Não podemos mais achar normal, não tem mais quaquaraquaquá, memes, piadinhas ou qualquer outra insinuação que aplaque a agonia
MARLI GONÇALVES Diálogos do Sul
Ai, ai, ai, ai, ai. Cinco doloridos ais contra o AI-5. Cinco minutos de sua atenção para entender porque a situação já há muito vem perdendo qualquer graça, e se tornando perigosamente um flerte com o que há de mais atrasado, como se um pote do passado, esse sim “conservado” fechado, estivesse sendo destampado.
Quando tudo começou, de verdade, consumado, e que tivemos de acreditar que não havia nada mais que pudesse ser feito – até porque o leite já estava derramado, não houve ninguém com capacidade para competir melhor para evitar o desastre – nos resignamos. Pensamos que, quem sabe? – o homem que assumiria a Presidência poderia se adequar, entender o que é Estado, Nação, o papel que lhe cabia. Que serenaria seus ímpetos de baixo clero, seus matutos, desinformados e inflamados discursos, em prol de governar para todos, pela pátria, e como ele próprio repetia, pelo Brasil acima de tudo.
Não se passaram muitos dias para que a nossa resignação virasse preocupação, susto após susto, quase que diariamente. O rol dos ministros escolhidos, as postagens nas redes sociais, as “lives” toscas, os comentários desairosos, a compra de briga com importantes setores da sociedade civil, as ameaças e ataques à imprensa, aos repórteres. A lista é já de início impressionante. Some-se censura a obras de arte, falta de compromisso com o meio ambiente e com todas as tragédias – de Brumadinho, queimadas, óleo nas praias, violência nas ruas, acidentes.
Como um carro sem freio acelerando numa ladeira íngreme, e tentando fazer uma curva à direita, os descalabros foram se avolumando. Ministro colombiano, astrólogo filósofo palpiteiro, teses escalafobéticas como a da Terra ser plana, meninas de rosa, meninos de azul, indicação de ministro “terrivelmente evangélico”, “golden shower”, erros crassos em portarias governamentais.
Logo vieram as encrencas e grosserias nas relações internacionais, as trocas de ministros por outros piores ainda, os cortes de verbas nas áreas sociais, as dificuldades nas negociações políticas, o atraso em atender às promessas eleitorais, os ataques à oposição, mesmo estando essa engessada, múmia, como ainda parece estar. Mais imóvel até do que o próprio e rebelado partido que caiu da cama onde dormitava, o partido do presidente.
Seguiram-se ainda revelações que associavam o sobrenome Bolsonaro à corrupção, às milícias, a um sem fim de tudo de ruim que parece ter sido juntado em um grupo só, para nos desanimar a todos (todos, claro, sem contar os seus iguais que ainda batem pé, cantando hinos com a mão no coração): os da maioria que votou nele, os que não votaram, os que escolheram outros, os que se abstiveram, mas todos em busca apenas de um país que saísse da paradeira após o desastre já vivido nas últimas administrações, do PT, de Lula, Lava Jato, Dilma, do impeachment, de Temer.
Logo percebemos outro grande problema que se agravaria muito no decorrer do ano, desses até agora dez terríveis meses de 2019: os Filhos do Capitão, os 00s, 01,02,03, Huguinho, Zezinho e Luizinho, ops! — Carlos, Flávio e Eduardo. Todos com cargos parlamentares, pela ordem, vereador no Rio de Janeiro, senador, deputado federal, os dois últimos eleitos agora na esteira do pai.
Eles são motor de crises, que agora chegam ao auge com a desfaçatez de Eduardo Bolsonaro ameaçando com AI-5 quem pensar em “derrubar” o pai, como afirmou. O AI-5, o mais devastador ato da ditadura militar que cobriu esse país por 21 anos. Nesta mesma semana, estupefatos, vimos os meninos divulgando o vídeo do leão atacado por hienas etiquetadas como se fôssemos nós todos, ao fim e ao cabo. Ouvimos o próprio pai, em viagem ao Oriente, ousar dizer, na Arábia Saudita, onde se encontraria com um sanguinário filho de monarca, que todas as mulheres “adorariam passar a tarde com um príncipe”, referindo-se ao príncipe Mohamed bin Salman, entre outras acusado de mandar esquartejar e matar (nessa ordem, a que parece que foi executada) o jornalista Jamal Kashoggi.
Só se fossem loucas essas mulheres, que ali já são vítimas das maiores proibições, atrocidades e desrespeitos.
Chega. Não tem mais nenhuma graça. Não podemos mais achar normal, não tem mais quaquaraquaquá, memes, piadinhas ou qualquer outra insinuação que aplaque a agonia. E o que é pior: até os militares que o cercam já percebem que Bolsonaro está mais para o atrapalhado Sargento Tainha e seus recrutas Zeros, do que para Popeye.
Justificado medo do porteiro: testemunha da morte de Marielle foi assassinada
Fica mais do que provado: em 14 de março de 2018, às 17h10m, Élcio Vieira de Queiroz, dirigindo um carro clonado, passou pela portadoria do Vivendas da Barra, para buscar Ronnie Lessa que, na noite do mesmo dia, metralhou Marielle Franco.
No Vivendas, Ronnie Lessa, Jair Bolsonaro então deputado federal, e o vereador Carlos Bolsonaro eram vizinhos.
Toda confusão é que Élcio teria dito que ia para casa 58 de Jair Bolsonaro, e foi para a propriedade 65 de Lessa, o pistoleiro de aluguel. O número da residência de Carlos Bolsonaro não aparece no noticiário.
Mello Franco: por que o porteiro inventaria essa trama?
Sobrou para ele...
O jornalista Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, diz em sua coluna desta publicada no dia 31 de outubro último, que "o porteiro terminou o dia como vilão, mas ninguém explicou por que ele inventaria toda essa trama para atingir o presidente", em referência ao porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, que afirmou que o assassino de Marielle entrou no local mencionando a casa de Jair Bolsonaro no dia do assassinato.
O colunista lembra que o testemunho do porteiro coincidiu com o que apontou o livro do condomínio, ou seja, uma visita à casa 58, a do "seu Jair". O próprio Jornal Nacional, responsável por fazer a denúncia na terça-feira 29/X, ressaltou que o então deputado federal Jair Bolsonaro não poderia estar em casa, já que registrou presença no plenário da Câmara naquela data.
Como ressalta Mello Franco, o ministro da Justiça, Sergio Moro, reforçou a pressão sobre o porteiro e ameaçou enquadrá-lo em três crimes: obstrução à Justiça, falso testemunho e denunciação caluniosa; o procurador-geral da República, Augusto Aras, também desacreditou o porteiro; e a promotora Simone Sibilio, do Rio, apresentou uma gravação de áudio para sustentar que Élcio Queiroz foi à casa de Ronnie Lessa, e não à de Bolsonaro. (A casa de Carlos Bolsonaro jamais é citada).
Porteiro que citou Bolsonaro no caso Marielle recua em novo depoimento
O porteiro que citou o presidente Jair Bolsonaro nas investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes, depôs nesta terça-feira (19/11) à Polícia Federal e recuou da versão que havia dado em dois depoimentos em outubro à Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
Agora, o funcionário do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, afirmou ter lançado errado o registro de entrada do ex-policial militar Élcio Queiroz na casa 58, de propriedade do presidente, na planilha de controle do condomínio horas antes do assassinato de Marielle, em 14 de março de 2018.
No final de outubro, o Ministério Público do Rio havia afirmado que uma perícia desmentiuo porteiro e apontou que a ida de Élcio para a casa 66, do policial militar reformado Ronnie Lessa, outro acusado do crime e que morava no mesmo condomínio.
Ele frisou que se sentiu "pressionado" e deu a primeira versão para o episódio, na qual a entrada do suspeito de matar a vereadora foi autorizada pelo "seu Jair" pelo interfone do condomínio. Apesar de afirmar que se sentiu "pressionado", Alberto Mateus disse que ninguém o pressionou a prestar a versão em que menciona o presidente.
A informações sobre o novo depoimento foram reveladas pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, e confirmada pelos jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S. Paulo.
Registros da Câmara dos Deputados mostram que o então deputado federal Jair Bolsonaro, estava em Brasília no dia do crime.
O porteiro deu seu depoimento no inquérito aberto pela PF para apurar seu próprio testemunho no caso Marielle. A investigação havia sido pedida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para apurar "tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro nas investigações sobre a morte da vereadora.
O depoimento do porteiro, que chegou por volta das 12 horas de terça-feira acompanhado por defensores públicos, durou cerca de três horas. A Polícia Federal confirmou a oitiva do funcionário do condomínio, mas afirmou que seu teor está sob sigilo. O Ministério Público Federal disse que só se manifestará após o caso ser concluído.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou, a pedido de Moro, que o funcionário fosse investigado por possível prática dos crimes de obstrução de Justiça, denunciação caluniosa, falso testemunho e violação de um artigo da Lei de Segurança Nacional, promulgada na época da ditadura militar.
A investigação começou após uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, noticiar que registros do condomínio Vivendas da Barra, e também o depoimento de um dos porteiros à Polícia Civil, apontaram de que um dos suspeitos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o ex-PM Élcio Queiroz, esteve, horas antes do crime na casa do ex-sargento Ronnie Lessa, suspeito de ser o executor da ação, que mora no local.
Segundo a reportagem, em depoimento, o porteiro informou que Élcio Queiroz anunciou no dia 14 de março de 2018 que iria não à casa de Lessa, mas à de número 58 do Vivendas da Barra, que é a residência de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Ainda segundo a reportagem, em seu depoimento, o porteiro afirmou ter interfonado para a casa do então deputado federal e que "seu Jair" havia autorizado a entrada do visitante.
A versão inicial do porteiro foi dita em duas ocasiões no caso e, como prova, foi levado aos investigadores a planilha de controle de entrada no Vivendas da Barra. O registro apontava a ida de Elcio Queiroz à casa 58. Agora, o porteiro afirma que anotou o número errado na planilha.
No dia seguinte à veiculação da reportagem do JN, o Ministério Público Estadual do Rio organizou uma entrevista coletiva na qual as promotoras do caso Marielle disseram que o porteiro havia prestado informações falsas. As promotoras disseram que se basearam em uma perícia dos áudios que gravaram a comunicação do condomínio naquele dia. Segundo as promotoras, o material apontou que a entrada de Élcio foi autorizada por um homem na casa 65, de Lessa, e não na 58, que pertence a Bolsonaro.
No entanto, a perícia foi realizada em menos de duas horas e meia, no mesmo dia da coletiva. Especialistas questionaram a metodologia das promotoras, apontando que não houve tempo hábil para uma análise aprofundada dos áudios. Os computadores do condomínio também não foram analisados para apurar se houve alguma adulteração do material.
Além disso, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPE-RJ) não soube explicar por que o porteiro teria mentido e em que circunstâncias ocorreu a anotação na planilha do condomínio que apontava que a ligação foi feita para a casa 58, de Bolsonaro. A Promotoria ainda disse que não sabia se a gravação registrada envolvia o porteiro que prestou depoimento ou outro funcionário.
Porteiro recua em versão que cita Bolsonaro em investigação sobre Marielle
O porteiro do condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio, que havia citado o presidente em depoimento na investigação sobre o assassinato de Marielle Franco recuou de sua versão, de acordo com diversos órgãos de imprensa. Em nova declaração à Polícia Federal nesta terça-feira, o funcionário disse que errou ao dizer em setembro, à Polícia Civil do Rio, que, um dos principais acusados de matar a vereadora do PSOL, o ex-PM Elcio Queiroz, buscou a casa de Bolsonaro no próprio dia do crime, em 2018. Na primeira versão do porteiro, Queiroz havia solicitado a entrada no condomínio e sido autorizado a entrar por alguém na casa do então deputado federal que teria se identificado como “Seu Jair”, mas acabou se dirigindo à propriedade de Ronnie Lessa, no mesmo local. Queiroz e Lessa estão presos desde março, acusados pela morte da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.
Elcio Queiroz
Ronnie Lessa
A mudança de depoimento do porteiro, que também disse que errou ao anotar o número da casa do presidente no registro de entrada do local, é um novo capítulo de uma apuração repleta de sobressaltos e lacunas ―houve falhas na realização de perícia no condomínio do presidente, por exemplo. A citação de Bolsonaro no caso, revelada pelo Jornal Nacional em setembro, provocou uma crise política e uma forte reação do Planalto. Respondendo a um pedido do ministro da Justiça, Sergio Moro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, instaurou então um inquérito para investigar o funcionário do condomínio, sob suspeita de falso testemunho. Foi dentro deste inquérito que a Polícia Federal ouviu o porteiro nesta terça.
Enquanto a apuração do caso, que completa mais de 600 dias sem solução, caminha a passos lentos, as investigações dos possíveis mandantes do crime ainda pode mudar de mãos. Há um pedido de federalizaçãodessa parte do caso, ainda tocadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado do Rio, que aguarda julgamento no Superior Tribunal de Justiça. O pedido de federalização foi feito pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no seu último dia no cargo, em setembro, e teve como base um inquérito da Polícia Federal que apontou falhas e tentativas de obstrução do inquérito da Polícia Civil. A família de Marielle já se manifestou contra a transferência da investigação dos mandantes para a Polícia Federal.Notícias
Funcionário ligado a testemunha no inquérito de Marielle é morto a tiros no Rio de Janeiro
[FOTO]Carlos Alexandre Pereira Maria, colaborador do vereador Marcello Siciliano (PHS), uma testemunha no inquérito que apura a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, foi encontrado morto na noite do dia 8 de abril de 2018. Relatos de testemunhas à Polícia dão conta de que um dos assassinos teria gritado: "Chega para lá que a gente tem que calar a boca dele!". Informações são do jornal O Globo. Wikipédia
O rebuliço causado pelo súbito cancelamento das redes sociais do vereador Carlos Bolsonaro, o filho presidencial, é uma boa medida da mixórdia a que a República brasileira foi levada.
Um sujeito apatetado, infantil e agressivo, que posta imagens do pai como um herói da Marvel e montagens toscas com a esquerda assassinando a tiros a liberdade de expressão pode ter saído do ar por evidentes violações dos termos de uso das redes – que volta e meia fazem isso por bobagens – , por identificação de algum esquema de reprodução automática por robôs ou…e aí começam as especulações:
Será que foram revelações de fake news? Sua ação “policial” no caso do porteiro do Vivendas da Barra? Ordem do pai provocada por algum conflito entre os dois? Entre hienas e cachorrices, tudo pode acontecer.
E o país de 210 milhões de habitantes, metade vivendo na pobreza, extrema ou quase, para para apreciar o espetáculo que, em qualquer hipótese, envolve baixarias e desequilíbrios emocionais.
Logo se saberá do “misterioso” desparecimento deste pavão filial.
Há, porém, algo que não tem mistério: querem transformar o país em República do Twitter, terra das tretas e dos memes, numa ofensa ao Brasil que só quer democracia, progresso e convívio civilizado.
"Quo usque tandem abutere patientia nostra?! Frase que, em latim, vossa excelência, melhor latiador do que eu, conhece perfeitamente, foi dirigida em quatro cartas do senador e escritor romano Cícero ao Senado e ao povo em relação a Catilina, militar e senador que pretendia derrubar a República. Veja que ousadia! Isso antes do AI-5!", diz o escritor Jô Soares, em carta endereçada a Jair Bolsonaro.
E continua. "A calúnia não para! Agora, querem lhe responsabilizar pelo fato de sua ilibada residência localizar-se na mesma região onde, por uma coincidência estúpida, habitava também um certo Ronnie, de alva notoriedade (mas em outro lar doce lar, é claro!). Sem nenhuma ligação, um valhacouto de papalvos!"
No fim, ele cita o vídeo do leão e das hienas, postado por Bolsonaro e depois apagado. "Meditei muito, passei a noite sem dormir, mas antes de apagar a luz estava começando um filme da Metro com aquele rugido característico: para mim, aquela mensagem foi decisiva. Pude finalmente dormir em paz: a sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. Vossa excelência é o rei dos animais!"
Très cher président: “Quo usque tandem abutere patientia nostra?!”
Frase que, em latim, vossa excelência, melhor latiador do que eu, conhece perfeitamente, foi dirigida em quatro cartas do senador e escritor romano Cícero ao Senado e ao povo em relação a Catilina, militar e senador que pretendia derrubar a República. Veja que ousadia! Isso antes do AI-5!
Mas o que me leva a esta monótona missiva é associar-me a vossa excelência no episódio do leão contra as hienas.
Realmente é um excesso de diversos predadores a atacar um leão solitário, tentando proteger-se e aos seus filhotes: são chacais supremos, racuns, capivaras e gambás, sem falar das folhas, cujo destino é inominável, e das eternas hienas globais.
A calúnia não para! Agora, querem lhe responsabilizar pelo fato de sua ilibada residência localizar-se na mesma região onde, por uma coincidência estúpida, habitava também um certo Ronnie, de alva notoriedade (mas em outro lar doce lar, é claro!). Sem nenhuma ligação, um valhacouto de papalvos!
(Para os menos ilustrados: 1- Valhacouto: lugar seguro onde se encontra refúgio; abrigo, esconderijo; o que se usa para encobrir o aspecto de uma coisa, ou as intenções de alguém; disfarce, dissimulação; 2 - Papalvo: diz-se de indivíduo simplório, pateta ou tolo.)
Voltando ao tema principal: cheguei a pensar, quando vi o vídeo (por sinal, parabéns pela montagem), que talvez a figura de Mogli, o Menino Lobo, criado na selva, enfrentando múltiplos perigos, fosse mais adequado a vossa excelência.
Meditei muito, passei a noite sem dormir, mas antes de apagar a luz estava começando um filme da Metro com aquele rugido característico: para mim, aquela mensagem foi decisiva. Pude finalmente dormir em paz: a sua definição é perfeita: vossa excelência é o leão. Vossa excelência é o rei dos animais!".
Que as eleições presidenciais de 2018 não correram dentro da normalidade, todos sabemos. Afinal, não é normal que um deputado que durante quase 30 anos foi piada nacional, presença cativa em programas de auditório e folhetins de humor, se torne presidente do país que tem a décima maior economia do mundo.
No começo do mandato, havia duas possibilidades:
1°) Bolsonaro seria um presidente de direita normal, como outro qualquer, respeitador dos ritos e disposto a governar por dentro das instituições.
2°) Bolsonaro continuaria se alimentando da energia disruptiva liberada em 2013, colando nas instituições estabelecidas a pecha da “velha política”.
Bolsonaro decidiu preservar sua identidade política e a lealdade de sua base orgânica. Essa foi sua escolha e é em função dela que seu governo deve ser analisado.
Vai funcionar? Essa base orgânica é grande o suficiente pra sustentar um governo que abriu guerra contra o Congresso Nacional, contra o STF e contra sua própria base parlamentar? As eleições municipais do ano que vem dirão algo a respeito disso. Qualquer coisa que falarmos agora não passará de especulação e torcida.
Por enquanto, é possível dizer que Bolsonaro é, ao mesmo tempo, fraco e forte. Sua fraqueza é a fonte de sua força.
Fraco como presidente e forte como agitador fascista. Na minha percepção, essa é a síntese da liderança política de Bolsonaro.
A cada manifestação, Bolsonaro violenta os ritos fundamentais para o cargo que ocupa, mas ao mesmo tempo, e exatamente por isso, mobiliza sua base orgânica, formada por pessoas sem o menor compromisso com a institucionalidade vigente.
No momento em que escrevo este texto, a esquerda está debochando dos dois últimos lances de marketing político operados por Bolsonaro: o vídeo do leão e as hienas, publicado na fanpage do presidente em 27 de outubro, e a gravação ao vivo de 29 de outubro, feita durante viagem oficial aos Emirados Árabes.
O deboche é o resultado da combinação entre incompreensão e prepotência. Na política, poucos gestos são mais imprudentes do que a incompreensão e a prepotência.
Incompreensão porque parte da esquerda ainda insiste em tratar Bolsonaro como louco, aloprado, sem entender a natureza da energia política que constitui o bolsonarismo.
Bolsonaro é o Coringa, é a personificação de uma sociedade que se percebe como colapsada, que despreza qualquer tipo de mediação institucional.
Aquilo que muitos de nós consideramos ser loucura e burrice, talvez seja performance política.
Prepotência porque a esquerda ainda está convencida de que seus padrões de gosto e comportamento são universais. Para nós, a figura de Bolsonaro é detestável, grotesca.
Quantos brasileiros realmente se incomodam com uma piada sobre o tamanho do pinto de japonês ou com um comentário sobre a beleza de primeira dama de país vizinho?
O Brasil não é regido pelos mesmos valores que compartilhamos no nosso cotidiano, nas diversas faculdades de ciências humanas espalhadas pelo Brasil. É óbvio, é mais que óbvio. É tão óbvio que nem precisava ser dito.
Ouço companheiros e companheiras animados com rodas de hip hop, com movimentos sociais de afirmação identitária, com saraus de poesia, blocos de maractu, vendo nessas práticas indícios de uma futura redenção. “Centelhas de uma nova onda revolucionária”, como costuma dizer Vladmir Safatle. Não nego que seja algo confortável de se ouvir.
A esquerda torce a realidade pra fazer caber no desejo. Nisso, os velhos conservadores (Tocqueville, Burke, Möser), têm muito a nos ensinar: pensar no plano justo, coladinho na realidade.
Enfim.
Fato, fato mesmo é que, de acordo com a estratégia traçada, o plano de Bolsonaro vem sendo bem executado. Com o vídeo do leão e as hienas, foi reforçada a narrativa fundada em 2013: instituições corrompidas representando a “velha política” cercam o leão moralizador.
STF, direita tradicional, esquerda, imprensa hegemônica contra o felino majestoso destemido.
Acho clichê, ridículo, cafona. Você, leitor e leitora deste veículo de esquerda que me publica, provavelmente concordam comigo. Mas tem muita gente aplaudindo, muita gente mesmo. Basta sair da bolha e olhar. Recomendo que voltem rápido, para o bem de sua saúde mental.
Em uma ‘live’ de 23 minutos, Bolsonaro desqualificou a imprensa hegemônica, o governador do Rio de Janeiro (potencial adversário em 2022), se apresentou como pai e marido ofendido pela perseguição que os derrotados nas urnas movem contra sua família.
Bolsonaro não falou como presidente. Falou como o patriarca que sai em defesa do clã. É o tipo de coisa que cola mais que velcro em uma sociedade com baixa educação institucional e profundamente privatista nas relações sociais.
A ‘live’ foi um sucesso. Fez exatamente o que queria fazer.
Bolsonaro vinculou a Globo, que “diariamente corrompe moralmente a sociedade brasileira com suas minisséries e novelas”, ao PT, “que corrompeu a nação ao assaltar os cofres públicos”. Aí estão os dois conceitos de corrupção que constituem a semântica da crise institucional em curso no Brasil.
Bolsonaro ameaçou rever o regime de concessão dos direitos de comunicação social. Até bem pouco tempo atrás, essa era uma agenda da esquerda, que jamais foi tocada pelos governos petistas.
Bolsonaro ainda falou do Adélio e da “poderosa conspiração que tentou matá-lo”, e performatizou o mártir, o esfaqueado, na tentativa de esvaziar Marielle Franco, sem dúvida o principal símbolo da esquerda brasileira contemporânea.
Bolsonaro bateu na mesa, xingou palavrão, exalou carisma. Terminou pedindo desculpas pelo excesso. Retórica! Ele sabe perfeitamente que o excesso é seu principal capital político.
Se estou dizendo que Bolsonaro é carismático? Sim, estou dizendo exatamente isso. Em política, carisma é, fundamentalmente, a capacidade de afetar o outro pela produção de identidade. Bolsonaro representa perfeitamente o brasileiro médio.
Fraco como presidente, mas forte como agitador fascista. Em situação de normalidade institucional, essa seria a fórmula do obituário político. Em tempos normais, Bolsonaro ainda seria deputado de baixo clero.
"Nesses tempos estranhos, tudo é possível, até mesmo essa cortina de fumaça. Tática rasteira no que enxovalha a instituição básica da República, guarda da Constituição, o Supremo", repudiou o ministro Marco Aurélio Mello, ao comentar o vídeo publicado nas redes sociais de Jair Bolsonaro em que ele se compara a um leão cercado por hienas, que representam instituições como o STF, ONU, partidos políticos e a imprensa
247 - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou como deplorável e rasteira a publicação de um vídeo na conta de Jair Bolsonaro no Twitter, em que se compara a um leão cercado por hienas taxadas como STF, ONU, partidos políticos e a mídia.
Para o ministro, o vídeo é uma cortina de fumaça para distrair a atenção e ofuscar os áudios de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, que foram revelados nos últimos dias. Queiroz é investigado por suspeita de comandar esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual, Flávio Bolsonaro, no Rio de Janeiro.
"Nesses tempos estranhos, tudo é possível, até mesmo essa cortina de fumaça. Tática rasteira no que enxovalha a instituição básica da República, guarda da Constituição, o Supremo. O exemplo, especialmente para o cidadão leigo, vem de cima. É deplorável. Aonde vamos parar? O Brasil precisa estar focado em coisas boas, construtivas, positivas, visando o bem estar de todos e não em futricas rasteiras", repudiou Marco Aurélio.
"Eu tenho que nada surge sem uma causa. Qual seria a causa? Qual é o descontentamento com o Supremo? Não acredito que haja descontentamento com o Supremo. E as decisões do Supremo são para ser cumpridas. Agora há uma coincidência muito grande que esse foco surge justamente numa hora em que aparecem essas coisas envolvendo o assessor Queiroz", completou o ministro em entrevista à rádio CBN.
O decano da Corte, ministro Celso de Mello, também expressou repúdio. Ele reagiu com indignação ao vídeo publicado por Jair Bolsonaro. "Constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente"
Está ficando a cada dia mais claro que o capitão-presidente, com suas agressões à democracia, às instituições, aos vizinhos e até à ONU, está querendo reeditar o golpe militar de 1964, do qual sente tantas saudades.
A única crítica que fez até agora à ditadura indica o que ele pode provocar em seus delírios: Bolsonaro lamentou que os militares não tenham matado pelo menos 30 mil “inimigos”.
Falou isso da tribuna da Câmara, nos anos 1990, e ameaçou de morte o então presidente, Fernando Henrique Cardoso.
Deputado folclórico do baixo clero, na época ninguém lhe deu bola, mas agora ele pensa as mesmas coisas, e é o presidente da República.
Nos últimos dias, completamente fora de controle, Bolsonaro está avançando todos os sinais, em desabalada carreira rumo a um autogolpe, para implantar de vez aqui uma ditadura sem disfarces.
O que falta ainda?
Com seu séquito de ressentidos, frustrados e vingadores, cada vez mais isolado, aqui dentro e lá fora, o ex-capitão afastado do Exército aos 33 anos está procurando uma guerra, interna ou externa, qualquer uma, tanto faz, para colocar suas tropas nas ruas, como tem ameaçado, depois das revoltas populares no Chile e no Equador.
E o que nós podemos fazer para conter essa insanidade?
Na noite desta segunda-feira, tive a oportunidade de participar de um debate com o professor Thomás Zicman de Barros, de passagem pelo Brasil, a caminho do Chile.
Economista e doutorando em Teoria Política na Sciences Po Paris, Barros fez palestra sobre “Movimentos de indignação pelo mundo, nas redes e nas ruas”, para uma confraria de escritores reunidos na Livraria Zaccara, nas Perdizes.
Depois de fazer uma breve viagem pelas revoltas populares que se multiplicaram pelo mundo nos últimos tempos, desde a Primavera Árabe, passando pelos Estados Unidos, França, Reino Unido, Oriente Médio, até chegar agora à América Latina, o professor mostrou que cada movimento teve causas diferentes, mas quase todas geradas pelo descontentamento das populações com a alta no custo de vida, o aumento do desemprego, a má qualidade dos serviços públicos e a falta de esperança.
Como pano de fundo em comum, lembrei eu, essas explosões dos indignados são consequência de uma crescente concentração de renda e da chaga da desigualdade social provocadas pelo neoliberalismo, separando o mundo entre poucos bilionários e milhões e milhões de miseráveis, refugiando-se nos países ricos, em busca de um lugar para sobreviver.
Os deserdados estão perdendo a paciência, o copo foi enchendo, e qualquer motivo pode ser a gota´água, arrisquei dizer.
As populações locais sentem-se ameaçadas pela concorrência na disputa por empregos e um lugar no metrô.
De uma hora para outra, multidões ocupam as ruas contra o poder constituído, quase sempre sem lideranças visíveis, sem saber o que colocar no lugar de regimes que não lhes servem mais.
Por aqui, não vemos no momento nenhum movimento organizado para contestar o poder do capitão, mas ele próprio está em busca de um estopim para deflagrar a guerra.
A divulgação no mesmo dia do inacreditável vídeo do leão enfrentando as hienas acendeu o sinal vermelho: um confronto pode estar mais próximo do que se imagina.
No papel de rei dos animais, neste filme o intrépido capitão parte para cima do STF, dos partidos políticos e da imprensa, até aparecer um outro leão, chamado “conservador patriota”, para ajudá-lo a enfrentar todos os inimigos, reais ou imaginários, que possam aparecer na sua selva tomada por hienas.
O vídeo logo foi retirado do ar, não apareceu o responsável pela sua rica produção, Bolsonaro assumiu a responsabilidade e pediu desculpas só ao STF.
O único ministro a se indignar no Supremo foi o decano Celso de Mello, que soltou uma nota irada, em que afirma: “O atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.
Não encontra mesmo, enquanto o próprio STF e as demais instituições agredidas não derem um basta ao celerado, que declarou guerra ao mundo, sem saber o que fazer com seus filhos e o Queiroz, ainda soltos por aí, debochando de todos nós.
Por coincidência, abro o jornal de manhã e dou de cara com um assustador título na coluna de outro professor, o filósofo Joel Pinheiro da Fonseca, na Folha:
“Bolsonaro planeja um golpe de Estado?”
Minha resposta é sim, mesmo que a maioria das pessoas duvide que o capitão seja capaz de planejar qualquer coisa, além da rápida, acelerada e total destruição do país e das suas instituições. .
“Será que existe um plano concreto de ruptura institucional e supressão das liberdades democráticas do país?”, indaga Fonseca.
Com plano ou sem plano, é para isso que estamos caminhando a passos largos.
Qualquer faísca pode deflagrar a guerra que Bolsonaro tanto está procurando, desde a sua campanha eleitoral.
Sem nenhum programa de governo viável apresentado até agora, é ele quem está jogando no quanto pior, melhor.
Sim, respondendo à minha pergunta do título desta coluna: Bolsonaro quer provocar aqui também a revolta dos indignados.
Resta saber apenas qual será o estopim, mas é inevitável.
Sexta-feira ele volta ao Brasil de viagem pelo mundo, com seu partido conflagrado, a economia e o Congresso paralisados, e o super-ministro Moro cortando o cafezinho no seu ministério para fazer economia.
Enquanto Bolsonaro distrai a população e desloca o debate público do essencial para o acessório com suas escatologias, comportamentos demenciais e torpezas como a do leão e das hienas, a caravana passa.
A caravana, no caso, é a devastação ultraliberal que unifica politicamente, ideologicamente e partidariamente toda a classe dominante em torno do projeto destrutivo que está sendo executado por comando remoto pelos EUA e capitais internacionais.
O Brasil foi inteiramente recolonizado, é preciso reconhecer. O país está submetido a uma guerra de ocupação, e o principal comandante do “exército nativo” – Lula – foi sequestrado pelo exército invasor e transformado em prisioneiro de guerra; trancafiado para que não possa organizar a reação popular contra os ocupantes do território nacional.
O servilismo incondicional de Bolsonaro a Trump não é algo genuíno, porque representa a restauração radicalizada da subserviência que o PSDB mantinha em relação aos EUA nos períodos do FHC e do conspirador Michel Temer.
Dois episódios ilustram essa verdade: [1º] Celso Lafer, o chanceler de FHC, abaixando-se para tirar os calçados para ser aceito nos EUA; e [2º] a viagem apressada aos EUA do tucano Aloysio Nunes, o chanceler do governo golpista, para tranquilizar a chefia do Norte acerca do andamento do golpe para derrubar a presidente Dilma com o impeachment fraudulento.
A oligarquia dominante não tem um projeto de nação soberana e de sociedade nacional, por isso se ajoelha aos pés dos EUA conscientemente, por opção.
No Congresso, esta oligarquia concretiza a maior destruição jamais vista do patrimônio público, dos direitos sociais, trabalhistas e da soberania nacional com a maioria confortável formada pelos seus diferentes partidos – PTB, PP, PSD, Podemos, Patriota, PSC, PRB, Solidariedade, PSL, DEM, MDB, PSDB e outras siglas deste gênero lesa-pátria.
Pouco importa saber se Bolsonaro faz o que faz e diz o que diz porque [1] segue um plano estratégico para desviar a atenção, ou porque [2] é uma figura torpe que tem uma visão de mundo racista, autoritária e deformada, ou porque [3] é um combo disso tudo e um pouco mais.
A realidade concreta é que o comportamento demencial do Bolsonaro desvia a atenção acerca da pilhagem selvagem e do assalto brutal que o governo, os militares, o Congresso, a Lava Jato, setores do judiciário e os capitais promovem às finanças, às riquezas, ao patrimônio, às empresas, ao mundo do trabalho, aos direitos do povo e ao território nacional.
Quem duvidar disso que então justifique a razão para a privatização da cadeia de gás e petróleo, a entrega do pré-sal, da PETROBRÁS e do setor elétrico; a destruição da engenharia nacional, a entrega da Embraer para salvar a Boeing, o redirecionamento do projeto de submarino nuclear; a instalação de base militar dos EUA em Alcântara, a queima criminosa da Amazônia, a privatização da extração de urânio, a demolição das leis trabalhistas, a destruição do sistema previdenciário etc, etc e etc.
Bolsonaro é uma Aberração política, mas ele é, sobretudo, uma aberração humana que nasceu do ventre da burguesia; é filho das escolhas da classe dominante, que sabia desde sempre que Bolsonaro idolatra torturadores, faz apologia do estupro, vem do porão da velha ditadura e é vinculado a milícias. Bolsonaro não caiu das nuvens [aqui].
Bolsonaro coleciona inúmeros crimes de responsabilidade para ser afastado por impeachment. Em agosto passado o doutor em Direito e professor da USP Conrado Hübner Mendes elencou 17 crimes de responsabilidade [aqui], todos muito bem fundamentados, que autorizariam o afastamento do Aberração pelo Congresso. Hoje, 2 meses depois, os motivos para sua deposição legal devem ter duplicado.
Aliás, Bolsonaro sequer deveria ter sido diplomado e empossado no cargo. Na campanha eleitoral, cometeu crimes graves, todos fartamente documentados, que levariam à cassação da chapa Bolsonaro-Mourão e provocariam nova eleição presidencial.
Mas o TSE, pelas mãos do ministro-relator do processo, Jorge Mussi – por ironia, o cara tem o título de “Corregedor” [sic] do TSE – corrompe as leis e manipula o processo para não levar o caso adiante para, assim, deixar o país dominado pelos saqueadores.
Bolsonaro segue convertendo o Brasil num pária internacional e segue ameaçando o STF, a imprensa, a oposição e as instituições. No máximo, ministros do STF manifestam espanto e escrevem notas protocolares.
Bolsonaro sabe que pode fazer tudo o que faz e dizer tudo o que diz impunemente, que nada lhe acontece.
A razão disso é simples: a distração do Bolsonaro é útil para a pilhagem do país e para a continuidade do assalto total que as elites financeiras nacionais e internacionais perpetram contra as riquezas nacionais, contra a nação e contra o povo brasileiro.
A manutenção do Lula sequestrado no cativeiro de Curitiba – o Guantánamo dos EUA no Brasil – é condição essencial para que esta devastação total, rápida e ilimitada.
A luta pela libertação do Lula é a maior urgência democrática, nacional e popular do Brasil e da América Latina.
247 - O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, reagiu com indignação à divulgação de um vídeo por Jair Bolsonaro em seu Twitter que retrata o STF, partidos políticos e outras instituições como hienas que tentam ataca-lo, retratado como um leão.
Para Celso de Mello, o vídeo, que foi apagado posteriormente, evidencia que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.
“Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de 'gravitas' e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”, afirmou o decano em manifestação para a Folha de S. Paulo.
Entre as hienas exibidas no vídeo aparecem algumas identificadas como STF, PSL, partidos de esquerda como PT e PSOL, CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e veículos de imprensa, incluindo a Folha.
Veja a íntegra da resposta enviada pelo ministro Celso de Mello:
A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no “Twitter”, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma “hiena” culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.
Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de “gravitas” e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.
É imperioso que o Senhor Presidente da República —que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados— saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.
Assista ao vídeo divulgado por Jair Bolsonaro:
Hiena JMA da Via Insensata contra o Leão Banguelim@jairmearrependi
Você vacilou e perdeu o vídeo do SAFARI Bolsonarista, estrelando Jair Bolsonaro como o LEÃO BANGUELO.
Uma das peças mais vergonhosas já veiculadas na história da política brasileira.