríamos de tecer alguns comentários.

Hitler é historicamente conhecido pela crueldade com que tratou aos grupos humanos com os quais ele antipatizava. Ele odiava os comunistas e, por isso, tratou de exterminar fisicamente os comunistas, ele odiava os ciganos e, em consequência, se empenhou na eliminação dos ciganos, ele detestava os judeus e, em função disso, se dedicou a erradicar sua presença da Alemanha e do resto da Europa. Então, nada mais simbólico do que medir outras grandes maldades cometidas por diferentes estadistas, em diferentes momentos, em diferentes países, do que correlacioná-las com aquelas características associadas a Hitler e ao nazismo.

Com isto em mente, vejamos: Netanyahu, o Primeiro Ministro do sionista Estado de Israel, ordenou que suas forças militares atacassem a região da Faixa de Gaza, território palestino onde se aglomeravam mais de 2 milhões e meio de habitantes. As ordens do governo israelense foram taxativas: arrasar com tudo o que fosse possível arrasar; eliminar quaisquer possibilidades de que o povo palestino continue vivendo naquele espaço que, antes mesmo desta nova arremetida, já era extremamente precário.

Em razão dos bombardeios inclementes das forças militares sionistas, já foram contabilizadas mais de 35.000 mortes de civis. Esta cifra se torna ainda mais terrível quando se tem em conta que, destas dezenas de milhares de mortes, mais de 70% se referem a crianças e mulheres. Portanto, cabe-nos fazer uma perguntinha: uma matança deste quilate faz-nos recordar o que fazia Hitler e seu regime nazista, ou não?

O governo sionista comandado por Netanyahu vem impondo um bloqueio ferrenho à Faixa de Gaza há mais de dois meses, não permitindo a entrada de alimentos e água, cortando o fornecimento de eletricidade, combustíveis, gás, etc., mantendo esses quase dois milhões e meio de pessoas privadas das mais elementares condições de vida. Outra perguntinha: ninguém consegue se lembrar de Hitler e do Gueto de Varsóvia, ao saber desses fatos?

O sionista Estado de Israel, comandado na atualidade por Netanyahu, já destruiu quase toda a infraestrutura de assistência básica da Faixa de Gaza. Seus hospitais foram bombardeados e destruídos, suas escolas foram derrubadas, as residências de sua população foram quase que inteiramente demolidas pelos bombardeios das forças militares sionistas. Seria possível não pensar em Hitler ao ter conhecimento disto?

Em vista do que acabamos de expor, o que poderia tornar injustificável a menção feita por Lula a Hitler quando abordou os crimes do sionista Estado de Israel, sob o comando de Netanyahu? Nada, absolutamente nada. O difícil era não fazer essa correlação.
 
Parafraseando o que eu havia dito em meu outro texto: Netanyahu e o Estado de Israel não são o mesmo que Hitler e a Alemanha nazista, mas estão agindo exatamente igual.
 
23
Fev24

Mídia vira-latas vive de mentiras no Brasil

Talis Andrade

Gaza Israel.jpg

 

Entenda por que o presidente Lula venceu o embate com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu

 

Por Tiago Barbosa, no X

A mídia inventou que Lula estava isolado – errou: a chefe da diplomacia da UE e o secretário dos EUA destacaram papel do Brasil.

A mídia apostou nas críticas à fala sobre Gaza – errou: nenhum chefe de estado relevante repreendeu o presidente.

A mídia aventou a imposição de sanções contra o Brasil – errou: nenhum país sugeriu esse absurdo.

A mídia repudiou a hipótese de analogia com nazismo – errou: estudiosa de genocídios deu razão a Lula.

A mídia delirou para atribuir a Lula antissemitismo – errou: intelectuais e jornalistas judeus derrubam essa tese.

A mídia apontou banalização do holocausto por Lula – errou: quem usou em chacota foi o chanceler israelense.

A mídia temeu represália dos EUA por fala de Lula – errou: Biden manifestou solidariedade (tímida) aos palestinos.

Na fantasia criada pela mídia vira-lata e iludida, a única verdade é viver de mentiras.

O ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, classificou como “absurda” a decisão de Israel que considerou o presidente Lula como “persona non grata” devido a fala em que ele comparou Netanyahu a Hitler, pelos ataques israelenses contra os palestinos em Gaza. À jornalista Andreia Sadi, do G1, Celso Amorim afirmou: “Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é persona non grata é Israel”. Confira.

Após conversar por duas horas com o presidente Lula (PT), o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que as relações com o Brasil estão "mais fortes que nunca".

O alto representante da União Europeia para Política Externa, Josep Borrell, disse nesta quinta-feira (22) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparou a guerra de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. E sim os crimes de guerra de Netanyahu e Hitler. As declarações foram dadas em entrevista a um restrito grupo de veículos de imprensa internacionais, incluindo a ANSA, à margem da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro.

Reunidos no Rio de Janeiro, ministros do exterior do G20 defenderam a criação do Estado Palestino como forma de acabar com o conflito na Faixa de Gaza. O chanceler Mauro Vieira, anfitrião do encontro, voltou a defender a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas

23
Fev24

Carol Castro entrevista Dawisson Lopes - II

Talis Andrade

‘Israel conclamou os líderes do mundo a criticarem as falas de Lula. Não aconteceu nada.’

Gaza Ali Divandari.jpg

 

No geral, como o senhor avalia a fala do presidente? Deveria ser mais branda ou ele acertou ao subir o tom?

Tem um dilema nessa história do Lula. Eu acompanhei a construção da política externa brasileira nessa gestão presidencial. Li e ouvi todos os discursos do Lula até o momento, assim como de seu chanceler, do Secretário Geral, os materiais que são produzidos pelo Itamaraty. 

As pessoas não votam por causa da política exterior, mas a grande imprensa brasileira utiliza o tema para questionar o governo.

Posso dizer que houve uma escalada nas últimas semanas, Lula aumentou o tom. Ele falou mais de uma vez num tom muito crítico do que se passava, das atitudes de Israel em Gaza. Foram vários pronunciamentos feitos de forma sequencial. E talvez pudesse fazer outras dezenas ou centenas de pronunciamentos com um linguajar mais diplomático que não teria a mesma repercussão que teve dessa vez. É difícil avaliar, sendo honesto, não sei qual vai ser o saldo desse posicionamento, mas se a ideia era conseguir chamar a atenção, o Lula logrou êxito. Claro que ele vai ter também de lidar com os efeitos colaterais internamente, a resistência que essa fala gerou. 

Internacionalmente não vejo nada importante se configurando de forma negativa. Domesticamente sim, houve muito ruído. Há de se ponderar se o saldo é positivo. Parece, até o momento, as coisas podem indicar para que a fala dele envelheça bem, acho que é bem possível que isso aconteça. Passadas as primeiras 48 horas e nada de sério aconteceu internacionalmente, acho que Lula acaba conseguindo firmar sua posição. E isso não havia acontecido antes. Chegamos a um novo patamar da relação com Israel. Houve de fato um posicionamento mais assertivo. Isso é novo.

 

O Brasil tem alguma perda econômica e diplomática com a ruptura com Israel?

Acho que a perda econômica é de uma escala muito pequena. A participação Israel na nossa corrente de comércio é menor do que 0,4%. Muito pequena. E diplomaticamente o Brasil vive às turras com Israel há muito tempo. 

Se reaproximam e depois voltam a estrilar, então não acho que seja nenhuma grande ruptura. A verdade é que há muito exagero nesse momento. Mas quem olha para a história sabe que a relação entre Israel e Brasil sempre foi tensa. Ao menos desde os anos 1970, quando o Brasil votou favoravelmente à uma resolução da ONU que classificava o sionismo como uma forma de racismo, isso é de 1975, a partir dali tem um estremecimento. De tempos em tempos, as acusações, o dedo em riste volta a aparecer. Basta lembrar alguns momentos.

Em 2010, o Brasil propôs a Declaração de Teerã, um acordo com Turquia e Irã, para tentar demover o Irã de seguir adiante com seu programa nuclear. Quem ficou absolutamente irritado e pressionou para que a declaração de Teerã fosse barrada foi Tel Aviv, foi Israel. 

Em 2014, numa dessas crises em Gaza, quando Dilma era presidente, ela mandou o embaixador do Brasil em Tel Aviv voltar para fazer consultas. E foi quando o porta-voz da chancelaria disse que o Brasil era um anão diplomático. Então esse tipo de mal-estar é mais ou menos comum nessa relação. A exceção foram os anos de Bolsonaro, quando o Brasil abandonou uma posição mais pró-Palestina, e se posicionou sob o guarda-chuva de Israel, mas isso é exceção à trajetória.

 

Existe de fato alguma relevância em se discutir o impacto eleitoral da fala de Lula, com eleições ainda tão distantes?

Não tem nenhuma lógica em se discutir o impacto eleitoral nesse episódio. Estamos falando de uma comunidade pequena, não são muitos votos. É uma comunidade que majoritariamente já fazia oposição, pelo menos de forma mais institucional. Eles já eram bolsonaristas, ou ao menos tiveram, nas últimas eleições, muito próximas de Jair Bolsonaro. Então, não se perde o que nunca se teve. 

A perda econômica é de uma escala muito pequena. A participação Israel na nossa corrente de comércio é menor do que 0,4%.

O argumento é de que existe um reforço do nexo entre os evangélicos e Israel. Mas, novamente, é um segmento da população brasileira que não vota tradicionalmente com a esquerda, ou não tem votado nos últimos anos. E o argumento de que há muito dinheiro envolvido e que poderia prejudicar o financiamento das campanhas, esse lobby organizado de Israel em São Paulo e no Rio, especialmente, poderia implicar problemas para o financiamento de campanhas do PT, isso é uma bobagem. É uma transmigração, é um contrabando do modelo de financiamento dos Estados Unidos. O nosso modelo é bem diferente, a gente não tem essa história de financiamento privado, apenas privado. Então, isso é uma versão equivocada para se pensar o assunto.

LEIA TAMBÉM NO INTERCEPT

 

23
Fev24

‘Israel conclamou os líderes do mundo a criticarem as falas de Lula. Não aconteceu nada.’

Talis Andrade
Cientista político e professor da UFMG, Dawisson Lopes minimiza efeitos diplomáticos da declaração de Lula sobre Holocausto

 


A declaração do presidente Lula, ao comparar o genocídio em Gaza ao Holocausto contra judeus, abalou as relações diplomáticas entre Brasil e Israel e rendeu uma longa – senão histérica – a cobertura da imprensa nacional. A fala foi feita durante um encontro da União Africana, na Etiópia, após Israel prometer novos ataques em Rafah, local onde os palestinos tentam fugir dos inúmeros bombardeiros. 

Desde então, o governo israelense considerou Lula “persona non grata” no país. O presidente brasileiro, por sua vez, convocou de volta o embaixador que estava em Tel Aviv. Israel seguiu com provocações nas redes sociais, usando contas oficiais de governos e autoridades.

Ainda que a grande mídia brasileira tenha gastado quase dois dias inteiros criticando Lula e o estremecimento das relações entre os países, Dawisson Lopes, cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, não vê preocupação – tampouco novidade – nesse impasse diplomático. 

“Essa é uma não crise. Quando se liga a televisão no Brasil, você é bombardeado por vários aspectos – pouca factualidade, mas muita análise moral e histórica. Mas esse não é um tema internacional de grande relevância”, argumentou. 

Em entrevista ao Intercept Brasil, Lopes relembrou outros momentos de tensão entre os dois países, desde 1975. E avaliou positivamente o discurso de Lula. “A fala dele, da forma estridente como foi, chegou a muitos lugares, isso é inegável. Não tenho dúvida de que o Lula levou em conta esse alcance da sua voz, e essa possibilidade de se tornar um guardião dos interesses do sul do planeta, quando comparou o que acontece agora em Gaza com o Holocausto na II Guerra Mundial”.

 

Carol Castro entrevista Dawisson Lopes 

 

Intercept – Qual o impacto da fala de Lula sobre o Holocausto internacionalmente? De fato, existe uma pressão da comunidade internacional sobre isso?

Dawisson Lopes – A crise que envolve Brasil e Israel deslanchou no último domingo, mas já vinha, de certa maneira, crescendo. Já havia um tensionamento prévio entre as partes há algum tempo e envolve apenas Brasil e Israel. Não é uma crise internacional, não tem escalabilidade, não tem razão para enredar outros atores. E, de resto, não há nenhum sinal, nenhum vestígio de que a comunidade internacional possa abraçar as reivindicações de Israel. 

Isaac Herzog, presidente de Israel, conclamou os líderes do mundo a criticarem as falas de Lula e não aconteceu rigorosamente nada. Essa é uma não crise. Embora se tenha essa impressão quando se liga a televisão no Brasil e você é bombardeado por vários aspectos – pouca factualidade, mas muita análise moral e histórica. Mas esse não é um tema internacional de qualquer relevância e o que está acontecendo com essa chamada dos diplomatas, isso é o beabá da diplomacia. Acontece o tempo todo em todos os lugares.

Não há nada de extraordinário nessa troca verbal. E acho que em algum momento futuro, não agora, mas em algum momento futuro os países retomam relações em níveis mais altos, os governos mudam. O governo de Israel na atualidade é muito contestado. Não tem muita popularidade internamente. Então, talvez esse seja um horizonte possível, havendo mudanças, sobretudo em Israel, da coalizão que governa, que é de ultradireita, acho que as relações tendem a ser retomadas num patamar mais elevado. Óbvio, fica condicionado ao fim da guerra em Gaza, de um equacionamento minimamente justo do que está acontecendo hoje naquela parte do mundo.

 

Por que a mídia brasileira tem explorado isso tão exageradamente?

De uns tempos para cá, e acho que essa é uma tendência das últimas duas décadas, temas de política exterior ganharam saliência. As partes – os partidos políticos, os atores da sociedade civil, começaram a explorar mais a política exterior no valor político eleitoral que essa agenda pode ter. 

A literatura de relações internacionais e a ciência política vão sugerir que essa não é uma relação tão objetiva e imediata. As pessoas não votam, não formam suas preferências políticas a partir de posições do governo de políticas exteriores. Ainda assim ganhou saliência.Isaac Herzog, presidente de Israel, conclamou os líderes do mundo a criticarem as falas de Lula e não aconteceu rigorosamente nada. Essa é uma não crise.

A grande imprensa brasileira, a imprensa liberal e hegemônica, acaba tendo uma postura hoje muito de oposição política muito entrincheirada e que utiliza essa política exterior, temas internacionais para questionar o governo e contestar as orientações desse governo. Acho que essa é uma razão importante. 

A outra razão importante é que estamos falando de um grupo de interesse, a comunidade judaica organizada no Brasil, os judeus no Brasil são cerca de 150 mil, mas que conseguem se organizar e fazer pressão, tem um lobby muito bem organizado por meio de organizações ostensivamente voltadas para busca dos interesses de Israel. Estou falando de Instituto Brasil Israel, Conib, StandWithUs. Existe uma organização da busca por interesses desses grupos por pressão que ajuda a explicar porque foi feito tanto barulho. São atores poderosos com boas alavancas de poder que conseguiram pautar e imprimir um viés muito claro nessa discussão.

 

A fala de Lula pressiona Israel a rever o posicionamento em relação à guerra? Estimula outros líderes mundiais a subirem o tom?

Israel parece blindado nesse momento. Aconteça o que acontecer, Tel Aviv não está muito sensível às reivindicações, tem dito o tempo todo que o processo que se desenrola na Corte Internacional de Justiça não será observado, não balizará a tomada de decisão. 

Então, não vejo a fala de Lula como algo que irá mudar o jogo. Mas o Lula conseguirá se projetar a partir desse momento como talvez a principal liderança do sul global. Ao lado de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, o Lula é quem tem as melhores condições de vocalizar as pautas desse grande consórcio de países, uns 130 ou 140 países no mundo, a que se convencionou chamar de sul global. Estou falando de América Latina e Caribe, África, Ásia, Oceania e Pacífico Sul. 

Esses países encontram numa personalidade como o Lula uma representação forte. E a fala dele, da forma estridente como foi, chegou a muitos lugares, isso é inegável. O que vem na sequência é uma incógnita, mas não tenho dúvida de que o Lula levou em conta esse alcance da sua voz, e essa possibilidade de se tornar um guardião dos interesses do sul do planeta quando construiu de forma retórica a comparação do que acontece agora em Gaza com o Holocausto na Segunda Guerra Mundial. [continua] 

22
Fev24

Brasil denuncia Israel em Haia e diz que ocupação é ‘inaceitável e ilegal’

Talis Andrade

israel gaza brandan-reynolds.jpg

 

Lula faz duras críticas às interrupções na ajuda humanitária em Gaza por países da elite global

 

 

Por Agência Brasil /Ninja

O Brasil pediu nesta terça-feira (20) à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, nos Países Baixos, que declare como ilegal a ocupação dos territórios palestinos por forças militares de Israel. Para o Brasil, a ocupação, que dura desde 1967, viola as leis internacionais e o direito à autodeterminação do povo palestino.

“O Brasil espera que o tribunal reafirme que a ocupação israelense dos territórios palestinos é ilegal e viola obrigações internacionais por meio de uma série de ações e omissões de Israel”, afirmou a representante do Brasil em Haia, Maria Clara de Paula Tusco.

A diplomata brasileira acrescentou que práticas persistentes da ocupação de Israel nas terras palestinas “equivalem à anexação” daqueles territórios e pediu que a Corte leve em conta medidas tomadas por Israel, como o confisco de terras palestinas, a destruição de casas dos palestinos, a construção de colônias israelenses e do muro na Cisjordânia, além da adoção de medidas que alteram a composição demográfica dos territórios ocupados.

O governo brasileiro se manifestou em audiência pública na CIJ, principal órgão judicial das Nações Unidas (ONU). A Corte realiza audiências públicas até a próxima segunda-feira (26) para ouvir 52 países sobre a consulta que a Assembleia geral da ONU fez aos juízes do tribunal internacional.

Em resolução aprovada em dezembro de 2022, a Assembleia-Geral da ONU questionou a CIJ sobre as “Consequências Jurídicas decorrentes das Políticas e Práticas de Israel no Território Palestino Ocupado”. Os países querem saber, entre outras informações, o que Israel pode sofrer por supostamente violar o direito do povo palestino à autodeterminação.

Segundo a representante do Brasil na ONU, a decisão do país de participar dessa consulta é devido ao “compromisso histórico do país de respeitar o direito internacional, de fomentar o multilateralismo e de promover a solução pacífica de controvérsias”.

Ainda segundo o Brasil, a violação do direito dos palestinos à autodeterminação “não pode ser aceita, muito menos normalizada pela comunidade internacional”. Maria Clara lembrou ainda que a Resolução do Conselho de Segurança da ONU 242, de 1967, enfatizou a proibição da aquisição de território pela força e instruiu Israel a retirar as suas tropas das terras então recentemente ocupadas.

“No entanto, a ocupação persiste até hoje e foi agravada pela construção do muro de separação do território palestino, pela construção de colônias ilegais na Cisjordânia e pela anexação de Jerusalém Oriental”, acrescentou.

 

Discriminação

O governo brasileiro ainda destacou que o estabelecimento de dois sistemas jurídicos distintos, um para os colonos israelenses e outro para os palestinos na Cisjordânia ocupada, representa uma discriminação contra o povo palestino.

“Este tratamento diferenciado é evidente e bem documentado e também deve ser abordado pelo tribunal”, acrescentou a representante brasileira.

O regime político-jurídico na Cisjordânia ocupada tem sido denunciado como um regime de apartheid por organizações internacionais de direitos humanos, como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch, e por relatores independentes da ONU. As autoridades israelenses rejeitam essa avaliação.

 

Medidas

Ao final da manifestação, o Brasil enumerou as medidas que espera que sejam tomadas para pôr fim a ocupação. Entre elas, estão o fim da ocupação de Israel e a reparação ao povo palestino pelas violações cometidas. Além disso, o Brasil pede que nenhum Estado reconheça a ocupação e que não adotem ações ou medidas que colaborem com a ocupação desses territórios.

Por fim, a diplomata Maria Clara de Paula Tusco reforçou que o Brasil defende a solução de dois Estados para o encerramento do conflito. “A criação de um Estado palestino independente, soberano e economicamente viável, coexistindo com Israel em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas, que incluem a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental como sua capital”.

 

Israel

O governo de Israel não vai participar das audiências públicas para discutir a ocupação dos territórios palestinos. Em documento de cinco páginas enviado à CIJ, Israel condenou a resolução que determinou a análise do caso, dizendo que a decisão representa uma “distorção da história e da realidade atual do conflito israelense-palestino” e que, por isso, prejudica a construção da paz.

“Ao apontar o dedo apenas para um lado, as questões ignoram milhares de israelenses mortos e feridos que foram vítimas de atos assassinos de ódio palestinos e do terrorismo – atos que continuam a pôr em perigo diariamente os civis e a segurança nacional de Israel”, afirma o documento.

 

Entenda

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha transferiu para as Nações Unidas a responsabilidade pelo território que hoje é ocupado por Israel e pela Palestina. Desde o final da Primeira Guerra Mundial, a chamada Palestina histórica era controlada pelos ingleses.

Com a Resolução 181, de 1947, a Assembleia-Geral da ONU recomendou a partilha da Palestina entre judeus e árabes. Porém, apenas o Estado de Israel foi criado. Em 1967, após mais uma guerra na região, Israel ocupou militarmente a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e a Jerusalém Oriental, que então estavam sob o controle do Egito e da Jordânia.

Após esse conflito, a Assembleia da ONU aprovou a Resolução 242, de 1967, que determinou “a retirada das forças armadas israelitas dos territórios que ocuparam”.

Apesar dessa resolução, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia continuou e hoje são 300 colônias consideradas ilegais, segundo a ONU, dentro da Cisjordânia, onde vivem cerca de 700 mil colonos israelenses.

Em 2005, Israel deixou a Faixa de Gaza, apesar de manter um cerco ao enclave controlando a saída e a entrada de pessoas e mercadorias.

Gaza Yaser Abo Hamed.jpg

 

22
Fev24

Gaza: Parar a "carnificina" e restaurar a força do direito internacional

Talis Andrade
2202 opiniao -  (crédito: Caio Gomez)

O governo do Brasil afirmou, em manifestação na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, nesta terça-feira (20), que a comunidade internacional não pode normalizar a ocupação de territórios na Palestina por Israel

 
por José Geraldo de Souza Júnior - Correio Braziliense
 
O governo do Brasil afirmou, em manifestação na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, nesta terça-feira (20), que a comunidade internacional não pode normalizar a ocupação de territórios na Palestina por Israel. No espaço das audiências públicas para ouvir a posição dos países-membros das Nações Unidas sobre os 56 anos de ocupação de Israel em territórios palestinos, que a CIJ realiza, a avaliação do Brasil busca interromper o curso de uma resposta unilateral de Israel que, descolada da via jurídica do direito internacional, acaba levando a uma ação não de força, mas de pura violência, "desproporcional e indiscriminada", que não expressa uma disposição de justiça e se cobre de finalidade geopolítica, neocolonial.
 

A intensidade da ação militar na região havia levado o presidente Lula a classificá-la como "genocídio", na esteira das preocupações lançadas pela CIJ, a ponto de comparar a ofensiva como equivalente àquela infringida aos judeus na Alemanha nazista. (https://www.cartacapital.com.br/mundo/mundo-nao-pode-normalizar-a-ocupacao-de-territorios-palestinos-por-israel-defende-o-brasil-em-haia/).

A manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita durante a 37ª Cúpula da União Africana, não foi um arroubo. Só a vê assim, aqueles que, por posicionamento ou tática política de mobilização de interesses e de alianças, estão de acordo com a prepotência da intervenção de força para concretizar hegemonias de qualquer matiz, estratégica, econômica ou ideológica. No local ou no global, acaba difundido uma narrativa que esconde a intencionalidade de suas razões, deslocando a objeção que deveria se dirigir ao argumento, para desqualificar o oponente.

Note-se que a manifestação não é a de uma voz isolada. O Vaticano pela palavra do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, também falou de uma resposta "desproporcional" em comparação com o ataque do Hamas. É preciso "parar a carnificina". O direito à defesa, o direito de Israel de garantir a justiça para os responsáveis pelo massacre de outubro, não pode justificar essa carnificina". (https://www.ihu.unisinos.br/636611-por-tras-das-frases-do-cardeal-parolin-tem-o-consentimento-de-francisco).

A posição do presidente Lula, desde o início do conflito, mantém-se coerente e firme, na chamada à mediação pelo direito internacional, como pela possibilidade mediadora de um conjunto de países, com assento na Assembleia-Geral, mas que não têm seus interesses estratégicos envolvidos na região e no conflito, ou em sua ideologia.

Em minha participação, juntamente com Cristovam Buarque — os dois únicos sul-americanos convidados e presentes no Colóquio Internacional de Argel - Encontro de Personalidades Independentes sobre o tema "Crise du Golfe: la Derive du Droit", instalado exatamente em 28 de fevereiro de 1991, dia do cessar-fogo na chamada Primeira Guerra do Golfo, o que procuramos foi indicar, a partir da premissa de convocação do Colóquio, que a crise coloca o direito à deriva, tendo perdido o seu rumo no trânsito ideológico entre a "historicidade constitutiva dos princípios que consignam a sua força e força mesma, representada como Direito porque formalizada como norma de Direito Internacional".

Já então, uma inquietação com o emprego hegemônico de razões de fato, para que, em qualquer caso, principalmente quando há nítida disparidade entre forças, inclusive militares, que se deixem arrastar por um pretenso "direito de violência ilimitada", cuja resultante "sugere a cessação da beligerância pelo aniquilamento inexorável de toda forma de vida". Minhas razões completas estão no texto A Crise do Golfo: a Deriva do Direito, in Sousa Júnior, José Geraldo de. Sociologia Jurídica: Condições Sociais e Possibilidades Teóricas. Porto Alegre: Sergio Fabris Editor, 2002, p. 133-144).

O que urge é "restaurar a humanidade incondicional em Gaza". Essa é afirmação de um médico sem fronteiras (https://www.msf.org/unconditional-humanity-needs-be-restored-gaza). O que assistimos aqui, diz ele, em matéria que me enviou o querido amigo Alessandro Candeas, o incansável e presente diplomata brasileiro, embaixador do Brasil na Palestina: é um "bombardeamento indiscriminado [que] tem de acabar. O nível flagrante de punição coletiva que está atualmente a ser aplicado ao povo de Gaza tem de acabar". É preciso "parar a carnificina". Resgatar o humano que se perde nesse drama. E restaurar a mediação dos verdadeiramente fortes, que confiam e aplicam a força cogente (Hannah Arendt) do direito internacional e dos direitos humanos.

21
Fev24

Netanyahu é alvo de criticas e chacotas em Israel após dizer que Holocausto foi ideia palestina

Talis Andrade
Protesto contra Netanyahu

 

por BBC News

O premiê israelense Binyamin Netanyahu recebeu uma onda de críticas dentro do próprio país após dizer que Hitler inicialmente não queria exterminar os judeus, mas foi convencido por um líder religioso palestino.

Em discurso durante o 37º Congresso Sionista Mundial, em Jerusalém (em 2015), Netanyahu afirmou que a ideia de Hitler era apenas expulsar os judeus da Europa, e que o ditador alemão teria mudado os planos após orientação de Haj Amin al-Husseini, grão-mufti de Jerusalém entre 1921 e 1937.

"Haj Amin al-Husseini foi até Hitler (em 1941) e disse: 'Se você expulsá-los, eles virão todos para cá.'", disse o premiê. "'Então o que devo fazer com eles?', ele (Hitler) perguntou. Ele (Husseini) disse: 'Queime-os'", completou Netanyahu.

A descrição do Holocausto como sugestão palestina gerou reações imediatas, dentro e fora de Israel.

A chefe do memorial de Israel para as vítimas do Holocausto, Dina Porat, disse que Netanyahu cometeu erros factuais.

"Você não pode dizer que foi o mufti quem deu a ideia a Hitler para matar ou queimar judeus", afirmou a historiadora ao jornal Yedioth Ahronoth. Ao jornal Jerusalem Post, a professora sugeriu que o líder israelense se retrate das declarações.

O líder de oposição israelense Isaac Herzog escreveu em sua página no Facebook que a versão do premiê "minimiza o Holocausto, o nazismo e o papel de Hitler no terrível desastre de nosso povo".

O jornal Haaretz registrou como Netanyahu foi ridicularizado em vídeos e imagens que se espalharam pela internet - a publicação diz que a repercussão foi tamanha que "quebrou a rede". [Transcrevi trechos. Leia mais.]

 

Judeus ortodoxos dizem que Netanyahu é nazista e que o mundo deve parar seu genocídio

 

247 – O grupo de judeus ortodoxos Torah Judaism fez uma de suas mais duras postagens contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que já assassinou mais de 27 mil palestinos durante o genocídio que vem promovendo contra o povo palestino em Gaza.

"Netanyahu é um líder nazista sionista assassino e genocida. Os sionistas são os nazistas de hoje. Israel não é o estado dos judeus. O mundo inteiro deveria conhecer bem estes sionistas genocidas e mentirosos", postou o coletivo."O mundo deve agora intervir a nível nacional contra Israel, caso contrário o genocídio continuará. Os israelenses sofrem uma lavagem cerebral e vivem em mentiras, longe da verdade", acrescentou. [ Confira aqui]

 

 

20
Fev24

Em carta, Einstein denunciou o fascismo sionista em Israel em 1948

Talis Andrade

 

Albert Einstein durante aula em Viena, 1921. Foto: Ferdinand Schmutzer. Restaurada por Adam Cuerden.

 

Cientista ressaltou as práticas semelhantes entre o Partido da Liberdade israelense e o nazismo. Lula e jornalistas denunciam o genocídio em Gaza

31
Jan24

Tradução de "Lula" de Fernando Morais revela biografia do presidente do Brasil na França

Talis Andrade

O primeiro volume da biografia “Lula” (Companhia das Letras, 2021), de Fernando Morais, está sendo lançado na França neste início de 2024, pouco mais de dois anos depois de sua publicação no Brasil. Ao contrário da versão em português, a tradução francesa, traz um subtítulo: “da luta sindical ao combate político”, e um prefácio assinado pelo ex-diretor do jornal “Le Monde Diplomatique”, Ignacio Ramonet

Fotomontagem com o escritor Fernando Morais e as capas dos seus livros em francês e português.Fotomontagem com o escritor Fernando Morais e as capas dos seus livros em francês e português. © Divulgação companhia das letras e ithaque
 

A biografia ”Lula”, traduzida por Ana de Staal e Gilles de Staal, chega às livrarias francesas pela editora “Ithaque”. O livro foi lançado na última sexta-feira (26) em Paris, na presença de Ignacio Ramonet, que assina o prefácio, e do sociólogo Michael Löwy, de origem brasileira. “Fernando Morais é um mestre da não-ficção. (...) E prova isso, mais uma vez, com essa magistral biografia de um dos maiores líderes progressistas da América Latina e do mundo”, escreve o ex-diretor do “Le Monde Diplomatique” na introdução da versão francesa.

Fernando Morais, que termina a redação do segundo volume da biografia “Lula”, não pôde vir à França para participar do lançamento, mas concedeu uma entrevista à RFI à distância sobre a publicação do livro em francês. Ele lembrou que vários de seus livros já foram publicados na França, onde tem “a sorte de ser bem tratado pela crítica”, mas acredita que o interesse por “Lula” no país será ainda maior.

“O livro está saindo no momento em que o presidente Lula readquire, sobretudo no panorama Internacional, um papel que o Brasil tinha perdido nos últimos 6 anos. Felizmente, volta agora com muita força e com uma coisa boa, sobretudo para nós, jornalistas, com posições polêmicas” do Lula em relação à Ucrânia ou ao conflito entre Israel e o Hamas, por exemplo, afirma. Fernando Morais completa dizendo que “muita gente quer saber que Lula é esse”.

Duas prisões

“Lula” é uma biografia, mas a narrativa não é linear. O autor escolheu começar pelo episódio da prisão de Lula, em 2018. Fernando Morais conhece o atual presidente da República há mais de 50 anos, desde o período de liderança sindical e das greves no ABC no final dos anos 1970 e final da Ditadura Militar no Brasil. Na época em que o livro foi lançado, em 2021, teve gente no Brasil que o acusou de querer influenciar a campanha eleitoral que começava.

O autor de “Chatô” e “Olga” reivindica a sua independência jornalística e autoral. Garante que Luiz Inácio Lula da Silva nunca tentou “nenhum tipo de censura”, e que “Lula” “é um livro tão honesto quanto os nove livros anteriores” dele.

“Eu cheguei à conclusão de que o melhor para traduzir para o leitor, não só o personagem, mas o Brasil, (era) pegar dois momentos fundamentais da vida do Lula, que são as duas prisões que ele sofreu, em dois momentos diferentes da vida política brasileira, por duas razões diferentes”, esclarece. A primeira prisão, em 1980, no final da Ditadura Militar, e a segunda agora, em um período democrático. “Isso é muito mais revelador e muito mais tentador. Começar com o juiz assinando a prisão dele e ele decidindo: ‘me entrego ou resisto?’”. 

Fernando Morais demorou cerca de 10 anos para acabar o primeiro volume e dá os últimos retoques no segundo volume, que deve chegar às livrarias brasileiras ainda em 2024. “O segundo, talvez, até desperte mais polêmica porque eu vou acompanhar toda a crise do golpe contra a Dilma do ponto de vista do Lula”, antecipa.

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o título de Cidadão Honorário de Paris das mãos da prefeita Anne Hidalgo, na prefeitura da capital francesa. Acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-ministro da Educação e candidato derrotado na eleição presidencial de 2018, Fernando Haddad, Lula defendeu as conquistas obtidas durante os anos do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder, “apesar de quaisquer erros”. O líder petista lembrou dos brasileiros mais “desfavorecidos” ao receber a honraria e não perdeu a oportunidade de atacar o juiz Sérgio Moro.

Luiz Inácio Lula da Silva, metalúrgico e filho de analfabetos que entrou na política pelo sindicalismo e ganhou fama mundial, que foi preso duas vezes e mantém tanto uma legião fiel de seguidores quanto uma forte rejeição, volta à Presidência do Brasil depois de uma campanha marcada pela polarização. Neste vídeo, a repórter Nathalia Passarinho relembra algumas das cenas mais marcantes da trajetória de Lula – início na política, eleições perdidas, chegada à Presidência, prisão pela Lava Jato e, agora, sua volta ao Palácio do Planalto.

17
Dez23

BALADA PARA MARGARIDA

Talis Andrade

 

                                                    

 

                                                           ¿Quién ha matado este hombre

                                                                             que su voz no está enterrada?

 Manuel del Cabral

                                                                                                                             É melhor morrer na luta

do que morrer de fome

                                                                                                  Margarida Maria Alves

 

                        Quem matou esta mulher

                        que sua voz não está enterrada

                        De onde vem esta fala

                        a mudar velhos costumes

                        Que fizeram dos meus canaviais

                        no lugar do ouro verde

                        floresceram campos de margaridas                  

                        Onde estão os negros

                        os cortadores de cana

                        que não dão fim a esta praga

 

                        Temos que calar este povo

                        como fazia o pai do meu pai

                        o avô do meu avô

                        Temos que matar bem matado

                        cortar a língua

                        quebrar os dentes

                        dar sumidura no corpo

                        para que nenhuma alma

                        doutro mundo apareça a cobrar

                        o que não mereceu em vida

                        a assombrar o povo que deseja trabalhar

                        O corpo do morto adube a terra

                        e toda terra é pouca

                        para a fome de verde

                        dos canaviais

 

                         Enterrar defunto

                         em sepultura de cimento

                         marca o lugar

                         Sepultura com cruz levantada

                         no verde dos canaviais

                         atrai gente para rezar

                          Com excelências e benditos

                          todo morto vira mártir

                          todo mártir vira santo

                          Não há maneira de se matar um santo                       

                          As orações ressuscitam o santo           

                          as promessas os ex-votos ressuscitam o santo

                          O retrato do morto se leva em passeata

                          Do retrato do morto se faz uma imagem de pedra

                          estátua que se leva em procissão

                          As procissões se sucedem

                          a esconjurar os fantasmas do medo

                          a esconjurar os demônios

                          da escravidão e morte                          

          

                        Pra que serve minha escopeta

                        se o povo não teme a morte

                        Pra que servem os capangas

                        se o povo não teme a morte

                        Pra que serve a polícia

                        se não há cadeia pra tanta gente

                        Pra que serve a justiça

                        quando os longos braços da lei

                        não alcançam a multidão

          

- - -

FOTOGRAFIA Margarida Maria Alves discursa em Alagoa Grande ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva

LIVRO O Enforcado da Rainha, poema revisto

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub