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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

26
Dez21

Sobram nomes, mas falta candidato para enfrentar Lula e Bolsonaro

Talis Andrade

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E assim o Ano Novo está para chegar. Tomara que pelo menos traga vacinas para nossos filhos e netos

 
 

Você sabe quem é Lula e, no mínimo, o que ele se oferece para fazer caso se eleja no ano que vem. Se não sabe, deduz que ele tentará repetir alguns acertos do seu governo. Quem o viveu acha que foram tempos melhores. Quem não viveu, ouviu falar.

Você sabe quem é Bolsonaro, o pouco que ele fez (cite uma coisa boa) e o muito que estragou. Se não sabe, em que país você vive? Mas se quiser votar nele mesmo assim, ou se preferir não votar, você tem lá suas razões que devem ser respeitadas.

Você sabe o nome dos candidatos que ambicionam se lançar como opções a Lula e a Bolsonaro? Sabe o mínimo do que eles pensam, e por que querem disputar o voto nem, nem? E, se eleitos, o que fariam por seu bolso e a vida dos seus filhos?

É por isso que a terceira via está destinada ao fracasso. O mundo gira e a Lusitana roda sem que se saiba a razão para que dois terços dos eleitores admitam sair do cercadinho onde só parece haver espaço para Lula e Bolsonaro. Em cima da hora, não sairão.

A construção de uma candidatura exige tempo, a não ser que um fato extraordinário a alavanque. Em 1994, o Plano Real, que domou uma inflação de 80% ao mês, elegeu Fernando Henrique Cardoso que enfrentava dificuldades para se eleger deputado.

Lula aprendeu com três derrotas o caminho para alcançar o que pretendia, e mesmo assim só se elegeu porque o Real começou a fazer água. Se ele não fosse preso em 2018, Bolsonaro seria eleito? Se não fosse a facada, qual teria sido a sorte de Bolsonaro?

Fala-se em muitos nomes, mas na vida real a terceira via no momento resume-se a três. Por ordem de intenções de voto nas pesquisas eleitorais divulgadas até hoje: Sérgio Moro (PODEMOS), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB).

 

Doria não se reelegeria governador de São Paulo. Perder para presidente não lhe fará tanto mal. Ciro não cresce porque Lula não deixa pela esquerda, nem Bolsonaro pela direita. Moro ainda é uma incógnita, com voz de pato e uma ideia fixa: corrupção.

Rodrigo Pacheco, embora bonito e alto, é uma invenção de Gilberto Kassab para manter unido o seu PSD. Pacheco, candidato a presidente, sequer convenceu Pacheco, presidente do Senado e muito satisfeito com isso. Quem não estaria? O Senado é o céu.

A candidatura a presidente de Simone Tebet é para dar tempo para que o MDB se reparta entre Lula e Bolsonaro. E fim de papo. Espero que tenham tido um feliz Natal. E que apesar de Bolsonaro, o Ano Novo traga vacinas para nossos filhos e netos. Amém.

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20
Set21

Cristina Serra e o jantar de Temer, na veia

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Cristina Serra, sempre competente como jornalista em seus 40 anos de carreira, se supera também como cronista política vigorosa, a mostrar que existe vida ética fora do relativismo moral – por nossas bandas, frequentemente um “relativismo imoral” –

Dá o tratamento que merecem Michel Temer e seus comensais no regabofe do deboche onde, mal saído o país de um momento tenso de conflito institucional e mergulhado numa imensa crise, caíram às gargalhadas com a imitação do monstro que acabava de ser, temporária e parcialmente contido.

Tudo se torna mais forte porque aquilo que Cristina descreve no texto a cartunista Marília Marz traduz de forma crua e espetacular.

 

Riem do que, senhores?

 

por Cristina Serra, na Folha de S. Paulo

O vídeo do recente jantar em homenagem a Michel Temer lembrou-me uma cena do filme “O Poderoso Chefão 3”, o último sobre a saga da família Corleone, dirigido por Francis Ford Coppola e estrelado por Al Pacino. A ficção mostra um encontro de mafiosos, num ambiente cafona e decadente em cada detalhe da decoração: cristais, pratarias, taças, lustres.

Semelhante também é a disposição dos personagens na cena: senhores cheirando a naftalina, em torno de uma grande mesa para tratar de negócios. No caso, aqui, para celebrar o “business as usual”, depois que Temer afivelou uma focinheira em Bolsonaro e deixou claro quem controla as rédeas do processo golpista que se desdobra desde 2016.

No vídeo, a anormalidade institucional do país, os ataques de Bolsonaro à democracia, à legalidade e ao STF, enfim, tudo o que joga o país no chão é tratado com chocante naturalidade. Na imitação que faz do presidente, um animador de auditório fala em instrumentos de tortura usados na escravidão, como a chibata, e o pau de arara, símbolo da violência na ditadura. Seguem-se risadas e aplausos.

 
Nunca um presidente cometeu tantos crimes de responsabilidade contra o povo. Estamos chegando a 600 mil mortos pela Covid. Doença, desemprego e fome dilaceram os sonhos de milhões de brasileiros, lançados ao desespero pelo governo que essa gente ajuda a manter no Palácio do Planalto. Ainda que mal pergunte, riem do que, senhores?
19
Set21

Temer é o retrato do desespero das elites pela terceira via

Talis Andrade

O "festim diabólico" na visão de Nando Motta 

 

A terceira via só existe nos sonhos do mesmo grupo de empresários e políticos que ajudaram a eleger Bolsonaro e agora zombam dele

 

 

por João Filho /The Intercept
 

MICHEL TEMER FOI RECOLOCADO  no tabuleiro do jogo político como uma peça importante. Logo após o ato golpista no 7 de setembro, Bolsonaro mandou um avião da FAB trazer o antecessor a uma reunião em Brasília. O objetivo era reconstruir pontes de diálogo com o ministro Alexandre de Moraes, indicado ao cargo pelo ex-presidente. Dias antes, Bolsonaro havia implodido o que restava das pontes ao dizer durante a manifestação em São Paulo que não cumpriria mais nenhuma decisão de Moraes. Mas diante da movimentação dos partidos pelo impeachment e da possível prisão iminente de seus filhos, o machão imbrochável sucumbiu e teve de pedir ajuda para acalmar o ministro o qual ataca há meses.

Não é de hoje que Temer tem atuado como um domador de Bolsonaro. Desde o início do governo, é um conselheiro informal do presidente em momentos de crise. Já entrou em campo para amenizar o mal-estar com a China e aproximá-lo do Centrão. Sua influência no governo Bolsonaro não é pequena. Segundo o ex-bolsonarista Alexandre Frota, Bolsonaro pediu para que ele, então secretário de Cultura, desse um cargo para Osmar Terra para atender a um pedido de Michel Temer. Terra acabou se tornou influente na condução desastrosa do combate à pandemia. Bolsonaro já se referiu ao negacionista Terra como a “principal autoridade na área da Saúde”.

Dias após ajudar a colocar panos quentes na relação do presidente com o Supremo, faixas pedindo “Volta, Temer” foram exibidas por dez gatos pingados na Avenida Paulista na manifestação pelo impeachment organizada pelo MBL — que mais parecia um ato de campanha eleitoral da terceira via. Cada um deles recebeu R$ 50 para estar ali, o que demonstra haver uma movimentação para recolocar Temer de volta no jogo eleitoral.

Isso se confirmou com o banquete oferecido por Naji Nahas em seu palacete para Temer e outros políticos e empresários. Foi um jantar exclusivo para pessoas muito ricas, poderosas e algumas envolvidas em escândalos, como é o caso do anfitrião, que chegou a ser condenado a 24 anos de cadeia em primeira instância por crimes contra a economia popular e o sistema financeiro e foi posteriormente absolvido pelo TRF-2. João Carlos Saad, fazendeiro e dono do grupo Bandeirantes, e Roberto D’Ávila, jornalista da Globo, eram os representantes da grande mídia no encontro. Gilberto Kassab, do PSD, e Paulo Marinho, ex-PSL e atualmente no PSDB, eram os representantes dos políticos que sonham com a terceira via.

Quem é quem no jantar em que Temer ri de imitação de Bolsonaro - BBC News  Brasil

O humorista André Marinho imitou o presidente para deleite da plateia de milionários.

 

 

Todos os presentes no jantar, sem exceção, foram apoiadores de Bolsonaro ou ficaram neutros no segundo turno, mesmo diante dos discursos fascistas do candidato. Alguns deles, como Marinho e seu filho, lideraram a campanha eleitoral da extrema direita. Agora todos gargalham das imitações que o filho do tucano faz caçoando da incompetência de Bolsonaro como se não tivessem nada a ver com isso. O que se viu ali naquela mesa é a chamada “direita civilizada” tentando reorganizar sua volta ao poder e evitar a vitória de Lula ou Bolsonaro. Tudo isso após ter patrocinado a ascensão do fascistoide que hoje taca fogo no país.

O vídeo que registrou o banquete de Temer com os ricaços foi estrategicamente vazado por Elsinho Mouco, o marqueteiro político do ex-presidente — aquele mesmo que confessou ter sido pago pela JBS para ajudar a derrubar Dilma. Elsinho já atuou como elo de ligação entre Bolsonaro e Temer em vários momentos. Foi ele quem articulou para que Temer chefiasse a delegação do governo Bolsonaro em viagem ao Líbano no ano passado. Também foi o responsável pela comunicação do candidato de Bolsonaro para a prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno. O entrosamento político entre Temer e Bolsonaro não é de hoje e é mais afinado do que se imagina.

Não é possível cravar que Temer é o candidato da terceira via, mas está claro que um balão de ensaio da sua candidatura foi colocado na praça. Mas é um balão que encontrará muitas dificuldades para subir. Temer é um ex-presidente altamente rejeitado: foi eleito o mais impopular da história do país. Saiu do cargo que usurpou com 62% da população considerando seu trabalho ruim ou péssimo. Para se ter uma ideia do tamanho da sua rejeição, até a desastrosa gestão Bolsonaro tem uma desaprovação menor — 53% da população. A manifestação do MBL, que foi marcada pelo “nem Lula nem Bolsonaro”, foi um fracasso de público e oferece um indicativo de como será difícil levantar algum candidato da terceira via.

A grande imprensa também parece tentar renovar a imagem de Michel Temer. Os grandes veículos têm dado destaque para o republicanismo do ex-presidente e começaram a pipocar no noticiário colunistões tecendo elogios. Esses setores da mídia e do empresariado parecem dispostos a fabricar a sua candidatura à presidência ou, pelo menos, alçá-lo à condição de fiador de alguma outra candidatura da terceira via.

Um colunista da revista Veja publicou um texto que parece até que foi escrita por Elsinho Mouco. Intitulado “Temer e o sonho da terceira via”, o texto afirma: “Temer foi o vencedor da semana. O ex-presidente apareceu como estadista, foi e voltou a Brasília em um avião enviado pela presidência e acabou aplaudido em um restaurante em São Paulo como pacificador. No mesmo local, uma mulher disse a ele: ‘essa calma que estamos vivendo é graças a você'”.

Mesmo após atuar em conjunto do gângster Eduardo Cunha para usurpar o cargo da presidenta da qual era vice, Temer conseguiu, com o apoio da grande imprensa, manter a pose de republicano, conciliador e pacificador. Esse homem republicano virou um dos mais importantes conselheiros de um presidente fascistoide, tendo articulado no meio político para dar alguma governabilidade à barbárie bolsonarista.

Na falta de candidatos com apelo popular, as elites tentam fabricar a candidatura de alguém que ajudou a abrir as porteiras do caos institucional que vivemos hoje. Mas os patrocinadores da terceira via terão que suar muito para promover esse ressuscitamento eleitoral ou criar um novo nome com condições de disputar com Lula e Bolsonaro. Por enquanto, a terceira via só é possível nos sonhos das mesmas elites que contribuíram para a ascensão de Bolsonaro e a degradação da democracia.

 

 

 

22
Nov20

Folha reconhece, com atraso, que Haddad foi quem mais investiu em São Paulo. Covas é o último

Talis Andrade

Fernando Haddad e Bruno Covas

 

247 – O ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, que apoia a candidatura de Guilherme Boulos, do Psol, no segundo turno da disputa municipal em São Paulo, foi quem mais investiu na metrópole nos últimos quinze anos. O levantamento foi feito pelo jornal Folha de S. Paulo, que levantou os gastos em obras, deixando de fora despesas fixas, como salários, previdência e outros gastos correntes. 

reportagem publicada neste domingo, assinada pelo jornalista Artur Rodrigues, aponta que Haddad investiu R$ 15,4 bilhões, contra R$ 15,2 bilhões de Gilberto Kassab, do PSD, e R$ 10,4 bilhões de José Serra. O pior desempenho é o de Bruno Covas, do PSDB, com apenas R$ 8,2 bilhões, mesmo somando seus números com os do antecessor João Doria, hoje governador de São Paulo. Os valores foram corrigidos e atualizados pela inflação – o que permite uma comparação real entre as quatro gestões.

Os principais investimentos de Haddad foram feitos em mobilidade urbana, como nos novos corredores de ônibus e nas ciclovias, o que conferiu a São Paulo uma aspecto mais moderno e humano. Covas, por sua vez, concentrou seus investimentos em recapeamento de vias urbanas e não realizou nenhuma obra que tenha deixado qualquer marca na cidade.

Tais números devem ser usados por Guilherme Boulos para alertar o eleitor sobre a paralisia dos investimentos em São Paulo nos últimos anos. Embora Haddad tenha apoiado Jilmar Tatto no primeiro turno, ele tem sido um dos principais conselheiros de Boulos nesta reta final da disputa municipal.

 

19
Nov20

O que explica a ascensão do PSOL com Boulos em São Paulo

Talis Andrade

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Foto Nelson Antoine

 

por Leandro Machado /BBC News

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Desde que completou 18 anos, a vendedora Danielle Oliveira, agora com 37, anulou o voto ou simplesmente não compareceu às urnas, preferindo pagar uma multa pela falta. Fazia isso porque não se sentia representada por ninguém, diz.

"Não me considero de direita, nem de esquerda nem de centro. Sei que na direita nunca votaria porque sou pobre, e aprendi que a direita trabalha para os empresários e ricos."

Na última semana, no entanto, ela decidiu finalmente escolher dois candidatos.

"Quando a gente fica mais madura, percebe que é importante votar, pois isso interfere diretamente na nossa vida".

Para vereador, votou em um nome do Cidadania que não se elegeu; para prefeito de São Paulo, foi de Guilherme Boulos, do PSOL, que chegou ao segundo turno contra o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB).

Foi a primeira vez que a vendedora votou em um partido de esquerda .

Eleitores como Danielle deram ao PSOL seu melhor resultado em São Paulo, metrópole cuja prefeitura nas últimas duas décadas foi ocupada por tucanos ou petistas — a exceção foi Gilberto Kassab (PSD), prefeito entre 2006 e 2012.

No último domingo, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) elegeu seis vereadores na cidade, o triplo do última eleição, alcançando a terceira maior bancada da Câmara Municipal — perde apenas para PT e PSDB, ambos com oito cadeiras cada.

Já nas eleições para prefeito, Boulos teve 20% dos votos — pouco mais de um milhão de eleitores. O resultado foi comemorado diante da campanha com menos recurso financeiro e com apenas 17 segundos no horário eleitoral gratuito, enquanto concorrentes mais fortes tinham mais de dois minutos.

Para analistas políticos, o feito do PSOL não representou apenas um crescimento do partido na região, mas também a decadência do PT como a sigla hegemônica da esquerda paulistana. O candidato Jilmar Tatto recebeu apenas 8% dos votos, o pior desempenho dos petistas desde 1988.

"Esse resultado do PSOL não é algo momentâneo nem surpreendente. O partido vem em uma trajetória ascendente no campo da esquerda já há alguns anos. É um processo estratégico e consistente", explica a cientista política Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Mas como isso aconteceu? Qual foi a estratégia que alçou o PSOL, até então um partido pequeno, ao patamar de uma das principais forças políticas na maior cidade do país?

'Decadência do PT'

A queda de votação do PT em São Paulo não é uma novidade deste ano. Em 2016, o então prefeito Fernando Haddad recebeu apenas 16% dos votos na cidade que comandava, perdendo a prefeitura para o tucano João Doria no primeiro turno, um resultado tido como decepcionante, à época.

Por outro lado, os vereadores eleitos pelo partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são experientes e com vários anos de Casa. Eduardo Suplicy, por exemplo, o mais votado do Brasil, vai para seu terceiro mandato. Senival Moura, tradicional político da zona leste, chega à quarta legislatura.

"As pesquisas que fizemos com eleitores apontam que muita gente vê o PT como um partido que não se renovou e que apresenta os mesmos nomes de sempre, embora isso não seja totalmente verdade. Mesmo Jilmar Tatto, que se candidatou pela primeira vez a prefeito, era visto como uma pessoa que falava muito do passado", diz Camila Rocha, do Cebrap, que estuda mudanças eleitorais na periferia de São Paulo.

Para Cláudio Couto, professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas, o PT não apenas não conseguiu renovar seus quadros, mas também seu discurso.

"O PT ficou muito enfraquecido depois dos escândalos de corrupção, do impeachment da Dilma e da prisão do Lula. Mas não foi só isso: o partido não reciclou suas posições, não demonstrou que corrigiu seus erros e seguiu em frente. E está pagando o preço por isso", diz.

Para exemplificar o momento político da cidade, Couto cita a fala de Jilmar Tatto após os resultados de domingo: ao declarar apoio ao PSOL, o petista chamou Boulos de "irmão mais novo".

"Essa frase é curiosa por dois motivos. Primeiro porque Tatto se coloca em uma posição de superioridade, mais sabido, mais maduro e mais experiente. O segundo é um reconhecimento de que está envelhecido e que o 'irmão mais novo' chega com mais vitalidade", diz o cientista político.

Candidaturas

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Uma das candidaturas coletivas eleitas pelo PSOL, o Quilombo Periférico, promete priorizar políticas públicas para a periferia e para população negra e de mulheres


Já a maioria dos eleitos pelo PSOL é estreante e com perfil diferente.

Além de Toninho Vespoli e Carlos Gianazzi, mais experientes, foram eleitas uma mulher trans, Erika Hilton; uma mulher negra, Luana Alves; e duas candidaturas coletivas, a Bancada Feminista e o Quilombo Periférico, esse último formado por homens e mulheres negros de bairros dos extremos da cidade.

Um dos novos nomes do partido é Débora Alves, de 22 anos, estudante de ciências sociais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Moradora de Sapopemba, zona leste da capital, ela se filiou ao PSOL no início do ano e foi eleita junto aos colegas do Quilombo Periférico.

"Sempre fiz parte do movimento negro, de coletivos de cultura e educação popular na periferia. Minha filiação ao PSOL veio depois do entendimento de que o espaço político-partidário e institucional também é um espaço a ser ocupado por nós. É preciso levar a experiência desses movimentos para dentro da construção partidária", diz.

Ela explica que a proximidade do PSOL com coletivos de jovens e com o movimento negro ajudou na escolha da sigla a se filiar.

"Como eleitora e membro de coletivo, sempre vi que o partido esteve presente em nossa luta e de outros grupos diversos da cidade. E nossa militância também esteve dentro do partido", conta.

Para a deputada estadual Erica Malunguinho, primeira mulher transexual a ser eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo, o PSOL se mostrou aberto a discussões insurgentes, como raça e gênero.

"Essas discussões não são identitárias, mas temas importantes da sociedade brasileira e que precisam ser debatidos na esfera pública. Falar de questões LGBT, de racismo, de pautas indígenas, não é apenas falar sobre esses grupos, mas sobre o Brasil, sobre desigualdade, pobreza, violência", afirma.

Para ela, esses temas não devem ser apenas do PSOL.

"É importante que essas questões sejam vistas não como pauta de um único partido, mas de toda a sociedade brasileira", diz.

Já a deputada estadual Isa Penna, uma das dirigentes do PSOL em São Paulo, conta que aposta em candidaturas de mulheres e homens negros, LGBTs e pessoas oriundas das periferias é uma estratégia do partido, e não uma coincidência.

"A partir dos protestos de 2013, houve uma mobilização para entender o momento histórico e como ele poderia refletir em nossa agenda. Há um entendimento de que essas opressões são estruturais na sociedade. Outros partidos de esquerda também tiveram candidaturas assim, como PCdoB e o próprio PT, mas vejo que, pelo menos no caso do PT, as discussões da raça e gênero sempre foram acessórias, e não a pauta principal", diz.

Para Camila Rocha, do Cebrap, o PSOL criou uma imagem de identificação com a juventude mais escolarizada, que participa de movimentos sociais, coletivos de cultura e feministas.
"Na verdade, essa estratégia não é muito diferente do que o PT fez no passado, embora o PT fosse mais ligado ao sindicalismo", compara.

"Nos últimos anos, o PSOL esteve presente em movimentos de jovens, como a Marcha das Vadias, em 2011, os protestos de 2013 e ocupações das escolas", destaca a cientista política.
Para Cláudio Couto, da FGV-SP, a aposta em pautas identitárias pode ter dois lados.

"O PSOL conseguiu incorporar pautas do século 21, para o bem e para o mal. O discurso identitário também pode produzir isolamento, em uma lógica de gueto, de seita, de cultura do cancelamento. Uma pessoa que não tem lugar de fala dentro daquele grupo pode se sentir intrusa. Mas, se esse discurso vier com uma proposta de empatia, de agregar pessoas de diversos segmentos, pode dar certo e o PSOL tende a crescer mais", diz.

Juventude e cursinhos populares

Em São Paulo, o PSOL tem sido descrito como um partido ligado à juventude.

Para especialistas e membros da sigla, essa proximidade se deve, também, à maneira como ela se posicionou durante momentos de efervescência política na cidade, como os protestos de 2013, as ocupações das escolas em 2015, e manifestações feministas e contra o presidente Jair Bolsonaro.

Um dos coletivos de jovens presente nesses momentos é o Juntos, que congrega milhares de pessoas em 25 Estados do país. Embora seja independente, o grupo tem muitos de seus membros filiados ao PSOL. Alguns deles se elegeram para cargos legislativos, como as deputadas federais Fernanda Melchionna e Sâmia Bomfim.

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O coletivo Juntos, que reúne jovens de 25 Estados, tem entre seus membros dirigentes e políticos do PSOL


O coletivo surgiu em 2011, inspirado em movimentos como Occupy Wall Street e a Primavera Árabe. Mas ganhou força mesmo em 2013, com os protestos protagonizados pela juventude, participando ativamente de grandes manifestações pelo país.

"O objetivo do Juntos é organizar a juventude, unir diferentes tipos de jovens no Brasil dentro de uma causa própria", explica Felipe Simoni, de 25 anos, da coordenação do grupo em São Paulo e também filiado ao PSOL.

"O PSOL é nosso principal aliado institucional. Muitos dos nossos membros participam da construção do partido", explica.

Nascido na periferia de Osasco, na Grande São Paulo, Simoni é estudante de geografia pela USP. Ele conta que, quando adolescente, já se sentia de esquerda, mas não via o PT como alternativa.

"Na periferia, só tinha o PT como representação da esquerda, mas eu divergia deles em muitos pontos", diz.

Ele conheceu o PSOL em um cursinho pré-vestibular.

"Acho que ele está mais próximo dos jovens da periferia. Você vê gente do partido nas batalhas de rimas, nos slams (batalhas de poesia), nos saraus, nos cursinhos populares… É uma construção orgânica entre os coletivos e o partido", diz.

Os cursinhos populares de preparação para o vestibular, muitos deles em bairros periféricos, também se transformaram em um espaço construído e ocupado por membros do PSOL.

Normalmente, as aulas são dadas por estudantes de universidades públicas a alunos da rede pública de ensino.

Simoni, por exemplo, foi professor na Rede Emancipa, criada em 2007 e presente em sete Estados. Por ano, a rede dá aulas a 5 mil alunos, com 600 professores.

"Os cursinhos populares não são apenas pré-vestibulares, mas movimentos sociais de educação", diz.

A cientista política Camila Rocha conta que, quando fez graduação no final dos anos 2000, já havia cursinhos ligados ao PSOL.

"Claramente houve um esforço do partido de se aproximar dessa juventude, e isso tem se refletido nas urnas", explica.

A figura de Boulos

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Dados do primeiro turno e de pesquisas de intenção de voto indicam que Boulos deverá ter dificuldade em arregimentar vários setores da sociedade paulistana


Líder dos sem-teto, Guilherme Boulos se filiou ao PSOL em 2018, quando se candidatou à Presidência da República. Na época, ele foi criticado internamente por ter sido alçado à condição de principal nome do partido antes de membros com mais história no grupo político.

Também houve reclamações por causa de sua proximidade afetiva com Lula — o PSOL surgiu em 2004 como uma divergência do PT.

Nessas eleições, porém, críticas como essas não ganharam força. Um dos desafios do candidato para o segundo turno será vencer em bairros periféricos onde o PT sempre se saiu bem. No pleito do último domingo, Bruno Covas venceu em todas as zonas eleitorais da cidade, embora a distância para Boulos em regiões de periferia tenha sido menor, percentualmente.

Pesquisa Ibope divulgada nesta quarta-feira, o candidato do PSOL apareceu com 42% das intenções de voto enquanto o tucano chegou a 58%, o que demonstra dificuldade do psolista em arregimentar vários setores da sociedade paulistana.

"Boulos se transformou em uma figura de visibilidade nacional por causa de sua candidatura à Presidência, sua presença constante na mídia e sua proximidade com Lula. Em grande parte, isso explica porque ele surpreendeu, chegando ao segundo turno", diz Cláudio Couto.

"Mas ainda existe muita desconfiança sobre ele, inclusive na periferia, onde o movimento sem-teto é mais presente. Ele ainda é muito visto como uma pessoa que invade a propriedade dos outros, mesmo que sua campanha tenha investido em explicar essa questão. O tema da moradia é muito importante para a população mais pobre e de periferia", afirma.

Para a vendedora Danielle Oliveira, que vive em Cidade Dutra, periferia da zona sul, a discussão sobre moradia foi o ponto que fez ela escolher Boulos.

"Eu não gostava de sem-teto, achava que eles invadiam a casa das pessoas. Mas um dia fui em uma invasão do Boulos aqui perto de casa, e eles me explicaram como funciona. Eu penso assim: o maior sonho do pobre é ter um carro e uma casa própria", diz.

 

10
Out20

Fim da Lava-Jato e a nova Arena de Bolsonaro

Talis Andrade

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Por Rodrigo Vianna

- - -

"Não vai ficar pedra sobre pedra".

A frase de Dilma, dita alguns meses antes do Golpe de 2016, ecoa como uma espécie de maldição.

Os golpistas foram soterrados, um a um.

Eduardo Cunha (MDB-RJ), comandante da tropa de choque no Congresso, segue preso. 

Aécio Neves (PSDB-MG) experimenta a morte política em vida, e nesta semana chegou a ser renegado pela candidata do PSDB em Belo Horizonte. 

Os tucanos paulistas José Serra e Aloysio Nunes, fiéis servidores do governo golpista de Michel Temer (MDB), foram denunciados judicialmente e caminham para o ocaso humilhante.

O Golpe de 2016, como se sabe, reuniu várias forças: o lavajatismo de Curitiba, a covardia do PSDB, o oportunismo do MDB... tudo com patrocínio de Washington, e sob auxílio luxuoso da Globo e de seus satélites na imprensa. 

A Globo e o que sobrou da Abril, aliás, também colhem o que plantaram: vivem crise financeira e perdem relevância. 

Faltavam os lavajatistas. 

Nas últimas semanas, Deltan powerpoint Dallagnol disse adeus à ribalta; e Sérgio camisa preta Moro pode dar adeus ao Brasil: a mulher dele anuncia que o ex-juiz sente-se intimidado pelo bolsonarismo que ele e os garotos curitibanos ajudaram a fomentar. 

Nos EUA, certamente, Moro e a conje andarão em agradável cia.

O resumo da opereta é que o poder não se consolidou nas mãos dos golpistas "liberais", mas caiu no colo da extrema-direita - que teve papel marginal (em vários sentidos) no processo de 2016.

A Lava-Jato e Moro, o PSDB e Temer, a Globo com kamels/mervais e outras miniaturas jornalísticas: todos eles perderam importância.

A extrema-direita mostra-se muito mais habilidosa do que supunham tucanos e estrategistas do Jardim Botânico. 

E aí entramos na segunda parte desse artigo...

A Nova Arena

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Em maio de 2020, Bolsonaro flertou com o golpe e com um regime abertamente fascista. Foi contido.

Mas a pandemia deu a ele a chance de livrar-se do lavajatismo, lançando também ao mar alguns incômodos personagens marginais (em vários sentidos): allans, copollas, malafaias, olavos e saras agora choram pelos cantos.

Falta resolver a equação econômica: aparentemente, fica o neoliberalismo, mas sem os "exageros" de Paulo pinochet Guedes.

É como se tivéssemos dois governos Bolsonaro:

- o primeiro ano e meio reuniu lavajatismo, ultraliberalismo, terraplanismo e todo tipo de delinquência moral e política;

- a partir de agora, temos um bolsonarismo "contido" (mas não menos perigoso).

O abraço em Toffoli, a nomeação de Kassio Nunes para o STF e a reunião com os gorduchos garotos da velha política: são símbolos dessa nova fase.

É preciso lembrar que o regime militar de 1964 levou quase dois anos para organizar uma base institucional que só em 1966 passaria a flutuar em torno da Arena - o fiel partido da ditadura reunia caciques regionais, militares, direita tecnocrática e anticomunista, além de uma ampla gama de oportunistas provincianos; nos anos 1980, trocou de nome para PDS.

Bolsonaro parece lançar-se na construção de um novo "Arenão".

Abandona a ideia de um partido ideológico (o tal Aliança Brasil naufragou, não houve coleta de assinaturas suficientes), e prefere abraçar-se com as forças que já estão aí - desde 1500.

No Arenão, cabem: o PP, o PSD de Kassab, o Republicanos de Edir Macedo. 

E, ao que parece, sobra espaço para acomodar o DEM de Maia e Alcolumbre. 

Reparemos que são todos eles "filhotes" do velho partido da ditadura.

O PP é descendente direto da Arena/PDS. Já o DEM é a continuação do PFL (dissidência da Arena/PDS que permitiu eleger Tancredo/Sarney em 1985). O PSD de Kassab por sua vez é uma costela do DEM.

Ao se observar o mapa eleitoral de 2020, nota-se que o "bolsonarismo raiz" (feito de youtubers, pastores oportunistas e militares tresloucados) não mostra tanta força. Já o Arenão ocupa o lugar de MDB e PSDB como representante da direita.

PSD tem boas chances em BH, Campo Grande e Goiânia. DEM pode vencer no Rio e em Curitiba, Florianópolis e Salvador.

O PSDB está forte apenas em Natal e Palmas. E vai precisar suar muito pra manter São Paulo.

Imaginava-se que DEM/PSDB tentariam juntos organizar um "campo intermediário" para concorrer com a esquerda e o bolsonarismo em 2022. Parece que esse meio do caminho será sugado pelo bolsonarismo, num novo arranjo.

Mais do que a sopa de siglas, importa notar que o regime Bolsonaro, sob tutela dos militares e do Centrão, busca institucionalizar-se: consolida-se em parceria com uma direita parlamentar, habilidosa e com amplas ramificações nos municípios.

Se, de um lado, esse Arenão "modera" Bolsonaro, de outro sinaliza para uma estabilização do regime, que ganha assim mais chance de se prolongar para além de 2022.

O que pode atrapalhar esse plano: a economia em frangalhos, o caos social e a derrota de Trump nos EUA. 

Por fim, fica claro que a esquerda colherá poucos bons resultados nas urnas em 2020. 

A saída é manter-se firme, renovar lideranças e voltar ao trabalho de base. Sem abrir mão da herança lulista.

A batalha será longa. O inimigo parece tosco, mas tem muita capacidade de construir novas alianças, repaginando velhas arenas.
28
Ago18

A lava jato lava mais branco

Talis Andrade

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Quem joga mais sujo a imprensa ou o judiciário?

 

As testemunhas na ditadura de 1964 cantavam nas mãos de hábeis escruciadores. 

 

As testemunhas do golpe de 2016 ficam presas até falar e, pelo cantar bonito, podem ser compensadas com a liberdade, a legalização de todos os bens adquiridos com os diferenciados crimes, e o dinheiro confiscado, lavado, limpo e cheiroso. Que a lava jato lava mais branco 

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Os ‘cabos judiciais’ e a campanha suja

 
 

O Estadão mancheteia acusações velhas contra Fernando Haddad.

 

É a mobilização da nova versão dos velhos ‘cabos eleitorais’, agora judiciais.

 

O MP “move uma ação” contra ele, embora não se diga em que Haddad teria beneficiado uma empreiteira para receber dela o benefício de lhe pagarem gráficas de campanha, se ele próprio, na Prefeitura, afastou a empresa de contratos públicos firmados pelo antecessor, Gilberto Kassab, para construção de um túnel denominado “Roberto Marinho”.

 

O tema é do ano passado, mas foi devidamente “ressuscitado”, por razões óbvias e nenhuma prova, senão delações de um sujeito – Ricardo Pessoa, da UTC –  posto a mofar na cadeia de Moro até dizer o que queriam ouvir.

 

Do resto, encarrega-se a mídia, como você vê no espaço dado na capa do Estão à denúncia, formal e tempestiva, do caso envolvendo Roberto Jefferson, aliado de primeiríssima linha de Geraldo Alckmin.

 

É evidente que muita coisa prosperará no Judiciário, que em boa parte virou uma máquina partidária, tanto quanto na mídia.

 

Que tem como candidato um personagem que não podia ser mais distante do respeito ao Estado de Direito e às leis.

 

Que promete balas a granel e recomenda às crianças que aprendam a atirar.

 

E que se presta a campanhas ridículas como esta de criminalizar os tais “influenciadores digitais” com base numa denúncia onde sequer se fala em dinheiro para promover candidaturas.

 

Quem andava de robôs, fake news e armações digitais – e às centenas – era o outro lado, mas aqueles, claro, eram só “no amor”.

 

Não creia, por um minuto, que se trata das funções constitucionais do MP.

 

É campanha, pra valer, com o uso, esta sim, de “influenciadores judiciais”, estes sim pagos – e regiamente – com dinheiro público.

 

 

 

12
Mai18

Paulo Preto recebeu a maior propina da Lava Jato foi solto por Gilmar. Os segredos do cofre que a PF esqueceu e os bandidos levaram

Talis Andrade

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 Paulo Preto, por Renato Aroeira 

 

Paulo Vieira de Souza, conhecido no mundo do crime como Paulo Preto, por lavar mais branco o dinheiro dos tucanos mil vezes milionários, foi preso no dia 6 de abril pela Polícia Federal. A prisão preventiva foi determinada pela Justiça Federal, que também autorizou a busca e apreensão em sua residência. 

 

Aconteceu que os policiais esqueceram o cofre de Paulo Petro, operador das campanhas eleitorais do PSDB, e intocável traficante de moedas para os paraísos fiscais. 

 

Paulo Preto é suspeito de receber R$ 173 milhões de propina em obras da Prefeitura de São Paulo.

 

Um boletim de ocorrência diz que ladrões levaram um cofre da casa de Paulo Preto, enquanto o ex-diretor da Dersa estava preso na Operação Lava Jato. Segundo Sergio dos Santos Júnior, caseiro da propriedade, homens armados assaltaram a casa duas vezes, nos dias 28 e 29 de abril. 


No BO, feito pelo caseiro no dia 30 de abril, consta que foram levados, além do cofre, a quantia aproximada de R$ 7.300, joias, quatro relógios, um jogo de faqueiro de prata com 130 peças, três televisores, um par de tênis, três óculos escuros, uma bolsa de viagem e dois perfumes femininos.


O caseiro, Sérgio dos Santos Júnior, disse ter sido rendido por dois invasores, que “usavam touca de motoqueiro e tinham armas de fogo”.


Gilmar Mendes revogou a prisão de Paulo Preto nesta sexta (11).

 

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Entre 2009 e 2011, segundo o Ministério Publico Federal (MPF), Paulo Preto comandou o desvio de 7,7 milhões de reais destinados ao reassentamento de indivíduos desalojados pela Dersa durante a construção do trecho sul do Rodoanel, do prolongamento da avenida Jacu Pêssego e da Nova Marginal Tietê, na Grande São Paulo.

 

A Promotoria da Suíça informou aos investigadores brasileiros que o ex-diretor da Dersa tinha quatro contas naquele país. Elas foram abertas em 2007, por meio de uma offshore no Panamá. Em fevereiro de 2017, o dinheiro foi transferido para um banco nas Bahamas.

 

Passaram meses e mais meses. Demorou quase uma década depois da denúncia da Promotoria da Suiça.

 

Em 22 de março, a Lava Jato em São Paulo denunciou Paulo Preto e outros três suspeitos por formação de quadrilha, inserção de dados falsos em sistema público e peculato. 

 

Ameação ao PSDB: "Não se larga um líder ferido"

 

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Paulo Preto dirigiu a Dersa, que administra as rodovias de São Paulo, entre 2005 e 2010 - nas gestões de Serra e Alckmin. Delatores da Odebrecht afirmaram que ele pedia propina e caixa dois em nome do PSDB em troca de obras viárias. Ele foi acusado da mesma prática por delatores da OAS e Andrade Gutierrez, e pelo lobista Adir Assad. 

 

Em 2010, Souza foi acusado por correligionários de embolsar cerca de 4 milhões de reais doados por empreiteiras para a campanha de Serra à Presidência da República. O hoje senador tucano tentou à época se distanciar do ex-diretor da Dersa, dizendo não saber “quem é Paulo Preto” e que “nunca” tinha ouvido “falar dele”. 

 

Acuado, Preto respondeu com uma ameaça velada. Ele disse que Serra o “conhecia muito bem” e que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro”. O senador, então, saiu em defesa do ex-diretor da Dersa. “Evidentemente, sabia do trabalho do Paulo Souza, que é uma pessoa muito competente. A acusação contra ele é injusta, ele é totalmente inocente”, disse o tucano.

 

Os senadores Aloysio Nunes (PSDB-SP) e José Serra, assim como Preto, são investigados no STF por suspeita de obter vantagens indevidas a partir de esquemas de cartel para construção do trecho sul do Rodoanel.

 

MP da Suíça aponta depósitos numerosos 

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Pouco mais de um mês após ser nomeado diretor de engenharia da Dersa, em 24 de maio de 2007, Paulo Vieira de Souza, considerado operador do PSDB, abriu quatro contas no banco Bordier & Cie, em Genebra, segundo documento sigiloso que as autoridades suíças enviaram ao Brasil.

 

Entre 2007 e 2009, durante o governo de José Serra (PSDB), as contas receberam “numerosas entradas de fundos”. No começo de 2017, quando Paulo Preto decidiu transferir os recursos da Suíça para as Bahamas, as quatro contas tinham um saldo de US$ 34,4 milhões. O valor equivale a R$ 121 milhões.

 

Ainda de acordo com o comunicado do Ministério Público da Confederação Suíça, do qual o jornalista Mário Cesar Carvalho teve acesso, as quatro contas de julho de 2007 não foram as primeiras abertas pelo operador na Suíça. “Em 1993, ele e sua mulher à época começaram a operar com o banco Bordier & Cie, cada um com uma conta. Os procuradores suíços não detalham no documento o saldo dessas contas”.

 

Na última semana, a Folha também revelou que o ex-diretor da Dersa é acusado de ter recolhido um suborno de R$ 173 milhões em obras da Prefeitura de São Paulo. As obras foram contratadas entre 2008 e 2011, na administração do então prefeito, Gilberto Kassab (PSD), ministro de Ciência e Tecnologia do presidente Michel Temer.

 

As cifras, a maior já revelada. Até hoje, uma das maiores propinas da Lava Jato foi relatada pela Andrade Gutierrez na construção da usina de Belo Monte, de R$ 150 milhões.  Os valores repassados a Paulo Preto foram levantados a partir de depoimentos de delatores da Odebrecht, como Carlos Armando Paschoal e Roberto Cumplido, ex-diretores da empreiteira.

Escrevinhador: quem é Paulo Preto, ferido na estrada

José Serra e Paulo Preto: líder do que? líder de quem?
 

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de Rodrigo Vianna:

Paulo Preto, o “líder ferido na estrada”


por Rodrigo Vianna (texto datado de 12.10.2011)


“Não se abandona um líder ferido na estrada”. A frase, pungente, marcou a campanha de 2010 – tanto quanto a bolinha de papel que atingiu a cabeça de Serra, e que o “JN” da Globo tentou transformar num atentado.


O líder – ferido e abandonado – era Paulo Preto. E o destinatário do recado  (sempre é bom lembrar) era José Serra. Paulo Preto estava magoado quando proferiu a frase. A revista “Istoé” havia publicado – em agosto de 2010 – reportagem bastante longa, mostrando o perfil de Paulo. “Veja” e “Época” haviam dado reportagens discretas sobre o sujeito, chamado de “homem-bomba tucano”.


Nada disso repercutiu. A velha mídia fingiu que Paulo Preto era um caso menor. E não era. No primeiro debate do segundo turno, Dilma trouxe Paulo Preto à tona. Colou Paulo Preto na testa de Serra. O tucano fingiu-se de morto. Disse que nem conhecia Paulo Preto. Magoado, Paulo proferiu então a frase – certeira feito uma flecha: “não se abandona um líder ferido na estrada”.


Até hoje, não conseguimos saber. Paulo Preto era líder do que? Pelo que se sabe, é um ex-funcionário da estatal paulista Dersa – que construiu obras milionárias, como o Rodoanel. Teria trabalhado também no Palácio do Planalto, na época de FHC. Imaginem se fosse um petista e tivesse trabalhado perto de Lula! Mas Paulo Preto não era propriamente um “líder político”.  Que tipo de negócios Paulo Preto liderava para se intitular assim: “um líder ferido na estrada”?


Agora, fica mais claro. Parece que, entre outras atividades, ele se dedica a liderar advogados. Paulo Preto aderiu à onda de processos contra jornalistas – que inunda a Justiça. Paulo Henrique Amorim acaba de revelar que Paulo Preto resolveu processar o titular do Conversa Afiada. Agora, são 40 processos contra PH Amorim. Ali Kamel da Globo – um dos que processam PH Amorim – resolveu abrir processos também contra esse escrevinhador, contra Azenha, Marco Aurélio (blog “Doladodelá”), Nassif – entre outros. Perto de Ali Kamel, Paulo Preto ainda é um amador…


Mas voltemos ao tucano. Um homem ferido e abandonado não teria tempo para se dedicar a processos. Pelo visto, Paulo Preto já foi recolhido pelos companheiros. Talvez ainda esteja ferido. Mas já não parece abandonado à beira da estrada.


Curioso é saber: o que esse homem tem a ver com as investigações da “Operação Castelo de Areia” – suspensa por ordem (!?) da Justiça. Em reportagem do R-7, ano passado, já se dizia que Paulo Preto fora citado na Castelo de Areia.


Um passarinho me contou que fatos novos sobre a “Castelo de Areia” podem aparecer em breve. Só que dessa vez Paulo Preto não estará sozinho à beira da estrada.


A conferir. 

 

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02
Mai18

Incêndio da antiga sede da Polícia Federal a maior grita e a conspiração do silêncio nos incêndios das favelas pelos coronéis do asfalto

Talis Andrade

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 Juan Arias: "As favelas que choram sangue de fogo"

 

"A precariedade da habitação nos grandes centros urbanos brasileiros não é novidade. Mais de 400 mil domicílios da capital paulista estão em favelas e 385 mil, em loteamentos irregulares. Quase 30 mil famílias recebem auxílio-aluguel da prefeitura de São Paulo, mas os altos valores na região central da cidade, que concentra as melhores ofertas de emprego, serviços e lazer, engole a renda das famílias mais pobres", denuncia o conservador Gazeta do Povo em editorial, e acrescenta:

 

"Mas há um problema urbano ainda mais urgente a ser resolvido, que são as pessoas em situação de rua, muitas delas em uma condição de miserabilidade da qual dificilmente poderão sair sozinhas. Em São Paulo, o último levantamento oficial da prefeitura, divulgado em abril de 2016, apontou 15.095 pessoas morando nas ruas, a maioria na região central. Os últimos números nacionais sobre o tema, de 2008, identificaram 31 mil pessoas nessa condição. Uma pesquisa do Ipea, extrapolando dados demográficos de 2015, estima hoje essa cifra em cerca de 100 mil. A falta de dados consistentes dificulta diagnósticos e soluções".

 

João Doria (PSDB), que abandou o cargo de prefeito para ser candidato a governador, disse nesta terça-feira que o prédio que desabou após um incêndio no centro da capital paulista abrigava uma facção criminosa. “A solução é evitar as invasões, o prédio foi invadido, e parte dela por uma facção criminosa”, disse. 

 

Acontece que Doria tem um passado de grileiro do asfalto, um afoito invasor de terrenos super, super valorizados.

 

O candidato a presidente Guilherme Boulous declarou: “Nossa solidariedade às famílias ocupantes que sofreram com incêndio e desabamento do edifício em São Paulo. Querer culpar os sem-teto pelas condições precárias do imóvel é de uma perversidade inacreditável. Ninguém ocupa porque quer, mas por falta de alternativa”.

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Boulous denuncious os cortes no orçamento da habitação. "No ano de 2017, o governo Temer destinou apenas 9% dos valores previstos com moradia no orçamento. A faixa mais afetada foi a de baixa renda, que compreende famílias que recebem até 1.800 reais. Enquanto isso a Caixa Econômica ampliou o limite de financiamento para imóveis de luxo, uma completa inversão de prioridades".

 

São Paulo possui 2 mil 627 favelas. Os terrenos dessas favelas são cobiçados pela especulação imobilária que conta com os despejos coletivos da justiça ou faz como Nero: manda incendiar. Publiquei em 2012:

 

Em 4 anos, São Paulo registrou mais de 500 ocorrências de incêndios em favelas

 

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 Gilberto Kassab quando prefeito e a especulação inflável

 

 

 

 

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