Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

18
Fev22

O agro e a agenda da morte

Talis Andrade

 

latifundio sem terra.jpg

por Cristina Serra

Li uma vez, duas, três, até me convencer que era real o que estava escrito: Jonathas, de nove anos, filho de um líder de trabalhadores rurais, foi assassinado a tiros, em Barreiros, Pernambuco, por pistoleiros que invadiram a casa da família. Aterrorizado, o menino estava escondido embaixo da cama, de onde foi arrancado para ser executado na frente dos pais.

 

Protesto em Barreiros contra assassinato de Jonatas

 

Até o momento em que escrevo, não vi nenhuma manifestação de indignação por parte do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Oferta de proteção à família do pai da criança, Geovane da Silva Santos? Nada. O crime aconteceu há quatro dias.

Jonatas é mais uma vítima imolada na disputa pela terra, cerne da injustiça e da desigualdade que anos de avanços sociais não conseguiram equacionar no Brasil. A síntese poética de João Cabral de Melo Neto, em “Morte e Vida Severina”, permanece dolorosamente atual, quase setenta anos depois: a cova com “palmos medida (…) é a parte que te cabe deste latifúndio”.

A lista de mártires pós-redemocratização é extensa: Padre Josimo Tavares, Paulo Fonteles, João Carlos Batista, Chico Mendes, Dorothy Stang, José Cláudio e Maria do Espírito Santo, a família de Zé do Lago (chacinada um mês atrás) são alguns deles. Corumbiara, Eldorado do Carajás, Fazenda Primavera, Taquaruçu do Norte, Pau d’Arco? São chacinas de trabalhadores rurais, a maioria ainda impune.

Assassinatos, grilagem, trabalho escravo, desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos são armas de destruição em massa de qualquer resquício civilizatório. Tem quem separe o agronegócio do “ogronegócio”, como se existisse uma distinção entre civilização e barbárie nesta atividade. Existe?

 

Protesto em Barreiros contra assassinato de Jonatas. Na foto fachada da casa onde a criança foi executadaCasa onde Jonatas residia e foi assasinado ao tentar se esconder debaixo da cama. Crédito: Arnaldo Sete/MZ 

 

Então, quem está do lado civilizado que venha a público condenar a matança desenfreada de brasileiros no campo e a agenda do lucro e da morte. É preciso bem mais do que campanha publicitária no horário nobre. O peso do setor no PIB não pode ser uma licença para matar.

natal sem terra sem teto.jpg

passeata estudante trabalhador sem teto set terra.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub