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II - O PERFIL PSICOLÓGICO DOS ASSASSINOS EM SÉRIE E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Talis Andrade

 

 

por GUIMARÃES, Rafael Pereira Gabardo

 

2. As vítimas:

Não existe um tipo específico de vítima para o assassino em série. O que ocorre é que as vítimas são escolhidas aleatoriamente ou por representarem algum significado para o assassino.

O assassino em série busca exercer formas de poder, dominação e controle sobre as vítimas e acaba tratando-as como um simples objeto:

O que esses indivíduos conseguem com tirar a individualidade de uma pessoa e enquadrá-la em um grupo é desumanizá-la, vê-la como um objeto carente de sentimentos. Eles matam um reflexo, um mito, não uma pessoa em toda sua dimensão. Como bem aponta Robert Ressler, com toda sua truculência, os médicos forenses costumam se assustar com a precisão com que o assassino disseca ou desmembra seus cadáveres. Tanto se surpreendem que chegam a perguntar se eles cursaram Medicina ou Anatomia humana. A resposta é mais simples. Os assassinos seriais são tão bons nessas coisas porque não têm a sensação de estarem desmembrando um corpo humano. A indiferença que os domina é tanta que, nessas situações, daria o mesmo cortar um braço, um bolo ou um pedaço de pão. (RÁMILA, 2012, p.145).

Não obstante, há uma certa tendência de o homicida escolher vítimas que sejam mais fracas do que ele, uma vez que estas não dificultariam suas pretensões homicidas. Contudo, paradoxalmente, quanto maior resistência a vítima opuser ao agressor, maior satisfação sexual é proporcionada ao assassino.

Também é comum que o serial killer opte por vítimas que não chamem tanto a atenção pelo seu sumiço, como prostitutas, mendigos, andarilhos, pessoas colocadas à margem da sociedade.

Porém, como assevera Casoy (2014), inexiste um padrão fixo de preferência por vítimas específicas, pois o motivo do assassino, via de regra, só faz sentido para ele mesmo. A vítima pode simbolizar algo que somente o estudo pregresso da mente do homicida irá correlacionar.

 

2.1 Mitos:

Existem vários mitos que circundam os serial killers. Predomina na imaginação das pessoas que são homens brancos, loucos e com aparência estranha, muito inteligentes e sofisticados.

Porém o estudo dos casos revela que essa criação no imaginário popular se deve mais aos filmes e séries que tendem a glamourizar a figura do psicopata.

Veja-se que nem todos os assassinos em série são homens. Certamente, o número de casos envolvendo homens é muito maior do que a de assassinas do sexo feminino. Para isso, existe uma explicação psicológica:

As mulheres, de forma geral, quando sofrem os mesmos tipos de abuso ou negligência do que os homens na infância, tendem a internalizar os seus sentimentos, segundo Douglas e Olshaker. Elas acabam tendo comportamentos autodestrutivos, como o alcoolismo, drogas, prostituição ou suicídio. Não é frequente se tornarem agressivas ou predatórias. (CASOY, 2014, p. 35).

Portanto, enquanto o homem externaliza seus traumas e comete crimes de forma violenta contra pessoas com quem não possui vínculos, as mulheres, quando se tornam assassinas, geralmente o fazem com pessoas pelas quais nutrem algum tipo de vínculo emocional, em geral maridos e crianças. Frequentemente se enquadram nos casos de “anjos da morte”, que são pessoas responsáveis por cuidar de doentes, como enfermeiras e médicas, e que acabam matando-os. Ou mesmo na categoria de “viúvas negras”, que são aquelas que matam uma sequência de maridos ou familiares que, na sua cabeça, são empecilhos para sua felicidade.

Até na forma de execução dos crimes homens e mulheres diferem, pois os serial killers homens realizam o ato sempre com violência, estuprando, mutilando órgãos sexuais e torturando as vítimas. Já as mulheres se valem de meios mais sorrateiros como envenenamento e sufocamento.

Porém, existem sim vários exemplos de mulheres que integram o rol desses seres macabros que foram de uma perversidade extremamente violenta, como é o famoso caso de Aileen Wuornos, a qual pegava carona na estrada com suas vítimas (total de sete) e depois as executava com um tiro de revólver calibre 22.

Outra falsa ilusão acerca dos serial killers é em torno da sua inteligência. Muitos associam a figura do assassino com a do personagem Hannibal Lecter, que é culto, bem vestido, erudito e que consegue enganar a polícia com facilidade. Na verdade, é interessante perceber que essa figura é apenas a forma como os assassinos gostam de imaginar a si mesmos:

Em seu narcisimo patológico – sua percepção profundamente distorcida da própria superioridade -, serial killers realmente são gênios do crime que podem passar a perna em todo mundo. Assassinos em série com QI de gênio, são praticamente inexistentes. Alguns, na verdade, são bastante estúpidos e se valem de truques baratos em vez de inteligência para enganar a polícia (SCHECHTER, 2013, p.261).

Temos exemplos de estupidez nos casos de Gary Heidnik, o qual foi preso por manter acorrentadas e torturas vítimas no porão de sua casa e usou como argumento de defesa no júri que elas já estavam lá quando ele se mudou para aquela casa, e também quando Randy Kraft, que foi surpreendido dirigindo seu carro bêbado com um corpo de uma vítima estrangulado no banco do carona.

Em contrapartida à desmistificação da superioridade intelectual do assassino em série, constata-se que também não são loucos, embora sempre eles e seus advogados aleguem como tese de defesa sua insanidade, para assim, reduzir ou afastar uma condenação à prisão.

A principal questão nesses casos é verificar se, no momento do crime, o assassino compreendia que suas ações eram erradas e se podia autodeterminar-se de acordo com esse entendimento. Surpreendentemente, mesmo que a primeira reação, ao se ver a forma chocante como o serial killer praticou o crime, seja tachá-lo de louco, apenas 5% dos assassinos em série estava mentalmente doente na ocasião dos crimes.

O que se pode afirmar é que na grande maioria dos casos, os assassinos em série são penalmente imputáveis, ou seja, são pessoas dotadas de capacidade e consciência para agir. Contudo, nenhum deles é uma pessoa normal. Todos têm algum tipo de distúrbio mental relacionado à perversidade dos seus atos criminosos. Mas a despeito de seus distúrbios, são pessoas que tem noção de que o que fazem é errado e mesmo assim agem de qualquer forma.