Porém, ainda há pessoas que tentam defender o que disse o presidente da República.Leticia Dornelles, presidente da Casa Rui Barbosa,foi às redes sociais para normalizar as afirmações de Bolsonaro, comparando suas declarações com uma das maiores tragédias ocorridas na América do Sul.
“O voo uruguaio 571 transportava 45 pessoas. Caiu na Cordilheira dos Andes em outubro de 1972. Os 33 sobreviventes ficaram 72 dias perdidos no gelo. Faltou alimento. Aconteceu o horror. São monstros? Não. Pode imaginar o trauma? Tirado de contexto, eles seriam canibais? Raciocine”, postou Leticia.
A comparação, no mínimo infeliz, foi com o que ocorreu no dia 13 de outubro de 1972, quando o time de rugby do Uruguai viajava para Santiago do Chile.O avião caiu na Cordilheira dos Andes, a mais de 4 mil metros de altitude.
Os passageiros que não morreram no acidente, após mais de 70 dias sem serem resgatados, tiveram de se alimentar de carne humana para sobreviver. Ou seja, havia uma situação limite, nada semelhante ao que relatou Bolsonaro.
“Morreu o índio e eles estão cozinhando, eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois três dias, e come com banana.Daí eu queria ver o índio sendo cozinhado, e um cara falou, ‘se for ver, tem que comer’, daí eu disse, eu como!E ninguém quis ir, porque tinha que comer o índio, então eles não me queriam levar sozinho, e não fui”, disse Bolsonaro na entrevista.
Vale ressaltar que a Casa Rui Barbosa é um dos principais centros de intelectuais, pensadores e pesquisadores do Brasil.
No terceiro episódio da segunda temporada do podcast “UOL Investiga”, a jornalista Juliana Dal Piva revela como a família Bolsonaro ignorava as denúncias dos crimes de policiais durante a CPI das milícias.
Flávio e Carlos condecoraram 16 policiais denunciados como integrantes de organizações criminosas.
Ao mesmo tempo, o ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega crescia no mundo do crime.
“UOL Investiga - Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro” fala da relação da família Bolsonaro com agentes das forças de segurança que se tornaram milicianos e usaram seu treinamento para cometer crimes.
Traz ainda detalhes da relação da família Bolsonaro com Adriano Nóbrega, ex-policial militar morto em 2020 e apontado como chefe de assassinos de aluguel
Jair e Flávio inclusive fizeram visitas ao ex-capitão na prisão.
Esta temporada tem também a história completa do roubo de uma moto do presidente em 1995, crime que mobilizou parte da polícia do Rio e simboliza vários problemas da segurança pública.
O que é e como funciona o Escritório do Crime
Braço armado da milícia que age na Zona Oeste no Rio, a organização era comandada pelo ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega, que tinha ex-esposa e mãe empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro
Investigações do Ministério Público (MP) aprofundam cada vez mais o envolvimento da família Bolsonaro com o chamado Escritório do Crime.
Braço armado da milícia que age na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a organização era comandada pelo ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães da Nóbrega, que tinha ex-esposa e mãe empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro, na época em que o filho do presidente era deputado estadual.
Adriano é amigo do policial militar reformado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. O ex-capitão chegou a ser homenageado pelo filho de Jair Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Mais informações sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo Flávio, hoje senador, vieram à tona após a deflagração de mandados de busca e apreensão solicitados pelo MP-RJ.
As apurações apontam que Danielle Mendonça da Costa, ex-esposa de Adriano, admitiu que a origem do dinheiro que recebia como assessora de Flávio na Alerj era ilegal.
Ex-assessora do então deputado, Danielle é apontada pelo MP como uma funcionária fantasma que recebia salário e o repassava para Queiroz, indicado como chefe do esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio.
De acordo com o MP, ela teria repassado a Queiroz R$ 150 mil no período em que esteve na Alerj.
O MP-RJ também concluiu que contas bancárias de Adriano foram usadas para repassar dinheiro a Queiroz.
A conclusão foi tirada com base em informações da quebra de sigilo bancário e fiscal de Queiroz e de Danielle.
Execuções por encomenda
O Escritório do Crime nasceu da exploração imobiliária ilegal em atividades como grilagem, construção, venda e locação ilegal de imóveis.
Especializada em execuções por encomenda, a organização é composta pelo que se chama de banda podre da polícia.
Os integrantes utilizam as técnicas aprendidas nas corporações oficiais para cometer assassinatos.
Há fortes suspeitas que o grupo esteja envolvido em 19 homicídios não esclarecidos desde 2002.
Os criminosos chamam atenção pelo profissionalismo com que atuam.
Marielle
Em agosto de 2018, passaram a ser investigados sob acusação de envolvimento com o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A suspeita é que os assassinatos tenham sido encomendados para a organização com o objetivo de evitar que Marielle atrapalhasse os negócios do grupo.
A ex-vereadora estava investigando as atividades imobiliárias ilegais dos milicianos em Rio das Pedras.
Marielle Franco foi executada durante a intervenção militar do governo Michel Temer no Rio de Janeiro.
O interventor de Temer, hoje vice na chapa de Jair Bolsonaro, o general Braga Neto jamais interveio nos territórios das milícias.
Albert Dickson medica remédios ineficazes para os crédulos pacientes, e se protege da covid=19 tomando vacina
Oftalmologista, Albert Dickson (PROS) divulga medicamentos sem eficácia comprovada; Outros participantes trocam receitas de ivermectina com assinatura do médico
por Ethel Rudnitzki /Agência Púalbertblica
* Outros médicos defensores do tratamento precoce participam dos grupos * Usuários compartilham fake news sobre máscaras e vacinas
“Bom dia! Alguém pode, por favor, me informar um protocolo para minha filha de 15 anos? Todos na casa dela estão muito gripados e o padrasto dela perdeu o olfato ontem”. “Boa tarde. O que fazer se tiver contato com pessoa que testou positivo?”. “Oi grupo, boa tarde. Ontem eu passei o dia espirrando e com dor de cabeça. Hoje amanheci vomitando. Vocês acham que pode ser covid?”.
Perguntas como essas são comuns em grupos de WhatsApp que promovem o tratamento precoce contra a covid-19. A Agência Pública acompanhou por um mês oito grupos de WhatsApp que promovem o tratamento precoce. Desses, cinco são administrados pelo deputado estadual e médico oftalmologista Albert Dickson (PROS-RN). O político possui um canal no Youtube e uma página no Facebook, onde defende o uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento de coronavírus, além de realizar atendimentos por WhatsApp.
Nos grupos são enviadas receitas médicas e protocolos para uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como ivermectina, hidroxicloroquina, azitromicina, bromexina e suplementos vitamínicos. Tratamentos ainda mais arriscados como nebulização com cloroquina também são recomendados. Também circulam mensagens conspiracionistas sobre a pandemia, questionamentos sobre a eficácia das vacinas e rejeição ao uso de máscaras.
A Pública apurou que o telefone celular de Dickson consta como administrador dos grupos de WhatsApp “Ivermectina é Vida”, “Ivermectina Salva”, “Trat Precoce VS RS” e dois grupos diferentes com o mesmo nome: “Covid/Tratamento Precoce”. Juntos, os grupos somam mais de 850 membros.
Telefone do deputado estadual Albert Dickson consta como administrador de grupos
A reportagem ainda acompanhou os grupos “Tratamento Precoce”, “Ivermectina São Paulo” e “Salvando Vidas/Covid”, cujos administradores não foram identificados.
O administrador
“Ivermectina: porque eu uso?” é o título de um dos vídeos mais assistidos do canal de Albert Dickson no Youtube, que hoje conta com mais de 200 mil inscritos.
Oftalmologista e deputado federal, Dickson mantém canal de Youtube onde divulga chamado “tratamento precoce”
Ao lado de sua esposa, a também oftalmologista e deputada federal, Carla Dickson (PROS-RN), o político grava vídeos recomendando o uso de Ivermectina – remédio utilizado no combate de verminoses – no tratamento da COVID-19 entre outros medicamentos sem eficácia comprovada.
Por propagar informações consideradas falsas sobre a pandemia, o casal teve 12 vídeos removidos do Youtube no início do ano, mas continua na ativa.
Dickson e a esposa começaram a postar no Youtube em 2017, mas só ganharam popularidade no ano passado, quando começaram a fazer vídeos sobre tratamento precoce. Ao final dos vídeos, o médico disponibiliza seu número de telefone para consultas por WhatsApp. Segundo reportagem da BBC, o oftalmologista pede inscrições no seu canal em troca de atendimento médico.
O casal de médicos também mantêm canal no Telegram, onde enviam links de suas lives e vídeos para mais de 2,2 mil inscritos.
Fora das redes sociais, os oftalmologistas tentam fazer com que o tratamento precoce seja ampliado no Brasil. O deputado estadual apresentou dois projetos de lei na Assembleia Legislativa de Alagoas: um determina a “disponibilização gratuita de kits de medicamentos com os remédios hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina” pelo SUS e o outro a distribuição por planos de saúde.
Na Câmara, a deputada Carla Dickson foi responsável por promover um debate virtual com médicos, pesquisadores e políticos em julho do ano passado sobre o uso precoce de cloroquina e ivermectina no tratamento contra coronavírus.
Evangélicos, os oftalmologistas também lutaram pela abertura de igrejas durante a pandemia. Em seus vídeos, Dickson se afirma contra o fechamento do comércio para contenção da pandemia.
A reportagem questionou Albert e Carla Dickson sobre a participação nos grupos de WhatsApp e a defesa de tratamentos ineficazes contra a Covid-19, mas não obteve resposta até a publicação.
Compartilhamento de receitas
Apesar de realizar atendimento por WhatsApp, nos grupos Dickson não costuma responder mensagens ou interagir. Seu número encaminha links para suas lives e postagens no Facebook, Instagram e Youtube sobre tratamento precoce.
No entanto, membros dos grupos indicam aos outros que entrem em contato com o oftalmologista por mensagens privadas para atendimento personalizado. Integrantes dos grupos relatam que já foram atendidos pelo médico e até o agradecem publicamente.
Integrantes de grupos pró-tratamento precoce no WhatsApp indicam o médico Albert Dickson aos outros
Também circulam nos grupos receitas de medicamentos com carimbo e assinatura em nome do médico.
A reportagem teve acesso a quatro receituários com a assinatura de Dickson que foram compartilhados pelo WhatsApp no último mês, direcionados a pacientes diferentes.
Os receituários são emitidos com o papel timbrado do Instituto da Visão, consultório de oftalmologia em Natal onde Dickson atende, e terminam com expressões religiosas como “Deus seja exaltado. Leia a Bíblia”.
Receituários e protocolos de outros médicos também são compartilhados nos grupos. A grande maioria leva o papel timbrado de hospitais e planos de saúde, mas os nomes dos médicos estão ocultos.
Médicos de WhatsApp
A Pública ainda identificou a presença de outros profissionais de saúde nos grupos analisados. (...)
Anti-vaxxers
Membros dos grupos no Whatsapp também questionam os únicos métodos eficazes de combate à pandemia, como a vacinação e o uso de máscaras.
“Era para eu ter ido na sexta tomar a vacina da astrazeneca… desisti”, confessou um número no grupo “Ivermectina Salva”. “Estou com muito receio. Metade de mim quer e o outra tem medo”, continuou. “Metade de mim diz pra não tomar a outra metade também. Daqui uns dois anos quem sabe teremos uma vacina eficiente e segura, prefiro a profilaxia, mas você decide o que é melhor pra você”, respondeu outra integrante do grupo. “Eu não tomo nenhuma, ninguém caiu a ficha ainda”, publicou outra pessoa.
Integrantes de grupos pró-tratamento precoce relatam não querer se vacinar
Há também relatos de pessoas que tiveram efeitos colaterais às vacinas ou se infectaram mesmo assim. “Minha vizinha aqui tomou a vacina e depois de contaminada com o vírus veio a óbito”, alertou um dos usuários.
Também circulam fake news sobre vacinas e o uso de máscaras. Uma imagem compartilhada dizia que elas poderiam causar “privação de oxigênio e envenenamento por CO2”, o que já foi desmentido por agências de checagem. Transcrevi trechos. Leia mais na Agência Publica aqui.
Enquanto os idiotas, os bobos, os enganados vão na empulhação, na onda do negativismo, o dr. Albert Dickson, que não é besta, cuidou de tomar a necessária vacina.
Publica o portal da Revista Forum:
Médico que troca “likes” por receitas de tratamento precoce se vacina contra Covid-19
Oftalmologista e deputado estadual, Albert Dickson (Pros-RN) ainda distribui receitas online sem falar com os pacientes
O médico oftalmologista e deputado estadual, Albert Dickson (Pros-RN), ganhou notoriedade por trocar receitas de falso tratamento precoce para a Covid-19 e inscrições para seu canal do YouTube por “likes”. Ele se vacinou contra o coronavírus, nesta segunda-feira (17), na unidade montada no Shopping Via Direta, na zona sul de Natal (RN), de acordo com reportagem de Mirella Lopes, no Saiba Mais.
O médico ainda distribui receitas online sem falar com os pacientes. Para tal, é preciso apenas se inscrever no canal e, depois disso, enviar um print pelo seu WhatsApp.
“Como que vocês vão ter direito à consulta? Vocês vão se inscrever no nosso canal, ganhando uma etapa no atendimento. Vocês vão printar e mandar para o meu WhatsApp. Quando você mandar, você já vai começar a ter o acesso à consulta comigo”, diz ele em um vídeo publicado no Facebook no dia 7 de março. “O segredo é mandar o print”, afirma o médico.
Dickson receita medicamentos comprovadamente sem eficácia contra a Covid-19.
Administrador
A Agência Pública apurou que o celular de Dickson aparece como administrador dos grupos de WhatsApp “Ivermectina é Vida”, “Ivermectina Salva”, “Trat Precoce VS RS”, além de dois grupos diversos, mas com o mesmo nome: “Covid/Tratamento Precoce”. Somando, os grupos têm um total de 850 integrantes.
Ministério da Saúde finalmente reconhece a inutilidade da cloroquina
Reuters - A comissão do Ministério da Saúde responsável por assessorar a pasta no processo de incorporação e exclusão de medicamentos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) contraindicou o uso da cloroquina, da hidroxicloroquina e da azitromicina no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19.
A orientação dada pelo órgão vai na contramão da defesa enfática que o presidente Jair Bolsonaro faz do uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia do chamado "kit Covid" para tratar a doença.
"Não há evidência de benefício seja no seu uso de forma isolada ou em associação com outros medicamentos", disse relatório técnico da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
O documento destacou ainda que a cloroquina e a hidroxicloroquina não devem ser utilizadas, independentemente da via de administração: oral, inalatória ou outras.
O relatório abre a exceção para que pacientes que usam esses dois medicamentos devido a outras condições de saúde, como doenças reumatológicas e malária, mantenham-nas caso contraiam a Covid-19.
Por sua vez, a utilização da azitromicina pode ser feita na presença ou suspeita de infecção bacteriana, de acordo com orientações do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar local e/ou protocolos institucionais de uso de antimicrobianos.
O relatório da Conitec não fala do uso da cloroquina e dessas outras medicações em casa.
O relatório Conitec, de 101 páginas, servirá de base para uma decisão final do Ministério da Saúde sobre o uso dessas medicações para o tratamento de Covid-19.
A compra e a distribuição da cloroquina e de outros medicamentos estão no cerne da investigação da CPI da Covid-19 e de apurações que envolvem o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele foi convocado a depor nesta quarta na CPI.
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pediram a André Mendonça, ministro da Justiça, a abertura de inquérito para investigar a conduta da delegada da Polícia Federal (PF), Erika Mialik Marena. Conforme conversas apreendidas pela Operação Spoofing, que falsificou depoimento de uma testemunha no âmbito da Operação Lava Jato, conforme revelação de procuradores.
A delegada é a mesma que, em 2017, comandou o inquérito que acusou o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, por corrupção, na Operação Ouvidos Moucos.
Cancellier acabou se suicidando, após ser preso ilegalmente e ter sofrido humilhação pública, com a proibição de ingressar nas dependências da universidade.
O pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Acioli Cancellier de Olivo, irmão do ex-reitor da UFSC, afirma que não se surpreende com o comportamento da delegada.
“Não me espanta cada nova revelação dos métodos ‘não republicanos’ empregados por membros da Lava Jato para acusar, prender, torturar psicologicamente para conseguir confissões, sem falar do balcão de negócios que envolveu a questão das delações”, avalia Acioli, que hoje se dedica a estudos sobre a importância da Ciência, o aquecimento global e o envelhecimento da população.
“A Operação Ouvidos Moucos, que prendeu meu irmão e mais seis professores, não poderia agir de maneira distinta da Lava Jato, pois é herdeira de alguns integrantes, como a delegada Erika Marena. Mas, suponho, laudatória de seus métodos não ortodoxos. Como reza o dito popular, o fruto não cai longe do pé”, destaca.
O caso
Acioli relembra o caso que teve como consequência principal o suicídio do seu irmão.
“No dia 14 de setembro de 2017, no âmbito da Operação Ouvidos Moucos conduzida pela delegada da PF, Erika Marena, meu irmão foi preso e conduzido coercitivamente, acusado de liderar uma organização criminosa, que desviou R$ 84 milhões do Programa de Ensino a Distância do sistema Universidade Aberta do Brasil, financiado pela Capes”, conta.
“O inquérito, baseado em absoluta falta de provas, revelou que não existia acusação alguma do desvio do montante anunciado pela maioria da imprensa e que, de fato, o que pesou contra o reitor foi a ‘obstrução à Justiça’, por ele ter avocado à reitoria uma sindicância conduzida pelo corregedor da UFSC, cujo andamento acarretou o bloqueio dos recursos repassado pela Capes à UFSC”, prossegue Acioli.
“Portanto, o reitor, à época, foi acusado injustamente devido a um ato de gestão, legítimo e perfeitamente justificável, haja vista que o fez em benefício da própria UFSC. Adicionalmente, os ilícitos apontados no inquérito ocorreram nas gestões de dois reitores anteriores”, destaca.
Em seguida, Cancellier foi preso, destituído do seu mandato, proibido de entrar na universidade e de ter contato com qualquer membro do corpo universitário.
Acioli conta que seu irmão foi interrogado, durante seis horas, por um delegado que havia chegado de Pernambuco, e não conhecia o inquérito. “Ele ficou lendo perguntas, pressionando-o a confessar, antes que fosse tarde”.
Depois disso, Cancellier foi encaminhado a um presídio de segurança máxima, onde passou por revista íntima vexatória, mantido nu e de pé por mais de duas horas e, finalmente, algemado e acorrentado nas pernas.
“Quando foi solto, verificou que sua honra tinha sido enlameada de maneira indelével e decidiu que só com sangue essa mancha seria removida. Suicidou-se em 2 de outubro de 2017”, ressalta Acioli.
“Fiz duas representações contra a delegada, questionando a forma como ela conduziu a Operação Ouvidos Moucos. A primeira, para o ministro da Justiça, Torquato Jardim, em 31 de outubro de 2017. O ministro nunca me respondeu. Soube, no início de 2018, que ele recebeu ofício da PF, isentando a delegada de ter cometido qualquer irregularidade, pois, segundo a sindicância interna da PF, ela teria agido de acordo com os protocolos estabelecidos pela Operação Lava Jato”, revela Acioli.
“Na época, fiquei revoltado, mas hoje entendo que ela, realmente, seguiu os protocolos estabelecidos por Sérgio Moro e seus acólitos, que não hesitavam em atropelar os trâmites legais, como tem sido revelado ultimamente”, desabafa o irmão do ex-reitor.
Outra representação foi feita posteriormente para o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que não teve tempo hábil para investigar. “Quando Moro foi entronizado por Bolsonaro como ministro, a Justiça absorveu a Segurança Pública, levou para o Ministério a delegada para um importante cargo e nunca mais tive notícia de minhas representações”.
Processo criminal
O processo criminal contra Cancellier foi extinto após sua morte. Porém, segundo Acioli, os outros seis professores acusados pela Ouvidos Moucos continuam sofrendo com os processos que pesam contra si, com sérios danos financeiros e emocionais.
“Todos eles foram reintegrados pela UFSC. Através de suas instâncias, foram inocentados de todas as acusações sofridas. Quanto ao meu irmão, o Cau, como nós carinhosamente o chamávamos, esperamos que a Justiça, mesmo tardia, se faça e que, no mínimo, o Estado reconheça que errou e peça desculpas à família, aos amigos e à comunidade universitária da UFSC por tê-lo arrancado de nosso convívio de maneira trágica”, finaliza.