
Lula divulga carta aos evangélicos e reafirma compromisso com liberdade de culto no país
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Um menino reza pelo Brasil, pela vitória de Lula, na leitura da Carta aos Evangélicos. Outro pergunta ao Papa Francisco se o pai ateu, "um bom bom" que morreu recentemente, está no céu.
Dois lindos momentos do cristianismo. Quando o malígno deseja que os estudantes de Santa Maria, porque denunciaram a corrupção do orçamento secreto no Ministério da Educação, sejam queimados vivos como aconteceu na boite Kiss.
O deputado federal bolsonarista Bibo Nunes (PL-RS) critica um protesto feito pelos universitários de Santa Maria contra o bloqueio de verbas do MEC (Ministério da Educação) promovido pelo governo Bolsonaro. Ele também cita os alunos da Universidade Federal de Pelotas, usa termos como vergonha, escória do mundo, miseráveis e coitados para se referir aos estudantes e faz referência a uma cena do filme “Tropa de elite”. “É o filme Tropa de elite. Sabe o que aconteceu. Olha o um. Olha o filme um. Pegaram aqueles coitadinhos. Que coitadinhos? Aqueles riquinhos, ajudando pobre, se deram mal. Queimaram vivo dentro de pneus! Queimaram vivo dentro de pneus! E é isso que esses estudantes alienados, filhos de papai, que têm grana, merecem”, diz o parlamentar, com o tom de voz bastante elevado.
Foi na cidade gaúcha de Santa Maria que ocorreu o incêndio na boate Kiss, em janeiro de 2013. Na ocasião, chamas causadas por fogos de artifício detonados dentro da danceteria se alastraram de forma descontrolada, o que resultou na morte de 242 pessoas. Entre as vítimas, havia 113 estudantes da universidade citada por Nunes no vídeo
Nesta sexta, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) anunciou que vai denunciar Nunes ao Conselho de Ética da Câmara e ao Ministério Público. “Inadmissível fazer uma ameaça sórdida de que os estudantes da UFSM deveriam ser queimados vivos, ainda mais na cidade que sofreu a tragédia da Boate Kiss”, afirmou a parlamentar. Também houve reação do ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria, Paulo Burmann, que foi candidato a deputado federal pelo PDT, mas não se elegeu. Ele postou um vídeo nas redes sociais classificando as falas do bolsonarista como “um ataque arrogante, carregado de ódio, sem nenhum sentimento humano”.
Antes de entrar para a política, o gaúcho Bibo Nunes trabalhou como apresentador e repórter em diversos veículos de imprensa do Rio Grande do Sul, como a RBS TV Cruz Alta, o jornal Zero Hora e a TVE RS. Concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSD, em 2014, e a ao cargo de vereador de Porto Alegre pelo PMDB, em 2016, mas não obteve sucesso em nenhuma das ocasiões. Em 2018, se associou ao bolsonarismo e foi eleito deputado federal pelo PSL, com mais de 91 mil votos. Migrou para o PL em 2021 e tentou a reeleição em 2022, mas não conseguiu.
Discurso de ódio bolsonarista na boca malígna de Bibo Nunes
Papa consola criança que perguntou se seu pai ateu estava no céu
Cidade do Vaticano - O papa Francisco afirmou neste domingo que Deus não abandona as pessoas boas, ao responder a uma pergunta feita por um menino que queria saber se seu pai, que era ateu e morreu há pouco tempo, estava no céu.
Durante uma visita à paróquia do bairro de Corviale, na periferia de Roma, Francisco respondeu às perguntas dos fiéis, entre os quais estava Emanuele, um menino de oito anos, cuja voz estava embargada pelo choro.
Diante desta situação, o papa lhe encorajou a fazer sua pergunta perto de seu ouvido, lhe abraçou e ambos conversaram durante alguns minutos. Posteriormente, o pontífice pediu permissão ao menino para revelar sua inquietação.
Francisco explicou então que Emanuele lhe contou que seu pai havia morrido há pouco tempo e que, embora não fosse crente, tinha batizado seus quatro filhos, mas sua dúvida era "se o papai estava no céu".
"Que lindo que um filho diga que seu pai era bom. Um lindo testemunho daquele homem para que seus filhos possam dizer dele que era um homem bom. Se esse homem foi capaz de ter filhos assim, é verdade que era um grande homem", declarou o papa.
Francisco ressaltou que embora este homem "não tivesse o dom da fé, não fosse crente, fez batizar os filhos" e, perante a dúvida de Emanuele, respondeu: "Quem diz quem vai para o céu é Deus".
Então Francisco perguntou aos presentes: "Deus abandona seus filhos quando são bons?", ao que responderam "não" em coro.
"Bom, Emanuele, esta é a resposta. Deus seguramente estava orgulhoso do seu pai, porque é mais fácil batizar os filhos sendo crente que batizá-los não sendo crente. E seguramente Deus gostou muito disso", acrescentou.
E concluiu: "Fale com seu pai, reza ao seu pai. Obrigado, Emanuele, pela sua valentia ".
Outra das perguntas ao papa foi se todos, "inclusive os não batizados", somos "filhos de Deus", ao que Francisco explicou: "Somos todos filhos de Deus, inclusive os que são de outras religiões distantes".
"Inclusive os mafiosos, embora estes prefiram comportar-se como filhos do diabo", completou.
As crianças também lhe questionaram sobre o que sentiu quando foi escolhido papa e Francisco respondeu que "não sentiu medo, nem uma grande alegria (...), mas uma grande paz". EFE
Campanhas de Lula lançam cartas aos evangélicos desde 1989; veja a primeira
A liberdade religiosa era o compromisso número 1 da carta lançada na eleição contra Collor. Veja íntegra do exemplar obtido por CartaCapital
A carta aos evangélicos lançada na quarta-feira 19 pelo ex-presidente Lula (PT) não foi a primeira a ser divulgada por uma campanha do petista ao Palácio do Planalto: a iniciativa pioneira ocorreu em 1989, na campanha que disputou contra Fernando Collor, que lançou as mesmas mentiras hoje repetidas por Jair Bolsonaro de fechar igrejas.
Carta de Lula aos religiosos rebate fake news dos fariseus e cita Evangelho de São João
por Vinicius do Valle
Depois de semanas de discussão e especulação sobre a possibilidade de Lula lançar uma carta para evangélicos, saiu ontem, no dia em que se comemora Nossa Senhora Aparecida, um documento da campanha petista, assinado por Lula, destinado aos religiosos do Brasil. O documento sai após uma versão anterior, destinada especificamente aos evangélicos, ter sido vazada para a imprensa – revelando a dificuldade da campanha petista em lidar com o tema de forma interna.
Para muitos do comitê eleitoral petista, a campanha de Lula deveria focar na agenda econômica e social, as quais Lula teria muito a mostrar, ao invés de alimentar a agenda moral e religiosa. No entanto, a enxurrada de fake news de conteúdo religioso e o alívio relativo nas condições de vida de parcela da população, gerado pelo auxílio Brasil turbinado e redução do preço da gasolina – feitos sob medida para a campanha bolsonarista e com prazo de duração limitado — tornaram a agenda moral inescapável.
A versão final do documento parece, nesse sentido, ter ficado no “meio termo” entre a posição de não entrar no embate religioso e a de um documento voltado especificamente ao segmento evangélico, com compromissos específicos e fechados. Na carta, Lula afirma o respeito ao direito à religião e à liberdade religiosa. Reconhece o papel das religiões na sociedade brasileira, e se compromete a respeitar a Constituição, todas as religiões, os templos e locais de culto, públicos ou privados. Cita ainda o evangelho de João, capítulo 10 e versículo 10, manifestando o desejo de construir uma sociedade em “que todos tenham vida em abundância”.
Lula divulga carta aos evangélicos e reafirma compromisso com liberdade de culto no país
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (19) lideranças de igrejas evangélicas. No encontro, que ocorreu em um hotel na cidade de São Paulo, foi lida uma carta de Lula ao eleitorado evangélico (leia a íntegra ao final desta reportagem). Lula condena a demagogia religiosa de Bolsonaro de bancar o santo de todas igrejas, sendo preconceituoso com as religiões afro-brasileiras e religiões indígenas. Lula assinou a Lei de Liberdade Religiosa. Antes do Governo Lula, nas cidades, povoados e vilas dos sertões de dentro e fora, os pastores evangélicos eram chamados de "bodes", e muitas vezes presos e/ou expulsos.
O petista, na carta, critica o uso eleitoral da fé, defende a liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto. A leitura do documento foi feita por Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Na carta, Lula diz que:
A elaboração da carta contou com a articulação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é da Igreja Assembleia de Deus.
O texto não faz referência ao adversário de Lula na disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PL).
Em um dos trechos da carta, o petista afirma que "de nada adianta se dizer defensor da família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular".
O candidato Lula ora com evangélicos durante encontro em hotel de São Paulo
Lula chegou ao hotel em que o ato ocorreu por volta das 10h e foi recebido pelos religiosos com aplausos e músicas. Um pastor fez uma oração na abertura do encontro. Antes de Lula discursar, um menino orou pelo petista.
No pronunciamento, Lula disse que, em razão de falsas acusações, toda eleição precisa fazer cartas aos evangélicos para desmentir conteúdos inverídicos. Como exemplo, disse que "inventaram" que se ele for eleito instalará banheiro unissex nas escolas. "Só pode ter saído da cabeça de satanás a história do banheiro unissex", disse.
Lula se emocionou durante o discurso quando falava da sua família e da mãe de Janja, sua esposa. "A mãe da Janja morreu de Covid recentemente. A família, pra mim, [embarga a voz] é uma coisa sagrada", declarou.
Ele acrescentou que fica "ofendido" quando as pessoas colocam em dúvida o seu respeito à família e disse não considerar pastor "um pastor que conta mentiras". "Um pastor não pode ir para igreja fazer política. Se um padre quiser fazer política, ele que faça política, mas não tire proveito do altar para fazer política. Saia, vá para a rua fazer política", afirmou.
O ex-presidente disse ainda que "mentiras" estão estabelecendo o "ódio" no Brasil.
O candidato do PT à Presidência, Lula, é recebido com música pelas lideranças evangélicas em SP — Foto Mariana Aldano/TV Globo
A 10 dias do segundo turno da eleição presidencial, o candidato do PT tenta conquistar votos dentro do eleitorado evangélico. De acordo com as pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro tem ampla maioria no segmento.
Levantamento feito pelo instituto Ipec divulgado na última segunda-feira (17) aponta que o candidato do PL à reeleição tem 60% das intenções de voto no eleitorado evangélico, enquanto Lula tem 32%.
Parlamentares evangélicas acompanharam Lula no encontro com os religiosos. Estavam presentes, por exemplo, a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), a deputada reeleita Benedita da Silva (PT-RJ) e a senadora Eliziane Gama.
Geraldo Alckmin (PSB), que concorre a vice na chapa de Lula, e o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, também compareceram à reunião.
Durante a campanha, de olho no voto cristão, Lula afirmou, mais de uma vez, que é contra o aborto. E que cabe ao Congresso o papel de discutir eventuais mudanças na legislação em vigor sobre o tema.
Carta compromisso com os evangélicos
Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico.
A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa.
Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos.
Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico.
E o nosso Povo sabe também que cuidei, com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades…” (Tiago, 1,27)
Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende. Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País.
Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países.
Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.
Envio-lhes esta mensagem, portanto, em respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras.
Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias brasileiras.
Sei muito bem que em todas as regiões do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas.
Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência. Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de participação social no Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências Públicas.
Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé.
Esse é um ensinamento que a própria Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com a livre escolha de cada pessoa.
Portanto, a tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso precisamos. E os cristãos evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22,21).
Outro compromisso que assumo: fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional, realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades e exerçam cidadania de forma produtiva, saudável e plena.
O respeito à família sempre foi um valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a família ocupa na fé cristã.
Também entendo que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, sem a interferência do Estado.
A preocupação com as Famílias Brasileiras deve ser integral. O povo brasileiro está numa condição de desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes, reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular.
Queremos dar às famílias, prosperidade e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e dignidade.
Nosso governo implementará políticas públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que depender da ajuda do Estado.
Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.
Meus Queridos e Minhas Queridas, peço que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os brasileiros e brasileiras.
Com as bênçãos de Deus, haveremos de honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento. E digo tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos outros!” (João,13,35).
JUNTOS PELO BRASIL!
Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo, 19 de outubro de 2022.
por Janice Theodoro da Silva /Jornal da USP
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A população brasileira é formada por 50% de católicos e 31% de evangélicos.
A Constituição de 1891 estabeleceu o Estado brasileiro como uma instituição laica, garantindo a liberdade religiosa, para todos os cidadãos, até os dias de hoje.
Assunto encerrado?
Não.
Basta olhar as notícias no celular, abrir um jornal ou ligar a televisão. Na disputa presidencial brasileira o voto dos evangélicos tem peso significativo. Entre eles, 48% declaram voto em Bolsonaro e 32% apoiam Lula (dados do Datafolha, divulgados em 1/9).
Apesar do Estado brasileiro ser laico, parte significativa da população não separa o espaço privado, de suas convicções religiosas individuais, do espaço público, gerido pelo Estado. Por que é difícil separar uma coisa da outra, o público do privado?
A história do Brasil é farta em diferentes práticas religiosas. As escolas religiosas foram uma marca no passado e no presente, as festas devocionais, um momento de confraternização da população, e as expressões de linguagem “Deus te guarde”, “Vá com Deus”, “deixo nas mãos de Deus” são formas de falar típicas do dia a dia dos brasileiros. Festas juninas são, também, festas políticas e de políticos. A população brasileira espera apoio material de Santo Antônio, de São João, da Virgem Maria, e em níveis mais elevados de Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e, por vezes, do Estado.
Para todos, indiscriminadamente, a população pede proteção e justiça.
A esperança é que alguém escute.
É comum ouvir a frase: Eu só quero justiça, diante de um crime.
Justiça praticada por quem?
Pelo Estado.
Onde e como nasceu a ideia de Justiça?
Na tradição do Ocidente, com os gregos, remodelada com o cristianismo, discutida pelos teólogos, como São Tomás de Aquino, desembocando no contrato social, gerido por instituições de Estado.
A cidade das gentes é repleta de desejos de vingança, de amor, de ódio, de generosidade, de ganância, sentimentos próprios da condição humana. Para resolver as contradições dos humanos, a história do Ocidente construiu alternativas com raiz na pólis, no bem comum, nas instituições, na Justiça. O indivíduo isolado ou mesmo organizado em pequenos grupos não dispõe de instrumentos para planejar, gerir e corrigir os rumos da pólis. Os seres humanos sem um contrato e instituições brigarão muito entre si. Entre inúmeros desacertos correm o risco de morrer de fome, sem chegar a nenhum acordo. Cabe ao Estado pôr ordem no caos, gerir as condutas dos indivíduos, organizar a sociedade, impor limites aos crentes ou descrentes da vida política, ou mesmo, de Deus (ou deus).
As igrejas evangélicas existentes no Brasil, com suas diversas denominações, ganharam força a partir da década de 1970. Desenvolveram projetos pregando a valorização da prosperidade individual, em detrimento de políticas estatais.
Por que as igrejas evangélicas ganharam espaço em comunidades de baixa renda, especialmente a partir dos anos 1970 do século passado?
Porque desenvolveram e difundiram a teologia da prosperidade, com forte aceitação no segmento neopentecostal. A proposta ganhou força entre uma população pobre, migrante do campo para as periferias das cidades. Os antigos laços familiares e de solidariedade se romperam com a migração. Abandonados pelo poder público, a população marginalizada viu crescer diversos tipos de associações de ajuda mútua. Algumas escolheram como vínculo a religiosidade e, outras, o crime organizado (milícias) e o comércio de drogas.
Em meio à insegurança cotidiana, as igrejas evangélicas encontraram uma população descrente das instituições políticas e incapaz de superar os desafios contemporâneos. Elas foram a única porta aberta nas comunidades, oferecendo abrigo para as populações de baixa renda.
Os evangélicos souberam substituir a instituição Estado pela instituição Igreja.
Construíram uma nova linguagem fundada na intolerância da igualdade, canal adequado para desaguar a raiva do “vizinho”, inimigo próximo. Souberam ensinar a obediência irrestrita (disciplina), aproveitando dos resquícios de uma sociedade autoritária, e valorizaram as tradições patriarcais, fortalecendo uma cultura tradicional, profundamente machista. Negaram a mudança e a modernidade, demonizaram as questões de gênero. Defenderam uma teologia ancorada na negação do prazer carnal, valorizaram a cura pelo exorcismo e estimularam as ilusões proféticas, materializadas em milagres. Pastores ungidos pelo Senhor e diante do profundo desamparo da população construíram uma nova linguagem, marcada pela fala direta, sem os rodeios retóricos antigos e uso de diminutivos (formas de amenizar estruturas de dominação). Ensinaram a administração eficiente de negócios, desenvolveram práticas voltadas para a liderança e modelos de gestão de negócios. Acrescentaram à lógica religiosa a matemática do empreendimento, o espetáculo nos cultos e a cultura de resultados (prosperidade), transformando o dinheiro em expressão da graça divina.
Sem o amparo do Estado, sem educação de qualidade e sem renda para subsistir, as populações mais pobres precisaram justificar tanta desgraça, para aliviar o justo rancor social. Era necessário produzir um responsável materializável para encarnar todas as desgraças. O Estado é uma entidade abstrata. Não se presta para descarregas de ódio. É mais fácil compreender o mal se ele estiver representado em algo palpável, sólido. Nada melhor do que um diabo, um juiz, uma mulher feiticeira, um comunista, um preto ou uma urna eleitoral para personalizar o mal. Melhor ainda a contraposição binária do diabo encarnado no pobre em oposição ao empreendedor-mascate, cuja fé (e não o SUS) cura qualquer doença, transformando o crente em um rico e feliz fiel pagador de dízimos.
Uma teologia onde Jesus Cristo redimiu a humanidade e a graça produz sinais como a riqueza, a boa saúde ou a vitória política, indicativos da salvação apropriados à conversão de pessoas em situação de dificuldade. Da mesma forma demonizar o mal, materializando-o na pobreza, na doença, em minorias (mulheres, pretos, judeus, ideologias de gênero, entre outros), permite solidez, materialidade, para o bem e o mal. Ingredientes de uma perigosa receita política.
Bem mais difícil é refletir, abstrair, avaliar as próprias atitudes e compreender as políticas de Estado. Meta quase impossível de ser alcançada sem um pouco de educação de qualidade. A solução mais simples sempre é culpar o Outro, delegar o mal para quem é diferente na cor, nas ideias, ou nas tradições.
A certeza frui, é leve e linear. A dúvida dói, pesa, é um emaranhado de possibilidades.
As soluções apresentadas pelos evangélicos dizem respeito à ética do trabalho. Na linguagem atual a palavra é empreendedorismo, tecido com ilusões, apoiado por alguns sucessos financeiros, difundidos nas redes sociais. Não se pode deixar de lado o modelo eficiente de gestão dos negócios, proposto pelos evangélicos. Ele envolve redes de apoio na comunidade e, do ponto de vista dos negócios, sugere até franquias para a sua expansão. As práticas de fato favorecem a prosperidade financeira.
Em suma: Existe, entre alguns evangélicos, justificação religiosa e política para a precarização do sistema de saúde, para o combate à fome e para a ausência de políticas voltadas para o bem-estar dos mais necessitados. Existe liberdade de interpretação do texto bíblico, à moda do leitor. Eu me salvo. Reconheço os sinais da graça, e ponto final.
Qual a diferença com a tradição dos católicos?
O bem e o mal não estão postos em pessoas diferentes. De um lado o bem e de outro o mal. O bem e o mal vivem dentro de cada um de nós. Optar pelo bem ou pelo mal é do livre-arbítrio do ser humano. Ele é o responsável pela escolha, por meio do uso da razão e do coração. E, para complicar: dinheiro e poder não significam sinais de obtenção da graça.
Dura responsabilidade, e solitária realidade.
Personalizando a reflexão na pessoa do padre Júlio Lancellotti é possível observar o cuidado do pároco com a população de rua, com menores infratores e pacientes com HIV/Aids. Não se trata apenas de diferenças de sensibilidade em relação aos mais necessitados.
O centro da questão é: diante de uma dificuldade para obter um emprego, sarar de uma doença ou acompanhar os desafios escolares, a “culpa” ou responsabilidade (presente nas duas tradições) é de quem? Do pobre, do doente, da mãe ou do abandono do Estado incapaz de prover o indivíduo para que ele disponha de condições adequadas para atuar na pólis (vida política)?
Sucesso, dinheiro e poder são indicativos do caminho da salvação?
Na tradição católica, não.
De acordo com a tradição católica a graça é dom do amor. Ela é gratuita, faz parte da liberdade amorosa de Deus. Ela não é resultado da ação ou de obras ou do trabalho. Uma pessoa pode ter ganho muito dinheiro ou ter obtido muito poder ou, ainda, ter sido disciplinada ao longo da vida sem alcançar a graça. Ela, a graça, não se mistura nem com o poder, nem com o dinheiro nem com o Estado. Portanto, é clara a separação das coisas terrenas das coisas divinas, justificando o papel do Estado laico e responsabilizando os indivíduos pelas suas escolhas (livre-arbítrio).
Para os católicos, embora o demônio esteja presente na religiosidade popular, a resolução teológica, do bem e do mal, se dá por meio do livre-arbítrio. O homem possui capacidade de escolha entre o bem e o mal, a todo o instante. Esta liberdade para escolher faz dele agente responsável pela prática, do bem ou do mal. O mal não está no Outro, em objetos, em exus, orixás, caboclos, feiticeiras, comunismo, mulheres ou opções políticas. O bem ou o mal, o amor ou o ódio, a generosidade ou a mesquinhez são frutos de uma escolha: do livre-arbítrio do ser humano. O mesmo livre-arbítrio que dispomos na pólis, para votar e se responsabilizar pela escolha.
Temos na política duas matrizes religiosas que, grosso modo, justificam mais ou menos Estado, mais ou menos liberdade individual, mais livre-arbítrio e menos demonização do Outro.
Resumo da ópera: as práticas religiosas existentes nas sociedades interferem nas políticas públicas. O Estado, embora laico, enfrenta dificuldades para manter as fronteiras entre o público e o privado. A porosidade das fronteiras pode contribuir para a discutida corrosão da democracia.
Em encontro com representantes de comunidades evangélicas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que seu governo teve uma extraordinária relação com todas as igrejas e governou para todos, sem distinção de religião, credo ou etnia.
Lula disse ser possível construir um mundo melhor, pautado na verdade e sem a exploração da boa-fé das pessoas.
“Quando fui presidente, não queria governar para um pastor, um padre, eu queria governar para o povo. Tive uma extraordinária relação com todas as igrejas, e governei para todo mundo”, disse o ex-presidente, que, logo no seu primeiro ano de governo, em 2003, sancionou a lei que incluiu as entidades religiosas como pessoas jurídicas de direito privado no Código Civil, abrindo espaço para a liberdade de culto. ”Precisamos defender o Estado laico e cada religião deve se organizar do jeito que quiser, por isso fizemos a reforma do Código Civil, para abrir a liberdade de culto”.
Encontro maravilhoso de Lula c/ evangélicos(as) s/ a situação do povo brasileiro e nosso país. Companheira @dasilvabenedita coordenou esse diálogo. Nossa disputa ñ é religiosa, é política. Pela vida, dignidade do povo brasileiro. Respeitamos a crença de cada um(a)! pic.twitter.com/BOYNQFZqyj
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 27, 2021
“O que nós provamos foi que o Brasil tem jeito, a religião pode ser feita com muita verdade e ninguém precisa utilizar da boa-fé dos outros, porque a fé uma coisa sagrada. Tenho fé em Deus que a gente pode consertar esse país, podemos fazer a economia voltar a crescer, voltar a gerar emprego formal, cuidar do meio ambiente. Não podemos perder a fé do povo”, disse o ex-presidente, lembrado que, no seu governo, o Brasil chegou a ser a sexta maior economia do mundo, mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada foram criados. O retrocesso, a partir do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, ocorreu em grande parte por preconceito, já que os pobre passaram a viver com mais conforto, a viajar e a ocupar as universidades. Com o retrocesso, hoje 19 milhões de brasileiros passam fome diariamente.
Lula ainda lembrou que nos 580 dias que esteve preso injustamente ele leu muitos livros e assistiu a muitos cultos na TV. Ele contou que, quando saiu da prisão, foi visitar o Papa Francisco e o Conselho Mundial das Igrejas, porque nutria a ideia de criar uma luta mundial contra a desigualdade. “Não podemos nos conformar. Não é possível que nosso país seja o terceiro maior produtor de alimento do mundo e muita gente vai, neste país, vai dormir sem comer. É possível construir outro mundo. “
Ao recordar sua trajetória, que saiu da miséria, no Nordeste, tornou-se metalúrgico, sindicalista, fundou o maior partido político do país e tornou o melhor presidente que o Brasil já teve, Lula disse ver a mão de Deus no seu caminho. “Eu, que jamais tinha pensado em política, termino fundando um partido e viro presidente da República. Eu fico creditando tudo isso a mão de Deus”, disse, afirmando que seu maior feito foi a inclusão social. “Muitos de vocês participaram do sucesso da redução da desigualdade no meu governo, porque o sucesso depende a participação do povo. A coisa que eu tinha mais orgulho era saber que os jovens da periferia deste país estavam mudando de vida e entrando para a universidade. Já provamos que podemos construir um país melhor”.
Encontro com comunidade evangélicas
No encontro, a presidenta do PT disse que a causa pela qual o partido faz política é a defesa do povo pobre e do povo trabalhador. Gleisi Hoffmann lembrou que a população de baixa renda sempre foi tratada apenas como estatística, até a chegada do PT ao governo, colocando o combate a fome e a miséria como política de estado, com o Bolsa Família, a entrega de cisternas e o desenvolvimento regional. “Nossa causa é lutar para que as pessoas vivam com dignidade. E estávamos conseguindo, até que veio o golpe contra a Dilma e a perseguição a Lula e terminamos na tragédia que se abateu no país”.
Gleisi também disse que todas as religiões devem ser respeitadas e n ão usadas na disputa política. “Sempre respeitamos todas as religiões, nossos adversários trouxeram para a disputa política as questões dos valores, mentindo e atacando o PT. É muito importante ter a clareza que a religião é das pessoas e não é através dela que devemos fazer disputa. Respeitamos muito os evangélicos e todos os credos e religiões e o que queremos é melhora a vida das pessoas. Em 2022, vamos mudar esse país.”
Benedita da Silva lembrou que foi Lula quem sancionou a lei que criou a personalidade jurídica das igrejas e associações religiosas, em 2003, desvinculando-as dos clubes e dando liberdade ao direito de criar igrejas e praticar religiões. Bené também destacou os avanços sociais que o governo Lula promoveu, tirando 38 milhões de brasileiros da miséria, 13 milhões deles sendo evangélico. “Todas as políticas implementadas no governo Lula atingiram e beneficiaram as famílias evangélicas brasileiras”, disse Benedita.
Antes do Lula assumir em 2003 várias mentiras circulavam. Uma delas era a de que ele iria acabar com as igrejas evangélicas. No final do seu primeiro ano de mandato o presidente Lula sancionou uma lei que tornava livre a liberdade religiosa no Brasil. Confira.
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