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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

16
Jul21

Vendedor da Davati cita 8 que teriam atuado na Saúde para negociar vacina; ao menos 6 são militares

Talis Andrade

vacina canina.jpg

 

 

 

por Marcela Mattos, Mateus Rodrigues e Sara Resende /G1 e TV Globo

O representante comercial da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho detalhou nesta quinta-feira (15), em depoimento à CPI da Covid, a participação de pelo menos oito autoridades do Ministério da Saúde que teriam atuado para agilizar a negociação de vacinas com a Davati. Da lista, pelo menos seis são militares (veja nomes abaixo).

A empresa, com sede nos Estados Unidos, ofereceu ao ministério lotes com milhões de vacinas da Astrazeneca e da Janssen. As negociações avançaram, mesmo sem a Davati apresentar qualquer comprovação da existência dos lotes. Os dois laboratórios já negaram que atuem com esse tipo de intermediação.

Em uma dessas reuniões, o policial militar Luiz Paulo Dominghetti – que também se apresenta como representante da Davati – diz ter recebido uma cobrança de propina, de US$ 1 por dose, para viabilizar a compra de 400 milhões de vacinas da Astrazeneca. A Davati entrou na mira da CPI em razão dessa denúncia.

Questionado por diversos senadores nesta quinta, Cristiano Carvalho confirmou reuniões e cobranças feitas por oito autoridades ligadas ao Ministério da Saúde, incluindo o ex-número dois da pasta Élcio Franco.

 

Autoridades citadasImage

Confira abaixo a atuação de cada uma dessas autoridades, na versão de Cristiano Carvalho:

 

  • Élcio Franco, coronel da reserva do Exército e ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde

 

Segundo Cristiano Carvalho, Élcio Franco se reuniu com os representantes da Davati em 12 de março e, em seguida, recebeu a comunicação da sede da empresa nos Estados Unidos para tratar de negociações da vacina da Janssen.

 

Carvalho diz que não voltou a se reunir com Franco e que, nessa única reunião, não houve qualquer cobrança de propina ou contrapartida. O e-mail sobre as doses da Janssen não foi respondido, e Élcio Franco foi exonerado do Ministério da Saúde em 26 de março. Hoje, ocupa cargo no Palácio do Planalto.

"Eu acredito que, logo depois, ele foi exonerado do cargo – dez dias depois se eu não me engano –, e não teve nem tempo de ele retornar, nada mais, porque, dois dias depois dessa reunião, o próprio general Pazuello já tinha dado indícios de que ele sairia do cargo por questões médicas. Neste caso do Elcio Franco, eu acredito que não foi concluído porque realmente ele não fazia mais parte do ministério, dois ou três ou quatro dias depois", declarou Carvalho.

 

  • Roberto Ferreira Dias, sargento reformado da Aeronáutica e ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde

 

"Comprador do Ministério da Saúde do Brasil. Comigo, [a relação] foi estritamente comercial e informações a respeito das vacinas. [...] Conforme é documentado e periciado, várias vezes ele me ligou e mandou mensagens", afirmou Carvalho.

Roberto Dias foi acusado por Luiz Paulo Dominghetti de ter cobrado propina na negociação da Astrazeneca. Ouvido pela CPI, Dias negou essa cobrança e chamou Dominghetti de "picareta".

 

  • Marcelo Blanco da Costa, tenente-coronel da reserva e ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde

 

"Ex-assessor do Roberto Dias e, aparentemente, continuava exercendo", diz Carvalho. Segundo o representante da Davati, Blanco avançou nas negociações com ele e com Luiz Paulo Dominghetti.

Na sessão desta quinta, Cristiano Carvalho afirmou que se referia a Blanco quando disse, em uma mensagem de celular a Dominghetti interceptada pela CPI, que só havia "FDP" no ministério.

"Peço até desculpas pelo termo, mas eram mensagens que a gente trocava. Sobre isso, acho que até me excedi. Na verdade, o que eu estava me referindo é como eu passei a negociar com o senhor [Marcelo] Blanco, aqui, eu me referia a esse tipo de negociação que tinha sido instaurada. Que aparentemente, o Roberto Dias havia indicado o Blanco para negociar comigo. Ele falava em nome do Roberto Dias o tempo todo", disse.

 

  • Cleverson Boechat Tinoco Ponciano, coronel da reserva do Exército e coordenador-geral de Planejamento do Ministério da Saúde.

 

"Ele era responsável pelos pagamentos dos insumos no Ministério da Saúde", afirma Carvalho.

O representante comercial da Davati afirmou que a reunião de 12 de março ocorreu justamente no gabinete do coronel Boechat.

Em 12 de março, o representante da Davati ter participado de reunião com o coronel para tratar da suposta aquisição de vacinas.

"Se eu não me engano é no segundo andar. Foi lá que ele nos recebeu. E o coronel Pires e o coronel Elcio Franco também nos receberam dentro do gabinete do coronel Boechat. Dentro dessas tratativas e conversas dentro do Ministério da Saúde, não houve nada que desabonasse nenhum desses coronéis servidores públicos que estavam na reunião", afirmou.

 

  • Marcelo Bento Pires, coronel da reserva do Exército e ex-coordenador do Plano Nacional de Operacionalização das Vacinas contra a Covid-19

 

"Acredito que ele era uma espécie de assistente de ordens do coronel Élcio Franco. Ele fez vários tipos de perguntas sobre a entrega, sobre o produto, não diretamente para mim. Diretamente para o coronel Hélcio Bruno, com H, que o coronel repassou para mim e eu disponibilizei", diz Carvalho.

 

Questionado por Randolfe Rodrigues, Cristiano Carvalho disse que o coronel Pires manifestou interesse na aquisição das vacinas. "Nas mensagens, ele diz que sim e faz bastante perguntas".

 

  • Glaucio Octaviano Guerra, coronel reformado da Aeronáutica e, segundo Randolfe Rodrigues, assessor do adido militar da embaixada do Brasil nos Estados Unidos

 

"O coronel Guerra atuou somente como o porta-voz do Herman nos Estados Unidos, não teve influência alguma na negociação. Só transmitia as informações que a ele eram passadas", disse Carvalho.

 

  • Guilherme Filho Odilon, apontado como coronel pelo senador Randolfe Rodrigues

 

Cristiano Carvalho afirmou que uma pessoa identificada como "Odilon" seria um intermediador da negociação. Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que ele também é coronel, sem declarar a qual das Forças Armadas ele seria ligado.

"O Odilon é coronel? Eu não tenho esse conhecimento. ele aparece como um dos intermediadores da negociação", afirmou Carvalho.

Em outro momento, o representante da Davati relacionou o nome "Odilon" ao suposto pedido de propina para negociar as doses da Astrazeneca. Carvalho usa o termo "comissionamento" para falar desse pedido.

"A informação que veio a mim, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon", afirmou Cristiano.

As mensagens obtidas pela CPI no celular de Luiz Paulo Dominghetti também mostram um contato identificado como Guilherme Filho Odilon. Dominghetti envia a ele a seguinte mensagem:

"Estamos negociando algumas vacinas em números superior a 3 milhões de doses. Neste caso a comissão fica em 0,25 centavos de dólar por dose".

 

  • Laurício Monteiro Cruz, civil, médico veterinário e ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde

 

"O Laurício foi quem apoiou a compra, através da Senah. Agendou reuniões e, inclusive, indicou que fosse copiado o Élcio Franco nos e-mails. Deu todas as credenciais necessárias para que pudéssemos avalizar que a Senah poderia concluir o negócio", declarou Cristiano Carvalho.

 

Laurício é a única autoridade do Ministério da Saúde sem patente militar, na lista citada por Carvalho.

 

Militar sem cargoImage

O representante da Davati citou, ainda, um militar que não teve cargo ministerial: o coronel Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil.

"Esse instituto, de cunho bolsonarista, patrocina sites e redes que são investigadas no inquérito das fake news e divulgava notícias falsas contra membros da CPI da Pandemia", afirmou o senador Randolfe Rodrigues.

Em seu depoimento na CPI da Covid, Carvalho disse que o Instituto Força Brasil conseguiu a reunião com o então secretário executivo, Élcio Franco, para discutir a proposta de venda de 400 milhões de doses de vacina.

O instituto admite ter agendado a audiência com o então secretário executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco, mas diz que a reunião deveria ser realizada diretamente por representantes oficiais das vacinas, sem intermediários. E que a negociação dependia da confirmação da existência do produto disponível para entrega ao governo brasileiro.

"O Instituto Força Brasil, no meu ver, foi o braço que a Senah utilizou para chegar frente a frente com o Élcio Franco", afirmou Carvalho. [Transcrevi trechos. Leia mais]

 

15
Jul21

Escroqueria ‘coronelizada’ no golpe da Davati

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Coronel Élcio Franco, coronel Hélcio Bruno, coronel Guerra, coronel Boechat, coronel Pires, major Hadarleson. Nomes e postos jorraram do depoimento de Cristiano Carvalho, o aventureiro brasileiro que representava o aventureiro norteamericano Herman Cardenas no golpe da venda de 4oo milhões de doses de vacina Astrazêneca ou outras 200 milhões de doses da Janssen (que são dose única) que nunca existiram.

Só há uma hipótese de que não se constituía, com alguns ou com todos, não ser um golpe para ganhar dinheiro – possivelmente por intermédio de uma entidade “pilantrópica”, a Senar.

É que a que todos sejam idiotas a ponto de acreditar piamente que, em algum lugar do mundo, havia um depósito de vacinas suficiente para imunizar todo o povo brasileiro e que eles tinham-no descoberto e ele, como heróis anônimos, o descobriram e eforam buscar.

A menos que os quadrinhos da Marvel ou os contos da carochinha façam parte dos currículos militares, não dá para acreditar nisso.

Havia um regimento de militares metido em reuniões no Ministério com picaretas descarados, Cristiano Carvalho e Luiz Dominghetti e, aparentemente, outra corrente, civil, mas com a adesão do coronel Marcelo Blanco, que era liderada por Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística, que procurou Carvalho 20 dias antes do tal “happy hour” de Brasília, no qual se teria pedido “um dólar por dose”.

Ficamos sabendo que não era propina, mas “comissionamento”…

A segunda oferta da Davati, mencionada no depoimento de Cristiano – e que o UOL noticiou há duas semanas – aconteceu e foi tratada de forma a princípio correta: “mande a sua autorização da Astrazêneca para que a proposta ande”. Faltou, “apenas” a comunicação à Polícia Federal para apurar quem esteja, indevidamente, oferecendo venda de vacinas inexistentes a governos.

Tranquilizem-se o Ministro da Defesa e os comandantes das três Forças: o tráfico de influência e a escroqueria irresponsável não era, pelas provas colhidas até agora, não são generalizadas. Mas são fortemente “coronelizadas”.

claudio vacina índia.jpg

 

08
Jul21

Demissão escancara “Reverendogate”

Talis Andrade

Ex-diretor da Saúde Lauricio Monteiro Cruz e reverendo Amilton Gomes de Paula

 

por Fernando Brito

- - -

Algumas balizas para pensar.

O veterinário Laurício Cruz, que acaba de ser demitido pelo Governo do Ministério da Saúde, era um indicado de Eduardo Pazuello, pois foi nomeado já em sua gestão, para ocupar a vaga do epidemiologista Julio Croda, da Fiocruz.

O lugar, em plena pandemia da Covid-19, não era de pouca importância: o cargo de diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde representa a chefia do Plano Nacional de Imunização, isto é, a aplicação de centenas de milhões de doses das vacinas por todo o Brasil.

Alguém com essa missão não pode alegar que poderia acreditar que o tal Reverendo Amilton Gomes de Paula tinha na algibeira 400 milhões de doses, em tese o suficiente para imunizar todos os brasileiros acima de 18 anos com as duas doses necessárias.

Mas Laurício deu a mão ao pastor e a um major da FAB, Hardaleson Araújo de Oliveira, e foi, com um séquito de coronéis, levando-o por caminhos em que se cogitava até de uma reunião com o presidente da República.

Sabe-se que ontem cedo o governo tentou patrocinar um acordo entre os representantes de Ricardo Barros e do centrão e as “forças especiais” de Pazuello, comandadas pelo coronel Élcio Franco.

Mas não se sabe a razão de, logo depois da encrenca causada pela ordem de prisão de Roberto Ferreira Dias, ter sido tomada a decisão de atirar rapidamente ao mar Laurício Cruz.

Não vai demorar para se saber, também, porque há um clima de salve-se quem puder na guerra das baratas que assolava o Ministério da Saúde.

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