Mensagem contra o racismo
O mau-caratismo explícito nos atos de racismo estampa uma pretensa mentirosa superioridade. Alguns cidadãos se acham no direito de achincalhar o próximo por conta da cor da pele. Como se não percebessem a podridão moral em que estão mergulhados
por Rodrigo Craveiro /Correio Braziliense
“Sou mulher e sou preta. Então, tudo o que faço tem que ter erros. Se não tiver, arranjam.” A frase, da escritora moçambicana Paulina Chiziane, a primeira africana a ganhar o Prêmio Camões, escancara o racismo que persegue, machuca, tortura a alma e tenta dilacerar a dignidade das pessoas negras.
“A chicotada foi no lombo da minha alma; continuo amarrada ao tronco”, desabafou a consultora jurídica Maria Nazaré Paulino, 58 anos. Ao tentar embarcar em um carro da Uber, escutou do motorista que ele não carregava “preto vagabundo”.
“Exala um cheiro típico; tem um cérebro para fazer o máximo de filhos que puder; pode não ser um problema lá onde a natureza dá cabo deles.” As mensagens foram enviadas por um doutorando da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) à namorada do estudante de políticas públicas Jota Júnior, 23. Também em Porto Alegre, a vereadora negra Bruna Rodrigues (PcdoB) escutou de uma manifestante: “Eu sou o povo. Tu (sic) representa a mim. Tu (sic) é minha empregada”, repetiu algumas vezes.
Se você não embrulhou o estômago e não se sentiu incomodado até aqui, sugiro que pare de ler e procure uma ajuda profissional. O mau-caratismo explícito nos atos de racismo estampa uma pretensa mentirosa superioridade. Alguns cidadãos se acham no direito de achincalhar o próximo por conta da cor da pele. Como se não percebessem a podridão moral em que estão mergulhados.
Como esperar políticas de combate ao racismo com um presidente da Fundação Palmares que se intitula “Black Ustra” — junção da palavra “negro”, em inglês, com o nome do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais nefastos torturadores, homenageado pelo então deputado Jair Bolsonaro, ao justificar o voto pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 17 de outubro de 2016? O mesmo Bolsonaro que critica as cotas raciais e nega dívidas com a população negra. “Que dívida? Eu nunca escravizei ninguém na minha vida”, declarou.