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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

20
Abr23

A farsa Adélio-PCC e o papel da Folha de S. Paulo numa armação perigosa

Talis Andrade
www.brasil247.com - Jair Bolsonaro e Adélio Bispo
Jair Bolsonaro momento da facada e Adélio Bispo preso incomunicável e com advogados bolsonaristas porta de cadeia (Foto: Reprodução | Ricardo Moraes/Reuters)

 

Jornal  do golpe de 1964 dá curso a plano de Bolsonaro de forjar ligação da facção criminosa a Lula e ao PT

 

por Joaquim de Carvalho

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O evento de Juiz de Fora que decidiu os destinos do Brasil entre 1o. de  janeiro de 2019 e 1o. de janeiro de 2023 ainda tem muitos pontos de interrogação e um jornal do tamanho da Folha de S. Paulo, em vez de dar respostas, coloca mais dúvida. 

Poderia ser apenas mau jornalismo, mas, pela reincidência, parece cumplicidade. No caso de Juiz de Fora, a dúvida interessa a quem procura construir a narrativa de crime encomendado. Bolsonaro é declaradamente um desses.

Aos fatos: o jornal publica nesta quarta-feira (19/04) reportagem com o título "Apuração da PF cita elo entre PCC e Adélio, mas direção vê tese furada". O texto longo não chega a lugar nenhum, mas serve como adubo a quem quer propagar desinformação.

Um advogado da banca de Zanone Júnior recebeu R$ 315 mil de empresas usadas pela facção criminosa para patrocinar defesas jurídicas, e, com base em informações frágeis, o jornal dá curso à tese de que a facção criminosa poderia estar por trás da ação de Adélio.

A reportagem ainda elogia o autor da tese, o delegado Martin Bottaro Purper, chamado de "um dos principais especialistas em PCC na PF", que passou a presidir o inquérito sobre o episódio de Juiz de Fora depois que o delegado Rodrigo Morais caiu para cima no governo Bolsonaro.

Resistente à pressão para jogar a fumaça do crime encomendado no caso de Juiz de Fora, Morais foi nomeado para um cargo no exterior em janeiro de 2022, no ano em que Bolsonaro tentaria a reeleição. Para o seu lugar, foi escolhido Martin Bottaro, que já havia trabalhado em casos que envolvem o PCC.

Bottaro era a peça que se encaixava à perfeição na narrativa de Bolsonaro. Durante a campanha eleitoral, o então presidente foi multado e teve que excluir postagens que tentavam associar Lula à facção criminosa. 

Durante a campanha de 2022, Bottaro tentou tomar um novo depoimento de Adélio, na Penitenciária Federal de Campo Grande. O delegado pediu também acesso ao laudo psiquiátrico sobre Adélio de agosto de 2022. Mas o juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini negou o pedido, feito às vésperas do segundo turno.

A Folha, sempre ela, noticiou que Martin Bottaro pediria autorização da Justiça Federal para tomar depoimento de Adélio, mas esse pedido nunca foi protocolado, serviu apenas para manchete a poucos dias antes do segundo turno da eleição de 2022.

E, claro, alimentou a desinformação na rede social, o que atendia ao interesse de Bolsonaro. Gerou a fumaça que o antigo delegado do caso, Rodrigo Morais, sempre evitou.

Antes de deixar o inquérito, em janeiro de 2022, Morais e integrantes de sua equipe estiveram duas vezes com Bolsonaro, em Brasília. A missão deles era mostrar ao então presidente como estava o inquérito. 

Bolsonaro não pediu nada, mas a simples convocação já indicava que ele queria alguma coisa, sobretudo porque a presença dos policiais no palácio era antecedida de manifestações dele sobre o episódio, tentando associar o evento de Juiz de Fora à oposição política.

Em julho de 2021, Rodrigo Morais foi indicado pelo então diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, para ocupar um posto na Diretoria de Inteligência. Era uma nomeação que exigia que a documentação passasse pela Casa Civil, mas esta não deu andamento.

Antes disso, na segunda apresentação sobre o inquérito, um policial da equipe de Morais comentou na sala em que estava Bolsonaro que havia tido a oportunidade de conversar com Gustavo Bebianno  – que morreu em 14 de março de 2020.

Era blefe, mas a reação de Bolsonaro surpreendeu a todos na sala. "Foi a primeira vez que vi Bolsonaro se desconcertar", comentou um dos presentes.

Bebianno, como se sabe, havia manifestado estranheza quanto à presença de Carlos Bolsonaro em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. 

No programa Roda Viva, depois que foi demitido da Secretaria Geral da Presidência, Bebianno mencionou que era a primeira vez que o filho de Bolsonaro participava de um ato de campanha.

E disse mais: Carlos Bolsonaro ficou o tempo todo no carro, comandando um drone, cujas imagens foram usadas como peça de propaganda na internet, logo depois do evento envolvendo Adélio. 

Bebianno disse ainda que, nos primeiros dias de governo, Carlos Bolsonaro pediu a ele para nomear quatro policiais federais para a Abin. Nas palavras de Bebianno, seria uma "Abin paralela". 

Bebianno recusou, com o argumento de que aquelas nomeações poderiam levar ao impeachment de Bolsonaro. No Roda Viva, Bebianno não disse por que a nomeação era tão prejudicial aos interesses do governo, e também se recusou a revelar quem eram esses policiais.

Hoje se sabe que, naquele mesmo ano, depois da queda de Bebianno, foram nomeados para a Abin três agentes da PF que atuaram na segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora, além do delegado Alexandre Ramagem, que assumiu a direção-geral da Agência.

Os agentes da Abin são Luíz Felipe Barros Félix, Marcelo Araújo Bormevet e Flávio Antonio Gomes. Para fazer o documentário "Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil", censurado pelo YouTube, procurei os agentes, mas eles não retornaram ao meu pedido de entrevista.

Se a Folha quer, efetivamente, investigar jornalisticamente o caso de Juiz de Fora, pautas não faltam, sobretudo neste momento, em que o isolamento de Adélio apresenta as primeiras fissuras.

Em 30 de março, depois de quatro anos e meio, a dona de casa Maria das Graças Ramos de Oliveira visitou o irmão. O 247 acompanhou e fez uma videorreportagem. Na última segunda-feira (17/04), a titular da 2a. Vara de Família e Sucessões, Cíntia Xavier Letteriello, esteve na Penitenciária Federal de Campo Grande, para entrevistar Adélio.

 

A magistrada é responsável pelo processo em que Maria das Graças pede a curatela do irmão, diagnosticado como inimputável no processo sobre o evento de Juiz de Fora.

A juíza já tinha ouvido Maria das Graças em audiência, e causou boa impressão, ao demonstrar que tratará o processo como todos os outros em sua jurisdição, sem atentar para os aspectos políticos que poderiam envolver o caso.

Ao mesmo tempo, a Defensoria Pública da União, representada pelo defensor Welmo Rodrigues, tem travado uma luta dura por justiça no caso de Adélio, que, sendo doente mental, não poderia ficar trancado em cela isolada na penitenciária com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

O último laudo psiquiátrico, de agosto do ano passado, aponta a piora do estado de saúde dele, que, desconfiado, evita tomar medicamentos. A irmã contou que Adélio acredita que há um desejo de que ele morra na prisão.

Adélio reclamou do advogado que assumiu seu caso logo depois do episódio em Juiz de Fora, o criminalista Zanone Júnior. "Ele me trancou aqui e jogou a chave fora", disse à irmã. 

A pedido de Zanone é que Adélio foi trancado na penitenciária federal, declarado inimputável e processado com base na Lei de Segurança Nacional, que fez seu caso permanecer na Justiça Federal, em vez de transitar pela Justiça Estadual de MInas Gerais, onde responderia por lesão corporal e, certamente, já estaria em liberdade.

No final de 2019, Adélio enviou carta de próprio punho à Defensoria Pública da União em que pediu a remoção do advogado.

Zanone deixou de atuar na causa como advogado, mas, estranhamente, foi nomeado curador processual, embora Adélio tivesse família em Montes Claros. 

O juiz que nomeou Zanone disse que tomou a decisão para que o processo não perdesse agilidade, já que a família de Adélio é pobre e mora distante.

Apenas uma das muitas cartas que Adélio escreveu para a família chegou a Maria das Graças. Nela, Adélio pedia empenho para que pudesse ser transferido para perto da família.

Mesmo afastado do processo como advogado e na condição de curador processual, Zanone nunca deixou de se empenhar para manter Adélio na penitenciária.

A Folha, sempre ela, publicou entrevista em que ele falava da melhora do estado de saúde de Adélio na Penitenciária, uma vez que estaria sendo atendido por equipe médica, o que era mentira.

Continuava sendo apresentado como advogado e, em agosto do ano passado, nomeou assistente técnico para acompanhar a junta médica que elaborou o segundo laudo.

A Justiça Federal em Campo Grande não aceitou o psiquiatra indicado por Zanone e, a pedido da Defensoria Pública Federal, o removeu da condição de curador.

Quem ficou com a função foi a própria Defensoria, o que faz sentido, até que a Justiça Estadual em Mato Grosso do Sul decida sobre o pedido de Maria das Graças.

A Defensoria também atua em outra frente, a da transferência de Adélio para um hospital psiquiátrico perto da família ou, na ausência de vaga, para a residência da irmã.

O juiz Bruno Savino, de Juiz de Fora, se manifestou contra, e a decisão cabe a ele, já que o STF julgou que compete ao juiz da origem do fato decidir em que estabelecimento o sentenciado deve cumprir medida de segurança.

A decisão do STF foi relatada por Kássio Nunes Marques, o primeiro ministro indicado por Jair Bolsonaro.

Foi em 2020, quando a Justiça Federal em Campo Grande entendeu que Adélio não poderia continuar na penitenciária, Bruno Savino (e Zanone) se manifestou contra. 

Estabeleceu-se à época um conflito de competência, que foi parar no STF.

Nunes Marques entendeu que o presídio é "estabelecimento adequado" para cumprimento de medida de segurança, conforme o artigo 96 do Código Penal.

Diante do último laudo psiquiátrico, o de agosto do ano passado, que mostra um quadro de deterioração mental de Adélio, a Defensoria Pública da União entende que esse argumento caiu por terra.

Por isso, recorreu da decisão da Justiça Federal em primeira instância. O recurso está no gabinete do relator do Tribunal Regional Federal da 3a. Região, para ser levado a julgamento.

A Defensoria postula a transferência de Adélio para um hospital ou, na ausência de vaga, para a casa da família, para que receba tratamento em ambulatório. 

O Ministério Público Federal concorda com a transferência para hospital, mas é contra a ida para a casa da família e o consequente tratamento ambulatorial. 

O juiz Bruno Savino estendeu a medida provisória até agosto de 2024.

Na visita virtual da irmã, em fevereiro deste ano, quando perguntado sobre o que ocorreu em 6 de setembro de 2018 em Juiz de Fora, Adélio respondeu: "Não vem ao caso".

Sem as grades de ferro, Adélio se sentiria mais à vontade para falar?

 

29
Jan23

Por que Carlos Bolsonaro não prestou depoimento no inquérito sobre o evento de Juiz de Fora?

Talis Andrade
www.brasil247.com - Carlos Bolsonaro esteve em clube de tiro nos mesmos dias que Adélio
Carlos Bolsonaro esteve em clube de tiro nos mesmos dias que Adélio

 

Os dois estiveram próximos duas vezes. Em Florianópolis, quando Adélio fez curso de tiro. E em Juiz de Fora, quando Carlos se tranca no carro ao ver Adélio

 

por Joaquim de Carvalho

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Uma das lacunas da investigação sobre a facada ou suposta facada em Juiz de Fora é a presença de Carlos Bolsonaro em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio Bispo de Oliveira fazia o curso de tiro no .38, em 5 de julho de 2018.

O inquérito não faz referência se Carlos frequentou o .38 naquele dia, mas sua ida à cidade tinha o objetivo de ir ao local, de que era associado fazia três anos e ao qual prestou homenagem, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, conforme mostra o diploma afixado na parede da recepção.

Quando fiz o documentário "Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil", perguntei ao .38 se Carlos Bolsonaro esteve no local naquele dia e se havia imagens das câmeras de segurança. Um relações públicas do clube me atendeu, pediu que formalizasse a solicitação por e-mail, o que fiz e não recebi resposta.

Dois representantes do .38 prestaram depoimento no inquérito, o instrutor de tiro e um proprietário, mas não foram questionados sobre a presença de Carlos Bolsonaro. Um deles disse que, nesse dia, Adélio, à certa altura, ficou sentado na poltrona, mexia no celular e olhava sempre para a porta de entrada.

Adélio estava fazendo o curso, pelo qual receberia certificado, e pelas aulas recebidas teria pago três vezes o valor do aluguel do quarto onde vivia. Adélio não tinha arma. Em 7 de setembro, um dia depois do evento em Juiz de Fora, o Jornal Nacional publicou reportagem com entrevista da porta-voz do clube.

“Ele chegou aqui, fez um cadastro, foi acompanhado, após fazer um cadastro e dar a identidade dele, como todo e qualquer cidadão que vem aqui, por um instrutor para a prática de tiro. Esse instrutor fica junto no momento em que a arma é escolhida. Fica junto a todo instante”, disse Júlia Zanata, que, mais tarde, seria nomeada por Jair Bolsonaro para um cargo regional da Embratur em Santa Catarina.

Nas redes sociais, Júlia Zanata se destacou como militante bolsonarista e recorreu à Justiça para tentar tirar o documentário do YouTube, mas não conseguiu. A censura viria por iniciativa do próprio YouTube, alguns meses antes da eleição no ano passado.

O delegado da Polícia Federal Rodrigo Morais, que investigou o caso, disse a membros de sua equipe que havia dificuldade para investigar o entorno de Bolsonaro, mas, em junho de 2021, quando apurávamos o evento de Juiz de Fora, considerava a hipótese do auto atentado "plausível".

Na época, o Tribunal Regional Federal da 1a. Região analisava a possibilidade de reabertura do inquérito para, em princípio, analisar o celular e o computador apreendido no escritório de Zanone Júnior, que foi o advogado de Adélio.

Ele dizia que, se o caso fosse reaberto, avançaria na investigação, não apenas analisar os arquivos de Zanone. O delegado cogitava pedir autorização do Supremo Tribunal Federal para uma perícia médica em Bolsonaro.

"Ninguém é obrigado a produzir prova contra si, mas eu pediria, para saber se o que provocou o ferimento", disse a dois agentes da Polícia Federal. 

Quando o caso foi reaberto, Rodrigo Morais acabou promovido para um cargo nos Estados Unidos, e quem assumiu a investigação foi o delegado Martin Bottaro Purper, que tinha investigado a facção criminosa PCC.

Algumas semanas depois, o jornal Metrópoles publicou reportagem sobre a linha de investigação: Purper estaria buscando verificar se havia ligação de Adélio com a facção criminosa.

Nunca mais a Polícia Federal tocou no assunto publicamente, mas a notícia gerou barulho na internet. A militância bolsonarista tentava ligar Adélio ao PCC e o PCC a Lula. Puro delírio, mas em época de campanha o barulho poderia ter efeito junto aos eleitores.

Carlos Bolsonaro é chave para eliminar as lacunas do inquérito sobre o evento de Juiz de Fora. Um vídeo publicado no documentário "Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil" mostra que Adélio tenta se aproximar de Carlos na tarde de 6 de setembro de 2018, logo após a chegada de Bolsonaro ao Parque Halfeld, início da caminhada pelo calçadão.

Ao vê-lo, Carlos Bolsonaro entrou no carro e se trancou. Em entrevista a Leda Nagle, Carlos falou sobre essa aproximação, que ele não poderia negar, já que as imagens tinham se tornado públicas.

"Tem um determinado momento da gravação do meu pai em Juiz de Fora em que eu saio do carro e o Adélio vem na minha direção, e eu, por um acaso, volto no carro e, quando eu entro no carro novamente, ele recua porque viu que não conseguiria chegar até mim. Tem essa gravação. É público, todo mundo consegue ver. Então, eu voltei para o carro e dez minutos depois aconteceu o que aconteceu", afirmou.

Se, ao se trancar no carro, desconfiou do homem que usava jaqueta preta apesar do calor na cidade, deveria ter alertado os seguranças.

Sobre a presença em Florianópolis no mesmo dia em que Adélio fazia o curso, contou que, naquele dia, não esteve no clube de tiro.

"Esse cidadão chamado Adélio esteve no clube de tiro .38 no mesmo dia em que eu estava em Florianópolis. Por um acaso, naquele dia, eu não fui ao clube de tiro. (...) Aloprei com um amigo meu que temos mais ou menos a mesma personalidade. 'Não vou praí, vou pro hotel e dane-se. Não fui'", disse, na mesma entrevista a Leda Nagle.

Se o clube de tiro tivesse atendido à minha solicitação para ver imagens daquele dia, seria eliminada a dúvida sobre o que diz Carlos Bolsonaro: se não esteve mesmo no clube de tiro naquele dia.

Se a Polícia Federal tivesse examinado o deslocamento de Carlos Bolsonaro a partir de seu celular, também se saberia por onde andou em Florianópolis. 

Mas, como não investigava a hipótese de auto atentado, o delegado Morais não requisitou as imagens do clube nem examinou o celular de Carlos Bolsonaro.

A Leda Nagle, Carlos Bolsonaro sugere que poderia ser alvo de Adélio, o que não faz sentido. Examinando a rede social dele, é possível verificar que Adélio só começou a atacar Bolsonaro alguns dias depois do curso no .38.

Entrou na própria página de Jair Bolsonaro no Facebook e o ameaçou. Foi a partir daí que também passou a criticar as propostas de Bolsonaro, e reproduziu entrevista antiga, em que Bolsonaro defende guerra civil no Brasil, com a morte de 30 mil pessoas.

São postagens muito diferentes daquelas que vinha fazendo antes de realizar o curso de tiro, em que defende um projeto de lei apresentado por alguns deputados, entre eles Bolsonaro, para a redução da maioridade penal.

Também era favorável ao serviço de militares em projetos de lazer e educação para jovens. Atacou o projeto de lei que criminaliza a homofobia, apoiado por Jean Wyllys, então deputado pelo PSOL, que os bolsonaristas tentariam ligar a ele.

Esse comportamento, sobretudo as contradições, devem ser investigadas, se o que se busca, no caso de Juiz de Fora, é a verdade factual.

 

 

29
Out22

Notas sobre um atentado (ou dois)

Talis Andrade

 

PT cobra da PF medidas disciplinares contra agente que escoltou Lula |  Partido dos TrabalhadoresPT pede ação da PF contra agente bolsonarista que escoltou Lula - Viomundo

 

Danilo Cesar Campetti, um dos policiais responsáveis pela escolta de Lula no velório do neto Arthur Araújo Lula da Silva, no dia 3 de março deste ano, é ativista pró-Bolsonaro nas redes sociais e mantém manifestações hostis ao PT. Atencão para os símbolos no colete à prova de bala

 

Se no bolsonarismo em tudo há certo método, porque não haveria nos “atentados” que acometem Bolsonaro e bolsonaristas? O mesmo agente em Juiz de Fora, Paraisópolis e enterro do neto de Lula 

 

por Hugo Souza

Nesta sexta-feira, 28, Tarcísio de Freitas foi às redes sociais “falar sobre o que aconteceu em Paraisópolis”. Comentando a informação de que foi um agente licenciado da Abin, Fabricio Cardoso Paiva, integrante do seu staff, quem mandou o cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio, Tarcísio disse que Fabrício “é meu amigo de 30 anos, que entrou comigo na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em 1992, em Campinas”.

Come Ananás identificou que Tarcísio e Fabrício estiveram ao mesmo tempo também na graduação em Ciências Militares na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), na década de 1990, e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), na década de 2000. Mas não só os dois. O atual chefe da Abin, Víctor Felismino Carneiro, também foi contemporâneo de Tarcísio de Freitas e de Fabrício Paiva na Aman e na EsAO.

Víctor Carneiro assumiu a Abin em abril deste ano, após a saída de Alexandre Ramagem do cargo para ser candidato a deputado federal. Ramagem, recordemos, foi nomeado por Jair Bolsonaro em 2020 para chefiar a Polícia Federal. O STF, porém, suspendeu a nomeação, dada a notória e umbilical ligação de Ramagem com a família Bolsonaro. Isto não impediu, porém – ninguém suspendeu -, que Bolsonaro nomeasse Ramagem, na sequência, para o comando da Abin.

Já Victor Carneiro, que é filho de um general quatro estrelas, chegou ao comando da Abin por indicação de Carlos Bolsonaro, atravessando um nome, Edgar Ribeiro Dias, que já tinha sido escolhido para o cargo pelo general Augusto Heleno, chefe do SGI. Havia a informação de que Dias tinha o intuito de exonerar policiais federais ligados aos Bolsonaro e levados para a Abin após a posse de Jair Bolsonaro, em 2019. Um dos policiais federais ligados aos Bolsonaro e levados para a Abin em 2019 é Danilo Cesar Campetti.

Para quem não está ligando o nome ao agente, Danilo Campetti integrou a chamada “Operação Messias” da Polícia Federal, de segurança do então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro, em 2018. Ele estava entre os policiais que faziam a escolta de Bolsonaro no dia do episódio da facada em Juiz de Fora, 6 de setembro daquele ano. Campetti também estava acompanhando Tarcísio no dia do tiroteio em Paraisópolis. Há imagens dele com uma pistola em punho.

 

Agente com Tarcísio em Paraisópolis estava com Bolsonaro no dia da facada |  Revista FórumPolicial que estava no tiroteio de Paraisópolis estava no dia da 'fakeada'  de Juiz de Fora

Em 2018, Danilo Campetti foi indicado para integrar a “Operação Messias” pelo xará e também policial federal Danilo Balas.

“Em meados de 2018, recebi uma ligação de Brasília, do setor responsável pela segurança dos candidatos à presidência da República. Era um convite para compor a equipe que faria a segurança do então candidato à presidência Jair Messias Bolsonaro. Minha resposta foi que não poderia fazer parte da equipe por questões óbvias: sairia candidato a deputado estadual, naquele mesmo ano. Uma outra pergunta me foi feita: se eu conhecia e indicaria algum policial federal para efetuar o trabalho mencionado”, contou Danilo Balas no dia 14 de fevereiro de 2020 numa sessão solene da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) de São Paulo, para a qual Balas havia sido eleito em 2018.

 

Balas brotam

 

Danilo Balas ficou nacionalmente conhecido em 2014, quando postou no Facebook imagens de si próprio treinando tiro ao alvo numa gravura de Dilma Rousseff: “assim fica fácil treinar”. Quatro anos antes, em 2010, Danilo Balas havia recebido um convite de Eduardo Bolsonaro para entrar na política.

Danilo Balas foi um dos primeiros a gritar “atentado!” no dia do episódio em Paraisópolis:

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Tarcísio e equipe passam bem. Há informações de que um bandido foi baleado e morreu.

Nossa solidariedade ao futuro Governador @tarcisiogdf e à equipe, e agradecimentos aos policiais que reagiram prontamente. Ser o candidato da Segurança Pública tem um alto preço. pic.twitter.com/c9fRg5xEzo

— Danilo Balas (@DaniloBalas) October 17, 2022

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Aquela sessão solene na Alesp na qual Danilo Balas disse ter indicado Danilo Campetti para a “Operação Messias” foi precisamente para outorgar o Mérito Legislativo do Estado de São Paulo a três agentes da Polícia Federal que estavam com Bolsonaro em Juiz de Fora no dia do episódio da facada, entre eles Campetti. Uma honraria curiosa a quem, afinal, falhou em serviço.Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais

Naquele dia, Campetti disse no microfone da Alesp que “podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o capitão Jair Messias Bolsonaro é imune aos efeitos colaterais e perniciosos do poder”.

Nestes outros dias pré-eleitorais – os hodiernos – em que agentes fora de serviço, mas aliados, brotam nas ruas em dia de “atentado”, convém chamar a atenção para outra coisa que Danilo Campetti disse naquele dia na Alesp:

“Notória era a participação de policiais voluntários, inclusive aposentados, em todos os locais que comparecíamos e que, mesmo em dias de folga, não hesitavam em ombrear conosco na proteção do candidato. Dessa forma, já era prevista a realização de ‘briefings’, ou seja, reuniões preliminares, com aqueles irmãos aliados, os quais cumpriam com excelência tudo o que fora previamente estabelecido. A esses obstinados guerreiros, minha continência e homenagem. O agradecimento, realmente, meus irmãos, a todos aqueles que, aonde a gente ia, todos que estavam de folga: policiais, agentes de segurança – mesmo particulares -, segurança privada, era comum a gente chegar aos locais e essas pessoas já estarem esperando uma liderança para a gente fazer essa reunião para eles poderem compor com a gente”.

Outro agente da “Operação Messias”, também indicado por Danilo Balas, homenageado na Alesp naquele 14 de fevereiro de 2020 foi Flavio Antonio Gomes, que relatou:

“O Zero Um [como os agentes se referiam a Jair Bolsonaro] saiu de sua casa e, como de costume, cumprimentou animadamente cada um dos policiais, fazendo brincadeiras e comentários sobre os últimos acontecimentos políticos. Após alguns minutos de uma conversa informal, ele mudou a expressão. Seriedade e preocupação tomaram o lugar das risadas. Mencionou algo sobre não ser difícil acontecer um atentado contra ele, já que muita gente estava interessada em manter-se no poder. Sabíamos que ele tinha razão e ficamos em silêncio”.

Convém chamar a atenção também, retroativamente, a esta declaração, nestes dias pré-eleitorais nos quais a campanha de Tarcísio de Freitas inseriu o “atentado” de Paraisópolis numa peça de propaganda eleitoral na TV que já estava programada para ser sobre supostas – e delirantes – ligações do PT com o crime organizado.

 

‘Vamos!’

 

O terceiro agente da Polícia Federal homenageado na Alesp naquele 14 de fevereiro de 2020 foi João Paulo Dondelli, mais um indicado por Danilo Balas para a “Operação Messias”. Dondelli contou, por seu turno, outro bastidor do episódio da facada em Juiz de Fora.

Transcrevemos:

Foram dois fatores que me fizeram tomar a decisão de sacar o Adélio de lá: o primeiro foram as características que eu citei, a experiência e saber até onde vai o limite de uma equipe experiente. O segundo fator que me levou, de fato, a fazer aquilo ali, foi um diálogo que eu tive com o candidato Jair Bolsonaro em frente a um elevador, lá em Osasco, 15 dias antes.

Iria ter um evento em uma rede de televisão entre os candidatos à presidência, e ele recebeu a informação de que havia um púlpito vazio lá para um ex-presidente preso e sem registro de candidatura. Ele ficou injuriado com aquilo, olhou para mim e falou assim:

– Federal, império da lei, não tem registro e tá condenado.

E eu:

– Império da lei, Zero Um.

– Vamos pra guerra?

– Vamos pro combate!

Danilo Campetti Policial Federal fazendo a Segurança do Tarcísio em  atentado em Paraisópolis.Cinegrafista que filmou tiros da equipe de Tarcísio em Paraisópolis relata  medo após demissão - Hora do PovoArticula Redes Resiste! 🚩✊ #VamosJuntosPeloBrasil on Twitter: "@cortezpsol  Morte durante campanha de Tarcísio teve "indícios de execução". Quem vai  responder pela morte ocorrida no atentado forjado? Reage São Paulo!!!  https://t.co/0jIJTT4kPU" / Twitter

 

 

 

06
Jan22

Assessor bolsonarista pivô no Escândalo do Laranjal do PSL é encontrado morto

Talis Andrade
Gilberto Figueiredo
Antes das eleições de 2022 muita gente da milícia vai "se morrer".Image
 

Haissander Souza de Paula, próximo do ex-ministro do Turismo e deputado Marcelo Álvaro Antônio, chegou a ser preso pela PF por cobrar a devolução da verba pública de campanha por candidatas da legenda em 2018

 
 

Haissender Souza de Paulo, que foi assessor do ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro e deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, acusado pela Polícia Federal de ser o operador do Escândalo do Laranjal do PSL, um esquema de desvio de verbas de campanha na eleição de 2018, foi encontrado morto nesta quarta-feira (5) numa propriedade de sua família em Aimorés (MG).

Ainda não ficou claro em que circunstâncias Haissander morreu. De acordo com pessoas da região, ele teria sido encontrado desorientado há alguns dias, perambulando pelas ruas de Governador Valadares (MG), a 180 km de Aimorés, também na região do Vale do Rio Doce, o que motivou a realização de um vídeo que foi postado nas redes sociais no intuito de localizar algum parente do ex-assessor parlamentar.

Encontrado pelos familiares e de volta à cidade natal, Haissander teria passado mal na última noite (4) e vomitando sangue, o que o levou a buscar ajuda num hospital local. Após ser medicado e liberado, ele voltou para a residência de sua família e para ser encontrado já sem vida na manhã desta quarta-feira (5).

Em junho de 2019, Haissander chegou a ser preso durante uma operação da PF e disse em depoimento que “parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”, envolvendo o presidente da República no esquema ilegal de caixa 2.

Meses depois, os investigadores descobriram que R$ 690 mil de verbas do fundo partidário chegaram a ser repassados à ex-esposa de Álvaro Antônio, Janaina Cardoso, que foi candidata. Em depoimento à PF, Jandir Siqueira, presidente do PSL em Belo Horizonte, contou que o valor foi repassado para a campanha de Janaina por determinação do próprio ex-marido dela.

Em suas redes sociais, o ex-assessor encontrado morto nesta manhã ostentava fotos com figuras influentes do bolsonarismo, como o empresário Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan, o apresentador Ratinho, parlamentares e com o próprio chefe de Estado.Carlos Heraclio #LulaLivre on Twitter: "Charge : Moro diz que suspeitas  sobre 'laranjas' do PSL serão apuradas e eventuais culpados serão  responsabilizados. https://t.co/HyzPBrd6h3" / Twitter

Laranjal dos bolsonarista do PSL

Nas eleições de 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República pelo PSL, um esquema de desvio de recursos do fundo partidário foi descoberto pela Polícia Federal envolvendo o candidato eleito pelo partido em Minas Gerais Marcelo Álvaro Antônio, que seria nomeado no início do mandato pelo líder radical como ministro do Turismo.

Segundo a investigação dos federais, Álvaro Antônio e o assessor Haissander liberavam candidatura de mulheres pelo PSL, mesmo não tendo qualquer intenção de realizar campanha para elas ou elegê-las, em troca do compromisso de que repassariam à empresa ligada a um outro assessor os valores recebidos do fundo partidário, a verba pública destinada por lei aos que pleiteiam um cargo em eleições.

A I9 Minas e Assessoria, que recebeu R$ 267,2 mil do partido apenas de janeiro a abril de 2020, pertence a Reginaldo Donizete Soares, irmão de Robertinho Soares, também assessor do ex-ministro e atualmente deputado Marcelo Álvaro Antônio. Robertinho chegou a ser preso durante a operação que investigava o esquema de candidaturas de fachada no PSL.

Alvo de busca e apreensão no ano passado, a I9 foi apontada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público como parte fundamental do esquema de desvio de recursos de candidatas laranja na eleição de 2018.

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05
Jan22

"É altamente suspeita a troca do delegado do caso Adélio", diz Joaquim de Carvalho

Talis Andrade

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247 - O jornalista Joaquim de Carvalho, em participação no programa Bom Dia 247 desta quarta-feira (5), falou a respeito da Polícia Federal, que escolheu um delegado que já investigou o PCC (Primeiro Comando da Capital) para dar continuidade ao inquérito sobre as circunstâncias do suposto atentado contra Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

De acordo com o jornalista, que foi a Juiz de Fora (MG) em 2021 produzir um documentário sobre a suposta facada contra Bolsonaro, a movimentação requer atenção. 

“É preciso ficar de olho no inquérito sobre o caso da facada ou suposta facada em Juiz de Fora. Não conheço o delegado nomeado para o caso, em substituição a Rodrigo Morais, que foi para os EUA. Mas trocar o titular do inquérito em um caso complexo como este é altamente suspeito”, disse Joaquim. 

O jornalista ainda explicou que acompanhou a atuação de Rodrigo e que ele estava “buscando informações mais consistentes sobre o episódio”. 

“Numa investigação complexa como essa, jamais podemos trocar o condutor da investigação”, completou.Geuvar on Twitter: "Para que servem as forças armadas? Apoie o trabalho do  cartunista Tocantinense *Geuvar Oliveira* (clique no link):  https://t.co/5992OBs9nn #golpe #charge #bozonaro #BANESTADOleaks #CC5gate  #cloroquina #covid19 #viralatismo ...

 

Bolsonaro contra atestado de doido

 

O delegado em questão, Martin Bottaro Purper, está há 17 anos na corporação. Caberá a  ele buscar informações que possam esclarecer se Adélio Bispo de Oliveira cometeu o atentado sozinho ou contou com a ajuda de alguém.

A Justiça o considerou doente mental e, por isso, inimputável.

Bolsonaro insiste na tese de que a PF não fez uma investigação correta e de que houve um mandante. O objetivo é político, levantar a bandeira de que foi vítima de um atentado político a mando da esquerda. A narrativa sobre a facada volta ao cenário da disputa eleitoral de 2022.É só um meme - 9GAG

 
 
 [Por que Adelio Bispo, que treinou armas de fogo na mesma escola de tiro dos filhos de Bolsonaro, preferiu usar uma arma branca no meio de uma multidão de bolsonaristas exaltados em Juiz de Fora, MG?]
23
Out21

Como o enrolado parceiro comercial do filho de Bolsonaro tentou me silenciar com ameaça à minha família

Talis Andrade

Jair Renan Bolsonaro e o parceiro comercial Allan Lucena, suspeitos de Lobby, o BO e o print da conversa ameaçadoraJair Renan Bolsonaro e o parceiro comercial Allan Lucena, suspeitos de lobby, o BO e o print da conversa ameaçadora

 

por Joaquim de Carvalho

Eu fui até a casa do personal trainer Allan Lucena, parceiro comercial de Jair Renan, depois que tomei conhecimento de uma estranha denúncia que ele fez, em registro de BO em 16 de março deste ano na Polícia Civil de Brasília. Ele  relatou que estava sendo seguido. 

Um dia antes do registro do BO,  a imprensa tinha noticiado que a PF investigaria a suposta ação de lobby praticada por ele e Jair Renan junto ao governo federal, para beneficiar a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini

A notícia dava conta de que Jair Renan Bolsonaro teria recebido um carro elétrico de presente do grupo empresarial.

Segundo o BO, no dia 16 de março, Allan viu na garagem do prédio onde mora um carro preto com uma pessoa gravando imagens dele com celular. Era o mesmo carro que tinha visto segui-lo nos dias anteriores.

Allan mandou o porteiro fechar o portão da garagem e chamou a PM. Os policiais descobriram então que quem estava no carro e gravava as imagens era o policial federal Luís Felipe Barros Félix. Ele foi qualificado e disse que estava lá para encontrar uma garota de programa. Allan foi à delegacia para registrar a queixa , mas o agente da PF não compareceu.

A Polícia apurou, então, que Barros Félix estava lotado na Presidência da República — trabalharia para a Abin.Jair Bolsonaro-Luís Felipe Barros Félix-Polícia Federal-AdélioBolsonaro segura no ombro do agente da PF Luíz Felipe Barros Félix, no dia da fakeada em Juiz de Fora. Foto Leonardo Costa

 

Como faço documentário sobre o caso da facada ou suposta facada em Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, sabia que esse Barros Félix era um dos principais segurança de Bolsonaro naquele dia do suposto atentado na cidade mineira.

Procurei Allan Lucena na quinta-feira desta semana (21/10) porque queria detalhes sobre o monitoramento de que tinha sido alvo. 

Na portaria, o funcionário, depois de interfonar, disse que Allan não estava, mas o havia autorizado a passar o número do celular dele. 

Eu então, ali mesmo, na calçada do prédio, liguei para Allan e fiz a entrevista, gravada em vídeo.

Allan não deu a razão pela qual, uma semana depois de registrar o BO, renunciou ao direito de representar contra o policial federal. Disse que tinha sido orientação do advogado, mas que não sabia porquê. 

À noite da mesma quinta-feira, eu recebo uma ligação dele, que não pude atender. Retornei pouco depois, e Allan disse que havia ligado por engano.

No dia seguinte (22/10/2021), às 10h58, ele me mandou uma mensagem com o print de uma conversa com alguém não identificado:

Na conversa, em letras maiúsculas, está o nome completo da minha esposa e também o de um dos meus filhos. Na conversa, ele dizia que o meu telefone estava em nome dos dois, além do meu, o que é uma absoluta inverdade.

Abaixo do print, numa frase dirigida a mim, Allan afirmou “Vocês poderiam parar de me ligar?”

Eu não estava mais ligando para ele — já tinha feito a entrevista.

Por que me dar conhecimento de que sabia do nome completo da minha mulher e do meu filho? Para mim, é uma intimidação, como se dissesse: “Sei quem são”.

Isso é inaceitável. 

Num país em que a vereadora Marielle Franco foi assassinada e muitos jornalistas, alvo de agressão, inclusive homicídio, não posso me calar. Tornar público o ocorrido é uma forma de proteger.

Continuarei apurando histórias que pessoas como Allan Lucena querem esconder. 

Por que um segurança que falhou no dia da facada (ou suposta facada) em Juiz de Fora foi levado para dentro do Palácio do Planalto, e fazia operações de arapongagem sensíveis de interesse específico da família Bolsonaro? 

É a resposta que busco.

Sobretudo porque sabemos que Gustavo Bebianno, numa entrevista ao Roda Viva, disse que Carlos Bolsonaro — que havia estado em Juiz de Fora, no único ato público de campanha de que participou em 2018 — queria montar uma Abin paralela.

Bebianno disse que, alguns dias depois da posse de Bolsonaro, Carlos lhe apresentou quatro nomes para formar uma Abin paralela.

Bebianno, na mesma entrevista, relatou ter afirmado a ele: “Isso dá impeachment do seu pai”...

Bebianno morreu de infarto no dia 14 de março de 2020, aos 56 anos de idade.

Eu já mostrei que outros dois agentes da Polícia Federal que organizaram o esquema de segurança de Bolsonaro em Juiz de Fora foram nomeados para a Abin, depois que Alexandre Ramagem assumiu a direção-geral.

Luís Felipe pode ser outro que passou a integrar o que Bebianno chamou ser o desejo de Carlos Bolsonaro, a Abin paralela. 

A mim, como repórter, cabe apurar. É o que estou fazendo, e ameaças desse tipo, como a que sofri em Brasília, não me intimidarão.

 

07
Ago21

Adélio volta à cena, mas ninguém cita que ele frequentou o Clube de Tiro dos bolsonaros

Talis Andrade

Adelio Bispo preso pela Polícia Federal, que vem se transformando na polícia política de Bolsonaro 

 

por Larissa Roncon

 

Após as complicações de saúde do presidente, que esteve internado por causa de obstrução intestinal, Adélio Bispo voltou a bombar nas redes.

Internautas questionam onde está Adélio e o que foi feito dele após ser acusado de esfaquear Bolsonaro em setembro de 2018.

A polêmica se estabeleceu entre bolsonaristas e críticos do presidente.

De um lado, apoiadores usam Adelio de bode expiatório para justificar cada espirro de Bolsonaro, enquanto outros acreditam que a facada nunca aconteceu e foi uma jogada eleitoral para o capitão poder escapar dos debates.

LEIA: Adélio volta ao debate com aparelhamento da PF por Bolsonaro e tentativa de desenterrar caso facada

Adélio está preso na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).

Em maio, desembargadores do Tribunal Regional Federal decidiram que ele não poderá sofrer sanções administrativas pelo crime, já que tem laudo médico em que apresenta transtorno mental delirante persistente. Por isso, é considerado inimputável.

LEIA: Liberdade de Adélio, autor de facada em Bolsonaro, será decidida em 14 de junho de 2022

O seu caso deverá voltar a ser discutido em julho de 2022, quando Adélio pode solicitar liberdade [Mês que antecede as eleições presidenciais, para criar um clima emocional que favoreça mais uma vez Bolsonaro, que disputará em outubro a presidência com Lula. E Adelio continuará proibido de falar com a imprensa. Vários pedidos de entrevista continuam engavetados. O bolsonarismo impede a fala de Adélio. Que permaneça amordaçado. O atirador treinado, que prefere matar com um canivete, continua preso em uma penitenciária federal, administrada por bolsonaristas] 

arma povo bolsonaro.jpeg

 

Embora não tenha sido condenado à prisão, ele foi mantido preso por ter sido considerado pessoa de alta periculosidade, cuja liberdade representaria risco a si e a terceiros.

Quem quer saber o paradeiro do autor da facada hoje nunca se importou com um fato real e que gera ainda mais suspeitas.

Carlos e Eduardo Bolsonaro frequentavam o mesmo clube de tiro, o 38, que Adélio, em Florianópolis.

Eis um fato que tem potencial para deixar todo mundo com a pulga atrás da orelha.

Renan Antunes contou essa história aqui no DCM.Clube de tiro frequentado pelos Bolsonaros e por onde Adélio Bispo passou  tem curso a R$ 5 950Eduardo Bolsonaro comemora aumento da letalidade policial — Conversa Afiada

O clube de tiro ponto 38 é um templo do bolsonarismo: a maioria dos frequentadores é gente sarada, bombada, tatuada, de sorriso forçado e pistola na cintura.

Localizado a 10 minutos da ponte Hercílio Luz, cartão postal de Floripa, o clube ganhou, nos cinco meses do governo Bolsonaro, a notoriedade que jamais teve em 27 anos de existência, graças a dois frequentadores ilustres e um maldito.

Os notáveis são os filhos do Bozo, o Zero 2 Carlos e o Zero 3 Eduardo.

O infame é Adélio Bispo, o maluco da facada de Juiz de Fora, gesto que catapultou a candidatura de Jair à presidência.

Por mais que se busque, ninguém conseguiu estabelecer uma conexão dos filhos do presidente com o maluco, exceto pelo fato de terem estado ao mesmo tempo no 38.

Corre uma versão que o clube pertence aos Bolsonaros, que seriam sócios ocultos.

É fake news. Talvez a fonte desta informação seja a mesma que espalhou que os filhos de Lula eram donos da JBS.

Passei duas tardes entre os frequentadores comuns do lugar – tem gente que chega de Porsche!

O pessoal fica algumas horas dando tiros em alvos de papel, ao custo mínimo de 99 reais a saraivada de balas calibre 22. Os preços sobem de acordo com o calibre.

O público principal é gente da segurança, mas também encontrei advogados e universitárias dando tiros nos estandes, só pelo prazer da coisa: tem gosto pra tudo.

O “ponto 38” do nome da casa significa o calibre do velho três oitão, arma padrão da polícia brasileira das antigas.

O clube foi fundado em 1992 por um delegado de polícia de Santa Catarina, Tim de Lima e Silva Hoerhann.

Eu conheci o delegado Tim. Ele é descendente do patrono do Exército, Luiz Alves de Lima e Silva, nosso Duque de Caxias.

Uma pesquisa histórica feita pela família, exibida em quadros no clube, sustenta que ela está no ramo de armas desde o tempo das Cruzadas, dos cristãos  contra os mouros, no século XII.

A linhagem inicia por um certo Ferdinand Brandon, cavaleiro normando, ancestral dos Lima e Silva.

O lado Hoerhann também era de armas:  o delegado Tim descende do fidalgo Miguel, instrutor de artilharia do império austro-húngaro, professor de esgrima de salão e ginástica sueca no… Maranhão!

Mais: em 1904, Miguel assinou o horripilante livro “A esgrima de baioneta”, muito popular na época.

O delegado tem uma mancha inapagável na carreira. Nos anos 80, ele foi encarregado de guardar um pacote de joias de um joalheiro morto num acidente aéreo.

Quando o pacote foi aberto pelas autoridades, havia pedras e até um bloco de concreto. Tim foi punido por negligência, mas as joias jamais reapareceram.

Tim ergueu o 38 num galpão industrial, ao lado da uma oficina mecânica, em local hoje muito valorizado, no bairro Campinas.

O salão de tiros é isolado da rua por uma chapa de aço de 15 milímetros, capaz de deter o chumbo de qualquer das armas ali existentes. Pode abrigar seis atiradores ao mesmo tempo.

Em quase três décadas no anonimato, o local reuniu a nata dos atiradores das redondezas – isto é, quem ama dar tiros, policiais e seguranças de lojas.

Hoje, os  irmãos Tony e Rafael, filhos do delegado, administram o 38. Nenhum deles tem formação militar ou policial, mas se vestem como se estivessem enfrentando tempos pós apocalipse.

Tony (38) é parrudo, luta jiujitsu com os lendários irmãos Gracie e dizem que até ensina os caras.

Tony também dá cursos à polícia da China comunista, treinou a segurança do primeiro ministro – o que faz com que entre no radar como uma possível conexão vermelha.

Mesmo com este currículo de amigo de comunistas, Tony é amigão dos filhos do Bozo.

A amizade começou antes do pai virar candidato. Vem dos tempos em que o Zero 3 entrou na Polícia Federal e fez curso de treinamento com Tony, evoluindo para o clube. O Zero 2 veio junto com o brother.

Tony adquiriu a ojeriza dos Bolsonaros à imprensa e não dá entrevista. Ele fica num salão acima do retrato do duque, espiando pela janela, enquanto o pessoal de marketing da casa fala com o repórter.

O guru civil dos Lima e Silva é Olavo de Carvalho. Recebeu da família a medalha de amigo da família, honraria cunhada pela própria família.

O herói da turma é Troy, um amigo de Tony, da SWAT do estado americano de Oklahoma. Ele vem de tempos em tempos e pá, pum, ensina os nativos a atirar no estilo americano.

Os caras amam muito os States. Tanto que o salão de jogos ostenta uma bandeira americana tamanho gigante, maior do que uma brasileira.

Do outro lado, estão as bandeiras, também gigantes, do xerifado de Oklahoma e do estado de Oklahoma – uma espécie de nirvana para atiradores.

O 38 tem uma lojinha de armas, pequena, mas bem movimentada.

É uma sala com espingardas calibre 12 e revólveres até o 45. Há carabinas AR15 como as usadas pelo exército americano (e pelos traficantes cariocas), numa versão popular, ao custo de 14 mil reais.

O negócio de venda de armas é legal, registrado no Exército. Qualquer um pode entrar, escolher a arma, manuseá-la, dar tiros para testar e sair com uma embaixo do braço, desde que atendida uma pequena burocracia – a casa faz tudo para o cliente.

O negócio só vende armas importadas. Carlos Souza, double de instrutor e vendedor, explica que “as nacionais Rossi e CBC só dão problemas”.

E aí está o tchã do 38: todos os papos giram, naturalmente, em torno de armas. Fala-se do coice que dá uma 12 ao disparar? O vendedor engatilha a arma mesmo sem balas e oferece: “Ouça o clique”, ensina. Pá, bate o gatilho.

Outra rodinha de papo é sobre o revólver Colt 45. Tratava-se de uma réplica, não pude apurar se era chinesa.

Mais papo: alguém viu um meliante num terreno baldio perto das lojas Koerich e queria saber se alguém poderia ir dar uma olhada, mas ninguém se escalou.

O salão de jogos, o mesmo onde está o memorial ao Duque de Caxias, abriga também a mesa de sinuca e um pequeno bar, quase sempre vazio.

“O nosso horário forte é depois do expediente, o pessoal passa por aqui e lota os estandes. Dão uns tiros para relaxar e vão para casa”, explica Carlos.

Como é relaxar dando tiros: a pessoa escolhe as armas (ou traz a sua de casa) e entra no estande de tiro. Bota óculos e protetores de ouvido. Aí, compra um pacote de balas, coloca um meliante de papel como alvo e pipoca nele.

Feito isto, ele recolhe o “morto”, confere os acertos e, se estiver num grupo, vai comentar os furos com os amigos. Se estiver sozinho, pode fazer um discreto gesto de “yes”, com o punho fechado.

Não achei muita gente disposta a puxar papo comigo no 38.

Me senti um zero à esquerda ao comprar o pacote básico calibre 22, com direito a um guaraná e uma barra de cereais, ao preço promocional de 56 reais.

Enchi de balas meu alvo – se fosse um meliante de verdade, estaria no mínimo num hospital, com o peito furado.

Saí do estande para um grupinho de instrutores. O papo era sobre Troy, o americano, com chegada prevista para sábado – era como se Zeus fosse descer do Olimpo.

O pessoal que frequenta a casa tem um figurino mais ou menos padrão, começando por uma botinha 3×4 e calças com bolsos laterais, coldre fabricado no próprio 38, lanterna e faca na cintura.

Surpresa: apesar de SC ter um baixo índice de violência, um em cada 422 habitantes do estado tem uma arma.

Do outro lado do 38, atravessando a avenida, temos o mar, com seu azul profundo.

 

Os tiros que nosso repórter deu foram no alvo

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