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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

13
Mar23

A mala do almirante

Talis Andrade
 
 
Bento Albuquerque: Notícias sobre Bento Albuquerque | Folha Tópicos
 
Tudo joia pra Bolsonaro
 
Caso jóias da Michelle que vieram da Arábia Saudita será investigado pela  PF - Fusne
Colar de diamantes para a rainha Michelle
dedemontalvao: PF já descobriu que o segundo lote de joias foi listado como  bens pessoais de Jair Bolsonaro
 

Se o ajudante de ordens tentou enganar a Receita, seria óbvio desconfiar de toda a comitiva. Por que a mala do almirante não foi aberta?

 

por Alex Solnik /Portal 247

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Em entrevista ao “Estadão”, o chefe da Receita Federal do Aeroporto de Guarulhos, Mario de Marco, declarou que o sistema de inteligência detecta passageiros cujas malas devem ser revistadas. 

Ele estava trabalhando na hora em que a comitiva chefiada pelo Ministro das Minas e Energia do governo Bolsonaro, almirante Bento Albuquerque, desembarcou, dia 26 de outubro de 2021, do voo 773, procedente de Riad, com dois acompanhantes.

Segundo ele, quando os passageiros chegam, os agentes da Receita Federal, informados pelos dados do sistema de inteligência, já sabem quem entra com mais bagagem do que quando viajou ao exterior, um indicador de que deve ser fiscalizado. 

Ele também afirmou que a Receita sabia que a comitiva do almirante estava entrando com mais bagagem do que saiu.

No entanto, somente um dos membros da comitiva, Marcos Soeiro, ajudante de ordens do almirante, teve de abrir sua mala, na qual estavam as jóias de mais de R$16 milhões. 

Os agentes da Receita tiveram duas oportunidades de fiscalizar a bagagem do almirante. Quando ele passou pela alfândega, incólume, apesar da informação de que a comitiva, a qual chefiava, trazia mais bagagem do que levou e quando foi chamado de volta, por seu ajudante de ordens, que havia sido barrado, como está registrado no vídeo gravado pelas câmeras de segurança.

O mais estranho foi os agentes não terem aberto sua mala nessa ocasião, pois já sabiam, a essa altura, que seu ajudante de ordens trouxe valores apesar de ter entrado na fila dos passageiros que dizem não ter nada a declarar.

Se o ajudante de ordens tentou enganar a Receita, seria óbvio desconfiar de toda a comitiva, composta por três pessoas, e especialmente do chefe, o almirante, que também estava na fila dos que não têm valores na bagagem.

Nem ele, nem o outro membro da comitiva, o diplomata Christian Vargas foram instados a mostrar a bagagem. Como ficamos sabendo, numa dessas malas entrou no país o outro “presente” do governo da Arábia Saudita, outro conjunto de jóias, que está com Bolsonaro até hoje.  

Christian Vargas já declarou não ter transportado valores em sua bagagem e que jamais aceitaria tal missão.

Por que a mala do almirante não foi aberta?

A agenda de viagens internacionais do então ministro mula Bento Albuquerque (Minas e Energia) e de sua comitiva já eram monitoradas por auditores da alfândega devido ao elevado número de compromissos. As informações são do jornal Estado de S.Paulo. O colunista Josias de Souza comenta

O ex-ministro Bento Albuquerque foi gravado dedurando a auditores da Receita Federal que as joias recebidas pelo governo da Arábia Saudita eram para a esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Michelle Bolsonaro. O vídeo foi divulgado pela TV Globo. Josias de Souza comenta

11
Mar23

Joias para família Bolsonaro: como episódio pode colocar imagem dos militares em xeque

Talis Andrade
 
 
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Ao menos quatro militares tentaram, de diferentes formas, obter a liberação das joias destinadas à família Bolsonaro

 

  • por Leandro Prazeres /BBC News

 

A revelação de que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou reverter a apreensão de um conjunto de joias dado de presente pela família real da Arábia Saudita colocou, novamente, militares no centro de um caso rumoroso.

As reportagens publicadas primeiramente pelo jornal O Estado de S.Paulo mostram como pelo menos quatro militares tentaram, de diferentes formas, obter a liberação das joias destinadas à família Bolsonaro.

O caso virou alvo de investigações conduzidas pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal (MPF). Na cena política, o episódio vem sendo explorado por políticos aliados ao governo para desgastar a imagem do ex-presidente.

Os apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, minimizam o caso e defendem que ele não tomou nenhuma atitude irregular.

Em meio a esse "tiroteio" político, a imagem dos militares volta a ficar em evidência em um caso relacionado à proximidade deles com o antigo governo. Ao longo dos quatro anos da gestão de Bolsonaro, pesquisas apontaram que houve um aumento significativo na presença militar em cargos civis.

Essa proximidade nem sempre foi acompanhada de uma percepção positiva, como no caso da gestão do general Eduardo Pazuello, que comandou o Ministério da Saúde entre setembro de 2020 e março de 2021.

No período, o Brasil vivenciou picos nos casos de covid-19 e se transformou em um dos países com o maior número absoluto de mortes pela doença.

Mas como os militares viraram peças-chave no episódio das joias de Bolsonaro? E qual o impacto do caso na reputação deles?

A BBC News Brasil entrevistou duas especialistas em assuntos de Defesa que avaliaram que a presença dos militares no caso é resultado, em parte, do aumento de integrantes da caserna na gestão do governo passado.

Elas avaliam ainda que o episódio tem um efeito significativo na imagem que boa parte da sociedade brasileira tem sobre os militares. Segundo elas, afeta a ideia de que as Forças Armadas seriam compostas por uma espécie de "casta superior".

Joias apreendidas

Segundo reportagens publicadas até agora, o caso começou em outubro de 2021, quando a Receita Federal apreendeu um conjunto de joias contendo um colar de diamantes, brincos, anel e relógio avaliado em R$ 16 milhões no Aeroporto de Guarulhos.

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As joias fariam parte de um presente dado pela família real da Arábia Saudita ao então presidente Jair Bolsonaro e à ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

A participação de militares no episódio começa desde o seu início, uma vez que as joias estavam sendo transportadas pelo tenente do Exército Marcos Soeiro, então assessor do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque (e, por sua vez, um almirante da Marinha).

Segundo as reportagens, os bens não foram declarados à Receita Federal quando entraram no país.

De acordo com a legislação, bens acima de US$ 1.000 que entrem no Brasil por via aérea precisam ser declarados à Receita Federal e, para serem liberados, é necessário pagar uma multa equivalente a 50% do valor do produto, além de outra de 25%. Ou seja, seria preciso pagar uma multa de R$ 12 milhões.

Após a publicação das reportagens, o ex-presidente disse, em entrevista nos Estados Unidos, que não cometeu nenhuma irregularidade e que as tentativas de reaver as joias tinham como objetivo incorporá-las ao "acervo". Ele não especificou se era uma referência ao seu acervo pessoal ou ao da Presidência da República.

"Eu não fiquei sabendo. Dois, três dias depois a Presidência notificou a alfândega que era para ir para o acervo. Até aí tudo bem, nada demais. Poderia, no meu entender, a alfândega ter entregue. Iria para o acervo, e seria entregue à primeira-dama. O que diz a legislação? Ela poderia usar, não poderia se desfazer", disse o ex-presidente.

A ex-primeira-dama declarou em uma rede social que não tinha conhecimento das joias.

Em nota divulgada no dia 4 de março, a Receita Federal afirmou que os procedimentos para destinação das joias ao acervo da Presidência não foram tomados pelo antigo governo.

"A incorporação ao patrimônio da União exige pedido de autoridade competente, com justificativa da necessidade e adequação da medida, como por exemplo a destinação de joias de valor cultural e histórico relevante a ser destinadas a museu. Isso não aconteceu neste caso", disse a nota.

Bento Albuquerque, em comunicado enviado à BBC News Brasil, declarou que o governo brasileiro "tomou as medidas cabíveis e de praxe, como sempre ocorreu, em relação aos presentes institucionais ofertados à Representação Brasileira" e que "em função dos valores histórico, cultural e artístico dos itens, o ministério encaminhou solicitação para que o acervo recebido tivesse o seu adequado destino legal".

Um vídeo divulgado pela Rede Globo mostra o momento em que Albuquerque e seu assessor conversam com fiscais da Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos logo após as joias serem apreendidas.

No vídeo, Albuquerque afirma que os bens teriam como destino a então primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Apesar da intervenção de Albuquerque, os fiscais da Receita mantiveram os bens retidos. Depois disso, ainda segundo as reportagens, o governo começou uma série de tentativas para liberar as joias apreendidas.

Entre essas investidas, houve um pedido feito pelo Ministério de Minas e Energia ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) para que a pasta intercedesse na Receita pela autorizar os bens.

A dois dias do fim do mandato de Bolsonaro, uma última tentativa de reaver as peças foi feita e ela também envolveu militares.

O sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva foi enviado em missão "urgente" ao aeroporto de Guarulhos para fazer a retirada das joias que estavam apreendidas.

O militar foi enviado pelo então chefe da Ajudância de Ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

Apesar da tentativa, os servidores da Receita, que têm estabilidade funcional, não cederam e mantiveram a joias retidas.

No olho do furacão

Para a professora da Escola Superior de Guerra (ESG) Mariana Kalil, o fato de os militares terem sido tragados para o "olho do furacão" do caso das joias é uma consequência de um fenômeno que se acentuou durante o governo Bolsonaro: o aumento da presença de militares em cargos civis.

Uma pesquisa Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) divulgada no ano passado apontou que entre 2013 e 2022, houve um crescimento de 193% no número de militares ocupando cargos civis no governo federal.

Kalil explica que isso aconteceu porque houve uma conjunção de dois fatores simultâneos.

"De um lado, você tinha um governo que precisava de quadros. E, de outro, você tinha as Forças Armadas que concordaram em ceder essas pessoas para compor o governo e ampliar sua presença no governo", disse Kalil.

A professora avalia que essa demanda mais acentuada por militares em cargos civis é resultante de uma espécie de "mística" criada em torno da formação militar no país.

"É uma herança dos tempos da ditadura. Foi criada uma ideia de que militares teriam uma formação para tratar de questões como segurança e desenvolvimento. Isso explica, em parte, porque um almirante foi nomeado ministro de Minas e Energia. A realidade é que militares não são normalmente treinados para isso. São treinados para atuar em questões de defesa", afirmou.

A pesquisadora da PUC do Rio de Janeiro Maria Celina Soares D'Araújo é doutora em Ciência Política e estuda, há décadas, os militares e questões de defesa no Brasil.

Ela concorda com Mariana Kalil sobre a "janela de oportunidade" que se criou durante o governo Bolsonaro para o aumento da presença de militares no governo.

"A ocasião faz o ladrão. Abriram espaço e os militares aproveitaram esse vácuo para ocupar postos de relevo. Os militares no Brasil são uma elite e se comportaram como elite ao assegurar posições e recursos. Mas, ao fazer isso, eles foram tragados para o olho do furacão", explica a professora.

Mito da casta superior em xeque

Tanto Mariana Kalil quanto Maria Celina Soares D'Araújo avaliam que a participação direta de militares nas tentativas de liberar as joias dadas à família Bolsonaro mancham a reputação da instituição.

"No Brasil, criou-se o mito de que os militares fossem uma casta superior, incorruptíveis e muito técnicos. Esse episódio colocou esse mito em xeque. Há uma exposição muito negativa", afirma Kalil.

Para Maria Celina, o dano à imagem dos militares neste caso é grave.

"O envolvimento das Forças Armadas com esse episódio das joias é muito sério porque, no Brasil, elas nunca foram rotuladas como parte de uma chamada 'cleptocracia' como vimos em alguns países vizinhos. Essa imagem se manteve intacta até recentemente. Agora, estamos vendo casos de militares em transações escusas e isso tem um impacto grande nessa mística", afirmou.

Mariana Kalil afirma que, entre os militares, o caso é tratado com certo distanciamento porque, na visão deles, as pessoas envolvidas não estavam atuando como militares.

"Os envolvidos estavam atuando como civis porque estavam cedidos por suas forças. O problema é que uma vez militar, sempre militar. As pessoas, em geral, não vão fazer essa distinção", afirma.

Em nota, o Exército disse que como o militar envolvido no episódio não estava a serviço da Força, os processos investigatórios devem ser feitos pelo órgão ao qual ele estava subordinado.

"O Exército segue à disposição dos Órgãos que apuram os fatos, a fim de contribuir com as investigações, sendo que quaisquer esclarecimentos solicitados serão prestados exclusivamente a esses órgãos. Nesse contexto, a Instituição tem proporcionado total apoio para o esclarecimento de todos os fatos", disse outro trecho da nota.

A Marinha enviou nota informando que o caso está sendo apurado fora do âmbito militar.

A reportagem também entrou em contato com Mauro Cid, mas ele não respondeu às chamadas e às mensagens enviadas.

O sargento Jairo Moreira da Silva desligou o telefone quando a reportagem se identificou.

Marcos Soeiro e seus representantes não foi localizado pela reportagem.

18
Ago22

CGU aponta superfaturamento em contrato de R$ 62 milhões firmado pela Codevasf com empresa de jovem de 21 anos

Talis Andrade

Patrik Camporez
@CamporezPatrik
Ana Luiza tem 21 anos e, segundo a mãe, trabalha como diarista. O nome dela, porém, aparece como dono de uma empresa que fatura milhões vendendo retroescavadeiras para o governo Bolsonaro. CGU aponta superfaturamento. No c/
 
Imperiogn Comércio de Máquinas Equipamentos e Serviços está registrada em nome de Ana Luiza Cassiano Batista que, segundo a mãe, trabalha como diarista em Goiânia
 
www.brasil247.com - Ana Luiza Batista
 

247 - A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou a existência de riscos de superfaturamento da ordem de R$ 11,8 milhões em um contrato de R$ 61,7 milhões para a compra de 325 tratores, celebrado entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco (Codevasf) e a Imperiogn Comércio de Máquinas Equipamentos e Serviços. 

De acordo com o jornal O Globo, a empresa foi criada há apenas dois anos e está registrada em nome de Ana Luiza Cassiano Batista, de apenas 21 anos. Segundo a reportagem, Ana Luiza se apresenta em um perfil no LinkedIn como vendedora de calçados em uma loja de Goiânia (GO). A mãe da jovem, Andrea Cassiano Batista, afirmou que a filha não possui nenhuma empresa registrada em seu nome e que trabalha como diarista.

"A Imperiogn já participou de 49 licitações do governo federal e firmou contratos com diferentes braços do poder público, entre eles os ministérios da Defesa, Saúde, Educação e do Desenvolvimento Regional, ao qual a Codevasf é vinculada. Ao todo, a empresa já recebeu R$ 6,9 milhões do erário”, destaca o periódico.

No relatório que apontou o risco da existência de sobrepreço, a CGU destacou que os valores de referência utilizados pela Codevasf foram "exorbitantes" em relação ao Painel de Preços do próprio governo federal. 

O contrato, celebrado em março deste ano, foi assinado pela Superintendência da Codevasf em Pernambuco, comandada por Aurivalter Cordeiro. Ele é ex-assessor do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do atual governo até dezembro do ano passado.

 
 

Tudo que o você precisa saber da Codevasf, a estatal do “Tratoraço”



 A fundação da Codevasf

A Codevasf, ou Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, é uma estatal que foi criada em 1974 para fomentar o desenvolvimento nas áreas próximas aos rios São Francisco e Parnaíba.


Projeto original

Durante muitos anos a estatal esteve restrita às regiões próximas aos rios do projeto original. A partir do ano 2000, os políticos começaram a aumentar sua área de atuação.


⠀Expansão desenfreada

Nos últimos 4 anos a Codevasf foi agigantada, indo de 13% para 27% do território nacional durante o governo Temer e de 27% para 37% durante o governo Bolsonaro.


⠀A prioridade nunca foi o cidadão

Junto com a expansão territorial, os aportes de dinheiro público triplicaram. O que era para ser uma empresa focada no desenvolvimento regional se tornou um ralo de dinheiro público a serviço de interesses patrimonialistas e eleitoreiros.


Emendas secretas e tratoraço

A Codevasf se tornou centro das atenções nos últimos anos pelos indícios de uso político e corrupção.

A empresa está ligada ao suposto “Orçamento Secreto” e teria comprado tratores superfaturados, por preços 259% acima dos de mercado.


⠀Falta de transparência

O uso da Codevasf como destino de emendas parlamentares abre uma brecha para a corrupção. Os processos de licitação de estatais são muito menos detalhados que de emendas tradicionais, e a fiscalização por parte dos órgãos de controle como o TCU é dificultada.


⠀Inchaço e loteamento político

No governo Bolsonaro, a Codevasf se tornou a estatal preferida do Centrão devido à “rapidez” na entrega de repasses. O inchaço da empresa foi marcado pelo loteamento de cargos via indicações políticas do Centrão. Essa “rapidez” na entrega, porém, só é possível graças ao menor controle da sociedade na aplicação de recursos.


⠀Investigações são urgentes

Nunca se roubou tanto, aberta e escandalosamento como na Codevasf do governo Bolsonaro.

Eta governo ladrão "da gota serena", disse um sertanejo na Missa do Vaqueiro em Serrita, feudo de Fernando Bezerra Coelho.


15
Fev22

Bolsonaro enviou 41 militares para escola nos EUA que treinou assassinos de presidente haitiano

Talis Andrade

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Para pesquisadora, envio de oficiais para ex-Escola das Américas pode ter relação com discurso golpista do presidente

 

por Igor Carvalho /Brasil de Fato
 

Desde 2000, o Brasil enviou 82 militares para treinamentos no Instituto de Cooperação em Segurança do Hemisfério Ocidental (Whinsec), a antiga Escola das Américas, com sede em Fort Benning, na Georgia, EUA. Desse total, 50% (41) no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), sendo 21% (17) apenas nos nove primeiros meses de 2021.

A Whinsec é um instituto ligado ao Departamento de Defesa dos EUA. Na escola, foram treinados sete ex-militares da Colômbia acusados de assassinar, em 7 de julho deste ano, o presidente do Haiti, Jovenel Moïse. A informação foi confirmada pelo governo estadunidense.

“Até agora, identificamos sete indivíduos que eram ex-militares do Exército colombiano que receberam algum tipo de instrução e treinamento fornecido e financiado pelos EUA”, informou John Kirby, porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA, no dia 23 de julho.

Levantamento feito pelo Brasil de Fato, usando dados fornecidos pelo Exército, Marinha e Aeronáutica, via Lei de Acesso à Informação, mostram que o governo brasileiro tem enviado, preferencialmente, oficiais de patente baixa. São 52 segundo sargentos, 9 primeiro sargentos, 6 tenente-coronéis, 6 majores, 4 coronéis e 1 sub tenente.

Entre os governos, Bolsonaro, com 41, lidera. Seguido por Dilma Rousseff (PT), que enviou 21 militares para treinamento na Whisec, Michel Temer (MDB), 12, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 8. Entre as forças, O Exército enviou 79 membros, a Aeronáutica, 3, e a Marinha não enviou oficiais.

A cientista política Luciana Wietchikoski considera que o aumento no número de militares enviados à Whisec em 2021, pode encontrar justificativa nos anseios de Bolsonaro por um golpe no Brasil, discurso ensaiado algumas vezes durante o ano.

“Até pelo histórico dessa organização, que sempre está envolvida com questões políticas da América Latina. Mas dentro de outro contexto, não específico a esse momento, mas de uma formação mais ampla, que não vai ter uma consequência só no golpe, mas nos próximos anos no Brasil”, explica Wietchikoski, que é pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Estudos Estratégicos e Política Internacional Contemporânea (GEPPIC), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

“São militares formados nessas organizações e que trazem uma doutrina muito próxima da ideologia que o Bolsonaro reproduz. Isso fica ao longo do tempo, não é uma questão temporária conjuntural, mas sim que a gente tem uma consequência para o para o futuro do Brasil a médio e longo prazo”, finaliza a pesquisadora.

O alinhamento de Bolsonaro com a política americana também é destacado por Wietchikoski, que vê benefícios para os americanos, nesse intercâmbio.

“Os EUA estão intensificando a sua presença na região em termos de defesa, principalmente em relação à questão de uma contenção da China, ou seja, de conter a expansão chinesa na região, que é colocada pelos Estados Unidos como a principal ameaça na América Latina.”


O ex-presidente Lula foi o governante que menos enviou militares para serem treinados no Whisec / Arte: Brasil de Fato

HistóricoEscola das Américas no Panamá: formou os golpistas e torturadores da ditadura de 1964 no BrasilEscola das Américas no Panamá: formou os golpistas e torturadores da ditadura de 1964 no Brasil

 

Fundado em 1946, com a denominação Centro de Adestramento Latinoamericano – Divisão Terra, o instituto foi mais conhecido pelo nome que recebeu em 1963, Escola das Américas. Somente em 2001, foi batizado como Whisec.

No princípio, o instituto tinha o objetivo de produzir um alinhamento político e ideológico das Forças Armadas dos países da América Latina com os EUA, para que fosse possível uma ampla influência estadunidense na região.

Após a Revolução Cubana, em 1959, o instituto se voltou para o treinamento de militares para combater a ascensão comunista nas Américas. Foi quando surgiu a Escola das Américas, que recebeu oficiais de diversos países, que depois atuaram em golpes militares.

Mais de 300 militares brasileiros passaram pela Escola das Américas, entre 1954 e 1996, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade. No instituto, os oficiais recebiam aulas práticas e teóricas sobre tortura, técnicas de interrogatório, comunismo, guerrilha urbana e rural, além de manuseio de armamento.

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13
Jan22

"Em Minas Gerais, vivemos com bombas-relógio", diz biólogo do Movimento dos Atingidos por Barragens

Talis Andrade

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Biólogos e ativistas do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) de Minas Gerais monitoram região da barragem no subdistrito de Bento Rodrigues, onde aconteceu a tragédia da ruptura da barragem da Samarco, em 2015.

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Biólogos e ativistas do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) de Minas Gerais monitoram região da barragem no subdistrito de Bento Rodrigues, onde aconteceu a tragédia da ruptura da barragem da Samarco, em 2015.
 © Movimento dos Atingidos por Barragens

Minas Gerais tem hoje 364 barragens de mineração ativas. Entre elas, três atingiram o nível de segurança máximo, onde a mineradora já não tem controle sobre a estrutura, como o dique Lisa da mina do Pau Branco, cujo transbordamento causou pânico em Nova Lima no fim de semana passado. O biólogo Guilherme Camponês, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), detalhou a precariedade da fiscalização e a flexibilização da lei ambiental brasileira num território dominado por mineradoras.\

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Após as tragédias de Mariana e Brumadinho, as instituições e o governo brasileiro parecem ainda não terem se dado conta da importância de efetuar as transformações necessárias para evitar que novas catástrofes ambientais que ceifam centenas de vidas humanas continuem acontecendo, num contexto de aparente impunidade das mineradoras.

O biólogo Guilherme de Souza Camponês, ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), explicou à RFI que o susto do final de semana passado em Nova LIma, na região metropolitana de Belo Horizonte, quando se cogitou um novo rompimento de barragem, foi, na verdade, um "transbordamento do chamado dique de Lisa que fica na mina de Pau Branco da [empresa francesa] Vallourec".

"Foi confirmado que não se tratava de um rompimento, mas uma pilha de sedimentos que caiu. Nessa mina, eles utilizam o método de disposição a seco do detrito, eles tiram a água do rejeito para armazenar, então as pilhas de rejeito caíram dentro do dique de Lisa, uma barragem que continha água de chuva mais o sedimento fino que escorreu dessa pilha de rejeitos", conta Camponês. O método de armazenamento a montante é considerado um dos mais perigosos e faz parte de 39 barragens no estado de Minas Gerais. Do total de 364, 46 estão com "o nível de emergência acionado, e três estão no nível de segurança máximo".O biólogo Guilherme de Souza Camponês, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).O biólogo Guilherme de Souza Camponês, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

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O biólogo Guilherme de Souza Camponês, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). © Guilherme de Souza Camponês

"Três pilhas dessas com sedimentos da mineração caíram dentro do dique em Nova Lima e provocaram transbordamento, que gerou o vazamento que passou por cima da barragem e se espalhou pela BR-040 que liga Brasília ao Rio de Janeiro passando por Belo Horizonte", relata o profissional. "E esses sedimentos também escorreram para baixo da própria rodovia que ficou paralisada por dois dias por conta disso", diz.

"A gente fala aqui em Minas Gerais que vive com as bombas-relógio em cima das nossas cabeças; aqui no estado são 364 barragens segundo a ANM, Agência Nacional de Mineração. São barragens conhecidas que estão registradas mas tem várias ainda que não estão cadastradas. 39 barragens foram construídas com aquele método de construção a montante, o mesmo método da barragem de fundão que se rompeu em Mariana e da mina do Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho", denuncia.

Segundo Guilherme, as três barragens que se encontram hoje no nível de segurança máximo pertencem à companhia Vale do Rio Doce. "Temos a P3 e a P4, que ficam em Nova Lima, a Forquilha 3 que fica em Ouro Preto e o dique Lisa de Nova Lima, da Vallourec, que também entrou em nível três de segurança", explica. "Nesse nível três exigido que todas a população que todas as pessoas que estejam ali na zona do rompimento onde o rejeito vai chegar sejam evacuadas", relata.

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Mina de Pau branco, explorada pelo conglomerado francês do Vallourec, que fica em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. © Bruno Costalonga Ferrete

Sobre o que pode ser feito para se evitar novas tragédias num contexto de mudanças climáticas, o biólogo afirma que "o que pode ser feito é que as mineradoras sigam à risca os protocolos de segurança; a lei ainda tem brechas: por exemplo essa barragem de Nova Lima que transbordou. Ela estava com a documentação em dia e teoricamente a Agência Nacional de Mineração a fiscalizou e estava ok, mais isso não garante que a barragem estava segura, tanto é que aconteceu o transbordamento", aponta.

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Transferência de responsabilidade do Estado para mineradoras

 

"O que acontece na verdade hoje é apenas um automonitoramento das próprias mineradoras diretamente ou através de empresas terceirizadas, mas de toda forma essa fiscalização fica na mão delas. O trânsito na BR-040 foi liberado com a condição de que a mineradora assegurará a segurança da via, ou seja, não é Agência Nacional que atesta que o local está seguro, então estamos em zona de risco e não sabemos se e quando a barragem vai romper. Existe uma transferência de responsabilidade onde a empresa joga a bola para o Estado e vice-versa", denuncia.

Segundo ele, a população continua exposta por que os governos federal e estadual fazem esse tipo de concessão para a mineradora. "Hoje todo poder está na mão da mineradora; as leis ambientais são flexibilizadas para permitir a mineração e o processo de fiscalização é precário, o território é controlado pelas mineradoras", diz. Camponês explica que as licenças ambientais para instalar e operar mineradoras são emitidas pelo governo do Estado de Minas Gerais, mas o principal órgão de fiscalização é a Agência Nacional de Mineração, uma instituição federal.

"É incrível, a Vallourec não falou ainda quantas pessoas ou quantas famílias foram evacuadas. A gente soube pela defesa Civil que foram seis pessoas, mas não existe um comunicado oficial da empresa", afirma Camponês. "O poder ficar todo na mão das mineradoras. Na nossa avaliação, enquanto não houver soberania do povo sobre o território vai continuar acontecendo isso. O objetivo das mineradoras é o lucro elas não estão preocupados com a segurança das pessoas ou do Meio Ambiente. Elas estão preocupadas com a maximização do lucro. Enquanto seguirmos essa lógica continuaremos a ter esse tipo de crime e de tragédia", concluiu o biólogo.Image

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02
Jan22

Peça 2 – o fim do ciclo militar

Talis Andrade

 

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XADREZ DE BOLSONARO SE DESMANCHANDO NO AR

 

por Luis Nassif

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Fica claro, na quadra atual, que o governo Bolsonaro é fundamentalmente um governo militar. Centrão, olavistas e quetais são aliados de ocasião. A verdadeira cara do bolsonarismo são os militares que levou para o Palácio. 

Bolsonaro nunca foi do trabalho. É inimaginável vê-lo tomando decisões administrativas no dia-a-dia ou prestando atenção em qualquer tema de administração pública ou política. A verdadeira gestão de governo é feita pelos militares acantonados no Palácio – generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Eduardo Pazuello. E, em outros tempos, Fernando Azevedo.

São eles que definem os passos de Bolsonaro, alertam quando suas loucuras chegam às raias da ebulição, definem suas alianças políticas e, em tese, as prioridades administrativas.

Os resultados até agora comprovam ser uma das equipes mais canhestras e descompromissadas com o interesse nacional na história da República.

28
Dez21

Austeridade, volver!

Talis Andrade

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por Fernando Brito

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Lembram quando Chico Buarque sugeriu a criação do “Ministério do Vai dar Merda”, para prevenir, na administração pública, atos que, sem apelação possível, fossem ter consequências negativas diante da opinião pública?

Conviria que as Forças Armadas criassem um balcão assim, para evitar o desgaste que lhes traz a manchete da Folha de hoje: “Defesa gasta verba da Covid para comprar filé mignon e picanha, diz TCU“.

 

Certamente não foi numa reunião do Alto Comando do Exército que um dos 16 generais da cúpula falou alegremente: em comprar filé mignon e vinho com o dinheiro da Covid” e os outros 15 concordaram.

Isso acontece simplesmente porque faz alguns anos que espraiou-se a ideia de que a oficialidade brasileira merece privilégios em seus apetites e nem sempre só os alimentares.

Austeridade, quase sempre, foi uma marca da caserna. Mas quando a farda começa a ser vista como um trampolim para o exercício do poder, é inevitável que isso aconteça, porque o poder, sem causas, é apenas o exercício do fruir.

Não fosse assim, não teriam de ler o relatório do Tribunal de Contas dizer que “”não parece razoável alocar os escassos recursos públicos na compra de itens não essenciais, especialmente durante a crise sanitária, econômica e social pela qual o país está passando, decorrente da pandemia”.

A reação natural seria a de verificar quem autorizou isso e “premiá-lo” com, no mínimo, um afastamento do cargo.

Mas quando as instituições militares se entregam ao um corporativismo que deixa de lado as obrigações hierárquicas e disciplinares e desconsidera o impacto social de seus atos, correm o risco de de verem assim, vexadas, por um esparramo de poder que atinge toda a oficialidade que conserva hábitos e posturas diferentes.

Notas dizendo que a tropa militar agiu no enfrentamento da pandemia é até uma ofensa aos militares que se expuseram no enfrentamento ao coronavirus. A eles, ninguém deu camarão, picanha, filé ou vinhos caros.

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Ao som de funk misógino, Bolsonaro transforma preconceito em hino de guerra  - 27/12/2021 - UOL Universa

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01
Jul21

Governo mortífero e corrupto

Talis Andrade

 

Por Jeferson Miola 

O governo militar está cada vez mais afogado num mar de corrupção e mortes [aqui]. Além de causar o morticínio de dimensões catastróficas, também operou um macabro e bilionário esquema de corrupção na negociação de vacinas.

A incrível velocidade de tramitação e as condições fraudulentas negociadas para a compra da Covaxin contrastam com a lentidão governamental nas tratativas com fornecedores de outras vacinas. O fator que explica este contraste, mais além da visão anti-ciência e da incompetência oficial, sabe-se agora, chama-se propina.

Como escreveu Tereza Cruvinel, “Bolsonaro pessoalmente embarreirou o quanto pode a compra da Coronavac. E agora podemos pensar que o problema não era pela origem chinesa ou pelo protagonismo do governador João Dória no acordo inicial com o fabricante Sinovac”.

O representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti, declarou ao jornal Folha de São Paulo ter sido achacado a pagar 1 dólar por dose a título de propina para conseguir fechar contrato de fornecimento de 400 milhões de doses de AstraZeneca.

À cotação do dia, significa um assalto de 2 bilhões de reais aos cofres públicos – o suficiente para a concessão de auxílio emergencial de 600 reais a 3,3 milhões de pessoas necessitadas.

A propina foi pedida por Roberto Ferreira Dias, o diretor de logística do ministério da Saúde indicado para o cargo pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros/PP, que estava acompanhado pelo coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, que às vésperas do encontro com Dominguetti [25/2] “coincidentemente” abriu empresa de representação comercial de medicamentos e produtos médico-hospitalares e odontológicos.

Dominguetti explicou que “aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco [coronel da reserva do Exército], explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina” – salvo, claro, se tivesse pagamento de propina!

Como afirmou Tereza Cruvinel, “Roubar na compra de vacinas não é só roubar dinheiro público. É matar brasileiros com a demora na aquisição, em busca de negócios sujos”.

Se a postura do governo nas negociações entabuladas a partir de maio/2020 para a compra de outras vacinas tivesse sido a mesma que a adotada nas negociatas da Covaxin, a imunização da população brasileira teria iniciado bem antes, e o país estaria em estágio avançado de cobertura vacinal.

Isso significa, portanto, que milhões de pessoas não teriam sido contaminadas e centenas de milhares de mortes teriam sido evitadas. Epidemiologistas estimam que cerca de 390 mil das 516 mil vidas perdidas [3 a cada 4 delas] até hoje poderiam ter sido preservadas.

Este é o governo mais mortífero da história; é responsável por perdas humanas equivalentes às baixas do Brasil em 10 guerras do Paraguai. É, também, o mais corrupto da história.

O esquema bilionário de corrupção no ministério da Saúde sob a gestão militarizada de Eduardo Pazuello, o general da ativa do “um manda, o outro obedece”, pode ser indicativo de lógicas corruptas disseminadas na administração federal.Image

A sociedade brasileira ainda precisa conhecer outras “tenebrosas transações” que possam estar ocorrendo também em outras esferas do governo no marco deste brutal processo de dissolução e liquidação nacional executado pelo governo militar.

Os militares estão perdendo o discurso falso-moralista contra a corrupção que bradavam para conspirar e tomar o poder. Por outro lado, aumenta a crise de legitimidade do regime e diminui sensivelmente a confiança da população nas Forças Armadas.

As mobilizações populares e democráticas de rua, retomadas massivamente em 29 de maio e 19 de junho, são o combustível decisivo para obrigar o presidente da Câmara a autorizar o processo de impeachment do Bolsonaro no Senado e o julgamento dele por crimes comuns no STF.

impeachment do Bolsonaro, esta grande urgência nacional, é um passo fundamental a ser dado para se deter a escalada militarista e se dar início à reconstrução do Estado de Direito e da democracia no Brasil.

 

12
Mar21

Bolsonaro, as mentiras e o flerte com o golpe. Cadê Azevedo e Silva e Fux?

Talis Andrade

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por Reinaldo Azevedo

- - -

Lula irrompeu elegível no cenário político, embora a questão ainda esteja pendente no Supremo, e obrigou Jair Bolsonaro a se apresentar como um defensor da vacina, o que ele nunca foi. No mesmo dia em que o petista fez o seu pronunciamento, o presidente apareceu de máscara numa solenidade. Pesquisas de opinião apontam queda contínua na sua popularidade. Há um esforço para vender a imagem de que se preocupa com a saúde dos brasileiros.

Ocorre que o homem tem uma natureza, como todos nós. E a sua não é boa. Nesta quinta, voltou a flertar com o golpismo e contou uma penca de mentiras em videoconferência organizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e naquela sua live que mistura estética Al Qaeda com o antigo Zorra Total. Mentiu, inclusive, sobre o Supremo. E já ouço daqui o silêncio eloquente de Luiz Fux, presidente do tribunal — a menos que me surpreenda.

É QUEM É. OU: POPULISMO DA MORTE

Nos humanos, o nome da natureza é cultura. Compreende o conjunto das coisas que a gente vai aprendendo ao longo da vida. A soma das nossas experiências, reflexões, leituras, etc. vai cultivando o nosso espírito. E Bolsonaro é quem é. A sua disposição para aprender e a sua capacidade de raciocinar com lógica já eram consideradas precárias por seus superiores no Exército. Um relatório que resume o seu perfil deixa claro que não falava coisa com coisa, embora tivesse a pretensão de ser um líder, demonstrando também ser ambicioso.

Passou 28 anos na Câmara dizendo coisas asquerosas, detestáveis, burras. A razia promovida no meio ambiente da política pela Lava Jato o alçou à condição de presidenciável viável. Faltava uma facada para elegê-lo à esteira do impeachment de Dilma. E chegamos à terra devastada.

Pode parecer incrível, mas está em curso no país o populismo da morte. Nem poderia ser diferente, convenham: Bolsonaro chegou à Presidência com a cultura que tinha, com a sabedoria que tinha, com a experiência que tinha. Seria obviamente incapaz de gerenciar um boteco. A falta de pensamento lógico inviabiliza a gestão de uma bodega. Sergio Moro e Deltan Dallagnol lhe deram um país. O desastre estava contratado ainda que vivêssemos tempos normais dentro da nossa miséria. E normais eles não são. 

LOCKDOWN

Na videoconferência do Sebrae, voltou a distorcer a decisão tomada pelo Supremo, sugerindo que o tribunal lhe retirou a responsabilidade sobre as medidas para conter a doença. É uma estupidez. O STF apenas reiterou o que está na Constituição. Os entes da Federação -- União, Estados e municípios -- devem agir em conjunto.

O presidente estava injuriado com o toque de recolher durante a madrugada, decretado pelos governos do Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul. "O efeito colateral do combate ao vírus está sendo mais danoso que o próprio remédio". Afirmou que até a "desacreditada" Organização Mundial da Saúde rejeita o expediente.

Sua capacidade de mentir não encontra paralelo na política. O que está em curso no país não é lockdown. E é falso que a OMS rejeite a medida. O que a organização fez foi cobrar que os governos, ao aplicá-la, pensem no padecimento dos mais pobres e atuem para minorar seu sofrimento.

Na live, ele voltou ao assunto. Chamou as medidas de restrição de circulação, especialmente as do Distrito Federal, de "estado de sítio", o que é de uma estupidez rara até pelos seus padrões, afirmando que só ele teria competência para decretá-la. Revela ignorância específica dupla. Certamente desconhece o que a Constituição diz a respeito de estado de sítio e ignora o conteúdo da Lei 13.979, que ele mesmo sancionou, que autorautoriza as restrições de circulação.

GRIPEZINHA E VACINA

O presidente também disse na "live Al Qaeda" que jamais chamou a doença de gripezinha e que nunca foi contra a vacina. Bem, as barbaridades que andou dizendo estão em toda parte, registradas em vídeo. Eduardo Pazuello, seu ministro da Saúde, recusou a compra de 70 milhões de doses da Pfizer. O próprio Bolsonaro buscou sabotar os esforços do governo de São Paulo para desenvolver a Coronavac. Chegou a espalhar fake news sobre o imunizante e levantou suspeitas estapafúrdias sobre os efeitos colaterais da droga.

Na live, atacou ainda o governador João Doria, afirmando que este promovia um "pancadão" em sua casa enquanto medidas restritivas eram adotadas em São Paulo, o que também é mentira comprovada. Desferiu ataques a Lula, a quem chamou de "carniça":

"O carniça ontem falou que eu deveria procurar o Marcos Pontes, que é o nosso ministro da Ciência e Tecnologia, que esteve no espaço, para ele dizer para mim que a Terra é redonda. Olha a qualidade do meu ministro da Ciência e Tecnologia e a qualidade dos ministros do presidiário para depois a gente começar a discutir".

Bem, não sei se Pontes falou com o seu chefe. O fato é que, sobre a mesa a que estava sentado Bolsonaro, havia um globo terrestre. Parece que ao menos uma coisa Bolsonaro aprendeu: a Terra é redonda.

GOLPISMO

Bolsonaro voltou a se referir às Forças Armadas, sugerindo que elas poderiam obedecer a uma ordem sua para, bem..., o contexto deixa claro que ele estava se referindo a um golpe. Disse:

"Eu faço o que o povo quiser. Digo mais: eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. As Forças Armadas acompanham o que está acontecendo. As críticas em cima de generais, não é o momento de fazer isso. Se um general errar, paciência. Vai pagar. Se errar, eu pago. Se alguém da Câmara dos Deputados errar, pague. Se alguém do Supremo errar, que pague. Agora, esta crítica de esculhambar todo mundo? Nós vivemos um momento de 1964 a 1985, você decida aí, pense, o que que tu achou daquele período. Não vou entrar em detalhe aqui".

E mais adiante:

"O meu exército, que eu tenho falado do tempo todo, é o povo. Eu sempre digo que eu devo lealdade absoluta ao povo brasileiro. E este povo está toda a sociedade, inclusive o Exército fardado. A vocês eu devo lealdade. Eu faço o que vocês quiserem, porque esta é a minha missão de chefe de Estado".

Como notou seu superior no Exército, ao tempo em que ainda era tenente, faltam lógica e coerência interna ao raciocínio. Mas a intenção é evidente. Se aquilo que ele considera "povo" quiser e se os militares toparem...

Sim, ele é o comandante supremo das Forças Armadas, segundo aquilo que dispõe e regula a Constituição. Não parece o suficiente para ele.

INCITAMENTO

De maneira ostensiva, o presidente incitou a sua turma a reagir às medidas restritivas impostas por prefeitos e governadores. E o faz quando o sistema de Saúde vive um colapso no país inteiro:

"Usam o vírus para te oprimir, para te humilhar, para tentar quebrar a economia. (...) Quanto mais atiram em mim, de forma covarde por parte de parte da sociedade, mais você está enfraquecendo quem pode resolver a situação. (...) Como é que eu posso resolver a situação? Eu tenho que ter apoio. Se eu levantar minha caneta BIC e falar 'shazam', vou ser ditador. Vou ficar sozinho nesta briga?"

CONSEQUÊNCIAS

A fala do presidente pede que o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, venha a público nesta sexta-feira para reiterar o compromisso das Forças Armadas com a legalidade e que o presidente do Supremo, Luiz Fux, relembre ao presidente o conteúdo da decisão tomada pelo tribunal quanto à atuação dos entes da Federação no combate à pandemia, rechaçando, adicionalmente, as ameaças feitas pelo presidente. 

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11
Mar21

Gleisi denuncia Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética após deboche sobre máscaras: "enfiem no rabo"

Talis Andrade

 

247 - A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) denunciou nesta quinta-feira (11) ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) por quebra de decoro parlamentar.

A medida de Gleisi é consequência do vídeo divulgado por Eduardo no qual o parlamentar manda que apoiadores das medidas de prevenção contra o coronavírus "enfiem no rabo" as máscaras de proteção.

"Em vídeo publicado em suas redes sociais na madrugada desse dia 11 de março de 2021, com ampla divulgação nacional, o representado, demonstrando total insensibilidade com a dor dos brasileiros vitimados e suas famílias, ignorando os milhares de cidadãos e cidadãs que, nesse instante, sofrem em busca de um leito hospitalar que lhes garanta o direito fundamental de continuar respirando, enfim, numa postura ominosa, ignara e mendaz, ridiculariza a proteção sanitária do uso de máscaras, que é, ao lado do distanciamento social e higienização, os principais mecanismos de proteção contra a doença, haja vista que a imunização vacinal tem sido diuturnamente negligenciada pelo Presidente da República e seu Ministro da Saúde", argumenta a deputada na representação.

A declaração de Eduardo foi ironizada pelo também deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP).

A atitude de Eduardo, segundo Gleisi, "consiste em atitude intolerável no âmbito do exercício de representação popular e que ofende milhões de famílias brasileiras que perderam entes queridos ou sofrem com ao drama de internações e busca por cuidados médicos em razão do Sars-Cov-2".

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