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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

23
Jul21

Generais embusteiros

Talis Andrade

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por Jeferson Miola

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O colunista do UOL Camilo Vannuchi escreveu que “a mentira está no DNA das Forças Armadas” [aqui]. Impossível discordar desta verdade.

Os comandantes militares que hoje se esquivam da responsabilidade pela hecatombe e tentam se distanciar do morticínio e dos escândalos de corrupção, são herdeiros e repetidores dos comandantes da ditadura [1964/1985] que também mentiam em relação à corrupção do regime, aos desaparecimentos, aos extermínios, aos assassinatos e às torturas cruéis de opositores.

Para Camilo, “a mentira não é apenas estrutural, mas estratégica nas Forças Armadas. Faz parte da ética dos militares esconder, confundir, ocultar. O despiste é um resquício da arte da guerra e, sobretudo, da ditadura. A ética dos sistemas e das instituições autoritárias, como o atual governo do Brasil, é a ética de encobrir os feitos das autoridades e escancarar os dos cidadãos”.

Mas eu sei o que vocês fizeram no verão passado. E no anterior também”, anotou Camilo, reverberando uma percepção das pessoas que não se deixam engambelar pelas manjadas técnicas diversionistas dos militares, e que sabem o que eles fizeram não só nos verões, mas em todas as estações dos anos passados.

Como interventor do Rio em 2018, o general Braga Netto se tornou um profundo conhecedor das milícias. Seria muito estranho ele desconhecer o Escritório do Crime e os laços daquela milícia ligada ao clã dos Bolsonaro com assassinatos de encomenda, como os da Marielle e do Anderson, fulminados pelo morador do condomínio Vivendas da Barra, Ronnie Lessa.

Agora, quando o governo militar se joga nos braços do Centrão para sobreviver, os generais fazem de conta que não é com eles, e tentam simular que quem se alia à lumpemburguesia parlamentar corrupta é o fantoche deles, Bolsonaro, e não eles próprios.

Estes generais embusteiros pensam que o mundo é feito de otários que acreditam nos disfarces que eles usam para aparentar contradições com o governo miliciano que eles elegeram, montaram e comandam.

Bolsonaro serve apenas como biombo para esconder quem de fato manda no governo militar, que é o partido dos generais.

A aparência de resignação do general Ramos, falsamente “surpreendido” com a perda da Casa Civil, soa ridícula. “Eu não sabia, estou em choque. Fui atropelado por um trem, mas passo bem”, dissimulou o colega de AMAN do Bolsonaro.

Para fechar a dissimulação de que Bolsonaro manda e ele obedece, o general do partido militar disse: “O presidente é ele, eu sou soldado, cumpro missão. Aprendi, em 47 anos de vida militar, que soldado não escolhe missão. Se ele me der outra no governo, eu aceito”. O general Ramos prontamente aceitou o remanejamento para a Secretaria Geral, onde continuará recebendo salário duplex e extra-teto.

Interessante que o general não se insurgiu ao que seria uma “decisão pessoal” do presidente, mas reagiu como um militante partidário disciplinado; um soldado [do partido dos generais] pronto e disponível para a “nova missão”. Nos partidos civis, o equivalente a “missão” [militar] seria uma “tarefa política”.

O partido dos generais se empenha em simular a aparência de que não comanda o poder, mesmo sendo a espinha dorsal do governo militar que é responsável pela multiplicidade de catástrofes do país – econômica, sanitária, social e humanitária.

O partido dos generais é constituído por embusteiros profissionais que enganam, camuflam, promovem operações psicológicas e guerras de [des]informação. Eles distorcem a realidade e operam causando caos, tumulto e confusão para distrair, iludir e dificultar a capacidade de percepção da sociedade acerca deles mesmos.

Nada conseguirá esconder, entretanto, que para sobreviver diante do aprofundamento da crise de legitimidade e do desgaste do regime, o partido militar se consorciou com o antro do Congresso que há mais de 30 anos parasita os fundos públicos.

Parodiando a paródia do general Augusto Heleno, se poderia cantarolar que “se gritar pega Centrão, não fica um general …”.

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22
Mar21

Em uma semana, Brasil tem o dobro de mortos dos EUA e é alvo de exame 

Talis Andrade

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por Jamil Chade /UOL

Na pior semana da pandemia no Brasil e sem um cenário de queda no número de novos casos, o país somou 25% das mortes no mundo no período entre 15 e 21 de março. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que, no total, 60,2 mil pessoas foram vítimas da covid-19 no planeta nesse período —15,6 mil delas apenas no Brasil, país que representa apenas 2,7% da população mundial.

Os dados também revelam que, num período de uma semana, o número de mortes no Brasil foi o dobro do que foi registrado pelo segundo colocado, os EUA. Com ampla vacinação e medidas de distanciamento social, os americanos somaram 7,5 mil mortes na semana.

Os números dos demais locais de intensa transmissão da covid-19 também apontam índices absolutos mais baixos. Em terceiro lugar, o México somou 3,3 mil mortes na semana, contra 2,9 mil na Rússia, 2,7 mil na Itália, 2,1 mil na Polônia e 1,8 mil na França.

Sozinho, o Brasil representa metade das mortes no continente americano e se aproxima do total registrado na Europa, com 20 mil mortos em uma semana. O continente europeu, porém, tem uma população de 764 milhões de pessoas, mais de três vezes o total brasileiro.

No geral, o Brasil ocupa a segunda colocação entre os países que mais registraram mortes desde o começo da pandemia. Foram mais de 290 mil, contra 536 mil nos EUA.

Segundo a OMS, foram 5,3 mil óbitos oficialmente registrados no planeta no período de 24 horas. No Brasil, foram 2,4 mil mortes, contra 773 nos EUA, 608 no México, 401 na Itália ou 371 na Rússia. Mas vários países europeus não tinham submetido ainda os dados mais recentes para que uma conta completa possa ser realizada no que se refere ao período de 24 horas.

Brasil é alvo de exame por parte de peritos internacionais

Enquanto a crise brasileira se aprofunda, o país passa a ser alvo de um exame por parte do grupo criado pela OMS para avaliar como cada um dos governos reagiu à pandemia. Na semana passada, os peritos escolhidos pela agência para avaliar a resposta mundial à criseescolheram 28 países para tentar entender o que funcionou e o que fracassou.

O Brasil, segundo a coluna apurou, foi um dos selecionados para ser examinado e o Ministério da Saúde foi obrigado a submeter informações aos peritos. Confidencial, o processo apenas será concluído em maio. Mas, segundo fontes que estiveram nas reuniões, o Brasil foi usado como um exemplo de como ações foram consideradas como insuficientes.

O processo de exame da situação brasileira foi, ironicamente, resultado de uma pressão feita pelo Itamaraty contra a OMS. Em 2020, ao lado do governo de Donald Trump, o governo de Jair Bolsonaro aderiu a um projeto para exigir que a agência mundial de saúde fosse alvode uma espécie de auditoria.

O projeto foi aprovado. Mas os peritos escolhidos para realizar o exame optaram por examinar não apenas a OMS. Além da gestão de Tedros Ghebreyesus, os especialistas decidiram que iriam também avaliar como os diferentes governos responderam aos alertas internacionais, às recomendações e à declaração de emergência global, em janeiro de 2020.

Uma das primeiras conclusões aponta que, se a emergência foi estabelecida, poucos foram os governos que implementaram medidas concretas e fortaleceram seu sistema de saúde nas primeiras semanas após a eclosão da crise. 

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Rogério Carvalho 
@SenadorRogerio
Matéria destaque na imprensa hoje: Propagação da COVID-19 no Brasil foi INTENCIONAL. Com quase 300 MIL mortes no país, Bolsonaro precisa responder por crimes contra a humanidade! #ForaBolsonaroUrgente #BolsonaroGenocida
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22
Mar21

As Forças Armadas e o genocídio no Brasil

Talis Andrade

 

Por Jeferson Miola
O general-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva publicou artigo no Estadão [20/3] para tentar livrar a responsabilidade das Forças Armadas pela hecatombe que até o momento já causou o morticínio de quase 300 mil brasileiros/as e segue em descontrolada espiral.

Com informações fantasiosas e um relato ufanista e laudatório, o artigo já inicia com uma mentira no título: “Forças Armadas na Operação COVID-19, um ano salvando vidas”.

A realidade apresentada é um disparate absoluto. A começar pela omissão de que foi o general-ministro da morte Eduardo Pazuello quem comandou a irresponsável, desastrosa e criminosa gestão da pandemia.

E Pazuello é um general da ativa! Por isso, inevitavelmente vincula o Exército Brasileiro [EB] à responsabilidade pela terrível catástrofe que tornou o Brasil uma ameaça planetária. O general-paspalhão aboletou no ministério da saúde um destacamento militar que usurpou a memória técnica, a inteligência científica e a capacidade estratégica e operacional do SUS.

Azevedo e Silva enaltece a ação por terra, mar e ar das Forças Armadas [FFAA] – aviões da FAB transportando oxigênio, navios da Marinha levando vacina às comunidades ribeirinhas, soldados do EB apoiando vacinação de indígenas – como “pequenos exemplos do trabalho diário, constante e silencioso das Forças Armadas na Operação Covid-19” e do “engajamento decisivo dos nossos militares”.

Ele diz que “O planejamento foi de uma operação militar de guerra” [sic]. “Os números da Operação Covid-19 mostram o tamanho do esforço [sic]. São empregados, diariamente, cerca de 34 mil militares, efetivo maior que o da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial”, afirma.

Capa da revista ISTOÉ 19/03/2021Conhecendo-se os resultados desastrosos deste “planejamento”, é de se supor que o despreparo e a incompetência para a defesa do Brasil em eventual guerra são de tal ordem que as FFAA brasileiras seriam derrotadas até para uma inexistente Marinha da vizinha Bolívia.

Como se o Brasil inteiro não estivesse enfrentando um colapso das dimensões de Manaus, o general-ministro relata que “os aviões da FAB já voaram o equivalente a 55 voltas ao mundo transportando oxigênio, respiradores, medicamentos, vacinas, equipes de saúde e pacientes”.

Mesmo o noticiário recente retratando a falta de insumos, equipamentos e medicamentos e a compra de máscaras inadequadas e a preços superfaturados, o delirante texto cita uma suposta reconversão produtiva como outra dimensão do heroísmo militar: “Empresas responsáveis por mais de 1 milhão de empregos diretos adaptaram suas linhas de produção. Equipamentos bélicos deram lugar a equipamentos de proteção individual e outros itens essenciais”.

Azevedo e Silva ainda destaca que as FFAA desenvolvem outras ações “enquanto transcorre a Operação Covid-19”. Como exemplo disso, e talvez tomado por algum surto delirante, ele cita a “operação de garantia da lei e da ordem ambiental na Amazônia […] com resultados expressivos na redução do desmatamento”.

Num esforço ineficaz de desvincular as FFAA da devastação do país e da hecatombe que o próprio governo militar está promovendo, o general-ministro da Defesa declara que “Há um ano, Marinha, Exército e Força Aérea correm contra o tempo e lutam, no limite das suas capacidades, para salvar e preservar vidas. E assim será enquanto se fizer necessário”.

Por mais que tentem, estes militares que conspiraram para voltar ao poder por meio de uma eleição ilegítima em que o principal concorrente foi alijado numa farsa burlesca, eles não conseguirão se livrar das responsabilidades que objetivamente ou subjetivamente assumem pelos crimes perpetrados contra o país e o povo brasileiro.

O artigo do general-ministro Fernando Azevedo e Silva parece uma tentativa desesperada dos militares que estão baratinados diante do esboroamento da situação e da aproximação do prazo de validade do regime.

É hora de baterem em retirada e voltarem aos quartéis – de onde, aliás, jamais deveriam ter saído para atuarem na política. Ao invés disso, contudo, eles esperneiam e ameaçam com a escalada ditatorial e medidas autoritárias típicas de Estado Policial.

Capa da revista Veja 19/03/2021

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27
Fev21

Prefeito Melo/MDB, de Porto Alegre, conclama população a morrer pelos empresários

Talis Andrade

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por Jeferson Miola

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Porto Alegre está a um passo de se transformar na Manaus do sul do Brasil. Qualquer porto-alegrense que for contaminado e tiver o infortúnio de agravamento da doença, recebe uma sentença de morte.

A cidade se aproxima cada vez mais do cenário lúgubre de óbitos domiciliares e de sepultamentos em valas comuns. O sistema municipal de saúde está colapsado e o sistema funerário poderá entrar em pane.

Em consequência da gestão irresponsável e incompetente do governo, sobram pacientes desesperados nas filas pela sobrevivência enquanto faltam leitos de UTI, respiradores mecânicos, oxigênio, EPI’s etc.

Uma verdadeira hecatombe! Uma hecatombe anunciada e alertada há semanas por especialistas, epidemiologistas e sanitaristas sérios, aqueles não carreiristas, que apelaram, em vão, pela adoção dos protocolos técnicos mundialmente recomendados.

A despeito disso, contudo, o prefeito Sebastião Melo/MDB, ao invés de adotar medidas para deter o sofrimento humano e a ocorrência de mortes evitáveis na cidade, conclama a população a morrer pelos empresários e pelas empresas.

Dê a sua contribuição, contribui com a sua família, com a sua cidade, com a sua vida …. [pausa teatral] pra que a gente salve a economia do município de Porto Alegre”, declarou o bolsonarista Melo/MDB [escandalize-se aqui com esta declaração].

É alarmante o silêncio das instituições – do judiciário, defensoria e ministério público – diante deste ataque frontal à vida humana desferido por governantes que assumem, consciente ou inconscientemente, suas condutas de homicidas.

Numa democracia, Melo/MDB seria imputado criminalmente, e jamais teria a permissão de permanecer à frente de qualquer boteco, menos ainda da administração de qualquer cidade.

A política genocida de Bolsonaro está sendo executada na sua plenitude em Porto Alegre!

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18
Abr20

Tragédia anunciada: o teste da gestão pública

Talis Andrade

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É doloroso constatar que o que está sendo feito até agora é muito pouco para conseguir impedir o sofrimento e as perdas irreparáveis de pessoas queridas.

por Nádia Campeão

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O Brasil está entrando na fase mais dura do Covid-19 e justamente quando a população e a sociedade deveriam estar concentradas no enfrentamento e na proteção, esta trazida pelo isolamento social, o que se observa é a ação criminosa, omissa e descomprometida de parte das autoridades públicas. A maior é a do presidente da República e do seu governo, exceção do contraditado ex-Ministro da Saúde, e agora incluído o presidente do Banco Central que disse ser preferível que o pico da doença e das contaminações ocorra logo, para que a economia também possa se recuperar logo. Para ele, que falou para um conjunto de investidores, se a curva fica muito tempo achatada, pior para a recuperação da economia!

Assistimos, comovidos e indignados, o colapso do atendimento em Manaus, a aceleração rápida da ocupação dos leitos de UTI em todo o país e o avanço dos casos de contaminação para as áreas populares das periferias. A região da Brasilândia, bairro popular de São Paulo, onde moram mais de 270 mil pessoas, é a que registra o maior número de mortos pela epidemia na cidade.

Nestas mesmas regiões, a movimentação nas ruas comerciais é mais intensa, o isolamento social é baixo e, ainda por cima, formam-se longas filas, por longas horas, de pessoas tentando resolver pendências de CPF nas poucas unidades da Receita Federal ou buscando receber o auxílio emergencial nas agências da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. É inacreditável: para tentar sobreviver ficando em casa com alimentação básica, o povo precisa se expor ao risco da aglomeração na rua.

Temos aqui duas evidências gritantes de desinteresse, desaparelhamento e insuficiência de gestão pública. Em primeiríssimo lugar, ao ser praticamente forçado a pagar o auxílio emergencial, o governo federal o faz de forma lenta e burocrática. Demonstra que não se preparou em momento algum para socorrer a economia popular. Supôs que os pobres e excluídos do nosso país – gente que perdeu o emprego e não tem mais esperança em recuperá-lo, os desalentados, os informais que sobrevivem sem conta bancária nem cartão – teriam situação regular de CPF e até perante a Justiça Eleitoral! Como se não bastasse, imaginaram que estas mesmas pessoas teriam facilidade e familiaridade para cadastrar-se por meio digital, baixar aplicativos, ler uma lista longa de instruções e preencher outra lista de dados. Chega a ser cínico o comentário de uma autoridade da CEF para uma emissora de tv, quando perguntado sobre as imensas filas que se formaram: “mas não precisa vir nas agências, dá prá fazer tudo por internet… peçam para alguém ajudar”.

O pecado original está no fato de que, na verdade, milhões de brasileiros pobres voltaram a fazer parte da extrema pobreza, perderam seus empregos, foram forçadamente para a informalidade, foram morar nas ruas, e, ao mesmo tempo, não foram aceitos no Bolsa Família e nem mesmo incluídos no Cadastro Único de outros benefícios. Ou apenas no cadastro como pessoas em situação econômica vulnerável. Ao invés de orientar para que em todo o país fosse feita uma busca ativa para cadastramento (como ocorreu nos governos Lula e Dilma), o governo Bolsonaro paralisou e desestruturou as políticas públicas existentes. Aliás, é só lembrar os milhares que aguardam concessão das suas aposentadorias. Se já tivessem recebendo, seria menor o número de pessoas necessitadas do auxílio emergencial. Como agora bem está sendo reconhecido, não fosse a fortaleza construída pelo SUS, tão criticado e menosprezado pelos neoliberais e defensores do Estado mínimo, o povo brasileiro estaria totalmente desamparado. O mesmo se pode referir à educação pública e à ciência brasileira.

O outro aspecto do desastre que atinge os bairros populares é a fraca presença do poder público municipal, sem instrumentos eficazes de governo local, sem uma rede de proteção constituída por Defesa Civil, entidades sociais, sindicais e comunitárias, voluntariado, capaz de agir rápida e organizadamente em situações extremas. E situações extremas não tem faltado nos últimos anos, desde as chuvas e enchentes recorrentes, rompimentos de barragens, poluição de óleo no litoral, epidemias de dengue, zika, chikungunya e agora a Covid-19. Nossas cidades não têm resiliência, a sociedade não está preparada para pensar e agir coletivamente, os mecanismos de solidariedade surgem de forma espontânea e desarticulada. Se houvesse governo local fortalecido, haveria de organizar uma porta de entrada única para as doações, um voluntariado selecionado e protegido para organizá-las e fazer as entregas, para auxiliar as pessoas nas suas casas a realizar os cadastros necessários, para preparar locais de apoio que possam receber pessoas contagiadas que não tem condições de fazer o isolamento nas suas casas. Os hospitais de campanha já deveriam estar sendo montados, inclusive com o recurso ao trabalho das Forças Armadas que já ajudaram na epidemia da dengue, próximos ou dentro destas comunidades. Alguns exemplos meritórios estão sendo liderados por entidades comunitárias, como em Heliópolis e Paraisópolis, em São Paulo, em comunidades do Rio de Janeiro, e por prefeitos que compreendem a tempo a enorme responsabilidade que está sob sua gestão, como talvez nunca tenham enfrentado antes.

Mas é doloroso constatar que o que está sendo feito até agora é muito pouco para conseguir impedir o sofrimento e as perdas irreparáveis de pessoas queridas. Os governantes que não souberam ou não quiseram cumprir seu papel de principal artífice do combate ao Covid-19 e suas consequências, serão cobrados duramente.

17
Abr20

Demissão de Mandetta em plena crise do coronavírus tem forte repercussão na Europa

Talis Andrade

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Por RFI

A demissão do ministro da Saúde do Brasil tem forte repercussão na Europa nesta sexta-feira (17). Rádios, TVs e jornais noticiam a decisão do presidente brasileiro de substituir o "popular" Luiz Henrique Mandetta em plena crise do coronavírus.

Em manchete, o jornal Le Monde afirma que a demissão de Luiz Henrique Mandetta nessa quinta-feira (16), aconteceu "em plena pandemia" e que o ministro era "o símbolo da luta contra a Covid-19" no Brasil.

O correspondente do diário no Brasil, Bruno Meyerfeld, escreve que o afastamento de um ministro da Saúde em plena crise sanitária mundial é "bombástico”, mas não surpreendeu ninguém em Brasília.

Desde o início da epidemia, "uma verdadeira guerra fria opunha o presidente brasileiro de extrema direita, um ‘coronacético’ assumido, ao seu ex-ministro da Saúde, um ‘corona-alarmista’ convencido", explica o texto do artigo.

Libération afirma que no Brasil de Bolsonaro é assim que as coisas acontecem. O jornal lembra que a demissão do “popular” Mandetta desagradou a população, que reagiu com panelaços ao anúncio do presidente, em várias cidades do país.

 
Lourival Borges
@Lourival_Borges
 
A charge que melhor ilustra a demissão do #Mandetta do Ministério da Saúde... Nesse desgoverno não tem espaço p/ pessoas racionais e que seguem princípios científicos, mesmo diante de uma pandemia. O que prevalece é a ignorância! #BolsonaroVirus #BolsonaroGenocida
 
 
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Desacordo total

O diário britânico The Guardian publica que o motivo da demissão foi a diferente concepção que Bolsonaro e Mandetta tinham sobre a luta contra a doença: enquanto "o líder da extrema-direita" dá uma controversa resposta à Covid-19, priorizando o impacto econômico, o ministro defendia o confinamento da população.

EL PAÍS Brasil
@elpais_brasil
 
Oncologista e empresário do setor da saúde foi consultor informal na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro
Novo ministro da Saúde, Nelson Teich, fala em aliar isolamento com incentivo à economia contra...
Oncologista e empresário do setor da saúde foi consultor informal na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro
brasil.elpais.com
  

O desacordo entre os dois homens sobre o coronavírus era "total", completa a rádio francesa RTL. Mandetta foi substitído pelo oncologista Nelson Teich, que é médico de Jair Bolsonaro, ressalta a emissora francesa, informando que durante sua primeira entrevista coletiva o novo ministro brasileiro garantiu que irá abordar a crise do coronavírus de maneira técnica e científica.

Período de incerteza

Segundo o correspondente da RFI no Brasil, François Cardona, a saída de Mandetta abre um "período de incertezas no Brasil". Nelson Tech é favorável a uma campanha de testes em massa para conhecer melhor a propagação do vírus no país. Mas, por enquanto, as autoridades não têm condições de fazer isso rapidamente em todo o país, informa Cardona.

Até essa quinta-feira, a Covid-19 tinha provocado a mortes de 1.924 pessoas e contaminado 30.425. Mas o correspondente da RFI revela que um coletivo de  pesquisadores universitários, reunido no grupo Covid-19, estima que o número de casos de coronavírus no Brasil seria "quinze vezes maior". De acordo com os pesquisadores, mais de 300.000 pessoas estariam infectadas no país. O grupo Covid-19 teme “um hecatombe” nas próximas semanas, conclui Cardona.

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