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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

01
Dez19

Investigação de TCU sobre declaração de Guedes entra em nervo exposto da corrupção financeira, por Luis Nassif

Talis Andrade

De repente, Guedes dá duas declarações controvertidas: a favor do AI-5 e a favor da desvalorização do real

chicago boy paulo guedes.jpg

 

por Luis Nassif

A representação junto ao Tribunal de Contas da União do subprocurador Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público de Contas, sobre as declarações do Ministro da Economia Paulo Guedes, de que o governo não iria conter a alta de dólar, entra pela primeira vez em um dos nervos expostos da corrupção financeira: o do insider information (informação privilegiada) na área do Banco Central.

É um estratagema que custa mais ao país do que corrupções de empreiteiras em obras públicas e foi praticado por muitos governos:

  • por Gustavo Franco, no governo FHC, quando tentou implementar política de recompra de títulos da dívida externa e vazou a informação antecipadamente para especuladores;
  • No caso do Banco Vetor, no governo FHC, que se jactava de acertar todas as cotações nos leilões de taxas do Banco Central;
  • Nas vendas de títulos públicos no governo FHC;
  • Nas parcerias de Antonio Palocci com o BTG, no governo Lula.

     

    O jogo é simples. Pega-se um ativo sensível às declarações, o câmbio. Há um jogo de braços em torno da cotação de equilíbrio, levando em conta os seguintes fatores:

    1. O fluxo de entrada e saída de moedas.
    2. Os limites de alta suportados pelo Banco Central, já que desvalorização excessiva pode impactar a inflação.
    3. Analise do quadro político interno.

      -

      Tudo isso leva o dólar a se fixar em determinados limites. De repente, Guedes dá duas declarações controvertidas: a favor do AI-5 e a favor da desvalorização do real.

      Imediatamente há um salto na cotação da moeda, com perdedores e ganhadores. Lamento corrigir os analistas que interpretaram a alta como reação do mercado às ameaças contra a democracia. A alta foi efeito direto do anuncio de Guedes, de que o BC não iria intervir no mercado. Trata-se de um mercado bilionário, no qual pequenas oscilações da moeda produzem grandes lucros – ou prejuízos.

     

No momento seguinte, o Banco Central passou a vender dólares para conter a alta. Portanto, as declarações de Guedes tiveram o efeito de permitir um salto pontual nas cotações do dólar, até serem desmentidas pela própria atuação do BC.

Quem sabia da declaração comprou dólares um pouco antes e vendeu logo em seguida, assim que houve o salto nas cotações. Portanto, as investigações são bastante simples: basta conferir quem adquiriu dólares de forma expressiva antes das declarações de Guedes e vendeu imediatamente ao BC.

Trata-se de um caso mais grave do que o insider information tradicional, porque a intenção explícita de Guedes foi apenas o de provocar um salto pontual nas cotações.

Dolar-recorde.jpg

 

12
Ago18

Alckmin? Bolsonaro? Quem manda é o Arida!

Talis Andrade

 

 

ALCKMIN OU BOLSONARO? TANTO FAZ. QUEM VAI MANDAR NA ECONOMIA VAI SER O BANCO BTG PACTUAL

 

temporada de caça lava jato.jpg

 

 

por Alexandre Andrada

---

QUANDO O JORNALISMO se refere a esse ente abstrato chamado “mercado”, saiba que é apenas o nome impessoal dado um punhado de empresas do setor financeiro, de origem nacional e estrangeira, cujas sedes se concentram no Rio e em São Paulo.

 

O Banco Central divulga semanalmente o Relatório Focus, que apresenta as expectativas do “mercado” sobre uma série de variáveis econômicas. Em seu último número, vê-se que “ele” espera para 2018 uma inflação de 4,11%, e de 4% para 2019 e 2020.

 

O valor científico dessas previsões é próximo de zero, já que os economistas não acertam sequer a inflação do mês corrente. Mas isso não significa que elas são inúteis. O fato de o mercado projetar uma inflação no centro da meta para os anos vindouros, significa que ele está tranquilo em relação ao próximo governo do país.

 

Na República Velha, que durou entre 1889 e 1930, São Paulo era café, e os cafeicultores elegiam seus presidentes. Na Nova República, São Paulo é derivativos, e o setor financeiro elege seus presidentes.

 

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Mesmo quando um outsider ameaça romper a política do café-com-leite moderno, ele é obrigado a beijar a mão do “mercado”.

 

Exemplo claro disso foi Lula em 2002, com sua Carta aos Brasileiros e a escolha de Henrique Meirelles para comandar o Banco Central. Meirelles era àquela altura deputado federal eleito pelo PSDB e ex-funcionário da alta cúpula internacional do Bank Boston. Ou seja, era um digno representante dos que mandam nesta terra, feito o filho bacharel de um grande cafeicultor de Campinas no início do século passado.

 

Agora, o plano A do “mercado” é Alckmin. Além de paulista, e com bom trânsito nas regiões da Paulista e Vila Olímpia, sede de grandes empresas e bancos, Alckmin tem sua equipe econômica liderada por Pérsio Arida.

 

Arida é ele mesmo um desses milionários do “mercado”, sendo quem assumiu o controle do banco BTG Pactual quando André Esteves foi para o xilindró, na esteira da queda de Delcídio do Amaral.

 

Nascido em São Paulo, Arida é doutor em Economia pelo MIT, o badalado Massachusetts Institute of Technology. Tornou-se nacionalmente conhecido no início dos anos 1980 como professor da PUC-Rio, quando elaborou um plano de combate à inflação junto com André Lara Resende, que serviria de base para o Plano Real.

 

Arida trabalhou na burocracia estatal já no governo Sarney, durante a implementação do Plano Cruzado. Depois voltou à cena no governo FHC, dirigindo o Banco Central e o BNDES. Na época do BC, surgiram denúnciasde que ele teria repassado informações privilegiadas para Fernão Bracher do banco BBA, banco de investimentos que administra fortunas incorporado pelo Itaú em 2002.

 

Saindo do governo, entrou pela porta da frente do “mercado”.

 

Arida é um liberal. Em entrevista recente disse: “O Estado tem de deixar de ser empresário. O que as pessoas querem hoje e o que Brasil precisa é de uma economia dinâmica. Para isso, não precisa de estatal”. Acredita que o Brasil não pode crescer mais de 2% ao ano, bem como que os juros bancários só poderão ser reduzidos se forem retiradas as interferências governamentais. Subsídios creditícios e crédito direcionado, acredita, são as causas dos juros elevados. Nada de errado com os bancos, pois.

 

Sua proposta é, resumidamente, a de avançar nas privatizações, abrir a economia à competição internacional e reduzir a regulamentação estatal sobre o funcionamento dos mercados.

 

No caso do plano A falhar, o “mercado” está claramente disposto a acionar seu plano B: Bolsonaro.

 

Suas declarações afirmando ser ignorante em assuntos econômicos têm duas dimensões. A primeira, suas óbvias limitações cognitivas. Segundo, e mais importante, sinaliza ao “mercado” que toda as coisas que disse ao longo de sua vida parlamentar sobre assuntos econômicos, que tendiam para um nacionalismo do tipo Médici-Geisel, eram palavras ao vento de um incauto.

 

A equipe econômica de Bolsonaro é liderada por Paulo Guedes.

 

Guedes é doutor em Economia pela Universidade de Chicago, a mais famosa escola econômica liberal do mundo. Como Arida, teve seu momento como acadêmico, lecionando na PUC e na FGV do Rio. No início dos anos 1980, foi um dos fundadores do banco Pactual, que está na origem do BTG Pactual há pouco mencionado.

 

Coincidência? Quiçá.

 

A verdade é que o universo das grandes finanças do país é pequeno. E o BTG Pactual orgulha-se de ser o quinto maior banco brasileiro, e o maior banco de investimento “puro sangue” da América Latina.

 

Estamos, pois, falando de uma máquina de fazer dinheiro em grande escala e cujos donos interferem de maneira republicana (ou não) nos rumos da política nacional.

 

Guedes era um dos dirigentes da Bozano Investimentos, empresa do bilionário Júlio Bozano (que ganhou uma bolada na época das privatizações dos anos 1990). A empresa tem hoje uma carteira de investimento acima dos 3 bilhões de reais.

 

Guedes é também um dos principais nomes do Instituto Millenium, o think tankultraliberal, cujo panteão de colunistas conta com grandes nomes do “mercado”, como Gustavo Franco e Alexandre Schwartzman, para ficar nos mais conhecidos.

 

A “agenda Guedes” é a mesma de Arida, mas sob o efeito de anabolizantes.

 

E SE TUDO der errado, há ainda Marina Silva, que viveu encangada com Neca Setúbal, filha do fundador e sócia do banco Itaú. O maior banco privado do país (junto com Bradesco) e uma de nossas grandes multinacionais. Cabe lembrar que Itaú, BB, Caixa e Bradesco controlam quase 80% de todos os depósitos bancários do país.

 

Marina conta ainda com o auxílio de Lara Resende, parceiro intelectual de Arida nos anos 1980.

 

Lara Resende tem currículo parecido com os dois anteriormente citados: doutor pelo MIT, passagem pela academia, pela burocracia estatal e pelo “mercado”.

 

Foi recentemente apedrejado por seus pares, quando suspeitou de que poderia haver algo de errado no sistema financeiro nacional, dono das maiores taxas de juros.

 

Lara Resende, porém, está a anos-luz de ser um heterodoxo ou outsider. Só vacilou em sua fé.

 

Enfim, não tem como dar errado. O “mercado” já elegeu seu próximo presidente.

 

Não se governa país algum indo-se contra a elite econômica local. E a elite econômica do Brasil de hoje são as empresas financeiras.

 

A nós, resta o voto de cabresto desse coronelismo repaginado.

capitalismo carestia privatização bancos indigna

 

08
Set17

124 bilhões de dólares e uma conta chamada “Tucano”. O assalto de 250 bilhões

Talis Andrade

124-bilhoes-de-dolares-e-uma-conta-chamada-tucano.

 

 

por Armando Rodrigues Coelho Neto, GGN

 

Aconteceu na década de 90. US$ 124 bilhões saíram do Brasil através das chamadas contas CC5. Há quem diga que, na época, nem as reservas brasileiras em moeda americana chegavam a esse total. O banco usado para a roubalheira foi o Banestado e o ralo era Foz do Iguaçu/PR, cidade onde antes durante ou depois foi trabalhar o tal “Japonês da Federal”, que nada tem a ver com a história.

 

[O editor deste blogue escreveu na época: O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, além de ter tomado a decisão de permitir que cinco bancos pudessem operar as contas CC 5 em Foz do Iguaçu, não fiscalizou as operações feitas pelo antigo Banco do Estado do Paraná (BanEstado), o privatizado Banco do Estado de Minas Gerais, o Banco Araucária, o Itaú e o Banco do Brasil. Pelos aviões Franco CC-5 foram desviados para o exterior cerca de 250 bilhões de dólares. Leia aqui ]

 

Também meio antes, durante ou depois – a essa altura pouco importa, aconteceu a CPI dos Precatórios, que desaguou numa tal Operação Macuco da Polícia Federal, que entrou em cena e descobriu que pelo menos US$ 30 bilhões daquela cifra foram remessas ilegais. [Não esquecer nunca que um precatório para ser pago, e todos com correção monetária, tem que ter a valiosa e cara assinatura de um presidente de tribunal de justiça ]


Durante as investigações, a Procuradoria da República ia junto aos órgãos oficiais, perguntava uma coisa, respondiam outra. Refazia o pedido e a resposta vinha incompleta. E aí, ela radicalizou: pediu a quebra de sigilo de todas as contas CC-5 do País. Sugiro ao leitor uma visita ao Google para entender melhor essas tais contas.

 

A PF descobriu que o dinheiro passava por Nova Iorque (EUA), uma roubalheira que apesar de gigante, seria apenas a ponta de um iceberg. Entre os suspeitos estavam empresas financiadoras de campanha, alto empresariado em geral e membros da alta cúpula do governo brasileiro da era Fernando Henrique Cardoso.

 

O rombo era tamanho que os promotores americanos, abismados com o volume de dinheiro que havia transitado por aquela cidade, quebraram sigilo bancário em Nova Iorque. A equipe da PF foi reconhecida e ganhou a simpatia até do enfadonho e burocrático Banco Central (EUA), além da FBI (Polícia federal americana).

 


O mecanismo descoberto era e é um traçado muito bem articulado, de forma que os verdadeiros nomes dos titulares não possam aparecer. Desse modo, num passe-repasse, plataformas financeiras e coisa e tal, os trabalhos para ocultação envolvem ou envolveriam até cinco camadas ocultadoras.

 

Com esse grau de sofisticação, investigar seria percorrer o complexo caminho inverso, mergulhar nas tais camadas, até que se chegar aos verdadeiros titulares do dinheiro.

 

Estava tudo tão bom e tão bem protegido, que a prática consolidou-se, e como a corrupção no País é endógena, além de “lubrificar economias” (a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE que o diga!) as ratuínas foram abrindo a guarda. Com impunidade garantida, alguns grandes nomes relaxaram e apareceram por descuido.

 

Haja descuido! Surgiu até um óbvio – “Tucano” e um aleatório “Serra”. Tão óbvio que deixou perplexo não só o delegado que coordenava o trabalho, mas também os procuradores. Mero ato falho e primário, em tempos de abertura de guarda, de “engavetadores gerais da República”. Tempos de gente honrada e das panelas silenciosas, da dita “grande mídia” calada, dos arautos da moralidade hodierna.

 

Há uma entrevista no Youtube com o delegado federal José Castilho Neto, coordenador da Operação Macuco. Sem fulanizar ou partidarizar, ele reclama da oportunidade aberta e perdida, naquela época, para o enfrentamento da banda podre, seja da política, seja do empresariado. O Cônsul do Brasil, que trabalhava em Nova Iorque, teria dito para as autoridades americanas que a cabeça do delegado Castilho “estava a prêmio”. Só não disse quem seria o pagador, se os protegidos ou os protetores.

 


Castilho foi afastado. E o leitor a essa altura deve estar se perguntando: por que esse saudosismo tanto tempo depois?

 

Primeiramente para lembrar que a podridão de antes não inocenta ninguém. Mas serve pra provar a hipocrisia dos que hoje posam como arautos da moralidade. Mostra o cinismo dos paneleiros e demonstra com cristalina clareza a postura golpista da dita “grande imprensa”.

 

Em segundo lugar, para não ter que retornar aos tempos do Brasil Colônia ou da mordaça da ditadura militar, eu simplesmente gostaria de reafirmar que esse caso escabroso, narrado lá em cima, ocorreu na era do impoluto Fernando Henrique Cardoso. Sabe qual emissora de televisão de maior audiência? TV Globo. Sabem quem era o doleiro? Alberto Youssef. Sabem quem era o juiz? Sérgio Moro.

 

[Outros assaltantes:

Gustavo Franco

Francisco Gros

Freguesia do BNDES 

Proer dos bancos 

Banco das netinhas

Ângelo Calmon 

Capo Daniel Dantas 

Doleiros 

 

 

 

 

 

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