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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

04
Jul23

Quando vamos nos revoltar com mortes da polícia brasileira?

Talis Andrade

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Jovens negros, do sexo masculino, visto como "suspeitos" são maioria entre os mortos pela polícia no Brasil

 

Policiais matam 6.000 por ano no Brasil. Não adianta se indignar com o assassinato de Nahel, na França, e de George Floyd, nos EUA, e fechar os olhos para a barbárie brasileira

 

por Nina Lemos

DW

No dia 17 de junho, a estudante de enfermagem Anne Caroline Nascimento Silva, de 23 anos, foi morta durante uma blitz policial em uma estrada na Baixada Fluminense (uma das regiões mais violentas do Rio de Janeiro). Os responsáveis por sua morte seriam policiais rodoviários, que teriam atacado o carro onde Caroline estava com o marido com dez tiros. Segundo o marido da estudante, os policiais fizeram sinal para que ele parasse, ele deu a seta e encostava o carro quando ouviu os disparos. Um policial envolvido no caso foi afastado e a ação está sendo investigada pela Polícia Federal.

Sim, a morte de Anne Caroline é tristemente parecida com o assassinato de Nahel, de 17 anos, imigrante de origem norte africana que foi morto pela polícia francesa no dia 26 de junho, também dentro do seu carro e durante uma blitz. O caso foi o estopim de manifestações e uma revolta violenta, que acontece em todo o país desde a semana passada.

A reação ao assassinato de Nahel lembra a onda de protestos que tomou conta dos Estados Unidos em 2020 com a morte de George Floyd, também assassinado pela polícia.

A morte de Caroline não gerou a mesma revolta. Para ser sincera, eu mesma só soube desse absurdo quando comecei a fazer pesquisa para escrever esse texto. É tão rotineiro que a polícia pratique crimes no Brasil que nem prestamos mais muita atenção quando um caso assim acontece.

 

Números absurdos

 

A polícia do Brasil mata, em média, mais de 6 mil pessoas por ano. A nível de comparação: ano passado, a polícia alemã matou dez pessoas. A da França, considerada muito violenta em relação aos países vizinhos, matou 39.

E o que estamos fazendo para mudar isso?

Nas redes sociais, vejo muitos conhecidos admirando o fato de o crime ter comovido toda a França. O presidente Emmanuel Macron, por exemplo, declarou que a morte de Nahel pela polícia era "indesculpável". A mesma admiração tomou conta das redes na época do assassinado de George Floyd. Admiramos o fato de tantos americanos terem tomado as ruas.

Entendo e compartilho dessa admiração. Mas… por que nós (falo sobretudo dos brancos e privilegiados) não estamos fazendo nada em relação aos nossos 6 mil mortos anuais?

Não estou falando, de forma alguma, que não exista revolta e movimentos que lutam contra a violência policial no Brasil. Existem vários. As "Mães de Maio", por exemplo, um grupo formado por mães de jovens assassinados pela polícia lutam por justiça há 17 anos. Quando nós, de classe média, vamos nos juntar a elas ou a outros movimentos que tentam combater essa barbárie?

 

Agatha e Genivaldo

 

As vítimas são tantas que nem sabemos os nomes delas. Lembramos apenas de algumas histórias terríveis, que geraram revolta, mas não o suficiente para causar qualquer mudança no cenário de guerra.

Só para citar alguns casos que nos chocaram e que deviam ter parado o país: em 2019, a menina Agatha Felix, de 8 anos, morreu devido a um tiro no Complexo do Alemão, perto da sua casa. Segundo sua família e testemunhas, o tiro teria sido efetuado pela polícia. Também no Rio, em 2019, o músico Evaldo dos Santos Souza foi morto depois que oficiais do exército dispararam 80 tiros contra seu carro. Na época, o então presidente Jair Bolsonaro chamou o caso de "incidente".

Em 2022, eu estava de férias no Rio de Janeiro, minha terra natal, quando Genivaldo de Jesus foi morto pela Polícia Rodoviária Federal em Sergipe por sufocamento. Sim, ele morreu em uma espécie de câmera de gás, um instrumento de tortura. Na ocasião, fui com uma amiga à manifestação que pedia justiça para ele no centro do Rio de Janeiro.

No protesto, organizados por entidades do movimento negro, de favelas e de direitos humanos, estavam muitos jovens. Mas eles eram majoritariamente negros e periféricos. Não encontrei nenhum amigo da zona sul (a área mais privilegiada do Rio) no protesto. Fazia sol. Meus amigos preferiram ir à praia. "Eu já cansei de chamar as pessoas. Não adianta, elas não vêm", disse minha amiga, que participa de movimentos sociais e vai a todas as manifestações importantes.

O perfil dos assassinados brasileiros é claro: a maioria das vítimas são jovens negros, do sexo masculino, visto como "suspeitos". Nesse caso, vale lembrar, que mesmo um culpado não pode ser executado pela polícia. Não existe pena de morte no Brasil. E, mesmo se existisse, a pessoa precisaria ser julgada. O resto é barbárie.

Não é possível que a gente continue fechando os olhos para tanto racismo e tanta violência policial. Não adianta apoiar, do Brasil, a luta contra violência policial nos Estados Unidos ou na França e fechar os olhos para nossa tragédia. Seis mil mortos por ano. É preciso gritar o quanto isso é inaceitável.

Fruto da relação entre soldados de colônias francesas e mulheres alemãs, essas crianças não apenas foram excluídas socialmente, mas um destino horrível as aguardava com a chegada do regime nazista.

Movimento ‘Mães de Maio’ lança livro com 23 histórias dos filhos mortos pelo Estado, para falar sobre o livro e o sobre a entidade, o Jornal Brasil Atual conversou com Débora Maria Silva, coordenadora do Movimento Mães de Maio, teve o filho executado pela polícia nos ataques atribuídos ao PCC.

29
Mai23

Zé Trovão, que já foi flagrado usando cocaína, pede aos EUA que invadam o Brasil para prender Maduro por narcotráfico

Talis Andrade

 

Que papelão do Zé Trovão
 
 

O deputado extremista, que enviou ofício à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, precisa ser cassado e preso por trair o Brasil e tentar impedir reunião dos presidentes da América do Sul 

 

O deputado federal Zé Trovão enviou ofício à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, nesta segunda-feira (29), no qual informa a presença do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em terras brasileiras, e pede informações sobre “quais medidas podem ser adotadas pelo governo americano para captura deste criminoso”.

De acordo com o Metrópoles, no ofício, Zé Trovão cita que o presidente venezuelano consta no site do Drug Enforcement Administration (DEA), como “procurado por autoridades norte-americanas, acusado pelo procurador-geral dos Estados Unidos, sr. Willian Barr, dos crimes de narcotráfico, terrorismo internacional e corrupção”. 

No entanto, “Trovão” omite que já teve experiências com a cocaína. O envolvimento dele com a droga veio à tona após uma foto que vazou nas redes. 

Zé Trovão esoera que o Brasil seja invadido pelas forças armadas do Tio Sam, e humilhados os  presidentes dos demais países da América do Sul, convidados por Lula para uma reunião amanhã no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Os chefes de Estado de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname e Uruguai confirmaram presença.

A única ausência em nível presidencial é o Peru, cuja presidente, Dina Boluarte, não poderá vir ao encontro em função impedimentos legais internos do país. O Peru vive uma grave crise política desde a destituição do agora ex-presidente Pedro Castillo, no fim do ano passado. Em seu lugar, virá o presidente do conselho de ministros do país, Alberto Otárola, uma espécie de primeiro-ministro. A Guiana Francesa não participa porque é um território ultramarino da França.

A reunião já havia sido anunciada no início do mês pelo governo. Um encontro desse porte não ocorre há, pelo menos, sete anos. “O principal objetivo desse encontro é retomar o diálogo com os países sul-americanos, que ficou muito truncado nos últimos anos, e é uma prioridade do governo Lula. Temos consciência que há diferença de visão e diferenças ideológicas entre os países, mas ele [Lula] quer reativar esse diálogo a partir de denominadores comuns com os países”, explicou a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Gisela conversou com a imprensa durante coletiva nesta sexta-feira (26), quando apresentou considerações gerais sobre a cúpula.

Embora o governo brasileiro evite apontar uma proposta específica, há a expectativa de que os presidentes discutam formas mais concretas de ampliar a integração, incluindo a possibilidade de criação ou reestruturação de um mecanismo sul-americano de cooperação, que reúna todas as nações da região. Atualmente, não existe nenhum bloco com essas características.

A União das Nações Sul-americanas (Unasul), criada em 2008, no segundo mandato do presidente Lula, foi se desintegrando ao longo do tempo, em meio a mudanças de governos em diversos países, e agora reúne apenas sete deles: Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Peru, além de Argentina e Brasil], que voltaram ao grupo recentemente. O Brasil também voltou a integrar a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) este ano, mas o bloco é mais amplo que as fronteiras sul-americanas.

“Como vocês sabem, nos últimos anos, houve uma espécie de fragmentação nessa concertação puramente sul-americana. O propósito dessa iniciativa é unir, de novo, a região com a totalidade de seus países”, enfatizou a embaixadora. Segundo ela, temas como saúde, mudanças climáticas, inflação alta e preço dos alimentos, volta da pobreza e da fome tornam ainda mais relevante uma ação mais coordenada entre os países da América do Sul.

"Retiro" informal

A metodologia da reunião prevê, em primeiro lugar, o encontro de pontos comuns a partir das posições presidenciais, bem como a condução de uma agenda que já poderia ser iniciada mais rapidamente. Nessa agenda está, por exemplo, o combate ao crime organizado, projetos de infraestrutura, meio ambiente e mudanças climáticas, entre outros. Por causa disso, o formato da cúpula será o menos protocolar possível.

O convite enviado aos países vizinhos chegou a falar em uma espécie de “retiro” de presidentes para aprofundar o diálogo. Serão duas sessões. Na manhã de terça, cada chefe de Estado fará um pronunciamento, com tema livre. Depois disso, eles almoçam. À tarde, eles retomam a conversa para um diálogo informal, “numa sessão de trabalho mais livre e descontraída”, segundo descreveu Gisela.

Os presidentes que permanecerem em Brasília na noite de terça participarão de um jantar oferecido por Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial. Nem sequer uma declaração final do encontro está prevista, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.

O Palácio do Itamaraty ainda não confirmou as prováveis reuniões bilaterais que o presidente Lula terá com alguns dos seus homólogos presentes na cúpula, mas elas podem ocorrer já na segunda-feira (29), quando as delegações começam a chegar em Brasília.

25
Jun20

'Esquecida', sem UTI e com prefeita afastada, Oiapoque apela à Guiana Francesa por ajuda contra covid-19

Talis Andrade

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por Ligia Guimarães
Da BBC News

- - -

De acordo com boletim atualizado até o dia 23 de junho, a pequena Oiapoque já contabiliza 10 mortes por covid-19, dos 380 óbitos registrados pela doença no Amapá.

No dia 21 de maio, a prefeitura da cidade pediu socorro internacional. Em um ofício que foi entregue ao governo francês e a outros 20 países, a gestão municipal informava que não há leitos, equipamentos de proteção individual (EPIs), profissionais de saúde ou medicamentos suficientes para enfrentar a pandemia.

Quase um mês depois, no dia 14 de junho, quando a cidade já contabilizava 7 mortos e 925 casos confirmados da doença, a Polícia Federal descobriu "fortes indícios de desvio dos medicamentos utilizados no tratamento da covid-19 e dos testes de diagnóstico da doença, possível motivo que gerou a falta de medicação na rede pública municipal". Apreendeu, inclusive, testes e equipamentos na casa da prefeita Maria Orlanda Marques (PSDB). Na terça-feira (23/6), a prefeita foi afastada do cargo, depois que a PF deflagrou a segunda parte da operação.

Além dos indícios de desvio de insumos relacionados ao combate à pandemia, as investigações apuraram que houve a compra de pelo menos três bolsas femininas, no total de R$ 4,8 mil, por meio de transferências da conta bancária da própria prefeitura.


Espera na Justiça

No começo da pandemia, em 31 de março, o Ministério Público do Amapá obteve decisão liminar que obrigaria o Estado a adotar medidas urgentes para garantir o pleno funcionamento do Hospital Estadual de Oiapoque (HEO), sob pena de multa por descumprimento. A Procuradoria do Estado recorreu, no entanto, e os efeitos da decisão foram suspensos pelo Tribunal de Justiça do Estado.

"Estamos aguardando agora o julgamento", explica o promotor de Justiça Benjamin Lax, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Oiapoque.

A ação do MP cobrava resposta do Estado a problemas urgentes, como a falta de medicamentos, a falta de UTI e o número insuficiente de ambulâncias para transportar doentes até a capital para atendimentos de média e alta complexidade, entre outros. "Não existe UTI e não existem médicos intensivistas no Hospital de Oiapoque, mas deveria ter. Eu posso afirmar para você que as pessoas têm morrido por causa disso", disse o promotor.

A reportagem tentou por dias contato com a assessoria de imprensa do governador do Estado, Waldez Góes (PDT), mas não obteve retorno.

A BBC News Brasil ouviu moradores, profissionais da saúde, e familiares de vítimas da covid-19 em Oiapoque, que se sentem "esquecidos" no extremo norte do Brasil, e apontam que a pandemia apenas agravou a precariedade da saúde pública local.

Além da pandemia e dos escândalos de corrupção, a cidade ainda convive com a greve por atrasos nos salários de profissionais de limpeza que trabalham no hospital estadual de Oiapoque, o único da cidade.

Profissionais de limpeza terceirizados do hospital entraram em greve parcial no meio da pandemia, dedicando-se só a limpar o que é mais essencial para o atendimento dos pacientes, porque estão com salários atrasados por mais de três meses.


Fronteiras fechadas e 'barril de pólvora'

Desde que os primeiros casos de covid-19 começaram a chegar ao Brasil, Oiapoque tem recorrido por diversas vezes à ajuda da vizinha Guiana Francesa, território ultramarino da França, considerado uma extensão do país: é membro a União Europeia, a língua é o francês, a moeda é o euro e é subordinada ao presidente da França, Emmanuel Macron, que tem descrito o combate à covid-19 como uma "guerra sanitária".

Desde o início de junho, parte dos testes dos moradores da cidade é analisada na Guiana Francesa, a partir de uma cooperação internacional.

Comparada à precariedade do atendimento em Oiapoque, a Guiana pareceu enfrentar a doença com mais planejamento e infraestrutura.

Oiapoque tem no território francês sua "cidade-irmã": é vizinha do o município de São Jorge de Oiapoque (Saint-Georges), na qual 40% da população é de brasileiros. É, atualmente, a única cidade da Guiana que continua confinada contra a pandemia, em lockdown. A população da Guiana Francesa, como praticamente todo o território francês foi liberada do confinamento no dia 11 de maio.

Os dois municípios têm relação comercial e social e direta e são divididos pela Ponte Binacional Brasil-França, inaugurada em 2013. Os moradores da Guiana se aproveitam da força do euro em relação ao real para fazer compras em Oiapoque; muitos brasileiros, por outro lado, trabalham em garimpos ilegais na Guiana; e o fluxo entre as duas cidades é constante, seja pela estrada que cruza ponte (a distância entre as cidades é de pouco menos de 10 km), ou seja pelo rio Oiapoque.

"Dos que se encontram na Guiana Francesa, praticamente todos têm parentesco direto com o Estado do Amapá, com o Norte ou o Nordeste", afirma Isaac Silva, chefe das relações internacionais da prefeitura de Oiapoque, que diz que essa dependência tornou mais difícil limitar a circulação pela fronteira.

Quando os primeiros casos de covid-19 foram confirmados na Guiana Francesa no início de março, época em que as fronteiras e os voos ainda estavam liberados, o território francês pareceu reagir de maneira eficiente: criou políticas de isolamento dos casos suspeitos em hotéis, adotou testes em massa, aumentou a fiscalização da fronteira restringiu a entrada no território apenas a casos especiais, documentados.

Mas no mês passado, quando a doença avançou pelo rio Oiapoque e atingiu a "irmã gêmea" São Jorge, as coisas parecem ter saído de controle também do lado francês. Atualmente, a Guiana tem oito mortos e 2.548 casos confirmados de covid.

Com o fechamento das fronteiras, os moradores de Oiapoque perderam também a opção de tentar atendimento de emergências de saúde na vizinha, possibilidade que era prevista em um acordo de cooperação.

"O mais grave que está acontecendo conosco aqui é a falta de medicamentos, que nós não temos. Nem nos postos de saúde, nem para comprar", afirma Lilma Campos, dona de uma pousada na cidade e presidente da associação comercial de Oiapoque.

Junto com outros membros da sociedade civil, ela têm se organizado para conseguir doações, principalmente vindos da Guiana Francesa. Organizações como a Associação Internacional das Enfermeiras da Guiana, Corpo de Bombeiros da Guiana e a Agência Regional da Saúde estão entre os que doaram Equipamentos de Proteção Individual, oxigênio e medicamentos para Oiapoque.

Houve também o pedido para que um hospital de campanha fosse instalado em Oiapoque, financiado pelo governo europeu. Waddy Many Benoit, responsável por mediar as relações interfronteiras da ONG Pirogue Humanitaire, dedicada ao recrutamento de médicos para a região, diz que a operação da PF em torno da prefeita reduziu a credibilidade em torno dos pedidos. "Foi um efeito muito muito negativo. Franceses não gostam desse tipo de situação", afirma Benoit.

A partir de agora, a ideia da ONG é formalizar tais solicitações por meio dos parlamentares das bancadas estadual e federal do Estado, sem envolver a prefeitura. Na quarta-feira (24/6), a administração da Guiana anunciou a intenção de instalar um hospital de campanha na capital, Caiena.

O chefe de relações internacionais da prefeitura de Oiapoque, Isaac Silva, diz que a cidade convive há tempos com a falta de medicamentos e estrutura básica de saúde, mas a gravidade da situação ficou mais evidente com a pandemia.

"Eu, como relações internacionais, me obrigo, coloco a vergonha de lado e vou para lá me humilhar mesmo, no sentido literal da palavra, e pedir mesmo para a Guiana para que eles nos doem alguma coisa para poder salvar as vidas aqui."


Preconceito e conflitos

Na últimas semanas, brasileiros que moram na Guiana relataram que foram alvo de preconceito por parte dos guianenses franceses. "O brasileiro tem sido mal visto, por não querer respeitar o confinamento, querer jogar bola todo dia", afirma o presidente da Associação de Brasileiros na Guiana Francesa, José Hermegildo Gomes, o Dedé, que vive na Guiana Francesa há 20 anos.

"A gente vê que a comunidade guianense está com mais receio de que a comunidade brasileira vá lá. A comunidade francesa vê na televisão parabólica o pessoal brincando, vê a política do presidente achando que é brincadeira. E daí vem todo o preconceito."

A brasileira Andressa Duvigneau, vice-representante dos brasileiros na Guiana e que mora na cidade de Curru, também diz que são mais frequentes as críticas aos brasileiros nas redes sociais durante a pandemia. "Tem muito guianense francês dizendo que brasileiros entram pelo mato e fazem festa, clandestinamente. Já estão comentando na internet, ligam para o rádio para falar mal, para criticar."

Benoit Van Gastel, responsável pela cooperação em saúde na Agência Regional de Saúde da Guiana Francesa, diz que, embora seja difícil afirmar que a má condução da pandemia em Oiapoque tenha prejudicado o território francês, sabe-se que alguns dos casos de São Jorge do Oiapoque vieram de contágios entre as cidades vizinhas.

"Para as pessoas, o rio Oiapoque é mais um ponto de ligação do que uma fronteira entre os países. Na rotina normal, as pessoas circulam pelo rio várias vezes por semana para necessidades básicas, como trabalho, para ver a família, amigos. Então é muito difícil barrar esse tipo de conexão", afirma Van Gastel. [Transcrevi trechos]

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09
Mar19

Vaticano faz em Manaus reunião preparatória para Sínodo da Amazônia, criticado por governo Bolsonaro

Talis Andrade

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Por RFI
 

A Igreja católica está preocupada com a preservação do planeta e organiza a partir desta quinta-feira (7) duas reuniões para discutir o desenvolvimento sustentável. A primeira começou nesta manhã no Vaticano e vai durar até 9 de março. A segunda acontece em Manaus e é uma reunião preparatória para Sínodo da Amazônia, previsto para outubro e que provoca polêmica com o governo Bolsonaro.

Gina Marques, correspondente da RFI em Roma

A conferência no Vaticano “As religiões e os objetivos do desenvolvimento sustentável: ouvir o grito da terra e dos pobres” propõe um diálogo inter-religioso para estabelecer objetivos de como ajudar a salvar o meio ambiente. Participam representantes da Organização das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação (FAO), além de religiosos da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação entre outros. A finalidade é reforçar o empenho das religiões e o envolvimento da sociedade civil na preservação do meio ambiente.

Em Manaus, ocorre o seminário de preparação para Sínodo da Amazônia previsto para outubro. O tema central dos dois dias de debates, abertos ao público, é a preservação ambiental da Amazônia.

As duas reuniões recordam a encíclica do papa Francisco Laudato si', na qual ele critica o consumismo e desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unificação global das ações para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas.

Críticas do governo brasileiro

Recentemente o governo brasileiro criou polêmica com a realização do Sínodo da Amazônia. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, disse em fevereiro que ONGs estrangeiras e chefes de Estado de outros países não devem dar "palpite" na Amazônia brasileira.

Não houve um comunicado oficial do Vaticano respondendo ao governo do Brasil. A Santa Sé não entra neste tipo de polêmica. Já o bispo de Marajó, no Pará, dom Evaristo Spengler, afirmou que não cabe ao governo brasileiro monitorar os debates da Igreja. Segundo ele, a igreja “não é neutra”, o que não significa que tenha partido. Dom Evaristo declarou que “a igreja está do lado dos mais fracos, dos mais pobres, dos ribeirinhos e dos indígenas”.

O bispo criticou também os interesses econômicos do governo brasileiro. De acordo com ele, existem dois modelos de desenvolvimento: o sustentável e o predatório. Sobre o Brasil, ele falou que “estão incentivando um modelo predatório, que extrai as riquezas da floresta e deixa a população na pobreza”. Além disso, o governo brasileiro “quer construir hidrelétricas, abrir rodovias e permitir o avanço do agronegócio e das mineradoras”.

Vale lembrar que o papa Francisco anunciou o seminário em 2017, muito antes da eleição de Jair Bolsonaro. O Sínodo da Amazônia vai ocorrer de 6 a 27 de outubro deste ano. O Sínodo da Amazônia preocupa o governo de Bolsonaro, que teme que suas políticas contra a demarcação de terras indígenas e ONGs que combatem as mudanças climáticas sejam questionadas durante o encontro.

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Preparativos para o Sínodo da Amazônia

Na semana passada, o Vaticano já havia organizado em Roma um seminário preparatório para o Sínodo de outubro. Foram três dias de debates sobre a Amazônia que contaram com a participação do cardeal Cláudio Hummes, que é presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, e do bispo de Marajó, Dom Evaristo Spengler. O Sínodo é para a Amazônia, mas sua preservação ou destruição tem repercussão mundial.

Nove países compartilham a Pan-Amazônia: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Nesta região, importante fonte de oxigênio para toda a Terra, concentra-se mais de um terço das florestas primárias do mundo. É uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta, abrigando 20% da água doce não congelada.

Neste imenso território vivem cerca de 34 milhões de pessoas, das quais mais de 3 milhões são indígenas, pertencentes a mais de 390 grupos étnicos. Povos e culturas diferentes como afrodescendentes, camponeses, colonos, vivem em uma relação vital com a vegetação e as águas dos rios.

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