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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

09
Fev23

Por dentro do centro que combate ameaças da 'guerra híbrida'

Talis Andrade

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Jornalistas, cientistas políticos, filósofos, historiadores e sociológos classificam as campanhas eleitorais e a ocupação militar do governo Bolsonaro de 'guerra híbrida'. Frank Gardner,  repórter de segurança da BBC News na Finlândia, explica a manobra que terminou com uma bomba armada no aeroporto de Brasília e na invasão do Palácio presidencial do Planalto, da sede do STF e do Congresso Nacional (Senado Federal e Câmara dos Deputados), por terroristas acampados no quartel general do exército em. Brasília e bolsonaristas radicais de várias partes do Brasil.

Escreve Frank Gardner:

Misteriosas explosões subaquáticas, ciberataques anônimos e campanhas online sutis para debilitar as democracias ocidentais  são as chamadas "ameaças híbridas".

A BBC visitou um centro dedicado a combater esta forma relativamente nova de guerra que preocupa cada vez mais a Otan e a União Europeia.

"A questão é a manipulação do espaço informativo. São ataques à infraestrutura crítica", explica Teija Tiilikainen, diretora do Centro Europeu de Excelência para o Combate às Ameaças Híbridas (Hybrid CoE, na sigla em inglês), formado há seis anos na capital da Finlândia, Helsinque.

Tiilikainen afirma que esta forma de ameaça é ambígua e, às vezes, os países têm dificuldade para combater e proteger-se. Mas são ameaças muito reais.

 

Explosões subaquáticas no mar Báltico

CRÉDITO REUTERS. Explosões subaquáticas no mar Báltico abriram grandes buracos nos gasodutos Nord Stream, entre a Dinamarca e a Suécia, em setembro de 2022

 

Em setembro passado, fortes explosões subaquáticas no mar Báltico abriram grandes buracos nos gasodutos Nord Stream, entre o litoral da Dinamarca e da Suécia. As tubulações foram construídas para levar gás russo para o norte da Alemanha.

Moscou negou rapidamente qualquer responsabilidade. Mas as suspeitas recaíram sobre um possível motivo da Rússia para deixar o Ocidente com ainda menos energia, como punição pelo apoio à Ucrânia após a invasão russa, em fevereiro de 2022.

Existem também as interferências eleitorais. Depois das eleições americanas de 2016, investigadores concluíram que houve interferência orquestrada da Rússia — novamente, negada por Moscou — para reduzir as chances de Hillary Clinton, favorecendo Donald Trump.

Supostamente, esta interferência foi realizada usando "robôs" online — contas artificiais em redes sociais, controladas por ciberativistas apoiados pelo Estado, a partir de "fábricas de trolls" na cidade russa de São Petersburgo.

Outro método é a desinformação, que é a propagação deliberada de narrativas falsas alternativas, frequentemente com apelos a setores mais receptivos da população.

Este fenômeno foi acelerado com a invasão da Ucrânia pela Rússia. Milhões de cidadãos — não apenas na Rússia, mas até em países ocidentais — aceitam a visão do Kremlin de que a invasão foi necessária como ato de autodefesa.

Para ajudar os governos ocidentais a identificar essas ameaças e proteger-se contra elas, a Otan e a União Europeia formaram o Hybrid CoE na Finlândia.

O país é uma escolha interessante e talvez até natural para abrigar esse centro. A Finlândia manteve sua posição neutra desde a Segunda Guerra Mundial, quando cedeu parte do seu território para a União Soviética.

Mas a Finlândia e a Rússia são separadas por 1.300 quilômetros de fronteira. E a Finlândia, nervosa, tem se aproximado cada vez mais do Ocidente, o que culminou com seu pedido de entrada na Otan em 2022.

Em uma manhã fria e cheia de neve, visitei o centro em um edifício comercial perto do Ministério da Defesa finlandês e não muito distante da Embaixada da Rússia, um prédio cinza da era soviética.

Ali, a diretora Teija Tiilikainen lidera uma equipe de cerca de 40 analistas e especialistas de diversos países da Otan e da União Europeia, incluindo um cidadão britânico "emprestado" do Ministério da Defesa.

Tiilikainen explica que uma área de preocupação atual é o Ártico, onde eles mapearam grande potencial para ameaças híbridas.

"Existem novas fontes de energia emergentes", afirma ela. "Existem novas possibilidades para que grandes potências protejam seus interesses. Existe também muita manipulação de informação."

"A narrativa russa é que o Ártico é uma região especial fora de conflitos, onde nada de ruim está acontecendo — e, mesmo assim, a Rússia está aumentando sua presença militar na região", afirma Tiilikainen.

Talvez a principal característica das ameaças híbridas seja que elas quase nunca envolvem um ataque "cinético" real — alguém que abra fogo com uma arma.

Elas são muito mais sutis, mas frequentemente não menos perigosas.

As ameaças híbridas também não são imputáveis por natureza, ou seja, normalmente é difícil determinar quem estava por trás dessas ações.

Foi o que ocorreu com o ciberataque massivo à Estônia em 2007, ou com as explosões de gasodutos no mar Báltico em 2022. Os responsáveis têm o cuidado de deixar o mínimo de pistas possível.

Ações e desinformação

Existem inúmeras formas com que um Estado pode prejudicar outro sem ações militares diretas.

Elas são ilustradas em um manual redigido pelo centro, descrevendo ameaças híbridas marítimas, com 10 cenários imaginários, mas totalmente plausíveis.

Os cenários variam do uso clandestino de armas subaquáticas até a declaração de uma zona de controle em volta de uma ilha, mais o bloqueio de pequenos estreitos.

Um cenário real que foi examinado em detalhes foram as ações russas no mar de Azov, entre a Rússia e a Ucrânia, antes da invasão.

Desde outubro de 2018, para que os navios saíssem dos portos ucranianos de Mariupol e Berdyansk e navegassem pelo estreito de Kerch e, dali, para o mar Negro, eles precisavam primeiro esperar a inspeção das autoridades russas.

Esta inspeção poderia levar dias ou até duas semanas, o que causava prejuízos econômicos à Ucrânia, segundo o diretor de vulnerabilidades e resiliência do Hybrid CoE, Jukka Savolainen.

Mas é no campo da desinformação que os especialistas do centro encontraram os resultados mais surpreendentes.

Depois de organizar e avaliar diversas pesquisas de opinião de toda a Europa, eles chegaram à conclusão de que, em diversos países da Otan, a Rússia está ganhando a guerra de informação entre parcelas substanciais da população.

Na Alemanha, por exemplo, a narrativa do Kremlin de que a invasão da Ucrânia foi uma reação necessária à provocação da Otan vem ganhando popularidade à medida que a guerra se prolonga.

Já na Eslováquia, mais de 30% dos cidadãos consultados acreditam que a guerra na Ucrânia foi deliberadamente provocada pelo Ocidente. E, na Hungria, 18% culparam "a opressão da população de fala russa na Ucrânia" pela guerra.

O analista sênior Jakub Kalensky, da República Tcheca, usa a analogia da água para ilustrar a necessidade de reprimir a campanha de desinformação liderada por Moscou.

"Eu não definiria a desinformação russa como particularmente sofisticada", explica ele. "A questão não é a atratividade da mensagem, mas a forma como eles atingem o sucesso é com grandes números."

"Não há motivo para dar a essas pessoas acesso às plataformas de redes sociais. Todos querem ter acesso à água potável, mas não permitimos que eles envenenem a água", afirma Kalensky.

Teija Tiilikainen afirma que o papel do centro não é tomar medidas para combater as ameaças híbridas, mas sim de determinar, informar e treinar outras pessoas a fazer o que precisa ser feito para proteger a Europa deste fenômeno crescente.

Ouça o episódio do podcast “5 Minutes On” sobre a visita do jornalista Frank Gardner ao Hybrid CoE (em inglês) no site BBC Sounds.

 

 

 

 

30
Dez22

"Bolsonaro corre risco de cadeia e de ser eliminado"

Talis Andrade

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Jornalista Leonardo Soppa diz que ex-presidente cometeu muitos crimes, em associação com pessoas perigosas

 

Ex presidente porque abandonou o cargo. 

O jornalista Leonardo Stoppa afirmou, no programa Leo ao Quadrado, em parceria com o jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, que Jair Bolsonaro corre riscos maiores do que o da simples prisão. "Bolsonaro corre risco de cadeia e de ser eliminado", diz ele. "Cometeu muitos crimes e sabe de muita coisa, sobre muita gente".

Na entrevista, Stoppa também falou sobre os rumores da separação entre Jair e Michelle Bolsonaro. "Michelle não vai soltar nada sobre o Bolsonaro. Ela não pode matar a galinha dos ovos de ouro". Mas ele lembra que Bolsonaro perdeu a coroa e deixou de ser intocável.

Stoppa também afirmou que a autoria do brutal assassinato de Marielle Franco já deve estar desvendada. E disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter todo cuidado antes de se mudar para o Palácio da Alvorada.
 

18
Ago22

TSE manda Damares retirar vídeos que acusam governo Lula de incentivo ao crack

Talis Andrade

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Raul Araújo, do TSE, considerou que ex-ministra de Jair Bolsonaro disseminou fake news.

Damares esqueceu a cocaína no avião presidencial

 

 

por Julia Chaib /Folha S. Paulo

 

O ministro Raul Araújo, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), determinou a retirada do ar de quatro vídeos em que a ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) propagava que os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) haviam criado uma cartilha para incentivar jovens a usar crack.

O magistrado deu 24 horas para que as plataformas removam o conteúdo, por "propaganda eleitoral antecipada negativa".

Damares publicou vídeos no Facebook, no YouTube e no Instagram em 2 de agosto com a legenda "Cartilha do governo Lula ensinava jovens a usar crack", em referência a um documento lançado em uma das gestões do petista sobre medidas de redução de danos a quem pretendia deixar o uso de drogas.

A ex-ministra voltou ao tema nos dias 9 e 12 de agosto. Em um dos vídeos, afirmou que a cartilha "ensinava os jovens a usar crack".

A defesa de Lula, então, foi à Justiça pedir a remoção do conteúdo, alegando se tratar de estratégia de desinformação, o que foi acatado pelo ministro da corte eleitoral.

Crack é o nome dado a uma droga ilícita produzida a partir de cocaína, bicarbonato de sódio ou amônia e água. A droga foi inventada na década de 1980 e se espalhou por várias partes do mundo, devido, dentre outros fatores, ao seu baixo custo de produção e comercialização. Trata-se de uma droga sólida e insolúvel em água que pode ser fumada em cachimbos ou misturada com maconha ou tabaco.

A droga provoca euforia, aumento da autoconfiança, redução de apetite, ansiedade, aumento da temperatura do corpo e do trabalho cardíaco, dentre outros efeitos agudos. O crack pode levar ainda ao desenvolvimento de problemas cardíacos, pulmonares, desnutrição e exposição a situações de risco.

 

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Cocaína no avião da comitiva de Bolsonaro

 

por Joaquim de Carvalho

Bolsonaro pode usar a desculpa que quiser, mas um fato é inafastável: no seu governo, um avião presidencial foi usado para traficar 39 quilos de cocaína.

 

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Segundo a polícia espanhola, a droga foi encontrada em 37 pacotes na mala de um segundo sargento da Aeronáutica, de 38 anos, identificado pela iniciais “M.S.R.”

Chama a atenção a manifestação de Bolsonaro no Twitter. O texto sobre o episódio é evasivo e, ao contrário das demais postagens, está em uma imagem. É a fotografia de um texto previamente escrito.

Provavelmente, não foi ele quem escreveu.

No texto que assina, Bolsonaro fala sobre a formação militar dento dos “mais íntegros princípios da ética e moralidade” e não cobra explicações sobre como houve essa falha na segurança.

Na hipótese de que tenha havido mesmo falha, esta deve ser debitada na conta do general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

Imagine-se se um evento desse tipo tivesse ocorrido no governo da Dilma Rousseff ou do Lula. Como a imprensa estaria tratando o caso?

No texto, Bolsonaro também coloca em dúvida se o militar preso era mesmo o portador da droga, ao dizer:

“Caso seja comprovado o envolvimento do militar nesse crime, o mesmo será julgado e condenado na forma da lei”.

Sim, poderá ser. Mas não pelo Brasil, que não tem jurisdição sobre o que acontece em território espanhol.

O caso será julgado pela Justiça espanhola. Se o flagrante tivesse ocorrido na Indonésia, o militar seria condenado à morte.

Na Espanha, a pena não será esta.

Também chama a atenção que, depois desse flagrante, o governo tenha alterado a rota do voo que levaria Bolsonaro. A aeronave faria o reabastecimento no aeroporto de Sevilha, o mesmo onde a cocaína foi apreendida, mas mudou a escala para Lisboa.

Não houve explicação para essa mudança, o que só faz aumentar o vexame.

O avião com cocaína é o da frota presidencial usado na missão precedente. No caso de defeito no avião principal, é usado para transportar o próprio presidente.

As autoridades espanholas não liberaram outras informações sobre esse caso de tráfico internacional.

Em 25 de junho de 2019, o sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues foi preso em flagrante, após denúncia anônima, com 37 kg de cocaína no aeroporto de Sevilha, na Espanha. A viagem fazia parte de uma missão oficial do presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido) e comitiva, rumo ao Japão, para reuniões com a cúpula do G20; Manoel estava em uma aeronave de apoio. No entanto, essa não foi a única vez. Segundo investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Militar (MPM) obtida pelo UOL, o sargento traficou cocaína em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) em mais sete viagens naquele ano.

15
Jun21

Racionamento, apagão e privatização...

Talis Andrade

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por Leonardo Stoppa

Há poucos meses a população do Rio de Janeiro reclamava da qualidade da água. Turbidez e mau cheiro causaram desespero no povo e a Cedae, empresa responsável pelo tratamento, acabou entregue à iniciativa privada. Mas, qual a relação da Cedae com o apagão? A metodologia de privatização, que sempre passa pelos estágios de racionamento, com ameaça de “apagão”, a fim de amedrontar e convencer o povo que sem a “ajuda” financeira do especulador, aquilo que sempre funcionou vai parar de funcionar...

Vivemos agora este “apagão” no momento em que o Senado Federal decide a venda da Eletrobras. O povo carioca viveu a piora na qualidade da água exatamente quando os olhos famintos do mercado se voltaram à privatização da empresa de saneamento. Para os dois casos não há como pensar em coisa diferente de sabotagem. Sim! Sabotagem porque os métodos para tratamento de água, em especial o tratamento da turbidez e do mau cheiro são amplamente conhecidos pela ciência a ponto de serem conteúdo exigido pelo Exame Nacional do Ensino Médio.

Nossos jovens de 16 anos sabem dar aula de como tratar a água, mas a empresa que sempre fez isso muito bem, esqueceu como se faz exatamente na hora de privatizar! Claro que seria diferente se estivéssemos falando de elementos não perceptíveis como a presença de metais pesados, coisa que pode acontecer após acidentes como os protagonizados pela Vale/Samarco, mas turbidez e mal cheiro são defeitos deixados com o propósito de causar pânico, exatamente porque são perceptíveis a todos e o descontentamento naturaliza a privatização.

A nossa última ameaça de “apagão” foi durante o governo FHC. Este apagão do Bolsonaro é nada mais que a continuidade da mesma sabotagem já protagonizada pelos tucanos, seguindo os mesmos métodos, mas com um “mal caratismo” bem mais escancarado pois vivemos um momento de baixo consumo de energia, principalmente porque nossa indústria e comércio estão “fechados com Bolsonaro”, e obviamente a redução do poder de compra resultantes do desemprego e da pandemia tendem a diminuir a demanda por eletricidade, então, o que faz de 2021 um ano assim, tão especial para termos falta de água nos reservatórios?

Má administração do sistema e sabotagem, exatamente para acontecer o que estamos vivendo agora: contratação de térmicas para encher os bolsos dos geradores privados, e claro, o fantasma do “apagão”, para virar notícia ecoada por toda imprensa, criar medo e naturalizar a entrega da mais importante empresa do setor. Assim como durante o governo FHC, os dados meteorológicos não subsidiavam o mito do “apagão”, não temos hoje uma mudança significativa nos níveis de chuvas a ponto de justificar essa tal escassez nos reservatórios, mas a sabotagem do sistema elétrico é coisa clara desde o início do governo Bolsonaro.

O primeiro passo é público: o fim do horário de verão. Apesar de a medida ter sido recebida por significativa parcela da população como um “presente do messias”, a intenção por trás da decisão nunca foi deixar o povo dormir uma hora a mais, até porque basta ter um pouco de inteligência para concordar que antes da humanidade conhecer o relógio já existia o sol, e se for pra falar em adaptação biológica, é só concluir que desde o tempo das cavernas “o dia amanhece mais cedo” durante o verão. A mudança do regime buscou desde o início causar um maior estresse no sistema elétrico, e isso pôde ser percebido principalmente no verão através de catástrofes locais e regionais que ocasionaram falta de eletricidade, raras desde o início do governo Lula.

Os problemas foram causados principalmente por explosões de transformadores, dimensionados para suportar uma determinada quantidade de consumo, levando em conta o horário e a temperatura ambiente. Ao acabar com o horário de verão, Bolsonaro aumentou o aquecimento de todo o sistema elétrico e ainda aumentou o consumo de eletricidade. Além de indústria e comércio funcionarem durante o período “mais quente” do dia, a luz natural é substituída por iluminação elétrica por pelo menos 1 hora. As pessoas perdem o aquecimento natural das caixas d’água e tomam banho gastando mais. Tudo isso no período mais quente do ano causa um sobreaquecimento em todo sistema. Esse aumento no consumo causa redução de água nos reservatórios.

Mas foi só isso? Certamente não! Em regimes neoliberais como FHC/Bolsonaro, “todos os movimentos são friamente calculados”. O “apagão” do FHC foi usado como justificativa para a entrada do setor privado na geração, e, uma vez no controle das usinas hidrelétricas, cabe ao gerador privado a decisão entre manter a água no reservatório ou liberar a água para o rio. Não há explicação diferente para esta “falta de água” senão um conluio entre geradoras a fim de esvaziar os reservatórios e nos entregar o sistema elétrico “vazio” neste momento de menor quantidade de chuvas, exatamente quando a privatização da Eletrobras segue para votação no Senado.

Mas, e daí? Daí que estamos prestes a entregar ao especulador a mais importante empresa do setor elétrico brasileiro. Uma espécie de “espinha dorsal” do sistema. Uma vez privatizada a Eletrobras, estaremos de vez nas mãos da oligarquia produtora de energia, e não pense que há boa intenção de privatizar para aumentar a eficiência! A geração hoje no Brasil já é aberta à participação privada e nenhum “bom samaritano” oferece energia por preço menor que as geradoras públicas!

E como nós estamos subestimando os riscos envolvidos nesta privatização! “estudos apontam para 20% de aumento no preço”. Como assim!? Se tivermos aumento de 20% no preço da eletricidade, será possível manter a produção industrial competitiva? Como ficam os preços dos produtos? Tudo sobe! Energia elétrica é matéria prima para quase tudo que consumimos e aumentar o preço da energia não se resume a calcular 20% a mais na sua “conta de luz”, mas entrar em um futuro de incertezas sobre até que ponto vai valer a pena manter atividade industrial no Brasil ou simplesmente comprar de fora, por exemplo, da China, onde não há Bolsonaro nem FHC.

A curto prazo, essa privatização vai criar a percepção de insegurança energética, o que diminui o incentivo para investimentos internacionais. (e se você é daqueles liberais que acredita no contrário me explique porque as empresas preferem produzir na China!). A tendência a médio e longo prazo é que a inviabilidade industrial vá aos poucos criando mais empresas “fechadas com Bolsonaro”, e naturalizaremos com o tempo o mantra “o agro é pop”, porém, não sabemos dizer ainda pra quem esse agro vai ser pop...

Se a sociedade brasileira, principalmente as federações de indústrias como o “Clube do Pato” soubessem o que representa toda essa articulação, certamente não correriam este risco, mas vivemos um momento de cegueira ideológica, e isso acontece por todos os lados. Ao que se sente representado pelo antipetismo, é regra lutar pela privatização de tudo, sem pensar nas consequências. Assim como estatisticamente as cidades “cloroquinadas” que elegeram Bolsonaro protagonizaram o maior número de mortes por COVID-19, a nossa elite fanática tem sido e vai continuar sendo a que mais vai sofrer os resultados da privataria ideológica. Uma coisa é certa: o povo pobre trabalhador tem grande capacidade de adaptação e como nunca teve o que perder, não quebra, fica desempregado. Já o empresário antipetista, ao “fechar com Bolsonaro" culpa a Dilma, passa um tempo “oprimindo” nas redes sociais, se deprime e às vezes se suicida.

Ainda há tempo de abandonar o fanatismo e evitar essa besteira. Para isso é preciso que cada um consiga refletir sobre o que dizem os especialistas sobre essa privatização e se esforçar para fazer o que muitos há tempos não fazem: pensar com a própria cabeça. Dê uma chance ao cérebro!

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