O silêncio das ruas
Enquanto isso, nas ruas esse mesmo fascismo já mata, ameaça, agride, enquanto o povo faz filas para procurar emprego ou receber o miserável auxílio emergencial
por Izaias Almada /Jornal GGN
A internet mudou em definitivo, com extrema rapidez os hábitos, o comportamento e, sobretudo, a forma de comunicação entre os homens. Os tradicionais meios de comunicação como os jornais, o rádio e a televisão estão aí para comprovar tal afirmativa.
Um olhar atento à leitura dos chamados blogs progressistas no Brasil, que não são poucos – e quero estar completamente enganado – dá-me muitas vezes a sensação de que a atual oposição ao governo fascista que se alojou em Brasília, seja ela de esquerda ou não, perdeu a capacidade de mobilização popular, a capacidade de organizar manifestações de rua com milhares, milhões de pessoas nas principais cidades do país e não só.
Pelo contrário: aumentou e muito o número de canais televisivos dentro desses blogs, com inúmeros bons e excelentes jornalistas (ajudados ou impelidos pela pandemia, não vem ao caso) a analisar a realidade pré-eleitoral, discutir o momento político do país e do mundo, baseados na realidade do dia a dia, como deve ser, mas com a convicção exagerada, no meu modesto entender, de que o fascismo pode ser combatido através de “lives”, entrevistas e análises feitas dentro de um espaço fechado com as inevitáveis bibliotecas como fundo do cenário.
Esse jornalismo, é claro, tem sua importância e sua razão de ser, mas não me parece estar dando resultados positivos de combate ao fascismo caboclo.
Enquanto isso, nas ruas esse mesmo fascismo já mata, ameaça, agride, enquanto o povo faz filas para procurar emprego ou receber o miserável auxílio emergencial ou, pior ainda, procurar restos de comidas pelas cidades.
O teclado do computador e as câmeras dos celulares têm sua importância, mas até prova em contrário não derrotam governos de ultra direita, conservadores e neoliberais.
Ao contrário, os exemplos recentes do Chile, da Bolívia e da Colômbia, para citarmos os nossos vizinhos sul-americanos, comprovam o fato. Nesses países, de populações bem menores que a nossa, milhares e milhares de pessoas foram às ruas, resultando daí a vitória da esquerda democrática com Gabriel Boric, Gustavo Petro, Luis Arce e a prisão dos golpistas bolivianos contra Evo Morales.
Faltam dois meses e meio para as eleições presidenciais e legislativas. A violência contra a esquerda aumenta e os insufladores e autores de tal violência não são devidamente punidos, o que gera insegurança no país.
Já não bastam quatro anos? Ou vamos ter que aturar mais?
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