04
Jan23
Supremacia branca e o branco leite mais branco que Branca de Neve
Talis Andrade
Tomar leite tem vários significados políticos. Um deles, um rito nazista
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Irmã Henriqueta rebate falas da ex-ministra e diz que “governo trouxe o caos à proteção de crianças e adolescentes”
* Damares fez declarações envolvendo supostos abusos sexuais no Marajó
* MP pediu esclarecimentos ao governo sobre afirmações da ex-ministra
por Andrea DIP
Irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante é uma referência no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes no Marajó. Nos conhecemos quando fiz uma reportagem no arquipélago em 2019 para a Agência Pública. Na época, Damares Alves, então ministra da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos havia dito que o alto índice de exploração sexual de crianças na região era porque as meninas “não usavam calcinhas” e sugeria como política pública a construção de uma fábrica de lingerie. Caminhamos juntas por alguns municípios e Marie me mostrou a real situação local: a falta de políticas públicas voltadas à proteção das crianças e ao combate à violência, escolas em situação precária, e um total abandono por parte do poder público ao arquipélago que na época tinha 14 dos seus 16 municípios na lista dos menores IDHs do país, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil.
No último domingo, Damares voltou a dar declarações gravíssimas sobre o Marajó, desta vez em um culto evangélico em Goiânia. Falou que enquanto era ministra, ficou sabendo de estupros de recém-nascidos, sobre crianças marajoaras que teriam dentes arrancados e seriam vendidas para exploração sexual, mencionou detalhes de práticas sexuais violentas e torturas – para uma platéia que continha diversas crianças – e disse ter provas e vídeos. Atribuiu esses crimes a uma suposta “guerra espiritual” e aproveitou para fazer campanha para Bolsonaro, dizendo que ele havia comprado essa batalha e que seu governo foi o que mais fez para combater tais atrocidades. Também citou o programa “Abrace o Marajó” como um eficiente projeto de enfrentamento a crimes sexuais na região.
Por conta dessas declarações, o Ministério Público Federal enviou ofício à Secretaria Executiva do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos para que esclareça sobre as informações de supostos abusos sexuais cometidos no Marajó, já que nunca houve denúncia formal feita por Damares.
Em nova entrevista, exclusiva para a Agência Pública em parceria com o Universa, a Presidente do Instituto de Direitos Humanos Dom José Luís Azcona, Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante comenta as novas declarações de Damares e afirma não ter conhecimento dessas políticas de enfrentamento propagandeadas pela senadora e ex-ministra de Bolsonaro. “Sinceramente desconheço. Chamo esse programa Abrace o Marajó de um verdadeiro Cavalo de Tróia. Um projeto que veio de forma autoritária, racista, elitista, criado de cima pra baixo”. Henriqueta afirma que as falas da ex-ministra geraram grande indignação na população marajoara e em quem luta contra a exploração sexual na região.
Irmã, a fala de Damares sobre as crianças do Marajó tem repercutido muito e o foco tem sido no absurdo do que ela diz e em possíveis responsabilizações jurídicas que são, claro, aspectos muito importantes. Mas queria saber como você, que é alguém que está na linha de frente ao combate à violência sexual contra crianças no Marajó há muitos anos, vê essa fala da ex-ministra?
A fala dela causou grande indignação em todos nós que lutamos contra a violência sexual, sobretudo na população marajoara, que está se manifestando de maneira muito forte e revoltada. É uma fala totalmente desconectada com a da defesa dos direitos humanos. Ela mais uma vez se equivoca de maneira irresponsável. Isso causa pra nós… não é nem surpresa, porque ela sempre se reporta dessa forma sobre nossas crianças e adolescentes do Marajó, com esse estereótipo. Você lembra muito bem da última vez que ela disse que as meninas do Marajó são estupradas porque não usam calcinha. Aí ela apresenta como solução instalar uma fábrica de calcinhas! O que ela nunca cumpriu, diga-se, porque viu a rejeição, porque a imprensa séria teve coragem de denunciar – e você fez uma matéria importantíssima daquela vez sobre isso e viu que deu repercussão. O que ela fez foi distribuir parcas cestas básicas. Então essa fala de agora não é de se espantar quando vem de uma representante do atual governo, que trata pautas tão complexas com uma profunda demagogia, sem levar em consideração dados e sem disponibilizar serviços públicos essenciais. Se ela teoricamente sabia desses crimes, por que não fez a denúncia às esferas competentes? A solução pra esse grave problema da violência sexual exige um esforço conjunto de políticas públicas e o respeito intransigente aos direitos das nossas meninas e meninos que são afetados por essa violência. Que os ponha a salvo de qualquer comportamento cruel e degradante.
Eu me lembro que quando estivemos juntas no Marajó em 2019, você disse que esse programa que Damares propagandeia como sendo o principal enfrentamento à violência sexual, inclusive em outros países, o “Abrace o Marajó”, não tinha ações muito efetivas e que a população local nem sabia do que se tratava. Passados esses anos, você e as pessoas com as quais trabalha viram alguma mudança nesse sentido?
É tudo muito misterioso. Nessa fala dela no culto ela menciona o Abrace o Marajó ao qual ela se refere como o maior programa de desenvolvimento da Amazônia. Ele foi duramente criticado por nós, e pela sociedade marajoara que criamos uma carta falando que não aceitamos um projeto que nasceu de cima pra baixo. Eu estive com o Tribunal de Contas pra ver a questão da educação e nós ouvimos professores revoltados porque foi um programa que nasceu de cima pra baixo, ele não veio com os rostos marajoaras – porque eu sempre digo que existem muitos Marajós – nossas crianças precisam de políticas diferenciadas. A população criticou de forma severa, um programa que veio de forma autoritária, racista, elitista, pra uma região que tem história. E que é historicamente atravessada por desigualdades sociais e econômicas. Não teve participação popular.
Mas o que são essas ações?
Eu acho que a ação a qual ela se refere é a distribuição de cestas básicas que eu chamo de cestas básicas nanicas. Nanico é um termo usado no Nordeste pra se referir a uma coisa pequena. O que ela criou na verdade foi um pânico moral. É isso que vem na transversalidade do comportamento dela.
Então todo esse enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes que ela diz que fez e que Bolsonaro fez na região não existe?
Eu desconheço. Sinceramente eu desconheço.
O Marajó é grande e diverso como você estava dizendo, mas como está essa situação, passados 4 anos de governo Bolsonaro e ministério Damares Alves?
O governo Bolsonaro trouxe um caos no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes por causa de um desmonte das políticas públicas. E com a pandemia, houve um aumento exagerado de uma forma visível das desigualdades socioeconômicas. O aumento da fome é alarmante. A gente precisa se conscientizar que não se pode falar em enfrentamento à violência sexual se não tivermos capacidade de combater a pobreza, a miséria. Eu chamo de miséria produzida e reproduzida. A situação se agravou e muito. Eu chamo esse projeto “Abrace o Marajó” de um verdadeiro cavalo de troia. Não adianta trazer pra região o que a região não precisa. Se a gente não pensar em programas de geração de emprego e renda pra essa população, vamos ficar o tempo todo falando a mesma coisa. Não adianta.
E educação, né irmã? Porque a situação das escolas no Marajó já era terrível antes da pandemia…
Saiu um relatório agora do Tribunal de Contas que aponta a deficiência que existe na educação na região. Como dizia o Paulo Freire, a educação não é tudo, mas é a base. As crianças sempre alegaram que a escola na região não é boa, falta merenda, falta combustível, o transporte é uma precariedade porque os barqueiros não tem combustível pra levar as crianças pra escola. Sem contar também a precariedade dos serviços de saúde. É uma situação muito grave. E tudo isso fica ainda mais difícil com um governo que não está preocupado com a população.
E eu me lembro também das nossas conversas com conselheiros tutelares, com promotores e de que era muito difícil conseguir trabalhar, era um trabalho de formiguinha mesmo, de pessoas que queriam muito fazer as coisas acontecerem mas que tinham que lidar com essa precarização…
Sim. Mas agora imagine que tem alguns municípios em que os conselhos tutelares são totalmente evangélicos e estão de braços dados com essa senhora. É preocupante porque um conselheiro que está na base, na porta de entrada para receber essas crianças e adolescentes, que tem que lidar com todas essas mazelas, não ter sensibilidade e coragem de ficar do lado do pobre. O conselheiro precisa cuidar. Mas tem conselheiros que estão abraçados com essa senhora e preocupados só em fazer campanha política.
E o que você acha que é pior em ter os conselhos tutelares tomados por evangélicos conservadores?
Eles são alienados. Não têm compromisso com a realidade. E quem se submete a fazer campanha política para alguém que faz uma fala como Damares fez, totalmente desconectada com a realidade, é porque também não tem compromisso social. E não tem compromisso com a transformação da realidade. Esse é um momento muito tenso no Brasil, é um momento de muito ódio.
Durante o culto Damares atribui a violência sexual contra crianças e adolescentes a uma “guerra espiritual”. Você, como alguém de fé, o que pensa sobre isso?
Não existe guerra espiritual. Guerra espiritual quem cria são eles que pregam coisas absurdas, que estão voltadas a conceitos moralistas, que apresentam modelos de família e comportamento que não são condizentes com nossa realidade. A guerra espiritual é a guerra da ignorância, da falta de amor fraterno, da capacidade de sentir empatia social e coletiva. Isso é guerra. Eu, com toda a formação que tenho, não compreendo a religião nem Deus assim. Deus está no meio de nós, está com aquela população de Melgaço com fome, clamando por um prato de comida. Isso sim.
Golpistas querem acelerar as manifestações anti-posse até o limite da explosão de alguma violência. Bolsonaro nazista e rituais da supremacia branca
Desde que surgiu, em 2018, a mamadeira de piroca causou transformações radicais na vida brasileira. O artefato imaginário, criado pelas tropas bolsonaristas, tornou-se símbolo da mentira e da perversão que inspiram fanáticos a atacar as instituições brasileiras. Na ciência, os estragos causados por esses delírios mamadeirísticos são dramáticos, especialmente em tempos de pandemia. Os depoimentos na CPI da Covid dão a exata noção do prejuízo.
Ontem, a médica Mayra Pinheiro, responsável pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde, prestou depoimento aos senadores. Em um momento constrangedor, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reproduziu o áudio em que Mayra diz ter visto um gigantesco pênis inflável quando esteve em visita à fundação.
Como qualquer criança pode constatar, tratava-se da reprodução do logotipo comemorativo dos 120 anos da instituição, a estilização da torre do castelo de inspiração mourisca onde funciona a sede.
Mais impressionante nessa alucinação fálica é que Randolfe ainda deu à depoente a chance de se retratar. Perguntou se realmente em algum momento a Fiocruz teve "órgão reprodutor masculino" à porta. Mayra confirmou: "Sim", disse. "Isso é uma constatação, senador".
É desesperador constatar que essa pessoa que enxerga formas eróticas em símbolos históricos é a responsável pela gestão do trabalho e da educação dos profissionais de saúde pública brasileiros. Descolada do mundo real, como demonstrou ser, imagina-se as orientações estapafúrdias que deve passar aos subordinados.
Não faltaram outros momentos constrangedores na participação de Mayra. Como quando abordou os motivos que a levam a acreditar que a cloroquina, em determinados casos, pode ter efeito positivo no tratamento da covid-19.
Sobre isso, enrolou o quanto pôde, citando estudos obscuros. Até que se deparou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania -SE). Munido de levantamento feito por um especialista, o parlamentar citou análise em 2.871 pesquisas em bases disponíveis em todo o mundo que apontam 14 estudos de excelência sobre o assunto. Destes, nenhum indica benefícios de medicamentos como cloroquina para o tratamento da covid-19.
Mayra, a Capitã Cloroquina, reconheceu tanto a qualidade das pesquisas citadas por Vieira quanto a inexistência de estudos de alto nível para provar suas sugestões de tratamento heterodoxo para o coronavírus. Apesar de confrontada com a verdade mais uma vez, continuou a demonstrar fé nessas terapias.
"A senhora acredita no que fala, mas acreditar no que se fala não torna o que se fala uma verdade", criticou o senador sergipano.
Também acompanham Mayra nessa cruzada irracional pela cloroquina parlamentares governistas da CPI como Eduardo Girão (Podemos-CE), Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e outros. Apesar de influenciarem diariamente os brasileiros a usar substâncias não reconhecidas contra a covid-19, Girão e Heinze não querem ser criticados por isso.
Os dois acionaram a Polícia do Senado para intimidar o sociólogo Celso Rocha de Barros, autor do artigo "Consultório do Crime", publicado na Folha de S. Paulo. Mais uma vez, a crendice afronta a realidade.
Seja no Ministério da Saúde ou no Congresso, onde em tempos passados era defendida, a ciência brasileira está hoje a mercê desses personagens fanáticos da turma da mamadeira de piroca.
É gente que despreza as pesquisas rigorosas e detalhadas de cientistas que estão entre os melhores do mundo para sugerir políticas públicas em cima de achismos ou de histórias do tipo "conheço alguém que se curou".
As 450 mil mortes não foram suficientes para fazê-los abandonar os ilusionismos em favor da busca por vacinas e da divulgação do isolamento social.
Nesse momento dramático, enquanto pesquisadores sérios trabalham duro para oferecer alternativas reais à sociedade brasileira contra a pandemia, autoridades do governo e integrantes do Senado continuam a se apegar a poções mágicas, como se vivessem no tempo do guaraná de rolha.
A simpatia com cloroquina, no entanto, além de não curar pode custar caro, por causa dos efeitos colaterais. Os amuletos do passado, como pé de coelho ou galho de arruda na orelha, ao menos eram inofensivos [Publicado no UOL in 26/05/2021]
por Cezar Xavier
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Em 2021, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou em média oito internações de bebês por dia devido à falta de nutrientes, desidratação e, por vezes, infecção. O Observa Infância da Fiocruz realizou um levantamento que denuncia a taxa crescente para menores de um ano, desde 2016. Os dados só não são piores, porque a internação e tratamento no SUS evita o aumento da mortalidade infantil.
No total, foram que 3 mil hospitalizações nessa faixa etária em 2021, o maior número absoluto dos últimos 13 anos. Em 2022, em apenas 8 meses, até 30 de agosto, foram 2.115 internações de bebês por desnutrição, o que eleva para 8,7 a taxa média diária – um aumento de 7% em comparação com 2021.
Os dados alarmantes coincidem com o corte pelo governo Bolsonaro de 87% do leite doado às famílias pobres do interior de Minas Gerais e do Nordeste. A maldade atinge as áreas de maior grau de insegurança alimentar no país, onde estão 11 milhões de pessoas. Além das famílias pobres, esse leite era distribuído para escolas e hospitais. O governo praticamente zerar a verba de programas alimentares no Orçamento de 2023, com cortes de até 97% para programas como o Alimenta Brasil.
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Em entrevista ao Portal Vermelho, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) Márcia Helena Carvalho Lopes, explicou que o Alimenta Brasil, que era o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), não funcionava antes dos cortes. A ideia quando foi criado era mapear pequenos produtores de alimentos e comprar sua produção para fomentar programas públicos de alimentação, como a merenda escolar.
“Não apenas mapeávamos as populações vulneráveis de cada região, mas também os produtores de alimentos, como pescadores, quebradeiras de coco, pequenos produtores de leite”, relata Márcia, contando que eram comprados 800 mil litros de leite por dia. Ela conta que esse programa gerou enorme reação dos grandes laticínios que ameaçaram mobilizar sua base parlamentar para obstruir as votações do governo.
O levantamento sobre a desnutrição é do Observa Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Unifase que pesquisaram dados do Ministério da Saúde.
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Omissão governamental
Os casos relatados revelam mães que, no segundo ano da pandemia, ainda não conseguiram colocação formal de emprego. Também não puderam contar com auxílio emergencial ou qualquer programa de assistência social e de segurança alimentar.
Após a internação, com a atenção do serviço de saúde pública, essas famílias acabam obtendo alguma ajuda de instituições filantrópicas, já que o governo federal não teve agilidade, eficiência nem destinou orçamento para este tipo de população vulnerável.
A omissão do governo Bolsonaro no combate à inflação de alimentos básicos, torna o acesso ao leite, por exemplo, inviável para os mais pobres. Segundo o IBGE, essa lista de alimentos mais comuns na mesa dos mais pobres continua tendo os preços crescentes.
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Segundo especialistas, mesmo que estas crianças não aumentem as estatísticas de mortalidade, devido ao atendimento médico, acabam ficando com sequelas. A falta de alimentação adequada causa deficiências no desenvolvimento do conhecimento, podendo ser irreversível para estas crianças.
Para o epidemiologista da FioCruz/Amazônia, Jesem Orellana, o Brasil retrocede em termos de políticas de combate a fome e insegurança alimentar, sobretudo em regiões como a Norte do país, onde a situação é desproporcionalmente mais grave (36,8% em 2021). “Estes dados são impactantes e mostram que a corrosiva mistura de má gestão na pandemia, inflação, erros no combate a fome e insegurança alimentar, bem como a falta de investimentos em saúde, se traduzem em mortes evitáveis e comprometem as próximas gerações”, explicou, em declaração ao Portal Vermelho.
Pior taxa desde 2009
Os números do governo Bolsonaro representam um aumento de mais de 50% na taxa dessas internações, se comparado com 2011, no início do governo Dilma. Naquela época, para cada 100 mil nascidos vivos, registravam-se 75 hospitalizações contra 113, agora. Esta é a pior taxa desde o início da série em 2009.
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A região Centro-Oeste foi a que registrou o pior aumento de 30% em 2021.A pior taxa de hospitalização por desnutrição foi registrada no Nordeste, região onde foram informadas 171 internações de bebês menores de um ano para cada 100 mil nascidos vivos em 2021, 51% acima da taxa nacional. Mas em cidades ricas como São Paulo, também há enormes bolsões de pobreza que também alimentam essas internações de crianças.
Bolsa Família
A extinção do Bolsa Família tem forte impacto sobre esta realidade. O programa universalizava o acesso de famílias de baixa renda ao recurso. Com a mudança de Bolsonaro para o Auxílio Brasil, o acesso fica limitado ao tamanho do recurso disponibilizado. Entra quem chega primeiro.
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Os critérios dificultam o cadastro e não estão condicionados aos cuidados de saúde e vacinação. Equipamentos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) como os CRAS (Centro de Referência), deixaram de funcionar pelo país, ou ficaram sem recursos. Do mesmo modo, muitos restaurantes populares estão abandonados por falta de verba.
O Programa Brasil Carinhoso, criado por Dilma Rousseff, que destinava recursos para criação de vagas em creches, também acabou com corte de 97%. Os cortes no programa de merenda escolar também reduziram pratos de comida nutricionalmente diversos, a suco em pó e bolacha. Tudo isso contribui para fechar o cerco nas periferias da cidade, deixando as mães sem ter para onde correr, senão uma internação no SUS.
Disputa eleitoral
Na proposta de governo de Luis Inácio Lula da Silva, um dos pontos de destaque é a volta do Bolsa Família, que deve garantir o benefício de R$ 600. Mas com acréscimo de R$ 150 para cada criança de até 6 anos na família. Hoje, uma família sem filhos recebe o mesmo que uma família com crianças em fase de nutrição.
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O programa de governo de Lula se compromete em voltar a fortalecer os CRAS. Assim, as mães e pais que receberem o Bolsa Família voltarão a ser orientados a manter os filhos na escola, longe do trabalho infantil, e a vaciná-los e a levá-los sempre ao médico.
Outra importante forma de garantir comida para as crianças é fornecendo alimentação saudável nas escolas. Faz quatro anos que o governo não reajusta o valor que repassa para a merenda.
Lula também se compromete a trabalhar para garantir especial atenção às milhares de crianças que ficaram órfãs durante a pandemia. Diz o documento: “Nosso governo dará prioridade absoluta à promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, erradicando a fome, combatendo a miséria, garantindo perspectivas para as crianças e adolescentes, enfrentando a exploração do trabalho infantil, a violência, a exploração sexual e todas as formas de preconceitos e discriminações e assegurando a garantia do direito ao brincar. Terão atenção especial as milhares de crianças e adolescentes em situação de orfandade decorrentes da covid-19”.
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Ao receber o apoio da senadora Simone Tebet (MDB-MS), Lula se comprometeu a voltar a investir na educação da primeira infância. Bolsonaro acabou com o Brasil Carinhoso e ainda cortou a verba da educação infantil para 2023 em 96%.
por Fernando Brito
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Desculpem o título, feito da memória deste blogueiro dos tempos em que trabalhou em jornais populares. É, porém, a descrição exata do que está se passando.
Mas é exatamente isso o que revela o UOL, em preciosa reportagem de Carlos Madeiro, ao mostrar o que aconteceu com a distribuição de leite às famílias pobres e com crianças na áreas mais pobre do Brasil.
Não é uma “alegação”, mas algo que se confirma nos números oficiais do Ministério da Cidadania, de onde saiu o gráfico da ilustração.
Mesmo sem considerar o alcance de quando foi criado o programa PAA (Plano de Aquisição de Alimentos, rebatizado de “Alimenta Brasil”, dá para ver como o arrocho nas verbas federais destinadas a comprar, através das prefeituras, leite para a distribuição entre os mais carentes, impactou a nutrição das crianças.
Dos cerca de 6 milhões de litros que se adquiria em fins do ano passado, o volume caiu, em agosto deste ano (último mês para o qual há dados oficiais) para apenas 350 mil litros. Informa Madero que “entre janeiro e agosto, o total de litros distribuídos caiu 87% em comparação ao mesmo período do ano passado”.
O dinheiro subtraído do leite das crianças foi parte dos recursos “economizados” pelo governo para bancar as emendas do Orçamento Secreto, naturalmente. O Plano de aquisição de Alimentos, que contava em 2014 com dotação de R$ 430 milhões, teve este ano verbas de apenas R$ 59 milhões e, na proposta de Orçamento apresentada por Bolsonaro, terá menos ainda em 2023: R$ 2,6 milhões.
Ou meros 0,5% do que se aplicava 8 anos atrás.
Além de fazer roncar a barriga das crianças. a destruição do programa do leite aniquila as condição de sobrevivência de uma multidão de pequenos produtores da pecuária: as compras de leite feitas a eles para distribuição aos carentes chegou a beneficiar 28 mil pequenos criadores. Em agosto deste ano, pelos dados oficiais, foram apenas 54 que venderam seu leite para o “Alimenta Brasil”. No melhor mês do ano, ficaram num pico pouco acima de 600.
Infelizmente, algo assim não é manchete na mídia brasileira, nem que não fosse com a comunicação explícita que aprendi a ter nos velhos jornais do final dos anos 70.
Preferem ficar cuidando “guerra religiosa”, enquanto Herodes tira o leite das crianças.
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Este velho correspondente sabe que o povo não condena as mamatas.
Não admite quando se denuncia que nas creches falta leite, mas acredita nas mamadeiras de piroca inventadas por Bolsonaro e Damares.
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Em 2018, quando as pesquisas indicavam que o candidato Jair Bolsonaro poderia vencer a eleição e se tornar presidente do Brasil, uma pequenina notícia na Folha indicava que aquele que alcançaria o posto mais alto do funcionalismo público no país poderia ser chamado de Nazista.
Quem dizia isso era o advogado estadunidense Mike Godwin, criador da lei conhecida como "Lei de Godwin".
A chamada lei tem como objetivo convocar a nossa atenção contra a banalização da palavra - e alertar para quando os paralelos são pertinentes.
Então vejamos: o advogado judeu que criou um limite para que não abusássemos das comparações com o nazismo disse que era ok chamar Bolsonaro de nazista.
Desde 2018, o que o então eleito presidente da república fez foi reforçar sua ligação com o nazismo.
Aos fatos.
Em 1998, o deputado Jair Bolsonaro defende Hitler como figura história na tentativa de autorizar que alunos do Colégio Militar em Porto Alegre exaltassem o líder em redação do vestibular.
Em 2001, um grupo de neonazistas organizou uma manifestação de apoio ao deputado Jair Bolsonaro não vão do MASP. O evento foi organizado depois que Bolsonaro deu declarações homofóbicas ao programa de TV CQC.
Em 2002, no mesmo programa, Bolsonaro desfila teses negacionistas sobre o Holocausto e diz que os judeus morreram de doenças nos campos de concentração. Não tinham sido, portanto, assassinados.
Em 2015, Carlos Bolsonaro convidou o professor Marco Antônio Santos para discursar na Câmara dos Vereadores em defesa do Escola sem Partido, um movimento que estabelece regras sobre o que pode, ou não, ser dito em sala de aula por professores.
Marco Antônio Santos apareceu na Câmara vestido como Hitler - usando um bigode característico do nazista, um corte de cabelo semelhante e um terno com broches militares.
Em 2016, um internauta resgatou uma foto de Bolsonaro ao lado de Santos. Na época, ambos eram do Partido Social Cristão (PSC).
Em 2019, já presidente, Bolsonaro discursou sobre sua ida ao Museu do Holocausto diante de uma audiência evangélica: "Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer".
Podemos perdoar, Jair?
Ainda em 2019, o assessor de Bolsonaro, Felipe Martins, aparece em vídeo durante sessão no Senado fazendo com a mão o sinal associado ao antissemitismo.
Flagrado no ato, foi convidado a se retirar da sala pelo deputado Randolfe Rodrigues. Martins ainda trabalha com Bolsonaro.
Em 2020, Roberto Alvim, Secretário Especial da Cultura de Bolsonaro, encenou imitação de um discurso de Joseph Goebbels, ministro de propaganda nazista.
Alvim, teatrólogo renomado, escolheu um cenário quase idêntico ao usado por Goebbels, cortou o cabelo como o do nazista, usou as mesmas paleta de cores no cenário.
Trechos de Alvim: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional". "E será igualmente imperativa". "Ou então não será nada"
Trechos de Goebbels: "A arte alemã da próxima década será heroica" "Será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada"
Ao fundo, enquanto Alvim falava, tocava ópera de Richard Wagner, compositor alemão celebrado por Hitler.
Depois da apologia ao Nazismo feita por Alvim, houve revolta generalizada com repercussões internacionais. Bolsonaro demorou mas finalmente percebeu que seria obrigado a demitir Alvim.
Ainda em 2020, Bolsonaro aparece em live ao lado do então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, demitido depois de ser acusado de inúmeros crimes de abuso sexual e moral, tomando um copo de leite.
O uso do leite como símbolo neonazista nos Estados Unidos vem de 2017. Começou como uma brincadeira até se tornar linguagem de supremacistas brancos nas redes sociais.
Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp e pesquisadora do nazismo, disse à revista Forum que há uma referência clara entre o episódio que envolve a live de Bolsonaro e o neonazismo.
"O leite é o tempo todo referência Neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como os neonazistas historicamente fazem".
Em 2021, Bolsonaro confraterniza com Beatrix von Storch, vice-presidente do partido neonazista alemão (AfD). Trata-se de figura radioativa evitada por todos os líderes democráticos do mundo.
Bolsonaro termina seus discursos e alguns documentos com o lema do fascismo: Deus, Pátria, Família.
Bolsonaro tem como slogan de campanha uma frase textualmente nazista: Brasil acima de tudo - "Alemanha acima de tudo, era a de Hitler.
São fatos. Não são crenças ou teorias da conspiração.
Mas fica pior.
Em 2017, Bolsonaro fez um discurso ao mesmo tempo cheio de raiva e de deboche contra pessoas pretas e quilombolas.
A plateia riu e aplaudiu. Onde o discurso foi feito? Na Hebraica do Rio.
Do lado de fora do clube, um grupo barulhento de judeus se manifestava contra a presença de Bolsonaro ali.
Vamos parar aqui e definir neonazismo: promoção de ódio contra diferentes grupos da sociedade por motivos étnicos raciais, nacionalistas, religiosos, de gênero ou políticos, sem excluir argumentos eugênias.
O antissemitismo são ataques feitos diretamente contra judeus.
Nos dois casos, o que conta como ataque: agressão verbal, propaganda de natureza antissemita, nazista ou fascista, manifestações como uso de símbolos e tatuagens, violência física e vandalismo.
Bolsonaro faz uso de linguagem nazista cifrada, como no caso do copo de leite, e de linguagem extremista direta (vamos metralhar a petralhada ou vamos levar os inimigos da nação para a ponta da praia - uma referência ao local onde, durante a ditadura, muitos foram assassinados).
Desse modo ele vai autorizando e legitimando que seus apoiadores ajam de forma violenta contra grupos minoritários.
Aqui a gente lembra que o nazismo perseguia e assassinava judeus, mas também gays, comunistas, negros e ciganos.
E lembra também que Hitler, que chegou legalmente ao poder, tinha apoio popular, foi amparado por inúmeras pessoas que não detestavam nenhum desses grupos mas se sentiam confortáveis para apoiar o Fuher por "motivos econômicos".
A história deu um nome para as pessoas que apoiaram Hitler por motivos econômicos, aliás: são chamadas de nazistas.
"Ah, mas o Bolsonaro usa a bandeira de Israel aqui e ali. Gosta de Israel. Já foi algumas vezes", você pode dizer.
Tudo verdade.
Só que a aproximação de Bolsonaro com Israel é uma aproximação econômica e ligada a um israelense que ele entende apenas como masculino, branco, heterossexual armado e neoliberal.
Para entender o risco que Bolsonaro representa ao futuro do Brasil seria preciso voltar um pouco no tempo.
Auschwitz não aconteceu da noite para o dia.
Hitler e o partido nazista chegaram ao poder de forma absolutamente legal nos anos 30.
Depois disso, foi muito tempo de preparação, de discursos de ódio, de separação, de legimitização das mais corriqueiras violências.
Quando os campos de concentração começaram a ser erguidos, eles pareceram apenas um desenrolar natural e a população não se articulou para impedi-los.
O nazismo e o fascismo não são eventos históricos localizados no tempo passado. São também modos de gestão de vida. Eles se atualizam e retornam.
O fascismo, para existir, precisa de um líder que cultue a morte e a violência, que pregue o extermínio de quem enxerga como inimigos, que aponta os inimigos dentro de sua própria população.
Esse líder precisa ser ao mesmo tempo uma espécie de fanfarrão porque essa imagem é conveniente para que absurdos sejam ditos e, no dia seguinte, desmentidos: era brincadeira, pessoal.
O líder fascista é desprovido de empatia: ele não se comove com a dor ou a morte dos seus.
O líder fascista não é capaz de chorar diante de horrores como 700 mil mortes, não vai a hospitais visitar quem sofre, não conforta aqueles que representa - ou deveria.
O líder fascista é perfeitamente capaz de dizer "E daí? Não sou coveiro" quando questionado sobre as perdas na pandemia.
O líder fascista é igualmente preparado para mandar que as pessoas circulem e espalhem o vírus entre si.
O líder fascista é movido por ideias paranóicas e persecutórias: as instituições atuam contra ele, querem eliminá-lo, não deixam ele trabalhar.
Todas essas definições são técnicas.
Todas elas servem a Jair Bolsonaro.
O Bolsonarismo é, portanto, uma espécie de fascismo.
Está tudo aí revelado.
No Brasil, o fascismo bolsonarista encontra campo fértil: temos uma longa e perversa história com ele.
Não vou nem citar - embora talvez devesse - os discursos políticos da época em que a abolição era debatida, sugerindo que negros deviam ser exterminados, que não deviam fazer parte da sociedade brasileira, que era inaceitável incluí-los. Vamos deixar isso pra lá agora.
Recomendo que escutem o podcast Projeto Querino para descobrir por que o fascismo e o nazismo encontram campo fértil nessa nação chamada Brasil.
O partido fascista (integralista) brasileiro foi um dos mais fortes do mundo nos anos 30.
Quando o partido nazista alemão se expande, ele cria filiais em 82 países. Onde você acham que esteve a maior militância fora da Alemanha?
Exatamente: no Brasil. Havia núcleos oficiais do partido nazista em 18 estados brasileiros.
Bolsonaro explodiu a tampa do bueiro.
Assim como suas matrizes - o nazismo e o fascismo - o bolsonarismo tem uma linguagem própria.
Bolsonaro é um troll.
É o cara que faz o bulling.
Ao se colocar nesse lugar, ele se apresenta como um deboche. Mas ele está longe de ser um deboche.
Ele é o articulador de uma espécie de mal totalitário que funciona através da trituração da consciência social.
Sem ela, nascem soldados da barbárie que atuam no dia-a-dia praticando a violência contra corpos e sujeitos políticos considerados inimigos.
A disseminação dessas violências é ao mesmo tempo pandêmica e irracional porque ela se espalha pelo afeto, pelo rancor, pela amargura, pelo ódio.
Não existe compromisso com a verdade, apenas com o que chamam de liberdade de expressão, ambiente dentro do qual eles colocam absolutamente todas as distorções históricas:
"Não houve Holocausto nenhum". "As pessoas morreram de doenças nos campos".
"Não existe racismo no Brasil". "Não impus sigilo nenhum de 100 anos em nada". "Não tenho nada a ver com o Bolsolão".
O bolsonarismo transforma tudo em opinião, em conversa de boteco.
E conversa de botequim não pode ser contestada ou confrontada sob pena de "estarmos matando a liberdade de expressão e virando a Venezuela".
Bolsonaro age desse jeito como forma de gestão.
Transformar tudo em opinião é uma forma de gestão.
Não é acaso, não é diversão. É gestão.
No cargo de presidente, ele, ao se utilizar desse recurso, institucionaliza o assédio.
Nada a respeito de Bolsonaro está dentro do campo democrático. Nunca esteve. Nunca houve polarização nenhuma.
Bolsonaro não é aceitável sob nenhum aspecto.
Desde que ele entrou em cena, saímos do campo da normalidade. Não é apenas "mais uma eleição".
As instituições já colapsaram: Bolsonaro não é aceitável enquanto candidato e não devia estar concorrendo.
Por que insistimos em naturalizar as ações desse homem?
É nisso que você vai depositar seu voto?
Quem apoia o nazi-fascismo é o quê?
Para saber mais:
A linguagem da destruição, livro de Miguel Lago, Heloisa Starling e Newton Bignotto:
https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559212170/linguagem-da-destruicao
Jornalistas livres:
https://jornalistaslivres.org/bolsonaro-e-o-nazismo/
Revista Piauí:
https://piaui.folha.uol.com.br/casos-de-antissemitismo-crescem-no-governo-bolsonaro/
por Daniel Neves Silva
Supremacia branca
Supremacia branca é a crença na falsa ideia da superioridade do homem branco. Ao longo da história, esses ideais se manifestaram em grupos como a Ku Klux Klan
A supremacia branca é uma ideologia que acredita na falsa ideia da superioridade natural do homem branco. Os supremacistas alimentam ideais racistas contra diferentes grupos da humanidade e, atualmente, têm forte ligação com o neonazismo. Historicamente, um dos grandes símbolos dos supremacistas brancos foi a Ku Klux Klan.
Acesse também: Antifascistas, grupo que luta contra neonazistas e supremacistas brancos
Entendendo o que é a supremacia branca
A supremacia branca é um conjunto de ideais racistas que acreditam que o homem branco é naturalmente superior a humanos de outras origens raciais. Os supremacistas creditam essa suposta superioridade a evidências científicas falsas. A crença nessa pretensa superioridade faz com que os supremacistas defendam a manutenção de sistemas de governo racistas que garantem os privilégios da população branca.
A crença na supremacia branca foi utilizada como argumento para justificar a colonização das Américas, África e Ásia, assim como a escravidão, instituição que vigou no continente americano por cerca de três séculos. Os especialistas entendem a supremacia como uma concepção extremista, baseada em ideias racistas, e que está presente em grupos da extrema-direita.
Assim, os supremacistas brancos sustentam um discurso de ódio contra populações indígenas, contra africanos e seus descendentes, e, em casos de supremacistas que se alinham com neonazistas, os judeus também se tornam alvo desse discurso. Ao longo da história, um dos mais conhecidos grupos de supremacistas brancos foi a Ku Klux Klan, surgida nos Estados Unidos.
Os grupos supremacistas não entendem a si próprios como racistas, pois, em sua ideologia, como mencionado, há a crença de que o homem branco é naturalmente superior aos demais grupos humanos. Assim, como creem ser superiores, aquilo que falam de outros grupos não é entendido como racismo, mas como um fato.
A crença da pretensa superioridade do homem branco se estabeleceu como ideologia com a chegada dos europeus à América. A violência da colonização e os horrores da escravidão eram ideologicamente justificados com base nessa ideia. A partir do século XIX, o discurso supremacista buscou, por meio da ciência, criar uma narrativa que comprovasse a superioridade do homem branco.
Essas tentativas, naturalmente, não têm nenhuma aceitação pela comunidade científica internacional. Além disso, os ideais supremacistas brancos foram e são usados na manutenção de desigualdades sociais e de leis racistas, que garantem o privilégio da parcela da população branca. Atualmente, muitos dos grupos supremacistas brancos se associam a grupos neonazistas, isto é, grupos que resgatam e exaltam ideais do nazismo.
Defensores da supremacia branca se posicionam contra medidas de afirmação social que visam a combater desigualdades históricas. Posicionam-se também contra a imigração, sobretudo de grupos considerados “inferiores” por eles.
Comumente, os supremacistas associam sua ideia de identidade nacional com “pureza racial”, sendo assim, usando o exemplo dos Estados Unidos, só é norte-americano, para um supremacista, o indivíduo que é branco. Por fim, defendem teorias da conspiração, como a ideia do “genocídio branco”, que trata a miscigenação da população como uma forma de extinção dos brancos.
Supremacia branca na história
Como mencionado, os ideais de supremacia branca foram historicamente utilizados para justificar a exploração e a violência cometidas contra populações não brancas. O regime de segregação racial que existiu na África do Sul, na segunda metade do século XX, o apartheid, é um dos exemplos mais evidentes de como os ideais de supremacia branca agem.
Como mencionado, a ideia de supremacia branca foi utilizada para justificar a colonização e a escravização de pessoas ao longo da história. Ideais muito difundidos no século XIX, como o “fardo do homem branco”, traziam consigo essa ideia que considerava o branco como superior aos não brancos.
Os Estados Unidos são um dos grandes exemplos quando se estuda o supremacismo branco. Esses ideais eram consideravelmente fortes nesse país e ganharam nova dimensão após a Guerra de Secessão. A derrota dos sulistas e o fim da escravidão nos Estados Unidos, além das medidas tomadas no país após a Décima Terceira Emenda Constitucional, geraram uma reação.
Uma das reações resultou nas Leis Jim Crow, que estabeleciam o afastamento de brancos e negros em locais públicos. Assim, estabeleceram-se escolas para negros, banheiros para negros, restaurantes para negros. Tudo isso visava a afastar a população afro-americana dos locais frequentados por brancos. Essa segregação permaneceu até a década de 1960.
Além disso, estabeleceram-se proibições para casamentos inter-raciais, impuseram-se limitações para dificultar o acesso dos negros ao voto. Enfim, estabeleceu-se todo um sistema cujo intuito era manter os privilégios da parcela da população branca. Entretanto, essa não foi a única manifestação de supremacia branca que existiu nos EUA.
Na mesma época, surgiu um grupo terrorista que, até hoje, é considerado o maior grupo supremacista da história: a Ku Klux Klan. Essa organização terrorista advogava pelos ideais que acreditavam na superioridade do homem branco e surgiu por volta de 1865, no Tennessee. Esse grupo, conhecido comumente como KKK ou Klan, defendia a segregação racial e pregava o ódio contra a população afro-americana.
Os membros da KKK andavam encapuzados e perseguiam a parcela da população negra nos locais onde atuavam. Assim, era comum que seus membros destruíssem as residências de negros, assim como promoviam espancamentos e enforcamentos públicos de afro-americanos. Até americanos brancos que os criticavam eram alvo da sua violência.
Acesse também: Holocausto – o genocídio realizado pelos nazistas
Símbolos supremacistas
Os grupos supremacistas se estabelecem às escondidas e usam diversos símbolos para passar sua mensagem, seja de maneira velada, seja de maneira mais aberta. Muitos dos símbolos dos grupos supremacistas se confundem com símbolos neonazistas, por exemplo. Os símbolos supremacistas, em geral, estabeleceram-se por meio da apropriação de símbolos comuns que eram utilizados em contextos diferentes.
É importante considerarmos que, apesar de neonazistas e supremacistas fazerem usos desses símbolos, eles também são usados por pessoas comuns que não possuem relação alguma com esses ideais. Por fim, existem organizações, como a Liga Antidifamação, especialistas no estudo e análise dos símbolos usados por supremacistas.
Tradicionalmente, esse gesto feito com as mãos é utilizado em países como os Estados Unidos como uma referência à palavra ok. Entretanto, nos últimos anos, grupos de supremacistas brancos passaram a usá-lo como uma referência a WP, sigla para White Power, termo que significa “poder branco” e é amplamente usado por supremacistas.
O símbolo conhecido como algiz é um símbolo rúnico (alfabeto utilizado pelos vikings) e possui associação com a palavra vida. Com o surgimento do nazismo, o símbolo passou a ser utilizado como um sinônimo para o termo ariano, que designa o tipo ideal de ser humano na ideologia nazista. O algiz está muito presente em grupos neonazistas.
O ato de consumir leite também tem sido apropriado por supremacistas para propagar a crença deles na superioridade do homem branco. Muitos grupos supremacistas também têm usado o consumo do leite como uma forma de passar adiante os seus ideais.
Com ataque a religiões de matriz africana, o objetivo é descredibilizar a imagem de Lula, por meio de sua esposa, mediante o eleitorado feminino e evangélico
247 - Os estrategistas da campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) avaliam associar o preconceito contra religiões de matriz africana à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, para atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem é casada. Um dos focos é influenciar o voto do eleitorado evangélico, mais especificamente o das mulheres.
De acordo com a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a avaliação do núcleo da campanha bolsonarista é de que “todas as evidências da religiosidade do ex-presidente podem ser afetadas com a narrativa de que, apesar de suas reiteradas manifestações públicas ligadas ao universo cristão, a mulher, em casa, se dedica a rituais de ‘macumba’".
A esposa de Lula é socióloga. Estuda as religiões indígenas, afro-brasileiras, a fantasia das três raças brasileiras. Escreve Orson Camargo:
"Na atualidade não existe nenhuma sociedade ou grupo social que não possua a mistura de etnias diferentes. Há exceções como pouquíssimos grupos indígenas que ainda vivem isolados na América Latina ou em algum outro lugar do planeta.
De modo geral, as sociedades contemporâneas são o resultado de um longo processo de miscigenação de suas populações, cuja intensidade variou ao longo do tempo e do espaço. O conceito 'miscigenação' pode ser definido como o processo resultante da mistura a partir de casamentos ou coabitação de um homem e uma mulher de etnias diferentes.
A miscigenação ocorre na união entre brancos e negros, brancos e amarelos e entre amarelos e negros. O senso comum divide a espécie humana entre brancos, negros e amarelos, que, popularmente, são tidos como 'raças' a partir de um traço peculiar – a cor da pele. Todavia, brancos, negros e amarelos não constituem raças no sentido biológico, mas grupos humanos de significado sociológico.
No Brasil, há o 'Mito das três raças', desenvolvido tanto pelo antropólogo Darcy Ribeiro como pelo senso comum, em que a cultura e a sociedade brasileiras foram constituídas a partir das influências culturais das 'três raças': europeia, africana e indígena.
Contudo, esse mito não é compartilhado por diversos críticos, pois minimiza a dominação violenta provocada pela colonização portuguesa sobre os povos indígenas e africanos, colocando a situação de colonização como um equilíbrio de forças entre os três povos, o que de fato não houve. Estudos antropológicos utilizaram, entre os séculos XVII e XX, o termo 'raça' para designar as várias classificações de grupos humanos; mas desde que surgiram os primeiros métodos genéticos para estudar biologicamente as populações humanas, o termo raça caiu em desuso.
Enfim, 'o mito das três raças' é criticado por ser considerado uma visão simplista e biologizante do processo colonizador brasileiro".
A socióloga Rosângela da Silva tem na sua biblioteca livros sobre negros e indígenas, incluindo obras de arte do nosso folclore, nas mais diferentes manifestações artísticas, demonstrativas da riqueza cultural do povo em geral, isso sem preconceito religiso, ou racismo.
Na terça-feira (9), a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, fez um ataque nesta direção ao compartilhar um vídeo em que Lula participa de um encontro com representantes de religiões afro-brasileiras afirmando que o petista "entregou sua alma para vencer essa eleição".
Como uma pessoa pode acusar outra: de entregar a alma às trevas, ao demônio? Coisa do exorcismo católico da Idade Média, quando se queimava evangélicos e vice-versa.
Após a publicação racista da primeira-dama contra às mães de santo da Bahia, que receberam Lula, na Assembléia Legislativa da Bahia, com um banho de pipoca, Janja foi às redes sociais e rebateu o preconceito de Michelle Bolsonaro. "Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo. A minha vida e a do meu marido sempre foram e sempre serão pautadas por esses princípios", postou no Twitter.
Ainda segundo a reportagem, a ideia de usar o preconceito religioso teve como base uma foto das redes sociais em que “Janja aparece de branco ao lado de imagens como a de Xangô, um dos orixás da Umbanda e do Candomblé. Ao postar a imagem no Twitter, ela escreveu: 'Saudades de vestir branco e girar, girar, girar...'". A avaliação do QG da campanha bolsonarista é que “a imagem tem o potencial de desgastar Lula no eleitorado evangélico”. Por erroneamente confundir as religiões afro com feitiço, bruxaria, satanismo.
O Gabinete do Ódio do Palácio do Planalto esqueceu que o branco faz parte do rico guarda-roupa da primeira-dama:
Segundo o Datafolha, Lula possui 48% das intenções de voto do eleitorado evangélico masculino, contra 28% de Jair Bolsonaro. Já entre o eleitorado feminino deste segmento, a situação é de empate técnico, uma vez que Bolsonaro registra 29% e Lula 25%. Outras 34%, porém, ainda não definiram em quem irão votar no pleito de outubro.
A pesquisa Datafolha foi realizada de forma presencial com 2.556 pessoas em 183 municípios entre os dias 27 e 28 de julho. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa, encomendada pela Folha de S. Paulo, foi registrada no TSE sob o número BR-01192/2022.
Ataques às religiões afro-brasileiras são uma vertente do fenômeno de racismo, analisa Hédio Silva Junior, coordenador-executivo do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro). O advogado explica que ataques e discursos de ódio contra as religiões de matriz africana fazem parte da perseguição a tudo que diz respeito ao patrimônio cultural decorrente do legado civilizatório africano no Brasil. Ele considera que constitui a faceta religiosa do mesmo racismo.
Bolsonarista difamadora divulgou vídeo mentindo que o ex-presidente Lula distribuiu uma cartilha para ensinar jovens a usarem crack. Na campanha de 2018, que elegeu Bolsonaro, a mentirosa espalhou o boato de que Lula patrocinou a cartilha gay e a mamadeira de piroca. Bolsonaro mitomaníaco apresentou a cartilha pasmem! em um discurso na Câmara dos Deputados
247 - “Mentirosa” e “ridícula” são as hashtags mais comentadas no Twitter na manhã desta segunda-feira (8) após a ex-ministra de Jair Bolsonaro Damares Alves compartilhar uma fake news grotesca relacionando o ex-presidente Lula à distribuição de uma cartilha para ensinar jovens a usarem crack. O mesmo ultrage foi usado contra o padre Júlio Lacellotti, por dar abrigo e alimentos a moradores de rua, vítimas da política elitista e corporativista do capitão Jair Bolsonaro, que a fome é uma peste, um besta do Apocalipse que atinge, exclusivamente, a população civil
Uma das figuras públicas que criticou a ministra foi o youtuber Felipe Neto. Na postagem, ele esclareceu que “a cartilha citada por ela foi criada pelo Programa Nacional de DST/AIDS para ser distribuída a profissionais de saúde. Detalhe: a cartilha nem chegou a ser distribuída”.
“A Damares Alves é mentirosa, e eu a desafio a me processar para que eu possa provar na Justiça que é uma mentirosa”, completou.
Mente tanto quanto o chefe, o capo miliciano, o mitomaníaco Bolsonaro, que faz a apologia do golpe, da guerra civil, da tortura, da morte. Todos os dias, no cercadinho, Bolsonaro pronuncia discursos de ódio, de ataque às urnas, de ameaça da volta da tortura e ditadura militar.
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