Clã Bolsonaro e as homenagens a policiais bandidos / UOL Investiga T2E1
O podcast UOL Investiga estreia nesta sexta-feira (23) sua segunda temporada, chamada Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro.
Na segunda temporada, a colunista do UOL Juliana Dal Piva fala da relação da família Bolsonaro com agentes das forças de segurança que se tornaram milicianos e usaram seu treinamento para cometer crimes. Dezenas deles foram homenageados pelo clã ao longo de 20 anos. A jornalista traz ainda detalhes da relação da família Bolsonaro com Adriano Nóbrega, ex-policial militar morto em 2020 e apontado como chefe de assassinos de aluguel --Jair e Flávio inclusive fizeram visitas ao ex-capitão na prisão. Esta temporada tem também a história completa do roubo de uma moto do presidente em 1995, crime que mobilizou parte da polícia do Rio e simboliza vários problemas da segurança pública.
A primeira temporada, A Vida Secreta de Jair, trouxe revelações sobre o envolvimento direto do presidente da República, Jair Bolsonaro, com a rachadinha --o esquema ilegal de entrega de salários de assessores quando exerceu seguidos mandatos de deputado federal.
No primeiro dos quatro novos episódios, Juliana Dal Piva conta que a família Bolsonaro já condecorou 16 policiais denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como integrantes de organizações criminosas. O cruzamento foi feito entre os nomes dos homenageados e as informações dos bancos de dados dos Tribunais de Justiça do país.
Esses homenageados foram presos e denunciados em oito das mais importantes operações de combate ao crime organizado, entre 2006 e 2022. As investigações, realizadas pela Polícia Federal, pelas corregedorias e pelo Ministério Público, revelaram quadrilhas montadas por policiais para a prática de extorsão, corrupção, sequestros, homicídios, entre outros crimes.
Além disso, 75 policiais homenageados desde 2001 responderam a processos criminais, principalmente por homicídios. Ou seja, de cada dez pessoas que Flávio e Carlos Bolsonaro homenagearam, uma respondeu a processo criminal na Justiça.
A assessoria do presidente e do senador disseram, por nota, que à época das homenagens era impossível prever que alguns desses policiais pudessem desonrar a farda.
Abaixo, você confere a íntegra do roteiro do episódio 1.
Clã Bolsonaro condecorou 16 PMs denunciados em organizações criminosas
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) pediram homenagens a pelo menos 16 policiais denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como integrantes de organizações criminosas.
É o que aponta um cruzamento de dados entre os nomes dos policiais homenageados pelos dois filhos do presidente e as informações dos bancos de dados dos Tribunais de Justiça do país. Os resultados do levantamento estão no podcast "UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro", que estreou nesta sexta-feira (23).
Esses homenageados foram presos e denunciados em oito das mais importantes operações de combate ao crime organizado no Rio, entre 2006 e 2022: Calabar, Quarto Elemento, Purificação, Intocáveis, Gladiador, Amigos S/A, Segurança S/A e Águia na Cabeça. Nesse grupo, estão Adriano Nóbrega, o major Ronald Pereira e, mais recentemente, o delegado e ex-chefe da Polícia Civil Allan Turnowski.
As investigações, realizadas pela Polícia Federal, pelas corregedorias e pelo Ministério Público, revelaram quadrilhas montadas por policiais para a prática de extorsão, corrupção, sequestros, homicídios, entre outros crimes. Em todos esses casos, os policiais estavam na folha de pagamento da máfia dos caça-níqueis, das facções do tráfico ou dos grupos milicianos.
Jair Bolsonaro já disse publicamente que foi ele quem pediu que os filhos prestassem homenagens a policiais.
Até 2018, Flávio e Carlos entregaram medalhas e moções a 707 pessoas. Algumas dessas pessoas foram premiadas mais de uma vez. É o caso de Adriano da Nóbrega, por exemplo, que recebeu uma moção em 2003 e depois a medalha Tiradentes em 2005.
Adriano da Nóbrega morreu em uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, após passar um ano como foragido da Justiça. Ele foi denunciado na Operação Intocáveis pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio).
Flávio Bolsonaro contou em depoimento à promotoria fluminense que o conheceu por intermédio de Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, durante aulas de tiro nos anos 2000.
75 policiais homenageados responderam a processos
As primeiras homenagens prestadas ocorreram em 2001 no primeiro mandato de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal. O cruzamento de dados também apontou que, do total de homenageados, 596 eram policiais e 75 deles responderam a processos criminais. De cada dez pessoas que Flávio e Carlos homenagearam, uma respondeu a processo criminal na Justiça.
O crime de homicídio foi ao qual esse grupo de homenageados mais respondeu. Do todo, 36 policiais foram homenageados pelo clã e, ao mesmo tempo, responderam a processos na Justiça pela morte de 39 pessoas.
Participar dessas operações violentas era um critério para se aproximar dos Bolsonaro e ganhar medalha. Em 57 homenagens, a palavra "morte" foi citada como justificativa para a concessão do reconhecimento.
Entre os homenageados do primeiro mandato de Carlos Bolsonaro, em 2003, estão justamente Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz.
Já o Flávio pediu sua primeira homenagem, em 2003, para o inspetor da Polícia Civil Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho, o Marinho. Ele foi alvo da Operação Gladiador. Outro alvo da operação foi o Hélio Machado da Conceição, o Helinho. Ele também recebeu uma homenagemde Flávio, em 2005. A Operação Gladiador apontou o envolvimento da cúpula da polícia, à época, com a máfia da contravenção.
A lista dos crimes que esses policiais responderam inclui ameaça, associação criminosa, improbidade, extorsão, fraude em licitação, fraude processual, homicídio, improbidade administrativa, organização criminosa, peculato, receptação, violência doméstica, tentativa de homicídio e muitos outros.
A mãe e a mulher do ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Adriano da Nóbrega, um dos chefes da milícia no Rio de Janeiro, trabalharam no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro. Teve a morte encomendada.
O vereador do Rio de Janeiro, Ítalo Ciba, do Avante, acusou o senador Flávio Bolsonaro de ter visitado o miliciano Adriano da Nóbrega na prisão. A declaração foi dada em entrevista ao jornal "O Globo". As visitas segundo o vereador, aconteceram em novembro de 2003, quando ele próprio e Adriano foram presos por homicídio e tortura.
Acostamado defensor de serial killers, torturadores da ditadura militar, milicianos, bandidos fardados.
O presidente Jair Bolsonaro defendeu, quando era deputado, o ex-policial Adriano Magalhães da Nóbrega, morto no doming 9.fev.2020, e apontado como chefe de uma milícia no Rio de Janeiro.
Na ocasião, capitão Adriano havia sido condenado por homicídio na 1ª Instância. Depois, acabou absolvido.
A morte do ex-capitão do Bope se deu em operação da Polícia Militar da Bahia em área rural do município de Esplanada. As forças baianas de segurança alegam que Adriano foi morto porque reagiu. No dia 15 de fevereiro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro contestou a versão e acusou o governador Rui Costa (PT) de 'queima de arquivo'. Leia mais no link: https://www.poder360.com.br/governo/b... Eis o que disse o presidente Jair Bolsonaro em 15.fev.2020 sobre o discurso de 2005 sobre Adriano Nóbrega: “Não tem nenhuma sentença que tenha trânsito em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano [2005], ele era 1 herói da Polícia Militar. Como é muito comum qualquer policial militar, em operação, matar o vagabundo, mata o traficante, e a imprensa, em grande parte, vai em defesa do marginal e condenam o policial [...] Não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro. Zero. O Adriano eu vi, conheci pessoalmente, em 2005, e nunca mais tive contato com ele”. Sobre Adriano Nóbrega ter sido condecorado em 2005 pela Assembleia Legislativa do Rio, a pedido de Flavio Bolsonaro, o presidente disse: “Eu é quem pedi para meu filho condecorar. Para que não haja dúvida. Ele era 1 herói. Eu determinei. Pode trazer para cima de mim essa aí! O meu filho condecorou centenas de policiais. Meu filho, não. Se você tiver 1 mínimo de zelo, e consultar na Alerj moções, medalhas, raros são os deputados que não deram centenas de medalhas de condecorações. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia? Por uma moção? Isso aconteceu 15 anos atrás. Pessoas mudam. Para o bem ou para o mal, mudam”. Eis o que disse o senador Flavio Bolsonaro sobre a condecoração, em 15.fev.2020: “Não adianta querer me vincular à milícia, porque eu não tenho absolutamente nada com milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos. Há mais de 15 anos! Como é que eu posso adivinhar o que ele faz de certo ou errado hoje, depois de 15 anos? Vão insistir com isso?”