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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

26
Set23

Os Estados Unidos e sua eterna democracia antidemocrática

Talis Andrade

 

Cerimônia de lançamento da ''Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI'', que aconteceu na cidade de Nova York ( EUA), em 20 de setembro de 2023. Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

por Jair de Souza I VioMundo

 

Em sondagem recém divulgada com vistas ao pleito eleitoral do próximo ano, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump aparece com 51% da preferência do público consultado contra tão somente 42% do atual ocupante do cargo, Joe Biden.

Provavelmente em função de suas disputas internas, Biden se aproveitou da presença de Lula em Nova York onde fez o discurso de abertura da 78ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para colar sua imagem à de nosso presidente com base numa suposta identificação de ambos com as causas trabalhistas e a liberdade sindical.

É inegável que isso soou muito estranho para todos os que temos alguma ideia da evolução histórica das condições de vida dos trabalhadores nos Estados Unidos.

Embora a figura de Lula esteja indissoluvelmente associada aos interesses das classes trabalhadoras, a de Biden, pelo contrário, não nos inspira o mais mínimo vínculo nesse sentido.

Como aceitá-lo como um lutador pelas causas dos assalariados naquele país onde as massas trabalhadoras historicamente nunca tiveram direitos equiparáveis aos conquistados por seus pares de outros países?

Como entender que o panorama seja este, já que estamos acostumados a escutar no rádio, assistir pela televisão ou a ler em jornais e revistas, que os Estados Unidos são a maior democracia do mundo?

Em razão do que vem sendo inculcado em nossa mente desde nossa mais tenra idade, seríamos induzidos a crer que democracia e liberdade são coisas intrínsecas à sociedade estadunidense.

Este costume de associar a imagem dos Estados Unidos ao que as sociedades humanas têm de mais belo vem de longa data.

Basta recordar que Alexis Tocqueville e outros destacados expoentes do liberalismo se referiam aos Estados Unidos como o país modelo da liberdade e da democracia.

Não à toa, a chamada Revolução Americana, que culminou com sua independência e desvinculação do Império Britânico, foi saudada por quase todos os adeptos do pensamento liberal como uma consagradora vitória dos ideais da liberdade.

A circunstância de a nova nação ter sido edificada em cima do extermínio quase total dos povos ameríndios que já habitavam aquelas terras há milhares de ano não parece ter incomodado os entusiastas da nova potência que estava sendo forjada.

Tampouco veio a significar um fator capaz de incomodar os admiradores dessa tal “liberdade” o fato de a base da economia estadunidense de então estar sustentada no trabalho escravo.

Que milhões de homens e mulheres de pele negra fossem equiparados ao gado e tratados como objetos de compra e venda para o usufruto de seus proprietários não chegou a se constituir em motivo suficientemente válido para gerar questionamentos desses intelectuais liberais filo-americanistas.

Talvez tenha sido assim porque, para eles, a única liberdade que realmente merecia ser levada em conta é aquela que dá aos proprietários o direito de dispor de seus bens a seu bel-prazer, mesmo que esses bens de sua propriedade sejam seres humanos.
 

Essa forte identificação não pôde ser abalada nem sequer com o regime de supremacia branca instalado nos estados do sul após o término da guerra civil de secessão que tinha posto fim à escravidão.

Ou seja, os admiradores da liberdade prevalecente nos Estados Unidos nunca se preocuparam com o que esse modelo de discriminação racial significava de fato para os milhões de negros que eram considerados e tratados como “sub-homens”, os chamados _undermen_ (expressão em inglês que foi traduzida pelo nazismo hitlerista como untermenschen_).

Convém acrescentar que, além de alavancar a ideologia racial do nazismo, o supremacismo branco dos Estados Unidos também serviu como fonte de inspiração para o regime de apartheid na África do Sul.

Tendo ciência dos antecedentes da eterna benevolência dos teóricos do liberalismo em relação com a evolução dos Estados Unidos, fica-nos um pouco mais fácil entender como esse país passou a ser apresentado e idealizado como o exemplo mais próximo da perfeição com respeito ao exercício da democracia.

Nos dias atuais, é muito comum observar os dirigentes dos Estados Unidos tomando decisões que visam inviabilizar ou depor governantes de outros países que se mostrem desafinados com as orientações que lhes são passadas.

Nessas ocasiões, os desafetos são tachados de ilegítimos e acusados de não representarem de verdade a vontade da maioria de seu próprio povo.

No entanto, se o principal critério a adotar na classificação de um país como uma democracia for a escolha de seus dirigentes em conformidade com o desejo da maioria de seus habitantes, e se o aplicarmos com rigor na análise do processo eleitoral estadunidense, inevitavelmente, vamos concluir que, neste aspecto, os Estados Unidos jamais poderiam ser considerados como um país democrático.

Não obstante haver por lá a possibilidade formal da existência de vários partidos políticos, na prática, somente podem chegar à presidência da nação, ou compor bancadas significativas no parlamento, aqueles que recebem o apoio financeiro das grandes corporações econômicas.

Sendo assim, há apenas dois em condições efetivas de disputar o comando administrativo do país: dois partidos de características básicas muito semelhantes e representativos dos mesmos interesses de classe, ou seja, o Partido Republicano e o Partido Democrata,.

Seria possível considerar como democrático um processo eleitoral que desse a vitória ao candidato menos votado pela população?

Embora, inicialmente, talvez pareça uma pergunta fora de propósito, ela ganha muito sentido em relação aos Estados Unidos. É que, segundo às leis eleitorais vigentes por lá, o candidato vitorioso em um pleito presidencial não precisa necessariamente ser alguém que tenha obtido mais votos dos eleitores do que seu concorrente.

Na verdade, desde sua fundação como República, vários presidentes foram eleitos apesar de terem tido menos votos da população que seus contrincantes.

Podemos citar o ocorrido na eleição de 2000, quando o republicano George W. Bush derrotou o democrata Al Gore, e na de 2016, quando o republicano Donald Trump se impôs à democrata Hillary Clinton.

É que nos Estados Unidos as eleições presidenciais são indiretas. Em outras palavras, lá, os presidentes são eleitos através de um Colégio Eleitoral e não por via direta.

Contudo, o fator que dá às eleições presidenciais estadunidenses um caráter acentuadamente antidemocrático não é tanto sua forma indireta, e sim a maneira como se estabelece a composição do Colégio Eleitoral.

Seria importante repassar essas características para que tenhamos mais clareza sobre seu funcionamento e as aberrações que delas podem derivar.

A população habilitada não vota diretamente no candidato a presidente de sua preferência. Os votos dos eleitores servirão para formar um Colégio Eleitoral, o qual será composto por 538 delegados, resultantes da soma dos 100 senadores e dos 435 deputados eleitos pelos estados, acrescidos dos 3 representantes de Washington D.C. (a capital da União).

O número de delegados por estado é uma questão altamente criticável e de modo algum expressa uma verdadeira representação proporcional do número de eleitores existentes.

Vai se sagrar vencedor aquele aspirante que conquistar ao menos 270 delegados do total. Até este ponto, para o bem ou para o mal, não há muitas diferenças em relação à escolha dos dirigentes nos modelos parlamentaristas da Europa Ocidental e de vários outros lugares.

Porém, o que torna o processo dos Estados Unidos espantoso é a peculiaridade de o candidato presidencial que obtém a maioria dos votos de um estado carregar para o Colégio Eleitoral o número total dos delegados do referido estado.

Portanto, indiferentemente de ter vencido por 99,9% a 0,1% ou por 50,1% a 49,9% dos votos, o partido vitorioso no local vai somar para sua chapa na Convenção o número total dos delegados previstos para tal estado.

Estamos diante de uma monstruosidade antidemocrática que permitiria a um candidato, em tese, vencer a disputa presidencial precisando tão somente garantir sua vitória por um percentual mínimo nos 11 estados com maior número de delegados, ainda que perca fragorosamente nos demais 39 estados da União.

O quadro dado a seguir nos mostra como isto poderia ocorrer.

Esta aberração se vê agravada pelo pouquíssimo interesse dedicado pelo Sistema com vistas a garantir e viabilizar o voto das maiorias populares.

Nos Estados Unidos, os dias de eleição são considerados dias úteis normais, e não feriados. A população não está dispensada do trabalho por lei e não tem sua remuneração garantida caso se ausente para exercer seu direito ao voto.

Além disso, como o voto não é obrigatório, não me parece difícil entender porque tanta gente deixa de participar, especialmente entre as classes trabalhadoras, uma vez que os mais ricos não costumam ter entraves para sufragar e parecem ter noção da importância de seu voto para garantir a defesa de seus interesses.

Por isso, não chega a surpreender a constatação de que os índices de participação eleitoral nos Estados Unidos ficam geralmente muito abaixo do que ocorre em outros países, raramente ultrapassando os 50%.

Das observações que fizemos, podemos concluir que a realidade está longe de confirmar aquilo que os bajuladores dos Estados Unidos gostam de alegar.

Se os encaminhamentos dos processos eleitorais puderem atestar a qualidade democrática de uma nação, os Estados Unidos deveriam estar classificados nos degraus mais baixos da escala, e jamais poderiam posar como protótipos de correção a serem seguidos.

19
Set23

Discursos de Lula e Zelensky monopolizam atenções na ONU, avalia imprensa francesa

Talis Andrade
Lula terá reunião com Zelensky em Nova York. Foto de arquivo.
Lula terá reunião com Zelensky em Nova York. Foto de arquivo. © Ricardo Stuckert/PR

 

por Rádio França Internacional

As ausências do francês Emmanuel Macron, do britânico Rishi Sunak, do chinês Xi Jinping e do russo Vladimir Putin, por motivos variados, enviam um sinal negativo de que o mundo não só está cada vez mais fragmentado, como também dividido, assinala o Les Echos. "E nada mudou do ano passado para cá, quando o secretário-geral da ONU já alertava para esta situação", acrescenta o jornal. 

Em relação à bilateral prevista entre Lula e Zelensky, na quarta-feira (20), os jornais Le Parisien e Sud-Ouest France recordam que as relações entre os dois líderes são tensas, pelo fato de o presidente brasileiro ter declarado várias vezes que a responsabilidade pelo conflito era compartilhada entre Rússia e Ucrânia, apesar de ter condenado recentemente a invasão russa, contextualizam os dois veículos. 

"Esses comentários foram duramente criticados por Washington, que acusou o Brasil de 'ecoar a propaganda russa e chinesa sem levar em conta os fatos'", sublinha o Sud-Ouest France. "Ao contrário de várias potências ocidentais, o Brasil nunca impôs sanções financeiras à Rússia ou concordou em fornecer munições a Kiev, e está tentando se posicionar, juntamente com a China e a Indonésia, como um mediador do conflito", acrescenta o diário regional.

"O chefe de Estado brasileiro deve ter cuidado com discursos excessivamente ideológicos. Alguns jovens líderes de esquerda, como o chileno Gabriel Boric, já o criticaram publicamente por seu apoio inabalável a Nicolás Maduro na Venezuela", aponta uma reportagem da RFI em francês.

 

Uma semana para defender a Ucrânia

Na avaliação do jornal Le Parisien, Zelensky, que viaja acompanhado da mulher, Olena Zelenska, tem uma semana para defender a causa de seu país perante os líderes mundiais e a opinião pública americana.

Além da reunião com Biden, marcada para quinta-feira na Casa Branca, Zelensky também deve visitar o Capitólio para se reunir com as lideranças republicana e democrata. O ucraniano vai defender a aprovação de um novo pacote de ajuda militar de US$ 24 bilhões dos Estados Unidos para Kiev, que é discutido há várias semanas no Congresso americano. 

"As negociações estão particularmente difíceis na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, onde alguns membros conservadores se recusam a liberar mais recursos para a Ucrânia. Essa posição está enfurecendo republicanos no Senado, que uniram forças com os democratas no último ano para desbloquear cerca de US$ 120 bilhões em ajuda (militar, econômica, humanitária, etc) para Kiev", assinala o Le Parisien.

 
12
Set23

‘Nunca mais’: milhares de mulheres passam a noite em vigília nos 50 anos da ditadura chilena

Talis Andrade

Com velas nas mãos, elas simbolizaram solidariedade e protestaram contra a impunidade dos crimes cometidos durante a ditadura

Vigília junto ao Palácio La Moneda, no Chile. Foto: Karin Pozo/EPA

 

Milhares de mulheres vestidas de preto se reuniram na noite de ontem, 10, em torno do histórico Palácio La Moneda, no Chile, para lembrar o 50º aniversário do bombardeio do palácio durante o golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet, que depôs o socialista Salvador Allende. Com velas nas mãos, as mulheres simbolizaram solidariedade e protestaram contra a impunidade dos crimes cometidos durante a ditadura.

A vigília destaca a persistência das chilenas em buscar justiça e manter viva a memória dos horrores do passado. O regime de Pinochet deixou um legado de milhares de torturados e mortos em 17 anos de governo, uma ferida profunda que ainda afeta a sociedade chilena.

A manifestação também teve como objetivo iluminar o caminho daqueles que foram afetados pela ditadura e exigir justiça. Muitas manifestantes expressaram sua frustração com a falta de responsabilização, uma vez que Augusto Pinochet deixou o governo em 1990 e morreu em 2006 sem enfrentar condenações por seus crimes.

Sob o lema “Nunca Mais”, a vigília ocorreu em silêncio, interrompido ocasionalmente por palavras de ordem emocionadas. As mulheres presentes eram mães, esposas e filhas de presos, desaparecidos e mortos durante a ditadura, carregando o peso da dor causada por esses eventos traumáticos.

 

Condenações

O Chile avança na responsabilização dos envovidos em desaparecimentos e assassinatos durante os anos da ditadura Pinochet. Em uma decisão unânime, em agosto deste ano, o Tribunal do Chile condenou sete militares da reserva por seu envolvimento no sequestro e assassinato do renomado cantor e compositor Víctor Jara, assim como do ex-diretor de prisões Littré Quiroga.

Jara, uma das vozes mais proeminentes da música popular da América Latina, foi torturado e morto com 44 tiros após ser detido na Universidade Técnica do Estado.

Por Planeta Ella, com informações da Lusa

 

 

 

01
Ago23

"Tarcisio tem que ser responsabilizado pela chacina do Guarujá. Ele avalizou o massacre", diz Alex Solnik

Talis Andrade

Meu jeito de ser

Meu jeito de ser

 

“É a Alesp que tem que abrir um inquérito, um impeachment, uma investigação a respeito da atuação do governador em São Paulo”, sugeriu o jornalista em entrevista à TV 247

 

Em uma entrevista ao Bom Dia da TV 247, o jornalista Alex Solnik fez duras críticas ao governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, em relação à recente chacina ocorrida no Guarujá. Segundo Solnik, o governador deve ser responsabilizado pelo ocorrido.

Solnik afirmou sua preocupação com os acontecimentos e a importância de uma resposta adequada por parte das autoridades. "Tarcisio tem que ser responsabilizado pela chacina do Guarujá. Ele avalizou o massacre." Em suas declarações, Solnik defendeu a abertura de uma investigação pela Assembleia Legislativa, destacando o papel do deputado Eduardo Suplicy na Comissão de Direitos Humanos: "O deputado Eduardo Suplicy [...] já anunciou uma viagem ao Guarujá para conversar com os moradores e tenho certeza que a partir dessa ação a Assembleia Legislativa vai tomar uma atitude dura contra o governador, para que isso não mais se repita. A punição tem que ser muito grave."

Solnik completou: “Estou esperando a Assembleia Legislativa de São Paulo atuar para investigar o governador, porque ele elogiou a chacina. Ele precisa dizer qual é a posição dele a respeito da segurança pública em São Paulo. É a Assembleia Legislativa que tem que abrir um inquérito, um impeachment, uma investigação a respeito da atuação do governador em São Paulo”.

O caso em questão refere-se à Operação Escudo, desencadeada após o assassinato do policial Patrick Bastos Reis. Durante a operação, ocorreram denúncias de excesso policial, resultando em mortes de civis. Uma comissão formada pela Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, pela Comissão de Direitos Humanos da OAB e pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana está atualmente no Guarujá para investigar as alegações de abusos cometidos durante a ação.

Em resposta às críticas, o governador Tarcisio afirmou estar "extremamente satisfeito" com a atuação da polícia em resposta à morte do policial da Rota. Ele ressaltou a importância de agir contra as agressões aos policiais e prometeu investigar os fatos.

 

10
Jul23

José Celso Martinez e o enterro da história

Talis Andrade
Zé Celso Martinez
Zé Celso Martinez 

 

Se a gente viu a história do artista, não existe por que silenciar neste momento, que se estende da morte de José Celso Martinez ao enterro do seu passado

 

por Urariano Mota I Brasil 247

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O artista José Celso Martinez mal terminara de morrer, e a televisão já começou a enterrar o seu passado. Na GloboNews, em especial, os comentaristas, repórteres, coitados, tão carentes de informações culturais, deslocavam o artista somente para a encenação de O Rei da Vela, peça, aliás, que jamais viram tão gorda. Uma das apresentadoras, moça até simpática, bem-intencionada, gaguejava e punha o escritor Oswald de Andrade como tropicalista nos anos 30. Uma antecipação profética de Oswald de Andrade, poderia parecer. Mas na verdade, mistura incrível de documentos entre o passado mais longe, o passado mais próximo e O Rei da Vela.   

Essas coisas vistas, esse mau espetáculo que vemos, a gente não fala disso com agrado, mas por dever. É o jeito. Se a gente viu a história do artista, não existe por que silenciar neste momento de pesar, que se estende da morte de José Celso Martinez ao enterro do seu passado. Apresentam Zé Celso como um artista alucinado, gay desbundado, ator delirante, louco, engraçado, cômico à sua revelia. É o velho costume, aplicado a seu caso, de retirarem do artista a sua melhor arte, a saber, a sua revolta e crítica ao mundo social. Assim como fizeram com Mark Twain, transformado em escritor para a infância, com Hans Christian Andersen, mudado em autor de A Pequena Sereia de Walt Disney, com Castro Alves, mero poeta dos escravos, com Machado de Assis, escritor de frases cheias de estilo. Como um alienado sem O Alienista, o mesmo fazem agora com Zé Celso. Olhem e acompanhem, por favor:  

https://g1.globo.com/pop-arte/playlist/videos-morre-ze-celso.ghtml  

“Quem era Zé Celso

O dramaturgo, que nasceu em Araraquara, interior paulista, em 1937, é conhecido pela maneira excêntrica e ousada de montar suas peças de teatro e provocar e interagir com a plateia...

Em junho de 2023, Zé Celso se casou com o ator Marcelo Drummond após quase 40 anos de relação. A festa aconteceu no Teatro Oficina em uma cerimônia que trouxe muita música, encenações e rituais artísticos...”

De fato, os amontoados de imagens causam em si mesmas um apagamento do seu teatro. A seleção de vídeos, o olhar que dirige a seleção, gera o paradoxo de ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo. Quero dizer, qualquer pessoa pode mentir sobre um homem exibindo imagens reais que mentem no seu conjunto. Isso quer dizer, por exemplo: falar sobre Marx, mas falando DE Marx, da sua relação de amante da sua empregada. Fala mentirosa, portanto, ainda que traga à lembrança um fato verdadeiro. Ressaltar o secundário, elevá-lo à essência, para o que se quer destacar, é esconder o fundamental.  

No caso de Zé Celso, a intenção na aparência foi boa. Afinal, aparecem vídeos e depoimentos elogiosos! O que querem de mais engrandecedor? “Revolucionário, sensível”, etc. etc. Mas isso não é o essencial.  

José Celso Martinez foi um artista, um diretor de teatro que levou ao Brasil o melhor do teatro engajado. O teatro de esquerda, de um homem socialista, que falava bem como poucos sobre o que representava a eleição de Lula para o Brasil. Ah, esse não é o Zé Celso que se deve mostrar.  

Então devemos ir a quem viu o que ele realizou. Foi inesquecível, no Recife, a representação de Galileu, Galilei, de Brecht. No Santa Isabel, assistíamos á resistência do seu Teatro Oficina com a respiração suspensa. Marcante, essencial, fundamental. Inesquecível ainda a representação de Pequenos burgueses, de Górki, em São Paulo. Era ver, refletir e voltar com mais forças para o cotidiano sob a ditadura.  

Percebem? Esse é o passado inapagável do homem que se casou com o companheiro, que também fez O Rei da Vela, e que se mostrava tão livre, tão liberado para as câmeras que buscavam o excêntrico, mas não de esquerda. A direção de jornalismo vê o que quer. Mas não podem vendar os olhos de quem possui a memória de José Celso Martinez. Ele era um artista que nos reconciliava com o conforto da alma  

https://www.youtube.com/watch?v=nk-6Z6dAORA  

11
Mai23

Os defensores não defendidos

Talis Andrade
Quem protegerá os defensores da floresta? - Outras Palavras
 
 

MARIA DO SOCORRO COSTA, LIDERANÇA QUILOMBOLA INCLUÍDA NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO AOS DEFENSORES DOS DIREITOS HUMANOS, RETRATADA EM SUA CASA NO MUNICÍPIO DE BARCARENA, NO NORDESTE DO PARÁ. FOTO: ALESSANDRO FALCO/SUMAÚMA

 

Osvalinda Alves Pereira vive a um décimo de segundo da morte. Seu coração de 55 anos, adoecido por uma patologia agravada por sua luta pela floresta em pé, às vezes para de bater por um tempo. Ela congela. Bota a mão no peito. Ouviu dos médicos, ao entrar na fila do marca-passo, que um décimo de segundo a mais sem pulsar poderia ser fatal. A mulher de estatura baixa, grandes olhos verdes como a floresta que protege e mãos engrossadas pelo trabalho de uma vida na lavoura, faz parte de uma das 70 famílias do Projeto de Assentamento Areia II, criado em 1998 no município de Trairão, no sudoeste do Pará. Fez-se defensora do meio ambiente e do direito à terra no estado onde mais se mata no campo, em uma das áreas mais perigosas para defender qualquer direito no Brasil. Por uma década, escutou ameaças de homens que queriam saquear a floresta em que vive. Até que um dia, em 2018, ela acordou, foi até a lavoura colher maracujás com seu companheiro e encontrou dois buracos no chão. Eram covas abertas, com duas cruzes fincadas e dois nomes escritos: o dela e o dele. Osvalinda congelou. Botou a mão no peito. Quem os ameaçava certamente os observava e poderia matá-los ali, num décimo de segundo.

“Eu praticamente me vi morta, eu e meu marido. Arrebenta com qualquer coração. Tudo vira um trapo”, diz ela. Osvalinda é uma conhecida defensora de direitos. Foi retratada em inúmeras reportagens – e em um documentário – que contam a história de pessoas ameaçadas por lutar pela reforma agrária no Pará. Ela preside a Associação das Mulheres do Areia II e, em 2012, ao lado do companheiro, Daniel Pereira, de 52 anos, começou a denunciar a extração ilegal de madeira e a grilagem dentro do assentamento. As ruas do Areia II servem de estrada para caminhões lotados de toras arrancadas de três unidades de conservação do entorno: a Floresta Nacional do Trairão, a Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio e o Parque Nacional do Jamanxim. Em 2014, quatro anos antes de encontrarem as covas em seu quintal, os dois já tinham sofrido tantas ameaças que acabaram inseridos no programa de proteção aos defensores de direitos humanos do governo federal. Mas ele não conseguiu dar segurança a Osvalinda e Daniel para que vivessem em paz. Não havia escolta policial nem nenhum equipamento de segurança que protegesse a casa onde moram. E os criminosos se aproximavam livremente.

 

OSVALINDA E DANIEL: LIDERANÇAS AMEAÇADAS DE MORTE POR MADEIREIROS E INSERIDAS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO AOS DEFENSORES DOS DIREITOS HUMANOS SÃO RETRATADAS EM UMA FLORESTA DO PARÁ. FOTO: ALESSANDRO FALCO/SUMAÚMA

 

Inaugurado em 2004, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o programa de proteção aos defensores de direitos humanos foi renomeado, em 2018, e passou a se chamar Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). O objetivo, no entanto, continuou o mesmo: dar segurança a pessoas que lutam por direitos para que possam permanecer em seus territórios. Em situações extremas, quando o risco é muito alto, ele deve retirar o ameaçado de casa e acomodá-lo em uma residência provisória, em um local secreto, até que a situação melhore e seja possível voltar. A lei diz que a União pode firmar convênios e acordos com os estados que queiram fazer seus próprios programas. Em 2019, o Pará implementou o seu, que é gerido pela ONG Sociedade, Meio Ambiente, Educação, Cidadania e Direitos Humanos (SOMECDH).

Os defensores de direitos humanos incluídos no programa, porém, sofrem com regras inadequadas e não são, de fato, protegidos no território. Os que precisam ser retirados de casa e alojados na residência provisória enfrentam situações humilhantes. Nos últimos dois meses, entrevistamos seis famílias de defensores paraenses inseridas no programa. Vimos pessoas adoecidas que não conseguem atendimento médico adequado vivendo em casas provisórias lotadas de mofo e com esgoto subindo pelo ralo. Longe de suas roças, às vezes elas não têm dinheiro suficiente para alimentar a família. E, diante da falta de proteção, convivem com o medo constante, em um estado onde, entre 2013 e 2022, 98 pessoas foram assassinadas e outras 127, vítimas de tentativas de assassinato, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). As mortes no campo no Pará correspondem a um quarto dos assassinatos desse tipo no Brasil.

 

ERASMO THEOFILO, AMBIENTALISTA AMEAÇADO DE MORTE EM ANAPU, NO PARÁ, COM O FILHO DE DOIS ANOS. A FAMÍLIA DELE SEGUE EM EXÍLIO APÓS AMEAÇA DE MORTE QUE O OBRIGOU A DEIXAR O SEU TERRITÓRIO. FOTO: ALESSANDRO FALCO/SUMAÚMA

 

Diante disso, um grupo de defensores de direitos humanos do estado se organizou para uma nova luta: a de serem realmente defendidos. Unidos em uma associação, eles pretendem levar ao governo federal uma série de demandas para a melhoria do programa. Querem a garantia de atendimento médico adequado, recursos financeiros para manter-se com dignidade quando precisam sair do território e a construção de muros e de sistemas de segurança e vigilância em suas casas. Também pedem que seja prevista uma ajuda para que possam ser realocados definitivamente em outro território quando precisarem deixar para sempre suas comunidades. Eles vão levar suas demandas no próximo mês a Brasília, onde o governo federal se prepara para montar um grupo de trabalho para rediscutir o programa (leia mais abaixo). “Queremos [a regulamentação de] um projeto de lei federal para proteger de fato os defensores de direitos humanos, assim como foi a Lei Maria da Penha [para mulheres vítimas de violência doméstica]”, explica Natalha Theofilo, uma das integrantes da associação.

M.A. também faz parte do grupo. É uma mulher calma, de fala tranquila, que quase entrou para a estatística do horror. Apesar de fazer parte do programa, ela vive sem nenhuma segurança em uma comunidade quilombola que foi invadida em 2020 por grileiros ligados ao Comando Vermelho, facção à frente do tráfico de drogas no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros. Em uma Amazônia mal fiscalizada, o grupo criminoso viu na invasão de terras públicas um novo negócio rentável. Quando os grileiros chegaram ao território, muitos quilombolas fugiram, inclusive o presidente da associação local. Foi então que M.A. assumiu o comando da entidade e passou a denunciar os crimes. Seu nome será mantido em sigilo nesta reportagem a pedido dela – por segurança.

 

DETALHES DA CASA DE UMA DEFENSORA DOS DIREITOS HUMANOS AMEAÇADA. FOTO: ALESSANDRO FALCO/SUMAÚMA

 

“De início, a gente não sabia que era o Comando Vermelho. Só sabíamos que eles estavam desmatando tudo e loteando perto do quilombo. Mas quando eles se aproximaram da comunidade eu fui pra cima e disse: ‘Aqui, não’”, lembra a mulher. Sentada em uma cadeira de plástico, ao lado de dois terços católicos enrolados em uma garrafa de vidro, ela narra, em meio ao cantar dos pássaros e ao som da chuva, seu encontro com o terror. Era uma manhã de novembro, no ano passado, e ela estava em casa organizando a papelada da compra de placas solares que os moradores tinham conseguido por meio de um projeto. “Ouvi o barulho de uma moto e, quando saí, vi um rapaz no pátio de casa. Ele disse: ‘Sai aqui, porque o que eu vim fazer é muito rápido’. Eu não poderia imaginar que ele estava armado e, quando menos percebi, ele puxou a arma e disse: ‘Olha, eu vou te dar um aviso, tu não te mete com a gente, porque se vierem tirar qualquer um do Comando [Vermelho] eu vou vir aqui e matar toda a tua família’.” A filha dela, de 22 anos, gritou, apavorada. Antes que outros moradores chegassem, o homem subiu na moto. Mas reforçou: “Tá avisada”, conta ela, que para de falar cada vez que uma moto se aproxima.

Depois da ameaça, M.A. foi inserida no PPDDH. Mas nem sua casa nem sua rotina tiveram qualquer alteração. O imóvel permanece com muros baixos. Por conta própria, ela mesma comprou uma grade de segunda mão e a instalou na porta de entrada. “Todo mundo disse: ‘Pelo amor de Deus, tu tens que ir embora, tens que sair daí’. Mas eu não vou sair da minha casa. Tenho muito a fazer pela minha comunidade.” Paradoxalmente, ela se sente mais protegida depois que um policial foi morto dentro do quilombo, em um confronto com os criminosos. As rondas foram reforçadas. “Quando somente o quilombo era ameaçado, não tinha muita atuação da polícia. Mas agora, com a morte do PM, as coisas acalmaram”, diz M.A. (continua)

10
Mai23

Rita Lee criticou Bolsonaro e criou fanfic com o ex-presidente; relembre

Talis Andrade
 
Capa Correio Braziliense hoje
 
 

Sempre polêmica e sem papas na língua, a cantora Rita Lee, que morreu nesta segunda-feira (8/5), em casa, em São Paulo, aos 75 anos, criticou por diversas vezes o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 
Fotos: Eldorado, uma visita às origens de Bolsonaro | | EL PAÍS
 

Em 2021, durante a gestão de Bolsonaro, Rita Lee criticou o político. "É assustador ver gente no comando com mente tão ultrapassada. Me enche o saco o racismo, a misoginia, a homofobia. Não tenho paciência para isso. Eu queria chegar em 2021 e perceber mais respeito no mundo", escreveu ela à época.

Durante um show em São Paulo, a cantora falou mais uma vez sobre a gestão do ex-presidente. "Eu amo essa cidade. São Paulo leva o Brasil nas costas (...) O problema é que entra governo, sai governo e eles não fazem nada. Vamos tirar a bunda da cadeira e tentar resolver as enchentes? E a violência? Não dá para eleger um Bolsonaro", disse a roqueira.

Em 2011, quando Bolsonaro estava no quinto mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro, Rita Lee fez uma série de tuítes com uma fanfic com o político.

rita caso com bolsonaro.jpg

 

"Bolsonaro e eu tivemos um caso. Ele não era muito chegado na coisa, se é que me entendem. Terminamos porque Bolsinho tava de olho em um colega de classe", escreveu em uma das publicações.

E-farsas
 
Foto mostra Bolsonaro ainda jovem com seu namorado no Exército! Será  verdade?
 
 
 

"No internato o apelido de Bolsonaro era Santinha: o coroinha preferido de 9 entre 10 padres. Vou negar tudo no tribunal", escreveu em outra.

"Não tenho preconceito, eu odeio todo mundo igualmente. Ass: Bolsonaro", disse em uma terceira.

"Hoje Bolsonaro vira a cara para mim. Deve temer que eu conte ao mundo seus segredos mais íntimos. Se continuar nesse nhén nhén nhén eu conto mesmo", escreveu em 19 de maio de 2011.

"Mira usted que cuanto más mira menos vê. A paz do Senhor chega igualmente para todos. Menos para o Bolsonaro, aquele motherfucker!", publicou em 1º de junho de 2011.

Em abril de 2022, após a notícia de que Rita Lee estaria curada do câncer no pulmão ter sido divulgada, o filho dela, Beto Lee, confirmou a informação e fez uma homenagem, pelo Instagram, falando da força de vontade da mãe e afirmando que ela havia apelidado o tumor de "Jair".

“A cura da minha mãe me emocionou para ca*****. Melhor notícia de todos os tempos. Manteve a cabeça erguida, com vontade de lutar e encarou tudo com seu bom humor habitual, tanto que apelidou o tumor de ‘Jair’. That’s Rita”, dizia o texto.

 

 

 

 

24
Abr23

"Se hoje estamos aqui é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil", diz Lula em cerimônia do Prêmio Camões

Talis Andrade

Renato Aroeira

O plural de Camões

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"Obscurantismo e a negação das artes foram marcas do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal", disse Lula no Palácio de Queluz

 

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a entrega do Prêmio Camões ao músico e escritor Chico Buarque representa uma vitória da democracia contra a ditadura, além de corrigir um “dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira". “Se hoje estamos aqui é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil”, afirmou Lula.

“O obscurantismo e a negação das artes foram marcas do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal", disse Lula durante a cerimônia de premiação no Palácio de Queluz, nesta segunda-feira (24), em Lisboa. O prêmio foi concedido a Chico Buarque em 2019, mas foi vetado por Jair Bolsonaro (PL) por questões ideológicas. 

Lula não citou o ex-mandatário em seu discurso, mas afirmou que "o ataque à cultura em todas as suas formas" foi parte de" um projeto que a extrema-direita" tentou implementar no Brasil nos últimos quatro anos.

“É uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso, porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019, e não foi. Todos nós sabemos por quê. O ataque à cultura, em todas as suas formas, foi uma dimensão importante do projeto que a extrema-direita tentou implementar no Brasil. Se hoje estamos aqui é porque, finalmente, a democracia venceu no Brasil”, disse Lula. 

26
Mar23

Os elos da nova armação de Moro

Talis Andrade

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Editorial Portal Brasil247

 

Em sua já histórica entrevista exclusiva a este Brasil247 e à TV 247 na terça-feira passada, o presidente Lula revelou, como nunca antes desde que assumiu, os contornos de um estilo que tenciona imprimir ao seu mandato.

Ressalta da entrevista presidencial uma disposição de não se deixar ser colhido mais uma vez pelos seus algozes, que desde o naufrágio da Lava-Jato apenas hibernaram à espera de uma situação mais favorável.

Em um contexto muito preciso, o próprio Lula trouxe Moro para o centro da disputa.

Emocionado pela memória das perseguições inauditas a que foi submetido e que o levaram à prisão por 580 dias, o presidente lembrou que, na época, tinha o desejo de um dia se "vingar" de Moro, seu verdugo, pois tinha consciência de sua inocência. 

Foi um desabafo sincero, feito nos limites e sob a comoção que revestia aquele momento e com um sentido claro, como ele mesmo fez questão de explicitar, o de que em algum momento provaria a sua honestidade. A verdade seria sua vingança. 

Detalhe relevante, logo antes de trazer à memória essa expressão franca de pensamentos e sentimentos íntimos, o  presidente havia rememorado as horas em que foi seviciado midiaticamente pelo Jornal Nacional da TV Globo e pelas dezenas de capas da revista Veja. Ele também explicitou o  agradecimento a "vocês", referindo-se a este 247, que apoiou Lula ao longo de toda essa travessia.

Na mesma terça-feira, sem, a rigor, causar surpresa, Moro usou o episódio,  tirou-o de seu contexto histórico e fez-se de vítima.

No dia seguinte, Moro foi novamente trazido ao foco por Lula ao dizer,  referindo-se à estranha coincidência de a juíza Gabriela Hardt decidir novamente em caso que afeta Moro. Levantou a suspeita de "armação" de Moro. De fato, trata-se de uma coincidência incrível: uma investigação prévia de ameaças do PCC contra Moro e outras autoridades reincide-se nas mesmas práticas que o levaram a ser declarado juiz suspeito e seus processos anulados pela Justiça. 

De fato, como fez na Lava-Jato, Moro segue tentando acusar Lula sem provas. E há sinais de algum tipo de conspiração, que Lula veio a intuir e definiu como armação. Os sinais são evidentes: a presença da juíza Gabriela Hardt emergindo num processo que envolve Moro, a investigação que se desenrola – mais uma vez – em foro inadequado, como demonstrou o site Conjur a partir do parecer de juristas e o uso político que Moro e o ex-procurador chefe da Lava-Jato Deltan Dallagnol vêm fazendo de uma investigação realizada pela Polícia Federal e o Ministério da Justiça de Lula.

Não por acaso, a chamada armação elenca muitos dos atores da Lava-Jato original, aquela responsável pelo juízo político que impediu Lula de concorrer à eleição de 2018.

Também não é à toa que a mesma súcia se agita agora. Pois, em paralelo, o advogado Rodrigo Tacla Duran está na iminência de expor em depoimento ao juiz da Eduardo Appio da 13ª Vara Federal de Curitiba uma denúncia de extorsão realizada por intermediários ligados a Sérgio Moro. Este teria exigido, segundo a investigação, 5 milhões de reais para não prender Duran, ex-advogado da Odebrecht.  

Para completar a armação, muitos dos mesmos meios de comunicação que apoiaram Moro em suas decisões que levaram à prisão política de Lula, aproximam-se de novo consorciados num movimento nada sutil. Muitos deles, aliás, não esconderam sua frustração com a entrevista exclusiva de Lula ao 247. Percebida logo por Lula, a manobra tem cheiro de conspirata e pode ter concorrido para fragilizar sua saúde.

24
Mar23

Juros altos travam investimentos, inviabilizam a retomada do crescimento e asfixiam lentamente a economia

Talis Andrade
AGIOTAGEM Os nove reacionários membros do Copom, responsáveis pela definição da altíssima taxa de juros no Brasil

 

Comunicado do Copom é tentativa de desmoralizar Lula

 

por André Cintra /Vermelho

 

O Copom (Comitê de Política Monetária) passou dos limites nesta quarta-feira (23), e o problema vai além da manutenção da taxa básica de juros, a Selic, no patamar estratosférico de 13,75% ao ano. O comunicado que o órgão do Banco Central divulgou após o anúncio do índice é uma provocação inaceitável ao governo Lula – e até mesmo uma tentativa de desmoralizar o presidente.

Não foi a primeira vez. Da reunião anterior, em janeiro, o Copom, autoproclamando-se “vigilante”, acusou o governo, sutilmente, de tumultuar o ambiente econômico. “O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, dizia o comunicado.

O texto prosseguia: “O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”. Ainda havia, no fim do comunicado, uma ameaça de juros mais altos: o Copom agregava que, sem uma “desinflação” em curso, “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”.

A nova reunião, 45 dias após a de janeiro, é a primeira que o Copom realiza sob o fogo cruzado do governo, dos empresários e dos movimentos sociais. Desde então, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avançou na elaboração de um arcabouço fiscal que substitua com ampla vantagem o teto de gasto, sem prejuízo às áreas sociais. Vários anúncios oficiais do governo estão sendo adiados, em nome, justamente, da tal responsabilidade fiscal. A reoneração parcial dos combustíveis, à revelia da opinião da base social do governo, confirmou a disposição do governo Lula em pôr o pé no freio.

Mas, para o Copom, nada disso ocorreu, e a “incerteza” prevalece. Por preguiça ou descuido, a nota repete, ipsis litteris, o mesmo recado do comunicado da reunião anterior: “O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, além de não hesitar “em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Não é apenas Lula que esbraveja contra os juros altos e contra o descaso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Na segunda-feira (20), ao participar de um seminário organizado BNDES, o norte-americano Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de Economia de 2011, criticou a condução da política monetária pelo Copom.

“A taxa de juros de vocês é, de fato, chocante. Uma taxa de 13,75%, ou 8% real (descontada a inflação), é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia”, analisou o economista. “É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte.”

No mesmo evento, Josué Gomes, presidente da todo-poderosa Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, disse que falta ao Copom “uma boa explicação para as pornográficas taxas de juros que praticamos no Brasil”. Para o líder empresarial, não há premissa mais falsa do que a ideia de que o País vive um “abismo fiscal”. Ainda menos num país com “73% do PIB de dívida bruta” e reservas cambiais consideráveis.

Haddad, sempre moderado nas palavras, qualificou o comunicado do Copom como “muito preocupante”, na medida em que parece ignorar deliberadamente o esforço governamental. “Hoje divulgamos um relatório bimestral mostrando que nossas projeções de janeiro estão se confirmando sobre as contas públicas”, disse o ministro.

Juros altos travam investimentos, inviabilizam a retomada do crescimento e asfixiam lentamente a economia. Ao “pagar para ver” e ainda voltar a ameaçar taxas de juros ainda mais altas, o Copom fez um movimento para reforçar sua independência e contra-atacar Lula. É como se tratassem a opinião do presidente como um mero esperneio.

Mudar a composição do Banco Central e rever independência tão tóxica se tornam medidas urgentes para o governo. De todos os opositores de Lula, nenhum está mais ativo e forte hoje do que o Copom.

 

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