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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

23
Fev24

Mídia vira-latas vive de mentiras no Brasil

Talis Andrade

Gaza Israel.jpg

 

Entenda por que o presidente Lula venceu o embate com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu

 

Por Tiago Barbosa, no X

A mídia inventou que Lula estava isolado – errou: a chefe da diplomacia da UE e o secretário dos EUA destacaram papel do Brasil.

A mídia apostou nas críticas à fala sobre Gaza – errou: nenhum chefe de estado relevante repreendeu o presidente.

A mídia aventou a imposição de sanções contra o Brasil – errou: nenhum país sugeriu esse absurdo.

A mídia repudiou a hipótese de analogia com nazismo – errou: estudiosa de genocídios deu razão a Lula.

A mídia delirou para atribuir a Lula antissemitismo – errou: intelectuais e jornalistas judeus derrubam essa tese.

A mídia apontou banalização do holocausto por Lula – errou: quem usou em chacota foi o chanceler israelense.

A mídia temeu represália dos EUA por fala de Lula – errou: Biden manifestou solidariedade (tímida) aos palestinos.

Na fantasia criada pela mídia vira-lata e iludida, a única verdade é viver de mentiras.

O ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, classificou como “absurda” a decisão de Israel que considerou o presidente Lula como “persona non grata” devido a fala em que ele comparou Netanyahu a Hitler, pelos ataques israelenses contra os palestinos em Gaza. À jornalista Andreia Sadi, do G1, Celso Amorim afirmou: “Isso é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é persona non grata é Israel”. Confira.

Após conversar por duas horas com o presidente Lula (PT), o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que as relações com o Brasil estão "mais fortes que nunca".

O alto representante da União Europeia para Política Externa, Josep Borrell, disse nesta quinta-feira (22) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não comparou a guerra de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. E sim os crimes de guerra de Netanyahu e Hitler. As declarações foram dadas em entrevista a um restrito grupo de veículos de imprensa internacionais, incluindo a ANSA, à margem da reunião de ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro.

Reunidos no Rio de Janeiro, ministros do exterior do G20 defenderam a criação do Estado Palestino como forma de acabar com o conflito na Faixa de Gaza. O chanceler Mauro Vieira, anfitrião do encontro, voltou a defender a ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas

22
Fev24

Gaza: Parar a "carnificina" e restaurar a força do direito internacional

Talis Andrade
2202 opiniao -  (crédito: Caio Gomez)

O governo do Brasil afirmou, em manifestação na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, nesta terça-feira (20), que a comunidade internacional não pode normalizar a ocupação de territórios na Palestina por Israel

 
por José Geraldo de Souza Júnior - Correio Braziliense
 
O governo do Brasil afirmou, em manifestação na Corte Internacional de Justiça, em Haia, na Holanda, nesta terça-feira (20), que a comunidade internacional não pode normalizar a ocupação de territórios na Palestina por Israel. No espaço das audiências públicas para ouvir a posição dos países-membros das Nações Unidas sobre os 56 anos de ocupação de Israel em territórios palestinos, que a CIJ realiza, a avaliação do Brasil busca interromper o curso de uma resposta unilateral de Israel que, descolada da via jurídica do direito internacional, acaba levando a uma ação não de força, mas de pura violência, "desproporcional e indiscriminada", que não expressa uma disposição de justiça e se cobre de finalidade geopolítica, neocolonial.
 

A intensidade da ação militar na região havia levado o presidente Lula a classificá-la como "genocídio", na esteira das preocupações lançadas pela CIJ, a ponto de comparar a ofensiva como equivalente àquela infringida aos judeus na Alemanha nazista. (https://www.cartacapital.com.br/mundo/mundo-nao-pode-normalizar-a-ocupacao-de-territorios-palestinos-por-israel-defende-o-brasil-em-haia/).

A manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita durante a 37ª Cúpula da União Africana, não foi um arroubo. Só a vê assim, aqueles que, por posicionamento ou tática política de mobilização de interesses e de alianças, estão de acordo com a prepotência da intervenção de força para concretizar hegemonias de qualquer matiz, estratégica, econômica ou ideológica. No local ou no global, acaba difundido uma narrativa que esconde a intencionalidade de suas razões, deslocando a objeção que deveria se dirigir ao argumento, para desqualificar o oponente.

Note-se que a manifestação não é a de uma voz isolada. O Vaticano pela palavra do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, também falou de uma resposta "desproporcional" em comparação com o ataque do Hamas. É preciso "parar a carnificina". O direito à defesa, o direito de Israel de garantir a justiça para os responsáveis pelo massacre de outubro, não pode justificar essa carnificina". (https://www.ihu.unisinos.br/636611-por-tras-das-frases-do-cardeal-parolin-tem-o-consentimento-de-francisco).

A posição do presidente Lula, desde o início do conflito, mantém-se coerente e firme, na chamada à mediação pelo direito internacional, como pela possibilidade mediadora de um conjunto de países, com assento na Assembleia-Geral, mas que não têm seus interesses estratégicos envolvidos na região e no conflito, ou em sua ideologia.

Em minha participação, juntamente com Cristovam Buarque — os dois únicos sul-americanos convidados e presentes no Colóquio Internacional de Argel - Encontro de Personalidades Independentes sobre o tema "Crise du Golfe: la Derive du Droit", instalado exatamente em 28 de fevereiro de 1991, dia do cessar-fogo na chamada Primeira Guerra do Golfo, o que procuramos foi indicar, a partir da premissa de convocação do Colóquio, que a crise coloca o direito à deriva, tendo perdido o seu rumo no trânsito ideológico entre a "historicidade constitutiva dos princípios que consignam a sua força e força mesma, representada como Direito porque formalizada como norma de Direito Internacional".

Já então, uma inquietação com o emprego hegemônico de razões de fato, para que, em qualquer caso, principalmente quando há nítida disparidade entre forças, inclusive militares, que se deixem arrastar por um pretenso "direito de violência ilimitada", cuja resultante "sugere a cessação da beligerância pelo aniquilamento inexorável de toda forma de vida". Minhas razões completas estão no texto A Crise do Golfo: a Deriva do Direito, in Sousa Júnior, José Geraldo de. Sociologia Jurídica: Condições Sociais e Possibilidades Teóricas. Porto Alegre: Sergio Fabris Editor, 2002, p. 133-144).

O que urge é "restaurar a humanidade incondicional em Gaza". Essa é afirmação de um médico sem fronteiras (https://www.msf.org/unconditional-humanity-needs-be-restored-gaza). O que assistimos aqui, diz ele, em matéria que me enviou o querido amigo Alessandro Candeas, o incansável e presente diplomata brasileiro, embaixador do Brasil na Palestina: é um "bombardeamento indiscriminado [que] tem de acabar. O nível flagrante de punição coletiva que está atualmente a ser aplicado ao povo de Gaza tem de acabar". É preciso "parar a carnificina". Resgatar o humano que se perde nesse drama. E restaurar a mediação dos verdadeiramente fortes, que confiam e aplicam a força cogente (Hannah Arendt) do direito internacional e dos direitos humanos.

20
Fev24

Em carta, Einstein denunciou o fascismo sionista em Israel em 1948

Talis Andrade

 

Albert Einstein durante aula em Viena, 1921. Foto: Ferdinand Schmutzer. Restaurada por Adam Cuerden.

 

Cientista ressaltou as práticas semelhantes entre o Partido da Liberdade israelense e o nazismo. Lula e jornalistas denunciam o genocídio em Gaza

26
Nov23

Poema para uma criança palestina

Talis Andrade

A “profecia” define o alvo: é preciso extirpar as crianças, todas elas, eliminar o futuro deste povo execrável, afinal, todos seus filhos são e serão inimigos. Em pungente poema, a Palestina vive no mito semita – em seu sacrifício, ressurreição e resistência

Foto: Muhhamad Abed/AFP






I

O soberano deita sua cabeça. O sono não vem.
Sabe que, naquele momento, pode estar sendo gestado,
Num útero de qualquer mulher do povo,
O ser que irá ameaçar seu poder.

O decreto é implacável. Mate todas as crianças.
A mãe prepara a cama do filho, em um cesto,
Coloca-o para flutuar.
Oxum a salva.

O soberano, da sacada do seu palácio, sente o cheiro de sangue.
Naquela noite, ele dormiu.
Trabalho feito.
Sente-se seguro no seu poder.
Todas as crianças foram mortas.
Não terá mais inimigos.

II

O destino do filho que a jovem mãe carrega,
Foi escrito no decreto imperial.
Ave, César!
Todos deviam ser registrados nos seus locais de nascimento.
O futuro pai, temendo pelos efeitos do descumprimento da ordem,
Se põe em marcha com a mulher grávida.

Durante a viagem, a criança nasce. 

Anos depois, a criança, que sobrevivera ao censo do Imperador,
Voltou a atormentar os sonhos dos soberanos.
Como ele ousou evocar para si o poder real que só a Roma cabia? 

III

Matem todos! Matem todas as pequenas cobras!
Outra vez, o soberano elege como inimigo as crianças.
E assim, Seti, o faraó egípcio, renasce.
Os corpos das crianças são espedaçados por bombas.

Será que o Seti moderno também escuta os gritos,
sente o cheiro de sangue?

Os bebês recém-nascidos lutam para sobreviver nas incubadoras.
São gentilmente transferidos para outro lugar,
Por homens de olhos fixos, passos firmes e cabeças baixas.
Nós testemunhamos.
Seti agora pode ver sua obra ser exibida ao mundo.
Não teria um Nilo para colocá-las?
Não teria uma manjedoura quente?
O herdeiro de Seti, Israel, repete a política do pai. 

Mate todos estes animais!
Determina o decreto do Seti moderno.

IV

Parem. Vocês escutam?
Afinem os ouvidos. Vocês escutam?
Choro de criança?
Um palestino acabou de nascer.
Como isto é possível?
Foi esta mulher ungida pela mensagem de algum anjo?
Seu marido, parente do menino de Belém, tornou-se prisioneiro de Seti.
Ele segue uma boa linhagem, tem sangue nobre:
Como David, foi preso por atirar pedras nos soldados de Seti. 

Como a vida surgiu no ventre daquela mulher?
Dizem que foi contrabando de sêmen.
Dizem que foi milagre.

Parem. Escutem.
Não é uma criança.
São duas. O choro que limpa seus pulmões,
Lava nossas almas.
A vida palestina seguirá.

25
Nov23

Cessar-fogo não pode ser pausa do genocídio contínuo. É necessário cessar a ocupação israelense da Palestina

Talis Andrade
 
 

 

Cessar-fogo não pode ser o interlúdio do genocídio palestino

É necessário um cessar da ocupação israelense da Palestina. O apartheid e a ocupação são perenes há 76 anos.

Fepal — Federação Árabe Palestina do Brasil

 

O que é um “cessar-fogo temporário”?

Um intervalo no genocídio realizado por “israel” na Palestina?

Uma pausa para recarregar as baterias e seguir o extermínio de pelo menos 5,8 mil crianças – outras 3,5 mil crianças desaparecidas – e 3,2 mil mulheres?

São mais de 12,7 mil palestinos assassinados; outros 4,5 mil, desaparecidos. Mais de 30 mil feridos.

Seria talvez um break antes de fazer mais milhares de feridos e mutilados?

Ou seria, quem sabe, o interlúdio da limpeza étnica antes de tornar o restante dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza refugiados novamente, como já são 73% deles desde 1948?

Não podemos seguir vendo e vivendo os crimes de “israel” contra a Palestina de tempo em tempo, a destruição de tempo em tempo, os cadáveres e escombros de tempo em tempo e aceitar que tudo se “resolve” com mais um cessar-fogo.

Não há o que comemorar se a matança de palestinos é quase tão sazonal quanto as estações do ano. Se o apartheid e ocupação são perenes há 76 anos.

Vamos celebrar a pausa de um genocídio continuado?

Seja em 4 dias ou daqui a um ano, vamos precisar clamar novamente por um “cessar-fogo temporário”, aguardando a próxima rodada do extermínio, que necessariamente virá, em seguida novo cessar-fogo, e assim renovar-se um ciclo vicioso que normaliza o genocídio continuado na Palestina e a metódica limpeza étnica?

Não. É necessário um cessar da ocupação israelense da Palestina e o fim de todos os crimes de guerra e de lesa-humanidade daí decorrentes.

Sem isso, a vida palestina seguirá a rotina interminável da destruição, que, depois de consumada, será interrompida por novo cessar-fogo.

“israel” obtém o sangue palestino que busca, inclusive para resolver seus problemas políticos domésticos, e um cessar-fogo, que garante sua impunidade, é louvado e aplaudido. Os crimes de “israel” é que precisam cessar, não meramente sua fúria genocida momentânea, até que venha a próxima.

Assim, é preciso dar fim a este ciclo vicioso. Novas agressões e novos e inúteis cessar-fogo só terão fim na cena Palestina quando “israel” sofrer as consequências de seus atos.

A Comunidade Internacional deve assumir suas responsabilidades e impor a “israel” total obediência às resoluções da ONU, ao Direito Internacional, bem como garantir proteção internacional ao povo palestino.

Que esse “cessar-fogo temporário” seja de alívio às necessidades urgentes do povo palestino em mais esse capítulo do genocídio e da limpeza étnica programada por “israel”.

Mas que seja também o primeiro passo para que a Comunidade Internacional comece de fato a olhar para povo palestino. Que se comece a enxergar o que é o sionismo e o que faz o sionismo.

Não há espaço para uma ideologia racista, supremacista, colonial e violenta em pleno século XXI.

Não há espaço para um genocídio em 2023. Não é mais possível conviver com o apartheid e a ocupação em nosso tempo.

17
Nov23

Apagar a Palestina

Talis Andrade
Ao final, Gaza, como o Gueto de Varsóvia, será inabitável. Mas “exterminar todos os bárbaros” vai além de Hitler e de Netanyahu. Sua origem está nas guerras coloniais que o Ocidente faz há cinco séculos, em nome de sua “civilização”

 

Por Chris Hedges para Mint Press News | Tradução: Maurício Ayer | Imagem: Hannibal Hanschke/EPA

Eu era repórter do New York Times, durante o cerco a Sarajevo. Nunca enfrentamos o nível de bombardeamento de saturação e o bloqueio quase total de alimentos, água, combustível e medicamentos que Israel impôs a Gaza. Nunca tivemos de suportar centenas de mortos e feridos por dia. Nunca enfrentamos a cumplicidade da comunidade internacional com a campanha sérvia de genocídio. Nunca suportamos a intervenção de Washington para bloquear resoluções de cessar-fogo. Nunca enfrentamos carregamentos maciços de armas dos EUA e de outros países ocidentais para sustentar o cerco. Nunca enfrentamos que notícias provenientes de Sarajevo fossem sistematicamente desacreditadas e rejeitadas pela comunidade internacional, embora 25 jornalistas tenham sido mortos na guerra pelas forças sérvias sitiantes. Nunca toleramos que os governos ocidentais justificassem o cerco como o direito dos sérvios de se defenderem, embora as forças de manutenção da paz da ONU enviadas para a Bósnia tenham sido em grande parte um gesto de relações públicas, ineficazes para travar a matança até serem forçadas a responder aos massacres que tiraram a vida de 8 mil homens e meninos bósnios em Srebrenica.

Não pretendo minimizar o horror do cerco de Sarajevo, que me dá pesadelos quase três décadas depois. Mas o que sofremos – trezentos a quatrocentos bombardeamentos por dia, quatro a cinco mortos por dia e duas dúzias de feridos por dia – é uma pequena fração da morte e destruição em massa em Gaza. O cerco israelense a Gaza assemelha-se mais ao ataque da Wehrmacht [as forças armadas alemães durante o cerco nazista] a Stalingrado, em que mais de 90% dos edifícios da cidade foram destruídos, do que a Sarajevo.

Na sexta-feira, a Faixa de Gaza teve toda a sua comunicação cortada. Ficaram sem internet. Sem serviço telefônico. Sem eletricidade. O objetivo de Israel é perpetrar o assassinato de dezenas, provavelmente centenas de milhares de palestinos e fazer a limpeza étnica daqueles que sobreviverem em campos de refugiados no Egito. Trata-se de uma tentativa de Israel de apagar não apenas o povo, mas a ideia da Palestina. É um cópia das campanhas maciças de massacre racializado levadas a cabo por outros projetos de colonização que acreditavam que a violência indiscriminada e generalizada poderia fazer desaparecer as aspirações de um povo oprimido, cujas terras roubaram. E tal como outros autores de genocídio, Israel pretende mantê-lo escondido.

A campanha de bombardeamento de Israel matou mais de 7.300 palestinos, quase metade dos quais crianças, juntamente com 26 jornalistas, profissionais de saúde, professores e funcionários das Nações Unidas. Cerca de 1,4 milhão de palestinos em Gaza foram deslocados, e cerca de 600 mil estão desabrigados. Mesquitas, 120 instalações de saúde, ambulâncias, escolas, blocos de apartamentos, supermercados, estações de tratamento de água e esgoto e centrais elétricas foram reduzidos a escombros. Hospitais e clínicas, sem combustível, medicamentos e eletricidade, foram bombardeadas ou estão fechadas. A água limpa está acabando. Gaza, no final da campanha de terra arrasada de Israel, será inabitável, uma tática que os nazistas empregavam regularmente quando enfrentavam a resistência armada, incluindo no Gueto de Varsóvia e, mais tarde, na própria Varsóvia. Quando Israel terminar, Gaza, ou pelo menos Gaza como a conhecíamos, não existirá.

Não só as táticas são as mesmas, também a retórica é igual. Os palestinos são chamados de animais, bestas e nazistas. Eles não têm o direito de existir. Seus filhos não têm o direito de existir. Eles devem ser extirpados da terra.

O extermínio daqueles cujas terras roubamos, cujos recursos saqueamos e cujo trabalho exploramos está codificado no nosso DNA. Pergunte aos nativos americanos. Pergunte aos indígenas. Pergunte aos congoleses. Pergunte aos Kikuyu no Quênia. Pergunte aos Herero na Namíbia que, tal como os Palestinos em Gaza, foram baleados e levados para campos de concentração no deserto, onde morreram de fome e doenças. Oitenta mil deles. Pergunte aos iraquianos. Pergunte aos afegãos. Pergunte aos sírios. Pergunte aos curdos. Pergunte aos líbios. Pergunte aos povos indígenas em todo o mundo. Eles sabem quem somos.

A face distorcida da invasão colonial de Israel pertence a nós. Nós fingimos ser outra coisa. Atribuímos a nós próprios virtudes e qualidades civilizatórias que são, como em Israel, justificativas frágeis para privar um povo ocupado e sitiado dos seus direitos, confiscando as suas terras e recorrendo à prisão prolongada, à tortura, à humilhação, à pobreza forçada e ao assassinato para mantê-los subjugados.

O nosso passado, incluindo o nosso passado recente no Oriente Médio, baseia-se na ideia de subjugar ou exterminar as raças “inferiores” da terra. Damos a essas raças “inferiores” nomes que personificam o mal. Estado Islâmico. Al Qaeda. Hezbolá. Hamas. Usamos insultos racistas para desumanizá-los. “Haji” “Sand Nigger” “Camel Jockey”, “Ali Baba”, “Dung Shoveler”. E então, porque eles personificam o mal, porque eles são menos que humanos, sentimos ter uma licença para – como disse Nissim Vaturi, membro do parlamento israelense pelo Likud, partido do governo – apagar “a Faixa de Gaza da face da terra”.

Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro de Israel, em entrevista à Sky Newsem 12 de outubro, disse, “Estamos lutando contra os nazistas” – em outras palavras, contra o mal absoluto.

Para não ficar atrás, primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, numa coletiva de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz, descreveu o Hamas como “os novos nazistas”.

Pense sobre isso. Um povo, preso no maior campo de concentração do mundo durante 16 anos, a quem foi negada comida, água, combustível e medicamentos. Sem exército, força aérea, marinha, unidades mecanizadas, artilharia, comando e controle e baterias de mísseis, que está sendo massacrado e submetido à fome por uma das forças militares mais avançadas do planeta – e eles são os nazistas?

Há uma analogia histórica aqui. Mas não é algo que Bennett, Netanyahu ou qualquer outro líder israelita queira reconhecer.

Quando aqueles que estão ocupados se recusam a se submeter, quando continuam a resistir, abandonamos toda a pretensão da nossa missão “civilizadora” e desencadeamos, como em Gaza, uma orgia de massacre e destruição. Ficamos bêbados de violência. Essa violência nos deixa loucos. Matamos com ferocidade sem limites. Tornamo-nos as feras que acusamos os oprimidos de serem. Expomos a mentira da nossa alardeada superioridade moral. Expomos a verdade fundamental sobre a civilização ocidental: somos os assassinos mais implacáveis ​​e eficientes do planeta. Só por isso dominamos os “miseráveis ​​da terra”. Não tem nada a ver com democracia ou liberdade. Estes são direitos que nunca pretendemos conceder aos oprimidos.

“Honra, justiça, compaixão e liberdade são ideias que não têm adeptos”, lembra-nos Joseph Conrad, autor de No coração das trevas. “Só existem pessoas, sem conhecimento, compreensão ou sentimentos, que se intoxicam com palavras, repetem palavras, gritam-nas, imaginando que acreditam nelas sem acreditar em mais nada senão no lucro, na vantagem pessoal e na própria satisfação.”

O genocídio está no cerne do imperialismo ocidental. Não é exclusivo de Israel. Não é exclusivo dos nazistas. É o alicerce da dominação ocidental. Os partidários do “intervencionismo humanitário” que insistem que devemos bombardear e ocupar outras nações porque somos a encarnação da bondade – embora promovam a intervenção militar apenas quando esta é percebida como sendo do nosso interesse nacional – são idiotas úteis da máquina de guerra e do imperialismo global. Eles vivem em um conto de fadas de Alice no País das Maravilhas, onde os rios de sangue que geramos tornam o mundo um lugar melhor e mais feliz. Eles são os rostos sorridentes do genocídio. Você pode assisti-los em suas telas. Você pode ouvi-los proclamar sua pseudomoralidade na Casa Branca e no Congresso. Eles estão sempre errados. E eles nunca vão embora.

Talvez sejamos enganados pelas nossas próprias mentiras, mas a maior parte do mundo nos vê – a nós e a Israel – com clareza. Eles entendem nossas tendências genocidas, classificam a hipocrisia e a justiça própria. Eles veem que os palestinos – em grande parte sem amigos, sem poder, forçados a viver em campos de refugiados miseráveis ​​ou na diáspora, privados da sua pátria e eternamente perseguidos – sofrem o tipo de destino outrora reservado aos judeus. Esta, talvez, seja a ironia trágica final. Aqueles que anteriormente necessitaram de proteção contra o genocídio, agora, cometem-no.

12
Nov23

Carta a uma amiga sionista

Talis Andrade

por Marcia Tiburi

Percebi que suas redes sociais deram um salto em número de seguidores desde que você começou sua intensa campanha sionista.

Sempre ouvi seus argumentos sobre a existência de um Estado de Israel, com a escuta que se deve aos amigos.

A princípio não sou contra os Estados, desde que a religião fique de fora disso.

Percebendo sua angústia, incentivei que você conversasse sobre o tema com pessoas que entendiam mais do assunto do que eu, por ex., uma amiga jornalista que cobre a questão Palestina há 30 anos. Você apenas disse que “esse tipo de judeu é anti-judeu” e não quis o encontro.

Eu fiquei preocupada. Vi que você caminhava para o fanatismo.

Lembro de uma tarde em que você me visitou angustiada e que tivemos uma boa conversa na qual, com muito cuidado para não te magoar, tentei sugerir que você evitasse clichês tais como o “islamo-gauchiste”, ou “esquerdo-islamismo”, para se referir a mim.

Eu não me ofendi quando você me criticou como islamista identitária.

Passei a vida estudando pensadores judeus e convidei você para fazermos um grupo de estudos, esperando criar espaço para aprofundar questões, mas você alegou não ter tempo. Já não era possível conversar sobre temas da vida sem medo da sua reação. Ao mesmo tempo, via amigos em comum constrangidos perguntando o que havia acontecido com você.

Lembro que você demorou a decidir votar em Lula e não tenha visto as afinidades entre Bolsonaro e Netanyahu.

Então, há dias, você me mandou mensagens de voz dizendo que não havia lido nenhuma postagem minha sobre os ataques a Israel. Eu também não havia postado sobre os ataques à Palestina. Percebi que estava sendo vigiada e que você fazia parte da polícia linguística.

Eu te enviei meu texto sobre Gaza/Auschwitz. Você me definiu como uma “petista defensora do Hamas”, logo eu que acho o Hamas um bando de machistas amantes da guerra.

Você avisou que não falaríamos mais. Eu falei que você não tinha o direito de exigir de mim uma postura sionista. Você me bloqueou. Queria que você pudesse ver que o ataque do Hamas a Israel, a morte e o sequestro dos israelenses é tão horrível quando é tenebroso o genocídio que o Estado de Israel move contra o povo palestino.

09
Nov23

O embaixador de Israel e a deputada alemã herdeira do partido nazista na Alemanha

Talis Andrade

bandeira simbolo nazista .jpg

Manifestantes bolsonaristas pela intervenção militar, que teve em 8 de janeiro último mais uma tentativa de golpe, com a invasão do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto, para implantar uma ditadura militar da extrema direita.

 

Governo vê embaixador de Israel em 'rota equivocada' após ato com Bolsonaro

 

por Daniela Lima

A decisão do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, de desembarcar nesta quarta (8) no Congresso para um ato com o ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns parlamentares de extrema direita foi interpretada pelo governo Lula como uma evidente provocação --mas não suscitará uma resposta imediata.

Daniel já foi chamado a prestar esclarecimentos ao Palácio do Itamaraty por declarações polêmicas ou equivocadas por ao menos três vezes, mas mantém o que diplomadas e auxiliares do presidente definem como "uma rota absolutamente equivocada".

O desconforto é tal que muitos avaliam, internamente, no Planalto, que ele "não é interlocutor" para essa crise.

A ordem, porém, é não responder com o fígado, emocionalmente.

Até que o grupo de 34 pessoas que tentam deixar Gaza desembarque no Brasil, a ordem é por pragmatismo.

O ministro Mauro Vieira (Relações Internacionais) enviou contato ao seu contraparte em Israel ontem, cobrando novamente uma posição sobre a saída dos brasileiros. A promessa, feita diretamente a Vieira, era a de liberação do grupo ontem, o que não aconteceu.

 

Publicação da deputada de extrema-direita Beatrix von Storch com o presidente Jair Bolsonaro — Foto: Instagram/Reprodução

Publicação da deputada de extrema-direita Beatrix von Storch com o presidente Jair Bolsonaro. Beatrix von Storch é líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD); avô foi ministro de Hitler por 12 anos. Deputada foi recebida no Palácio do Planalto.

Na visita ao Brasil, a deputada de extrema-direita também foi recebida pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes.

A parlamentar alemã ainda teve reuniões com os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.

Beatrix faz selfie com Eduardo Bolsonaro

Além de se reunir com o presidente brasileiro, von Storch esteve com os deputados Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis

 

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) e o Museu do Holocausto criticaram na semana passada os encontros de Von Storch com Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis.

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A Conib lamentou a recepção a representante da AfD, pois “trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto”.

O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista”, disse a confederação em nota.

O Museu do Holocausto, ao comentar uma publicação de Bia Kicis nas redes sociais, citou que Von Storch é neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro nazista das Finanças, e afirmou que a AfD apresenta “tendências racistas, sexistas, islamofóbicas, antissemitas, xenófobas e forte discurso anti-imigração”.

"É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia", publicou o Museu do Holocausto.

Jair Bolsonaro e Daniel Zonshine
Jair Bolsonaro e Daniel Zonshine 

por Alex Solnix

Embaixador tem que se reunir com o governo do país em que serve, não com a oposição.

É inaceitável e imperdoável o encontro do embaixador de Israel com Jair Bolsonaro, um ex-presidente inelegível, acusado de vários crimes e que faz oposição hostil ao governo Lula.

Municiar Bolsonaro com argumentos para atacar Lula é a última coisa que esse embaixador deveria pensar em fazer.

E deve ser a última mesmo. O governo deveria considerá-lo persona non grata e exigir sua expulsão do país.

Tirem esse embaixador! 

08
Nov23

Palestinos relatam cheiro de morte, cirurgias sem anestesia e valas comuns após um mês de bombardeios de Israel contra Gaza

Talis Andrade
 
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07
Nov23

O Brasil vai romper acordos com Israel?

Talis Andrade

Por Altamiro Borges

Na semana passada, mais de 40 movimentos sociais e entidades da sociedade civil encaminharam ao governo Lula um manifesto propondo que o Brasil rompa com acordos firmados recentemente com o Estado terrorista de Israel. Entre eles, estão dois projetos assinados durante as trevas de Jair Bolsonaro, que versam sobre a cooperação entre os dois países para as áreas de segurança e serviços aéreos, e um terceiro, firmado durante a gestão do golpista Michel Temer, que trata do acesso ao sistema previdenciário de residentes de ambos países. 

Os três projetos foram aprovados pela Câmara dos Deputados no início de outubro, antes do início da ofensiva israelense de genocídio do povo palestino e ainda dependem da apreciação do Senado. O manifesto contra os acordos é assinado pela articulação internacional BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Movimento Negro Unificado (MNU), entre outros. 

 

A cumplicidade com os crimes contra a humanidade

“Esses acordos aprofundam a cumplicidade do Brasil com os crimes contra a humanidade perpetrados por Israel e dão aval para que o apartheid e o genocídio continuem... Urgimos ao presidente Lula que denuncie os acordos firmados por Bolsonaro com o apartheid israelense. Dado que os crimes contra a humanidade cometidos por Israel se nutrem da cumplicidade internacional, revogar estes instrumentos é fundamental para contribuirmos de fato com a paz, os direitos humanos e o direito internacional”, enfatiza o manifesto. 

O documento defende um cessar-fogo imediato na guerra, a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza e que o Brasil e países de todo o mundo pleiteiem um embargo militar contra o Estado sionista. “Há 75 anos, Israel implementa uma política de limpeza étnica contínua, impondo um regime de apartheid a todo o povo palestino e ocupando e colonizando seu território. Não podemos aceitar que táticas e tecnologias desenvolvidas pelo apartheid israelense sigam sendo exportadas normalmente”. 



Postura pouco ousada do governo Lula

Até agora, o governo Lula tem adotado uma política externa de não confronto com os terroristas de Israel. Nos fóruns internacionais, especialmente na Organização das Nações Unidas (ONU), defendeu o cessar-fogo e a criação de corredores humanitários para a retirada de civis e envio de alimentos e medicamentos. O presidente Lula até endureceu seu discurso, afirmando que o que ocorre em Gaza “não é uma guerra, mas um genocídio”. O governo também foi exemplar nos esforços para a repatriação de brasileiros das áreas de conflito. 

Essa conduta, porém, está bem aquém de outras adotadas na própria América do Sul. Na semana passada, por exemplo, o governo boliviano, liderado por Luís Arce, foi bem mais ousado. “A Bolívia decidiu romper relações diplomáticas com o Estado de Israel em repúdio e condenação à agressiva e desproporcional ofensiva militar israelense, que está sendo levada a cabo na Faixa de Gaza”, anunciou o vice-ministro das Relações Exteriores. Já o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, retirou o embaixador em Tel Aviv. “Se Israel não parar o massacre do povo palestino, não poderemos estar lá”, disse. E até o mandatário do Chile, Gabriel Boric, tomou a mesma atitude contra “as violações inaceitáveis do Direito Internacional Humanitário que Israel cometeu em Gaza”.

A esquerda tem medo de Israel?

 
 

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