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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

27
Ago23

CPMI: Com Bolsonaro, Ajudância de Ordens se tornou Ajudância de Crimes

Talis Andrade
Geraldo Magela/Agência Senado

Sargento Luis Marcos dos Reis: envolvido numa série de escândalos ligados a Bolsonaro, a quem serviu como ajudante de ordens

Segundo o deputado Rubens Pereira Júnior, militares que assessoravam Bolsonaro ajudaram o ex-presidente a cometer crimes. "Todos são iguais perante a lei". Parlamentares do PT pedem punição aos golpistas das Forças Armadas

Como disse o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), o sargento Luis Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, “contribuiu pouco e mentiu muito” ao depor nesta quinta-feira (24) na CPMI do Golpe. A estratégia, no entanto, não impediu que a verdade aparecesse mais uma vez.

E a verdade é que a Ajudância de Ordens, cuja função é assessorar diretamente o presidente da República, se transformou, no governo de Jair Bolsonaro, em um verdadeiro escritório de ilegalidades.

“Infelizmente, a Ajudância de Ordens se transformou em Ajudância de Crimes”, resumiu o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA). “Em todos os crimes que estamos investigando nesta CPMI, a Ajudância de Ordens está no meio. Todos: minuta golpista, fraude de vacinas, dinheiro vivo, invasão dos Três Poderes”, completou.

E Reis é uma prova disso. O nome do militar aparece tanto na fraude dos cartões de vacinação quanto nos ataques do 8 de Janeiro e nas transações suspeitas que beneficiaram Bolsonaro e sua esposa, Michelle (leia mais sobre as suspeitas que recaem sobre o sargento).

 

Desmascarado, optou pelo silêncio

Ao iniciar seu depoimento, Reis tentou negar a prática de qualquer crime. Disse que os 3,3 milhões movimentados em sua conta eram fruto de um consórcio informal que fazia com colegas militares, história taxada de “difícil de acreditar” por Rubens Pereira Júnior.

O sargento chegou também a insinuar não saber quem é Vanderlei Cardoso de Barros, pai de uma das donas da Cedro do Líbano, empresa com contratos públicos que, segundo a Polícia Federal, fez depósitos na conta do sargento para que ele pagasse um cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro.

Acabou desmascarado por Rogério Correia, que mostrou evidências da amizade entre os dois, a ponto de Reis chamar Vanderlei carinhosamente de Derlei e trocar com ele diversas mensagens de WhatsApp.

Depois disso, o sargento Reis preferiu ficar em silêncio sempre que questionado sobre pagamentos feitos para Michelle ou Bolsonaro. “O seu silêncio fala demais”, ressaltou Pereira Júnior, que listou uma série de perguntas que precisam ser respondidas: 

1) Como se davam os pagamentos de contas pessoais de Bolsonaro e Michelle?

2) Qual era o volume em espécie que circulava dentro da Ajudância de Ordens?

3) De onde vinha o dinheiro em espécie, ou seja, quem repassava esses montantes?

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), fica claro que, além de apoiar um golpe de Estado, militares da Ajudância de Ordens e outros contribuíram para o que se parece muito com um esquema de rachadinha no interior do Palácio do Planalto.

“Pelo que estamos vendo, é o coronel, é o general, é o cabo, é o soldado, uma trupe inteira envolvida na lavagem de dinheiro, que é o que estamos neste momento identificando”, ressaltou, lembrando ainda o esquema de venda ilegal de joias da União.

 

“Um dos militares golpistas” 

Outra versão que o sargento Reis tentou contar foi a de que esteve na Esplanada dos Ministérios, em 8 de janeiro, apenas como um cidadão curioso. Também acabou desmentido, pois as mensagens descobertas pela PF em seu celular evidenciaram seu entusiasmo e apoio aos atentados terroristas daquele dia.

“O senhor estava ali engajado no golpe. O senhor é um dos militares golpistas”, acusou Rogério Correia, defendendo a punição de todos os membros das Forças Armadas que atentaram contra a democracia, seja qual for suas patentes.

“Se as Forças Armadas estão incomodadas de serem chamadas de golpistas, que eles assumam aqueles elementos que estavam no golpe, como é o caso do senhor, do Lawand, do Mauro Cid, do general Dutra. E nós vamos ter que escutar também o ministro da Defesa de Bolsonaro, que permitiu, a mando de Bolsonaro, que um hacker entrasse no ministério para falar de urnas eletrônicas”, defendeu o deputado.

O senador Rogério Carvalho fez uma fala semelhante: “A democracia venceu aqueles que acreditavam na ditadura, no autoritarismo, no Exército como instrumento de morte contra o povo brasileiro, contra a democracia e contra a sociedade brasileira. Eu quero aqui dizer, àqueles que resistiram no Exército contra o golpe, meu respeito. E àqueles que se colocaram junto dessa aventura golpista, meu desprezo. E que a punição seja exemplar. Sem anistia para aqueles que traíram a democracia e o Brasil.”

Rogério Correia: "O senhor não estava passeando e sim engajado no golpe" 

Também presente na audiência, o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), ressaltou que figuras como a do sargento Reis mostram bem do que se trata o bolsonarismo: “O encontro do negacionismo com o golpismo”.

“Bolsonarismo é isso: nega a ciência, ovaciona torturador, fala que é a favor da liberdade de expressão, mas apoia ditadura, a censura na ditadura. Isso é o bolsonarismo, que nega que a Terra é plana, que nega vacina para a população, que matou 700 mil pessoas, que enfia ivermectina na população. Isso não é comportamento de um integrante das Forças Armadas”, afirmou o senador.

Rubens Pereira: "A oposição está, arrependida de ter convocado essa CPI"

27
Jun23

Com 26 kids pretos Bolsonaro tramava o golpe e outras safadezas

Talis Andrade
 
 
 
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RED - Durante os quatro anos de mandato, Jair Bolsonaro convocou pelo menos 26 militares altamente treinados especialistas em operações especiais, chamados de kids pretos ou “forças especiais” (FE), que foram a elite de combate do Exército. A atuação do grupo antes das Eleições de 2018, durante o governo e na tentativa de golpe foi revelada pela reportagem da revista Piauí.

A relação do ex-presidente com o grupo é antiga. Quando era do Exército, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Bolsonaro queria fazer parte da força especial. Fez o curso de paraquedismo, primeira etapa de formação, e duas provas de ingresso, mas foi reprovado em ambas.

Expulso da corporação, Bolsonaro chegou ao poder três décadas depois e cercou-se dos integrantes dos kids pretos, afirmando serem os únicos em quem confia plenamente. Sua eleição já era chancelada pelo grupo em março de 2018. Segundo a reportagem, o general Luiz Eduardo Ramos – que viria a ser ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e da Casa Civil – telefonou para Bolsonaro durante um jantar com outros militares. Após a conversa, ele afirmou: “Estão vendo? Esse cara está nas nossas mãos. Se ele for eleito, a gente vai governar por ele”.

E foi o que aconteceu. Pelos menos 26 militares da elite de combate do Exército estiveram presentes em seu governo. Além do general Ramos, estão: o general Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército; o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens; Cleiton Henrique Holzschuk que tentou retirar as joias apreendidas pela Receita Federal como bem pessoal de Bolsonaro; Marcelo da Costa Câmara, gerente do acervo particular do ex-presidente; o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde; o coronel Elcio Franco Filho, auxiliar no Ministério da Saúde; e o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, chefe do setor de Logística do Ministério da Saúde.

Outro kid preto que esteve presente no governo bolsonarista foi Mario Fernandes, general da reserva que atuou como assessor da Secretaria-Geral da Presidência. Após o resultado das Eleições de 2022, Fernandes mandou uma carta endereçada ao comandante do Exército, general Freire Gomes, exigindo uma ação para reverter a derrota.

“É agora ou nunca mais comandante, temos que agir! E não existe motivação maior que a proteção e o futuro desta grande nação e de seus filhos… Os nossos filhos!”, escreveu Fernandes.

De acordo com a Piauí, o que ele queria era um “evento disparador”, algo que deveria acontecer “a partir da ação das forças de segurança contra as massas populares, com o uso de artefatos como gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral”. Este suposto evento deveria acontecer “bem próximo ou em nossas áreas militares”, detalhou o general da reserva. O comandante do Exército não atendeu o pedido, mas houve mais de um “evento disparador” com a participação dos kids pretos.

O primeiro, em 12 dezembro, dia da diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Bolsonaristas incendiaram cinco ônibus, três automóveis e uma viatura do Corpo de Bombeiros. Eles também tentaram invadir a sede da Polícia Federal em proposta contra a detenção de um indígena xavante.

De acordo com relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), havia três kids pretos infiltrados entre os xavantes durante o ato. “Tudo indica que os militares usaram esses indígenas como massa de manobra. Isso porque, em alguns casos, o Estatuto do Povos Indígenas atenua a responsabilidade civil e criminal”, afirmou um agente de forma anônima à reportagem.

Outro evento foi os atos golpistas que invadiram e depredaram as sedes do Três Poderes, em Brasília, no dia 08 de janeiro. Desta vez, os militares não se esconderam. O general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes se gravou durante os atos. Outros, como os coronéis José Placídio Matias dos Santos e Fernando de Galvão e Albuquerque Montenegro, usaram o Twitter para comemorar os atos. “Será que o pessoal sabe que na manifestação de ontem e, Brasília havia centenas de militares da ativa?”, questionou o coronel Santos.

Porém, a participação do grupo de elite de combate não ficou somente nisso. Conforme apurado pela revista, a forma que os golpistas se movimentaram mostra treinamento militar. Ação coordenadas, divisão em grupos, presença em diferentes lugares ao longo dos gradis para empurrar ao mesmo tempo e uso dos gradis como escadas indicam o planejamento dos atos.

“A tendência natural de toda multidão é caminhar unida, numa única direção”, disse um militar do Exército à reportagem. Sobre a atuação dos golpistas no Senado, houve uma organização em dois grupos, um de enfrentamento aos policiais e outro de apoio para minimizar os efeitos do gás lacrimogênio.

“Enquanto expele o gás, esse dispositivo fica muito aquecido e só pode ser recolhido com luvas. Um civil sem treinamento dificilmente se prepararia para isso” apontou o militar para um indício de treinamento.

Além do comportamento, os golpistas possuíam uma granada do tipo GL-310, que não tem no Senado, na Câmara ou na Polícia Militar do Distrito Federal, apenas no Exército em treinamentos militares, incluindo no curso dos kids pretos. A presença do artefato ainda não está sendo investigado pela Polícia Federal.

Mas os investigadores suspeitam da participação dos kids pretos na série de sabotagens em torres de transmissão de energia elétrica. Foram quatro torres derrubadas, sendo 3 em Rondônia e 1 no Paraná. Outras 16 foram danificadas: 6 no Paraná, 6 em Rondônia, 3 em São Paulo e 1 em Mato Grosso.

Com a troca de presidente, os kids pretos que aturam no governo Bolsonaro saíram, mas não todos. Um bolsonarista fiel e kid preto, o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, chefia o Comando Militar do Planalto no dia 08 de janeiro. Ele foi afastado em fevereiro e exonerado em abril.

Mas não é próprio do governo Bolsonaro. O general Gonçalves Dias, também um kid preto, trabalhou na segurança do presidente Lula durante seus dois mandatos anteriores e foi nomeado como chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em seu terceiro governo. Ele pediu demissão em abril após imagens do circuito interno do Palácio do Planalto mostrarem sua inação frente aos invasores.

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