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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

07
Abr23

Neonazismo explodiu no Brasil com Bolsonaro

Talis Andrade
www.brasil247.com -

 

Brasil encontrou em Jair Bolsonaro um sintetizador do ódio, divulgador em larga escala do sentimento que esteve presente no âmago de uma parte da população

 

por Aquiles Lins

O massacre realizado em Blumenau nessa quarta-feira (5), onde um homem de 25 anos invadiu uma creche e assassinou quatro crianças entre quatro e sete anos, e deixou outras quatro feridas, é um reflexo da estimulação do ódio promovida durante os últimos quatro anos, sob o governo de Jair Bolsonaro. 

O Brasil é hoje o país no mundo onde mais cresce o número de grupos identificados com ideologias de extrema direita como fascismo e nazismo. O número de células neonazistas se multiplicou no país: passou de 72 em 2015 para 1.117 em 2022. A maioria está concentrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, segundo monitoramento feito pela antropóloga Adriana Dias, doutora pela Unicamp e uma das maiores pesquisadoras sobre o tema no Brasil. 

Na primeira metade do século XX, o Brasil foi sede da maior filial do partido nazista fora da Alemanha, com 3.000 membros. Isso explica em parte o aumento das manifestações de ódio no Brasil, um país miscigenado por excelência onde pequenos grupos que espalham tentam emular uma superioridade racial e muitas de gênero. O nazismo é punido no país com base na Lei de Crimes Raciais, e a pena pode chegar a cinco anos de prisão. 

Obviamente não podemos descartar o crescimento das manifestações de ódio com o cenário internacional. Em vários países do mundo, como Estados Unidos, Alemanha, Hungria, Polônia, Ucrânia e vários outros países da União Europeia registram grupos de extrema-direita. No Brasil, que, desde sua constituição enquanto território pela Europa, é palco de exploração baseada na raça, encontrou em Jair Bolsonaro um sintetizador do ódio, um divulgador em larga escala de um sentimento que esteve presente no âmago de uma parte da população. 

O crescimento da extrema-direita não é passageiro. Apesar de necessário, o reforço no patrulhamento escolar anunciado pelo governo Lula é uma medida paliativa, que não surte efeitos estruturais no combate à disseminação do ódio e do neonazismo bolsonarista. 

O combate deve envolver diversos setores do governo federal, de estados, municípios, plataformas de redes digitais e organizações da sociedade civil. Inclusive o capital financeiro. Enquanto este segmento, inclusive, seguir flertando com fascismo, a luta no Brasil será cada vez mais árdua, com muitas mortes a mais. 

aroeira nazista bolsonaro.jpeg

16
Set22

Faça como Ciro em 2018 pregue o voto útil para o Brasil livre das ameaças golpistas

Talis Andrade

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Bernardo Mello Franco
@BernardoMF
Ciro Gomes está nervoso. Na reta final da campanha, o candidato do PDT lançou uma cruzada contra o voto útil. Há quatro anos, ele defendia essa opção em causa própria

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31
Mar22

Lição de Democracia e Liberdade e Fraternidade para quem conspira o golpe, trama a ditadura, a tortura, o exílio e o fuzilamento do inimigo

Talis Andrade

 

Em solidariedade a Aroeira, artistas recriam sua charge sobre Bolsonaro e lançam abaixo assinado 

 

por Mônica Nunes /Conexa o Planeta

Charges, cartoons e ilustrações produzidos com talento traduzem muito bem – e com grande efeito – a realidade. E os artistas que se dedicam à essa arte – do desenho, da boa leitura e da interpretação dos fatos – têm nos ajudado a enfrentar o cenário inóspito e cada vez mais tenebroso promovido por Bolsonaro desde que assumiu o governo, em janeiro de 2019.

São um alento ou uma provocação contra a inércia como as charges criadas por Renato Aroeira, um dos mais importantes artistas brasileiros desse tipo de manifestação artística, que, esta semana, foi alvo de mais uma arbitrariedade cometida pelo ministro da justiça, André Luiz Mendonça, ex-Advogado Geral da União que assumiu a vaga deixada por Sergio Moro em abril. Tudo por causa da charge abaixo:

Angeli

Com a charge “polêmica”, Aroeira criticou a declaração de Bolsonaro que incitava seus seguidores a invadirem e filmarem hospitais, alegando que não falta estrutura para atender os pacientes com covid-19 (pelo menos dois casos de invasão foram registrados). Ela foi publicada no site Brasil 247 e reproduzida pelo jornalista Ricardo Noblat (em seu Twitter), que também foi incluído na investigação.

Rapidamente, uma onda de solidariedade uniu chargistas, escritores e jornalistas e invadiu as redes sociais com um movimento que ganhou o nome de #somostodosaroeira. Foi criado um abaixo assinado online  Pela liberdade de expressão, em solidariedade ao cartunista Aroeira – que, no mesmo dia, já reunia mais de 10 mil assinaturas e, no terceiro dia, já chegou à meta de 75 mil, que foi aumentada para 150 mil. Assina, lá!

Mas o movimento não ficou restrito à petição. Cerca de 70 chargistas do Brasil e do exterior começaram a publicar releituras da charge de Aroeira. Cada um, com seu estilo, reproduziu o desenho e assinou com o artista. Ou seja, o movimento em resposta à ameaça de Mendonca, produzirá cerca de 70 desenhos parecidos. Pois é… o governo vai abrir inquérito contra todos, agora?

“Estão fazendo uma coisa maravilhosa, que eu nunca tinha visto… Fiquei muito emocionado com isso”, declarou Aroeira ao colunista Chico Alves, do UOL. “É bobagem brigar com gente que só estava fazendo piada. Porque rindo você castiga com uma força, rapaz…”.

Gladson Targa

Nessa conversa, ele destaca uma característica intrínseca dos chargistas, que somente as pessoas obtusas não conseguem entender. O fio condutor que os move é o desrespeito. Por excelência. O objetivo é ridicularizar. “A gente mostra que aquela atitude que todo mundo está achando pomposa, circunspecta e séria, na verdade, é uma calhordice ridícula. É como se disséssemos: a sua anágua está aparecendo. Mostramos a roupa íntima, a bunda… o rei está nu. A gente é desrespeitoso por natureza”.

Aroeira lembra também que a maioria desses profissionais é humanista e, por isso, cada vez mais, bate nos opressores e não nos oprimidos, como antes. Para ele, os oprimidos mudaram sua atitude e estão mudando o mundo. E, nesse cenário, a charge pode funcionar como uma “força auxiliar”. Ele explica: “A gente ajuda as pessoas a rirem, a apontarem para o inimigo e rirem dele, ridicularizá-lo, ajudamos a fazer uma catarse ou outra, que é sempre bom”.

E a charge continua…

Latuff

Todas as reproduções e releituras da charge de Aroeira têm sido identificadas pelos artistas com a frase Charge Continuada. Exceto as que foram criadas para criticar a atitude de Mendonça ou se utilizam do tema com outro viés que não o de copiar o que foi feito por ele, como a de Angeli (que reproduzi mais acima), Latuff, Nando Motta e Quinho.

Quinho (acima e abaixo)

E, apesar do incomodo que causou a ameaça de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, Aroeira não vai “dar um tempo”. Ele revelou que já está fazendo a continuação da charge de Bolsonaro nazista: “É a mesma charge, só que agora com o ministro da Justiça e o Wajngarten, da Secom, passando pano e limpando a sujeira que o Bolsonaro tinha feito”, contou à Alves.

Do ponto de vista político, Aroeira considera a atitude do ministro como “um baita tiro no pé” já que deu à sua charge muito mais visibilidade do que se tivesse ficado restrita ao site Brasil 247 e ao twitter de Noblat.

Para rebater a acusação de calúnia, citou a atitude de Picasso quando foi abordado por um oficial nazista em frente à tela Guernica. ‘Você fez isso?’. E o pintor espanhol respondeu: ‘Não, vocês fizeram’. Então, parafraseando Picasso, se Aroeira fosse abordado por Bolsonaro e perguntasse se, com a charge polêmica, ele o estava chamando de nazista, o artista responderia: ‘Não, você próprio se chamou de nazista. Eu só desenhei’. Perfeito.

A maior besta

Durante as campanhas para a eleição presidencial de 2018, uma charge de Aroeira, de 1993, se espalhou pelas redes, talvez como um apelo bem humorado e perspicaz para que os incautos observassem quem era, de fato, aquele que estava sendo apontado como a salvação da Pátria.

O artista desenhou Bolsonaro como uma espécie de dinossauro usando botas de militar nas quatro patas e o chamou de Estupidossauro Bolsonarus: a maior besta que já caminhou sobre a face da Terra. Na época, o atual presidente era um medíocre deputado federal que já falava em fechar o Congresso Nacional e entregar o governo aos militares. Só mudou de cargo.

A campanha não surtiu efeito, é verdade. Nem mesmo a divulgação de vídeos de entrevistas em que Bolsonaro dizia, em alto e bom som, que a ditadura militar foi incompetente porque deveria ter matado uns 30 mil – só a COVID-19, devido principalmente à inépcia de seu governo, já matou 43 mil pessoas! – e dizimado os indigenas como os americanos, demoveu 38% dos brasileiros da ideia de votar nesse cara.

Muita gente chegou a dizer que ele estava brincando quando dizia essas sandices. Outros argumentavam com a justificativa de que, pelo menos, ele era sincero. Viram o que quiseram e, junto com aqueles que se omitiram nas eleições (votaram em branco e nulo), colocaram os brasileiros nas mãos de um facínora.

Então, um viva aos chargistas, cartunistas e ilustradores que, todos os dias – em jornais, sites e redes sociais -, nos ajudam a driblar o desespero e a nos fortalecer para continuar lutando por democracia, por liberdade e pela vida!

Fontes: UOL, Folha de São Paulo, Correio Brasiliense, Twitter Noblat

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.

 

20
Fev22

Senadores da CPI do Genocídio: Aras é “subserviente a Bolsonaro” e tenta “acobertar os criminosos”

Talis Andrade

augusto aras.jpeg

 

 

Redação Hora do Povo

Os senadores da CPI da Covid voltaram a rebater as declarações do procurador-geral da República, Augusto Aras. Em nota, 13 senadores que integraram a CPI e contribuíram com as investigações desmontam as farsas do procurador-geral da República.

Mais de 100 dias após a conclusão dos trabalhos da CPI do Senado, com um substancial relatório final apontando os crimes do governo Bolsonaro na pandemia, a Procuradoria-Geral da República não abriu nenhum inquérito para dar seguimento às conclusões da comissão.

Augusto Aras, escolhido a dedo por Bolsonaro para ocupar o cargo, alega, para justificar sua inércia, que o relatório final da CPI “não atendia aos requisitos legais”, por supostamente não apontar a ‘devida correlação entre cada fato típico praticado e os documentos pertinentes’.

 “O que, além de embaraçar o trabalho do Ministério Público Federal, poderia prejudicar o exercício da ampla defesa e do contraditório”, diz um trecho da manifestação da PGR.

A CPI rebate e afirma, em nota, que Augusto Aras “faz mais uma tentativa para ludibriar os brasileiros, ofuscar sua inércia diante do relatório da CPI e sua disposição para acobertar os criminosos desse morticínio”.

O relatório final da CPI da Pandemia concluiu que Jair Bolsonaro cometeu nove crimes durante a pandemia. São eles: 1) epidemia com resultado morte; 2) infração de medida sanitária preventiva; 3) charlatanismo; 4) incitação ao crime; 5) falsificação de documento particular; 6) emprego irregular de verbas públicas; 7) prevaricação; 8) crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos; e 9) violação de direito social.

A CPI pediu ainda o indiciamento de ministros, ex-ministros, filhos do presidente da República, deputados federais, médicos, empresários, do governador do Amazonas, Wilson Lima, e de duas empresas que firmaram contrato com o Ministério da Saúde (Precisa Medicamentos e VTCLog).Charge: Passando a mão. Por Aroeira

Nota Pública

Evitar sanha de Aras pela impunidade tenha êxito 

O procurador Augusto Aras faz mais uma tentativa para ludibriar os brasileiros, ofuscar sua inércia diante do relatório da CPI e sua disposição para acobertar os criminosos desse morticínio. 

A CPI reitera que todas as provas foram enviadas ao Ministério Público Federal, os documentos probatórios são fartos e estão em poder do PGR há mais de 100 dias. 

Destacamos ainda que o último envio de provas - o terceiro desde o encerrando da comissão - foi realizado também via Supremo Tribunal Federal. 

É uma forma de garantir transparência, levar ao conhecimento dos ministros todas as provas já enviadas ao PGR e evitar que a sanha de Aras pela impunidade tenha êxito. 

Mais uma vez, reafirmamos aos brasileiros que seguiremos firmes em busca de justiça e reparação às mais de 640 mil vítimas.

Omar Aziz

Randolfe Rodrigues

Renan Calheiros

Otto Alencar

Humberto Costa

Fabiano Contarato

Eliziane Gama

Simone Tebet

Tasso Jereissati

Zenaide Maia

Alessandro Vieira

Rogério Carvalho

Jean Paul Prates

Senadores da República e membros da CPI

TRIBUNA DA INTERNET | Investigações abertas por Aras contra o clã Bolsonaro  e o alto escalão não saem do lugar ou são arquivadas

Augusto Aras “é a página mais triste do Ministério Público”

 

Em outra nota, a cúpula da CPI afirmou que entregou um “vasto conjunto probatório” e que o Ministério Público Federal “protela, sem qualquer justificativa republicana, a etapa de abertura dos inquéritos criminais para que se possa aprofundar as investigações”.

“A Procuradoria-Geral da República, nesta sexta-feira (18), demonstrou mais uma vez a sua subserviência ao Presidente da República e seu descaso com a apuração dos graves crimes revelados pela CPI da Pandemia da Covid-19. Além de prevaricar no seu dever constitucional, a PGR falta com a verdade em sua nota”, rebatem os senadores.

Na quinta-feira (17), a CPI entregou documentos adicionais ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Augusto Aras é um aliado de Bolsonaro e tem tomado decisões para impedir investigações contra ele. Aras foi escolhido por Bolsonaro por fora da lista tríplice organizada pelos procuradores da República.

Na quinta-feira e na sexta-feira, Aras recomendou ao STF o arquivamento de dois inquéritos que investigam crimes de Bolsonaro. 

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado e que foi vice-presidente da CPI, afirmou no sábado (19), que Augusto Aras “é a página mais triste do Ministério Público”. “O comportamento dele para arquivar é antagônico ao comportamento dele em relação aos documentos da CPI. Está há 100 dias protelando qualquer ato em relação à CPI, encontrando desculpa atrás de desculpa. Para arquivar, ele toma decisão liminar, mesmo com fartas provas”, denunciou o senador.

A declaração de Randolfe se deu logo após Aras propor o arquivamento da investigação de prevaricação de Bolsonaro no escândalo da compra ilegal da vacina indiana Covaxin.

Aras também pediu para arquivar o inquérito em que Bolsonaro é investigado por vazar dados sigilosos, da investigação de um ataque hacker contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Indefensável | A Gazeta

04
Nov21

O indiciamento do presidente por crimes contra a humanidade

Talis Andrade

beijo morte.jpg

 

 

por Marcelo Semer

O presidente da República está prestes a ser indiciado pelo cometimento de diversos delitos, inclusive crimes contra a humanidade, pela intencional e desastrada condução das políticas públicas em face da pandemia do coronavírus, que levaram o país ao podium mundial de mortos, com mais de seiscentas mil vidas perdidas. 

Até agora, Bolsonaro tem sido beneficiado por um conjunto de diques de contenção: de um lado, o Procurador Geral da República, escolhido a dedo, fora das indicações da carreira, e que tem levado o Ministério Público Federal, sempre tão combativo, ao silêncio, quando não à defesa do próprio governo; de outro, o presidente da Câmara dos Deputados, a quem aliou-se politicamente, mediante a concessão de cargos e verbas, que mantém devidamente engavetados dezenas de pedidos de abertura de impeachment. 

Outros presidentes não tiveram a mesma sorte: Michel Temer chegou a ser denunciado criminalmente pelo então procurador-geral Rodrigo Janot; Dilma Roussef sofreu a vindita do deputado Eduardo Cunha (afastado e condenado pela Justiça e por seus pares, mas só depois de comandar o impeachment) e Fernando Collor de Mello sofreu tanto o processo político quanto o criminal. 

Enfim, com um relatório altamente fundamentado, depois de seis meses de funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, que ouviu mais de 60 pessoas, e nutrido por consistentes pareceres jurídicos, as acusações contra Jair Bolsonaro são em gênero, número e grau, muito mais lesivas e impactantes do que as que suportaram seus antecessores. 

É hora, então, de se aguardar para saber se, afinal de contas, as instituições permanecem mesmo funcionando. Ou se o sistema político-jurídico de blindagem vai jogar as mais sérias imputações até então deduzidas contra um presidente da República para debaixo do tapete. E se a mídia, que tanto se escandaliza com gastos além do teto, apontará, com igual destaque, a indignidade dos omissos.

O que se apurou em meses de comissão parlamentar, e paralelamente em fundados estudos a ela encaminhados, como por exemplo o do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP coordenado pelos professores Deisy Ventura e Fernando Aith, é que os drásticos resultados da pandemia no país decorreram de opções políticas tomadas pessoalmente pelo presidente da República. 

Assim, as enormes dificuldades para a efetivação do isolamento social por aqui foram consequências diretas do esforço em sentido contrário empreendido por Jair Bolsonaro, seja na edição de decretos que buscaram liberar atividades comerciais ao máximo, seja pela luta política e jurídica contra as medidas de isolamento nos Estados, seja no exemplo quase cotidiano do presidente, ele mesmo, sem intermediários, promovendo aglomerações à sua volta. 

O uso de máscara, talvez a mais bem sucedida das profilaxias não farmacológicas contra a disseminação do vírus, foi bombardeado diuturnamente pelo presidente, que: não a usava na maioria de seus eventos políticos (tanto que restou autuado em diversos deles); criticava sua eficácia, com base em fake news (como a live em que sugeria ser o apetrecho responsável pela redução da oxigenação do sangue); e como se não bastasse retirava à força, máscaras de crianças em plena aglomeração. Por fim, sugeriu inúmeras vezes que o ministro da Saúde providenciasse ato normativo para abolir a obrigatoriedade de seu uso, ainda sob patamares incipientes de imunização.

A imunização, aliás, foi o maior entre seus pecados capitais. 

Constituiu um gabinete paralelo que simulou subsídios científicos para dar sustentação à tresloucada tese da imunização de rebanho, pela qual nenhuma medida seria realmente necessária para contornar uma epidemia que se esvairia por si só, assim que atingisse um certo patamar de contaminação. O deputado Osmar Terra passou um ano e meio fixando datas próximas para o “fim da pandemia”, que o presidente repetia em rede nacional, sem se ater ao fato de que: a-) mesmo as pessoas já contaminadas poderiam ser novamente infectadas; b-) mais de um milhão e meio de brasileiros teria morrido na espera de que todos pudessem ser naturalmente imunizados -o que, aliás, não aconteceu em lugar nenhum do planeta mesmo depois de quase dois anos de pandemia.

À custa da defesa desta tese -inúmeras vezes enunciada pelo presidente- atrasou-se enormemente a aquisição de vacinas, postergando-se a imunização -e, com isso, ampliando exponencialmente o número de mortos. Bolsonaro disse não à “vacina chinesa”, o que atrasou por meses o início da imunização e, ao mesmo tempo, ignorou dezenas de ofertas da Pfizer, buscando pretextos jurídicos ou econômicos para negar sua compra. À inquietação da população que via o tempo passar e as mortes se multiplicarem, seu ministro da Saúde, aquele que expressamente dizia ser o homem que lhe obedecia, indagava: “para que tanta ansiedade?”.

Sua luta contra a vacina tem perdurado mesmo depois da inequívoca comprovação do sucesso contra o vírus. Bolsonaro fez questão de desfilar na Assembleia Geral das Nações Unidas como o único chefe de Estado não vacinado e, ainda após apresentação do relatório da CPI, teve tempo para a disseminação de mais uma mentira maliciosa, relacionando o vírus da AIDS à imunização. 

Considerando que ainda metade do país ainda não está totalmente vacinada e mais de vinte milhões de brasileiros estão com a segunda dose atrasada, a persistência da luta contra a vacina certamente significará mais mortes.  Estivesse o presidente já sendo processado criminalmente em alguma das milhares de varas pelo país, uma reiteração delituosa tão desbragada certamente justificaria a decretação da prisão preventiva.

Mas se isolamento, máscaras e vacinas eram ignorados de forma sistemática, o presidente da República, com o aval tabajara de seu gabinete paralelo, tentou construir com medicamentos sabidamente ineficazes, um álibi para o negacionismo: o kit covid, do qual o presidente foi, mais uma vez, o principal garoto propaganda. 

Para empurrar a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina garganta abaixo dos brasileiros, ele fez anúncio em cadeia nacional, gastou fábulas por meio das coniventes Forças Armadas, demitiu dois de seus ministros da saúde resistentes à farsa e, sob o abrigo cúmplice da direção do Conselho Federal de Medicina, bateu-se pela “autonomia médica” como reforço a seu charlatanismo. Como a CPI expôs de forma contundente, o braço privado de seu gabinete paralelo, a Prevent Senior, obrigava seus médicos a ministrar tais remédios, ao mesmo tempo em que escondia números daqueles que morriam após o tratamento. 

De outro lado, uma falsa sobrenotificação de mortes, também havia sido propagandeada pelo presidente, após adulteração de suposto estudo do Tribunal de Contas da União, por meio de um relatório renegado, que chegou às suas mãos coincidentemente pelo filho de um grande amigo.

Conseguir o feito de ultrapassar a marca de 600.000 mortos (atrás apenas dos Estados Unidos, por enquanto) não foi fácil: foi um verdadeiro tour de force do governo Bolsonaro, capitaneado pelo presidente em pessoa: provocações a governadores, pressão sobre Judiciário, ostensiva publicidade paga com o dinheiro público e uma subterrânea rede de propagação de fake news, repleta de tentáculos em diversos veículos de mídia, blogs, templos etc.

Pode ser que essas milhares de almas tenham sido perdidas como um instrumento para vitaminar sua própria sobrevivência política, evitando que a desaceleração na economia colocasse à prova suas promessas eleitorais -teriam sido, ademais, mortes em vão, porque tem sido justamente o retardo na redução de mortes e casos, que mais prejudica o país, inclusive na economia.

Mas o fato é que olhando retrospectivamente, todos os pilares que o governo Bolsonaro apresentou a partir de 2019, quando iniciou sua gestão, justificavam as condutas que viriam a desenvolver na pandemia: 

a-) a ânsia pela desregulamentação e esvaziamento do poder fiscalizatório, e o predomínio de uma suposta liberdade de matar e desmatar, se casam perfeitamente com a repulsa tão consistente quanto inexplicável, ao uso da máscara protetora e do respeito às regras sanitárias; 

b-) o terraplanismo com que se tentou reescrever a história do país -e por mais incrível que parecesse, também a geografia- reflete-se no contínuo negacionismo acerca da gravidade da pandemia, aliada à propagação de inúmeras teorias da conspiração, com as quais, entre outras providências grotescas, propagou-se o boato de enterros com caixões vazios, emulou-se a invasão a hospitais para desvelar a “mentira” da lotação dos leitos e reproduziu-se a abjeta expressão “vírus chinês”, propositadamente hostil; 

c-) o pensamento mágico que circunda a imagem do presidente (a consideração de “mito” mesclado com a visão de um escolhido) incorporam-se no apego desmesurado ao tratamento precoce e a ideia de um fármaco salvador que ajudaram a compor a tônica do negacionismo (não é tão grave se é curável); 

d-) o darwinismo social, a ideia de que só os mais fortes sobrevivem impulsiona a aceitação da imunidade de rebanho, traduzida pela lógica de que todos os brasileiros iriam pegar a doença e apenas os mais fracos, os que tem comorbidade ou não tem “histórico de atleta” seriam mortos ou sequelados. A ânsia de cravar essa diferenciação levou o presidente a reclamar, em reunião ministerial, de atestado de óbito de um militar (por não darem destaque às comorbidades), a chamar de “bundões” os jornalistas pelo sedentarismo e aduzir a repulsa ao “país de maricas”; 

e-) a inserção no horizonte internacional, a partir da adesão ao antiglobalismo trumpista, conduzido, sobretudo, pelo então chanceler Ernesto Araújo, levou o governo à colisão com a OMS e o desprezo a quaisquer iniciativas globais, o que viria também a dificultar a inserção no mercado das vacinas. 

A visão de mundo do bolsonarismo é um conjunto destes elementos: a política da destruição, a lógica da irracionalidade que estimula o fanatismo, o retorno a um passado idílico sem amarras politicamente corretas, em que os fortes possam prevalecer sem perder tempo para cuidar dos ficam pelo caminho. A reverência às milícias e o desprezo aos indígenas mostra bem de que lado da morte o presidente se posiciona. 

Mas seja por fidelidade à racionalidade da destruição, seja para minorar desgastes eleitorais, o fato é que milhares de vidas foram sacrificadas por interesses menores, políticos ou pessoais, a partir de decisões que nasceram no círculo mais íntimo do poder. 

Rigorosamente todas as ações contrárias ao bom senso e lesivas à saúde, ostentam as digitais de Jair Bolsonaro -as mesmas que, por justiça, agora se espera sejam colhidas em seu indiciamento.

bolsonaro morte necrogoverno.jpeg

 

27
Out21

Entenda quais são os 9 crimes atribuídos a Bolsonaro pela CPI

Talis Andrade

bolsonaro por vaccari e blake.jpeg

 

 

Para a comissão, Bolsonaro praticou os seguintes crimes:

Crime de responsabilidade por ter defendido a imunidade de rebanho por contágio, atentando contra o direito à vida e à saúde
Incitação ao crime ao estimular a população a infringir medidas de distanciamento social e incentivar a invasão de hospitais de campanha
Emprego irregular de verba pública e destinar recursos para a compra de remédios ineficazes
Falsificação de documento particular ao atribuir ao TCU estudo questionando o número de mortes por Covid em 2020
Crimes contra a humanidade na condução da pandemia
Prevaricação ao não pedir que fosse investigada a suspeita de corrupção na compra da vacina Covaxin
Charlatanismo ao defender o uso de remédios ineficazes contra a Covid
Crime de infração de medida sanitária preventiva ao não usar máscaras em público
 

nove crimes de bolsonaro vaccari.jpeg

 

20
Mar21

Ge-no-ci-da, por Cristina Serra

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

Das poucas alegrias que se pode ter nestes dias sombrios, uma é saber que há jornalistas a quem as décadas de profissão não tiraram a indignação, a humanidade e , sobretudo, a coragem de Cristina Serra, longa e infelizmente distante amizade que trago desde os anos 80.

Seu artigo, hoje, na Folha, tem tanta simplicidade quanto força que fala muito melhor do que eu já disse aqui: o “genocida” virou uma variante mais contagiosa e mortal do “Ele, não” em que muitos não acreditaram e ajudaram a levar ao comando do país, com muitas cumplicidades que hoje se envergonham de reconhecer.

Ge-no-ci-da!

Cristina Serra, na Folha

Em meados do ano passado, o Brasil já ia pela casa dos 50 mil mortos pela pandemia. E o que fez o genocida? Incentivou seus cães ferozes a invadir hospitais. Na época, o cartunista Renato Aroeira traduziu numa charge a indignação de muitos brasileiros. No desenho, a cruz vermelha dos hospitais é convertida na suástica nazista pelo genocida. Uma imagem forte e poderosa. O Ministério da Justiça decidiu perseguir Aroeira, mas deu um tiro no pé. Em solidariedade, mais de 70 artistas republicaram a charge e amplificaram a crítica.

Movimento semelhante ocorreu nesta semana, quando o Brasil já está perto de alcançar cinco vezes mais mortes do que em junho. Cinco manifestantes foram presos em Brasília por expor um cartaz que reproduz o trabalho de Aroeira e acrescenta a palavra que está no centro do debate nacional: genocida. A mesma palavra motivou uma intimação policial ao youtuber Felipe Neto, que a usara para criticar o presidente”¦ genocida.

Rapidamente, uma frente de advogados criou a plataforma “Cala boca já morreu”, que oferece defesa gratuita para quem for processado ou preso por críticas ao genocida. Felipe Neto não se deixou intimidar e revidou à altura no ecossistema que conhece como poucos e por meio do qual alcança milhões de pessoas. Ele postou o vídeo “Bolso família”, programa de transferência de renda para uma única família, no caso, a do genocida. Bem que a oposição poderia tomar aulas de comunicação com o youtuber. Graças ao seu alcance, o epíteto pegou e estará colado para sempre na testa de Bolsonaro: genocida! Seus atos estimulam a reprodução do vírus que está matando milhares. Por isso, Bolsonaro não é um assassino comum. É um genocida.

O país derrete no colapso hospitalar e sanitário. Todos os dias são de despedidas. Para não adoecer de Brasil, temos que expressar nossa indignação. Neste texto, usei 11 vezes o termo genocida. E peço que você repita comigo, escandindo as sílabas: GE-NO-CI-DA!

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