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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

19
Set22

Frente evangélica declara apoio a Lula e alerta para ‘armadilhas bolsonaristas’

Talis Andrade

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“A gente vem alertando desde o golpe contra Dilma que precisamos ter uma estratégia para lidar com os evangélicos”, afirma Nilza Valéria, coordenadora da frente

 

Por Eduardo Maretti /RBA

A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito – que atua em 20 Estados do Brasil –  formalizou apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida pelo Palácio do Planalto. O movimento dos evangélicos é apartidário, mas diz que o apoio é necessário diante “das ameaças diuturnas das forças reacionárias sustentadas pelo governo federal e pelo próprio Bolsonaro”.

A entidade afirma que o Estado de direito (como a democracia) existe “para deter as forças destruidoras do Anti-Messias”. “Se não detivermos essa situação de modo imediato, muito mais vidas serão ceifadas. E todo o futuro, não só do Brasil, mas de todo o planeta, estará ameaçado”, diz a frente.

O crescimento de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto entre o eleitorado evangélico tem sido apontado por pesquisas. No mais recente estudo Genial/Quaest, o presidente cresceu de 48% para 52% no segmento. Enquanto Lula oscilou para baixo, de 29% para 28%. No Datafolha do final de julho, esse dado já aparecia com força: a diferença a favor do atual mandatário passou de 5 para 10 pontos percentuais em um mês.

É importante observar, no entanto, que o segmento evangélico, por si só, não dará a vitória a Bolsonaro. Isso porque ele teria de crescer entre as mulheres, os mais pobres, os jovens, os nordestinos e outros grupos – inclusive os católicos. Portanto, crescer só entre evangélicos não basta para Bolsonaro. Mesmo assim, nessa frente é preciso que o combate eleitoral seja eficiente, porque o crescimento entre os protestantes se espraia para as mulheres desse grupo, assim como para os mais pobres etc.

O caso Damares

 

“O crescimento de Bolsonaro nas igrejas é real e tem preocupado os setores progressistas”, diz Nilza Valéria, coordenadora nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Ela destaca ações da ex-ministra Damares Alves e de um pastor da igreja evangélica Assembleia de Deus em Botucatu (SP), Rúben Oliveira Lima, que afirmou durante um culto que os crentes que declaram voto em Lula não merecem a Santa Ceia. “Sistema que prega que vai ajudar aos pobres, mas no casamento dele não teve um pobre”.

Valéria diferencia duas personagens dos cultos evangélicos. Uma coisa são os líderes midiático-políticos poderosos, que disseminam falsas informações, fake news e mentiras que se espalham nas redes. Esse trabalho é consciente e deliberadamente insidioso. Damares, por exemplo, não surgiu do nada antes de ser ministra. Desde 2015 ela era assessora parlamentar do senador Magno Malta, liderança importante da bancada evangélica.

É a partir de pastores “de cima”, como Damares, que as informações chegam aos cultos. Os pequenos pastores de comunidades, por exemplo, muitas vezes acreditam nas informações que repassam aos fiéis, que chegam a eles pela pregação dos poderosos e influentes.

 

É preciso que crentes falem com crentes

 

Para Nilza Valéria, é importante que candidatos progressistas e, principalmente, a campanha de Lula, ouçam as vozes progressistas dos evangélicos. “É preciso de alguma forma incluir-nos na estratégia de campanha, para permitir que crentes falem com crentes”, diz. “O que não se pode de forma alguma é emular um discurso em que Lula e aliados façam falas religiosas caindo na armadilha bolsonarista”, defende.

O que Bolsonaro faz é criar um discurso de guerra religiosa. Ele sabe que esta é uma nação essencialmente cristã, evangélica ou não, e que tem um segmento religioso crescente no país, o evangélico. Ele usa o discurso moral dirigido a esse enorme eleitorado e seus aliados, como Damares e pastores líderes, fazem o discurso religioso nas redes sociais e para o interior dos templos.

Nesse cenário, é preciso evitar armadilhas que deem a Bolsonaro a chance de pautar as campanhas progressistas. E, portanto, saber o que dizer aos evangélicos. Sobretudo, não discriminá-los como uma população à parte. São pessoas comuns que tomam ônibus, pagam aluguel, vão ao supermercado, têm as mesmas carências de todos, e não podem ser tratadas como uma classe à parte da sociedade.

“Ninguém é só evangélico. Eu, por exemplo, estou superfeliz que o meu Fluminense passou à semifinal da Copa do Brasil”, diz Valéria. “Eu não sou apenas evangélica, eu sou tricolor também”, avisa. “A gente vem alertando desde o golpe contra Dilma que a precisamos ter uma estratégia para lidar com os evangélicos.”

 

O exemplo de Macron

 

Ela dá um exemplo de fora do Brasil. O presidente francês, Emmanuel Macron, foi reeleito em abril, derrotando a representante da extrema-direita Marine Le Pen com apoio de ampla aliança. “Vamos imaginar que a mulher do presidente, Brigitte Macron, tivesse postado um tuíte celebrando um filme muçulmano. Para mim é certo que Macron não seria reeleito se ela postasse algo que soasse como elogio à cultura islâmica, a qualquer aspecto do mundo islâmico”, diz Valéria, em referência à xenofobia de parte dos franceses.

Fundador da Igreja Batista do Caminho, em Niterói (RJ), Henrique Vieira fala com a #CartaCapital sobre sua formação religiosa, sua interpretação bíblica e dos ensinamentos de Jesus e do uso do nome de Deus na política. De acordo com o pastor, Cristo está além de interpretações de esquerda e direita, e colocar sua própria visão da Bíblia como definitiva, como faz Jair Bolsonaro, é fascista e violento.

Jair Bolsonaro já não é mais unanimidade entre os evangélicos brasileiros, cada vez mais divididos em relação ao presidente em quem votaram maciçamente em 2018. Segundo pesquisa recente do Instituto Ipec, 59% dos evangélicos disseram 'não confiar em Bolsonaro'.

22
Jun22

Jesus a(r)mado

Talis Andrade

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O recado de Jesus aos seus amigos para que se protegessem é muito diferente de “bandido bom é bandido morto”

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É sabido para todos os que estudam História que os evangelhos foram escritos muitos anos após a morte de Jesus e que seus autores não foram os apóstolos (no caso, Mateus e João), mas compiladores das narrativas que se espalharam pela região sobre aquela pessoa extraordinária.

Jesus era um homem que desafiava os valores da época, principalmente a tradição conservadora. Seus supostos milagres eram recados em favor da festa, da alegria e da compaixão. Sua defesa da mulher adúltera (em João, 8, 1-11) era um grito claro em favor do perdão e contra fazer justiça com as próprias mãos. Seus amigos era pessoas simples e trabalhadoras. Seu apreço pelos comerciantes sem escrúpulos era conhecido: nunca se viu Jesus brabo como naquele dia diante do Templo. ( Marcos 11: 15 e 16).

Imaginar que Jesus compraria uma pistola se existissem pistolas em seu tempo é tão insidioso que precisamos aguardar um pouco para absorver o impacto dessa declaração. Não importa que, em Lucas, ele supostamente alerte seus discípulos a se cuidarem com roupas, mantimentos e com sua defesa. Isso porque eles partiriam para terras estranhas e haveria perigos, pois Ele, Jesus, não estaria mais presente. E quem está com Jesus não precisa de armas. Só em um mundo sem religião (aquilo que nos liga e que nos une) que armas podem se tornar necessárias.

Ou seja: o recado de Jesus aos seus amigos para que se protegessem é muito diferente da ideia de que “bandido bom é bandido morto” ou que “todos têm direito de defender suas propriedades à qualquer custo”. A comparação é acintosa de tal forma – logo ele, Jesus, que foi crucificado entre dois ladrões e disse a um deles : hoje mesmo estará comigo junto ao meu Pai – que penso que ninguém deveria dar qualquer valor a ela, se não fosse dita pelo presidente da República.

Ora, o Estado é laico e a opinião do presidente sobre um assunto desses não deveria ser relevante. De fato, mas o incômodo é insistente. Jesus demonstra, desde o início de sua trajetória, atenção e cuidado, cura e promessa de salvação. Não teme as autoridades, não hesita diante dos que querem iludir o povo, não titubeia ao afirmar que os pobres, os simples, os que sofrem, são os seus preferidos.

Em uma passagem do livro “O nome da Rosa”, do pensador e romancista italiano Umberto Eco, padres discutiam uma passagem bíblica que fazia referência a Jesus portar ou não uma bolsa. Seria Dele a bolsa? Se sim, teria Jesus bens? E se tivesse, consideraria usar da violência para protege-los? É possível Jesus gritando “pega o ladrão!” e catando uma pedra e jogando para ver se o acertava pelas costas? Ou exigindo uma punição exemplar contra o malfeitor? Ele? Logo Ele?

O presidente da República defende as armas. Associa armas com Liberdade. E usa o nome de Jesus para enfatizar suas ideias. Como se a sociedade de fato ficasse mais segura com todo mundo com armas nas cartucheiras ou espingardas no vestíbulo das casas. Esquecem o que diz o ditado: em uma sociedade cheia de vigias, quem vigiará os vigias?

Jesus pode não ter sido filho de D’us. Pode não ter origem divina. Isso não diminui em nada a força de suas palavras e exemplos. A sua grande mensagem não era de proteção, muito pelo contrário. Na versão religiosa, Jesus ofereceu-se em nosso nome, como um cordeiro é oferecido em sacrifício para acalmar a ira de um D’us decepcionado com Sua criação. Jesus ofereceu-se para expiar os pecados e dar uma nova chance para a humanidade evitar que esse D’us irritado e vingativo usasse seu poder sobre nós. Essa é a mensagem. Como isso pode se coadunar com a ideia de um Jesus armado, como o presidente disse, citando os evangelhos como quem lê a propaganda de uma fábrica de revólveres?

Há versões para tudo. Tudo pode ser defendido no campo das opiniões. Não se pode punir alguém por fazer referência a um personagem que, de resto, pode ser apenas uma ficção histórica. Lógico que quando é uma professora usando uma charge na qual a figura de Jesus aparece, para denunciar a violência atual, um deputado diz em alto e bom som que ela “merecia ser fuzilada”. Mas no caso do presidente, acalmemo-nos todos. É apenas uma interpretação livre dos versículos bíblicos. Um versão particular na qual podemos imaginar um Jesus irado dizendo: “D’us acima de todos, mas, por via das dúvidas, nem vem que eu estou armado!”

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