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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

05
Fev24

Anacronismo e redenção em ‘O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro’ de Glauber Rocha

Talis Andrade

 

Por Ben Hur Nogueira 

 

Diferentemente de seus trabalhos pretéritos, em “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” Glauber Rocha tenta solidificar uma mensagem possivelmente nunca vista no cinema nacional sobre o folclore brasileiro amplificando debates sobre justiça social, redenção, genocídio, imperialismo, miséria e religião colocando elementos do folclore nacional como prioridade e transformando o sertão brasileiro em um western (ou faroeste para os íntimos) recheado de referências populares e por que não, um misticismo que ocorre no terceiro mundo.

Glauber Rocha por si só era bastante inventivo. Trabalhava o realismo com o misticismo. O real e o imaginário se cruzavam constantemente em suas obras. Em “Terra em transe”, por exemplo, temos um país do terceiro mundo imaginário onde crises políticas ocorrem influenciando o poder e a democracia. Glauber podia facilmente fazer deste um filme cuja mera referência fílmica virasse um thriller com referências noir dos anos 1940 ou 1950, mas ele transforma o que era pra ser um suposto noir, em uma fábula realista repleta de metáforas, diálogos longos e uma edição que não seguia regras cinematográficas impostas pelo cinema comercial. 

Glauber por sua vez, gostava de utilizar diálogos longos com palavras eruditas como uma forma de estabelecer um paralelo entre o filme e o telespectador. Por um lado, temos a consciência daquilo ser uma experiência fílmica, mas pelo outro, através da linguagem revolucionária com movimentações abruptamente randômicas de câmera (o que davam uma sensação de metalinguagem), tínhamos um espectro de ousadia cinematográfica onde haviam repetições de cenas já passadas, trilha sonoras focalizadas na própria ambientação e por fim, a maneira volumosa de trabalhar com personagens vivendo situações caóticas onde o caos decerto impera. Isso tudo faz-nos lembrar que estamos vendo uma película, o que faz a experiência de assistir qualquer um de seus filmes, ser a experiência similar de assistir películas de caras como Pasolini ou de Ousmane Sembene, onde os personagens não participam da famigerada jornada do herói e não são nem mocinhos ou vilões, mas vítimas de uma complexidade humana, complexidade que essa favorece o espectro de “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” onde temos vários volumes de personagens complexos e o filme por si só não estabelece necessariamente um heroísmo dos personagens principais, mas humaniza os personagens através das vivências obtidas por estes em suas ambientações.

Em “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” temos Antônio das Mortes, um matador de aluguel que é contratado para assassinar o suposto último cangaceiro vivo de uma pacata cidade sertaneja. Logo ao perceber as injustiças do povo, ele busca sua redenção tanto pessoalmente quanto religiosamente se rebelando contra as próprias autoridades que o contrataram e buscando justiça contras as injustiças que cada vida passou ali.

Antônio das Mortes não chega ser nem de perto, o arquétipo heroico dessa estória, já que como a própria canção-tema do filme diz que o próprio Antônio das Mortes não tem permissão para entrar em uma igreja sendo jurado em mais de dez igrejas e não tem nenhum santo que o protege, trazendo para a própria persona de Antônio, um sentimento ambíguo de desprezo por si próprio e por uma complexidade ampla sobre seu personagem.

Por um lado, nós membros da audiência interpretamos Antônio como um ser malevolente nos momentos primevos da película, mas ao longo do filme temos a ciência de que suas ações são movidas por um espécime de desprezo que Antônio tem por si próprio. Uma cena onde ilustra bem a complexidade desse personagem, é logo no início onde Antônio revela em uma conversa, que foi convidado por Lampião para integrar o grupo de cangaceiros, e mesmo sentindo um desejo endógeno de se tornar um desses, acaba se mantendo como matador de aluguel sendo condecorado por coronéis regionais que não aceitam direitos trabalhistas e melhorias para os povos limítrofes que coabitam as regiões onde eles imperam. Apesar de curta, essa cena humaniza Antônio e o coloca não como vítima de suas ações, mas vítima da naturalização da violência local, onde ao perceber que a violência é comum naquele ambiente, a oportunidade monetária de erradicar justiceiros sociais poderia tornar-se lucrativa.

Tida como uma continuação de “Deus e o diabo na terra do sol” (do mesmo diretor lançado em 1964), “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” utiliza o antagonista do filme predecessor (o próprio Antônio das mortes) como a figura a ser protagonizada. “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” é um tipo de filme que requer atenção nos mínimos detalhes, desde diálogos até sequências com ampla duração. Isso demonstra a natural habilidade de Glauber Rocha em prender sua audiência em eventualidades que ocorrem gradualmente nos seus filmes. 

Esteticamente, temos elementos que fazem desta experiência fílmica algo a ser ponderado, a começar por seu roteiro que traz tantos elementos culturais que tangem a influência afro-brasileira no catolicismo através das personificações de santos populares brasileiros vividos por Santa Bárbara (Rosa Maria Penna) e Ogum (Mário Gusmão), dois personagens extremamente significativos para a obra já que servem como mentores espirituais dos habitantes da pacata cidade onde o filme se passa. Tanto Santa Bárbara quanto Ogum (ou Antão como se chama no filme) estão sempre próximos ao cangaceiro Coirana, um cangaceiro local que desafia autoridades buscando justiça social e igualdade aos sertanejos. 

Uma cena onde isso é exemplificado é uma cena onde podemos ver Coirana entre Ogum e Santa Bárbara durante um comício popular onde Coirana busca defender o vilarejo ao mesmo tempo que refere-se à Lampião como sua maior referência. Logo nessa cena ao ver estes dois entre um homem tomado pela violência local, passamos a ressignificar a presença destes como se fossem um escudo protetor do vilarejo, como se o próprio Coirana fosse um arauto da justiça e eles seus mentores que são tratados como figuras espirituais protetoras. 

A espiritualidade aliás, é um forte sujeito na película, já que vemos como a religião torna-se um subterfúgio emocional dos habitantes da cidade onde o filme se passa, ao mesmo tempo que coabitamos com figuras místicas como Ogum e Santa Bárbara, demonstrando como que religiosa e mística a ambientação da estória é.

É neste cenário onde somos testemunhas de duelos sangrentos onde muito sangue é derramado. De um lado temos os habitantes cujo o líder é Coirana, que promete justiça e proteção ao povo tendo consigo a proteção de Santa Bárbara e Ogum simultaneamente, do outro, temos Coronel Horácio (interpretado por Jofre Soares), que teme a chegada do povo ao poder e por isso passa as responsabilidades ao seu mandante Mattos (Hugo Carvana) que resolve contratar Antônio das Mortes para derrotar Coirana e passar a ter o controle fixo da cidade para si mesmo. Logo no começo da película, Coirana se refere durante um comício popular ao Dragão da Maldade como um ser orgulhoso e ao mesmo tempo rico, logo, passamos a interpretar Antônio das Mortes como o dragão da maldade ou o vilão do filme, mas é a partir desta premissa que temos uma inversão poderosa no roteiro de Glauber Rocha onde vemos Antônio das Mortes duelando em um duelo de espadas contra Coirana onde Antônio sai como vencedor. Após vencer o cangaceiro, percebemos que Antônio das Mortes torna-se subjetivo para as atividades imperialistas que ocorrem na região sertaneja, onde o colonialismo cultural volta a imperar e o povo torna-se aquém das atividades dos coronéis. Logo vemos que não é Antônio o dragão da maldade, mas sim os fazendeiros ricos da região que são os seres reais a serem desafiados e eventualmente batidos. 

Logo após a vitória contra Coirana, Antônio das Mortes passa a ser perseguido por fantasmas do passado. Primeiro temos uma demonstração de fraqueza humana sua, onde temos o personagem tendo um contato direto com Santa Bárbara onde ela o informa para se afastar da cidade o quanto antes como se fosse um aviso prévio, em seguida, o Coronel Horácio contrata jagunços para assassinar seus opositores em uma sequência reminiscente da Guerra de Canudos, onde quase todos os habitantes participam de um hecatombe regional. É neste momento onde passamos a enxergar a natureza humana de Antônio e por fim sua redenção.

A redenção de Antônio não significa o perdão por suas ações, mas uma tentativa sua de mudar estigmas sobre sua pessoa. Para entender melhor seus estigmas, é preciso voltar no filme predecessor de “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”: “Deus e o Diabo na terra do sol”, onde Antônio não é tão explorado como sua sequel, mas temos aqui Antônio como um matador de cangaceiros contratado tanto pela igreja quanto por fazendeiros para assassinar pessoas que são tidas como subversivas às relações de poder e seus proponentes. Aqui sabemos muito pouco sobre seu passado e sobre suas motivações, só sabemos que suas ações são todas demonstradas por um sentimento de desprezo próprio por si mesmo e uma espécime de obsessão à procura de cangaceiros como um parâmetro pessoal. Aqui Antônio não é tão explorado como no próximo filme, mas aqui vemos ele favorecendo o lado mais poderoso: o lado hierárquico dos poderosos na região simplesmente por desejo próprio. 

No fim de “Deus e o diabo na terra do sol” vemos ele assassinando o cangaceiro Corisco (Othon Bastos) mas antes de morrer Corisco exclama: ”Mais forte são os poderes do povo”, algo que tem um impacto profundo na continuação da obra em “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”, onde a vida de Antônio e sua trajetória como matador de aluguel é mais explorada. Em “O dragão da maldade”, Antônio das Mortes passa a ter um sentimento de culpa ao notar que suas ações influenciaram na chegada dos coronéis ao poder, e a partir deste pretexto vemos Antônio se unindo com as forças oprimidas da cidade, uma união que outrora ele não faria, mas em busca de sua redenção pessoal, ele passa a se unir com o Professor da cidade (Othon Bastos) para combater os jagunços contratados pelas forças mais poderosas da cidade para erradicar de vez qualquer espécime de justiça social que pondera imperar por lá e é desta forma que chegamos ao clímax do filme, onde Antônio das Mortes junto do Professor lutam contra os jagunços contratados pelo Coronel e seus vassalos na praça da cidade. Por um lado, tal cena é reminiscente de faroestes norte-americanos clássicos ao mesmo molde que Glauber intercala pitadas de uma montagem neo-realista não sequencial onde personagens são colocados em cena e em seguida temos um plano que não havia sido estabelecido preteritamente. Isso implica e demonstra a facilidade de Glauber em contar estórias nunca antes contadas em um jeito próprio recheado de referências vanguardistas.

O duelo por fim tem seu clímax com Ogum encima de um cavalos carregando consigo uma lança (reminiscente do conto católico de São Jorge derrotando o dragão) e eventualmente lançando ela contra o Coronel da cidade e derrotando de vez o dragão da maldade. Aqui Glauber nos mostra sua versatilidade cinematográfica em subverter nossas expectativas enquanto audiência [continua]

26
Set22

‘Matei mesmo’: deputado mais antiambiental do Pará tenta reeleição com clichê bolsonarista

Talis Andrade

“Deus levantou Bolsonaro”, disse Zequinha Marinho no 7 de Setembro; candidato ao governo do Pará atua ao lado de Éder Mauro como interlocutor de garimpeiros e madeireiros em Brasília (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

 

 

Matar passou a ser um símbolo político do Bolsonarismo. Matar índio. Matar negro. Matar favelado. O evangélico eleitor de Bolsonaro faz vista grossa para o Não matarás” (Ex 20,13). Apenas cisma com o aborto. 

Nesta eleição não vote em deputado homicida. O Congresso parece um coito do cangaço. Tem até serial killer, o psicopata que matou mais de três pessoas.

A ditadura militar de 1964 registra a presença nojenta, viscosa, de militares e policiais serial killers como os coronéis Ustra, Paulo Manhães, os delegados Fleury, Pedro Seelig.

 

A homenagem a Ustra: memórias dos anos de chumbo - Jus.com.br | Jus  Navigandi

No Congresso e assembléias legislativas temos parlamentares que, nesta campanha presidencial, ameaçaram matar Lula. Na lista aparecem homicidas e arruaceiros prontos para o golpe, para a guerra civil de Bolsonaro, que já anunciou o Brasil precisa matar uns 30 mil políticos, para o progresso de sua imobiliária, e expansão do Escritório do Crime sediado no Rio das Pedras, rio de sangue do senhor capitão, pistoleiro de aluguel, Adriano Magalhães da Nóbrega, que na cadeia, recebeu "ao menos duas visitas" do presidente e seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro, relata Juliana Dal Piva.

Os parlamentares que ameaçaram matar Lula: Marcio Tadeu Anhaia de Lemos, Eliezer Girão Monteiro, André Luiz Vieira de Azevedo, Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, Washington Lee Abe, Otoni de Paula Junior, Carla Zambelli, Junio Amaral. Não sei qual alma sebosa tem a marca de Caim.ESPAÇO MEMÓRIA PIRACICABANA: Morte de Fleury: um dos maiores torturadores  da Ditadura

 

Escreve Daniel Camargos, in Repórter Brasil:

Ex-delegado, Éder Mauro (PL-PA) assume ter executado várias pessoas e camufla atuação contrária aos povos do campo e ao meio ambiente com discurso moralista; candidato é alvo de 101 denúncias em ouvidoria por sua atuação como policial

Depois de rezar e cantar o hino nacional, o deputado federal Éder Mauro (PL-PA), candidato à reeleição, começa seu discurso dizendo que, caso a esquerda volte ao poder, o incesto será legalizado, “para que o pai possa casar com a filha”. É uma mentira usada pelo ex-delegado ao longo da campanha e que voltou a ser repetida, em Belém (PA), em ato de comemoração ao 7 de Setembro. Mas o tom moralista, ao lado da atuação como policial com pretensão de justiceiro, serve para camuflar outra faceta do político: a de ruralista que atua sistematicamente contra o meio ambiente e os povos do campo. 

Éder Mauro, 61 anos, foi delegado da Polícia Civil do Pará por 30 anos, entre 1984 e 2014, quando foi eleito deputado federal pela primeira vez. Já disse que “matou muita gente”, mas fez uma ressalva: “todos eram bandidos”. Por sua atuação como policial, foi alvo de pelo menos 101 denúncias na Ouvidoria do Sistema Integrado de Segurança Pública e Defesa Social (Sieds) do Pará, que incluem acusações de assassinatos, torturas e invasões de domicílio, segundo levantamento obtido pela Repórter Brasil. O ex-delegado foi citado no relatório final da ‘CPI das Milícias’ da Assembleia Legislativa do Pará, em 2015, mas acabou não sendo indiciado. 

O político usa um emoticon de caveira no Instagram para ostentar seu posto de líder da bancada da bala na Amazônia. Mas a análise de sua atuação na Câmara sugere que poderia trocar a imagem por um boi: o deputado é o terceiro pior colocado no Ruralômetro 2022, ferramenta desenvolvida pela Repórter Brasil que avalia a atuação da Câmara em temas como meio ambiente, povos indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais. O ranking, que está em sua segunda edição, possibilita saber a “febre ruralista” de cada parlamentar. Nele, Éder Mauro arde com temperatura de 40,9°C.

Na atual legislatura, Mauro foi o único deputado com atuação 100% negativa para o meio ambiente e os povos do campo, segundo as 22 organizações que avaliaram as votações e os projetos de lei usados para pontuar os parlamentares no Ruralômetro. Em todas as 17 votações que participou, o ex-delegado foi contrário à agenda socioambiental, apoiando a regulamentação de atividades econômicas em terras indígenas, a ampliação da posse de armas no campo, a dispensa do licenciamento ambiental para diversos empreendimentos e a liberação de agrotóxicos cancerígenos. Também foram classificados como negativos os três projetos de lei de sua autoria compilados pela ferramenta.

 

Amazônia na mira

 

A pauta ambiental foi apenas figurante no 7 de Setembro, quando o deputado desfilou em cima de uma aparelhagem de som pelo bairro Umarizal, o mais nobre de Belém. Somente um discreto cartaz em um caminhão fazia uma referência à temática. “A Amazônia é dos brasileiros, não dos piratas estrangeiros”, dizia.

Cartaz era das poucas referências à Amazônia no ato em Belém; silêncio contrasta com a forte atuação do bolsonarismo paraense nos retrocessos ambientais (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

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Estrela da extrema-direita paraense em campanha pela reeleição, o candidato prefere flertar com o eleitorado evangélico e conservador, que o tietava de verde e amarelo pelas ruas de Belém. Prioriza a mesma estratégia em suas redes sociais, onde possui quase 450 mil seguidores. Declarando guerra contra pedófilos e comunistas imaginários, Éder Mauro vai deixando pelo caminho não apenas as vítimas de sua atuação na polícia: como defensor do garimpo, o ex-delegado atira para matar contra o futuro da Amazônia.

Protagonista da parada paramilitar, a caminhonete que puxou a aparelhagem de som de Éder Mauro recebeu também o senador e candidato ao governo do Pará Zequinha Marinho (PL-PA) que, em seu discurso, disse que Bolsonaro foi uma escolha do “pai celestial”. 

Além de devotos do presidente, Zequinha Marinho e Éder Mauro estão unidos pela defesa do garimpo. Pastor da Assembléia de Deus, o senador é um dos principais lobistas para legalização da exploração mineral em terras indígenas, como mostrou a Repórter Brasil em julho do ano passado e em fevereiro deste ano. “Chama o Zequinha” se tornou uma frase repetida por quem busca sua ajuda para atividades ilícitas, revelou a Pública em agosto. 

Éder Mauro, por sua vez, é autor de projetos de lei que favorecem o garimpo, dos quais dois estão na base de dados do Ruralômetro. O PL 5.248 permite que órgãos municipais possam fazer o licenciamento ambiental de lavras garimpeiras de pequeno porte, fragilizando a fiscalização, e o PL 5.822 quer autorizar o garimpo em reservas extrativistas. 

Mas não é de agora que Zequinha Marinho e Éder Mauro caminham lado a lado. No final de 2019, os dois articularam uma reunião de madeireiros com o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Menos de dois anos depois, uma investigação apontou que Salles favoreceu exportadores de madeira paraenses – o que acabou derrubando o ministro. 

Na mesma época, Zequinha e Éder repetiram a dobradinha ao articular uma reunião de garimpeiros do Sul do Pará com a cúpula do governo Bolsonaro. O intuito do encontro era acalmar protestos de representantes do setor após uma operação ambiental destruir máquinas usadas pelo garimpo ilegal. 

Já acostumado a se posicionar na Câmara a favor dos ruralistas, Mauro decidiu tornar-se um deles em 2020, com a compra de uma fazenda de 300 hectares no município de Bujaru, no nordeste do Pará. A transação é investigada pela Polícia Civil do estado por suspeita de fraude, pois a área foi registrada em 2018 em nome de uma pessoa que já estava morta havia 15 anos. Avaliada em R$ 2,8 milhões, a fazenda Bênção Divinal foi adquirida por Mauro por R$ 330 mil e ajudou a dar corpo ao seu patrimônio, que quintuplicou desde que entrou para a política. Na eleição de 2014, o então delegado declarou bens que somavam R$ 595 mil, valor que subiu para R$ 2,9 milhões no atual pleito. 

Rogério Barra, filho de Éder Mauro, entrou para a política apadrinhado pelo pai e é candidato a deputado estadual; jingle de campanha trata os dois como os “deputados do Bolsonaro” (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

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Entre os doadores da sua campanha neste ano está Walacy da Silva Moraes. O valor de R$ 12 mil doado diz respeito ao uso de uma caminhonete pela campanha do ex-delegado. O doador foi preso em 2014 acusado justamente de participar de uma organização criminosa especializada em roubar esse tipo de veículo no Pará. Moraes é réu pela acusação e responde em liberdade. Parte dos processos a que a reportagem teve acesso mostram que Éder Mauro estava à frente da investigação do grupo quando era delegado. Questionado sobre a doação e sobre sua relação com Moraes, o deputado não respondeu.       

Procurado pela Repórter Brasil, Moraes confirmou o empréstimo da caminhonete para a campanha de Mauro. Ao ser questionado sobre o processo que corre na Justiça, a ligação caiu, e o empresário não voltou a atender o telefone nem respondeu às perguntas enviadas por mensagem

 

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Liberdade de opressão

 

Um triciclo preto ornado com caveiras e correntes era palco de selfies de apoiadores de Éder Mauro. “Bolsonaro e os candidatos dele defendem a liberdade e a livre expressão”, elogiou um homem fantasiado de Capitão América.

Adotando a mesma estratégia de Jair Bolsonaro, Mauro abusa dessa “liberdade de expressão” para capturar a atenção com polêmicas e desviar dos assuntos mais importantes, como as acusações de corrupção envolvendo sua família – irmão do ex-delegado, Amaurivaldo Cardoso Barra foi exonerado em março deste ano da Secretaria Nacional de Pesca após operação da Polícia Federal que investigou fraudes no órgão público.

Homem infantalizado e fantasiado de Capitão América que participa do 7 de Setembro em Belém diz que Bolsonaro e seus candidatos defendem a liberdade de expressão (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

 

Em seus oito anos no Congresso, mulheres de esquerda foram os alvos preferidos de seus ataques. Em um desses bate-bocas, Mauro acusou a deputada federal Vivi Reis (PSOL-PA) de defender “indígenas fake” (questionar a legitimidade do movimento indígena é uma das obsessões do ex-delegado nas redes sociais). Ao rebater, a parlamentar disse que fake era a peruca dele, em referência à franja com fios mais negros que a asa da graúna. O penteado do bolsonarista rendeu-lhe o apelido de “peruquinha” entre seus inimigos políticos. 

Em outra ocasião, chamou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “Maria do Barraco”, ao que ela rebateu chamando-o de “assassino”. “Infelizmente, já matei, sim, e não foram poucos, foi muita gente”, contestou Éder Mauro. 

“Estou respondendo um monte de processo na Justiça por homicídio, invasão de propriedade e alguns por tortura, mas nenhum por corrupção”, reiterou em entrevista recente a um podcast paraense.

A fama de justiceiro e o orgulho em dizer que matou muitas pessoas contrasta com a ausência de condenações de Éder Mauro, que já foi absolvido de duas acusações de tortura pelo STF. Advogados, defensores de direitos humanos e líderes comunitários foram procurados pela reportagem para saber sobre o passado policial do ex-delegado, mas quando o assunto da entrevista é revelado, quase ninguém fala abertamente. A justificativa: “medo”.

 

A especialista em marketing eleitoral e digital, Bruna Lorraine, processa Éder Mauro por agressão: “Quem vota nele quer se autoafirmar, fortalecer um tipo de macheza” (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

 

Entre as poucas pessoas dispostas a falar sobre Éder Mauro em Belém está Bruna Lorrane, especialista em marketing eleitoral e digital. Em 2019, durante uma eleição para uma associação de bairro, ela e o deputado apoiavam diferentes candidatos. “O candidato dele estava perdendo e queria encerrar a votação antes do horário. Eu não deixei, fiquei na porta para impedir a entrada e fui agredida”, relata Bruna, que diz ter ficado com o corpo repleto de hematomas e está processando Mauro pela agressão. 

“As pessoas gritavam dizendo que era covardia bater em mulher e o Éder Mauro respondia: ‘não tem mulher nenhuma para eu bater aqui’”, lembra Bruna, que é transexual. Após a agressão ganhar o noticiário paraense, passou a ser atacada por uma horda virtual da extrema direita.Nice Tupinambá | Facebook

 

Outra vítima de Éder Mauro e seus discípulos é o coordenador da campanha da candidata a deputada federal Nice Tupinambá (PSOL), Richard Callefa. Ativista do movimento LGBTQIA+ no Pará, Callefa foi eleito coordenador do diretório de estudantes da maior universidade privada do estado em 2019. Depois da eleição, Mauro criticou o ativista em suas redes sociais, o que o tornou alvo até de ameaças de morte. “Ele estimulou o ódio”, lembra.

Atacado por Éder Mauro, Richard Callefa sofreu ameaças virtuais e chegou a ser coagido nas ruas de Belém (Foto: João Laet/Repórter Brasil)

 

Livre para ser candidato, Éder Mauro pega carona no bolsonarismo. Ou melhor: vai na garupa do presidente, como fez na motociata realizada em Belém em 17 de junho. Ambos sem capacete, desrespeitando a lei e aplaudidos pelos apoiadores. Nesta quinta-feira (22), Bolsonaro irá de novo à capital paraense fazer campanha. Dessa vez, se não quiser cometer nova infração de trânsito, o ex-delegado poderá trocar a moto pela caminhonete emprestada pelo réu que investigou.      

[Não eleja serial killer deputado. Não seja cúmplice. Ame o próximo. Ame o Brasil. Os bolsonaristas recomendam matar os invasores de propriedade. Consideram o pior crime. Mas consideram um ofício honroso invadir terra de índio e terra de quilombola. Que negro não é gente, "não serve nem pra procriar" escravos. Índio não é gente. Apenas um "projeto"]

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09
Abr22

Há que se acabar com o mito de que no Brasil não existe serial killer

Talis Andrade

 

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IV - O PERFIL PSICOLÓGICO DOS ASSASSINOS EM SÉRIE E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

 

 

 

por GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo

Considerações Finais

O que dá em vocês todos? Nós estudamos o problema e já estamos estudando há quase um
século, sim, mas os estudos não estão nos levando muito longe.
Vocês tem uma bela de uma casa aqui, bons pais que te amam,
você não é um cérebro lá tão ruim. É algum
diabo que entra dentro de você?”

Anthony Burgess

 

Os serial killers não são um fenômeno recente na história da humanidade, porém, passaram a ganhar destaque a partir do século passado, seja pela exposição midiática, seja, como muitos afirmam, pelo aumento da sua ocorrência.

Lares problemáticos, pais negligentes, abusos físicos, psicológicos e sexuais, genes malignos, cérebros disfuncionais, sociedades com inversão de valores, esse é a mistura da receita para se criar um potencial assassino em série.

Todo esse caldo maligno praticamente mata o ser humano que deveria existir naquele corpo e o substitui por um monstro incapaz de cultivar empatia e respeito ao próximo. Toda essa maldade enclausurada nos recônditos da mente do homicida vira uma bomba relógio, prestes a explodir a qualquer momento e haja piedade da infeliz criatura que cruzar o caminho da cruel besta.

O modo como o serial killer dá vazão ao seu desejo assassino é um ritual, uma representação de tudo aquilo que o fez tornar ser o que é. É uma repetição dos traumas, porém, com inversão de papéis de vítima para algoz, como se fosse a encenação de uma vingança com o passado.

Denota-se então que, aparentemente, seja tudo uma relação de causa e efeito. Um mal cometido no passado será repetido no futuro, algo como o conceito do eterno retorno formulado por Nietzsche, de que a vida, no futuro, sempre repetirá o passado. Mas não é tão simples assim. Não existe uma certeza matemática de que uma pessoa que passe por um evento traumático ou que tenha certas anomalias cerebrais irá se converter em um homicida. E é essa incerteza que complica há séculos uma conclusão sobre o porquê de algumas pessoas virarem criminosas, vivendo em condições semelhantes, e outras não.

Toda essa incerteza reflete na resposta da sociedade para a questão, especialmente para o Estado e suas instituições responsáveis.

Não obstante, há que se considerar que nas últimas décadas houve um desenvolvimento em várias abordagens em relação ao serial killer, como no desenvolvimento de técnicas de investigação e também estudos comportamentais.

No entanto, isso ainda não é o suficiente e a despeito desses avanços nas áreas forenses, permanece uma dúvida ainda maior no tocante a qual a postura da sociedade para reagir ao problema.

Ao preso comum, há esperança de reabilitação concomitante ao cumprimento de pena de prisão. Mas para o psicopata, estudos indicam que não há a eficácia esperada justamente pelas idiossincrasias desses indivíduos.

Não se olvide também, que com a noção da possível origem das causas de surgimento dos assassinos em série, o Estado e a sociedade podem implantar políticas de controle e redução dos episódios traumáticos que sempre circundam o passado destes, como campanhas para prevenir e punir o abuso infantil e do adolescente, debates e questionamentos sobre os atuais valores primordialmente materiais estabelecidos como objetivos pela sociedade e estimulação da educação e humanização das relações entre as pessoas.

No Brasil, além dessas medidas gerais, que são aplicáveis em qualquer lugar do mundo, há necessidade também de capacitação dos profissionais, investimento em equipamentos, principalmente os de coleta de dados e análises forenses. Há que se acabar com o mito de que no Brasil não existe serial killer. O atual cenário do nosso país é o que traz todos ingredientes para a proliferação dessa espécie de assassinos, pois há disparidade de classes, cultura de violência, corrupção, impunidade e valorização exacerbada dos bens materiais e estéticos.

Por todo exposto, pode-se concluir que o serial killer nada mais é do que a encarnação de tudo o que é podre na sociedade, é o reflexo de todo mal que existe por aí e muitas vezes fazemos questão de ignorar. A consciência disto é o primeiro passo para mudar esse panorama e encontrar uma saída.

 

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Referências:

BRASIL. Presidência da República. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 16 jun. 2018.

CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel?. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2014.

______. Serial killers: made in Brazil. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2014.

MILLER, T. Christian. Why can't the FBI identify serial rapists?. 2015. Disponível em: <http://www.theatlantic.com/politics/archive/2015/07/vicap-fbi-database/399986/.> Acesso em: 13 fev. 2016.

PARKER, R.J.; SLATE, J.J. Social Killers: amigos virtuais, assassinos reais. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2015.

RÁMILA, Janire. Predadores humanos: o obscuro universo dos assassinos em série. São Paulo: Madras, 2012.

ROLAND, Paul. Por dentro das mentes assassinas: a história dos perfis criminosos. São Paulo: Madras, 2014.

SCHECHTER, Harold. Serial killers, anatomia do mal. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2013.

TENDLARZ, Silvia Elena; GARCIA, Carlos Dantes. A quem o assassino mata? O serial killer à luz da criminologia e da psicanálise. São Paulo: Atheneu, 2013.

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06
Abr22

Coronel que comandou dezenas de assassinatos ameaçou Lula de morte

Talis Andrade

Tenente-coronel Washington Lee Abe, comandante do 5º Comando Regional da PM, em Cascavel. Foto: Cabo Valdemir da Luz/AEN-PR

Que tem cara de assassino tem 

 

A bancada da bala, eleita na onda bolsonarista, no golpe eleitoral que prendeu e impediu que Lula fosse candidato em 2018, tem sede de sangue. Na campanha eleitoral que elegeu o sucessor do golpista Michel Temer, Bolsonaro anunciou - com o apoio de Sergio Moro e procuradores e delegados da polícia política, a famigerada autodenominada Liga da Justiça - que Lula iria apodrecer na cadeia. 

Foi publicar um texto sobre a sanha assassina de militares, que aparece o deputado estadual pelo Paraná Coronel Lee (DC) a ameaçar de morte o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O discurso de ódio, a apologia da violência, a apologia do assassinato, as declarações do deputado covarde, do deputado violento, do deputado raivoso, foram publicadas pelo jornalista Eduardo Matysiak. 

"O que nos traz hoje aqui é um desaforo, uma ameaça de um indivíduo, um elemento que é chamado de Lula", disse o parlamentar ao plenário da Assembleia Legislativa (Alep). 

"Esse camarada quer visitar nossas residências, nossas casas, quer juntar um grupo de desocupados, vagabundos, para conversar com nossa família, para conversa com a gente. Coronel Telhada, ex-comandante da Rota, hoje deputado em São Paulo, aqui é o Coronel Lee, ex-comandante do Bope do Paraná", complementou.

O deputado também disse que mandou integrantes do MST "para o inferno".

"O nosso modus operandi, Coronel Telhada, é o mesmo. A última vez que esse bando do MST e da esquerda veio nos visitar, queriam conversar com a gente no meio do mato, foram parar no inferno. Então, Lula. Mande a sua turma toda falar com a gente de novo. Vocês vão visitar seus amigos que estão lá. É esse nosso recado", ameaçou.

Trata-se da confissão de uma chacina. Da matança de pequenos agricultores, de camponeses, dos sem terra tão perseguidos pelos governadores golpistas do Paraná, e por Sergio Moro.

Pela confissão, trata-se de um assassino vil, que só mata pobres, pés no chão, o coronel de "morte e vida severina".  

Esses deputados comandaram o pior das polícias militares: as polícias das chacinas, dos massacres, do genocídio de jovens negros e mulatos. 

Escrevi um alerta sobre o crime de lesa-majestade, dos covardes a bravata, dos assassinos confessos a advertência, a audácia, a cominação, a morte anunciada de Lula da Silva. 

O sujeito macabro, desvairado, enlouquecido, que faz terrorismo político, intimidação, assédio policial, coação assassina, não merece ser candidato a cargo nenhum.

Se existe Lei no Brasil, se existe Justiça no Brasil, lugar de pistoleiro, de serial killer é na cadeia. O psicopata não pode ser eleito para nenhum cargo, não pode praticar o crime de manchar de sangue o legislativo. 

Até quando os brasileiros vão ouvir, impassíveis e coniventes e cúmplices, das tribunas das Câmaras de Vereadores, das Assembléias Legislativas, do Congresso Nacional: - Eu matei um, eu matei dois, eu matei três, eu matei um bando, eu matei uma legião, e vou matar Lula da Silva! Até quando será repetida esta insanidade? Esta insânia? Esta piloura? Este tresvario? Esta psicopatia? 

Coronel Lee é simplesmente mais um demente a jurar Lula de morte. Isso deu votos em 2018, mas os loucos de farda, ou pijama melado de sangue, vão perder a mamata nas eleições deste ano.

Os eleitores não vão votar em matadores, homicidas sanguinários, sicários malvados. Veja aqui uma lista de pistoleiros que prometem matar Lula.

Publica Brasil 247:

Não foi a primeira ameaça ao ex-petista em 2022, ano eleitoral. O deputado federal Junio Amaral (PL-MG) divulgou um vídeo no qual ele manuseava uma arma de fogo enquanto fazia provocações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No dia 24 de março, circulou nas redes sociais um vídeo em que um homem na cidade de Gravatal, no Sul de Santa Catarina, praticou tiros ao alvo e fez ameaças a membros do PT.

Antes o vereador de Porto Alegre Leonel Radde (PT-RS) foi ameaçado de morte por neonazistas, assim como Lula, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e o ativista do movimento negro Antonio Isupério.

 
 
12
Fev22

Não esqueça o meu Monark: o ‘direito a um partido nazista’, Moro e o partido nazista do Direito

Talis Andrade

moro e kim e nazismo por geuvar.jpeg

Há 12 anos, um juiz substituto de Moro, divergindo de Moro, já alertava que o Brasil estava prestes a seguir o “indesejado” caminho apontado por um jurista e ideólogo do Terceiro Reich

 

por Hugo Souza

 

A propósito da defesa do “direito a um partido nazista” no Brasil pelos vendedores de hidromel Monark e Kim Kataguiri, este último recém-alçado a escudeiro da candidatura de Sergio Moro à presidência da República, vale a pena retroceder à Curitiba do ano de 2010, quando Moro ainda vivia em seu habitat natural, a insignificância, mas já tinha hábitos alimentares de gafanhoto defronte a Constituição Federal.

Nestes dias de defesa aberta do “direito a um partido nazista” no Brasil, portanto, vale a pena voltar à Curitiba de mais de uma década atrás para verificar a formação no Brasil de um partido nazista do Direito, e com direito a um magistrado curitibano, substituto de Moro, alertando que o caminho que o futuro juiz da Lava Jato estava prestes a trilhar era o apontado por um jurista do Terceiro Reich.

Em despacho do dia 11 de fevereiro de 2010, Moro, então titular da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, autorizou o “monitoramento ambiental do contato entre presos do Presídio Federal de Catanduvas e os seus visitantes, inclusive advogados, além da realização de outras escutas ambientais no presídio”.

Pensar em gravar a defesa, até um estagiário de Frederick Wassef sabe, só em caso de indiciamento do advogado.

Na época, o então secretário geral da seccional do Panará da Ordem dos Advogados do Brasil, Juliano Breda, encaminhou ofício ao então presidente do Conselho Federal da OAB, Ophir Cavalcante Júnior, dizendo que “o conteúdo da decisão [de Moro] revela um grave e frontal atentado contra as prerrogativas profissionais dos advogados, ao determinar que todos – absolutamente todos – os contatos entre presos e advogados na Penitenciária Federal de Catanduvas sejam monitorados e gravados, independente da existência de indícios da prática de infração penal pelos defensores”.

“Com efeito, trata-se de uma suspensão evidente e indiscriminada do direito à confidencialidade que informa a relação entre advogado e cliente, desdobramento natural do princípio constitucional da ampla defesa, corolário do devido processo legal”, dizia ainda o ofício.

Moro: ‘nenhum advogado reclamou’

Ao tomar conhecimento da grave, frontal e evidente suspensão de um princípio constitucional por um certo juiz da 1ª instância do Paraná, Ophir Cavalcante reagiu dizendo que daquele jeito abriam-se as portas do arbítrio e da falência da ampla defesa: “juiz não pode ter a brilhante ideia de monitorar tudo e todos para alcançar o advogado envolvido [em crime]”.

Sergio Moro, por seu turno, respondeu às críticas com seu inato caradurismo, dizendo que os advogados eram informados sobre a vigia e que “nenhum advogado reclamou”.

Mas a contraposição mais contundente àquela decisão de Moro partiu do outro lado da parede da sala que Sergio Fernando ocupava em seus tempos de 2ª Vara Federal de Curitiba. Despachando do gabinete ao lado, e em voto proferido antes da decisão do juiz titular sobre a matéria, o à época juiz substituto Flávio Antônio da Cruz alertou para a “mitigação das garantias constitucionais”, lembrou que nada poderia justificar “a conformação de um Direito Penal do Terror” e que “mesmo a existência de graves facções criminosas não autoriza a flexibilização de garantias fundamentais”.

“Essa flexibilização – redigiu o juiz Cruz – caminha para o resgate da divisão maniqueísta entre ‘amigos e inimigos’, de Carl Schmitt, ou a figura da ‘aversão ao direito’, de Edmund Mezger, de cunho evidentemente nazi‐fascista, repudiado pela Doutrina e legislação dos países democráticos”.

 

Da Constituição de Weimar à de 1988: bum!

Carl Schmitt. Guardem este nome. Voltaremos a ele daqui a três parágrafos. Por enquanto, seguimos com o voto – e uma profecia – do juiz Flávio Antônio da Cruz:

“Rechaço soluções pontuais, predestinadas a específicos grupos, definidos previamente como ‘inimigos da Nação’ (em que pese a gravidade dos crimes imputados). Ainda aqui – e talvez sobremodo aqui – as garantias devem ser asseguradas. O que se autorizará nestes casos terá repercussões futuras, redefinindo a relação ‘sujeito/Estado’ em uma direção indesejada”.

Seis anos depois, em 2016, o mesmo Moro, mas já na 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou o Ministério Público Federal do Paraná a espionar conversas telefônicas de 25 advogados do escritório da defesa de Lula, além de mandar gravar – e divulgar – o próprio Lula em conversa com Dilma Rousseff, presidenta do país no exercício do cargo.

É quando voltamos a Carl Schmitt, o jurista do Partido Nazista que destruiu a Constituição Democrática de Weimar e que ajudou Hitler a chegar ao poder com sua doutrina de que as leis podem ser ignoradas em situações excepcionais. A nenhuma jurisprudência, senão a de Carl Schmitt, seria mais adequado o TRF-4 recorrer para livrar Sergio Moro, como livrou, da representação feita contra ele por ter vazado conversa da presidenta da República.

E foi exatamente o que fez, recorrer a Carl Schmitt, o relator do caso no TRF-4, o desembargador federal Rômulo Pizzolatti. O relatório de Pizzolatti foi aprovado por 13 votos a um. O único divergente, única exceção no apoio ao estado de exceção, foi o desembargador Rogério Favreto. Em seu voto, Favreto alertou assim, não sem alguma sátira:

“Vale dizer que o Poder Judiciário deve deferência aos dispositivos legais

e constitucionais, sobretudo naquilo em que consagram direitos e garantias

fundamentais. Sua não observância em domínio tão delicado como o Direito Penal,

evocando a teoria do estado de exceção, pode ser temerária se feita por magistrado

sem os mesmos compromissos democráticos do eminente relator e dos demais

membros desta corte”.

 

404

Por fim, uma dessas curiosidades cabalísticas que pontuam a Grande Marcha Para Trás em que o Brasil se meteu, ou em que meteram o Brasil.

Aquela decisão de Moro autorizando gravar advogados no presídio de Catanduva foi na verdade publicada a quatro mãos. Além de Moro, outro juiz de execuções penais do Paraná assinou aquele despacho. O nome dele é Leoberto Simão Schmitt Júnior.

Um Schmitt, como o velho Carl.

Após a divulgação do áudio de Lula e Dilma, em março de 2016, centenas de juízes deste país, centenas, assinaram um manifesto em “irrestrito apoio às decisões que foram proferidas, em Curitiba, pelo juiz federal Sérgio Moro”.

O juiz Schmitt foi o signatário 404.

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09
Fev22

Nem Bolsonaro cogitou refundar Partido Nazista

Talis Andrade

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por Alex Solnik

O que mais me chocou nesse episódio infame não foi a adesão do deputado Kim Kataguiri à ideia de que o Partido Nazista, que existiu no Brasil entre 1928 e 1938, deveria ser refundado,  como defendeu esse tal Monark. 

O que me indignou foi gente que se diz de esquerda achar que Monark, que também defendeu o direito de “ser anti-judeu”, exerceu somente sua liberdade de expressão e não incitação à discriminação e à violência contra seres humanos, no caso, os judeus.

Se ser anti-judeu é um direito, também é um direito ser anti-negro? Ou anti-asiáticos? Matar alguém por ser judeu ou negro ou asiático também é um direito? O nazismo dizia que sim, por serem “raças impuras”.

E se Bolsonaro tivesse cogitado refundar o Partido Nazista? Glenn Greenwald e Rui Costa Pimenta também achariam normal? 

O mundo acharia normal? 

Nem Bolsonaro teve coragem de propor uma coisa dessas.

Como seria o discurso de um deputado do Partido Nazista na Câmara? Falaria de amor ou ódio?  

É isso que essas pessoas “de esquerda” querem para o Brasil? Mais ódio?

Todo partido tem projeto de chegar ao poder. Como seria o Brasil comandado por um presidente eleito pelo Partido Nazista?

Precisamos de um novo Hitler?

O que aconteceu no estúdio da Flow foi um crime de apologia ao nazismo e de racismo. Em flagrante. Repudiá-lo é o mínimo que se espera de pessoas civilizadas.  

Nazismo nunca mais.

 

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08
Fev22

Irmãos na ambição e no fracasso

Talis Andrade

governo bolsonaro moro guedes.jpeg

 

por Fernando Brito

- - -

Com Bolsonaro ou contra Bolsonaro, Paulo Guedes e Sergio Moro, os dois ex-superministros têm mórbidas semelhanças: ambos são desprezados e humilhados todo o tempo pelo homem a que serviram de avalistas junto às elites brasileiras.

Se usam discursos diferentes para falar do homem que lhes serviu de estribo para ascenderem ao que pensavam ser o poder de mando – na Justiça e na Economia, partilham a mesma condição.

No Estadão, numa patética entrevista, Paulo Guedes diz que “faltou apoio parlamentar” do Governo para implementar o que diz ser sua “agenda liberal”. Como “faltou apoio parlamentar” a um governo que tem o controle absoluto do Congresso e mais de dois terços da Câmara dos Deputados? Se faltou, faltou a ele e sua arrogância extrema que conseguiu torná-lo um desmoralizado público e o levou ao penúltimo ato de humilhação, o de perder o controle das despesas públicas para Ciro Nogueira e para o Centrão.

Chamo de penúltimo porque há mais um: o da PEC Kamikase, com renúncia fiscal sobre os combustíveis, uma distorção tão grande que nem os liberais, sempre anti-impostos, conseguem defender. Só não foi o ato final de sua passagem desastrosa no Ministério, que só não termina porque ele se submete a toda e qualquer humilhação no seu ocaso, numa postura inversa aquela em que gozava do apelido de Posto Ipiranga. Nem na reforma da Previdência, na qual contava com o apoio militante de Rodrigo Maia, então presidente da Câmara conseguiu negociar e se “queimou” com propostas absurdas como a da capitalização e de pensões abaixo do salário mínimo.

Sergio Moro, “saído” do Governo com uma demissão anunciada pelas atitudes de Bolsonaro, também não teve capacidade, nem mesmo com um Congresso infestado de bolsonaristas, de avançar com sua pauta absurda de atropelos ao processo legal, com prisões e excludentes de responsabilidade, foi envolvido pela maioria parlamentar e fez rigorosamente nada em sua área. Se não fosse a ajuda providencial – e indecorosa – do presidente do Supremo, que providenciou uma “revogação por engavetamento” do juiz de garantias, a negação, na prática, de seus métodos como juiz: ser o “promotor” e o “julgador” ao mesmo tempo, transformando condenação e absolvições em meras consequência de seus desejos, interesses e “convicções”.

A ambição lhe sobra nas mesmas imensas quantidades em que lhe falta o senso de prudência e o o limite que não se impõe com o “conveniente”. Acostumou-se, como mau juiz, a achar que o mundo lhe deve obediência e que podia, assim como deixou de ser juiz para ser ministro (e perder a cadeira no Supremo compromissada como seu “seguro”) e, em seguida, deixar de ser ministro para fazer negócios, acreditando que isso seria um “passatempo” para quando decidisse ser presidente da República, aclamado pela mídia e pelas multidõescoxinhas.

Como deve maldizer aquela tarde, no condomínio de Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, em que, pelas mãos de Guedes, consumou sua entrada no Governo.

Abriu o flanco para que o Supremo declarasse a sua suspeição como juiz, perdeu seus seguidores para Jair Bolsonaro e vê-se, agora, metido numa malcheirosa discussão sobre seus ganhos e a relação deles com as empresas que quebrou, anos atrás. Mais chabu não poderia dar.

Ele e Guedes tornaram-se símbolos de uma coisa só: do fracasso de quem achou que conquistara todo o poder, mas descobriu que seu lugar era de servo.

Acharam-se tigrões, eram tchutchucas.

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07
Fev22

Moro terá bens bloqueados por sonegação?

Talis Andrade

moro pavão.jpeg

 

Por Altamiro Borges

Como justiceiro da Lava-Jato, o ex-juizeco Sergio Moro cometeu vários abusos de poder para criar o clima de golpe contra Dilma Rousseff, para prender por 581 dias o ex-presidente Lula e para ajudar na eleição de Jair Bolsonaro. Como recompensa, ele ganhou do fascista o carguinho de ministro da Justiça. A casamento de vaidades não durou muito tempo e o “traidor” foi defecado do governo. Na sequência, ele ganhou fortunas da consultoria ianque Alvarez & Marsal por ter ajudado a implodir a economia nacional. Agora, porém, Sergio Moro passa da condição de “herói” midiático para bandido! 

Na semana passada, o subprocurador-geral Lucas Furtado solicitou que o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueie os bens do oportunista que ainda é pré-candidato do Podemos à presidência da República. Ele argumentou no pedido que a medida serviria como garantia para a investigação que apura suposta sonegação de impostos sobre os pagamentos que Sergio Moro recebeu da Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação judicial das empresas destruídas pela Lava Jato. 

Para Lucas Furtado, “há risco da inviabilização do ressarcimento e do recolhimento de tributos aos cofres públicos” em caso de confirmação de ilícito. Conforme registra o site Metrópoles, “o pedido evidencia o novo entendimento do próprio subprocurador, que voltou a defender que o TCU investigue os ganhos de Sergio Moro, de R$ 3,6 milhões, pagos pela consultoria. No ofício, enviado diretamente ao ministro Bruno Dantas, o magistrado relata que teve a ‘oportunidade de analisar os fatos novos, de modo a reafirmar a necessidade de apuração do caso pela Receita Federal’”. 

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Ex-juizeco crítica "abuso de poder"

Na sua sentença, “o subprocurador relata a inconsistência nos documentos comprobatórios das alegações do ex-juiz, e a necessidade de se averiguar a existência da Declaração de Saída Definitiva do País do ex-juiz, o visto norte-americano para trabalho, a tributação pelo lucro real pela empresa, além da suposta ‘pejotização’ de Moro, a fim de reduzir a tributação incidente sobre o trabalho assalariado. Os mencionados fatores, portanto, motivaram o pedido de indisposição de bens. Também foi solicitado que os órgãos competentes, como a Receita Federal, procedam na localização dos bens”. 

Diante da decisão, o ex-juizeco – que ficou famoso durante a midiática operação Lava-Jato pela truculência e arrogância – reagiu criticando o “abuso de poder”. Em nota, o fascistinha atacou Lucas Furtado. “Causa perplexidade ao pedir agora a indisponibilidade de meus bens sob a suposição de que teria havido alguma irregularidade tributária... Fica evidenciado o abuso de poder perpetrado por este procurador do TCU. Pretendo representá-lo nos órgãos competentes”. 

A vida é irônica e hilária! O queridinho da mídia, apontado como o candidato da tal “terceira via”, pode ter os seus bens bloqueados e até ser investigado, condenado e preso com devido respeito ao Estado Democrático de Direito – que o ex-juizeco sempre pisoteou.

Na economia, Moro repete Bolsonaro e Guedes

 
 
12
Dez21

A bandidagem da farsa judicial do tríplex de Moro & súcia

Talis Andrade

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O duplex de Sergio Moro, o prédio de Dallagnol, o tríplex que a quadrilha da lava jato considerou o máximo do máximo merecimento e posse de um operário eleito e reeleito presidente do Brasil

 

Juízes, procuradores e delegados de polícia da autodenominada Liga da Justiça da autodenominada República de Curitiba podem possuir apartamentos mais luxuosos que o que Lula jamais teve. Só Deltan Dallagnol tem dois em um mesmo prédio de bilionários. 'Todos PHODEMOS', dizem eles, os novos ricos, da autodenominada organização criminosa Lava Jato. 

O jornalista verdadeiro Fernando Brito (existem muitos comunicadores sociais de araque depois dos feitores de blogues, das fake news, dos programas mundo cão que transformam policiais e promotores e juízes em heróis imortais e santos do pau oco e palacianos do gabinete do ódio que pregam o golpe, a volta da ditadura militar e/ou do judiciário) mostra como o tríplex, que Sergio Moro e bando usaram como moeda política para o golpe eleitoral de 2018, que pariu presidente o velho deputado Bolsonaro, continua a render como estelionato para todo tipo de safadeza, de baixaria da bandidagem miliciana. 

O tríplex fez Michel Temer presidente.

O tríplex fez Jair Bolsonaro presidente.

A cantilena cansou. O tríplex não vai reeleger Bolsonaro ou eleger Moro, porque os dois são uma coisa só: o que de pior que a política pode parir, ou que a corrupção pode desejar, conspirar, negociar, transgredir, profanar, para presidir o Brasil. 

Depois desta denúncia de Fernando Brito, que esta seja a última tentativa de macular a candidatura de Lula com a farsa judicial do triplex de Moro & súcia, cambada, caterva, quadrilha.

O sorteio do ‘tríplex’ é lavagem de sentença nula

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por Fernando Brito

- - -

A Folha hoje, transforma uma pequena nota, no pé da coluna de Monica Bergamo, foi “puxada” vergonhosa manchete do seu site, ao estampar, em letras graúdas, que o “Tríplex de Guarujá será sorteado na internet em março de 2022” pelo empresário que o comprou em leilão, aliás de forma muito estranha: um único lance , a apenas 4 minutos do fim da hasta pública.

Mas faltam, na notícia, informações essenciais para que se entenda a picaretagem política sórdida que há no negócio.

O sorteio seria feito por um site chamado “Pancadão de Prêmios”, que é - no mínimo – associado da Rádio Jovem Pan, notoriamente ligada à extrema-direita.

Digo “no mínimo” porque, na página da Jovem Pan que lança o tal “Pancadão”, em março deste ano, ele é descrito como um “produto” da emissora:

A partir desta segunda-feira, 1º, a Jovem Pan dará início ao Pancadão de Prêmios, uma série de sorteios em sua programação com presentes que vão desde carros a celulares e aparelhos de televisão. Trata-se de um plano de assinaturas desenvolvido pela empresa que permite aos seus ouvintes e espectadores a possibilidade de concorrer às premiações e ter acesso a um conteúdo exclusivo da programação da emissora.(…) Com o Pancadão de Prêmios, a Jovem Pan lança mais um produto de sucesso: a maior assinatura com sorteio de prêmios do Brasil”, afirma Roberto Araújo, CEO da Jovem Pan.

Há, portanto, uma inegável associação entre a emissora e uma ação de inegável motivação política. Duvida? Imagine, por exemplo, este sorteio no programa do Luciano Huck, na Globo?

Há mais, porém: até as pedras de Marte sabem que o processo do tríplex “atribuído” a Lula sem que houvesse um documento sequer que lhe desse posse ou propriedade do imóvel foi anulado no Supremo Tribunal Federal e as decisões de sua sentença perderam o valor. Nesta sentença, nos itens 950, 951 e 952 é que decreta-se o “confisco” do apartamento e se manda oficiar à 1ª Vara de Falência e Recuperações Judiciais da Justiça Estadual de São Paulo, onde se cobram as dívidas da construtora OAS a seus fornecedores, para que o tríplex não seja “considerado como garantia em
processos cíveis”.

Ora, se a sentença foi anulada, o confisco do que pertencia – não a Lula, mas à OAS – também o foi e o bem volta a integrar o patrimônio da empresa a ser vendido para liquidar seus passivos, estando, até, penhorado por dívidas, à aquela época, penhor que Sérgio Moro pediu para anular.

O imóvel, agora, pertence formalmente ao comprador do leilão determinado por Moro, Fernando Gontijo, cuja empresa, Guarujá Participações, consta como “aderente” na autorização de sorteio emitida pelo Ministério da Economia há menos de um mês.

Portanto, o “sorteio” do apartamento, além de prestar-se para explorações políticas, serve também para “desovar” para o sorteado um imóvel que, cedo ou tarde, será devolvido a quem foi confiscado por uma sentença que, desde a decisão do STF é nula e que, portanto, não pode produzir efeitos jurídicos ou patrimoniais!. E, neste caso, ainda em fraude a credores.

E o pobre coitado, que entrar no sorteio a R$ 19,99 mensais, taxa que o tal “Pancadão” cobra aos participantes nem terá do que ser ressarcido por ter “ganho” um apartamento que nunca será seu.

Falem o que quiserem, mas ao Brasil não falta uma coisa: espertos para se aproveitarem da ingenuidade pública.

Lula-7-de-Outubro triplex.jpg

 

10
Dez21

Ferozes e furiosos

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

- - -

Há um magma inflamado de fúria nos dois principais candidatos da direita à eleição presidencial – Jair Bolsonaro e Sergio Moro – ele irá explodir àa medida em que se aproximam as eleições.

Bolsonaro, o lobo que cobriu-se com pele de cordeiro legalista desde o Sete de Setembro, quando percebeu – ou foi avisado – de que não contaria com forças para um golpe e assinou a carta de pacificação que lhe escreveu Michel Temer; Moro, o homem que se julgou o justiceiro que tudo podia por sua temporada como super-herói e se esboroou em pouco mais de um ano, quando exibiu publicamente sua ambição, ao tornar-se ministro de quem ajudou a eleger e, a seguir, viu exibidas as suas próprias vergonhas, com as revelações da Vaza Jato.

São, portanto, dois inconformados com o que consideram ser uma injustiça contra eles o fato de terem – em suas próprias visões – tão pouco apoio eleitoral (25 e 11%, respectivamente – e tanta rejeição (65%, o presidente e 61%, o ex-juiz, segundo a pesquisa Quaest divulgada hoje). É inconcebível para eles que Lula, a quem consideram um ser desprezível, tenha tanto apoio do povo, e não eles.

Por isso, por mais que tentem exibir-se seguros e até arrogantes em suas posturas de candidatos, são, exatamente por esta ansiosa expectativa, poços de mágoa e recalque um com o outro, não com o que fizeram ao país, mas um com o outro, a quem atribuem a “culpa” por suas dificuldades eleitorais.

Lembremo-nos de que o ódio é a caldeira que os move.

Bolsonaro considera Moro um traidor: deu-lhe o ministério por apoio pregresso mas também por apoio futuro, sempre uma obsessão do “Mito”, com suas histórias de “casamento”.

Moro, por sua vez, acha que foi Bolsonaro quem lhe estragou as chances, pois tinha uma aprovação de 61% no início deste governo, maior que a do recém-empossado Bolsonaro e o dobro do que se atribuía a Lula.

É obvio que, pelos meios de que dispõe, Bolsonaro tem vantagem neste confronto e, depois de algum tempo fingindo ignorar Moro, abriu contra ele suas baterias. E o fogo será mais intenso se prossegir a erosão visível de sua popularidade.

Moro não tem outro caminho senão o de reagir, por enquanto mais com provocações do que com acusações, até porque acusar o presidente por irregularidades implica admitir-se cúmplice delas.

Com todos os festejos que a imprensa lhe faz, não é fácil a situação de Moro. Não mostrou, até agora, vigor para desbancar Bolsonaro e “comemorar” um terceiro lugar é, convenhamos, a festa do nada.

São dois personagens ferozes, um barulhento, outro contido, mas acostumado a usar as garras contra seus desafetos.

Aguardem e verão o como disputarão o osso do 2° turno, que talvez desapareça, enquanto se embolam.

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Moro não decola

 
 

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