MEMENTO MORI
por Luiz Alberto Machado
Diante de si e de tudo, a hora. Quem se recusa com o beiço virado e um deus na barriga, dono de si desafiando a vida, pisando gente com a soberba descarada, autossuficiência de semideus e o domínio ao umbigo, a mandar e desmandar aos quatro ventos e astros, na avareza e possessão, acumulando ao mandonismo, agiotagem, ambições, para gozar uma vida eterna aqui na Terra, agora e sempre, guerras, epidemias, traições, quanta húbris! Todos sonham em ser auriga no memento homo, segurando a sua coroa de louros, vitoriosos. Mas quem, diante de si e de tudo, agora, de que adianta passar os outros para trás, tirar proveito da ignorância alheia, enganar, enrascar, fazer os demais de tolos, otários, para vangloriar-se o rei da cocada preta no exagero do exibicionismo. Ah, esquece-se que se pode sucumbir à doença, indiferente ao fatídico suicídio, à calamidade do inopinado, o desassossego dos aflitos, as colisões, os destroços dos míseros, tudo tão conspícuo. Quantos se apegam e se agarram à correnteza da vida. A gente cada vez menos conhece o que é o ser humano. Quase impossível lembrar-se que é mortal, isso é líquido e certo. Não há o que temer. É preciso elaborar, saber-se das cartas de Sêneca, do beijo de Epiteto e do que rondava os pensamentos de Wittgenstein, o tratado samurai, o respeito ao povo dos túmulos. Lembrar-se da morte, do quanto tudo é perecível, efêmero, nada além de saber que tudo morre e não é o fim. Veja mais aqui.