A mídia inventou que Lula estava isolado – errou: a chefe da diplomacia da UE e o secretário dos EUA destacaram papel do Brasil.
A mídia apostou nas críticas à fala sobre Gaza – errou: nenhum chefe de estado relevante repreendeu o presidente.
A mídia aventou a imposição de sanções contra o Brasil – errou: nenhum país sugeriu esse absurdo.
A mídia repudiou a hipótese de analogia com nazismo – errou: estudiosa de genocídios deu razão a Lula.
A mídia delirou para atribuir a Lula antissemitismo – errou: intelectuais e jornalistas judeus derrubam essa tese.
A mídia apontou banalização do holocausto por Lula – errou: quem usou em chacota foi o chanceler israelense.
A mídia temeu represália dos EUA por fala de Lula – errou: Biden manifestou solidariedade (tímida) aos palestinos.
Na fantasia criada pela mídia vira-lata e iludida, a única verdade é viver de mentiras.
O ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, classificou como “absurda” a decisão de Israel que considerou o presidente Lula como “persona non grata” devido a fala em que ele comparou Netanyahu a Hitler, pelos ataques israelenses contra os palestinos em Gaza. À jornalista Andreia Sadi, do G1, Celso Amorim afirmou: “Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é persona non grata é Israel”. Confira.
Após conversar por duas horas com o presidente Lula (PT), o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que as relações com o Brasil estão "mais fortes que nunca".
O alto representante da União Europeia para Política Externa, Josep Borrell, disse nesta quinta-feira (22) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparou a guerra de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. E sim os crimes de guerra de Netanyahu e Hitler. As declarações foram dadas em entrevista a um restrito grupo de veículos de imprensa internacionais, incluindo a ANSA, à margem da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro.
Reunidos no Rio de Janeiro, ministros do exterior do G20 defenderam a criação do Estado Palestino como forma de acabar com o conflito na Faixa de Gaza. O chanceler Mauro Vieira, anfitrião do encontro, voltou a defender a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas
O Brasil está nas mãos de um chantagista, o presidente da Câmara Federal Arthur Lira. Ontem, ele ameaçou expressamente o governo, caso sejam reduzidos os valores das emendas parlamentares.
Trata-se de uma distorção fundamental, filha direta da irresponsabilidade institucional brasileira, da mídia, do Supremo, da Procuradoria Geral da República, ao se aliarem para a desmoralização total da política brasileira, para conseguir o impeachment de Dilma Rousseff.
Agora, o país está nas mãos de Arthur Lira, o que de pior a política brasileira produziu da redemocratização para cá. Ninguém ousa enfrentá-lo. Com a Câmara na mão, ele tem o Supremo submisso, o Executivo vacilante e a imprensa mais preocupada em pequenas futricas sobre declarações de Lula.
Em nenhum país civilizado, emendas parlamentares têm dimensão. O orçamento é visto como uma peça única, a serviço de objetivos claramente definidos – inclusive pelo Congresso – visando a otimização dos recursos.
Compare com o montante de emendas de outros países:
Quem é o homem que pegou o bastão de comando de Eduardo Cunha e se transformou no líder máximo do Centrão?
As principais acusações contra Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, são:
1. Corrupção passiva:
– Em 2017, Lira foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostamente ter recebido propina de R$ 106 mil do então diretor da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), José Francisco de Lima, em troca de apoio político.
– Em 2019, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu a denúncia por corrupção passiva, mas rejeitou a acusação de lavagem de dinheiro.
– Em 2023, a Primeira Turma do STF rejeitou a denúncia por corrupção passiva, por maioria de votos.
– Em 2020, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) absolveu Lira por falta de provas.
2. Sonegação fiscal:
– Em 2017, Lira foi acusado de sonegar R$ 1,5 milhão em impostos.
– Em 2020, a Justiça Federal de Alagoas absolveu Lira por falta de provas.
3. Rachadinha:
– Em 2020, Lira foi acusado de desviar parte dos salários de seus assessores parlamentares quando era deputado estadual em Alagoas.
– Em 2021, o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) absolveu Lira por falta de provas.
No endereço do motorista Wanderson de Jesus, os agentes apreenderam um caderno-caixa, mostrando saldos, repasses, destinatários e datas. As anotações manuscritas, que estavam dentro de um Corolla, referem-se aos meses de abril e maio deste ano. O nome “Arthur”, que os investigadores suspeitam referir-se ao deputado Arthur Lira, aparece onze vezes e vem acompanhado dos maiores valores, que totalizam pouco mais de 265 mil reais. Somando-se todos os depósitos anotados, o total dos repasses chega a 496 mil reais.
Não apenas isso. O orçamento secreto, administrado por Lira, se tornou uma usina de escândalos.
O Orçamento Secreto, oficialmente chamado de RP-9, é um mecanismo criado em 2020 que permite que o relator-geral do orçamento da União destine verbas públicas sem a necessidade de aprovação do Congresso Nacional. Essa falta de transparência e critérios claros gerou diversas suspeitas de favorecimento político e uso indevido de recursos públicos.
Principais Escândalos:
1. Superfaturamento:
– Em 2021, o TCU (Tribunal de Contas da União) identificou indícios de superfaturamento em obras públicas custeadas pelo Orçamento Secreto. Um dos exemplos foi a construção de uma creche em Roraima com orçamento 30% superior ao valor de mercado.
2. Favorecimento político:
– Reportagens investigativas revelaram que as emendas do Orçamento Secreto foram direcionadas para aliados do governo federal e para bases eleitorais de parlamentares.
3. Desvios de dinheiro:
– A Polícia Federal investiga diversos casos de desvios de dinheiro público envolvendo o Orçamento Secreto. Em um dos casos, um empresário foi preso por desviar R$ 10 milhões em emendas destinadas à saúde no Amazonas.
4. Compra de votos:
– Há suspeitas de que o Orçamento Secreto tenha sido usado para comprar votos de parlamentares em votações importantes no Congresso Nacional.
5. Falta de transparência:
– O governo federal se recusa a fornecer informações detalhadas sobre as emendas do Orçamento Secreto, dificultando o controle social e a investigação de possíveis irregularidades.
Como ficamos? Como justificar a passada de pano do Supremo nos inquéritos que investigam Lira? Quem será o Davi a enfrentar um Golias que tem, em suas mãos, o poder de impichar desde Ministros do Supremo até presidente da República?
Arthur Lira é a última das 7 pragas do impeachment lançadas sobre o Brasil, a partir do momento que as instituições atropelaram a Constituição e perpetraram Golpe de Estado.
Faz um ano que tentaram um golpe de Estado. Sim, esse é o nome da coisa. Incrível, mas há muita gente que nega o fenômeno. Usei desde o início a expressão “passapanismo”, para explicar essa tentativa de desleitura e desidratação da gravidade da tentativa de golpe de 8 de janeiro e o efetivo papel dos militares e membros do governo Bolsonaro.
Sigo. Para dizer que muita gente tenta desler o que ocorreu. Até pedem o fim dos inquéritos. Eis o passapanismo. Até o ministro da defesa, desde que assumiu, dá ares de palimpsesto e vai polindo as diversas camadas das narrativas dos fatos. Sua entrevista na Folha mostra que somos reféns do passado. Múcio é refém. E o Brasil também. E o próprio governo quase golpeado. O ministro Múcio chegou a minimizar diretamente o 8 de janeiro (“só não houve golpe porque os militares não quiseram…” e ele diz isso, assim, desse modo? Outra frase de Múcio: “entre a raiva da direita e da esquerda, fiquei com as Forças Armadas”!!).
As FA não quiseram o golpe? Ora, o “manifesto” dos três comandantes militares datado de 11 de novembro de 2022 (já com novo presidente eleito, ministro Múcio!) sem dúvida colocou vitamina no ânimo dos golpistas. E os comandantes militares signatários da nota de 11 de novembro não foram nem indiciados. Isso tem nome? Tem. Amiguismo. Passapanismo.
Chamei a essa nota de 11/11/2022 de “hermenêuticas criminosas” em artigo em O Globo. Além de tudo, os militares falsearam a interpretação do parágrafo do artigo 358 do CP. Escrevi, em 16/11/2022, que os militares fizeram uma leitura seletiva da nova Lei 14.197/2021, que diz que
“não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais.”
Pela des-hermenêutica verde-oliva, eles, os militares, eram os defensores dos manifestantes que faziam manifestações pacíficas (sic). Diziam, na nota 11/11, que os protegeriam, desde que não fizessem arruaça. O que seria isto — “arruaça”?
Bom, há quem diga que não houve tentativa de golpe; houve apenas arruaças.
Qual é a parte que ficou de fora da hermenêutica curupira? Simples. O dispositivo da nova Lei não foi feito para servir de haraquiri. Por isso foi posto, no final do artigo — eu ajudei a elaborar —, que as manifestações pacíficas seriam toleradas sempre que fossem com “propósitos sociais”.
Ora, não consta a ninguém — que seja minimamente racional — que movimentos que clamem pelo fim da democracia, com a intervenção dos militares, sejam considerados com “propósitos sociais”. Espantoso isso, não? E não consta, em nenhuma hermenêutica, que “manifestação crítica aos poderes” possa querer dizer “acabar com esses Poderes”. O que me dizem? Ora, essas movimentações pretenderam sabotar a democracia.
E vamos parar de brincar de democracia.
A recente — histórica — entrevista do ministro Alexandre de Moraes mostra bem o que queriam fazer os golpistas. Havia até enforcamentos no plano.
Não há dúvidas de que a nota dos comandantes militares datada de 11/11 deu uma enorme força aos golpistas. Por isso há coautoria aí.
Digamos que o golpe necessitava do povão na rua e na invasão, enquanto a cúpula tratava de cuidar da logística “intelectual” do golpe – basta ver a minuta do golpe e da reunião dos três chefes militares com Bolsonaro.
Há uma sucessão de delitos (e autores) ainda por punir. E já se passou um ano. Além de tudo, dois dos três chefes militares da nota de 11/11 cometeram no mínimo prevaricação; o terceiro aderiu ao putsch, segundo nos contou Mauro Cid. E nada há ainda sobre isso. Nem vou falar do papel do MP — que precisa ir para o divã. E explicar, por exemplo, por que foi contra a prisão de Silvinei.
Aliás, centenas de radialistas e até gente de TV cometeram o crime do artigo 286 do Código Penal. E o MP não indiciou nenhum. Isso tem nome: passapanismo.
A história é professora. Ela é a Ave de Minerva. Os alemães cometeram o erro do “fator amiguismo”. Hitler tentou o golpe em 1923 e o MP e Poder judiciário fizeram o passapanismo. Deveria ser condenado a muitos e muitos anos e ter sido expulso do país — era estrangeiro. Cumpriu seis meses em um castelo e escreveu o Mein Kampf. O resto todos sabemos.
Minha dúvida é: quais os livros que nossos golpistas escreverão?
O “amiguismo” (a expressão é de Liszt Vieira) é tão profundo que o governo não está se dando conta de nada disso. Aliás, não se deu conta disso e continua ingênuo em relação à segurança pública. Quem vai mostrar ao governo as razões pelas quais a bancada da bala cresce dia a dia? Quem vai dizer ao governo que quem mais sofre com a violência cotidiana são os pobres? E quem vai dizer ao governo que o que houve, de verdade, foi uma tentativa de golpe em 8 de janeiro e que não, não dá para fazer concessões e ou amiguismos?
Enquanto isso, a delação de Mauro Cid já é conhecida como a delação 1.001 noites —a delação Sherazade. Tudo autoexplicativo.
De todo modo, hoje é 8 de janeiro. Escapamos dessa. Mas, escapamos, de verdade? Só temos mesmo é de aprender com a história. E que o crocodilo do fascismo, mesmo alimentado com carinho, continua sendo aquilo que ele é.
O autoritarismo e o horror à democracia têm precedentes fortes no Brasil. Impressiona o modo como a própria mídia flertou com o golpismo. Radialistas, jornalistas e jornaleiros incentivaram o golpe todos os dias. E ninguém foi punido por isso.
O ponto é: o autoritarismo e o desprezo pela democracia não morrem. São ideias. E ideias não se matam. Assim como lavajatismo está vivo, o golpismo também. Há uma ilusão de perenidade democrática no ar.
Quem acredita que o golpismo acabou, também acredita que os grupos religiosos pentecostais e neopentecostais (e quejandos) sairão às ruas para apoiar a democracia. Isso nunca acontecerá.
Sem ingenuidades, hoje é o dia de lembrar o golpe que falhou. E de reclamar por quais razões tanta gente ainda está impune. Como lembrou Celso Rocha de Barros na Folha de 7/1/2024,
Só quando os chefes do golpe tiverem sido presos, quando seus aliados de ocasião tiverem sido expulsos da vida pública, nossas instituições terão provado que mereciam ter sido salvas.
Numa palavra final: o 8 de janeiro é produto de negacionistas de todos os tipos. É a soma de todos os nossos medos. É a junção dos (i) negacionistas da democracia, (ii) negacionistas das vacinas, (iii) da Covid, (iv) da “redondês” da terra, (v) negacionistas da ciência, (vi) dos olavistas, (vii) dos parlamentares que se elegeram com o discurso da antipolítica, (viii) da turma do Silas, (ix) do Edir, (x) dos vendedores de milagres, (xi) dos pedintes de Pix e beneficiários de imunidade tributária, (xii) dos inimigos da leitura de livros, que também são inimigos do vernáculo e da cultura, (xiii) dos influencers reacionários, (xiv) das pessoas que acreditam que Adão e Eva existiram (isso é bem simbólico!), enfim, (xv) de todo obscurantismo possível e imaginável. Tudo isso somado dá uma tempestade perfeita.
Prestem(os) atenção nos sinais.
A cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é investigada pela Polícia Federal (PF), que aponta para um suposto conluio na gestão atual para proteger indivíduos envolvidos em um esquema de espionagem ilegal denominado "Abin Paralela". O jurista Lenio Streck fala sobre o assunto em entrevista ao jornalista Mario Vitor Santos.
Luis Nassif entrevista Julia Duailibi, jornalista e apresentadora da GloboNews e uma das diretoras do documentário "8/1 - A democracia resiste". No mesmo programa, Nassif recebe Lenio Streck, jurista e professor de Direito, que também comentará sobre o aniversário de um ano do atentado infame e nazista à democracia brasileira.
Apartado de bajulações de outros militares, o ex-comandante do Exército, Edson Pujol, não acatou à politização bolsonarista – Foto: Marcos Corrêa/PR/Flickr
A única coisa positiva do governo Bolsonaro foi a política de que não existe a farsa das forças armadas constituírem um poder moderador da República, notadamente o Exército. O capitão Jair Bolsonaro dobrou os ímpetos de rebeldia, de insurreição, por acaso existentes dos generais, brigadeiros e ministros, e o natural comando do Presidente da República Federativa do Brasil ficou mais forte no dia 8 de janeiro de 2023 com a derrota do golpe intentado por Bolsonaro e militares corruptos e anarquistas e terroristas da extrema direita.
A jornalista Patricia Faermann narra o risco dos militares legalistas que resistiram aos intentos golpistas de Bolsonaro, duas vezes derrotado nas eleições de 2022.
Historia Faermann que comandantes militares pagaram o preço, rebaixados de seus postos, preteridos à reserva. Outros mantiveram a discrição para não arriscar a carreira.
A reportagem de Faermann no jornal GGN
Os chamados legalistas são os militares que defendem o papel constitucional das Forças Armadas independente do poder e o dos mandatos. Intensificamente tentados a ocupar estes espaços com Jair Bolsonaro, em dimensão só vista no Brasil durante a ditadura do regime militar, alguns comandantes resistiram. Uma parcela pagou o preço, rebaixados de seus postos, preteridos à reserva e às suas vidas pessoais. Os que mantiveram cargos de alto escalão se viram obrigados a reservar, ao menos, a voz ou qualquer ato que pudesse torná-los manchetes e arriscar, definitivamente, suas carreiras.
Os Comandantes das Forças Armadas que pediram demissão
Em março de 2021, em meio à pandemia e na véspera dos 57 anos do golpe da ditadura militar, os três comandantes das Forças Armadas pediram a renúncia conjunta por discordar de Jair Bolsonaro, que cobrava deles manifestações políticas favoráveis e apoio para decretar “estado de Defesa” no país para impedir lockdowns.
À época, Bolsonaro falou que “meu Exército” não permitiria as restrições de circulação, determinadas pelos governadores com aval do Supremo Tribunal Federal (STF), que havia permitido a autonomia para os entedes federativos determinarem medidas de segurança contra a disseminação do Covid-19.
A medida ocorreu, ainda, um dia após a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que era visto pelos comandantes das Forças Armadas como um bom interlocutor discreto dos militares com o governo.
Azevedo e Silva colocou o cargo à disposição de Bolsonaro, a pedido do próprio ex-presidente, anunciando em nota que havia “preservado” as Forças Armadas “como instituições de Estado”. Durante os dois anos em que esteve na pasta, tentava equilibrar e minimizar falas de Bolsonaro sobre rupturas institucionais e politização e radicalização das tropas.
No lugar de Fernando Azevedo e Silva, Bolsonaro escolheu o general Braga Netto para assumir a Defesa, um dos militares mais linhas-dura do governo Bolsonaro e seu principal aliado.
Foi a primeira vez desde a ditadura militar que os três comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica deixavam o cargo, ao mesmo tempo, sem ser em troca de governo.
Um dos que pediram demissão, o comandante do Exército, Edson Pujol, afirmou, em novembro de 2020, que os militares não queriam “fazer parte da política”, “muito menos deixar a política entrar nos quartéis”.
Dias antes, Bolsonaro afirmava em tom de ameaça e uso de força autoritária para aplicar medidas de seu interesse, que “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”, sobre “defender a Amazônia” de pressão internacional contra o desmatamento.
Dois dias depois, os comandantes Ilques Barbosa da Marinha e Antônio Carlos Moretti Bermudez da Aeronáutica também emitiam nota, juntamente com Pujol, afirmando a separação entre as Forças Armadas e a política.
“A característica fundamental das Forças Armadas como instituições de Estado, permanentes e necessariamente apartadas da política partidária, conforme ressaltado recentemente por chefes militares, durante seminários programados, é prevista em texto constitucional”, afirmava.
Onde estão
Fernando Azevedo e Silva (ex-ministro da Defesa):
Após deixar o Ministério da Defesa, Azevedo foi convidado por diversos ministros do STF e do TSE a assumir a Diretoria-Geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ao final de dezembro de 2021.
Ele chegou a participar de uma reunião de transição do Tribunal, com o então presidente da Corte, Luis Roberto Barroso, o futuro presidente do TSE, Edson Fachin, e o futuro presidente do STF, Alexandre de Moraes.
Já preparados para o flerte golpista e o questionamento incisivo de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas, o objetivo dos ministros era neutralizar contestações aos resultados das urnas, ao ter como chefe do TSE um militar e ex-ministro da Defesa de Bolsonaro.
“Como ministro da Defesa, eu representava as três Forças, que são instituições de Estado. As eleições e a Justiça das eleições, o TSE, também representam o Estado brasileiro. Não tem partido político representando. Não tem uma maioria, uma minoria”, disse o próprio militar, durante um encontro com representantes do IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa).
Em dezembro, Azevedo falava ter aceitado o cargo, que assumiria em fevereiro de 2022. Naquele mês, contudo, disseminava-se publicamente o relatório das Forças Armadas questionando a segurança das urnas. Com receio, o militar recolheu-se, negou o convite alegando “questões pessoais de saúde e familiares” e decidiu manter discrição como militar da reserva, desde então.
Edson Pujol (ex-comandante do Exército):
General do Exército, Pujol manteve a discrição após deixar o comando da Força. Em novembro de 2022, a equipe de transição do governo Lula convidou o militar a integrar o grupo de trabalho da Defesa, em um aceno do presidente eleito a se aproximar e estabelecer pontes com as Forças Armadas. Pujol não integrou a transição do governo Lula.
Ilques Barbosa (ex-comandante da Marinha):
Sem nenhuma aparição pública desde a sua demissão, o Almirante de Esquadra é, desde agosto de 2023, coordenador de Relações Institucionais e de Desenvolvimento de Novos Negócios do Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro, uma associação sem fins lucrativos com atuação em tecnologia e engenharia naval.
Antônio Carlos Moretti Bermudez (ex-comandante da Aeronáutica):
Assim como Pujol, Bermudez manteve a discrição e o Tenente-Brigadeiro não teve aparições públicas após a sua demissão.
O general demitido do setor de controle de armas
Final de março de 2020, no segundo ano do governo de Jair Bolsonaro, o general responsável pelo controle de armas, diretor de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército, Eugênio Pacelli Vieira Mota, foi demitido após publicar uma importante portaria que ajudava a rastrear munições.
Reportagem de O Globo, da época, mostrava uma carta em que Pacelli pedia “desculpas” se “por vezes não atendi interesses pontuais”. “Não podia e não podemos: nosso maior compromisso será sempre com a tranquilidade da segurança social e capacidade de mobilização da indústria nacional”, escrevia o general.
As portarias de restrição de armas publicadas pelo militar foram revogadas por Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo que o então presidente editava dezenas de outras flexibilizando a fiscalização e o porte de armas no país.
Onde está
À época, o Exército negava que a demissão tinha relação com a revogação da portaria. Em 2020, Pacelli estava no quarto ano como general da brigada, visando a promoção a general da divisão. Como foi demitido e não foi promovido, ele automaticamente entrou para a reserva do Exército.
Contra-almirante da reserva da Marinha, Antonio Barra Torres foi escolhido em 2020 por Jair Bolsonaro para assumir o comando da Anvisa porque ele já ocupava um cargo de diretor no órgão desde agosto de 2019, naquele ano já indicado pelo ex-presidente, e porque além de militar, é médico de perfil conservador.
Vestindo a camisa do órgão durante todo o ano, começou a confrontar o seu superior hierárquico, Jair Bolsonaro, por seus conhecimentos na área, com as disseminações anti-vacina e a favor de medicamentos contra a Covid-19 do mandatário.
O confronto do chefe da Anvisa veio, de maneira mais explícita, com uma nota, em tom pessoal, divulgada em janeiro de 2022, cobrando a retratação do então presidente por insinuações contra a Agência em liberar a vacinação infantil contra a Covid.
À época, Bolsonaro questionou “qual interesse da Anvisa por trás” da liberação da vacina. “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, senho presidente. Determine a imediata investigação policial sobre a minha pessoa. Agora, se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente”, escrevia Torres.
Onde está
Por ser umcargo de agência nacional, sabatinado pelo Congresso Nacional, o mandato de presidente da Anvisa dura 4 anos, iniciando-se ao final do governo anterior e terminando na metade do mandato do sucessor. Assim, a Presidência na Anvisa termina em dezembro deste ano e Torres ainda permanece no cargo.
Militares fora dos holofotes
Mais distantes dos holofotes por não protagonizarem embates maiores de manchetes de jornal, outros militares foram considerados decisivos por adotarem posturas legalistas durante os intentos de Jair Bolsonaro de politizar as Forças Armadas.
Durante a demissão dos comandantes gerais das Forças Armadas e do ex-ministro da Defesa, em 2021, não somente Pujol, mas uma parte do Alto Comando do Exército, formado por 16 generais de 4 estrelas que comandam diferentes frentes do Exército, não ficaram satisfeitos com a demissão do então ministro da Defesa e concordaram, junto aos comandantes das Forças Armadas, que a demissão deles seria a resposta dos militares de que não iriam aderir à politização ou a ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) à época.
É o caso de alguns dos 15 generais do Alto Comando do Exército de 2020, como o Chefe do Estado-Maior do Exército,Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, o Secretário de Economia e Finanças (SEF),Sérgio Da Costa Negraes, ambos queainda se mantêm nos mesmos postos, e o então Comandante de Operações Terrestres (COTer),José Luiz Dias Freitas, assim como o então comandante da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),Paulo Roberto Rodrigues Pimentel.
O general Negraes foi Secretário de Segurança Presidencial da ex-presidente Dilma Rousseff e comandou diversas operações, como a Samaúma, de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, na atuação junto às forças de seguranças para a greve dos caminhoneiros em 2018, e nas ações do Exército para o enfrentamento da Covid-19. Manteve-se distante de posturas políticas e não cedeu a gestos de apoio golpista.
Também ainda no cargo, após a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva,narrou em entrevistaque “não houve uma única unidade [do Exército] sublevada” a cometer golpe de Estado e afastou a acusação de que a Força teve essa intenção. Admitindo que os militares foram “totalmente capturados pelos assuntos políticos” e “tragados pela percepção do golpismo”, rechaçou possibilidades de envolvimento político.
Chefe do COTer, o general Freitas era reconhecido por ser ativo em suas redes sociais, já no governo de Jair Bolsonaro, sem nunca publicar manifestações políticas ou partidárias, apenas de assuntos relacionados ao Exército e ao Comando. De acordo com ocolunista Marcelo Godoy, ele recebeu o convite direto do general Braga Netto, que assumiu a Defesa após a caída de Azevedo, para o cargo máximo de comando do Exército.
Ele negou, alegando que não se sujeitaria a caprichos de Bolsonaro. Um mês depois, Freitas foi afastado da atuação militar, passou para a reserva e foi viver no interior do Paraná com serviço voluntário.
Já Pimentel, o comandante das Agulhas Negras, em determinado episódio de motociata de Bolsonaro no Rio de Janeiro, em agosto de 2021, negou a entrada do ato do presidente na Academia. Outros militares sugeriram que a moticiata do mandatário fosse concentrada fora dos muros da Aman, o que foi aceito. A solução à negativa teria salvado a carreira de Pimentel, que foi promovido em 2022 a 3ª Divisão do Exército, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Já nos conhecemos, trabalhei no Jornal da Tarde, deixei minha contribuição por lá e levei da empresa uma lembrança positiva, de uma corporação que respeitava seus jornalistas, mesmo aqueles raros que não se enquadravam nos seus critérios políticos.
Escrevo esta para alertá-lo sobre o que está ocorrendo na sucursal do Estadão em Brasilia. Aliás, julgo que um dos objetivos centrais da Associação Nacional dos Jornais deveria ser o de zelar pelo respeito devido aos jornalistas, impedindo assédio moral e outras práticas abusivas, práticas que, mais cedo ou mais tarde, reverterão contra a própria imprensa. Hoje em dia, qualquer setor moderno da economia preocupa-se fundamentalmente com o clima interno, com o respeito aos funcionários. Mire-se na sua colega, a Globo, que já montou departamentos para prevenir abusos.
O que lhe contarei a seguir poderá ser facilmente confirmado por um enviado seu a Brasília, que se disponha a falar com os jornalistas, hoje calados pelo receio de perder o emprego.
Ouvirá histórias escabrosas de assédio moral na sucursal, repórteres mulheres sendo chamadas de vacas, homens, que não pertencem ao círculo pessoal da diretora, sendo destratados diariamente, a redação dividida entre seguidores fiéis e os demais.
Talvez, analisando esse ambiente, encontre explicações para o fato da maior série de furos recentes do jornal – em torno do caso das jóias – ter ficado inexplicavelmente escondido nas páginas internas
Só a primeira matéria – a apreensão das jóias no aeroporto de Guarulhos – mereceu manchete. Depois, veio uma sucessão, a reportagem sobre o segundo e o terceiro pacotes de jóias, as jóias guardadas na fazenda de Nelson Piquet. E o Estadão escondeu seus próprios furos.
Sua diretora tentou se vitimizar por trás do feminismo, atribuindo os ataques que sofreu ao machismo. Ela não é vítima, nem fraca. Ganhou poderes absolutos do diretor de redação, Eurípides Alcântara, responsável pelo clima que transformou em lixo a Veja, então maior revista do país. E usa e abusa de seus poderes de diretora.
Peça ao seu enviado para perguntar, em Brasília, como é o clima na sucursal da Folha, de O Globo, da UOL. Ouvirá elogios e ressalvas normais. De um longo tempo para cá, acabou o modelo de assédio moral vigente nos anos 90. Se for um bom especialista em psicologia do jornalismo, saberá calcular os ganhos de produtividade existentes em ambientes saudáveis.
Depois, compare com o que ocorre na sua sucursal do Estadão. Segundo o Twitter abaixo, os autores de dois dos maiores furos recentes do jornal foram demitidos logo após a publicação das reportagens. Qual a razão? Não precisa ser psicólogo para entender o problema da ciumeira profissional entre chefia e subordinados talentosos, uma das maiores causas da perda de produtividade em empresas gerencialmente anacrônicas.
Não existe pior local de trabalho do que aquele em que as chefias montam panelas e mostram inveja dos jornalistas mais talentosos.
Pesquise e devolva ao Estadão o clima de respeito que imperou em outros momentos. Fará bem para a imagem do jornal, poupará de escândalos futuros inevitáveis, por assédio moral, e melhorará substancialmente a produtividade da sucursal.
Coloque alguém que respeite os jornalistas e verá a diferença.
Vamos, primeiro, a uma constatação óbvia, mas bastante manipulada nas discussões sobre privatização x estatização: estamos em uma economia de mercado. Não se está discutindo socialismo x capitalismo.
Em uma economia de mercado, há uma convivência entre Estado e setor privado. O grande desafio é encontrar a melhor solução, entender onde cabe o setor privado e o setor público.
Durante algum tempo me entusiasmei com algumas experiências de gestão da saúde. Quando Paulo Maluf, prefeito de São Paulo, lançou seu primeiro projeto de Organização Social, ousei o primeiro e último elogio a ele.
Na teoria, era uma beleza. Terceirizava-se a saúde, mas dentro de métricas supostamente claras de entrega de serviço, incluindo pesquisas de opinião com o público assistido. Mais tarde, criou-se o modelo com conselhos de participação montados nos diversos bairros da cidade.
Não funcionou. Houve abusos de toda ordem, os conselhos não tinham voz ativa, nunca foram divulgados indicadores de desempenho. Os abusos prosseguiram por várias administrações, incluindo a de José Serra.
Aí, cheguei à primeira conclusão. Não adianta falar em modelos de gestão em um setor – o político – com baixíssima transparência. O setor público é mais burocratizado, sim, em grande parte porque dispõe de vários sistemas de controle. Nas OSs, bastava um pacto entre a organização e o prefeito ou governador.
Com o tempo, outros inconvenientes apareceram claramente em serviços públicos privatizados. A ideia de que a empresa privada é mais eficiente que a pública esbarrava em um dilema: eficiente para quê? Ora, a medida de eficiência de uma empresa é o lucro. Há duas maneiras de melhorar o lucro: sacrificando o serviço ou aumentando os preços. E o lucro se esvai na forma de dividendos para os acioniostas – e não em melhoria dos serviços.
A partir dos anos 90, as empresas privadas passaram a ser tomadas pela lógica Jack Welch – o gestor que assumiu e quebrou a General Eletric. Compra-se uma empresa pública, em funcionamento, e trata-se de depená-la, reduzindo a manutenção, cortando investimentos, reduzindo o corpo de funcionários, esmagando os fornecedores e precarizando os serviços.
Depois de depenada, a empresa volta para o Estado, como ocorreu com a Light, no Rio, e certamente irá ocorrer com a Eletrobras, com a Enel e com a Sabesp, se houver a loucura da privatização.
A regra, então, é simples: serviços essenciais, em setores sem competição, tem que ser entregues a empresas públicas. E cabe ao Estado criar condições financeiras e fiscais para investimentos privados em setores adequados.
A federalização da Cemig
Minas Gerais está com as contas arrebentadas e uma dívida de R$ 160 bilhões com o governo federal. Ao mesmo tempo, o improvável governador Zema, pretende privatizar a Cemig. Há uma maneira objetiva de preservar o setor elétrico e resolver as dívidas de Minas: negociar a federalização das elétricas e das grandes empresas mineiras de serviços básicos.
O governo está em dúvida sobre a meta fiscal para o próximo ano, se 0% ou 0,25% de déficit fiscal. A diferença é de R$ 25,75 bilhões.
Aí, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, diz que a incerteza fiscal poderá obrigar o BC a parar de reduzir a taxa Selic. Cada 0,5% da Selic equivale a R$ 40,1 bilhões, ou 56% a mais do que o aumento da meta fiscal.
Na Globonews, as moças vibram, porque se aprovadas as novas medidas, haverá uma economia de R$ 35 bilhões. Maravilha! É o equivalente a 0,35 pontos da Selic. No G1, Valdo Cruz alerta para risco de cenário de grave crise, uma perda de R$ 35 bilhões que pode chegar a R$ 70 bilhões – o equivalente a 0,70 pontos da taxa Selic.
É evidente que distorções precisam ser corrigidas. E a possibilidade de um estado dar subvenção que, depois, impacta tributos federais ou de outros estados, é uma distorção. Mas qual a lógica dessa loucura de um esforço hercúleo para obtetr economias que representam menos de 1 ponto da taxa Selic?
Qual a lógica dessa loucura? Já dizia o Louco, de Ionesco:
– “O mundo está louco, eu sou a única pessoa sã.”
– “A vida é uma farsa, a morte é uma farsa.”
– “O amor é uma mentira, a felicidade é uma mentira.”
– “Tudo é inútil, tudo é absurdo.”
As frases de o Louco buscavam fazer o público refletir sobre a própria existência e o significado da vida. A lógica do Banco Central obriga o distinto público a refletir sobre a lógica dessa teoria econômica louca, pela qual a maneira de contornar uma incerteza fiscal consiste em aumentar o rombo fiscal.
Enquanto a mídia se envolve no tema único da meta fiscal,
– o petróleo brent caiu de US$ 108,18 para US$ 106,55 o barril.
– o dólar cai de R$ 4,90 para R$ 4,88.
– a taxa longa de juros caiu de 12,64% para 12,45%.
Enquanto isto, o JP News, emulando a chamada grande mídia, espalha o terror: o debate sobre a revisão da meta piorou a projeção para a inflação de 2024: subiu de 3,0% para terríveis 3,1%! 0,1 ponto de aumento. Ó céus! Ó dia! Ó vida! Ó azar!
Qual a lógica de toda essa loucura?
O mercado internacional não está nem aí para essa discussão de loucos. Mas, como estamos em um país de analfabetos midiáticos funcionais, vende-se a seguinte lógica:
A incerteza fiscal afasta investidores.
Com menos dólares, há uma desvalorização do real, pressionando a inflação.
Ai o BC precisa aumentar os juros para atrair mais dólares e estabilizar o câmbio.
Mas como assim? Se o investidor externo foge por conta de receio fiscal, porque voltaria se o aumento de juros aumenta o déficit fiscal? Qualquer desculpa serve para sangrar o orçamento em favor do rentista. Qualquer desculpa serve para enxugar recursos que beneficiam a sociedade.
Um país irracional, com uma irracionalidade tão entranhada que não consegue ser removida nem a golpes de picaretas, nem a bombas de Netanyahu, está eternamente condenado a ser uma nação menor.
Na semana passada, mais de 40 movimentos sociais e entidades da sociedade civil encaminharam ao governo Lula um manifesto propondo que o Brasil rompa com acordos firmados recentemente com o Estado terrorista de Israel. Entre eles, estão dois projetos assinados durante as trevas de Jair Bolsonaro, que versam sobre a cooperação entre os dois países para as áreas de segurança e serviços aéreos, e um terceiro, firmado durante a gestão do golpista Michel Temer, que trata do acesso ao sistema previdenciário de residentes de ambos países.
Os três projetos foram aprovados pela Câmara dos Deputados no início de outubro, antes do início da ofensiva israelense de genocídio do povo palestino e ainda dependem da apreciação do Senado. O manifesto contra os acordos é assinado pela articulação internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Movimento Negro Unificado (MNU), entre outros.
A cumplicidade com os crimes contra a humanidade
“Esses acordos aprofundam a cumplicidade do Brasil com os crimes contra a humanidade perpetrados por Israel e dão aval para que o apartheid e o genocídio continuem... Urgimos ao presidente Lula que denuncie os acordos firmados por Bolsonaro com o apartheid israelense. Dado que os crimes contra a humanidade cometidos por Israel se nutrem da cumplicidade internacional, revogar estes instrumentos é fundamental para contribuirmos de fato com a paz, os direitos humanos e o direito internacional”, enfatiza o manifesto.
O documento defende um cessar-fogo imediato na guerra, a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e que o Brasil e países de todo o mundo pleiteiem um embargo militar contra o Estado sionista. “Há 75 anos, Israel implementa uma política de limpeza étnica contínua, impondo um regime de apartheid a todo o povo palestino e ocupando e colonizando seu território. Não podemos aceitar que táticas e tecnologias desenvolvidas pelo apartheid israelense sigam sendo exportadas normalmente”.
Postura pouco ousada do governo Lula
Até agora, o governo Lula tem adotado uma política externa de não confronto com os terroristas de Israel. Nos fóruns internacionais, especialmente na Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu o cessar-fogo e a criação de corredores humanitários para a retirada de civis e envio de alimentos e medicamentos. O presidente Lula até endureceu seu discurso, afirmando que o que ocorre em Gaza “não é uma guerra, mas um genocídio”. O governo também foi exemplar nos esforços para a repatriação de brasileiros das áreas de conflito.
Essa conduta, porém, está bem aquém de outras adotadas na própria América do Sul. Na semana passada, por exemplo, o governo boliviano, liderado por Luís Arce, foi bem mais ousado. “A Bolívia decidiu romper relações diplomáticas com o Estado de Israel em repúdio e condenação à agressiva e desproporcional ofensiva militar israelense, que está sendo levada a cabo na Faixa de Gaza”, anunciou o vice-ministro das Relações Exteriores. Já o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, retirou o embaixador em Tel Aviv. “Se Israel não parar o massacre do povo palestino, não poderemos estar lá”, disse. E até o mandatário do Chile, Gabriel Boric, tomou a mesma atitude contra “as violações inaceitáveis do Direito Internacional Humanitário que Israel cometeu em Gaza”.
Nesta sexta (27), segundo dia de“Balanço Crítico da Lava Jato”,evento realizado na USP, os juristas Lênio Streck, Pierpaolo Bottini e Jacinto Coutinho passam a limpo a operação que afetou o sistema institucional brasileiro.
O painel“A Lava Jato, finalmente, passada a limpo”, que reúne os especialistas renomados, foi retransmitido no programa[veja o link abaixo].
A jornalista Mônica Bergamo, colunista da Folha de S. Paulo e apresentadora da BandNews, comentou sobre bastidores da Lava Jato e relatou o “desafio” que foi fazer a cobertura da operação, que contou com apoio de setores da grande mídia em sua cruzada para colocar o presidente Lula na cadeia e afastá-lo da disputa eleitoral de 2018.
Mônica Bergamo, que é uma das autoras da primeira entrevista que Lula concedeu ainda preso, relatou que o alinhamento da Lava Jato com setores da grande mídia era tão grande que quando qualquer jornalista fazia uma matéria “minimamente crítica” à operação, acabava sofrendo ataques ou era repreendido por colegas ou por membros da própria Lava Jato.
“Tinham duas dificuldades. Uma era a cobertura dos próprios fatos da Lava Jato. Todos os furos eram dados praticamente só para repórteres totalmente alinhados. Isso até acho ok, [porque] a fonte dá informações para quem ela confia. E [o segundo desafio foi] trazer fatos críticos da Lava Jato, [porque isso] te transformava [em opositor] e te carimbava como defensor de corruptos.”
A jornalista viveu a experiência na própria pele quando foi a Curitiba para fazer um perfil sobre Sergio Moro. Chegando lá, Moro deu um “chá de cadeira de horas” em Mônica Bergamo, se recusou a dar entrevista e chamou de “lamentável” a matéria que ela havia publicado anteriormente, sobre a situação precária de presos da Lava Jato. Moro disse que a jornalista estava “vitimizando” corruptos. E, no final da história, ainda deu um jeito de retaliar os presos pela reportagem.
“Uma das primeira matérias que fiz da Lava Jato, o Otávio Frias Filho – que nunca tinha me pautado – ele me chama e me pede para fazer a vida dos ricos na prisão. Quando os primeiros ricos foram presos. Era ordem dele, ele queria fazer aquela matéria. Eu descobri um cara do segundo escalão que tinha saído [da prisão] e topava me contar. Me contou tudo! Que eles desenhavam relógio de sol na parede para saber a hora. Que comiam com a mão porque o garfo de plástico quebrava. Que não tinham banheiro… Tudo aquilo. Fiz e publiquei. A segunda matéria que tinha me pedido era um perfil do Sergio Moro. Lá fui eu para Curitiba. O Moro, depois de me dar um chá de cadeira de horas, ele me deixa entrar na sala dele, me diz que não iria dar entrevista, era só uma conversa, e disse que minha matéria ela lamentável. ‘Você está vitimizando essas pessoas que são corruptas’. (…) Ele não me deu entrevista. Me tratou bem, foi educado, mas não quis fazer perfil nenhum. No dia seguinte, eles tiram transfere todos os presos da Polícia Federal e manda para um presídio muito pior, como se eles fossem os culpados pela minha matéria. (…) Foram punidos os presos. Então eu percebi a enorme dificuldade que eu teria tanto para cobrir quanto para criticar a Lava Jato.”
Os relatos de Mônica Bergamo ocorreram na manhã desta quinta (26), durante um painel sobre Lava Jato e imprensa, ao lado dos jornalistas Luis Nassif, Marina Rossi e Florestan Fernandes Jr, na Faculdade de Direito da USP. O evento foi promovido com apoio do Museu da Lava Jato. Nassif fez uma análise ampla sobre como a mídia travou relações promíscuas com o Judiciário e a classe política, para atingir seus interesses. Leia maisaqui.
“A imprensa protegia o Moro”
Mônica Bergamo ponderou que apesar de receber muitas críticas, a Folha de S. Paulo deu amplo espaço para a cobertura crítica da Lava Jato. Prova disso é que o jornal “rapidamente embarcou” na cobertura da Vaza Jato com o site The Intercept Brasil e outros meios de comunicação, ela disse.
Outro exemplo é a primeira matéria de Rodrigo Tacla Duran dizendo que o compadre de Sergio Moro – Carlos Zucolotto – estava oferecendo vantagens na Lava Jato. O furo foi de Mônica Bergamo na Folha.
“No dia seguinte, um dos nossos concorrentes deu uma entrevista com Moro, de duas páginas, sem perguntar uma vez sobre Tacla Duran. A partir daí, Moro passou a falar de jornalismo irresponsável. Tinha essa dificuldade: você fazia uma matéria minimamente crítica e o resto da imprensa caia para proteger o Moro” ,comentou Bergamo.
A entrevista histórica com Lula
Ela ainda lembrou da entrevista que fez da prisão em Curitiba com Lula, em 2019, e revelou que aquele momento foi o mais chocante em termos de cobertura da imprensa.
“Quando surgiu a possibilidade de entrevistar o Lula, ali foi o momento que mais me chocou, de perceber como uma parte da imprensa se corrompeu num nível que eu achava que não chegaria nesse nível. Não estou falando de dinheiro. Foram editoriais apoiando a censura à Folha de S. Paulo. Censura prévia. Se fez a entrevista, não pode publicar. Fux deu uma decisão assim. Isso é censura prévia. E os jornais fizeram editoriais a favor da censura e criticando o ministro Lewandowski.”
O jornalista Florestan Fernandes falou sobre como o papel da mídia foi fundamental para a Lava Jato, ao mesmo passo em que restou aos meios independentes a missão de fazer uma cobertura mais crítica.“Todos os criminalistas usaram veículos de comunicação progressistas para denunciar o viés fascista da Lava Jato. (…) A imprensa independente manteve-se alerta cumprindo seu papel democrático”,pontuou.
Marina Rossi, ex-El Pais, também ponderou as críticas à cobertura da Lava Jato e exaltou o papel da imprensa na cobertura da operação, sobretudo quando da série Vaza Jato.“Santo hacker, mas também santa imprensa.”
Também participaram do evento os jornalistas Luis Nassif, Florestan Fernandes e Marina Rossi. Assista a abaixo: