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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

10
Jul22

Justiça dividida entre os que temem o golpe e os que não acreditam

Talis Andrade

IMPERADOR OU DITADOR? – Contra o Vento

 

Enquanto isso, os preparativos são discutidos em reuniões no Palácio do Planalto

 
 
Ainda haverá juízes em Brasília? Ou os que existem, mas andam cercados de agentes de segurança, moram em casas monitoradas por câmeras e são os últimos a embarcar em aviões e os primeiros a desembarcar, sentem-se cada vez mais tolhidos e temem exercer seu papel com liberdade e independência?
 

Natural que se sintam tolhidos, mas indesculpável que cedam às pressões de um presidente da República em desespero com a derrota que se avizinha e de generais que incondicionalmente o apoiam. O Estado Maior do Exército virou um serpentário de bolsonaristas, e os que não são, calam-se e apenas observam.

O golpe que Donald Trump tentou dar no dia 6 de janeiro do ano passado naufragou porque as mais altas patentes do Exército americano e os chefes das agências de inteligência se opuseram, além do vice-presidente Mike Pence. Sem o apoio das armas, o Congresso foi invadido e tudo o mais o que se viu, mas só.

Aqui, Bolsonaro está em melhor situação do que Trump para colapsar a democracia. A maioria dos generais o segue; o vice-presidente, o atual e o aspirante a próximo, também; uma grande parcela do Congresso, uma vez assegurada a preservação do mandato, não será empecilho ao golpe; nem o aparato policial.

Não se faz mais segredo de que se conspira em reuniões de ministros no Palácio do Planalto para abortar as eleições ou para anular seus resultados caso Bolsonaro não se reeleja. Há estudos de cenários para todos os gostos, só não há para o reconhecimento da derrota e a transferência pacífica da faixa presidencial.

Se a Justiça Eleitoral não admitir que os militares participem do processo de apuração de votos, Bolsonaro poderá abdicar de sua candidatura para gerar uma comoção entre seus devotos. Se esse não for o caso, um apagão de energia poderá ocorrer em algumas regiões do país no dia do primeiro turno. Se… Se… Se… Se…

Um assessor direto de Bolsonaro, talvez mais prático do que os demais, acha que não deve ser desprezada a hipótese de um lobo solitário, ou não tão solitário assim, atentar com sucesso contra a vida de Lula. Ora, Adélio Bispo (em 6 de setembro fará quatro anos) não quase matou Bolsonaro com uma facada?

Os Kennedy, John, presidente, Robert, senador, não foram assassinados? O pastor Martin Luther King não foi? Ronald Reagan, presidente, não foi baleado e quase morreu? Os Bolsonaro apreciam muito a história dos Estados Unidos. De resto, o Brasil, hoje, é um dos países onde a venda de armas só cresce.

Por se sentirem emparedados pelas tropas de Bolsonaro e a indiferença do Congresso, os ministros do Supremo se dividem entre os que acham que devem resistir cumprindo as leis, e os que ainda dizem não acreditar que a democracia acabará golpeada. A propósito, alguns lembram a renúncia de Jânio Quadros em 1961.

Eleito com uma votação espetacular, Jânio renunciou seis meses depois alegando que o Congresso o impedia de governar. Os militares o apoiaram para que permanecesse no cargo. Jânio abandonou Brasília levando a faixa presidencial. Imaginou voltar nos braços do povo. Não voltou e teve que devolver a faixa.

O último presidente da ditadura militar de 64, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo, recusou-se a transferir a faixa para José Sarney em 1985. Preferiu deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos. Menos mal.

Charge do Amarildo

01
Nov20

Ex-porta-voz critica Bolsonaro: 'Poder corrompe'

Talis Andrade

Alea iacta est", Júlio César atravessa o Rubicão

por Josias de Souza

- - -

Demitido em 7 de outubro da função de porta-voz da Presidência da República, o general Otávio do Rêgo Barros quebrou o silêncio. Sem mencionar o nome do presidente, comparou-o num artigo de jornal a Júlio César. Bateu com vigor: "Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói!"

O artigo foi publicado no Correio Braziliense nesta terça-feira (27). Nele, Rêgo Barros anotou que "a estabilidade política do império está sob risco." Insinuou que Legislativo e Judiciário devem manter Bolsonaro sob vigilância.

"As demais instituições dessa República —parte da tríade do poder— precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do 'imperador imortal'. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões."

O título do artigo é uma expressão em latim: "Memento mori". Mal traduzindo, seria algo como "lembra-te que vais morrer." Júlio César tinha um escravo sempre do lado para dizer no seu ouvido: "Lembra-te que és mortal." Era para prevenir contra a megalomania. Nos momentos de aclamação, servia para recordar a César que ele também estava sujeito à condição humana.

"Infelizmente, nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos", lamentou o general. "Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião."

Num instante em que Bolsonaro renega a Lava Jato e confraterniza com o centrão, Rêgo Barros cutucou: "É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais."

Desprezado por Bolsonaro, o ex-porta-voz fez uma analogia entre o papel que exercia no Planalto e as atribuições de um cochichador de Júlio César. Insinuou que, além de se distanciar dos compromissos de 2018, o presidente faz ouvidos moucos para o "memento mori".

"Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses. Os assessores leais —escravos modernos— que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos."

Depreende-se do texto do general, que o capitão dá de ombros para todos os que ousam recordar que ele também é mortal. Alguns assessores, escreveu Rêgo Barros, "deixam de ser respeitados". Outros são "abandonador ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas."

O general prosseguiu: "O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal."

Rêgo Barros definiu "discordância leal" como um conceito importado das "forças armadas profissionais". Trata-se de uma "ação verbal bem pensada e bem-intencionada, às vezes contrária aos pensamentos em voga, para ajudar um líder a cumprir sua missão com sucesso."

Quem lê o artigo fica com a impressão de que Rêgo Barros manda recados para os amigos generais que comandam escrivaninhas no Planalto e na Esplanada. Nos últimos dias, dois desses generais foram humilhados publicamente.

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi desautorizado por Bolsonaro depois de comunicar a intenção de adquirir 46 milhões de doses da "vacina chinesa do João Doria", como o presidente batizou o imunizante CoronaVac. "Um manda e o outro obedece", resignou-se Pazuello.

O ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, foi chamado de "Maria Fofoca" nas redes sociais pelo colega Ricardo Salles, do Meio Ambiente. E ficou tudo por isso mesmo.

Sempre evitando citar o nome do ex-chefe, Rêgo Barros pareceu incomodado com a percepção de que alguma coisa subiu à cabeça de Bolsonaro, transformando-o numa liderança que imagina desempenhar uma missão especial, de inspiração celestial.

"A autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias", escreveu Rêgo Barros. "Não aceita ser contraditada. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste."

Além de recomendar atenção aos outros Poderes, o general exalta o papel de um setor que Bolsonaro abomina: "A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César."

Em última instância, declarou o ex-porta-voz, "a população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade."

Abra-se aqui um parêntese. A menção ao Rubicão não é gratuita. Rêgo Barros não disse em seu artigo, mas o lance mais revelador do caráter de Júlio César foi uma traição. General vitorioso, César conquistara as Gálias. Dividia o poder com Pompeu, que ficara na retaguarda.

Uma lei impedia que um general, vitorioso ou não, entrasse em Roma com seu exército, a não ser em casos específicos determinados pelo Senado, o chamado "triunfo". Mal comparando, o "triunfo", era a versão romana de uma escola de samba. Tinha data e hora para acontecer. 

Para evitar golpes de Estado, nenhum exército poderia transpor o Rubicão. César cruzou o riacho, que servia como limite moral. Pronunciou a célebre frase: "Alea jacta est" (A sorte está lançada). Perseguiu Pompeu até derrotá-lo. Sozinho no poder, iniciou a era do cesarismo —que os famintos de poder cedo ou tarde copiam. Fecha parêntese.

Nas palavras do general Rêgo Barros, cabe à sociedade demarcar um Rubicão imaginário que Bolsonaro não poderia transpor, sob pena de ser punido "rigorosamente". Ao final, caberia à sociedade assumir "o papel de escravo romano", escreveu o ex-porta-voz. "Ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: "Lembra-te dada próxima eleição!".

É como se o ex-porta-voz, após conviver com Bolsonaro, tivesse a convicção de que o capitão não vai ao Rubicão beber água. 

quando você vai atravessar o rubicão?

30
Out20

Visão do inferno

Talis Andrade

 

Por Hildegard Angel /Jornalistas pela Democracia 

O fogo nos consome. Queimam os sabiás, as palmeiras de Bilac, as onças do Pantanal, a maçaranduba, o cedro, os jatobás de nossa Floresta Amazônica. O hospital público deficitário arde em chamas e respira por aparelhos, num esforço desesperado para, mesmo sem fôlego, salvar nossas vidas secas. O incêndio não é desastre, é projeto. A Pátria é o butim que eles golpeiam, esquartejam, repartem.

Como hienas famintas, se atiram sobre nossas carnes. Um quer o Banco Central pra dividir com seus cupinchas. Outro quer dar o sistema de saúde pros comerciantes da dor, nem que para isso se redija nova Constituição. O senador pleiteia o aquífero pra sua multinacional vender em garrafas plásticas. O Pré-sal já se foi, junto com nossas esperanças equilibristas... 

Enquanto isso, o “imperador piromaníaco”, assim tão bem definido por seu ex-porta voz, toca sua harpa em desafino com a vida, e “o coral dos puxa-sacos cada vez aumenta mais”.

Quando partirem, nos deixarão a carcaça atirada na caatinga, como no quadro de Portinari. E nós, brasileiros, condenados a sermos eternos retirantes, passeando nossa desgraça ante os olhos distantes de robustos espectadores estrangeiros, que assistem pela TV ao holocausto do Terceiro Mundo, como seriado da Netflix.

28
Out20

Governante piromaníaco, soberbo, corrompido, diz ex-porta-voz de Bolsonaro

Talis Andrade

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Comparou os atuais aliados de Bolsonaro a "escravos modernos" e "seguidores subservientes" e que caberá à população, imprensa e instituições a não recuarem

 

Jornal GGN – O ex-porta-voz do presidente Jair Bolsonaro, general Otávio Santana do Rêgo Barros, não disfarçou a mão pesada ao dirigir talhantes críticas ao mandatário, chamando-o de “governante piromaníaco”, “soberbo”, que se vê como um “imperador imortal”, corrompido e destruído pelo poder, em artigo para o Correio Braziliense.

 

“Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói! E se não há mais escravos discordantes leais a cochichar: ‘Lembra-te que és mortal’, a estabilidade política do império está sob risco”, escreveu.

Introduzindo com uma narrativa de um general romano, que apesar de louvado por “legiões”, acompanhado por “uma pequena guarda e de escravos”, lembrava-se de que era mortal – Memento Mori, o título do artigo. Sem citar o nome do presidente da República do qual ele próprio atuou respaldando, afirmou que “nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos”, porque os “líderes atuais” são “tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião”.

Explicitando a comparação ao governo Bolsonaro, rodeado de fanáticos e de seu clã, disse que os “projetos apresentados nas campanhas eleitorais” agora “valem tanto quanto uma nota de sete reais” e que foram substituídos por “mesquinhos interesses”.

Comparou os atuais assessores de Bolsonaro a “escravos modernos”, em referência à narrativa romana, que segundo Barros não são ouvidos ao “sussurrar conselhos de humildade e bom senso”, “deixam de ser respeitados”, são abandonados em “intrigas palacianas” ou se acomodam em “confortável mudez”.

A estes últimos, o ex-porta-voz do presidente os qualificou de “seguidores subservientes”, enquanto que Jair Bolsonaro – ainda que sem ditar seu nome – é a autoridade que “incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina” e assim “não aceita ser contradita. Basta-se a si mesmo”. “A soberba lhe cai como veste”, completou.

Ao concluir, Otávio do Rêgo Barros indica que caberá à população, à imprensa e às demais instituições do país “não recuarem diante de pressões” contra “os atos indecorosos” do mandatário e que essa resposta deverá vir nas próximas eleições.

A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: — ‘Lembra-te da próxima eleição!

 

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