Lula chama Moro de “canalha”
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por Fernando Brito
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Ponha-se na conta dos méritos do general Walter Braga Netto o favor prestado ao país ao fazer com que, para além de toda dúvida razoável, trata-se de um militar golpista.
Muito menos perigoso, por isso, de outros generais, como Eduardo Villas-Boas, que todos consideravam um ardoroso defensor da autocontenção do poder militar e não se pejou em articular, com outros chefes militares, um indecoroso “tweet” ameaçador ao Supremo Tribunal Federal.
Netto, porém, já avisa, “a quem interessar possa” – como no seu alegado e fracassado ultimato ao Congresso – aonde deseja ir: impedir qualquer eleição da qual não saia vitorioso Jair Bolsonaro.
O que, no quadro que se tem hoje, significa cancelar as eleições, pura e simplesmente.
Descaramento pior, até, que o do gole militar de 1964 que, ainda que da boca para fora, dizia desejar as eleições de 1965 e a possível volta de Juscelino Kubitschek ao poder.
Pouco importa se houve ou não, de fato, o desafio do general ou se isso foi, como ele disse ao ser abordado pela primeira vez sobre o assunto, uma “invenção”.
Ao não desmentir com firmeza, não tratando como sagrado o processo eleitoral e, ainda por cima, fazendo a defesa da mudança no voto pretendida por Jair Bolsonaro (aliás, nos mesmos termos de “ou assim ou não ocorrerão”), Braga Netto demonstrou que o arreganho, se não era verdade, é muito bem contado e corresponde aos seus planos.
Se exequíveis ou não estes planos, são outros 500, a ver quais são as distâncias entre intenções e gestos.
O general conseguiu a “proeza” de não apenas colocar contra ele e os comandos militares que parecem se amoldar candidamente ao seu desvario todas as forças políticas do país, inclusive a mídia, como fazer perceber às forças que, dentro das próprias Armas, não concordam com isso que há uma ameaça golpista – talvez, é verdade, com mais fumaça que fogo – e de que ou se articulam para barrá-la ou terão de obedecer no grito a um comando ilegal.
Em linguagem militar, perderam o pouco de “elemento surpresa” que ainda podiam ter os pendores golpistas da turma governista e, sobretudo, do seu ex-capitão-em-chefe.
Durante anos, ouvi os militares dizendo que 64 não foi um golpe, mas uma reação militar que vinha das classes médias e da imprensa. Agora, no máximo, podem dizer que uma intervenção militar corresponderia ao ronco das motocicletas, último estertor do bolsonarismo.
É mais fácil colocá-las nas ruas que aos tanques.
Foi bom ver a Marina Silva, o Fernando Henrique e o Ciro Gomes, entrevistados pela Miriam Leitão, falando na TV sobre uma frente ampla para enfrentar o Caos, que é como estão chamando o governo do Brasil lá fora. Também foi bom ver manifestantes na rua desfilando pela democracia e contra a ameaça fascista – uma ameaça que aumentou alguns pontos depois que o último general de fatiota moderado, o Mourão, deixou cair a máscara, ou pelo menos deixou de ser moderado.
Não se sabe bem o que representam hoje, em matéria de poder de mobilização, os entrevistados da Miriam. Se não representam muito, politicamente, pelo menos representam a resistência que muita gente já julgava natimorta, e que mostrou que não apenas existe como se manifesta, ou começa a se manifestar.
“Frentes amplas” não têm uma história muito inspiradora, no Brasil. A última em que prestei atenção reuniria, veja só, o Juscelino, o Lacerda e outros descontentes com os rumos da “Revolução” de 64, alguns frustrados por terem ficado de fora, outros por sincero desencanto com o golpe. A frente, se me lembro bem, não chegou a se criar e terminou com a morte do Juscelino num acidente de carro. Até hoje tem gente que diz que o acidente não foi tão acidental assim.
A Marina, o Fernando Henrique e o Ciro Gomes merecem todos os elogios por se recusarem a aceitar o abismo para o qual estão querendo nos arrastar, esperneando, e por darem o exemplo, atraindo mais manifestantes para uma frente ampla e viável. Não querendo ser chato: lembremo-nos que na eleição do Bolsonaro & Filhos, gente que sabia o que viria preferiu se omitir a resistir. Não faria muita diferença, o impensável aconteceria de qualquer maneira, mas quem se omitiu deveria ter pensado melhor na sua própria biografia. Pode-se dizer tudo de Bolsonaro & Filhos, menos que alguma vez esconderam o que pensam e o que pretendem.
Uma frente ampla, unida por uma indignação comum pelo que estão fazendo com a terra da gente, é possível. O abismo está aí.
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