Sputnik - Nesta terça-feira (8), uma ativista negra morreu durante uma operação da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
De acordo com a Folha de São Paulo, Jane Beatriz Silva Nunes teria morrido após cair da escada de sua casa em Porto Alegre, após policiais tentarem entrar em sua residência, segundo a advogada Marcia Soares, da ONG Themis, da qual Jane fazia parte.
De acordo com a ISTOÉ, Jane havia retornado do mercado quando notou que os policiais tentavam entrar em sua casa. Ela por sua vez, teria resistido e pedido para ver o mandado que permitisse a entrada na residência. A morte da ativista gerou protesto de moradores na região.
A ONG Themis, que trata de discriminações contra mulheres no sistema de Justiça, foi uma das responsáveis por convocar a manifestação, exigindo que as circunstâncias da morte de Jane sejam rigorosamente apuradas pelas autoridades competentes, segundo a Folha de São Paulo.
Jane Beatriz Machado da Silva, mulher negra, mãe, avó, bisavó, servidora pública municipal, Promotora Legal Popular formada pela Themis, ativista reconhecida por sua comunidade e moradora da Grande Cruzeiro foi morta na porta de sua casa durante ação ilegal da Brigada Militar nesta terça-feira, 8 de dezembro de 2020.
Sem que haja notícia de mandado judicial, a Brigada Militar invadiu a casa de Jane, que tentou impedir a violação ilegal de seu domicílio.
Jane era mulher consciente de seu direito à dignidade e à privacidade e não cedeu à truculência policial.
Segundo relatos, o 1º Batalhão da Brigada Militar já vinha realizando ações similares de intimidação e invasão do domicílio de Jane e de diversos outros moradores da Grande Cruzeiro.
A morte de Jane não é um caso isolado, é mais um exemplo de como a estrutura genocida do Estado extermina pessoas negras, defensoras e defensores dos direitos humanos. Em 2019, no Brasil, quase 8 em cada 10 pessoas vítimas de intervenção policial com morte eram negras; no Rio Grande do Sul, apenas no primeiro semestre de 2020, foram 90 mortes decorrentes de intervenção policial. [Fonte: 14º Anuário Brasileiro da Segurança Pública; Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2020)].
É imprescindível e urgente que as circunstâncias da morte de Jane sejam rigorosamente apuradas pelas autoridades competentes; que a família e a comunidade recebam o adequado apoio e respeito do Estado e que ações concretas sejam tomadas pelo Poder Público para que os direitos e as vidas das pessoas negras e periféricas não sejam mais sistematicamente violados.
O nome e a história de vida de Jane não serão esquecidos.
A polícia mata, e a imprensa esconde o crime, porque um coronel inocenta a brigada, e um laudo médico aparece para dizer que uma pessoa empurrada de uma escada, sendo sexagenária, e bate com a cabeça no chão, não foi nada, não foi nada grave.
Já - Novos protestos devem ocorrer na Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, pela morte da moradora Jane Beatriz da Silva Nunes, de 60 anos, durante uma ação da Brigada Militar na comunidade.
A Brigada Militar informou, com base no relato dos policiais envolvidos, que Jane não sofreu nenhuma agressão e teria sido vítima de um “mal súbito”.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) divulgado no fim da noite de terça-feira atesta que a causa da morte de Jane Beatriz da Silva Nunes foi causada pelo rompimento de um aneurisma cerebral.
Mas as lideranças da comunidade exigem que os fatos sejam esclarecidos. Há relatos de moradores de que Jane teria sido empurrada por policiais que tentavam entrar em sua residência, caindo de uma escada que dá acesso à casa e batido a cabeça no chão, o que teria causado a morte.
Além de funcionária da Secretaria Municipal de Segurança, Jane Beatriz Machado da Silva também era Promotora Legal Popular da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, organização que trabalha no enfrentamento da discriminação contra mulheres.
A Themis divulgou nota lamentando a morte e lembrando que Jane era formada pela primeira turma de PLPs da Cruzeiro, ativista dos movimentos negro, feminista e dos direitos humanos.
A organização convocou lideranças dos movimentos sociais para uma reunião virtual, ainda nesta quarta-feira, para discutir o caso e as medidas a serem tomadas.
Na terça feira, logo depois do fato moradores ergueram várias barricadas ao longo da avenida Tronco, carregando faixas e cartazes denunciando a violência policial, e colocaram fogo em um automóvel.
Segundo relato do repórter Marco Weissheimer, os policiais envolvidos na ação foram retirados da comunidade e um destacamento do Pelotão de Choque da Brigada foi deslocado para a área ainda no início da tarde.
Os moradores concordaram em liberar a passagem da avenida para um carro do Corpo dos Bombeiros apagar o fogo no automóvel incendiado, mas mantiveram os demais bloqueios.
Um pouco depois das 15h, o Pelotão de Choque da Brigada entrou em ação para dispersar os manifestantes que estavam bloqueando a avenida, usando bombas e balas de borracha.
Os policiais militares chegaram a entrar por uma rua lateral para dentro da Cruzeiro atrás de alguns manifestantes, mas logo voltaram para a avenida Tronco. Até a metade da tarde, não havia relato sobre pessoas feridas ou detidas nos protestos. Por volta das 16h, familiares e amigos de Jane foram para a frente do Postão da Cruzeiro.
As vereadoras negras recém-eleitas Laura Sito (PT) e Karen Santos (PSOL) e Bruna Rodrigues (PCdoB), o vereador Matheus Gomes (PSOL), além dos também vereadores eleito Leonel Radde (PT) e Jonas Reis cobraram explicações da Brigada Militar e uma investigação independente sobre o ocorrido
Conforme a Brigada Militar, ela perguntou por uma filha e “logo depois, teve um mal súbito e veio a desfalecer”. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Jane chegou ao pronto-atendimento em parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Protestos entre a tarde e o começo da noite relacionavam a morte a suspeita de violência policial. A perícia, no entanto, afirma não ter identificado no corpo “nenhum sinal de trauma que justificasse o óbito”.
Precisamos chorar pelas vítimas da violência cotidiana
por Juremir Machado da Silva /Correio do Povo
Precisamos chorar nossos mortos inocentes, vítimas da violência nua e crua: o policial Derinaldo Cardoso dos Santos, de 34 anos, assassinado por um bandido, com um tiro na cabeça, quando tentava impedir um assalto num supermercado do Rio de Janeiro. Cabo da Polícia Militar, ele deixou esposa e dois filhos. Uma vida interrompida pela estupidez. Precisamos chorar a morte de Emilly e de Rebecca, meninas negras de 4 e 7 anos, baleadas e mortas na Baixada Fluminense. Duas vidas extintas pela incompetência. De quem? Ainda não se sabe. A polícia diz que não fez disparos. Mas armas de policiais foram recolhidas e serão periciadas. Por que o Rio de Janeiro não reage?
Quantas crianças assassinadas por bala perdida de bandido ou por derrapagem policial? Como pode uma cidade ter regiões dominadas por milícias, lugares onde o Estado não entra, mortes por erros de GPS (entrar por engano em zonas do tráfico), governadores presos, prefeito eleito crivado de acusações de corrupção e tamanha banalização da barbárie! Nas estatísticas, as balas perdidas encontram mais negros no caminho. Um caso enterra o outro e nada muda. Precisamos continuar a chorar a morte de João Pedro, de 14 anos, vítima de uma ação policial, em maio deste ano, também no Rio de Janeiro, que invadiu a sua casa. Precisamos chorar os 3.251 mortos pela violência nos seis primeiros meses deste ano, 103 policiais e 3.148 cidadãos ditos comuns.
Precisamos chorar por Marielle Franco e Anderson Gomes, executados a mais de mil dias sem que o mandante do crime tenha sido descoberto. Homens em serviço, mulheres defendendo suas ideias, adolescentes jogando, crianças brincando, enfim, todos executados pela força de um mal que não para de aumentar. Há quem morra por ser negro, quem morra por ser pobre, quem morra por ser mulher, quem morra por ter pego a saída errada quando só queria chegar mais rápido, quem morra por estar no lugar errado na hora errada, no caminho da bala, que era apenas o seu caminho de casa, quem morra por não ter a proteção do Estado de direito, quem morra por viver num campo de guerra, o seu bairro, a sua rua, o seu modesto lugar neste mundo.
Temos de chorar por Cícera Ivanilda Gonçalves Gregório, negra, 43 anos, que teve três filhos mortos em três anos, na periferia de Florianópolis, em ações policiais mal explicadas. Precisamos sempre chorar por Miguel, o menino que caiu do 9º andar de um edifício em Recife enquanto a mãe levava os cachorros da patroa para passear e esta não se dava o trabalho de protegê-lo. Em que mundo vivemos enquanto tentamos sobreviver ao coronavírus? Bandidos não podem ser glorificados. A polícia não deve ser diabolizada. Por que tudo está saindo errado? De quem é a culpa? Precisamos chorar por nossa democracia, que não consegue fazer com quem ninguém fique de fora. Precisamos chorar por que ainda somos os mesmos e não sabemos vencer a violência que mata inocentes de todas as idades. A morte de duas crianças ressoa ainda mais violentamente em nossas consciências.
A funcionária da Prefeitura foi jogada da escada e bateu com a cabeça no chão. É o chamado 'neurisma espontâneo' do jeito que a justiça inventou 'estupro sem intenção'
Necropsia realizada pelo IGP-RS (Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul) aponta que um aneurisma cerebral provocou a morte de Jane Beatriz da Silva Nunes, 60 anos, moradora da Vila Cruzeiro, na Zona Sul de Porto Alegre.
Ela morreu na terça-feira (08), durante uma abordagem da BM (Brigada Militar) na região, o que provocou protesto de moradores.
Uma sobrinha de Jane, ouvida por GZH, alegou que a polícia invadiu a residência dela. Jane foi jogada da escada. Impedida de entrar na própria casa que residia com filhos e netos.
Brigada contra o pobre povo pobre de Porto Alegre
Cartazes e faixas criticam a Brigada Militar. O comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel José Carlos Pacheco Ferreira, mente. Nega a versão dos moradores.
Os manifestantes bloquearam a rua Cruzeiro do Sul e queimaram pneus, madeiras e um carro. Linhas de ônibus tiveram de ser desviadas por causa do protesto.
A BM usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. A corporação afirmou que a mulher teve um mal súbito e foi encaminhada ao Postão da Cruzeiro.
Segundo os moradores, Jane Beatriz Machado da Silva, 60 anos, morreu durante abordagem policial na região. Ela era servidora da prefeitura de Porto Alegre e trabalhava na área administrativa da Secretaria Municipal de Segurança (SMSeg). Conhecida na comunidade, Jane era ativista e militante em questões de gênero e raciais. Ela atuava na Cruzeiro como Promotora Legal Popular (PLP), após participar de uma capacitação promovida Themis, entidade que trabalha no enfrentamento da discriminação contra mulheres.